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Processo: 0505073-3

Apelação Cível nº 505073-3, de Cascavel - 3ª Vara Cível


Apelante 1 : Município de Cascavel
Apelante 2 : Nelson Somariva
Apelados : Os mesmos
Relator : Desembargador Rosene Arão de Cristo Pereira

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.


APLICAÇÃO DE PENA. PORTARIA INSTAURADORA. DEVIDO PROCESSO
LEGAL. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA OBSERVADOS.

1. O princípio do contraditório e da ampla defesa estão intimamente vinculados


ao princípio do devido processo legal, de tal sorte que somente fica assegurada
a ampla defesa quando observadas todas as etapas do procedimento previsto
legalmente.

2. E, no caso em tela, observou-se claramente todas as exigências


procedimentais.

3. A portaria desencadeadora de procedimento administrativo em face de


servidor público dispensa a descrição minudente dos fatos, bastando que
contenha um ato com contorno de ilegalidade.

4. Se a lei não exigiu que a comissão fosse composta apenas por servidores
estáveis, não há como se anular o procedimento sob o pressuposto de que
foram composta por servidores com cargos de confiança.

5. Tendo em vista que a parte comprometeu-se pelo comparecimento das


testemunhas independentemente de intimação, a sua ausência não implica em
cerceamento de defesa imposta pela comissão processante.

6. A verba honorária deve ser fixada com prudência e moderação, com o duplo
objetivo de premiar o procurador do vencedor, sem castigar a parte vencida.

Apelações Cíveis desprovidas.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 505073-3, de


Cascavel - 3ª Vara Cível - em que figuram como Apelante 1 Município de
Cascavel, Apelante 2 Nelson Somariva e Apelados Os mesmos.

1. Da sentença1 proferida na ação de anulação de processo administrativo,


cumulada com reintegração de posse em cargo público (autos nº 0203/2000)
que Nelson Somariva promoveu em face do Município de Cascavel, a qual
repeliu o pedido inicial, ambas as partes recorreram.
Para julgar como o fez, o Juízo singular concluiu que o procedimento
administrativo que culminou com a demissão do agente, desenvolveu-se
regularmente, observando-se o devido processo legal e os princípios do
contraditório e da ampla defesa.

O autor promoveu embargos de declaração2, os quais foram desprovidos.3

A parte sucumbente sustentou que a composição da comissão processante por


servidores ocupantes de cargos de confiança ofende os princípios da
igualdade, da boa-fé e da moralidade.
Assinalou que a Portaria inaugural não obedeceu aos preceitos legais,
porquanto foi omissa quanto à explicação dos dispositivos legais que
supostamente teriam sido infringidos pelo autor, cerceando a plenitude de sua
defesa.
Asseverou, também, que o ato de instauração do processo administrativo
disciplinar não foi motivado.
Destacou, ainda, o cerceamento de defesa, em face de que as testemunhas
que arrolou não foram intimadas.4

O ente público também apelou objetivando a majoração da verba honorária.5

O Município de Cascavel respondeu6 e o autor deixou de fazê-lo.7

A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo desprovimento de ambos os


apelos.8

2. Para que o julgamento tenha um desenvolvimento lógico analisa-se,


primeiramente, o apelo autor, porquanto voltou-se contra o núcleos central da
controvérsia, enquanto que o apelo do réu pretendeu a majoração da verba
honorária.

2. 1. A questão central do recurso está em se aquilatar se pena que lhe foi


aplicada decorreu de procedimento com a garantia do contraditório e da ampla
defesa (devido processo legal).
A nossa Carta Magna de 1988, em seu artigo 5º, LV, estabeleceu que:

"LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;"

A CF/88 efetivamente elevou o devido processo legal (due process of law) e


seus corolários (contraditório e ampla defesa) a garantias constitucionais.
Assegurando a todos os litigantes em processo judicial ou administrativo o
devido processo legal, ou seja, o processo deve respeitar tais garantias
constitucionais, sob pena de ser declarado ilegal.
Alexandre de Moraes ponderou o seguinte sobre o devido processo legal:

"O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuado tanto
no âmbito material de proteção ao direito de liberdade e propriedade quanto no
âmbito formal, as assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-
persecutor e plenitude de defesa (direito à defesa técnica, à publicidade do
processo, à citação, à produção ampla de provas, de ser processado e julgado
pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal)."9

Sobre este tema, continuou o doutrinador:

"O devido processo legal tem como corolários a ampla defesa e o contraditório,
que deverão ser assegurados aos litigantes, em processo judicial criminal e
civil ou em processo administrativo, inclusive nos militares, e aos acusados em
geral, conforme o texto constitucional expresso."10

Conclui-se da literalidade do texto constitucional, que a todos os que litigarem


em processo judicial ou administrativo serão assegurados o contraditório e a
ampla defesa (devido processo legal).
Após a necessária introdução ao tema da controvérsia, volta-se a análise do
caso concreto.

A primeira insurgência do apelante foi pelo fato da comissão processante ter


sido composta por servidores ocupantes de cargos em comissão e não
servidores estáveis.
Sem razão.
O § 1º do artigo 226 da Lei Municipal nº 2.291/1991 estabeleceu que a
comissão seria composta por três membros, servidores públicos municipais,
escolhidos, sempre que possível, dentro da categoria hierárquica igual ou
superior do indiciado.11
Em nenhum momento o dispositivo legal aludiu a servidor efetivo e estável,
proclamando-se aqui o princípio de que quando o legislador quis especificou,
quando não quis guardou silêncio, mesmo porque as normas restritivas de
direito devem ser expressas, não se admitindo interpretação analógica.

Já a alegação de que a portaria não teria especificado os dispositivos legais


infringidos e nem apontado fato determinado, também não merece prestígio.
É que dita portaria invocou a Lei Municipal nº 2.215/91 e aludiu à Sindicância
Administrativa com finalidade de apurar irregularidades na baixa de tributos
municipais, deixando claro que se instaurava processo administrativo para
apurar responsabilidade do servidor Nelson Somariva referente à
irregularidades na baixa de tributos.
Por evidente, que em havendo irregularidades na baixa de tributos municipais,
por evidente que teria instaurar procedimento administrativo para apurar até
onde foi a responsabilidade do indiciado.
Como disse o eminente Ministro Félix Fischer

"...A portaria de instauração do processo disciplinar e a notificação do acusado


prescindem de minuciosa descrição dos fatos imputados ao servidor, podendo
se restringir, conforme o caso, a referência genéricas aos fatos...".12
Sobre a intimação das testemunhas do indiciado anote-se que se comprometeu
a trazê-las independentemente de intimação. Aliás o seu advogado de defesa
também esteve presente no ato.

Assim, colheu-se dos autos, que houve uma sindicância preliminar sobre baixa
irregular de tributos municipais, a qual desembocou no procedimento
administrativo, onde se observou o devido processo legal, com defesa prévia,
inquirição de testemunhas com a presença do advogado do indiciado, devendo
ser esclarecido que suas testemunhas não foram inquiridas porque não as
trouxe independentemente de intimação conforme se obrigara.
E na esfera administrativa ambas as partes dispensaram a produção de
provas.
Logo, o apelo fica ao desabrigo.

Já com relação ao apelo do ente público, tenha-se em conta que a verba


honorária deve ser fixada com prudência e moderação, com o duplo objetivo de
premiar o procurador do vencedor, sem castigar a parte vencida.
Assim, analisando-se o conteúdo dos autos e o trabalho profissional
desenvolvido, a fixação em mil reais (R$ 1.000,00) apresentou-se adequada.

Por esses motivos, nega-se provimento a ambas as apelações.

Em face do exposto ACORDAM os Desembargadores da Quinta Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
negar provimento à ambas as apelações cíveis.

O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Ruy Fernando de


Oliveira, sem voto, e dele participaram os Senhores Desembargadores Leonel
Cunha e Luiz Mateus de Lima.

Curitiba, 16 de dezembro de 2008

Rosene Arão de Cristo Pereira, Relator

1 (f.325/333)
2 (f.334/337)
3 (f.351)
4 (f.353/376)
5 (f.339/347)
6 (f379/385)
7 (f.386 e 390)
8 (f.403/413)
9 (MORAES, Alexandre de; Constituição do Brasil Interpretada e Legislação
Constitucional, São Paulo: Atlas, 2002, pág. 360).
10 (Ibidem. pág. 361).
11 (f.173)
12 (STJ - 3ª Seção - MS 8.374/DF - Rel. Min. Felix Fischer - J. em 09.10.2002)
Não vale como certidão ou intimação.

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