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Carlos Monteiro, 130305026

Universidade Católica Portuguesa

Ética da Comunicação

Terrorismo:
Visibilidade e Enculturação

Carlos Monteiro
130305026
Turma 2

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Carlos Monteiro, 130305026
Universidade Católica Portuguesa

Introdução

Inicialmente um tema de difícil verbalização, consegui resumir o fulcro da


minha pesquisa e reflexão neste ultimo esboço de título, Terrorismo: Visiblidade
e Enculturação.

A palavra enculturação refere para uma critica aos meios de comunicação norte-
americanos, e mais especificamente os televisivos pelo extremismo da sua
actuação aquando dos atentados do 11 de Setembro e desde então, crítica essa
baseada parcialmente da Teoria da Enculturação ou Cultivation Theory de
George Gerbner, com a qual me encontro bastante familiarizado e com a qual
consegui traçar um paralelo com a tese principal do meu trabalho ajudando-me
assim a organizar todos os aspectos do mesmo.

Não serei por ventura o primeiro a criticar o excesso e conteúdo das imagens
repetidas incessantemente aquando de um ataque terrorista, assim como a
forma que a cobertura noticiosa televisiva americana tomou depois dos
atentados do 11 de Setembro, que por vezes parece ser a cultura da ansiedade e
vingança.

Este trabalho é maioritariamente de pesquisa e dissertação, isto porque cedo no


seu desenvolvimento me apercebi ser muito difícil apoiar a minha critica em
códigos deontológicos televisivos. O único do qual consegui dispor foi os
Guidelines BBC que como já havia mencionado na apresentação da 2ª fase do
trabalho mencionam apensas o cuidado com a sensibilidade das vitimas, mas
quando um atentado diz respeito a todo um país que engloba um espaço
geográfico e demográfico tão amplo a sensibilidade torna-se difícil de julgar e
como já havia mencionado não tenciono começar uma revolução nem fazer mais
do que uma critica aprofundada.

Paradoxo Informativo

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A crítica do meu trabalho colocou-me frente a frente com um dilema; sem


qualquer legislação ou código deontológico televisivo que suporte que a
repetição de imagens violentas possa ser vista como uma falha de ética, e sendo
que a relevância tanto noticiosa como emocional destes assuntos é enorme é
muito difícil traçar a linha entre o abuso do uso da reportagem ou de certas
imagens, mais difícil ainda é atender a apatia que se gera em determinadas
audiências cujo cinismo para com a jornalismo americano tem aumentado cada
vez mais nos últimos 6 anos.

Vem passando décadas desde que Gerbner e a sua Cultivation Theory criaram
uma onda de criticas à violência constantemente presente nos meios televisivos,
uma das premissas deste trabalho é a de que a violência noticiosa tem mais
impacto psicológico que a ficcional, pois aquilo que sabemos ser real mesmo do
outro lado do mundo assusta-nos mais do que aquilo que apenas nos parece
verosímil ou mesmo fantasiosa ficção. Isto quando tido em contexto com o
quanto e especialmente a forma como certos atentados terroristas são
noticiados pode expor o problema da enculturação do medo da ameaça do
terrorismo como uma mais valia para os próprios terroristas e ampliação da sua
mensagem e acção.

Definição de Terrorismo e Terrorista

A realização do estudo para este trabalho e o decorrer das aulas tornou claro que
o conceito de terrorista seria indispensável ao trabalho, no entanto, este
conceito é nos nossos dias extremamente controverso e incerto, visto que dada a
variedade de ataques e motivos terroristas ele se torna extremamente
complicado de definir com rigidez. Um praticante do terror, alguém que usa o
medo como um meio para um fim, estas definições de terrorista não estão
erradas, no entanto não englobam todos os elementos conhecidos da opinião
pública contemporânea.

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Aqui está (traduzido do inglês por mim) o que as principais enciclopédias


virtuais e outros serviços online têm a dizer sobre o que define um terrorista e o
terrorismo:

●Um indivíduo que utiliza o uso sistemático da violência e intimidação para


atingir objectivos políticos, enquanto disfarçado de civil não combatente. O uso
do disfarce civil enquanto em operações terrorista nulifica a protecção dada ao
activista sob as Convenções de Genebra, sendo que se for capturado pode ser
julgado como um comum criminoso.
www.aeroflight.co.uk/definitions.htm

●O uso do termo terrorista deve ser limitado especificamente a referências a


pessoas e organizações não governamentais que planeiam e executam actos de
violência contra alvos civis ou não combatentes.
www.careerjournaleurope.com/columnists/styleandsubstance/glossary.html

●Um radical que aplica o terror como arma politica; normalmente organiza-se
com outros terroristas em pequenas células; Usa frequentemente religião como
propósito para actividades terroristas.
wordnet.princeton.edu/perl/webwn

●Terrorismo é um termo controverso e subjectivo com múltiplas definições.


Uma definição significa uma acção violenta alvejando exclusivamente civis.
Outra definição é o uso ou a ameaça do uso da violência com o propósito de
criar medo e assim atingir um fim político, económico, religioso ou ideológico.
en.wikipedia.org/wiki/Terrorist

As variações e mesmo limitações impostas por algumas destas e outras


definições mostram-nos o quanto este tema consegue ser polémico, não
obstante, a verdade é que qualquer uma destas definições considera como
terrorismo os atentados de 11 de Setembro de 2001 em NY, o 7 Julho de 2005
em Londres entre muitos outros casos extremamente mediatizados nos nossos
dias, poderia dizer-se mesmo que muitas das definições de terrorismo existentes

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nos nossos dias tomam atentados como os exemplificados para base (total ou
parcial) das mesmas definições.

Consequências do 11 de Setembro

-Legislação anti-terrorista
No caso do 11 de Setembro a sua relevância e significância internacional foi
tanto que o atentado serviu de ocasio legis para que muitos países
introduzissem legislação “anti-terrorista”, sendo esses países não apenas
Europeus (Reino Unido, França e Alemanha) e incluindo casos tão aleatórios
como o Paquistão, o Zimbabué, Canada, Rússia, Indonésia e até (ironicamente)
a China, um dos poucos países em que foram reportadas celebrações estudantis
dos atentados em causa.

-Solidariedade e Antagonismo
É também de realçar no âmbito de manifestações a favor dos atentados do 11 de
Setembro que se deram suficientes para determinarmos que o mundo não é de
forma alguma uniforme na maneira de pensar sobre o assunto. Se por um lado o
mundo ocidental em geral assim como outros países se sentiram solidários com
os Estados Unidos, outros celebram os atentados de forma mais ou menos
vistosa.
O exemplo mais flagrante de antagonismo para com a América foi perpetuado
por um governo hoje destituído, o iraquiano, que fez uma declaração oficial que
roçava no escárnio dizendo que “os cowboys americanos estão a pagar pelos
seus crimes contra a humanidade”.
O estabelecimento da diversidade de opiniões é importante ao meu trabalho
pois quando proponho que existem consequências visíveis da sobre
mediatização do terrorismo tento fazê-lo sem qualquer tipo de bias político.

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O Medo de Represálias e a Tensão Religioso/Cultural

Muitas vezes não conseguimos aperceber-nos da influência que a mediatização


do terrorismo já teve na sociedade ocidental, em especial nos Estados Unidos e
muitas vezes associada ao estereótipo do terrorismo de ideologia muçulmana.
Esta associação do terrorismo com estereótipos (por mais rigorosa que seja em
certos casos) pode e levou já a problemas de cariz racial nos EUA. As imagens e
cobertura noticiosa deixam uma marca menos que mínima nas pessoas,
especialmente se certas tendências se mantém por longos períodos de tempo e
quando a audiência está mais sujeita ao impacto emocional que possa mesmo
ser causado com essas mesmas imagens. Gerbner diz-nos que a repetição de imã
imagem ou realidade torna a nossa percepção da mesma desporporcional
daquilo que é a realidade e eu acho ser um pouco esse o caso com a audiência
americana nos dias que correm.

O medo generalizado e enculturado é também uma consequência grave do


extremismo mediático americano, sendo que a tradicional posição de “não
negociar nem ceder a terroristas” pode ser hoje criticada por se ter alterado e
revestido de cautela, isto é especialmente verdade no panorama mediático mais
que político.

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-Liberdade de Imprensa: Os Cartoons de Maomé


Um exemplo disto foi o número de vozes americanas que se ergueram contra a
liberdade de imprensa e de expressão, aquando da controvérsia da publicação
ou não dos cartoons Dinamarqueses envolvendo o profeta Maomé. A
enculturação do terrorismo mostra já sinais de medo massificado de represálias
até de aquilo que a muitos parece, no máximo, ser uma ligeira ofensa que o
estudo revela já ter sido cometida inúmeras vezes antes, sem que qualquer
atenção lhe fosse prestada. Desta vez porém, forças influentes quer nos Estados
Unidos quer na Europa e resto do mundo tentaram silenciar um esforço secular
multi-religioso ocidental que defende a liberdade de expressão abrangendo
inclusive as mensagens religiosas consideradas subversivas ou mesmo
blasfemas.
Passado um ano da sua publicação, um discurso de Bento XVI vem reacender a
polémica por alguns considerarem que ele vem apelidar o Islamismo de
desumano, o papa Bento revela-se mais tarde “magoado com o mal entendido”.
Isto levou inclusive a uma crítica da parte de Jorn Mikkelsen, editor-chefe do
jornal dinamarquês Jyllands-Posten que afirmou que “Mais uma vez os
protestos internacionais provam que os muçulmanos se aborrecem facilmente"
atirando assim mais lenha à fogueira deste espectáculo mediático de criticas e
respostas.

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A base desta acção reside na confiança no medo de retaliação terrorista por


parte dos cidadãos dos EUA e um pouco por todo o mundo ocidental, medo esse
cultivado pelos atentados em si mas ampliado pela repetição incessante de
imagens violentas e de enorme carga emocional, especialmente por parte dos
meios televisivos, que parece querer por si mesmo inspirar o terror e por vezes a
raiva na audiência. Se por propósitos meramente económicos, se por propósitos
de cariz político não me atrevo a tentar responder.

-Bento XVI e a menção a Constantino


Outra consequência é a tensão cultural e religiosa que pode ser exemplificada
pela recente polémica levantada pelo discurso do Papa Bento XVI antes da sua
visita à Turquia em que fez menção ao imperador Constantino de tal forma que
o mundo islâmico mais uma vez se revoltou e desta vez se sentiram
efectivamente represálias. Aqui a eloquência papal foi tomada por insulto e é a
minha crença que os atentados dos recentes anos e especialmente a sua
influência nos media e a subsequente influencia dos media na audiência, não
existiriam hoje tantas tensões culturais quase com a imagem duma oposição
mundo ocidental/médio oriental; mundo cristão/islâmico; levando mesmo à
morte de pessoas e destruição e tudo isto por algo que pode ser um mal
entendido.

Conclusão

Não me cabe a mim o julgamento final da ética jornalística portuguesa e muito


menos da americana, pois aquilo que aqui expus em nada encontra
conformidade com os códigos correntes da profissão e sua vertente televisiva,
mas a verdade é que atitudes como a da imprensa americana face à da edição de
cartoons incluindo Maomé devem ser analisadas pois representam entraves que
nos nossas dias se podem considerar como incompreensíveis à liberdade de
imprensa, base ideológica social ocidental e especialmente ligada a área da
comunicação e jornalismo, da qual nunca devemos prescindir nem mesmo pelo
medo da violência, e estes valores deviam ser apoiados e espalhados

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preciosamente pelos media do assim dito “mundo livre”, ao invés de cultivarem


na audiência as emoções que os impeçam de levar a cabo os seus deveres
deontológicos. Este entre outros comportamentos por parte dos media norte-
americanos parecem justificar a crescente apatia sentida por uma cada vez
maior parcela das suas audiências, sendo que a outra cegamente se deixa viver
na ansiedade.

Também a situação cada vez mais perigosa para jornalistas de todo o mundo no
médio oriente é influenciada por esta sobre mediatização que não só vai fazer
ecoar a vitória daqueles cujos ideais se revêem nos (desumanos) actos dos
terroristas como eles se apercebem que os media são, se propriamente
manipulados, um excelente acessório para os seus fins ideológicos, ampliando a
sua mensagem milhares de vezes mais e mais longe do que aquilo que as suas
acções conseguem.
A Europa revela-se mais ciente deste aspecto que os EUA mas também na
Europa (agora também afligida pelo terrorismo) e em Portugal existem exageros
mediáticos na cobertura de ataques terroristas, isto contudo é uma nota final e
não conteúdo do meu trabalho.

Legenda das Imagens

Página 5: Capas das primeiras edições relativas ao 11 de Setembro do


Daily News (esquerda) e do The Honolulu Advertiser (direita)
escolhidos pela violência da sua mensagem.

Página 6: Um dos 12 Cartoons “proibidos” envolvendo Maomé.

Bibliografia

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CHRISTIANS, Clifford G.; ROTZOLL, Kim B.; FACKLER, Mark;


MCKEE, Kathy Brittain e WOODS JR, Robert H.; Pearson; Media
Ethics: Cases And Moral Reasoning

Artigos sobre a Cultivation Theory apresentados na sebenta da


cadeira de Teorias da Comunicação de 2006/2007

Os websites cujos links já foram expostos na página 3

http://en.wikipedia.org/wiki/September_11,_2001_attacks

http://www.bbc.co.uk/guidelines/editorialguidelines/

http://www.zombietime.com/mohammed_image_archive/

Carlos Monteiro
Turma 2 – 130305026

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