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XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp.

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MAPEAMENTO ATRAVÉS DE SENSORIAMENTO REMOTO DOS CONFLITOS


TERRITORIAIS RURAIS NA ILHA GRANDE-RJ ENVOLVENDO ESTADO E
COMUNIDADES TRADICIONAIS.

Alexandre Cigagna Wiefels


wiefels@dsr.inpe.br
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
Caixa Postal 515 - 12245-970
São José dos Campos - SP, Brasil

Resumo: Desde o litoral do Paraná passando por São Paulo até o litoral sul Fluminense,
entre as serras úmidas e o mar ocorre há 500 anos a presença de uma população cuja
cultura está entranhada nesta natureza. Os caiçaras são representantes da história do
Brasil assim como outras comunidades tradicionais minoritárias em nossa sociedade.
Este último fator faz destas populações extremamente suscetíveis às ameaças urbanas.
Porém suas situações geográficas de isolamento serviram de fortaleza contra as
investidas do “crescimento nacional”. O caso da população da Ilha Grande é um exemplo
dos conflitos resultantes de políticas urbanas impostas sobre o meio rural. Este trabalho
permite uma visão espacial dos fatos através de Sensoriamento Remoto a partir de
imagens Landsat/TM.
Palavras-chave: Territorio, Conflito, Sensoriamento Remoto, Ilha Grande.

Abstract.: 500 years of history are represented in the landscape of Ilha Grande-RJ. The
decade of 1970 led to major changes in the history of this landscape. After centuries of
intensive use, different units of conservation of the nature(UC) overlap in order to protect
this shrine. Defined during the military dictatorship, the UCs did not consider the
centenarians inhabitants of these lands, the Caiçaras. The state define until recently, the
Caiçara’s condition as hiding in their own ancestral territory. The objective of this work is
through remote sensing draw the recent history of land use of the island in order to map
the practice of agriculture and its process of abandonment defined by law. We use in this
work Landsat/TM imagery and supervised classification.
Palavras-chave: Territory, conflict, Remote Sensing, Ilha Grande.
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XIX ENGA, São Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

1.Introdução

A Ilha Grande fica localizada no 5º Distrito do Município de Angra dos Reis no


litoral sul do Estado do Rio de Janeiro (figura 1) entre as latitudes 23º05’S e 23º14’S e as
longitudes 44º04’ e 44º23’W. O ponto mais perto do continente dista 3 km. Possui 193
km2 de área com 106 praias e 34 pontas que formam enseadas e sacos. Sua população é
de 6 mil habitantes fixos enquanto 15 mil pessoas a freqüentam durante temporadas
turísticas.

Figura 1: localização da Ilha Grande no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro

A ilha é uma sobreposição de unidades de conservação municipais e estaduais.


Quase toda a ilha é regida pelo Parque Estadual da Ilha Grande(PEIG) de 1971,
administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).
O histórico desta ilha reflete a história do Brasil, pois ela vivenciou todos os
grandes ciclos econômicos que este país conheceu com exceção do da borracha.
Extração de madeira, comercio de escravos, trafico de ouro, ciclo da cana e do café, ciclo
da pesca, ciclo dos presídios e finalmente, ciclo atual do turismo e da conservação da
natureza.
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Mapeamento através de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-
RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

Ao longo dos séculos uma população sempre esteve presente vivendo da roça de
subsistência, do extrativismo vegetal, da caça e da pesca artesanal; os caiçaras com seu
característico modo de vida(caiçara). Esta população caiçara gerenciou a natureza por
séculos vendo o desmatamento de sua paisagem pelas fazendas e a regeneração das
matas que seguiu a falência destas. Um povo que conhece muito bem seu território
ancestral e a dinâmica da natureza e que nos ensina a viver em simbiose nela dando uma
lição de ecologia para toda a população urbana.
Desta forma o solo da Ilha Grande foi por séculos palco de muitas dinâmicas
territoriais e de uso dos recursos naturais. Em nosso moderno meio técnico científico
informacional, as tecnologias nos permitem estudar a história do manejo do solo para
planejar o futuro sustentável almejado.
Fazemos com este trabalho uma aproximação das novas tecnologias para/com as
populações tradicionais da Ilha Grande a fim de entender o histórico uso do solo
mapeando-o e gerando produtos cartográficos que auxiliem a tomada de decisões por
parte das instituições responsáveis pela conservação deste espaço. Em 2008 o plano de
manejo da principal UC da ilha, o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) ainda esta em
construção e as informações construídas neste trabalho visam auxiliar na inclusão dos
interesses do caiçara no planejamento para a gestão inclusiva e participativa do parque.
A ocupação humana dos solos da ilha se deu preferencialmente da praia em
direção aos fundos dos vales elevando-se por toda vertente do relevo potencialmente
agricultável. Os assentamentos destas populações edificavam-se entre as roças e as
praias.
A partir da década de 1970 as diversas Unidades de Conservação existentes hoje
na ilha foram criadas expulsando as populações caiçaras desprovidas de títulos de
propriedades de sua terra(território). Após proibição da pratica da roça por parte da
legislação ambiental parte da população que não deixou a ilha em direção das favelas de
Angra dos Reis se agruparam nas praias onde desembocam os principais rios de seus
vales. Desta forma as comunidades são definidas hoje na Ilha pelo nome da praia onde
se encontram.
O objetivo deste trabalho científico é o de registrar através de mapeamento o uso
do solo da Ilha Grande no ano de 1985 para posteriores estudos comparativos a fim de
criar uma evolução do manejo ambiental local pós-criação das Unidades de Conservação.
Como resultado esperado, está a observação do declínio gradual do uso do solo
observado por satélite caracterizando um processo paulatino de desterritorialização da
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população caiçara do seu território ancestral. Para isso foi necessário trabalhar com
sensoriamento remoto de imagens de satélite a fim de produzir dados de uso do solo.
Posteriormente foi produzido um material estatístico-descritivo e cartográfico referente ás
bacias hidrográficas da Ilha Grande. Através de álgebra de mapas foram cruzados os
dados a fim de definir o grau de preservação ambiental por bacia hidrográfica através de
um índice criado para este trabalho.

Conflitos sócio-ambientais e territorialidade caiçara

“A criação de áreas naturais protegidas em territórios ocupados por


sociedades pré-industriais ou tradicionais é vista por estas populações
locais como uma usurpação de seus direitos sagrados à terra onde
viveram os seus antepassados, o espaço coletivo no qual se realiza o seu
modo de vida distinto do urbano industrial”. (Diegues, 2004:65)

A imposição de neomitos sobre a natureza que seria intocada serve como


justificação para a geração de áreas protegidas que desfavorecem a população local para
favorecerem a população urbana. Esta relação vertical do poder público sobre o meio
ambiente “em nome da nação” tem gerado conflitos graves. Em muitos casos, eles têm
acarretado a expulsão de moradores tradicionais de seus territórios ancestrais, como
exige a legislação referente ás unidades de conservação restritivas.
Os moradores locais vêem este empreendimento como um roubo de seu
patrimônio histórico, de sua cultura, sua identidade, sua moradia e seu espaço, tanto local
de trabalho quanto provedor das ferramentas de trabalho. Eles reivindicam direitos
estáveis de acesso, controle ou uso da totalidade ou parte dos recursos aí existentes.
Os recursos existentes em uma comunidade caiçara são de acesso comunitário.

“Essas formas de apropriação comum de espaços e recursos naturais


renováveis se caracterizam pela utilização comunal (comum, comunitária)
de determinados espaços e recursos por meio do extrativismo vegetal
(cipós, fibras, ervas medicinais da floresta), do extrativismo animal (caça,
pesca), e da pequena agricultura itinerante”.(Diegues, 2002:66)

Observamos na organização do espaço caiçara a raridade de cercas, servindo,


quando existem, para impedir a entrada de animais a horta perto da casa.
A transferência de um espaço caiçara coletivo ou comunitário para uma área
estatal de acesso restrito administrada por um órgão ambiental do governo que possui
diretrizes claras de atuação, as quais limitam substancialmente os direitos dos moradores,
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Mapeamento através de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-
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constitui um choque social, cultural e, sobretudo vital para esta população privada de sua
rotina de subsistência.

Territorialidade física

A territorialidade caiçara se constrói diariamente sob práticas que legitimam o seu


poder de ação sobre o seu espaço vivido. O caiçara têm o domínio sobre o seu espaço e
sobre suas técnicas de trabalho. Estas técnicas são aplicadas na apropriação, na
manutenção e na produção deste espaço, lhe garantem sua permanência, seu poder e
representatividade através dos seus objetos e suas localizações sobre este espaço.
O manejo espacial que o caiçara pratica em seu dia-a-dia, em sua localidade
distante do poder público, na qual a organização territorial é coletiva e advém de seu
entendimento de composição e disposição espacial. Nestas praias isoladas umas das
outras e dos centros urbanos, as informações e conhecimentos são passados e
adquiridos de boca em boca com a devida importância do papel exercido pelo grupo
familiar. A territorialidade se dá devido à acumulação de saberes tradicionais, transmitidos
de pai para filho há muitas gerações. Estes saberes tradicionais são materializados
através do trabalho e da produção caiçara.
As nove escolas municipais da Ilha Grande são fonte de informação e representam
para as localidades onde estão situadas, a única representação do poder público
operante no local e proximidades.
Observamos que quando os mais velhos relatam sobre seus antepassados, estes
os descrevem fazendo atividades que são de suas práticas cotidianas. Esta cultura
independente, caiçara, possui como principal transmissora de conhecimento, a sabedoria
popular transmitida tradicionalmente de boca em boca.
A interação com a mata atlântica e o mar é condicionante para a incorporação de
uma série de conhecimentos inerentes á vida nela. Desta forma, seu abastecimento e a
sua sobrevivência neste meio são fruto de sua própria construção é garantido ao caiçara
pela sua própria força e vontade.
O caiçara do Aventureiro reivindica sua porção de natureza a qual lhe fornece seu
meio de subsistência, seu meio de trabalho e produção e seu meio de reprodução
cultural.
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A territorialidade caiçara está materializada no espaço de trabalho. Dentre os meios


de produção estão a agricultura, a pesca e ultimamente o turismo.

Território metafísico.

A identidade “nativa” caiçara é adquirida a partir da relação com os “estrangeiros”.


Ambientalistas já consideraram a população do aventureiro como a “população caiçara
mais tradicional do estado do Rio de Janeiro”.
Porém, o mais comum entre os caiçaras de qualquer localidade é não se
reconhecer como tal. A identidade caiçara,

“embora atribuída, é de certa forma assumida pela população local, na


medida em que é necessário manter a coesão social perante a
intensificação da presença de atores externos e reafirmar o direito ao
território.”(Catão, 2004:2)

Muitos são os símbolos e os patrimônios coletivos caiçaras. Neste momento é


necessário destacar a importância do caráter espiritual que o caiçara alimenta em sua fé
majoritariamente católica de muitos santos. Esta fé qual ele administra com muita
liberdade visto que apesar da sempre presente a igreja nas vilas e povoados praieiros, a
presença do padre é marcada para dias de comemoração, não existindo uma freqüência
de missas. Da espacialidade das práticas advindas do acúmulo destes conhecimentos
surge uma territorialização da cultura caiçara. Estas práticas ficam acumuladas na
memória individual e coletiva e dão legitimidade ao individuo sobre o território social e
cultural de sua tradição. Um território ancestral.

“É como se o grupo desenvolvesse um trabalho cultural no sentido de


construir uma imagem pública de unidade, mobilizando um repertório de
símbolos comunais, memórias e sentimentos coletivos.” (Catão, 2004:10)

O território caiçara se concretiza invisivelmente como um território identitário. É o


território cultural histórico. As estimativas da existência deste povoado é de mais de 150
anos, existindo a possibilidade de remontar a três séculos.

“Além do espaço de reprodução econômica, das relações sociais, o


território é também o locus das representações e do imaginário mitológico
dessas sociedades tradicionais”. (Diegues, 2004:87)
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Haesbaert(2002) enfatiza a importância do fator simbólico na apropriação espacial


de uma cultura esclarecendo que a ligação dos povos tradicionais com seus espaços de
vida é mais forte porque, além de um território fonte de recursos, o espaço é ocupado de
forma ainda mais intensa através da apropriação simbólico-religiosa.

”Pertencemos a um território, não o possuímos, guardamo-lo, habitamo-lo,


impregnamo-nos dele. Além disso, os viventes não são os únicos a ocupar
o território, a presença dos mortos marca-o mais do que nunca com o
signo do sagrado. Enfim, o território não diz respeito penas à função ou ao
‘ter’, mas ao ‘ser’. Esquecer este princípio espiritual e não material é se
sujeitar a não compreender a violência trágica de muitas lutas e conflitos
que afetam o mundo de hoje: perder seu território é desaparecer”.
(Bonnemaison e Cambrèzy, 1996. apud: Haesbaert, 2002:23)

O individuo territorializado está enraizado neste território, se alimenta dele e


aparece como símbolo representativo dele assim como ele o representa.

“A participação efetiva da comunidade na principal festa do lugar, que é a


Festa de Santa Cruz, e a grande importância por ela atribuída ao evento, e
ainda uma persistência dos moradores em manter a agricultura e a pesca
como atividades cotidianas e referenciais são também demonstrações de
seu enraizamento.” (Catão, 2004:15)

Mas não é possível negligenciar as mudanças radicais que ocorrem nas práticas
cotidianas dos moradores da vila do aventureiro na hora de fazer esta análise. A cultura
está mudando junto com os meios de subsistência e as novas relações de trabalho
afetando a identidade caiçara.
Tal identidade sendo representativa de um modo de vida, e este modo de vida
estando passando por uma metamorfose radical, podemos falar de uma
desterritorialização caiçara na Vila do Aventureiro e contradizer os ditos de que esta seria
a comunidade caiçara mais tradicional do estado.
Outras localidades na Ilha Grande, como o sertão do Sitio Forte e da Tapera
mantêm exemplos mais tradicionais desta cultura.
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As territorialidades caiçaras perdem espaço para a cultura estrangeira em muitas


frentes e se afirmam em outras como resgate identitário promovido pela população.

2.Materiais e Métodos

Para construir os dados desta pesquisa foi necessário um trabalho de


sensoriamento remoto associado a uma pesquisa de campo, também chamada de
reambulação afim de confirmar os resultados observados através das imagens de satélite.
Esta pesquisa foi realizada a partir de uma imagem de satélite LANDSAT-5/TM de
1985/07/20, cena 218-076 enquadrando a ilha para gerar o mapa de uso do solo.
A escolha pelas imagens do satélite Landsat ao invés do satélite CBERS(Satélite
de Recursos Terrestres Sino Brasileiro) se deu por dois motivos. O primeiro e
fundamental devido à possibilidade de estudo multi-temporal com resolução temporal
desde 1972. O segundo devido á qualidade da resolução espacial da imagem. As
imagens CBERS/CCD não têm uma resolução satisfatória desta área e possui muitas
ranhuras paralelas(ruídos) que “poluem” a imagem não permitindo uma boa visualização
de detalhes nem uma boa classificação. Também é verdade que o seu sensor fornece
uma imagem um pouco fosca não permitindo revelar estes detalhes que procuramos. A
resolução de 20 metros é prejudicada por diferentes fatores ligados aos detectores que
definem uma resolução real inferior a 30 metros(a resolução do Landsat/TM)
Desta forma, a outra alternativa gratuita e de fácil acesso, o satélite Landsat
sempre fornece uma qualidade nítida de suas imagens e tem uma resolução temporal de
muitas décadas permitindo dar prosseguimento á pesquisa comparativa. A diferença de
resolução espacial de um satélite para o outro dando desvantagem para o Landsat foi
compensada pela nitidez do resultado.
Foi definida uma rotina de processamento de dados e critérios afim para produzir
tal mapa. O rigor no registro da metodologia empregada para obter os dados deve ser
respeitado para manter a coerência na produção de dados de extensa resolução temporal
a fim de poder comparar os resultados em posterior trabalho previsto. O projeto Landsat
está em vigor desde 1972 e posteriormente serão comparados os dados década a década
até os dias de hoje.
A análise da imagem Landsat foi feita através do software ENVI-4.2, onde esta foi
submetida a realce e foi feita uma composição colorida RGB-453(figura 2), significando o
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uso respectivo dos comprimentos de onda do “infra-vermelho médio”( 0,63 - 0,69 m),
“infra-vermelho próximo”( 0,76 - 0,90 m) e “vermelho”( 1,55 - 1,75 m).
Tal composição é conhecida por permitir a identificação de diferentes tonalidades
da falsa-cor vermelho que representa a vegetação. O olho humano distingue maior
diversidade de tonalidades da cor vermelha que qualquer outra cor. Desta forma é
possível classificar diferentes tipos de vegetação. O alvo em destaque neste trabalho não
é propriamente a vegetação, mas a falta desta. As clareiras são os indicativos da
presença de roças caiçaras em funcionamento ou em estágio de abandono. Desta forma
foram destacadas da imagem através da classificação automática “Mahalanobis Distance”
as seguintes classes: 1) água; 2) sombra; 3) areia; 4) floresta; 5) clareira (tabela-1). As
amostras de treinamento foram destacadas visualmente sobre diferentes representantes
destas classes. A classe “floresta” precisou ser generalizada apesar das diferentes
respostas espectrais possíveis para tal análise devido ao desinteresse desta pesquisa
específica em esmiuçar tal classe.

Tabela 1: Estatísticas geradas para a classificação.


Class Distribution Summary:
Unclassified: 0 points (0.000%) (0.0000 Meters²)
Agua [Blue1] 331 points: 4,312 points (0.699%) (3,880,800.0000 Meters²)
Sombra [Black] 450 points: 437,585 points (70.958%) (393,826,500.0000 Meters²)
Floresta [Green3] 2240 points: 160,848 points (26.083%) (144,763,200.0000 Meters²)
Clareira [Red] 416 points: 13,349 points (2.165%) (12,014,100.0000 Meters²)
Areia [White] 14 points: 590 points (0.096%) (531,000.0000 Meters²)

Figura 2: Composição RGB453 Figura 3: Imagem classificada


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No ArcGis-9.2 foi feito o geoprocessamento referente às dinâmicas espaciais da


ilha grande. As informações geográficas de cunho mais físicas como altimetria, hidrologia
e geomorfologia podem ser consideradas satisfatórias independentemente da data dentro
de uma escala temporal de poucas décadas como é o caso. Tais dados foram cedidos
pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-RJ). O dado não produzido neste trabalho e de
importância fundamental é a base topográfica da Ilha Grande e a rede fluvial. O resto foi
inteiramente fruto desta pesquisa.
O resultado da classificação foi em seguida importado para o ArcGis-9.2. através
do “arcatalog”, e da ferramenta: “convertion tools” – “from raster” – “raster to polygon”.
Desta forma foi criado um shape das áreas destacadas na imagem classificada(figura 3)
que passou a representar uma camada do dataframe em uso no Arcgis.
O contorno da ilha disponível era da escala 1/100000 e tinha trações e contornos
pouco detalhados. Foi necessário produzir um contorno da ilha para a escala da imagem
classificada. Para produzir o contorno da Ilha Grande, foi “estourado” contraste do realce
da imagem de satélite de forma que classificasse somente a água e a terra. Em seguida
os contornos da feição trazida do raster foi arredondada através de ferramenta do
“arctoolbox”.(Tabela-2)

Tabela 2: passos para arredondar feições no ArcToolbox.

“Data menagement tool” – Features – “Features to line”,


“Data menagement tool” – Generalization – “Smooth Line”,
“Data menagement tool” – Feature – “Feature to polygon”.

Deste contorno geoposicionado em relação ao datum da imagem de satélite:


“WGS_1984_UTM_Zone_23S” foram construídas as bacias hidrográficas sobre a base
topográfica de 1/25000 conseguida através do IEF.
A metodologia empregada foi a de recortar polígonos dentro do polígono maior
representado pela ilha, para manter a área total na soma final(Figura 4).
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Figura 4: Bacias hidrográficas da Ilha Grande.

Assim, seguindo os divisores de água, as bacias foram traçadas, o detalhamento


foi arredondando sobre as microbacias adjacentes totalizando 65 bacias hidrográficas.
Estas bacias foram nomeadas de acordo com o nome das localidades ou pontos de
referências locais e logo foram calculados os atributos área e perímetro para cada uma.
Para a “carta das roças e clareiras”, foi necessário submetê-la a pequenas
correções e a organização dos dados da tabela.
Um primeiro problema foi o fato de os polígonos das roças e clareiras não
respeitarem os divisores de água das bacias hidrográficas. (Figuras 5 e 6)

Figura 5: Conflito de shapes. Figura 6: Conflito resolvido com a ferramenta “intersect”

Foi utilizada a ferramenta do “arctoolbox”: “analisis tools” – “overlay” – “intersect”


para fazer com que elas ocupassem somente uma bacia, tendo como resultado a sua
subdivisão em pelo menos dois polígonos.
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Em seguida foram extraídas as informações de área e perímetro destes novos


polígonos referentes ás roças e clareiras e para poder comparar estas áreas com a do
total da bacia hidrográfica.
Podemos pelo quadro a seguir ter uma noção resumida de ferramentas de edição
do ArcGis9.2 utilizadas no trabalho.

Tabela 4: Resumo dos principais passos no ArcGis9.2

Vetorização da imagem classificada:


“Convertion Tools” – “from raster” – “raster to polygon “
Criação das bacias hidrográficas:
“Data menagement tool” – Features – “Features to line”
“Data menagement tool” – Generalization – “Smooth Line”
“Data menagement tool” – Feature – “Feature to polygon”
“Editor” – modify task” – “cut polygon feature”
Nomeação das BHs
Calculo de área e perímetro das BHs

Correções:
-Divisão dos polígonos que ocupavam duas bacias:
“Analisis tools” – overlay – intersect (camadas: “BH” e “Clareiras”)
-Fusão de polygonos:
Editor - Merge

Finalmente foi feito um “join espacial” da camada referentes ao “uso do solo” sobre
a das bacias hidrográficas(BH) para gerar a tabela que possibilitou calcular a “taxa de
impacto ambiental” por BH. Tal taxa é porcentagem de área desflorestada representada
pela formula (a/A*100) onde “a” é a área sem cobertura florestal de uma BH e “A” é a área
total da mesma BH.

3.Resultados

A ida ao campo é fator fundamental do trabalho para a pesquisa geográfica quando


encontramos o real e ficamos desesperados para assimilar a quantidade de informações
que este real nos oferece. Decifrar o campo é extremamente prazeroso devido ao sentido
que é dado à pesquisa. O deparar com os sujeitos e as afinidades que são criadas com
estes não são insignificantes; dão alma ao trabalho. Esta metodologia de pesquisa é
característica da ciência geográfica.
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Em diversas idas a campo, foi possível fazer uma leitura de paisagem e conhecer
as pessoas que interagem cotidianamente com esta paisagem. Neste momento
identificamos os detalhes do sub-clima conflituoso que existe. Quer dizer; existe um
conflito latente referente a história desta população, mas também existe a inércia e o
silêncio da impotência frente aos órgãos do poder que geraram esta injustiça. Existem
também outros conflitos que dizem respeito a uma situação mais moderna. O
desenvolvimento da Ilha Grande junto com todo o da região da Costa Verde no litoral Sul-
Fluminense está fundamentado no discurso do turismo ecológico, mas que na verdade
trata a ecologia como objeto de consumo. Pousadeiros e veranistas correm geram uma
verdadeira “corrida do ouro” a fim de se apossar de parcelas deste solo sagradamente
verde e “preservado”, que se revela um objeto de consumo cobiçado nacional e
principalmente internacionalmente para o turismo.
A seguir estão ilustradas três situações de clareiras que foram agrupadas na
classificação como um tipo de área denominada para este trabalho de área desmatada
em contraposição à floresta.
O caso do solo exposto ilustrado pela Figura 7 é característico principalmente do
vale do Provetá no sudoeste da ilha onde o uso intensivo por séculos deteriorou o solo e
onde a vegetação secundária tem dificuldade para se regenerar apesar da presença de
florestas mais densas circunvizinhas.
As Clareiras cobertas por gramíneas ou espécies da família das samambaias
(diferença provavelmente devida a diferença de Ph do solo)(Figura 8) estão espalhadas
pela floresta e na maioria das vezes são roças abandonadas em regeneração.
As Roças de subsistência caiçaras (Figura 9) ainda existem em 2008 em diversas
localidades da ilha apesar da ilegalidade.

Figura 7: Solo exposto.


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Figura 8: Clareira com gramínea.

Figura 9: Roça de subsistência caiçara.

Foi construída uma carta temática que representa a taxa de área desmatada na
Ilha Grande. A coloração varia em um gradiente de verde (para ambiente mais
preservado) a vermelho (para ambiente mais desmatado). Esta carta está associada a
seu banco de dados com os nomes das bacias hidrográficas, as áreas e perímetros
destas bacias assim como das áreas desmatadas. A “tabela 5”, é um resumo deste
banco de dados produzida para comparar as áreas e calcular a “taxa de impacto”, dando
as informações por bacia hidrográfica. Em seguida está a carta final do trabalho (carta 1)
que nos fornece uma visualização do cenário da ilha grande no ano de 1985.

Tabela 5: Taxa de impacto ambiental na Ilha Grande-RJ por Bacia


Hidrográfica(BH).
Perímetro Quantidade Total de área Total do Taxa de
Área da da BH De Áreas sem sem cobertura perímetro das impacto
Nome da B.H. BH (em Km) cobertura florestal (em ha) áreas desma- ambiental
(em há) florestal tadas (em km) (%)
Praia Brava leste 125,10 5,58 0 0,00 0,00 0,00
Praia Brava Oeste 83,56 4,49 1 0,06 0,11 0,07
Cachadaço 296,50 7,73 7 1,06 1,18 0,36
Pta das Palmeiras 129,71 6,52 9 0,84 1,18 0,65
Costeira Sul1 150,01 4,85 6 1,01 1,09 0,67
Ponta de Picirica 61,55 4,56 1 0,59 0,36 0,95
Pta da Andorinha 239,87 12,30 24 3,53 4,04 1,47
Praia dos Morcegos 47,56 3,15 2 0,72 0,45 1,51
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Saco dos Castelhanos 206,90 9,98 25 3,78 4,07 1,83


Ponta de Itacucé 171,22 6,07 8 3,26 2,01 1,91
Rio Perequê 1065,28 17,21 61 20,99 13,86 1,97
Rio Capivari 2518,35 30,56 121 52,00 35,59 2,06
Matariz Leste 349,44 9,25 30 10,97 7,94 3,14
Vermelha Norte 46,68 2,71 6 1,51 1,18 3,23
Córrego da Andorinha 1496,81 21,12 70 73,73 29,72 4,93
Abrão Leste 87,71 4,84 13 4,39 3,19 5,01
Pta da Enseada 155,51 9,17 29 8,07 5,99 5,19
Parnaioca 1187,54 20,14 88 61,67 30,58 5,19
Sundara sul 113,60 4,54 27 6,66 5,27 5,86
Saco-Bananal 234,59 7,47 28 13,90 8,43 5,93
Sundara 124,38 5,65 34 8,62 7,76 6,93
Castelhanos 219,42 11,10 50 16,16 11,51 7,37
Barra Pequena 498,26 12,08 35 37,32 14,71 7,49
Lopes Mendes Oeste 249,52 9,07 48 18,88 12,89 7,57
Praia do Leste 177,55 8,14 18 13,57 7,35 7,64
Córrego do Abrãao 544,99 10,69 52 42,17 21,25 7,74
Praia de Fora 410,09 9,21 76 35,67 20,98 8,70
Palmas 376,40 12,95 54 33,13 17,55 8,80
Pta Mero 172,03 8,31 39 15,38 9,87 8,94
Saco do Céu 301,80 9,38 45 27,10 14,64 8,98
Pta Grossa 128,19 6,32 31 12,61 8,25 9,83
Mangues 324,09 15,22 56 32,89 18,19 10,15
Passa Terra 202,43 7,59 29 21,10 10,58 10,42
Praia do Abrãozinho 57,01 3,93 20 6,67 4,87 11,71
Bananal 220,21 6,95 32 26,38 11,77 11,98
Ponta do Bananal 70,04 5,18 7 8,40 3,50 11,99
Litoral Proveta –
Ponta da Escada 404,29 12,40 63 48,46 22,03 11,99
Praia do Iguaçu 333,16 9,66 56 41,91 21,93 12,58
Araçatiba 1 40,86 2,69 11 5,33 3,15 13,04
Araçatiba 79,64 3,70 18 10,44 5,56 13,12
Matariz Oeste 330,18 8,89 60 45,01 21,93 13,63
Pta do Lobo 133,79 5,34 37 18,54 11,91 13,86
Pta da Rezingueira 103,93 6,26 35 15,31 9,54 14,73
Sitio Forte 238,33 8,09 50 35,79 18,67 15,02
Córrego da Longa 332,74 8,59 46 51,08 22,35 15,35
Pta Drago 63,84 3,47 23 9,88 6,47 15,47
Acaiá - Micos 185,69 9,81 26 29,16 13,07 15,70
Araçatiba4 96,35 3,90 15 17,47 7,21 18,14
Lopes Mendes Leste 273,50 8,89 72 52,12 24,04 19,06
Pta do Pilão 120,39 6,20 22 23,01 9,80 19,11
Abrão 403,63 8,10 95 77,85 39,80 19,29
Araçatiba2 63,04 3,64 20 12,83 5,85 20,35
Proveta Sudoeste 95,07 5,49 28 19,64 10,14 20,66
Corrego de
Itapecerico 201,29 6,34 24 44,97 15,28 22,34
16
XIX ENGA, São Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

Pta do Cabra 32,64 3,72 7 8,01 3,17 24,55


Corrego da Parnaioca 267,37 8,06 56 69,17 27,55 25,87
Aventureiro 70,09 4,26 32 18,28 11,23 26,08
Praia do demo 145,89 5,37 54 38,49 18,53 26,38
Araçatiba3 119,10 5,07 41 31,43 14,70 26,39
Freguesia de Santana 215,30 13,38 58 56,82 24,90 26,39
Tapera 162,23 4,90 57 44,07 22,53 27,16
Ubatuba 140,39 7,23 42 46,85 21,48 33,37
Praia Vermelha 125,93 5,16 33 42,34 17,99 33,62
Freguesia de
Santana - Leste 173,58 6,34 79 58,68 27,58 33,80
Tapera oeste 56,17 4,11 19 22,50 9,77 40,06
Longa oeste 40,97 3,11 26 26,65 10,91 65,05

Carta 1 – Áreas desmatadas na Ilha Grande-RJ por Bacia Hidrográfica – 1985

4.Conclusão

A paisagem desflorestada da Ilha Grande tem uma história de séculos. Em


comparação com o período colonial e das fazendas, o sistema de roças de subsistências
não afeta tanto a mata nativa. Após aproximadamente 100 anos do abandono das
grandes fazendas (De dois Rios, Do Holandês, de Sitio Forte, de Freguesia de Santana) o
17
Mapeamento através de sensoriamento remoto dos conflitos territoriais rurais na Ilha Grande-
RJ envolvendo Estado e comunidades tradicionais, pp.1-18

caiçara viu a mata voltar a crescer e retomar o seu espaço de forma exuberante
demonstrando o potencial da Mata Atlântica em se auto-regenerar. Da mesma forma, as
roças de subsistências, proibidas a partir da década de 1970 por decisão legislativa
tiveram seu abandono gradual representando hoje diversos estágios de recuperação da
mata.
No ano de 1985, podemos perceber que muitas famílias ainda resistiam ao
despejo e ainda estavam na terra mantendo o seu “modo de vida caiçara”, indo contra a
decisão do Estado que lhes proporcionou uma situação de ilegalidade quanto à sua
presença em solos “preservados”.
Este trabalho fornece bases metodológicas para construir a progressão do uso e
manejo dos solos da Ilha Grande ao longo do tempo. Imagens da série de satélites
Landsat nos fornece dados desde o inicio da década de 1970 até hoje.
O estudo comparativo com as décadas precedentes e posteriores á 1985 nos
informará a velocidade com que as famílias promoveram este “êxodo rural forçado” para o
continente (maior parte para as favelas de Angra dos Reis) e a velocidade com que a
vegetação se regenerou.
O resultado da pesquisa permite observações a respeito de quais são as áreas
mais ocupadas, degradadas e recuperadas da Ilha Grande. As bacias hidrográficas mais
preservadas são: as bacias do “Capivari-Corrego do Sul’, ‘Rio Pereque”, pequenas bacias
costeiras do sul e “Barra Pequena” em Dois Rios.
Em contraposição, as bacias mais impactadas são as do “Saco do Céu”, “Tapera”,
“Araçatiba”, “Praia Vermelha”, “Proveta”, ‘Aventureiro” e “Abrão”, condizendo com as
maiores aglomerações humanas.
Podemos observar desta forma o processo de desterritorialização do povo caiçara
em relação ao seu território ancestral, o qual representa a ilha toda. A reterritorialização
precária nas favelas de Angra dos Reis, ou nas praias da ilha na condição de mão de
obra barata para pousadeiros e outras infra-estruturas turísticas é conseqüência de uma
política por parte das “autoridades ambientais” que não reconhecem os direitos dos
caiçara em relação ao seu território ancestral.
18
XIX ENGA, São Paulo, 2009 WIEFELS, A.C.

5 Bibliografia:

CATÃO, Helena Henriques Ferreira - Território caiçara: memória e identidade na


demarcação do espaço social. Mestrado no CPDA/UFRRJ, 2004.

CPRM – Serviço Geológico do Brasil .

DIEGUES, Antônio Carlos Santana - O mito moderno da natureza intocada, 4ª edição,


SP: Hucitec; NUPAUB, USP, 2004.

HAESBAERT, Rogério - Concepções de território para entender a desterritorialização. in


Território Territórios/Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGEO-UFF/AGB-
Niteroi. 2002.p17-38.

IEF – Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro.

PONTES, Anderson de Araújo – A possibilidade da roça caiçara na Ilha Grande.


Monografia em Geografia, FFP/UERJ, 2007.

WIEFELS, Alexandre Cigagna - Do Território à Territorialidade Caiçara: o conflito entre os


moradores da Vila de Aventureiro e as políticas preservacionistas da Reserva Biológica
da Praia do Sul na Ilha Grande-RJ. Monografia em Geografia, FFP/UERJ, 2007.

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