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Construções Geométricas para Formação De Professores: uma Proposta para o Ensino

e
Aprendizagem da Demonstração em Geometria1
Gilson Bispo de Jesus2
Orientador: Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud
Programa de Pós Graduação em Educação Matemática
PUC São Paulo
Este trabalho apresenta uma pesquisa de mestrado, em andamento, em que pretendo
investigar de que maneira o trabalho com construções geométricas pode contribuir
para a
formação de professores de matemática no que diz respeito ao ensino e aprendizag
em da
demonstração em Geometria. Tal pesquisa encontra suporte em publicações de outro
s
pesquisadores da área de Educação Matemática, dessa forma, tem a possibilidade d
e se aliar
às demais já realizadas, podendo contribuir com compreensões teóricas acerca do
ensino de
geometria, em particular as demonstrações nesse campo. Ela será realizada com um
grupo de
professores de uma dada comunidade, com os quais serão desenvolvidas oficinas de
formação. A abordagem qualitativa de pesquisa será utilizada para a coleta e aná
lise dos
dados.
Palavras chave: Educação Matemática, Formação de Professores, Geometria e
Demonstração.
1 O presente trabalho está sendo realizado com o apoio financeiro CAPES Brasil.
2 Mestrando em Educação Matemática. e mail: gilbjs@bol.com.br
Construções Geométricas para Formação De Professores: uma Proposta para o Ensino
e
Aprendizagem da Demonstração em Geometria
Gilson Bispo de Jesus
Orientador: Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud
Programa de Pós Graduação em Educação Matemática
PUC São Paulo
INTRODUÇÃO
Sou professor de Matemática faz 14 anos. Durante seis anos (1993 a 1998) tive a
oportunidade de ter sido professor não só de Matemática, mas também de Desenho
Geométrico para turmas de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental, após este período
voltei a
lecionar apenas Matemática.
No retorno às atividades apenas de Matemática comecei a perceber uma certa
dificuldade dos alunos no trabalho com geometria, dificuldades essas não identif
icadas no
tempo em que lecionava concomitantemente Matemática e Desenho Geométrico. Daí co
mecei
a acreditar que as atividades nas aulas de Desenho Geométrico poderiam contribui
r para
diminuir as dificuldades de aprendizagem em geometria.
Com essa inquietação, engressei no Programa de Especialização em Educação
Matemática oferecido pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Os estudos
teóricos
nesse programa, foram motivadores da busca de mais conhecimentos acerca de tais
reflexões,
me levando a fazer seleção para o curso de Mestrado Acadêmico em Educação Matemá
tica
oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC SP), no qual sou
discente.
As leituras realizadas na disciplina Metodologia da Pesquisa do programa de
mestrado foram de grande valia, uma vez que elucidaram concepções de Ciência e e
m
particular a pesquisa nesse campo. Neste curso, Booth (2005) contribuiu no que d
iz respeito à
formulação de um problema de pesquisa. Segundo este autor um problema de pesquis
a está
bem posto se deixa claro o tópico, a pergunta de pesquisa e o fundamento lógico
do tema
pesquisado.
Neste programa, participo do projeto: O raciocínio dedutivo no processo de
ensino-aprendizagem da matemática nas séries finais do Ensino Fundamental e pensa
ndo ser
um campo fértil para o trabalho com demonstrações geométricas, pretendemos inves
tigar:
De que maneira o trabalho com construções geométricas pode
contribuir para a formação de professores de matemática no que diz
respeito ao ensino e aprendizagem da demonstração em Geometria?
JUSTIFICATIVA
Não é surpresa que a Matemática é considerada como bicho-papão para a maioria
dos alunos, esse fato se agrava ainda mais quando se diz respeito ao aprendizado
da
geometria. Partindo desse questionamento, a busca por uma proposta de ensino que
contemple
o aprendizado da geometria pelos educandos tem sido constante.
Porém, muitas vezes, a dificuldade reside no próprio professor, em particular no
que diz respeito ao raciocínio dedutivo, esse vem sendo pouco trabalhado por ess
es
educadores. As causas de não trabalhar questões ligadas a demonstração, muitas v
ezes reside
na falta de preparo do professor ou por esses não acreditarem que tal trabalho s
eja importante.
Maioli (2002) ao propor a questão: como trabalhar com formação de professores de
forma a contribuir com saberes referentes à geometria e, ao mesmo tempo, proporc
ionar
aprimoramento em conhecimentos didáticos inerentes a este conteúdo? para a sua pe
squisa,
percebeu que o trabalho realizado proporcionou ao professor o aprimoramento de c
onteúdos
relativos à geometria. Porém, relata na conclusão:
Com relação à demonstração, constatamos que a oficina contribuiu no
sentido de chamar a atenção para sua necessidade, os professores avançaram,
visto que na primeira atividade com demonstrações, não conseguiam utilizar
a ferramenta sugerida (paralelas cortadas por uma transversal) e nas últimas,
já conseguiam explicitar o caminho da demonstração. No entanto, a oficina
não deu conta de desenvolver conhecimentos a ponto do professor escrever
sozinho uma demonstração completa. Se faz necessário um estudo mais
profundo sobre demonstrações. (MAIOLI, 2002, p. 144)
Diante do exposto, esperamos contribuir para reflexões, estudos e para o debate
em
Educação Matemática sobre o ensino de geometria, em particular o da demonstração
nesse
campo, ao respondermos à pergunta: de que maneira o trabalho com construções geo
métricas
pode contribuir para a formação de professores de matemática no que diz respeito
ao ensino e
aprendizagem da demonstração em Geometria?
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
Um dos problemas enfrentados pelo sistema de ensino brasileiro refere-se ao baix
o
desempenho dos alunos do Ensino Fundamental, em Matemática. As recentes avaliaçõ
es
feitas pelo SAEB/MEC pela Secretaria de Educação de São Paulo evidenciam que ess
e
desempenho torna-se ainda mais baixo quando o tema abordado é a Geometria. Embor
a os
currículos mais recentes destaquem a importância de se resgatar o trabalho com G
eometria no
Ensino Fundamental, o professor não sabe claramente o que fazer. A Secretaria de
Ensino
Fundamental do MEC colocou em discussão nacional, os Parâmetros Curriculares e a
pontou a
necessidade de formar professores para a efetiva implantação de novas alternativ
as
(Almouloud e Mello, 2000).
Garcia (1999) conceitua a formação de professores como sendo:
A Formação de Professores é a área de conhecimentos, investigação e de
propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização
Escolar, estuda os processos através dos quais os professores em formação
ou em exercício se implicam individualmente ou em equipe, em
experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os
seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir
profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da
escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos
recebem. (ibidem p. 26)
O axioma: sem um bom conhecimento de Matemática não é possível ensinar bem a
Matemática, é incontornável, afirma Ponte (2001). Muitos professores e escolas c
onfundem,
novas metodologias e abordagens de um ensino de matemática e a própria Educação
Matemática, desvinculando do conteúdo preciso de matemática.
A formação sólida em geometria por parte dos professores de todos os níveis se f
az
necessária para que qualquer proposta de ensino seja implantada, afirma (Almoulo
ud e
Manrique, 2001), relatando também que uma das dificuldades que apareceu na resol
ução de
um dos problemas propostos ao grupo de professores foi a falta de competência de
demonstração.
A necessidade de uma formação adequada do professor para trabalhar a demonstraçã
o
em geometria, a fim de que os alunos possam se apropriar dos conceitos e habilid
ades
geométricos, no ensino fundamental, é uma das vertentes defendidas por (Almoulou
d e Mello,
2000).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sugerem que o trabalho com Espaço e
Forma pressupõe que o professor de Matemática explore situações em que sejam nec
essárias
algumas construções geométricas com régua e compasso, como visualização e aplica
ção de
propriedades das figuras, além da construção de outras relações.
Os PCN lembram que uma argumentação não é, contudo, uma demonstração. A
argumentação é mais caracterizada por sua pertinência e visa ao plausível, enqua
nto a
demonstração tem por objetivo a prova dentro de um referencial assumido. Assim,
a
argumentação está mais próxima das práticas discursivas espontâneas e é regida m
ais pelas
leis de coerência da língua materna do que pelas leis da lógica formal, que por
sua vez,
sustentam a demonstração.
Os PCN afirmam que é desejável que no terceiro ciclo se trabalhe para desenvolve
r a
argumentação, de modo que os alunos não se satisfaçam apenas com a produção de r
espostas
a afirmações, mas assumam a atitude de sempre tentar justificá-las. Tendo por ba
se esse
trabalho, pode-se avançar no quarto ciclo para que o aluno reconheça a importânc
ia das
demonstrações em Matemática, compreendendo provas de alguns teoremas.
Raymond Duval tem pesquisado o uso das representações no ensino da matemática.
Os objetos de estudo em matemática: conceito, propriedades, relações, estruturas
, ..., não são
diretamente perceptíveis aos sentidos humanos. Recorremos então, a notações simb
ólicas,
códigos, tabelas, gráficos, esquemas, escritas, como representantes para estes o
bjetos.
Duval (2003) salienta que a distinção entre um objeto matemático e sua represent
ação
é um ponto estratégico para a compreensão matemática. A confusão entre objeto e
representação é quase inevitável, pois, a apreensão dos objetos matemáticos é co
nceitual, mas,
é somente por meio de representações semióticas que uma atividade sobre estes ob
jetos é
possível.
Em verdade, a originalidade da atividade Matemática (com compreensão) está na
mobilização simultânea de ao menos dois registros de representação, ou na possib
ilidade de
trocar a todo momento de registro de representação afirma Duval (2003), garantin
do também
que em alguns domínios pode-se privilegiar explicitamente um determinado registr
o, porém
deve existir a possibilidade de passar de um registro a outro.
Almouloud (2003) relata que Duval concebe a aprendizagem da demonstração
consiste primeiramente na conscientização de que se trata de discurso diferente
do que é
praticado pelo pensamento natural, garantindo também que os problemas de geometr
ia
apresentam uma grande originalidade em relação a muitas outras tarefas matemátic
as que
podem ser propostas.
O trabalho com as construções geométricas exalta um dos registros de representaç
ão
semiótica sugeridos por Duval, o que sugere que as teorias desenvolvidas por ele
sustentarão
nossa pesquisa, pois além dos trabalhos com registro de representação semiótica,
o
pesquisador também tem trabalhado com registros de representação em geometria nu
m
trabalho com demonstrações. Estas são as leituras que estaremos buscando breveme
nte em
nossa revisão de literatura.
Percebemos que a formação de professores quer seja inicial ou continuada se faz
necessária já que as pesquisas revelam este caminho. Em particular a formação só
lida em
geometria tem sido pesquisada e praticada com professores e apontam para lacunas
no que diz
respeito à demonstração em geometria.
A pesquisa insere-se na abordagem qualitativa, uma vez que procura entender o
processo através do significado produzido pelos professores em ambiente de forma
ção,
envolve a obtenção de dados coletados pelo pesquisador e preocupa-se tanto com o
resultado
como também muito mais especificamente com o processo da obtenção do conheciment
o
pelos participantes. Para tal, o pesquisador será o principal instrumento na col
eta dos dados,
descrevendo-os para posterior análise em um processo indutivo (Araújo e Borba, 2
004).
Para operacionalizá-la, será enviado um convite a professores de matemática numa
dada comunidade, onde daremos prioridade aos docentes que lecionam nas 7ª e 8ª s
éries do
Ensino Fundamental, com os quais montaremos um grupo de formação através do
desenvolvimento de oficinas.
Os dados serão registrados em anotações no caderno de campo pelo pesquisador e/o
u
observadores e gravação em vídeo. Os documentos escritos produzidos pelos profes
sores
participantes serão também agregados aos dados obtidos na observação.
Acreditamos que o trabalho com as construções geométricas pode contribuir para a
formação de professores no que diz respeito ao ensino e aprendizagem da demonstr
ação em
geometria. É justamente sobre esta questão que desenvolveremos nossa pesquisa.
CRONOGRAMA
ATIVIDADES
MESES / ANO 2006 e 2007
fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
out nov dez
REVISÃO DE
LITERATURA
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
PLANEJAMENTO
DA COLETA DE
DADOS
X X X X
COLETA DE
DADOS
X X X
ANÁLISE DE
DADOS
X X X X
PREPARAÇÃO DO
RELATÓRIO DE
PESQUISA
X X X X X X X X X X
QUALIFICAÇÃO X
REDAÇÃO DO
TRABALHO FINAL
X X
DEFESA DA
DISSERTAÇÃO
X
PRÓXIMOS PASSOS
Neste artigo apresento a minha pesquisa de mestrado a qual se encontra em
andamento. Busco refletir como as construções geométricas podem contribuir na fo
rmação de
professores de matemática no que diz respeito à demonstração em geometria. Para
tal,
pretendo desenvolver uma formação continuada com professores de matemática na
perspectiva apresentada. Neste momento, busco contribuições para que a problemát
ica
levantada possa ficar mais clara.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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s
geométricos. In: MACHADO, S. D. A. (Org.) Aprendizagem em Matemática: Registros
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geométricos. 23ª reunião anual da ANPED, 2000.
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BOOTH, W. C.. A arte da pesquisa. P. 1 96, São Paulo, Martins Fontes, 2005.
DUVAL, R.. Registros de representação semióticas e funcionamento cognitivo da
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Matemática: Registros de representação semiótica. São Paulo, PAPIRUS, 2003.
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2002. 153 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Pontifícia Universida
de
Católica de São Paulo, São Paulo, 2002.
MEC. Os Parâmetros Curriculares Nacionais Matemática 5ª a 8ª séries. Brasília: 1
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PONTE, J. P.. A investigação sobre o professor de Matemática: problemas e perspe
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professor. Educação Matemática em Revista, ano 8, nº 11, p. 10 13, 2001.

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