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“Agora somos família”

“Agora somos família” palavras de Helena e Teresa, hoje após o acto criador
da união conjugal: o casamento.

A partir de hoje, dia 7 de Junho de 2010, Teresa Pires e Helena Paixão são
consortes, companheiras nos destinos.

Antes que cases, sabe o que fazes!

O Estado português deu um passo no cumprimento do seu dever geral de


promover a Justiça Social, ao proporcionar às pessoas do mesmo sexo o
direito a constituírem família.
O primeiro acto criador de uma família é o casamento. Daqui derivam
importantes consequências jurídicas, pessoais e patrimoniais.
O casamento é um contrato celebrado solenemente perante um conservador
do registo civil, mediante a manifestação da vontade expressa perfeita,
esclarecida, livre e sem reservas, de partilharem uma comunhão de vida,
assumindo os direitos e deveres inerentes.
O facto de o contrato de casamento exigir uma solenidade própria, da qual é
lavrado um assento de casamento – prova legal do matrimónio, tem a sua
razão de ser na publicidade dada, e testemunhada por pelo menos duas
pessoas, que podem ser os padrinhos, convidados e o público que assista.

Os fins do matrimónio e os fins das nubentes. Os fins do matrimónio derivam


da tutela, da protecção legal dos direitos individuais de cada nubente e deveres
a que se vinculam.
Os fins das nubentes derivam em primeiro lugar, do amor que as une, da
beleza que as impele uma para a outra, das vantagens económicas e sociais
que lhes é reconhecida pelo direito.

Os efeitos do casamento. O primeiro é formal: a modificação do estado civil, de


solteiras para casadas.
Os efeitos do casamento são pessoais, morais e patrimoniais.

Talvez mais importante, a vinculação aos deveres de respeito, fidelidade,


coabitação, cooperação e assistência. Sendo a comunhão de vida exclusiva e
tendencialmente perpétua.

Convenção ante-nupcial é a regulação, antes de casar, do destino do


património de cada nubente, que vigorará depois do casamento. As
convenções ante-nupciais não podem ser alteradas.

Há três regimes patrimoniais: a comunhão geral de bens, a separação geral de


bens e a comunhão de adquiridos. Sendo que os dois primeiros exigem uma
escritura pública, ou auto lavrado pelo conservador do registo civil, pela qual os
futur@s cônjuges estipulam a (in)comunibilidade dos bens próprios.

Por Filomena Loureiro.


Há casos em que o regime de bens é imperativo.
A separação de bens é obrigatória em casamento entre pessoas que tenham
60 ou mais anos de idade. Ou ainda, em casamento sem precedência do
processo obrigatório de publicações.
A comunhão geral de bens não é permitida, quando o casamento é celebrado
por quem tenha filhos, mesmo que sejam maiores. Excepção é a
admissibilidade do regime de comunhão geral, se apenas tiverem filhos
comuns.
Na falta de convenção ante-nupcial vigora o regime de comunhão de
adquiridos: os bens que cada um tenha antes do casamento, são bens
próprios. Todos os bens recebidos após o casamento, incluindo o produto do
trabalho dos cônjuges, passam a ser do casal.

Direitos e Deveres

O casamento é uma plena comunhão de vida, com vista à realização pessoal


dentro de uma relação exclusiva de reciprocidade total, numa vida com a outra
e para a outra: para amar e ser amada. A comunhão de vida é regulada pela lei
através da atribuição de um feixe de direitos e deveres exercidos em plena
igualdade.

Quanto ao dever de coabitação


Trata-se do dever de adopção de duma residência comum, viverem junt@s sob
o mesmo tecto e não só.

A atribuição da casa de morada de família, onde partilham leito e mesa, é


deliberada em conjunto e por comum acordo. O não cumprimento não
justificado deste dever pode vir a ser causa de divórcio. Na prática, depois de
um a de não coabitação, rompida a vida em comum, qualquer dos cônjuges
pode pedir o divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens.
Pode haver coabitação sem haver comunhão de vida, isto é, no caso dos
cônjuges se limitarem a partilhar a mesa e não a cama. Por razões várias, por
terem necessidade de apoiarem mutuamente os filhos menores, por razões de
ordem económica que os leva a viverem na mesma casa. Quebra-se aqui um
dos deveres conjugais, a comunhão de leito que se concretiza em manter
relações sexuais um@ com @ outr@. Este incumprimento só é ponderado pelo
cônjuge que queira invocar a falta de débito conjugal para obter o divórcio.
Cabe aqui a qualquer um dos cônjuges o direito de considerar a falta de
consumação sexual, como motivo de ruptura da vida em comum.
Casos há em que o casamento se tornou apenas na concretização tardia de
uma longa vida em comum e a falta de intimidade física é livremente e
pacificamente consentida.

Por Filomena Loureiro.


Quanto ao dever de cooperação
O desejo de unidade, o dar e receber, a vontade permanente de decidir em
comum, sobre o destino dos bens materiais e morais, colaborar na educação
dos filhos. A disponibilidade para a partilha e doação totais no quotidiano, enfim
o diálogo permanente.
Este dever vai para além do casamento, quando há filhos menores, a
cooperação como disponibilidade para dialogar e regular os deveres da
parentalidade, mesmo quando o casamento se dissolveu por divórcio.

Quanto ao dever de respeito


O dever de respeito recíproco implica um consistente e permanente cuidado
em não ultrapassar os limites, não ofender, tanto na vida social, quanto na
intimidade da vida privada. Ser respeitado, sendo um direito da pessoa humana
que a comunhão conjugal exige, na construção de uma unidade pacífica e
enriquecida da vida em comum.
A capacidade de aceitação mútua, fundada no amor. O reconhecimento da
alteridade, sem domínio. O respeito mútuo insere-se na medida da aceitação
do outro, tal como é. Constrói-se ao longo da vida e pode destruir-se num
minuto. A quebra do respeito que cada consorte deve ao outro pode ir da
ofensa à honra ou ao bom nome, até ao limite da violência física ou
psicológica.
O estado de casado é, antes de mais, o deixar de estar só, o assumir a
solidariedade num projecto comum e a aceitação de uma paridade de ser e
querer.
A violação deste dever pode fundamentar o pedido de divórcio.

Quanto ao dever de fidelidade


O não cometer adultério, isto é, não manter relações extra-conjugais. É um
dever recíproco, na mesma medida para @s duas consortes
Este é um dever naturalmente cumprido por quem ama. Trata-se de uma
lealdade sem esforço, uma entrega exclusiva e feliz.
A imagem do casamento monogâmico exalta esta exclusividade.
Uma vez quebrado este dever, nega-se a comunhão de vida, que é o
casamento.
O desrespeito simultâneo, mútuo e consentido do dever de fidelidade recíproca
nas relações sexuais de ambos com outro ou outros (troca de casais ou
relações a três), não deixa de ser uma violação do dever de fidelidade, tal qual
ele está regulado na lei. Na verdade, mesmo que perdurem situações de
casamento “aberto”, que permite mutuamente a diversificação de parceiros
sexuais, o casamento, enquanto contrato, deixa de ser cumprido pontualmente.

Por Filomena Loureiro.


Quanto ao dever de assistência
Este dever de assistência só pode ir até ao limite do esforço exigível a cada
cônjuge. A capacidade económica do cônjuge é a medida concreta do dever da
sua contribuição para a satisfação das necessidades básicas, a alimentação, a
educação, a cultura, o desporto, o lazer. Assim, quem ganha mais, deve
contribuir com mais. A planificação da vida económica comum do casal tem de
dar prioridade às necessidades do outro cônjuge e dos filhos, consoante o
padrão de vida que corresponda à situação social e profissional do consorte
que tem maior capacidade económica. A preocupação de bem-estar não se
pode reduzir ao mínimo da sobrevivência, mas antes deve ser aferida pela
capacidade de participação, nas despesas comuns, que cada cônjuge tem.
A quebra deste dever pode fundamentar a dissolução do casamento e a
exigência judicial de participação na economia familiar.

IMPORTANTE:
Por último, um dos efeitos patrimoniais do contrato de casamento é o direito à
sucessão. O cônjuge que sobreviva ao outro, fica com direito a herdar os bens
que fazem parte da legítima, ou seja, aqueles direitos e bens transmissíveis por
morte aos herdeiros legítimos: cônjuges, filhos e pais.

Quanto a casar ou não, já não se põe a questão


A partir de hoje, tod@s temos o direito de casar ou não. Assumir perante o
Estado, o direito e todos os demais compromissos jurídicos, que se traduz em
causas e consequências afectivas, morais e patrimoniais.

A Teresa e a Helena provaram hoje, à cidade e ao mundo, que não recuaram


perante as dificuldades legais e sociais às quais se submeteram para atingir o
que tod@s nós temos direito: constituir família.

Deixaram de ser fora-da-lei os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.


Justiça feita, ainda com uma pequena alteração a fazer no futuro próximo: o
direito a ser adoptad@! Adopatd@ a lei que ainda está à frente de muitas
cabeças deste país.

O sol quando nasce, é para tod@s!

A luta continua!

Por Filomena Loureiro.

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