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BIBLIOTECA DE CIBNCIAS SOCIAIS Sociologia sola -2008- 9 Anthony GIDDENS Membro do King's College, Cambridge Fabawe te Seite uma breve porém critica introdugao Tradugéo: Alberto Oliva Luis Alberto Cerqueira ZAHAR EDITORES 310 DE ieee Zaye Prefacio ‘LA pela década passada, importantes mudangas ocorreram nha sociologia e nas ciéncias soclais em geral. Contudo, tals desenvolvimentos quase que s6 tém ‘sido discutidos: fem trabathos que encerram considerével complexidade ‘Dai no serem facilmente acessivels. a ‘que care- gam de certa familiaridade com a diseiplina, ‘Tal fato im- leo das preocupagées teéricas que a soclologia compart. ha com todas as ciénclas socials. Néo adoto o ‘ponto de. Vista usual de que tais questées sejam Irrelevantes para. os que buscam fhnllariza-se com's soiolagis'‘Tarspears scaitow ila guntments diundidn dogo tas queen Por demais compleras para que possi ser apresnde das antes que o leltortenha adquirdo certa desteen com relaplo ao'contetido empirco da dsc+pling, Ao anallsat 8 sociologia: uma breve porém critica inrodugao esse contetido empirico, ressalto certos aspectas normal- ‘mente descurados em trabalhos introdutérios. Multas ca- racterizagdes da soclologia sfo escritas tendo em vista fun- damentaimente determinada socledade — aquela em que ‘© autor, ou o piblico ao qual se dirige, vive. Tentel evitar esse tipo de provincianismo na erenga de que uma das prineipais tarefas do pensamento sociol6gico consiste em romper a fronteira do familiar. Mas, talvex a principal caracteristica distintiva do livro seja'a forte énfase que concede a0 histérico. Podemos ensinar “sociologia” e “Tis: téria” como se fossem distintos campos de estudo, mas tal ostura se me afigura equivocada, Envidel esforgos no sentido de ser conciso e isso en- volve algum tipo de sacrificio com relagéo & abrangencia, Nilo me preocupel em fazer uma cobertura. encl de todos os topicos que constituem dreas legitimas de in- teresse socioligico, © leitor que desejar tal abrangencia, deveré buseé-la alhures. Cambridge, outubro de 1981 ANTHONY GropENE Sociologia: Questdes e Problemas A sociologia ¢ uma disciplina que desfruta de uma repu- tapfo curoumente ambialente, Forum Iago, mas so as peswoas que a associam ao fomento de rébelldes, como se nio passasse de_um_estimulo A revolta. Mesmo que tenham vaga nogo dos tépicos estudados peia socio- Jogia, ainda assim a vinculam & subversdo, ag estrepitosas exigéncias feltas por desleixados miitantes estudantis, Por outro lado, uma visio multo diferente da socloiogia é em. geral —talver mais comumente que a primeira — abra- da por individuos que tiveram com ela um contato di- eto em esoolas e universidades, Isso que faz com que seja um enfadonho e nfo-instrutive empreendimento que, Jonge de impellr os estudantes as barrleadas, € capaz de matié-los de tédio. Dentro dessa perspectiva,’a sociologia assume @ indeua condicéo de ciéneia. Mas nfo com tanta {orga explicativa quanto as cléncias naturals erigidas emt ‘modelos_pelos-sociologos. vane’ so Crelo que os que reagiram desse dltimo modo tém certa dose de razio. A sociologia tem sido coneebida por Iultos de seus divulgadores—até mesmo pela maioria de tal maneira que tem dado ensejo a que assergies tH Viais sojam enganosamente velouladas numa linguagem 10 socologia: uma Breve porém erftca introdugio eeudocientiicn [8 equivocada a concepeéo de que a so- Eeloge ‘periaiooo' pope dan cunt catmls'¢ quo era em rasdo disso, fentar serviimente lmltar seus pro- Sedimentos e objetives| Ao menos ex certa medida, fevs tritlcs legos esto esbertos de rauio em se mostrarem téticos quanto as reallzagdes que & soclologia € capa de Drodunir quando assim entendida, , ‘Ming inengo nate ro € auocias a socoiga no prmlzo tipo de vis, mals que ao Eynifen que pretends vincular a soctologia algum tipo ae fori tscional encavada pela malora das pessoas como term de conta dre ended. No dur, por, ‘sposar a concepgdo de que @socologia, entendidn da ma” ‘nea pela qual'a.descrevo, encerre mecsssaramente ‘im ‘or subveravo, fn minha opinido, seu carter subrersivo stn no sea gue. eum enpretnina ‘fnlestiar sem valor. Ao contrario, a sociologia 36 tem tcoe enviter porque lida com problciaa-que_se mostra | Con devriam monet prementes pare does, po. ‘imap "que gram as prieipals contoveraias conse hu propre eiledade, Yor mais que possa have eran tes doteis ou radicals — ow qualquer outro tipo de fal > existem laras ligagées enfre os imptiaos que 0° fnstigam & ugfo e algum tipo de conselénela sociolgica Toso ko ae da, ou talver se d® apenas raramente, porque cetecldogos regu abertamens a revolt. Ocare br ue o-estudo da secologa, adequadamente entendia, ds- ‘honsira de'modo inequivoco quo prementey sao as ques- {ees socials com que’ nes: defrontamog no mao" eal ‘Todos tom algun Upo de consclénca desmas questo, mas estudo. da Sociologia favorece a que se Ines dé um en- foque mais agudo. A socslogia nfo pode permanecer ums, ‘iscipina puramente académica, se “académica” sigifica ima" busce desineressadn e clitanciagn, cirunserta a0 Ammbno estrello doy muros-da-universdade. "A soclologa nfo ¢ uma disciplina similar a um belo presente teorco, u demandar apenas esforgo de dese. Eruthar seu conteido, Como as outras cignclas soclais — que podem incr, entre outras, dsciplinaa, a. antropoio- Gis, & economia e's hisiéria —, a sociologia 6 uma em- Preitada intrnsecamente controvertign, Ate mesmo. por {te se earacierin por permanentes disputas acerca de ma ropria naturem. Mas iso no constitu fraquesa, spesar sociologa: quesides ¢ problemas ML de ter iss0 pareeldo a intimeros “soeiélogos” profisstonais fuijimlas pessoas llgasangustiadas com o fato de exis ‘umerosas concepgées compe maneira Audoquada de enfocar« analaar 0 objeto da Socolopi Ge que se aftigem com a persisténcia dos embates soviolégr, £06 e com a falta de consenso para resolvé-los usualmemte earacterigam essa situagdo como sinal de imaturidade de, Sociologia. les querem que a toviologia se assemeihe uma cléncla natural, gerando um sistema de leis univer: sais supostamente semelhante Aqueles que a cléncia ‘na ‘tural deseobriu e validou. No entanto, de acordo com a concepedo que aqui delinearei, ¢ um equivoco supor que 8 sociologia deva ser elaborada & maneira das cléncias fia ‘turais, ou imaginar que uma ciéncia natural da sociedade se}a possivel ow desejével. Outrossim, gostaria de enfati. ar que tal afirmagio no pretende veleular 0 ponto de Vista segundo o qual os métodos e objetivos das cléncias naturals se mostram totalmente irrelevantes para oe ftudo do comportamento social humano. A soclologia Uda com um objeto tatualmente observavel, depende da. pee: uisa empirica e envolve tentativas de formular teoriaa ¢ generallzgdes que darlo sentido aos fatos. Mas a natu. a mesma dos objetos mate: _comportamento, no que to importantes, €-comple= pos naturals. © contexto da sociologia ©, desenvolvimento da socologia, assim como suas preo- upagées atuais, fem de ser apreendid no contenta das Judancas que cram 9 mundo moderno. Vivemos sues época ‘de iaciga trunsformagao social No decor ae apenas, ols séclos, tiveram lugar avaisaladores, mudast Ss Su nya de holo ane mas aera as, Tals mudancas, que. se originaram na Burons oe dental, taaemse sentir agora Por toda parte. int disc Yeram totalmente as formas de organiaeto eocial ecrans Shumanidade viveu durante milares de anon, Seu miley leve ser encontrado nas que tém sido descrlas como dues grandes revolucdes” dos seculos x7 e Si er tnas S 12 sociologia: uma breve porém critica introducto ram lugar na Europa. A primelra 6 a Revolugéo Francesa de 1788, que corresponde néo apenas a um conjunto es ppecifico'de eventos, mas também a um simbolo de trans- ‘ormagées politicas de nossa era. Pols a Revolugéo de 1789 foi muito diferente das rebelides que @ antecederam, De ‘tempos em tempos, os eamponeses se rebelavam contra os ‘senhores feudais, mas tentavam apenas afastar certos in- ‘dividuos do poder, ou fazer com que 0s pregos ou as taxas fossem reduzidos,’Com a Revolugio Francesa (a qual po- demos assoclar, com certas reservas, & revolugfo.antico- onial ocorrida’na América do Norte em 1776), pela. pri- ‘melra ver na histéria uma ordem soclal fol completamen- te transformada por um movimento conduzido por idéias uramente seculares — Uberdade e igualdade universais. se, mesmo nos dias de hoje, os ideals dos revolucionarios « raramente sio realizados, ao menos eles criaram um cli- ‘ma de mudanga politica que se tem mostrado uma das forgas dinimicas da historia contemporinea. Atualmente, pouces sio os Estados cujos governantes nfo proclamam tratar-se de “democracias", seja qual for sua compleigéo politica real. Isss0 6 algo totalmente novo na historia da ‘humanidade, # claro que existiram outras Tepublicas, e&- peclalmente as da Grécia e Roma clissicas, Porém, nko ppassaram de casos raros. E nesses casos, os que integra- ‘yam 0 corpo de “cidaddos" constituiam ‘uma minoria da opulacio, cuja maioria era composta de escravos ou de Dessous que nfo desfrutavam das prerrogativas dos gru- Pos restritos que tinham acesso a cidadania, Sy _A segunda “grande revolucio" fol a chamada “Revo- upto Industrial”, que ocorreu na Inglaterra no final do > século xvi se disseminou, ao longo do século x1x, pela ‘Ocidental e Estados Unidos. As vezes, a Revolucio sf -Indastrial € apresentada como um conjunto’ de inovacées ‘téenicas: especialmente a utilizacdo do vapor para manu- 5° faturar a produgéo e a introdugio de novas formas de maquinaria acionadas por tals fontes de energia. Entre- tanto, essas invengOes téenieas foram apenas parte de um conjunto muito mais amplo de mudancas sociais e eco- nOmicas. A transformacio mais importante foi a migra- do em massa da fora de trabalho proveniente do campo para os setores do trabalho industrial em constante ex- ppansio. Tal processo acabou levando também & mecantza- sociologia: questées ¢ problemas 13 cdo da producio agraria, além de promover a expansio fs cldades com ume intensidade jaats vista na tor, Catcla-e que antes do seoulo Xo mesmo nas soledades tals trbealzadns, nso mais que 10% da populagio hal {Evam a0 poquense oar gindes ecades’= e geraen te'multa menas na malora dos Bstados© mpi ssten tides pea agriculture, Consoate ‘os padres, moderns, rtuelmente todas an cidades nas socledadespretndus: {nis mesmo or mais afamadescenton cosmopolitan Felativamente pequenas. Estos por exempo, 2 ‘popt- Tapio Tondrina do séulo iv em 3 habitants ede Frorenga durante o memo pevodo em 90 mi. No nico Go’ sito 8 poptlgto Ge Landes Jo urge a de qualquer cidade em tno os tempos, a ars {tu de cerea de 900 mil ama, Mas, em 1800, mesmo com to grande centr ‘metropolitan, apenas ina, poquena ‘minora da: populagdo da Tnglaterta‘e Pais de Geld ert dia em cidades, Urn steulo depois, quae 40% Gu Popuie: ff residiam em clades de 100 mil habitantes uals Seren de 60%, em cidades de 20 mil habltantes ou mai Quiono 1.1 Percentage da. populagdo mundiet ‘que vende tm cidade (Gilades de 20m tantasou tala 1800 2a af 1860, a 23 1200, 32 us 1950 aa aa as10 aie 160 ‘The origin and growth of ibe fmerion Journal of Soniagy, wok 6t, © Quadro 1.1 mostra que a urbenizacio temse ex- pandido dramaticamente em escala mundial, © que 1890 continua a ocorrer. Todos os paises Industrializados slo. ‘muito urbanizados, quaisquer que sejam os eritérios que ‘usemos para distingulr a “pequena” ea “grande” cidade 1M sociolopia: uma breve porém crlticeintrodugo og centros menos populosos. No entanto, também nos alse do Terceiro Mundo se verifien rapide’ expanada des freas urbanas. As malores éreas urbanas do tunda tony lemporineo mosiramse imensas, quando ae contrastamos com cldades de socledades anterioles ao seeulo tt Se a industrialzagdo e a urbanizagto esti no centro das transformagges que cissolerum’ineaoravelmente ae formas mais trediionais de socledade, devemee mene'eng tum teretiro fendmeno que thes esta assoclad,Trata.se do farpreendente eumento da populapto mundial nos das de hole, comparativamente como passado, Ja se estimou que, 1a époea do nascimento de Cristo, a populagio do mud Drovavelmente néo chegava a 200 milnoes de Dabitantos 4Até'o sleulo xvi, sua totalidade arece ter creside ae ‘maneira bem consiante, ainda que'lenia; provavelmeas 4 populago do mundo duplicou. durante esse perodo, Dade entéo tem ocorrido ato falada “explosio popula: clonal, embora pouco se saiba sobre ea. Atualmente, hi ‘quase d blndes de pessoas vivendo no mundo, © ee ni, ero tem sumentadio de tal modo que, a perdarar tal situagdo, a popalagdo mundial dupliears a cada 40 ance, Embora’as conseqténcias de tal crescimento populuclonal para o futuro da espéele humana seam assustaoras, p> endo ser objeto de grande controversia, os fatores qu subjazem as origens do recente crescimento demogréfico io. menos controvertidos que os da industrializga0 cu ‘uanizagio. Na malor parte da histéria da humanidade, houve tum equilliio geral entre as taxas de nataidade, ¢ de mortalidade. Ainda que, em alguns aspectos, trate de questio complexa, mela se destacam Gols fendmenos prinepals. © primetro 6 que, anteriormente aos dls alt ‘os séculos, a media de vida raramente ulepasaa. ob 85 anos, ¢ em geral era menor. © segundo fator fol taxa de ‘moriatidage infantil: no’ erafneomum, na Butopa medieval ¢ alhures, que até a metade das criangas nase das em cada ano’ morresse antes de alcangar a Wade aduila, O aumento da expectativa de vida eo dramsties Seetcime data de oviaadeIntanh —prodardn elas ‘melhores condigdes sanitarias ehigignidas © pe Drogresso da medicina, que propiciou acura das prise Bais doencas infeccioeas “td tontribaido para ese pro. figieo ereseimento populacional socilogia: quesibes € problemas 15 Sociologia: uma detinigéo © algumas conskderagées preiminares ele conseqiéneias "Natu nena ‘rea de estudo pode ger exatamente demareada’ em teranos de suas origens. Podemos prontamente tragat ima, Linke continua que val dos autores de Tmeados Go século Xvi 40s periodos mals Tecentes do pensamento Socal De fata, & formacéo da socisiogia envolveu tm lima idcoldglco aye contribuiu para inorementar ambos 0s processoe Terlio. nétton ‘Como deveriamos definis a “sociologia”? Vejamos uma detingGo trivial. A sociologa. diz respetto a0 estudo das socledades humana Ore, #6 podemos formulas a nowas de soeledade de modo multo feral, Pos sob categoria feral de “socledades” desejamics inclult ‘néo apenss ot paises industrisllzados, mas também os kmensoo Estados Imperiais sustentados pela. agridltura (como. ©. Império Romano ou a China tradllonal) e, no extremo eposte, as poquenas comunidades tribals que apenas. poder abran fer um nimero insigniticante de individuos™ ‘Uma sccledade um grupo, ou aitema, de modes. instifveionalicados de condita. Pilar de formas “institue lonalizadae” de conduta socal € referivse a modallades de crenca comportamento que ocortem e recarrem — ou, sare pron a tering radon tone sca Slo sotialmente reprodusidas — no tempo e No linguagem'é excelente exemplo de uma Toran Ge atvida- de insitucionalzada, ow instituglo, por ser to funda ‘ental para'a vida socal, Todos nos talames nguas que, enquanio individuos, nenhum de és eriou, embora fos. ‘sumos utilizar a nguagem de forma erativa No entan to, muitos outros aspectos da vida socal podem Set inst tucionalizados, ou seja, tornamsegeralmente praticas adotadas que inantém ima forma reconhecidamente simi, lao lango das geragdes, Por eonsegulnte, podemis tae de Instituigées econOmicss, politica e assin por alsa, E devemos assinalar que semelhante ‘uso do. Concelta Ge “%nstitulgdo” dere da maneira em que'o termo é featere 16 sociolopia: uma breve porém erica introducdo temente empregado na linguagem comum, como vago si- onime de “erapor ou “oletiidads" — odmo quando, a0 {alarmos de Sime prio ou hospital, nos referimos a tm Mitt" Tosas consieragies servem para mostrar como deve- ros eompreender o'lermo vaoeeiade", mas no pedemos etxar a questi por relver. Como objeto de estudo, ‘Sociedade 6 abordada Yanto pea socgloga quanto peas demais cionclas socal. [A carcterstca.distintiva ds 20- clologi reside no. fato de ela concemnitprincipelments- iquelas forms de soctedade que tem emergido na es Mig “uae randy evalua a se Sr as: socleases nds ‘mente ava erel muito & dle hos eapitalos que Ttuaimente avangadas", Mas no serd prejudicial para nossa discussfo se. propusermos a seguinte definicdo: a. gous So naar as" On 2 ‘as condigées de transformacdo dessas instituicdes. 5 quero atribalr enfase especlat a0 fato de as sociedades “avangadse” nfo poderem ser tratadas como fe eslivessem isoladas do resto ao mundo, ou das socie- ag-preceders po — ainda que grande ‘rabalhos soc olopicos tenha sido eserita como Erassim force Alem disso, € igualmente importante enfa- tizar que néo é possivel traar_precisamente linhas-divi-_ sorias entre de estudo, Nem ¢ “esejavel que possames fazé-lo, Algumas questoes da teoria Social, que tem a ver com a maneira pela qual o compor- tamento e as inslitulgbes humanas deveriam ser conce!- {tallzados, sio objeto de estudo por parte das cléncias so- tlais como um todo, AS diferentes "éreas” de comporta- mento humano que sfo abordadas pelas diversas eléncias Soclals formam uma divisio intelectuel do trabalho que 56 pode ser justifiada de manelra muito geral. A antro- polbgia, por exemplo, esta nominalmente preocupada com BS sociedades “mals simples”: as sociedades tribals, as che- fins ¢ 0s Estados sustentados pela agricultura, Tais soce- fades, porém, vém sendo completamente dissoividas pelas profundas madancas sociais que tém acometido o mundo Bu endo em vias de serem incorporadas pelos modernos Estados industriais. © objeto de estudo da economia, para fonsiderarmos outro exemplo, é @ producio ¢ a disiribul- sociologia: questoes ¢ problemas 1 ‘cao de bens materials. Contudo, as instituigdes econdmi- as sempre estdo, obviamente, associadas a outras insti- tuigées nos sistemas sociais, que as influenciam e so por las influenciadas. Fmalmente, a historia, como o estudo 0 continuo distanclamento entre passado e presente, constitu a fonte material da totalidade das ciéncias sockais. “Mu‘tos pensadores notéveis associados ao desenvolvi= mento da soc.ologia ficaram impressionados com a sm porlancia da c.éncia e da tecnologia para as mudancas gue testemunharam. Portanto, ao estabelecerem as metas da sociologia, buscaram, no estudo das questdes sociais Jhumanas, conseguir o mesmo éxito obtido pelas ciéncias naturals’ ao explicarem o mundo material. 6 sociologia. via ser uma “ciéncla natural da sociedade”. Augusto (Comte (1799-1857), que cunhou o termo "soelologia”, for- ‘mulou essa concepgao de modo mais claro e abrangente, ‘Alegou que todas as ciénclas, inclusive a sociologia, com- ham uma estrutura global de ldgica e de método; Fodas visam descobrir as leis universals que regem os fe- ‘nomenos particulares com os quais lidam. Comte scredi- tava que, se descobrirmos as leis que regem a sociedade yhumana, poderemos forjar nosso préprio destino, do mes- mo modo que a ciéncla nos tem permitido controlar 0s eventos que fazem parte do mundo natural. Sua famosa formula, Prévotr pour pouvoir (prever para poder), ex prema casa idtia, VER PARA PREVER ‘Desde a epoca de Comte, a nogio de que a sociologia Geveria tomar como modelo as ciéncias naturals tem pre- Gominado —~ embora certamente nfo tenha deixado, de softer objegdes, sendo também ‘de varias © dife- rentes maneiras. Emile Durkheim (1858-1917), uma das Figures mais infiuentes que contribuiram para 6 desenvol- vimento da soclologia no século xX, deu continuidade a ms agpectos importantes do pensamento, de Comte Seund ee welloga. dis reelin acs “at soca “Gue-potem sef-Abordados do mesma modo objetivo que os fats com que lidam as eléncias naturals, Em seu peau oo mas por demas influente lio as regras do método Josioldgeo. (1886), Durkheim propos que os fendmenos Sovials deveriam ser tratados como cosas: deveriamos con Siderar a nds mesmos como s fOssemos objetos que fazem 18 sociologia: uma breve porém erica introducao atte da natureza. Assim sendo, ele acentuou as similari- Gades entre a sociologia e a ciénela natural, sssenciai, i) do podemos abordar a soledade, on 08 “tatos fain como fase com or ober on ena gut yeu parte do mundo natural pois as socielades Grose tem na medida em que sho erie < restores eee roprias apbes como seres humanos. No que fange 8 teria ‘Seial, no podemos tratar as atividades humeny sors se fossem determinadas por certas eausas da mens ee ‘a que os eventos naturais Temas de-compreender 9 (oy chamariamos de duplo envolvimenta'de’ inven, © oe oe a ‘rados por ele. J: mencionel que“ar insUtaiee a “Gres de atividae soci! reprainces 29 baa de stores separados no tempo e no espaco. Realmente, & ‘muito importante enfatizar esse aspecto, pois mulias teorias sociais — inclusive a de Durkheim — tendons pensar em termos de imagens fisias, e tal tendénela pode de um edificio ou como 0 esqueleto ds con Prata-se de uma atitude equivocada, por implicar wey imagem ‘por. demais estética e imutavel das sociedase, ‘sto &, por nfo esclarecer sociologia: questbes ¢ problemas 19 ‘sido _sendo constontemente reconstruidos historia ¢ e do que pode vir a ser. His por que hin fy odemes satistazer com a idéia de Comte Jo Frévots pect powooir, considerada como tecnologia social. Quatide se frata_de_cléncias socials, dirigimo-nes a outros seres hee Manos, ¢ nfo a um mundo inerie de objeto. 5 Geralente por mostrar que o que a alguns se afigura ineviteeiey inquestiondvel — por se assemelhar a uma lel natural mana. Simultaneamente, a anillse sociologien mostra oo A imaginagio sociolgica: sociologin como critica due coo, Afirmo que a pritics da sociologia demanda o Sica Ent Mills 1&0 hablimente chamou de "iege Rasio sociolégica” (C. Wright Mills, The Sociolorica ae ‘ination, rth, Penguin, 1970. {A imag iaciolégica, Ro, Zahar, 1865; 6+ ed., 1962))° Hoos eee Hal fe Préprio Mis usou-o num sentido um tate sae, 40 mencioné-lo, quero referir-me is varias formas els: 20 sociologia: uma breve porém critica introdugéo clonadas de sensiiidade gue se ‘andlise sociol6gica da mancira cont a woes ‘demos compretnier o munissetag rs Se SS PO Socedaes nduaialaidas Soe gus Sram nfl 1 aunt que” se amon prime thes so Odeo ‘Bens tn tighe xe de Mating ee ae ‘mas da-imaginacdo_sociolog:ca_envolvem uma sensibilids- de histircasanropagnes trie Sees hhano geseietente Hintioos a nbs enstem a mas ot menor £00 mil anes: haranctie Tak exstem emo obterigun connecesarans met 8 Que FO. trucos, “Elestcs” base efeitos tet quando millon pent te a a ae fst pecs um grange porte Suara Ne satanlo Sauleante duragio da Hater Soon, menrade& o aplalsmo Industrial. Os. nilonse ec tcordo com ‘relagio a quando’ caniets nage oe is snide Crna conn s rtoita a' oe ell suntentar aia de ee as oe fncontradas na rope antes sean ss Po et Hlatsmo industri enquamte aga Bb 2 0,o fiment captain coms prosusie meeenes gee monte 4 Glam pate" ao as emesis, Sista tm delerminadas partes ea Geb amen fins 100 anos, que presolcaram 2 Go tuo industrial eo nel mundial, tans oa ‘So mudanoar soils male persis, ements, eR sdnclas gue qunguer cube porta as ea ‘al anterio'da fumanitade Ge sooo 8 Glaades que asian pone em Se Saneas. Al feaeio contempuines ol is Socodades taapladay a uns site aca om Gi que © maria da poping caveats, tenon, Pours, dedlense a umn tabaihc ee eS uah'Ge Braden Nags entceante, teas 8c Socal tamil ead Se teres ne sas, ene, muna Ceo nn tsa oe ne No que se refere & imaginac&o sociolégica, juem_ana- sa hoje emda ax-socedades Industrie eatad foes re ee prio passado 5,2, “mundo que perdemos”. 86 me- lao ta eng Tage Se Darden 86 me volve uma conscitneia hstrea& Sue marmaumente en: sociologia: questées ¢ problemas $1 ‘ender como o modo de vida dos que atualmente vivem nas sociedades industrializadas ¢ alferente do das que vviveram num passado relativamente recente, Os fatos bru= ‘os, como os que mencionei ao falar da urbanlzagéo, nos auxillam a compreender tal fendmeno. Mas o que ¢ real- ‘mente necessério ¢ uma tentativa de reconsirugdo ima entre fico do socidlog ¢ Saks Se onder, Ingle stenting a ie dade que experimentau pela primeira ves 0 a volucio. Industria era‘ainds ma sia em que eo costumes da comunidade local eram mantides pela pene- fei nunc de Feige, Fo ua socade ent aue ppodemos constatar una continuidade com a Gri-Bretanhia fo séeulo 3X, mas onde os contrastes ko notaveis As or- Banlzagées que hoje em dla 280 comune existiam apenas ‘numa forma rudimentar: no apenas fries © escrito. Fog, mas escolas, faculdades, hospitals prisdes 86 s0 tor. haram comuns no sécilo 20%. ‘De certo modo, naturalmente, esas mudancas na es- trutura da vide sovial slo. de tipo material Ao deserever 4 Revolugio Industral, asim escreveu um historiador ‘A tecnologia moderns nfo apenas produz mais © mais réido; tla produr abjtos que de modo slum’ poderiam set produ 2idos pelos métodos de que dspinhamon anteionmente, A ‘melhor fadir indiana io poder produ um fo to fino regular como 0 di fadese aufomitica; nenbums foe do Sécalo xvi poders produ chapas de ago Ho grande as

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