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Viagens Mentais…de Baixo Custo!

Sinto que a autobiografia de alguém é uma viagem mental, uma viagem “low cost”,
que nos trará certas lembranças, umas boas, outras menos boas, alegrias, tristezas…
No entanto, são parte da nossa vida e cada uma tem um pedaço de nós para contar…
Como qualquer viagem!

Estávamos no verão de 1980, nasci a 4 de Agosto em Caracas, Venezuela, pelas 23


horas.

Acho que na altura fui um filho não planeado – os meus pais tinham imigrado há 6
meses para a Venezuela, à procura de uma vida melhor, o meu irmão já era nascido, e
já tinha 12 anos de idade aquando do meu nascimento. Sei, pelo que me conta a
minha mãe, que quando soube que estava grávida de mim ficou muito perturbada, por
não ser a melhor altura para o meu nascimento e, ainda por cima, num país com uma
cultura tão diferente da portuguesa onde ainda nem eles próprios, acabados de
chegar, sabiam bem o que fazer.

Para o meu pai foi uma alegria imensa, como o meu irmão já era crescido, passei a ser
tido como o “filhinho” querido, o bebé, o mais novinho. Para o meu irmão foi bem
difícil, tinha de ajudar nas tarefas em casa, tinha de cuidar de mim e também para ele
todo aquele ambiente era novo, a vida de todos tinha mudado.

As minhas lembranças dos tempos que vivi na Venezuela (cinco anos) são escassas.
Recordo, ainda que com dificuldade, o local onde vivia e pouco mais. Apenas sei o que
me foram contando os meus Pais ao longo da vida – que eu era um reguila, um
tagarela que falava com toda a gente, (ainda por cima falava-lhes em português e as
pessoas achavam piada). Para além disso, andava atrás do meu irmão para todo o
lado, o que para ele devia ser uma chatice…

Quando tinha cinco anos de idade, os meus pais decidem voltar para Portugal. As
coisas por lá não corriam de feição e era o momento do regresso, uma vez que no ano
seguinte seria altura de eu entrar na escola primária.

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Antes de emigrar o meu Pai era oficial de máquinas na Marinha Mercante, profissão
que continuou a exercer quando voltámos; a minha Mãe trabalhava na seca do
bacalhau. Grande parte da minha família materna é ligada à vida marítima: a minha
Avó trabalhou anos a fio também na seca do bacalhau, enquanto que o meu Avô foi
pescador durante toda a sua vida e fez parte da história da pesca do bacalhau.

Lembro-me das histórias que me contava, de irem para a pesca nos pequenos e frágeis
“dóris”, onde chegavam a estar tempos infinitos, perdendo o navio de vista. Destas
memórias, em que também ele fazia as suas viagens mentais, guardo uma que para
mim é a mais importante – a sua sobrevivência a um ataque de um submarino Alemão
na altura da 2ª Guerra Mundial. Foi em 11 de Setembro de 1942 que o navio onde ele
estava (Delães) foi atacado pelo submarino U-96, quando regressavam a Portugal com
os porões carregados de bacalhau.

Lembro-me também de ir com a minha Avó paterna vender Bolos nas festas
tradicionais da terra. Adorava aquilo, para mim era uma alegria enorme as pessoas a
comprarem os bolos, a banda que passava…toda aquela agitação…

Pouco tempo depois de estar em Portugal, e principalmente com estas todas


influências dos meus avós, senti que aqui era realmente o local onde eu queria estar,
podia brincar na rua com outras crianças correr, andar à vontade, coisa que na
Venezuela era impensável. Tantas foram as brincadeiras de rua que um dia resolvi
juntamente com um primo pendurar-me na traseira de um camião. É claro que deu
mau resultado, porque o condutor não nos viu pendurados e arrancou a toda a
velocidade. Quando saltámos, caímos e ficámos inconscientes. Dois dias no hospital e
o corpo todo esmurrado foi o balanço da aventura…

Com este espírito aventureiro depressa fiz vários amigos. Andei um ano no infantário
do Bairro dos Pescadores, mesmo em frente à casa dos meus Avós maternos. No ano
seguinte entrei na escola primária já perfeitamente integrado. Os meus quatro anos de
escola primária foram atribulados, pois tive uma professora em cada ano. Foi um
pouco complicado para nós, alunos “criancinhas”, que a cada ano tínhamos uma nova
professora e para as professoras que vinham, que nunca estavam ao corrente daquilo
que nós sabíamos.

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Também teve algo de positivo – é que quando entrei para a Escola Preparatória o facto
de ter vários professores para mim já não era novidade.

Foi nesta altura, aos onze anos de idade, que entrei para o Escutismo. Fui escuteiro
durante dez anos, onde aprendi entre muitas outras coisas a “amar a natureza”. E este
é um ensinamento do escutismo que ainda hoje permanece na minha vida, (hoje, cada
dia é mais difícil fazer os jovens enveredar por caminhos que não sejam o vício sobre
computadores os jogos, etc.). Com o escutismo veio também a música e o gosto pela
guitarra, paixões eternas vividas intensamente a cada dia da minha vida.

Aliando este gosto pela natureza e pelo desporto, pratiquei canoagem competição no
CNAI (Clube Natureza e Aventura de Ilhavo), do qual ainda faço parte, organizando
hoje em dia várias actividades de natureza, tanto na área náutica como na vertente de
montanha e passeios pedestres.

Dois anos após a passagem pela escola preparatória, chega uma nova realidade –
entrei para a Escola Secundária de Ílhavo. Durante os três primeiros anos nesta escola
ganhei também o gosto por uma paixão que ainda prevalece nos dias de hoje, a
Fotografia. Comecei no meu 8º ano a frequentar o clube de fotografia da escola e a ter
algumas aulas de fotografia. Comprei a minha primeira máquina reflex e com o passar
dos anos fui aperfeiçoando e aprofundando o meu conhecimento nesta área, que
ainda é um dos meus principais hobbies.

A entrada para o 9º ano é sempre difícil, pois começam a surgir as dúvidas sobre que
áreas iremos seguir e a confusão sobre aquilo que queremos realmente fazer são
enormes.

Como se isto não bastasse, foi neste ano que perdi pela 1ª vez alguém importante na
minha vida – foi com apenas 14 anos de idade que perdi o meu pai. Senti o mundo
desabar aos meus pés. Sempre fui muito ligado ao meu pai e sinto que o perdi na fase
mais difícil da minha vida (adolescência). Com esta perda tornei-me mais rebelde,
achei que ninguém me compreendia (síndrome própria da adolescência), agravada em
mim por esta enorme perda.

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Mas também foi aqui que aprendi que a vida continua e que temos de arranjar força
para lutar contra estes momentos menos bons. Com isto, depressa a minha rebeldia
deu lugar a uma maturidade e a um crescimento mais rápido e mais consciente.

Entre todas as estas atribulações consegui concluir o 9º ano e fui conciliando também
a música durante este tempo. O meu primeiro trabalho foi numas férias da escola a
trabalhar numa empresa de metalurgia, para conseguir comprar a minha primeira
guitarra eléctrica. Daí até às bandas foi um pequeno passo – formei e fiz parte de
várias bandas “rock” durante a juventude.

Como a vida não era apenas música e havia que pensar também no ano seguinte, na
altura de decidir o meu futuro, na passagem para o 10º ano, optei pelo Curso de
Electricidade e Electrónica na Escola nº 1 de Aveiro. A opção não foi a melhor, estive
um ano neste curso com o qual não me identifiquei. No ano seguinte, e por opção
própria, voltei para Ílhavo e ingressei no Curso de Artes e Ofícios, de novo na Escola
Secundária de Ílhavo.

Após um ano lectivo surgiu-me uma oportunidade de trabalho que estava relacionada
com o curso que frequentava na altura. No momento nem olhei para trás. Era a altura
de fazer algo mais por mim próprio, trabalhar, ser mais independente, num momento
em que a minha mãe estava numa situação em que também era difícil suportar tudo
sozinha.

Foi então que entrei para a Interdecal, empresa do Grupo Vista Alegre, onde eram
feitos todos os desenhos e decalques utilizados na VA. Entrei para esta empresa para o
sector de fotografia, onde fazíamos reproduções de desenhos manuais através de um
processo gráfico de fotografia. Entrei como aprendiz de fotógrafo, profissão que
aprendi com a pessoa que ocupava esse lugar e que se viria a reformar-se dois anos
após a minha entrada, ficando eu na altura como fotógrafo.

No entanto, com o avanço das tecnologias gráficas do final dos anos 90, o trabalho a
nível de desenho manual começou a ser escasso e começou a ser processado através
de computador, e por arrasto disto, a fotografia de artes gráficas estava também
condenada ao fim.

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Por isso, quatro anos após a minha entrada na Interdecal, iniciei outra actividade, que
ainda hoje desenvolvo, Técnico de Desenvolvimento Digital, aliando os conhecimentos
de fotografia de artes gráficas aos computadores. Para isso, tive um ano de
aprendizagem na área de desenho assistido por computador e algumas formações
específicas nesta área, dentro da própria empresa.

Todo este processo da passagem do desenho manual para o digital teve início em
1996, e neste momento, 90% da produção de decalques da Vista Alegre é desenvolvida
digitalmente. O processo de produção de decalques teve início no “Centro de
Desenvolvimento de Digital”.

É neste sector, que reproduzimos, através de software desenvolvidos especificamente


para a indústria cerâmica, todas as decorações criadas pelo departamento de Design.
Aqui, cada decoração é estudada a nível de cores, separação gráfica e retoque, para
que posteriormente seja adaptada através de moldes a todas as peças em branco. É
também aqui que são recebidas todas as encomendas de decalque e preparadas todas
as fotomontagens de layouts para produção.

Esta empresa (Interdecal) entretanto deixou de ser parte do Grupo Vista Alegre e
passou a ser um sector da própria Vista Alegre.

Em 2007, nova queda na minha vida, a perda da minha avó materna. Estava muito
ligado a ela, quase todos os dias a visitava, saía várias vezes do trabalho e ia ter com
ela, faleceu aos 92 anos.

Mas a vida já me havia ensinado que não há nada a fazer, é parte da condição humana
nascer, viver e morrer…Um dia seremos nós a deixar saudades! Pelo menos desta vez
tinha já a maturidade e um grande pilar de sustento, a minha actual namorada, a
Margarida.

Agora e, após 6 anos de namoro, decidimos dar um passo na nossa relação e


decidimos que era altura de vivermos juntos. Tudo é diferente, temos de ser nós
próprios a organizar a nossa vida, a assumir as nossas tarefas, as nossas
responsabilidades. Tudo isto é novo após ter vivido 27 anos em casa da minha mãe,
mas tudo é também demasiado bom.

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Sinto que o próximo passo, é quando chegar a altura de poder ter nos braços um filho
meu, acho que neste momento é mesmo o meu maior desejo. Sinto-me realizado e
feliz com a vida que tenho, sou feliz no meu dia-a-dia.

Apesar de ter desistido cedo de estudar, fico contente por ter conseguido uma
profissão da qual me orgulhe e na qual realmente tenho o prazer de fazer algo de que
gosto. No entanto, havia um vazio ainda quanto à escola e decidi assim acabar algo
que ficou por fazer, mais uma vez a influência da Margarida neste campo foi essencial,
ao incentivar-me a fazê-lo.

No futuro gostaria de candidatar-me via “mais 23” ao curso de “novas tecnologias de


informação e comunicação”

A título pessoal e, como part-time, tenho desenvolvido vários projectos na área de


fotografia, publicidade e desenho gráfico, desde logótipos, cartazes, flyers,
convites…São alguns dos trabalhos que venho desenvolvendo para diversas empresas
e particulares.

Na área de fotografia alguns destes trabalhos já foram alvo de prémios e menções


honrosas em concursos e publicados em algumas revistas da especialidade, e podem
ser vistos em:

www.jorgefpires.com

www.olhares.com/jorgefpires

www.podiumfoto.com/jorgefpires

Ílhavo, Novembro de 2009

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Pensar se faz sentido tudo ser assim…

Viver em sociedade entre diferentes culturas foi desde sempre algo complicado, tanto
pelas diferenças evidenciadas entre os diferentes hábitos e estilos de vida, como
também pela nossa interrogação acerca dos outros.

Cada vez mais o mundo é a aldeia global de que todos já ouvimos falar, e é também
isto que leva a um misto de gerações, culturas e costumes.

Qualquer um de nós por certo já teve contacto com alguém de etnia cigana, em
Portugal esta é talvez uma das comunidades a quem mais tentamos integrar em
sociedade. Com um serviço de acção social cada vez mais próximo, tem sido feito um
trabalho árduo no terreno com o povo cigano, e apesar de ainda não ser um resultado
considerado excelente, é de certo muito mais satisfatório do que alguns anos atrás.

Se voltarmos atrás no tempo reparamos que antigamente não víamos crianças ciganas
nas escolas ou víamos muito poucas, quando hoje já existem em grande número nas
escolas. É certo que muito se deve aos incentivos monetários só estado para que essas
mesmas o façam, mas este pode também ser considerado um processo de integração,
como forma de criar um hábito neste povo, e para que as outras crianças também
aprendam a crescer entre diferentes culturas, formas de ser e estar.

Crianças ciganas em convívio com outras crianças

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Existem muitas outras vias pelas quais os nossos serviços de acção social estão a tentar
a integração deste povo, desde cursos de formação para adultos, cursos profissionais,
ocupação de tempos livres, etc.

Mas o problema da integração também tem de ser passado aos cidadãos, às


empresas…De certo todos nós já pensámos “- os ciganos ganham dinheiro sem fazer
nada…” será que existem entidades empregadoras com vontade de ter pessoas de
etnia cigana a trabalhar, quando estas acabam as suas formações?

É aqui que os incentivos monetários dados pelo estado que tantas vezes são mal vistos
por nós, ganham uma importância extrema neste processo, é que não havendo
dinheiro e não tendo trabalho essas pessoas de certo que vão enveredar por caminhos
ilícitos para conseguir dinheiro e na busca de bens diários essenciais. E essa será uma
forma de evitar o crescer destas situações.

O crescimento urbano e a mistura de povos e costumes trouxe consigo, questões


difíceis de resolver, existem na nossa sociedade grupos de pessoas que ao longo dos
anos têm sido, postas de lado, por aquilo que nos incutiram que elas são, exemplo
disso são os ciganos.

A Aldeia Global é responsável por esta mistura de povos e culturas

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Eles foram rotulados com uma série de estereótipos, para a generalidade da sociedade
os ciganos são: sujos, não trabalham, vivem de negócios ilícitos, provocam desacatos,
estão ligados ao tráfico de estupefacientes, etc. E estes são apenas alguns dos
estereótipos que lhes foram imputados e que nos levam a vê-los de forma diferente,
eu não fui excepção à restante sociedade e também cresci alimentando um pouco essa
ideia. Isto porque é difícil crescer num meio onde há dezenas de anos se criou uma
determinada imagem sobre determinados indivíduos, e fazer com que essa mesma
imagem nos seja indiferente, e com que não nos diga absolutamente nada. Foram
ideias que se foram alimentando de geração para geração, de avós para pais, de pais
para filhos e assim sucessivamente.

A questão prende-se com a veracidade dos mesmos, generalizámos que somos


diferentes, que possuímos uma imagem diferente, mas aqui há uma diferença cultural
e étnica que não pode ser deixada de lado. E a grande verdade é que não podemos
generalizar, achar que nós estamos bem e eles mal, ainda que a nossa forma de estar
na vida seja o mais política e eticamente correcta, uma vez que existem em todas e
quaisquer sociedades, os bons e os maus, os bem formados e os mau formados…

A resolução passa por cada um de nós individualmente, passa pela educação que
poderemos dar aos nossos filhos, tentando não imputar a esta comunidade os mesmos
estereótipos que há anos e anos os perseguem. Integração é palavra de ordem e tem
vindo cada vez mais a ser uma realidade, é aqui que começa o papel do Estado e das
Empresas, é também aqui que deve começar a nossa visão e aceitação.

A capacidade de aceitação é uma condição do ser humano que por vezes deixamos de
lado, quantas vezes não aceitamos determinadas coisas, porque não nos convém ou
porque é mais simples contorná-las do que resolvê-las? Esta aceitação muitas vezes é a
resposta para a resolução de conflitos sejam eles de ordem pessoal ou profissional,
mas não se trata apenas de aceitar, mas sim de tentar compreender onde estão os
problemas a resolver.

Sinto que na minha vida o Escutismo foi algo de muito importante, algo que me
ensinou a olhar para o mundo de maneira diferente, seria importante que todas as
crianças vivessem um pouco o espírito Escutista, e não pensar apenas nos escuteiros

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como “os meninos das meias com pompons, e das meninas de sainhas e meias pelo
joelho” existe toda uma conjuntura de valores sociais e morais que podem ser
bastante úteis. O fundador do escutismo Robert Stephenson Smyth Baden-Powell,
nasceu em Londres, em 22 de Fevereiro de 1857, ele foi fonte de inspiração para vários
jovens durante guerras em África onde esteve presente como Oficial do exército
Inglês, era visto como um homem que cultivava os valores e a amizade entre as
pessoas, onde reinava a sua boa disposição. Logo estes foram valores que em 1907
“BP” tentou incutir em todo o espírito escutista, aquando da sua fundação. Em
Portugal foi fundado em 1923 o CNE Corpo Nacional de Escutas, que tem por base a
religião católica, existem também os Escoteiros de Portugal, aberto a qualquer religião
ao contrário do CNE do qual apenas fazem parte pessoas da religião católica.

Baden-Powell, Fundador do Escutismo

No entanto seja escutismo católico ou não católico existe algo de comum entre as
duas, a solidariedade para com os outros e a participação em diversas campanhas,
exemplo dos peditórios para liga portuguesa contra o cancro, ou o banco alimentar
contra a fome, é importantíssimo participar nestas actividades, torna a nossa parte
humana mais sensível, leva-nos a pensar nos problemas dos outros, a querer fazer algo
para mudar, e dentro das possibilidades de cada um isto é o mínimo que podemos
fazer.

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Numa altura em que tanto se fala de videojogos e do tempo que as crianças ocupam
em frente a um televisor, é de uma importância extrema que as crianças entendam
onde devem parar, e também que alguém lhes transmita isso mesmo, o momento de
parar, para que elas entendam que há uma hierarquia, um respeito. Pois dentro do
escutismo isto é também um valor incutido, existem os dirigentes aos quais reportam
os guias de equipa que por sua vez têm a função de orientar os mais jovens do grupo.
Para que cada um descubra um pouco das suas capacidades, dentro de cada equipa
existem as mais variadas especialidades, como, cozinheiro, tesoureiro, animador,
bombeiro, jornalista…etc., um pouco como profissões mas dentro do grupo, após ter
dado provas de especialidade em determinada área é-lhe entregue uma insígnia
(distintivo) relativo a essa área que deve colocar na sua farda, as minhas insígnias
foram as de cozinheiro e de andarilho, valores que ainda guardo e que me dão imenso
prazer nos dias de hoje.

Estes são motivos mais que suficientes para que cada jovem devesse viver um pouco
desta aventura de ser escuteiro, mas tem tudo é tão bom e tão fantástico assim.
Durante a minha caminhada como escuteiro tive momentos altos e momentos baixos,
quando somos jovens tudo corre bem, mas quando vem a idade da adolescência e da
afirmação, há coisas que podem não fazer muito sentido. Esta foi talvez a razão que
levou ao meu afastamento do CNE, tenho pena de não ter conseguido levar a minha
caminhada ate ao fim para ter chegado a dirigente, mesmo assim durante a minha
passagem cheguei sempre ao cargo de guia de equipa, só que chegamos a uma idade
em que a religião que nos foi incutida pelos nossos pais (no meu caso a católica), pode
ou não fazer sentido para nós. Ou dito de outra forma poderemos dizer-nos e
considerar-nos católicos, mas não praticantes, e aqui surge o problema da ligação do
CNE com a Igreja católica, é que apesar de sermos católicos e de nos identificarmos
com todos os valores escutistas podemos não nos sentirmos bem a participar em todas
as actividades ligadas com a Igreja, como o caso de missas, procissões e afins. Tenho a
certeza que em poucos anos o Escutismo Católico Português se não mudar a sua
postura perderá grande parte dos seus jovens, as crianças devem ser instruídas
mediante uma religião mas não necessariamente forçadas a estar presentes em todas
as actividades da Igreja Católica.

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Algum tempo após ter deixado o escutismo e numa altura em que a minha vida e o
meu pensamento já era muito mais coerente, comecei a praticar canoagem no CNAI
(Clube natureza e Aventura de Ilhavo), pratiquei durante três anos canoagem de
competição, a canoagem é um desporto demasiado solitário que só com grande
esforço e dedicação se conseguem resultados, isto agrava-se quando as condições de
treino não são as adequadas, que era o caso. O tempo foi passando e começou a surgir
dentro do clube a necessidade de fazer algo mais do que a canoagem de competição,
assim eu e outros dois membros do clube decidimos avançar com uma secção mais
dedicada à vertente turística e recreativa. Começámos por organizar actividades
náuticas pois era a vertente que conhecíamos melhor, mas depressa alargámos os
nossos horizontes às áreas de montanha, nesta vertente organizamos passeios
pedestres por várias zonas do país, mas com especial incidência na Serra da Lousã,
Serra da Arada e Serra da Estrela. A área turística é de enorme potencial para o
desenvolvimento, estrutural e económico nos dias que correm, com elas pode
conseguir-se uma série de clientes, fieis, o necessário no turismo é que este seja
aprazível, de modo a que quem participa uma vez numa actividade volte para repetir e
passe a mensagem a outros interessados, esta passagem de informação boca a boca
acaba por ser o melhor veículo de transmissão publicitária na maior parte dos casos.

Trekking Serra da Arada, organização CNAI

Atletas do CNAI em competição

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Mesmo assim é sempre necessária alguma publicidade em relação ao clube e aos seus
afazeres, tanto na área turística como na área de competição. Assim toda esta parte
que toca ao trabalho gráfico desde cartazes, flyers, etc… está ao meu encargo, apesar
de não ser directamente a minha área de trabalho é uma área em que me sinto
perfeitamente à-vontade. Um pouco como part-time do meu trabalho, tenho realizado
vários trabalhos de imagem corporativa para particulares e empresas, cada vez mais as
necessidades económicas obrigam a um esforço extra para que se consiga uma melhor
situação financeira.

Alguns trabalhos realizados por mim na área de imagem e publicidade

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Durante toda a nossa vida somos confrontados com determinadas situações, que nos
levam a reflectir sobre as mesmas, sobre o caminho a tomar perante elas.

É talvez na adolescência que começamos a ter noção disso mesmo, começamos a


crescer de uma forma mais madura, a tentar encontrar respostas para tudo, surgem as
dúvidas…o porquê das coisas…o porquê de ter de ser assim. No meu caso tive uma
adolescência um quanto conturbada, a determinada altura senti que era tempo de
colocar os pés na terra, fazer algo para bem de mim próprio e da minha família, mas
também sinto que foi fruto dessa mesma “irreverência” própria da adolescência, que
me fui habituando a viver bem comigo mesmo, a tomar determinadas decisões, e a
acatar o que as mesmas me reservavam, quer o bem, quer o mal. Não é sempre fácil
tomar a decisão de um rumo a seguir, e muito mais difícil é quando com a decisão que
tomámos somos obrigados a arcar com as consequências negativas que dela provêem.

Felizmente comigo e até ao dia de hoje, fui afortunado com o bem no campo das
grandes decisões, mas a vida também já me havia ensinado que nem só de felicidade é
feita, e com isto trouxe-me precocemente mais maturidade. A minha primeira decisão
tomei-a muito jovem, tinha 17 anos, estava então no 10º ano de escolaridade,
frequentava pelo segundo ano consecutivo o curso de Artes e Ofícios, uma vez que
tinha reprovado no 1º ano. É nesta altura que começo a sentir que estava há tempo
demais sem fazer nada de útil por mim mesmo, continuava a ver passar o tempo,
frequentava a escola e não as aulas. Um dia dei por mim a pensar na minha forma de
estar, na minha vida na minha família, no desgosto sucessivo que dava à minha mãe, já
bastava o facto de esta estar a sofrer com a morte do meu pai, não tinha também de
sofrer comigo, nem de ter gastos económicos com a minha escolaridade, uma vez que
eu não estava a responder de uma forma positiva. Falei com a minha família que se
tentou opor de algum modo a tal decisão.

Todos nós já tivemos situações de conflito familiar, uns mais outros menos, umas mais
graves que outras, em particular nunca tive nenhum grande conflito a nível familiar,
mas recordo que a primeira vez que falei com a minha mãe sobre a possibilidade de
abandonar os estudos ela ficou profundamente chateada com isso e na altura não
queria que eu o fizesse, até porque foi demasiado cedo, eu tinha apenas dezassete

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anos, prestes a fazer dezoito. No entanto e como sentia que era mesmo o que eu
queria na altura, tentei fazer-lhe entender que de momento era mesmo a melhor
solução, até porque era um trabalho relativamente bom, e onde eu teria uma margem
de progressão e poderia aprender uma profissão, algo que me pudesse de algum
modo garantir um futuro com alguma estabilidade, ajudar a minha mãe em tudo o que
fosse necessário, poder ter as minhas próprias coisas, que não poderia se não fosse eu
mesmo a comprá-las. É no seguimento desta ideia que surge a oportunidade de eu
começar a trabalhar na Interdecal (serigrafia já extinta e agora parte da Vista Alegre
Atlantis).

Não pensei muito mais, estava mesmo decidido daquilo que queria fazer, e o trabalho
que iria ter conjugava-se com o curso de Artes que frequentava na altura, ela acabou
por entender e começou a apoiar-me na minha decisão, sendo que senti que agora
quando decidi por esta via acabar os estudos, ela ficou radiante com isso.

Durante este tempo e até hoje nunca me arrependi de ter agarrado esta oportunidade,
é de facto um trabalho que me preenche na totalidade e que me dá imenso prazer,
gostarmos daquilo que fazemos é um passo muito importante para o nosso bem-estar
pessoal. No entanto, durante os anos que sucederam essa decisão, tenho sentido a
necessidade de ter algo mais no que respeita aos estudos, crescer um pouco mais
nesse campo, fazer aquilo que deveria ter feito e algo mais se possível.

É aqui que reside a minha maior dúvida, será que hoje faria o mesmo apesar de não
me arrepender de o ter feito?

Tenho a certeza que não, a quantidade de informação que os jovens de hoje têm faz
com que a maior parte, siga o ensino superior, ou cursos técnicos para qualificações
nas mais variadas áreas. E pode até parecer estranho e levar-nos a pensar se em doze
anos isso mudou assim tanto, mas de facto é uma realidade, mudou mesmo. Quanto a
mim há uma conjugação de factores que podem explicar um pouco essa mudança - a
evolução dos media na ultima década que a cada dia nos trazem à velocidade da luz
informação, a evolução do sistema de ensino que acaba por cativar os jovens à sua
continuidade. Existe ainda uma situação mais grave, a crise económica mundial, se não
há trabalho o melhor mesmo é qualificação e especialização para que quando chegar a

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oportunidade de um emprego esses jovens estejam 100% preparados para o mercado
de trabalho.

Por isto tudo, pelo meu crescimento, e pelo que a vida me tem ensinado, sinto que
hoje seria diferente e também por isso estou aqui.

Outra das grandes decisões que tomei e com a qual também me sinto pleno de
felicidade, foi o passo de constituir uma família, viver em conjunto com a minha
namorada. Após termos namorado durante cinco anos, e depois de várias vezes
termos pensado em ficar juntos decidimos que era altura de avançar.

O processo não foi de todo fácil porque surgem sempre, algumas dúvidas, como casar
ou não casar, como comprar casa ou arrendar, no entanto em ambos os casos ficámos
pela segunda opção, decidimos que a nossa felicidade não passaria pela oficialização
da nossa relação mas sim pelo estarmos perto um do outro e ajudarmo-nos
mutuamente no dia-a-dia. Quanto à casa iríamos aproveitar algum tempo de
arrendamento jovem, feitas as contas poderia ser uma oportunidade para poupar
algum dinheiro, para quando surgir uma oportunidade de compra.

Agora um ano e meio após este passo começam a surgir novas metas que gostaria de
alcançar, sinto que a minha vida passará a ter mais sentido, ou pelo menos um sentido
diferente, mais direccionado, quando chegar a altura de ter um filho. Mas esta é de
certo a maior decisão a tomar, e será tomada quase que como se de um chamamento
interior se tratasse, algo muito pessoal e a dois, algo que nos indique, é agora, este é o
momento…Para que esse momento se transforme e se eternize em felicidade no dia
do seu nascimento e assim eu consiga dar a melhor educação, o melhor crescimento, a
melhor maneira de estar perante a vida, e que destes ensinamentos venha a
capacidade de tomar também decisões e a autonomia necessária quando chegar
também o dia em que ele próprio tenha de tomar as suas, porque a vida é feita delas…

É esta capacidade de reflexão, passado, presente e futuro, que também nos torna
diferentes dos restantes seres vivos, quando olhamos para nós somos capazes de fazer
retrospectivas, reflexões, planos.

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Ainda que me sinta realizado com tudo o que tenho vindo a conseguir, sinto uma
vontade de querer mais, de “alcançar mais e melhor”, ainda que pareça uma frase de
campanha política, talvez seja mesmo uma coisa em que todos deveríamos pensar
para nosso próprio bem-estar interior. É um pouco nesse sentido que me encontro
neste processo de RVCC, mas esta seria a primeira etapa, sendo que a minha meta
passaria depois deste processo pelo ensino superior, na área de Novas Tecnologias da
Comunicação. Sinto que se conseguir alcançar esse objectivo me sentirei melhor
comigo mesmo, é sempre tempo para fazer algo que deveria ter sido feito outrora,
desde que o façamos com vontade.

Sempre fui capaz de ir caminhando pelos meus pés, os passos pequenos são a receita,
nunca dar passos maior do que aqueles que somos capazes, e isto foi algo em que
pensei durante a fase da reflexão sobre o arrendamento ou a compra de uma casa. É
obvio que é quase o sonho dos comuns mortais ter uma casa própria, uma família, mas
em primeiro deveremos também encontrar a nossa estabilidade pessoal, familiar e
financeira, estou neste mesmo percurso, e a médio prazo tenciono avançar para a
compra de uma casa. Para que quando os filhos chegarem tudo possa estar preparado
de modo a que tenham a melhor qualidade de vida possível, mas sempre fazendo com
que estes à medida que forem crescendo se vão apercebendo das reais dificuldades da
vida.

Com uma imensidão de diferentes culturas, diferentes hábitos, diferentes povos,


diferentes pessoas, diferentes famílias, diferenças em cada um de nós, existe algo
comum e ao mesmo tempo único a cada indivíduo, quando refiro o termo comum
refiro que cada um de nós possui um ADN, e quando refiro a diferença, é que apesar
de todas as e das maiores proximidades familiares que possa haver entre as pessoas
cada ADN é único.

Mas afinal o que é o ADN? A sigla significa, “ácido desoxirribonucleico”, nome


complicado demais para a generalidade das pessoas mas o importante mesmo será
saber, onde se encontra e para que é utilizado…

O ADN não está apenas presente nos humanos, mas sim em todos os seres vivos,
desde as bactérias, plantas, animais, é uma molécula que existe dentro das células de

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todos os seres vivos e contém todas as informações relativas a esse ser de modo a
identificá-lo. Quase como que se tratasse de um código pessoal e intransmissível, mas
na forma genética, algo que não foi implantado mas sim que nasce com cada ser.

Microfotografia de molécula de ADN de uma formiga

Passaram cerca de 50 anos da descoberta do ADN e existe um avanço enorme no que


toca a pesquisas nesta área. Hoje em dia é utilizado em clonagem, alimentos
transgénicos, testes de paternidade, área de criminologia, etc…

Quanto à clonagem, o caso não é assim tão simples nem tão linear, existem questões
éticas e morais, a ovelha Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a
partir de uma célula adulta, todas as atenções do mundo ficaram centradas na
possibilidade de clonagem humana, mas convém referir que até neste sentido clone e
clonado teriam um diferente ADN, tal como acontece com os gémeos.

No que toca aos alimentos transgénicos, são assim denominados todos os alimentos
geneticamente alterados em laboratório, dada a sua maior resistência e velocidade de
crescimento, actualmente grande parte destes são utilizados na alimentação dos
animais em todo o mundo e no futuro poderão mesmo vir no futuro a entrar na
alimentação humana com mais relevância.

A identificação de paternidade também é algo que está directamente ligada ao ADN, é


através dele que é identificado um determinado indivíduo em caso de dúvidas de

Jorge Filipe Pires 19


paternidade. Hoje em dia é impossível registar uma criança sem que se saiba quem é o
pai, algo que alguns anos atrás acontecia, por vezes as crianças eram registadas como
“filhas de pai incógnito”.

Também na área da criminologia o ADN é uma peça chave, na tentativa de esclarecer a


participação de uma pessoa suspeita num determinado crime, através de vestígios de
sangue, sémen, fios de cabelos, é possível comparar o ADN com o dos suspeitos e
saber se estão ou não implicados nesse crime.

Mas é também no ADN que é carregada grande parte da nossa descendência, através
dele poderíamos voltar anos e anos atrás na nossa geração, e identificar familiares que
não chegámos sequer a saber que existiam.

No meu caso, apenas conheci até aos meus avós, e é da parte do meu avô materno
que carrego parte de uma história que ficará para sempre guardada na minha
memória e no meu coração. Uma história que me contava na 1ª pessoa, uma história
que não vem em livros, nem em filmes, uma história de homens de braveza que
deixavam as suas mulheres e os seus filhos e partiam para a pesca do bacalhau, em
barcos à vela, durante meses a fio, na esperança do regresso e de preferência com os
barcos carregados de pescado…

É numa destas viagens que passou o maior susto da sua vida…Corria o ano de 1942 em
plena 2ª Guerra Mundial quando o meu avô fez mais uma das suas viagens ao
bacalhau, desta vez no lugre “Delães” a viagem não poderia ter corrido pior, a 11 de
Setembro após 79 dias de pesca e já quando o lugre regressava a Portugal com os
porões carregados de bacalhau foi atacado pelo submarino Alemão (U96).

Diz-se que o “Delães” atravessava uma zona que estava a ser patrulhada por
submarinos Alemães e que era já suspeito pela utilização de uma frequência de rádio
proibida na altura.

O submarino disparou três tiros de canhão de aviso e foi ordenado a toda a tripulação
que abandonasse o navio, a ordem foi acatada e todos abandonaram o lugre, ficando a
navegar à deriva no alto mar dentro dos pequenos “dóris” (pequenos barcos de
madeira usados na pesca do bacalhau) que tinham sido amarrados uns aos outros,

Jorge Filipe Pires 20


após o abandono da tripulação o “Delães” foi de imediato afundado a tiros de canhão.
Foram socorridos 18h depois pelo lugre “Labrador” que passava nas mesmas águas,
todos se salvaram.

Em cima à esquerda fotografia do submarino U-96, à direita o lugre Delães atracado em Lisboa
Em baixo à esquerda ilustração do naufrágio do Delães, à direita o meu avô, Manuel EStevão

A mesma sorte não tinham tido os companheiros do “Maria da Gloria” que havia sido
afundado no mês de Junho do mesmo ano, e onde resultou a morte de 36 pessoas, a
maior parte delas de Ílhavo e Gafanha da Nazaré, uma vez que ambas as embarcações
tinham sido construídas nos estaleiros da Gafanha da Nazaré e pertenciam a uma
empresa de Aveiro.

Ficam comigo estas memórias que me contava, sinto que ele queria transmitir todas as
dificuldades que tinha passado, que eram bem mais do que as actuais, mas também a
braveza e a coragem dos pescadores, que continuavam a dedicar a sua vida ao mar,
mesmo depois de acontecimentos tão marcantes como este.

Jorge Filipe Pires 21


E que bom que é guardar estas numa altura em que as nossas vidas nos preenchem
com trabalho e os mais variados afazeres…

Todos os nossos dias são passados a trabalhar, saímos de casa e voltamos ao fim de
um dia de trabalho, almoçamos e jantamos fora muitas vezes e isto leva muitas
pessoas da nova geração a escolher para viver espaços exíguos, minimalistas e que
dêem o mínimo de trabalho possível.

Isto é algo que acontece cada vez mais nas grandes cidades, não só pelo facto de estar
em voga mas também é uma forma de controlar os espaços para construção,
colocando mais pessoas a viver no mesmo espaço de construção, dadas as tipologias
destas pequenas habitações.

Tudo isto pode parecer atraente ao nível económico mas pode também ser
condicionante no que toca a acabamentos e materiais de construção, mas tendo em
conta o dia-a-dia de cada um esta pode ser uma solução habitacional a ter em conta.

No meu caso em particular esta nova tendência de opção por estes espaços não me
atrai, não só pela não identificação com a tipologia da habitação mas também pela
região onde vivo. Quando chegou a altura de procurar uma habitação ainda que no
momento não passasse pela construção todos os procedimentos seriam idênticos, ou
seja seria necessário ter em conta toda a tipologia da habitação bem como os seus
acabamentos. Aliado a isso haveria que escolher aquela que oferecesse uma maior
variedade de facilidades no que toca a espaços de lazer, entradas de luz directa e de
preferência num local que oferecesse tranquilidade e bem-estar, é certo que isto nem
sempre é fácil de conjugar.

Mas o mercado de arrendamento em Portugal está agora numa maior fase de


crescimento, um pouco ao encontro do resto da Europa, onde a maioria das pessoas
vive em casas arrendadas, com isso tinha a certeza que iria encontrar um espaço
realmente atraente, seria apenas uma questão de tempo…

Um apartamento T2 novo, com óptimas áreas, e excelentes espaços de ar livre e lazer,


a localização foi também um facto determinante, o local que escolhi era um local

Jorge Filipe Pires 22


central, de modo a que pudesse sair a pé a maior parte das vezes inclusive para fazer
compras.

Numa habitação é importante um bom isolamento térmico, ainda que Portugal possua
um clima relativamente ameno, os vidros duplos são hoje em dia praticamente
indispensáveis, estes ajudam na diminuição de perdas de calor e também ao nível do
isolamento sonoro. Existe também um menor consumo de energia uma vez que com o
vidro normal existe uma maior sensação de frio o que nos leva a ligar mais o
aquecimento, no verão também nos proporcionam maior conforto do mesmo modo a
que não deixam que as ondas do calor aqueçam os espaços com a mesma facilidade de
vidros normais.

Todos sabemos que hoje em dia e com o crescer dos fenómenos climatéricos adversos
as habitações deveriam todas estar preparadas nesse sentido, de modo a fazer face a
abalos sísmicos, tremores de terra, etc. Aqui reside a base da construção, as fundações
das habitações, o cálculo de engenharia para medições de betão e ferro a utilizar, a
escolha de materiais tecnologicamente avançados que conseguem minimizar os
estragos em situação de catástrofe. Mas como a maioria das pessoas acaba por
comprar apartamentos essa é uma parte que fica muitas vezes para trás, ou é da
responsabilidade de construtores, que pela contenção de custos também muitas vezes
as colocam de lado. Talvez no futuro venha mesmo a ser obrigatória a utilização de
determinados materiais e técnicas que nos coloquem em maior segurança.

Mas o nosso conforto e bem-estar depende muito de como nos sentimos quando
estamos em casa, se estivermos parados logo a sensação de frio aumenta, por isso é
necessário procurar a melhor maneira de aquecer a nossa casa da melhor maneira em
função dos equipamentos de aquecimento que possuímos. No meu caso em dias de
muito frio a solução passa por manter nos compartimentos mais utilizados,
aquecedores a óleo, a melhor maneira de usar este equipamentos e uma vez que eles
têm um efeito de acção prolongada e não imediata, é deixa-los ligados 24h p/ dia
como estes possuem termóstatos eles próprios fazem a gestão de calor desligando e
ligando quando alcançam as temperaturas programadas.

Jorge Filipe Pires 23


Como possuo uma sala com uma varanda com sol directo praticamente todo o dia,
este é o compartimento mais ameno de toda a habitação, só por aqui podemos
concluir que o sol é uma excelente fonte de calor. Desde sempre o homem usou o sol
como fonte de energia, por exemplo, ao utiliza-lo para secar roupa e mesmo para se
aquecer, também para as plantas o sol “luz” é um bem essencial à sua sobrevivência.
Hoje em dia é uma das principais energias renováveis utilizadas por particulares, que
através de painéis solares e baterias acumuladoras podem gerar energia apara
consumo e até para comercializar.

Este consumo de energia deve cada vez mais ser um consumo controlado, e não
devemos fazer consumos desmedidos de energia, pois este é também uma das
principais causas do aquecimento global. Mas é o nosso padrão e estilo de vida que
nos leva muitas vezes a fazer consumos excessivos e desmedidos, todos os dias somos
invadidos com apelos, quer pela TV, rádios, imprensa, publicidade das grandes marcas
mundiais, que nos levam a repensar o nosso estilo de vida e será que esses mesmos
que nos lançam tais apelos se preocupam de facto com esse controlo do consumo
energético?

Da nossa parte como seres humanos, sinto que há um mínimo que podemos fazer
dentro da nossa habitação, existem actos simples como a utilização de lâmpadas de
baixo consumo, a escolha de equipamentos domésticos das classes “A” “A+” ou “A++”,
nos frigoríficos e máquinas de lavar devemos ter isto mesmo em conta uma vez que
estes são equipamentos que temos a uso diário e quase constantemente ligados à
corrente.

Mas o aumento do consumo está directamente ligado ao avanço da ciência e


tecnologia, hoje em dia seria praticamente impossível lavarmos as nossas roupas num
tanque, ou termos alimentos em casa sem um frigorífico onde os conservar, e a prova
que também existe uma preocupação por parte de fabricantes é a evolução no sentido
da eficiência energética.

No caso das máquinas de lavar louça, as mais recentes usam menos água, menos
detergente e são mais eficientes. Possuem também mais programas de lavagem, que
se adaptam as nossas necessidades, os detergentes também são mais eficientes e por

Jorge Filipe Pires 24


isso as temperaturas de lavagem não são tão altas. Quanto às máquinas de lavar
roupa, estas sofreram também várias alterações, mais programas de lavagem
consoante o tipo de tecidos. E também algo de muito importante a implementação de
sensores de carga que controlam o consumo de energia mediante o peso da roupa. Os
novos frigoríficos são muito mais eficientes devido ao melhor e isolamento e aos novos
compressores muito mais eficientes e há utilização de novos líquidos refrigerantes com
menor efeito de estufa que os utilizados em equipamentos antigos. Agora já existem
as classes de eficiência energética “A+” e “A++”que são muito mais eficientes que a
classe “A”. Estas foram razões mais que suficientes para que não tivesse dúvidas
quando comprei o meu frigorífico e a máquina de lavar roupa.

Resta-nos ir minimizando estes consumos que podem trazer um final trágico, e com
actos simples a ter em conta podemos consegui-lo. Por exemplo, não devemos utilizar
equipamentos em simultâneo quando apenas estamos concentrados num em
particular, se estamos a utilizar um PC não necessitamos de ter uma TV ligada ao
mesmo tempo, ou se estamos a ouvir música e a ler, do mesmo modo não
necessitamos de um PC ou de uma TV ligada. Ainda como solução de poupança de
energia devemos também ter em conta que devemos desligar os equipamentos em
completo da corrente e não deixá-los em standby, existem muitos equipamentos que
ao desliga-los continuam com uma luz de standby ligada, o que quer dizer que estão a
consumir energia, para isto podemos utilizar extensões que possuam um botão on/off
para assim os desligarmos por completo. Será ainda de referir que devemos sempre
desligar as lâmpadas que não estamos a utilizar.

No caso da iluminação existem dois tipos de lâmpadas:

- Lâmpadas convencionais de filamento incandescente, que têm um baixo custo de


aquisição, baixa eficiência e uma vida útil curta, fundem-se com facilidade. Estas
funcionam através da passagem da corrente eléctrica entre dois pontos da lâmpada,
que é depois transportada a um filamento que ao ficar em contacto com a corrente
eléctrica fica incandescente produzindo luz.

- Lâmpadas compactas fluorescentes (LCF) que produzem luz de uma forma muito
mais eficiente, convertendo até 80% da energia eléctrica em luz e cuja vida útil pode

Jorge Filipe Pires 25


ser superior a 15 anos (estas são as chamadas lâmpadas de baixo consumo). Têm um
funcionamento completamente diferente das incandescentes, a luz é gerada através
de uma descarga de gás.

Se repararmos um tempo de vida superior traduz-se em menos lâmpadas para


comprar e mudar, gerando-se assim menos resíduos prejudiciais para o ambiente. No
entanto até 2012 a Comissão Europeia vai retirar todas as lâmpadas incandescentes do
mercado, daí já começarem a surgir várias campanhas onde podemos trocar as nossas
comuns lâmpadas incandescentes por lâmpadas de baixo consumo.

No meu caso aquando da campanha da EDP para troca de lâmpadas incandescentes


por lâmpadas de baixo consumo fiz a troca de todas as que possuía estando neste
momento a minha habitação equipada apenas com lâmpadas deste tipo.

Lâmpadas economizadoras e lâmpadas incandescentes

Mas não podemos apenas optar solucionar a parte da iluminação, todos nós hoje em
dia possuímos uma série de equipamentos domésticos com os quais temos de ter os
devidos cuidados, tanto no que toca ao consumo mas também à sua utilização.

É obvio que nem todos temos a mesma aptidão para lidar com esses mesmos
equipamentos, mas a ideia que os homens e as mulheres os usam de forma diferente,
ou que alguns deles devem ser apenas utilizados por mulheres é uma ideia
completamente desanexada e antiquada.

Jorge Filipe Pires 26


Eu utilizo todos os meus equipamentos domésticos mas confesso que o existe um com
o qual não sinto muito à-vontade, “ferro de engomar”, mas se necessitar de o utilizar
faço-o da melhor maneira possível, no geral todos nós somos capazes de utilizar a
diversidade de equipamentos que possuímos, melhor ou pior mas de certo que com
esforço e dedicação todos conseguimos fazê-lo.

Os manuais de cada equipamento hoje em dia são muito completos e intuitivos, de


modo a que sejam facilmente interpretados pela generalidade das pessoas, estes
manuais são constituídos por um índice alfabético que facilmente nos leva a encontrar
o que necessitamos, desde a sua conexão à corrente eléctrica, ao seu funcionamento
geral.

A generalidade dos equipamentos domésticos funciona com uma tensão de 220V


“alternada”, mesmo que alguns deles façam internamente ou externamente façam
conversões de energia, é a 220V que os ligamos nas nossas tomadas. Estes
equipamentos são por norma monofásicos, ou seja ainda que as tomadas tenham dois
locais de ligação “dois furos”, apenas um possui tensão a 220V o outro é neutro. Daí
que se pegarmos apenas num fio condutor neutro (azul) não apanhamos choque, mas
se ao mesmo tempo tocarmos na fase (castanho ou preto) e no neutro, sentimos
choque eléctrico, isto deve-se à diferença de potencial entre um e outro, ou seja para
haver passagem de energia eléctrica tem de haver uma diferença de potencial, no caso
da corrente eléctrica “contínua” também temos diferenças de potencial mas neste
caso como forma de positivo (+) e negativo (-).

Um dos equipamentos mais utilizados pela generalidade da população diariamente é o


“telemóvel”, a maioria das pessoas são utilizadores frequentes do telemóvel, é quase
como uma parte das pessoas, muitas delas quando por algum motivo não o têm ficam
um quanto desorientadas.

Mas afinal que equipamento tão importante do dia-a-dia é este?

O primeiro telemóvel do mundo foi desenvolvido pela Motorola no ano de 1983, vinte
sete anos após essa data existem dezenas de marcas modelos e feitios para este
aparelho. As diferenças entre eles podem ser de, cor, tamanho, funcionalidades

Jorge Filipe Pires 27


técnicas, mas existe algo que todos têm em comum, bateria, carregador, e um cartão
“SIM” (subscriber identity module) em Português algo como módulo de identificação
do assinante, é o cartão que identifica o utilizador.

Este cartão não é nada mais do que um circuito impresso e com uma determinada
memória, que vem identificado com cada número de telemóvel pessoal, é também
nele que são armazenados alguns dados, como agenda de contactos tarefas, etc.,
sendo que hoje em dia a maioria dos equipamentos já vem equipada com memórias
internas ou “slots” para cartões de memória que assim evitam perda de dados em caso
de avaria do cartão “SIM”.

Martin Cooper antigo director da Siemens e o 1º


telemóvel do Mundo

Steeve Jobs director da Apple apresenta um


Iphone de última geração

Hoje, o telemóvel é um equipamento quase indispensável à maioria das pessoas e ele


permite as mais variadas aplicações, desde, agenda, captação de imagem tanto em
fotografia como vídeo, GPS, jogos, envio de SMS e MMS, realização e recepção de
chamadas, ligação á internet e em modelos mais recentes já é possível faze-lo com os
browsers que utilizamos no dia-a-dia nos PCS como o “IE” ou “FIREFOX” também
recentemente já é possível realizar operações bancárias através do telemóvel, os
telemóveis caminham agora para a nova geração de pocket pcs, para que possamos
fazer uso dele exactamente da mesma forma que um normal PC.

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Uma das funções mais utilizadas nos telemóveis, é o serviço de SMS, talvez isto se deva
aos baixos custos deste serviço, que em muitas das operadoras já é mesmo gratuito.
No entanto se repararmos este meio de comunicação escrita ao nível da electrónica
teve inicio na década de 1980 – 1990 com o aparecimento dos PAGERS em que o
emissor efectuava uma chamada telefónica e transmitia a um operador qual a
mensagem que queria enviar, esta mensagem era gravada pelo operador e posto isto
era escrita e enviada ao receptor, acontecia muitas vezes as mensagens chegarem
incompletas ou deturpadas.

As operadoras foram melhorando as suas redes através da instalação de antenas de


sinal, estas antenas funcionam através de ondas electromagnéticas captadas através
de satélites e transmitidas depois aos equipamentos, estas fontes de radiação são
fruto da evolução, do homem e dos sistemas mas elas ocorrem naturalmente no
Universo e, como tal, sempre estiveram presentes na Terra. Com esta evolução
começou a ser possível a troca de mensagens directas entre os utilizadores, e começou
então o fenómeno de popularidade das “SMS”, com este fenómeno apareceram novas
formas de escrita, com diminutivos e símbolos, que permitem expressar as emoções
dos utilizadores de uma forma escrita. É certo que esta escrita foi adaptada da
internet, uma vez que ela começou a surgir nas comunicações em chats ou na troca de
emails. Esta forma trouxe também uma preocupação acrescida no que toca às
gramáticas, é que muitas pessoas, principalmente os mais jovens, escrevem com erros
ortográficos, mas é uma forma propositada de escrita quer por diminutivos quer pela
tendência em escrever de uma forma diferente, vejamos o seguinte exemplo de SMS
(escrita muito comum entre adolescentes):

“olá estou mt triste , n poxo ir à tua festa hj à noite, espero q não fiquex xateada,
mas a mha mãe não me deixa, lol estou a brincar 

Este é um tipo de escrita que não utilizo nas minhas mensagens, no meu caso em
particular, o telemóvel é um equipamento que utilizo no dia-a-dia, mas apenas faço
utilização das aplicações básicas, chamadas e envio de mensagens. Não sou apologista
do uso de telemóvel como objecto de transmissão de status social, mas tenho a
consciência que hoje em dia é uma situação muito comum, não me cabe a crítica a

Jorge Filipe Pires 29


quem o faz, porque muitas vezes isso acontece também com o gosto das pessoas por
equipamentos electrónicos de última geração, algumas pessoas têm mais interesses
que outras, umas demonstram-no outras não.

Vejo o telemóvel apenas como um objecto de comunicação, nada mais, e acho que é
aqui que reside a sua maior importância, neste momento muitas das populações
portuguesas do interior onde nunca chegaram linhas telefónicas, estão agora
contactáveis com o mundo e podem assim estar mais próximas dos seus familiares e
terem facilidade em pedir auxilio em situações de necessidade. Não faço muita
utilização do telemóvel no que toca a outras funções porque utilizo o PC e as
potencialidades da internet para essas mesmas funções, como o caso de agenda, e
neste caso há uma interactividade de uma aplicação que utilizo com o telemóvel, a
agenda do “Google” esta permite a sincronização com um telemóvel. Após
agendarmos as nossas tarefas no nosso calendário “Google”, este envia um SMS
(serviço gratuito) para o telemóvel com a devida antecedência com que for
configurada.

Sou um utilizador assíduo (viciado) em aplicações para PC, sempre que sai um novo
programa na minha área de interesse “fotografia e design” faço questão de o testar e
conhecer as suas novas potencialidades. Para além disso faz parte do meu dia-a-dia
tanto para comunicação pessoal como profissional, o uso de email, como forma de
gestão de conta bancária utilizo o serviço de ebanking ao qual também já é possível
aceder por via do telemóvel.

No entanto a forma que me dá mais prazer de comunicar com os outros, é através da


imagem (fotografia), desde cedo que me fascinei pelo mundo da fotografia, com 15
anos tive a minha primeira máquina fotográfica reflex, a partir daí nunca esqueci a
fotografia até aos dias de hoje. Também a fotografia tem sofrido ao longo dos anos
uma série de evoluções tecnológicas que tem aberto as portas de um mundo que era
muito mais restrito, há 10 anos atrás era impensável sairmos para a rua com uma
máquina convencional de rolo 35mm e fazermos os 24 ou os 36 fotogramas desse rolo,
hoje em dia na generalidade todas as pessoas possuem uma máquina digital e
facilmente tiram 100 ou mais fotografias num ápice. Isto também trouxe alguma

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vulgarização da fotografia, apesar da qualidade da fotografia digital já estar num
patamar bastante elevado, nunca vai alcançar a magia de termos de espera pela
revelação de um rolo para vermos uma determinada imagem. No meu caso tento
sempre antes de tirar uma foto, pensar bem na imagem que pretendo, por vezes
chego a olhar pelo visor da máquina e acabo por não realizar a foto, porque aquilo que
vemos à primeira vista não ser na realidade aquilo que vemos ao olhar pelo viewfinder
da câmara.

Mas foi também através da fotografia digital e das TIC que se tornou mais fácil dar a
conhecer e evoluir no nosso progresso deste meu hobbie, através da internet partilho
imagens em sites da especialidade, de onde já foram escolhidas imagens publicadas
em revistas da especialidade. Sempre me considerei um autodidacta, outra evolução
neste meu hobbie foi a construção do meu próprio website, foi o primeiro site que
construí, pelo que não foi tarefa fácil e está em constante alteração, pois essa parte da
construção e da descoberta é de todo bastante interessante.

A frase que escrevi para front page do meu site transmite um pouco aquilo que referi
acima:

“...gosto particularmente de Fotografia de Natureza, Paisagens, aquilo que me encanta


na captação de uma imagem é conseguir imortalizar para sempre os momentos...Só
assim acho que uma imagem pode fazer sentido para quem a vê, de modo a que se
sinta num determinado local mesmo sem nunca ter lá estado...”

Mas afinal onde começa e acaba o nosso bem-estar? O nosso prazer, o gosto pelas
mais diversas actividades…Não terá aquilo que comemos, influência?

A alimentação foi desde sempre uma prioridade para a sobrevivência do ser humano, é
uma necessidade básica a que infelizmente nem todas as pessoas têm direito, e é
incompreensível que nos dias que correm continuem a morrer de fome milhões de
pessoas. No entanto existe também uma situação algo contraditória, pessoas que
morrem por uma alimentação descuidada ou desmedida.

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Então onde devemos situar-nos? Há de certeza um meio-termo destas duas
contradições, um equilíbrio que devemos seguir para que possamos estar mais
saudáveis e com uma melhor aptidão física.

Em 1977 foi criada a roda dos alimentos, com a função de orientar as escolhas e
combinações alimentares que devem fazer parte de um dia alimentar saudável, é uma
representação gráfica circular que pretende dar a conhecer os grupos de alimentos e a
sua porção recomendada a ser consumida, noutros países esta representação gráfica é
em forma de pirâmide, de forma a hierarquizar os alimentos sendo que os do topo são
os que estão em menor quantidade, logo os que devem ser ingeridos com menos
frequência. Recentemente a nossa roda dos alimentos que era constituída por cinco
grupos, (Leite e derivados / Carne, peixe e ovos / Óleos e gorduras / Cereais e
leguminosas / Hortaliças, legumes e frutos) foi reestruturada e passámos a ter sete
grupos de alimentos, (Cereais e derivados, tubérculos – 28% / Hortícolas – 23% / Fruta
– 20% / Lacticínios – 18% / Carne, pescado e ovos – 5% / Leguminosas – 4% /
Gorduras e óleos – 2% ) foi ainda nesta alteração que surgiu a percentagem de
alimentos que é recomendada diariamente, e a inclusão da água ao centro da roda.

Esquema Ilustrativo da roda dos alimentos

Obviamente que por vezes não é fácil seguir com rigor esta informação, os nutrientes
são substâncias indispensáveis ao funcionamento do organismo, e que obtemos
através da alimentação e a nossa saúde depende das quantidades com que eles nos
chegam, daí que devemos seguir o mais possível estas indicações alimentares.

Um dos elementos bastante importante na alimentação é a ingestão de fruta, nelas


podemos encontrar uma variedade de nutrientes, vitaminas e sais minerais. Uma das

Jorge Filipe Pires 32


vitaminas mais faladas quando pensamos na fruta é a vitamina C, esta vitamina está
muito presente na laranja e no ananás, ambas são frutas que em dias quentes
possuem um alto poder refrescante e que repõe as calorias, logo um alimento a ter em
conta nestes dias. Outra das tão faladas propriedades da vitamina C é o seu poder de
ajudar a curar gripes e constipações, mas não é apenas isto, ela é também
recomendada como efeito de anti-envelhecimento e na prevenção de doenças
cardiovasculares. Existem outros alimentos a ter em conta no que toca à vitamina C,
tais como os tomates, bróculos e todos os tipos de couves, no entanto devemos ter em
conta que esta se degrada com o calor e oxida facilmente, devemos conservá-los em
locais frescos e devemos ter em conta que estes alimentos não devem permanecer
mais do que 20m a serem cozinhados.

Um dos grandes problemas dos dias que correm é o crescimento dos estabelecimentos
de Fast Food e a crescente procura da nossa parte pelos mesmos, o nosso dia-a-dia
bastante preenchido faz com que muitas vezes acabemos por recorrer a estes
estabelecimentos para que sejamos servidos de uma forma mais rápida e também
mais económica. Nas cadeias de Fast Food conseguem-se fazer refeições ao preço de
2.5€, existe até uma campanha da tão conhecida “Mcdonalds”, que oferece um
Hambúrguer por apenas 1€, ora isto leva muitas pessoas a optar por estas refeições.
Outra realidade é a instalação de superfícies comerciais que possuem este tipo de
ofertas junto das escolas, é um factor que traz algumas preocupações, pois os jovens
acabam por preferir fazer uma refeição de Fast Food do que uma alimentação cuidada
nas cantinas das escolas no entanto a ingestão de Fast Food se não for uma prática
diária ou regular não tem qualquer inconveniente.

O problema é que por muito que os media nos tentem transmitir cuidados a ter com a
alimentação, quer através de programas como debates televisivos, quer por
publicidade, é difícil chegar aos mais jovens, a estes essa informação deve ser passada
como forma de educação pelos pais. Isto porque existe uma máquina chamada E.U.A
que controlam a maior parte das cadeias de Fast Food mundiais, e com uma
capacidade financeira enorme conseguem atropelar tudo e todas as campanhas que se
possam fazer contra este tipo de alimentação. Em 2004 foi lançado o filme “Super size

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me” um documentário levado ao extremo pelo actor, que durante trinta dias apenas
comeu no “Mcdonalds” obviamente que o resultado final foi desastroso, uma série de
doenças contraídas, ainda que extremista este documentário pretendia alertar para os
perigos da ingestão continuada de Fast Food.

Fast food vs Alimentação


Equilibrada
Em compensação de uma alimentação cuidada devemos praticar exercício físico, e não
é preciso muito, por vezes uma caminhada diária de 1h é o suficiente para obtermos
algum ritmo físico.

Desde sempre fiz várias caminhadas, pois um dos meus grandes interesses é a
natureza e montanha (trekking), consegui incutir esse espírito e esse gosto à minha
namorada e juntos temos por o hábito de realizar alguns percursos pedestres pelo
país, sendo que as maiores aventuras nesta área aconteceram em 2006 e 2007
respectivamente dos Picos de Europa, Sierra de Gredos e nos Pirinéus. No entanto
após o ano de 2008 reduzi significativamente esta actividade física, e agora dois anos
depois começo a sentir algumas consequências disso, uma vez que a minha actividade
profissional leva a que passe muitas horas sentado, e por vezes numa postura não
correcta, comecei a sentir algumas dores de costas, que estou agora a corrigir com a
prática de natação, é então ponto assente que a actividade física é algo de extrema

Jorge Filipe Pires 34


importância para o bem-estar pessoal, mas existe algo de muito importante e que me
parece um pouco esquecido.

Trekking, Sierra de Gredos

Quais os custos monetários para praticar exercício físico? Obviamente que para
caminharmos diariamente não necessitamos mais do que vontade e tempo, mas será
isto o suficiente? Há um claro aproveitamento dos ginásios nesta área, numa altura em
que tanto se fala na prática de exercício físico, não seria de tentar regulamentar de
algum modo as taxas cobradas por estes aos utentes? Por vezes são preços
desmedidos onde se torna difícil, ambos os membros de um casal com uma condição
de vida da classe média possam estar inscritos.

Obviamente que os rendimentos das famílias são variáveis, quer pela profissão que
exercem, o tempo a que a exercem e mesmo pelo local onde se encontram. Tenho um
orçamento mensal em conjunto com a minha namorada ao qual seria impossível
retirar 40€ a cada um de nós para pagar um ginásio, por sorte a empresa onde ela
trabalha possui contratos de publicidade com ginásios com preços especiais para os
funcionários.

Faço um orçamento mensal em que a base são as despesas fixas, como a renda, gastos
com alimentação, energia e água, TV e internet, crédito automóvel e combustível a

Jorge Filipe Pires 35


partir daqui é a gestão do restante. A uma renda mensal de 350€ há sempre que juntar
200€ para as despesas da casa, e 150€ para o crédito automóvel, e 150€ para o
combustível dos nossos dois automóveis. A partir daqui tento sempre fazer algumas
poupanças, daqui é gasto algum dinheiro em lazer, como o caso de algumas viagens de
fim-de-semana, alguns espectáculos musicais e claro juntar algum dinheiro para
quando chegam as férias, como as que se avizinham e a possível viagem à Grécia.

Um dos grandes problemas da economia estar no estado em que se encontra foi a


facilidade ao crédito dadas pelas instituições bancárias ou pelas empresas financeiras
que começaram a surgir um pouco quando começou a corrida aos créditos, nesta
altura havia uma enorme oferta de crédito e uma facilidade tremenda em consegui-la.
Aqui começou o endividamento das famílias, para qualquer coisa era pedido um
crédito sem que houvesse a mínima garantia que este conseguiria ser pago, existem
vários tipos de créditos, crédito à habitação, crédito automóvel, crédito pessoal,
crédito ao consumo, o que começou a acontecer é que existiam pessoas que tinham
todos estes créditos, e por vezes mais do que um, no caso do crédito pessoal é muito
recorrido hoje em dia para viagens de férias, algo com o qual não sou plenamente de
acordo. Isto tornou-se para muitas famílias impossível de aguentar e a solução passou
para muita gente pelo recurso ao Crédito Consolidado, ou seja a reunião de todos os
seus créditos numa única prestação mensal.

Para as minhas viagens tento sempre fazer um planeamento e uma poupança anual, e
há também um factor importante, a organização de todas as despesas anuais, que
podem ser apresentadas no IRS tais como despesas médicas, renda, e investimentos
na área de informática etc. Só assim nos é possível retomar algum dinheiro quando
chega a altura da apresentação da declaração anual de IRS. Hoje em dia é
relativamente fácil o preenchimento da declaração de IRS principalmente quando
somos trabalhadores por conta de outrem, no meu caso bastam-me os anexos “A” e
“H” do modelo 3 para o prendimento da declaração, os dados base já estão
previamente preenchidos pela DGI, depois basta confirmá-los, e ir adicionando as
despesas pessoais nos devidos campos.

Jorge Filipe Pires 36


Quanto a mim esta informatização do sistema de finanças, foi uma das maiores armas
de combate à invasão fiscal, pois todos os bens pessoais estão declarados, e toda a
informação prestada pelos contribuintes é depois usada em cruzamentos de dados
que permitem detectar infracções fiscais, e falsas declarações. No entanto e apesar
desta situação de evasão fiscal já estar mais controlada sinto que nunca será dada por
concluída, haverá sempre corrupção, fugas ao fisco, etc…, e o mais grave de tudo isto,
quase sempre praticadas pela alta sociedade, que acaba quase sempre impune de tais
actos, muitas vezes com a conivência de altas patentes.

Jorge Filipe Pires 37


A confluência do meu eu, com a minha vida profissional…

Toda a nossa vida é feita de controvérsias, diferentes formas de estar, diferentes


formas de pensar e de agir, estes são alguns dos factores possíveis de desencadear
conflitualidade entre as pessoas.

Desde sempre a conflitualidade faz parte da vida do ser humano, e por muito que
tentemos evitá-la existem sempre situações que nos levam a elas. No caso dos
conflitos pessoais (os mais comuns entre os humanos), é frequente depararmo-nos
com eles nas mais variadas situações diárias, ou porque discordamos de determinada
opinião, ou porque achamos que determinada pessoa não teve a atitude mais
correcta, ou porque simplesmente estamos chateados e acabamos por responder mal
a alguém…

A maior parte das vezes a solução para os conflitos passa pelo diálogo, no entanto nem
sempre o conseguimos ou somos demasiado orgulhosos para admitir que errámos e
preferimos o silêncio como forma de resolução, esta não será de todo a melhor
solução, podemos pensar que “já passou está tudo bem…” mas o nosso subconsciente
guarda sempre algo, que mais cedo ou mais tarde pode desencadear um novo conflito.

Não sou de todo uma pessoa com tendências conflituosas, no entanto é impossível
que qualquer um de nós nunca tenha passado por conflitos. Toda a minha vida fui uma
pessoa com ideias muito fixas, com pensamento próprio, com vontade de questionar o
porquê das coisas serem assim.

Quando comecei a trabalhar na VA, era ainda um jovem, no entanto essa condição já
fazia parte de mim, e havia ali coisas que para mim eram incompreensíveis. Trabalhei
em conjunto com uma sala de desenho, onde trabalhavam cerca de 15 desenhadores e
dois fotógrafos, eu e a pessoa que trabalhava comigo, não entendia como aquelas
pessoas eram proibidas de falar umas com as outras, ou tinham receio de o fazer por
medo de represálias da pessoa que chefiava esse sector. O tempo foi passando e eu
com a minha irreverência nunca fiz caso disso, sempre fui falando com os meus
colegas, comecei cedo a ser repreendido por tal, e a determinada altura começam os
meus conflitos com a pessoa em questão.

Jorge Filipe Pires 38


Apesar de não ter vivido o 25 de Abril dava-me a sensação que este não tinha passado
por ali, eram as mentalidades retrógradas que se impunham e que faziam com que
fosse assim. Tentei das mais variadas formas mudar isso, o diálogo a principal forma de
resolução não era bem sucedido, foram quatro anos neste departamento, perdi a
conta às vezes que tentei fazer com que fosse diferente. Até que ao fim de quatro anos
fui afastado, aqui não houve sequer hipótese de conseguir chegar a um acordo, mas
isto no fundo para a minha vida profissional foi o melhor que poderia ter acontecido,
hoje em dia tenho uma relação normal de colega de trabalho com a pessoa em
questão.

Somos por natureza inconformados e isso é bom, é isso que nos faz querer sempre
mais, e no mundo profissional isso acontece várias vezes. Por diversas vezes damos por
nós a pensar que podíamos ser mais bem remunerados, que deveríamos ter direito a
escolher as nossas férias, de receber as nossas horas extraordinárias…No que toca ao
salário já algumas vezes tive necessidade de o renegociar, e sempre o consegui com
base no diálogo demonstrando e dando provas de que o meu trabalho é útil, de que
sou necessário na empresa, e neste momento estou de novo nesse impasse de
negociação de salário, o problema neste momento a condição económica de crise que
atravessamos está a dificultar esse processo, apesar das várias reuniões com o
responsável do departamento ainda não foi possível chegar a um acordo, não por
culpa deste, mas face à conjuntura económica a empresa alega não ser possível neste
momento, no entanto e recentemente foi possível integrar o meu prémio de trabalho
nocturno no meu salário o que é uma mais-valia para o caso de deixar de trabalhar à
noite. Mas o grande problema é que para dar um passo importante na vida necessito
de um pouco mais de estabilidade financeira daí que a próxima etapa passa mesmo
por uma reunião com o director da empresa para tentar pelos meus meios explicar
essa necessidade de ajuste salarial.

Obviamente que não podemos apenas pensar na parte financeira, mas sim na grande
vantagem que é estar empregado, neste momento que atravessamos. Nos dias que
correm é cada vez mais difícil conseguir uma estabilidade empresarial um pouco por
todo o mundo. Cada vez mais as empresas recorrem a uma política de emprego pouco
digna para os trabalhadores.

Jorge Filipe Pires 39


A condição dos mercados retraídos levou a um aumento do desemprego, o que
permite às empresas a rotação dos seus trabalhadores com frequência, evitando assim
contractos efectivos, os trabalhadores trabalham em contratos pequenos
normalmente de três a seis meses, o que dificulta em muito a situação familiar pela
instabilidade profissional.

No entanto na altura em que entrei para o mercado de trabalho, esta era uma situação
que ainda não se verificava, ao fim de três anos passei a contrato efectivo na empresa
onde trabalho há doze, durante este tempo felizmente sempre foi possível usufruir de
grande parte dos meus direitos enquanto trabalhador, coisa que em muitas empresas
não é possível ou tende a desvanecer. São vários os direitos dos trabalhadores, por
exemplo um desses direitos é o direito à formação, desde cedo tive formação na
empresa, mas não penso apenas nos direitos do trabalhador mas também tento
sempre ser exemplar, cumprir também os meus deveres como trabalhador, é que
alguns deles estão directamente ligados, como por exemplo o caso da assiduidade, isto
se quisermos ter direito aos três dias de férias extra a somar aos vinte e dois que a lei
determina como legais. É importante frisar que durante estes doze anos a VAA apesar
de todas as dificuldades económicas que tem vindo a passar, sempre conseguiu com
que os seus funcionários recebessem atempadamente os seus salários bem como as
regalias salariais extra, caso do subsídio de férias e do subsídio de natal.

Durante este tempo houve enormes modificações internas, sendo que a maior foi a
inclusão dentro do grupo Vista Alegre Atlantis. Quando a empresa se designava de
Interdecal, e apesar de fazer a maior parte do trabalho para a VA, não havia um
contrato de exclusividade com esta, o que permitia também a realização de trabalhos
para outras empresas. Após a inclusão ficámos exclusivamente vinculados à VA, e
apesar de algumas quebras na nossa produção isto iria permitir-nos ser mais precisos
no que toca aos cumprimentos de prazos.

Este processo, algo moroso e complexo, teve uma nítida melhoria com a integração da
empresa no grupo, pois, tal como referi atrás, permitia uma maior concentração
apenas no trabalho da VA. No entanto e a meu ver a grande melhoria veio através da
criação de novas instalações. Passámos de um gabinete, onde por vezes chovia no

Jorge Filipe Pires 40


interior, para umas instalações novas. Estas situam-se no interior da própria VA o que
também permite, uma maior proximidade com a produção facilitando pequenas e
rápidas correcções.

É um processo que nunca se pode dar por concluído, quer pela evolução das
tecnologias quer pelas necessidades que nos vão surgindo, mas se para nós já está em
avançada evolução para outros está apenas no início.

Há cerca de dois anos atrás recebemos durante um mês, dois funcionários de uma
empresa Brasileira que fabricava os decalques para a extinta Vista Alegre Brasil, o
objectivo era a troca de informação de modo a que estes tivessem contacto com o
nosso sistema e conseguissem ganhar algum conhecimento, uma vez que os sistemas
que eles utilizavam já se encontram ultrapassados. Esta interacção de diferentes
formas e maneiras de trabalhar, é importante para entendermos onde nos situamos
ao nível tecnológico, que inovações existem e que outros sistemas são utilizados.

Neste caso em particular, foi muito mais a informação que fornecemos do que a que
recebemos, mas a parte pessoal está também em causa, e obviamente aqui se criam
sempre alguns laços de amizade, confesso que quando conheço alguém de outro País
ou de uma diferente cultura, tenho imensa vontade de lhe dar a conhecer os nossos
costumes as nossas tradições, os nossos locais turísticos…

Os anos 90 foram fulcrais no crescimento da indústria gráfica, a empresa onde


trabalho actualmente faz agora parte do grupo VAA (Vista Alegre Atlantis). No entanto,
esta empresa quando era um empresa independente, ganhou nos anos de 1998 e
1999 o prémio de melhor PME (pequenas e médias empresas). Esta meta foi alcançada
com uma vasta inovação tecnológica na área de desenho gráfico e fotografia de artes
gráficas.

Há apenas dez anos atrás 70% dos decalques consumidos na Vista Alegre eram fruto
de um rigoroso e artístico processo de desenho manual e separação de cores. No
entanto, com o crescimento dos mercados e a necessidade de respostas cada vez mais
rápidas, este era um processo que começava a não conseguir dar a melhor resposta.

A solução passou pelo investimento em softwares dedicados ao desenho decorativo:

Jorge Filipe Pires 41


“mosaic” e “arabesque”, estes são os únicos softwares informáticos no mundo para a
área de desenho gráfico dedicado ao mercado cerâmico, e separação de cores.

O investimento foi só e apenas a parte mais simples, logo após veio a formação
específica, no meu caso tive formação na empresa durante quinze dias com os técnicos
que venderam o Software, infelizmente não tive a sorte dos meus colegas que fizeram
a formação na Belgica na sede da empresa Esko Graphics. Mas o mais importante era
mesmo a aptidão, e essa estava conseguida por isso a partir de aqui era colocar mãos à
obra…

Estas mudanças não são fáceis, havia um emaranhado de decorações que eram
desenhadas em sistema manual e que com a entrada dos sistemas informáticos
tinham de ser contratipadas (é muito mais complicado contratipar uma decoração do
que desenhá-la de início em computador). Foram necessárias muitas horas de trabalho
(muitas vezes prestação de trabalho suplementar, situação que consta como legal em
situações de adaptabilidade no código dos direitos do trabalho, desde que por semana
haja pelo menos um dia de descanso), isto aconteceu até termos tudo o que era
manual pronto a desenhar em computador, mas só assim se conseguiu ultrapassar a
barreira do tempo, os limites e prazos de entrega cada vez mais curtos.

Hoje em dia é precisamente o inverso: 85% do fluxo de trabalho passa pelo nosso
departamento, a antiga sala de desenho ficou reduzida a duas pessoas, em apenas oito
anos passou de dez desenhadores para dois, e o sector de fotografia de artes gráficas
desapareceu. O pouco desenho manual que se faz, é depois passado para computador
a partir de digitalizações em alta resolução e é depois finalizado já em sistema digital.

Passado bastante longínquo na Vista Alegre A actualidade

Jorge Filipe Pires 42


Mas tudo isto tem um preço, ma vez que cada licença de software para cada
computador tem um custo de 30000€ a empresa desde cedo decidiu que iriam haver
apenas dois computadores com os softwares instalados, e tentar rentabilizar ao
máximo as mesmas. Assim ficou decidido que iríamos trabalhar os quatro em dois
turnos, manhã e tarde. Deste modo com trabalho de equipa conseguimos dar melhor
resposta às necessidades de produção que nos surgem. Normalmente o trabalho é
passado de uns para outros consoante as mudanças de turno, nem sempre é fácil
porque todos temos diferentes maneiras de trabalhar. Para que isto funcione é
necessário haver comunicação interna, daí que nós fazemos uma hora de sobreposição
do turno da manhã para o da tarde, de modo a que tudo fique bem esclarecido para
quem vai continuar com um determinado trabalho.

Tentando explicar o meu trabalho de uma forma simples:

A base de todo o nosso processo é em 1º lugar a orçamentação de todos os trabalhos


pelo departamento comercial. O custo de uma determinada peça decorada é calculado
pelo preço da peça em branco, ao qual é somado o valor da decoração (decalque),
através do nº de cores e respectiva área de desenho, (para que se compreenda
melhor, imaginemos um desenho com uma área de 10cm x 10cm, quando este estiver
em produção, um layout de impressão leva muitos mais motivos do que se o desenho
tiver 20cm x 20cm, logo menos folhas a imprimir, menor custo, o mesmo se passa com
o nº de cores, quantas mais cores mais caro fica o decalque uma vez que cada cor é
uma impressão)

Depois de aprovado o orçamento, passamos então às provas de cor, é feito apenas um


ensaio de uma peça que permite ao cliente a sua aprovação e referenciar possíveis
correcções. Após este último passo são colocadas as encomendas de decalques através
do sistema de gestão de stocks da empresa, e é realizada a fotomontagem dos layouts
para produção, tendo em conta o melhor aproveitamento possível em função das
quantidades pedidas e com vista a um menor número possível de folhas a imprimir.

Jorge Filipe Pires 43


O processo de desenho decorativo tem início com a recepção de maquetas de
designers, estas podem chegar-nos por via digital, em papel (pintura), ou mesmo
cerâmica (pintura), posto isto segue-se a parte do estudo de adaptação das mesmas a
todas as peças pretendidas. Quando as maquetas chegam por via digital, este processo
simplifica-se poupando-nos a necessidade de fazer “scanners” aos originais, mas isto
nem sempre é bom uma vez que com o nosso “scanner” conseguimos digitalização em
alta resolução e com enorme detalhe coisa que não acontece na maior parte dos
“scanners” que recebemos por “mail”. Com o nosso “scanner” conseguimos
digitalizações superiores a 5000dpi, ainda que a nossa plotter de impressão apenas
imprima a 2540dpi, é necessário que todos os pormenores estejam bem definidos para
uma perfeita separação de cores, só assim as nossas reproduções conseguem ser o
mais fiéis possível aos originais, outra das grandes vantagens deste “scanner” é a
capacidade de digitalizar peças a 3d, no caso de um prato com uma imagem no fundo
ele consegue uma focagem com profundidade de 10cm.

Toda esta parte do meu trabalho foi conseguida com muita aplicação profissional, não
só pratica mas também muito teórica, por vezes é necessário saber como funcionam
os softwares e para isso é importantíssima a leitura dos manuais dos mesmos, bem
como técnicas em manuais da especialidade e até na internet para obter determinados
resultados finais. Ainda assim existem pequenos “truques” que são normais em cada
trabalho de cada pessoa, quase que como os pequenos segredos dos grandes chefs de
cozinha que nunca são revelados.

Todo o processo está estudado de modo a que a maior parte das vezes o resultado
final seja positivo, mas tal nem sempre acontece pelas mais variadas condicionantes,
tais como variações de temperatura, erros no tamanho das peças finais aumento ou
diminuição, o que faz com que os moldes que estudámos para uma determinada peça
acabem por não bater certo, ainda que anteriormente tenham sido testados. É aqui
que começam alguns dos nossos problemas técnicos, por exemplo imaginemos um
prato com um diâmetro de 200mm se o decalque for uma banda a cheio colorida e
com 40mm de largura e ainda com uma tinta com pouca elasticidade, o decalque deve
ter 190mm para que seja exequível, de modo a que não tenham de cortar a banda de
decalque para conseguir esticar e estampar. Temos sempre de calcular os diâmetros

Jorge Filipe Pires 44


das peças (pratos) para conseguir o melhor “fitting” no caso de peças em que o molde
é curvo mas não são circunferências trabalhamos algumas vezes com o perímetro das
mesmas, o perímetro é também o que nos é pedido quando tratamos de alterações de
decalques cortados, imaginemos uma decalque circular de 200mm em que depois de
cortado e antes de esticar o decalque faltam 10mm para a sua aplicação, aí é-nos
pedido que seja realizada uma correcção com aumento de 10mm no perímetro. Logo o
cálculo realizado é em primeiro lugar saber o perímetro dos 200mm:

A formula é : 2 x PI x R ou seja 2 x 3.14 x 100 = 628 este é o nosso perímetro, acrescentando os


10mm : 628+10=638, agora segue-se o inverso voltar a ter o diâmetro D = C / Pi sendo que D –
diâmetro, C-perimentro, Pi-3.14, então temos 638/3.14=203. Veja-se que o diâmetro sofreu
apenas um aumento de 3mm para o pedido de 10mm no perímetro. Falar de questões
tecninas com densidade de ponto…

Mas o trabalho segue um pouco mais além dos computadores, apesar da minha
actividade não ser considerada uma actividade de risco existem sempre alguns, um
deles prende-se com o manuseamento de químicos de uma máquina de revelação de
fotolitos, esta é uma reveladora com um funcionamento similar às máquinas de
revelar raio-X dos hospitais. Nestas máquinas o processo é o normal de revelação, a
película fotográfica sai da câmara escura e entra em revelação, passando por três
tanques, revelador, fixador e água, o último processo é a secagem.

Obviamente que estes químicos se gastam e quando temos de encher os tanques, há


que ter alguns cuidados, evitar o contacto directo dos líquidos com a pele (uso de
luvas), evitar obviamente o contacto com os olhos (uso de óculos de protecção) acho
que no local onde se encontra a reveladora seria de extrema importância que
houvesse sinalética referente a estes químicos e à sua devida utilização, no entanto e
vai-se lá saber porquê ela não existe… Como será de prever estes resíduos líquidos
libertados pela revelação não são canalizados para a rede de esgotos, existe um
tanque de 1000lt que vai depositando os líquidos libertados, quando este enche é
activado um sinal sonoro, e o liquido é transferido para recipientes próprios que são
transportados posteriormente por uma empresa para que sejam devidamente
tratados. No passado havia separação do revelador e do fixador em dois tanques, é
que a película continha bastante prata que era libertada em contacto com o revelador,

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assim toda a prata que saía juntamente com o liquido era depois filtrada por uma
máquina especial e comercializada pela empresa, o elevado custo deste filmes fez com
que as empresas arranjassem outras soluções e este deixou de ser fabricado. Aliás
neste momento e também com o avanço da tecnologia digital este sistema está
também a desaparecer, já existe uma máquina capaz de passar directamente o
trabalho do computador para a secção de impressão, conseguindo resultados muito
mais próximos do original e muito mais constantes de produção para produção, o
problema é que um investimento de 200.000€ está praticamente fora de questão.

Voltando ao gabinete, nesta área há algo também de muito importante, os monitores,


trabalhamos com monitores HD, Lacie e NEC, foram as melhores escolhas dentro da
relação preço/qualidade. Estes monitores necessitam de estar devidamente calibrados
no que toca à cor, brilho e contraste, para esta calibração é necessária a correcta
identificação das fontes de luz da sala e um determinado tempo em que o monitor
esteja ligado, só depois se processa a calibração, logo a imagem que vemos está o mais
próxima possível do trabalho final depois de impresso.

Os nossos computadores, foram também escolhidos de acordo com as especificidades


dos softwares, e eles são tão específicos e tão dedicados que a empresa fabricante,
optou pela encriptação dos mesmos através de um “usb dongle”, este “dongle” tal
como o nome indica é uma chave, que possui um circuito electrónico, com uma
determinada licença, evitando assim a utilização ilegal do programa. Esta licença que é
introduzida no programa é criada num código encriptado de “HASP” e única para cada
PC.

Como é óbvio e com um investimento desta dimensão toda a sala está protegida com
sistema contra incêndios, tanto auto detecção de fogo como sistemas de extintores
devidamente sinalizados, como obrigam as regras HST (higiene e segurança no
trabalho). Dentro do nosso sector todos recebemos formação de combate a incêndios,
isto foi muito importante, porque no caso de um eventual acidente estaremos mais
preparados para o enfrentar, seguindo todas as regras e técnicas que nos foram
ensinadas, em caso de incêndio existe toda uma serie de procedimentos que deve ser
seguida, desde a saída ordeiramente e pelas respectivas portas de emergência à

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deslocação para os pontos de concentração destinados para o efeito no plano de
segurança da VAA.

Falando deste modo para quem lê dá a sensação que a VA se confina a um gabinete


onde trabalham apenas quatro pessoas, mas só quem está cá dentro tem a noção da
envergadura da empresa e compreende um pouco de toda a logística necessária para
que tudo funcione sem falhas ou com o mínimo de falas possíveis. Aqui entra a
informática noutra área, como softwares de gestão de stocks, softwares e sistemas de
controlo de qualidade, softwares de controlo de recursos humanos, etc. Todos
recebemos a cada final do mês o nosso recibo de vencimento, nele constam os nossos
ordenados, prémios, faltas, e obviamente os respectivos descontos (de referir que este
é também um dos direitos do trabalhador). Todo este processo é informatizado desde
que um funcionário pica o cartão há hora de entrada até há hora de saída, no final de
cada mês o sistema lança automaticamente os respectivos recibos. Seria quase
impensável hoje em dia fazer esta gestão sem apoio informático.

A programação é a base de toda a informática, ela está presente em todas as


aplicações informáticas, desde sistemas operativos a programas dedicados, e mesmo
aos websites, com certeza que todos os dias visitamos websites, mas afinal o que está
por trás da página bonita que visitamos?

Existe um emaranhado de programação por trás de cada página Web que abrimos,
desde código htlm, a código css, java script, etc… Exemplo disso é abrir uma página
web por exemplo (www.sapo.pt) agora clicar com o botão do lado direito do rato e de
seguida escolher “ver código de fonte” toda esta quantidade de texto não é mais que
o “html” da página, e isto é apenas um pequeno exemplo. Mas é este código base
escrito por programadores que depois dá forma ao webdesign, às cores de um site, ao
tipo de letras, aos botões, janelas, à disposição das imagens, às distâncias entre os
elementos. É esta linguagem escrita e toda a base de texto de um site que permite aos
motores de busca encontrar determinadas palavras que constam de um determinado
site, mesmo que elas não tenham sido adicionadas no mesmo como “keywords”

Também esta era digital permitiu um crescimento dos “media” num curto espaço de
tempo. A internet é com certeza hoje em dia o veículo de comunicação mais rápido do

Jorge Filipe Pires 47


mundo, consegue-se difundir informação, a uma velocidade incrível. A título de
exemplo, refiro recentemente a queda de um artista num directo de TV, e que após
2m era lançada no YouTube, obviamente que no dia seguinte abriu capas de jornais,
mas já tinha dado a volta ao mundo 10h antes, veja-se a diferença.

Nos dias que correm todos os jornais Nacionais impressos optaram também pela
informação via Web, é uma maneira de estarem actualizados ao minuto, e também
uma forma de levar as pessoas muitas vezes a comprar o jornal quando lêem um
pequeno excerto de uma notícia, que apenas está completa na versão em papel.

No entanto sinto que esta informação ao minuto nem sempre é feita com o melhor
rigor, todos querem difundir em 1ª mão as notícias o que leva sistematicamente a
erros noticiosos que por vezes são graves, existem também com frequência em
noticias que leio na internet erros ortográficos, não sei se devido a uma nova geração
de jornalistas mais despreocupados se devido a falta de correcções ortográficas
pessoais, como acontece nas versões impressas, em que antes da impressão o jornal é
revisto mais do que uma vez por diferentes pessoas.

Também a televisão sofreu enormes alterações durante este processo de evolução,


veja-se a diferença que havia há alguns anos atrás, por exemplo na emissão de uma
transferência em “directo” que envolvia um enorme staff técnico, montagens de
antenas em locais estratégicos etc… Hoje em dia três pessoas são suficientes para o
fazer, basta um operador de câmara, um jornalista e um editor de imagem e temos as
noticias a chegar à nossa “caixa mágica”. Não sei se este termo se aplicará às
televisões durante muito mais tempo uma vez que estas já praticamente não possuem
a caixa que lhe dava tal designação, e a magia, essa também se foi esvanecendo no
tempo…O próximo passo da evolução da televisão em Portugal será a chegada da TDT
(televisão digital terrestre) a TV analógica será desligada a partir de Janeiro de 2012.

A evolução constante da tecnologia é um processo de transformação a cada instante,


ainda que a nossa percepção disso apenas acontece sempre que chega um novo
produto aos mercados, há empresas a trabalhar 24h por dia para que tal aconteça.
Mas se uns trabalham para nos trazer novas tecnologias outros há que trabalham para
dar um destino às coisas que deitamos para o lixo, isto quer se tratem de

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equipamentos electrónicos, quer o próprio lixo que produzimos. A palavra-chave é
reciclar, e ainda que nem todos os produtos possam ser reciclados a verdade é que
com grande parte deles tal já é possível, e mais que isso é possível dar-lhes um destino
ou uma aplicação totalmente diferente da que tinham anteriormente.

Também a nível profissional há que ter uma consciência da importância da reciclagem,


a começar no papel, passando pelos tinteiros, pela verificação se é mesmo necessário
imprimir este ou aquele email, reutilização de papel, até ao ponto de para onde vão os
materiais informáticos quando acabam o seu tempo de vida. Tal como acontece com
os líquidos que produzimos e que são devidamente tratados por empresas
especializadas, o mesmo acontece com o chamado lixo informático, é muito
importante que cada um de nós tenha essa consciência, e no caso de quem trabalha
com documentos em papel ainda mais, todos nós temos a consciência do problema de
abate da floresta para o fabrico de papel bem como da quantidade de poluição
libertada pelas fábricas de celulose. Um dos trabalhos mais significativos que vi feito
com materiais aos quais o ultimo destino conhecido tinha sido as lixeiras, foi o trabalho
de “João Ricardo de Barros Oliveira”, João define-se como músico-escultor-sonoro, e
como o próprio diz as lixeiras são a sua biblioteca, a partir de objectos considerados
imprestáveis constrói esculturas sonoras com as quais actua em palco e percorre várias
cidades e escolas em performances e workshops. E assim com actividades e
campanhas deste tipo em relação à política da reciclagem, esta começa a dar frutos.

No entanto esta produção desmedida de lixo muito tem a ver com o crescimento da
sociedade, “do usar e deitar fora…” se recuarmos no tempo vinte anos, não tínhamos
metade do lixo que temos nos dias que correm, e muitos dos materiais que hoje
começam a ser apelados de reutilizáveis já o eram na altura, exemplo disso são o apelo
à reutilização de sacos de plástico, antigamente existiam muito menos, as pessoas
quando iam ao mercado todas levavam o seu próprio saco, hoje começa de novo a ser
uma prática comum.

Mas há muitos locais do nosso Portugal onde estas campanhas não chegam, o Portugal
profundo está cada vez mais desertificado, só que a natureza e as vivencias iguais às
do passado fazem com que nesses mesmos locais haja menos lixo onde tudo esteja

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num estado mais puro. Tenho uma paixão por estes locais, visito regularmente várias
aldeias perdidas entre montes e vales, em especial na Serra da Arada, concelho se São
Pedro do Sul, adoro chegar a estes locais onde a estrada acaba e começa uma nova
realidade, um regresso ao passado, onde impera o cheiro da natureza, das árvores, dos
animais…

Tenho um carinho especial pela aldeia de Covas do Monte e pelas suas gentes, aqui a
maior parte das pessoas vive da agricultura (biológica) esta é uma agricultura muito
em voga, e com a qual obtemos produtos o mais naturais possíveis, sem adição de
pesticidas, fertilizantes ou químicos, também a moda das cozinha gourmet, faz muita
referencia a estes produtos uma vez que a sua qualidade é de facto superior.

A outra grande actividade da aldeia é o comércio de animais, em especial cabras, a


aldeia tem um rebanho total de cerca de 2500 cabras que a cada dia é levado ao pasto
por um diferente habitante da aldeia. Entre estas pessoas impera a simplicidade, aqui
nunca fui mal recebido, como dizia Zeca Afonso “seja bem vindo quem vier por bem”,
e lá ficamos entre algumas conversas no centro da aldeia, em que a mistura de
sotaques é bem presente, entre conversas e intimidades vou registando alguns
retratos destas gentes que faço questão de levar e entregar aos próprios quando lá
volto.

Mas até quando tudo isto vai ser possível? É que os habitantes desta aldeia já são
todos de uma faixa etária bastante elevada, os mais novos à muito se foram para as
cidades na busca de uma vida melhor, como me referia em tempos uma habitante,
“deus quando fez o mundo esqueceu-se da gente” e mais á frente na conversa “isto é
lindo para vós, que cá vindes de vez em quando” e a verdade é mesmo esta…Há que
urgentemente fazer algo por estas pessoas, valorizar o seu património, valorizar os
recantos perdidos deste Portugal, e não vivermos de obras megalómanas de fachada,
de investimentos nas grandes cidades, é aqui que entram as autarquias, só elas
poderão ter especial atenção por estas pessoas, é que se Deus os esqueceu não
deveremos deixar que outros se esqueçam, e não devemos nós também esquecer-nos.

Um pouco ao encontro deste meu sentimento de preocupação em relação às aldeias,


transcrevo um poema de Alberto Caeiro em o Guardador de Rebanhos:

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Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

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