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Introdução
Trazendo essa concepção de tempo (ou da ausência dele) para o campo religioso
brasileiro, o dinamismo nesta área apresenta-nos de forma evidente, o que os permite
abordar diferentes questões pertinentes ao estudo dos fenômenos religiosos. O
pluralismo, o mercado e o trânsito religioso; a idéia de happening (acontecimento) e a
*
Mestre em História pela UFSC.
(...) a tradição religiosa, que antigamente podia ser imposta pela autoridade,
agora tem que ser colocada no mercado. Ela tem que ser “vendida” para
uma clientela que não está mais obrigada a “comprar”. A situação
pluralista é, acima de tudo, uma situação de mercado e as tradições
religiosas tornam-se produtos de consumo. É, de qualquer forma, grande
parte da atividade religiosa nessa situação vem a ser dominada pela lógica
da economia de mercado (BERGER, 1985).
combinações entre os números e até sugerir novos lanches que não são oferecidos.
Metaforicamente, o cliente representa o fiel; os pacotes de lanche (número 1, 2, 3, etc...)
representam as opções religiosas fechadas dentro de um conjunto de doutrinas e crenças
(seja elas, a doutrina Católica, Luterana, Candomblé, Judeu, Muçulmano, etc...) e o
Mcdonald’s representa aquilo que o mercado religioso está ofertando com as diversas
combinações do self possível, nesse drive thru religioso. Nada impede que o cliente/fiel
mude o seu pedido na próxima vez que for ao espaço religioso ou no Mcdonald’s, pois
esse dinamismo representa justamente o trânsito e o pluralismo religioso.
Essa metáfora faz-nos lembrar que as igrejas neopentecostais, como a Iurd 1 que
apresentam cada dia da semana com um cardápio diferente, como a seguinte dinâmica
semanal. Domingo – Reunião de louvor e adoração; Segunda – Reunião da Nação dos
318; Terça – Sessão espiritual do descarrego; Quarta – Reunião dos Filhos de Deus;
Quinta – Corrente da família; Sexta – Corrente da libertação; Sábado – Terapia do
amor. 2
A Iurd com os seus 2.101.887 fiéis, conforme o censo do IBGE 2000, apresenta
devido o seu poder político e midiático (sobretudo pela Rede Record), a denominação
do campo religioso brasileiro que da melhor forma está sintonizada com os tempos pós-
modernos. Seu crescimento numérico de 718% fiéis durante um período de 9 anos
(entre 1991 e 2000) pode ser explicado tanto à partir da questão da mercantilização da
fé quanto pela a capacidade de ressignificação do seu discurso.
Em relação ao seu discurso, a eficácia dele está na incorporação do imaginário
católico (presente na sacralização dos objetos, como rosa de sarom, manto sagrado e
manto sagrado), do imaginário afro ( questão da água e do seu poder de energização) e
do imaginário judaico (exemplificado pela terra santa, enfim o que é de origem judaica
é mais espiritual do que os outros objetos). Simultaneamente, existe um confronto com
o imaginário católico, com o famoso “chute da santa” do bispo Von Helde,
(TAVOLARO, 2007:143) no feriado de 12 de outubro, na Nossa Senhora Aparecida e
os exorcismo em relação aos seguidores da religião afro, exemplificado em expressões
como “descarrego” e “mau olhado.”
A Iurd representa neste sentido, a necessidade de poder político e midiático para
continuar crescendo, sem estar assentado numa tradição religiosa (30 anos de
1
Abreviação de Igreja Universal do Reino de Deus.
2
As informações retiradas do site www.igrejauniversal.com.br . Acesso: 23 de janeiro de 2008 as 18:45.
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Chamamos de protestantes aqui, grupos evangélicos, mas que não são pentecostais. Por estarem ligados
a Reforma do século XVI, são também chamada de reformados. Existem ainda grupos, como o
metodistas que são chamados de pós-reformados, pois surgiu como os irmãos Wesley, no século XVIII.
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A Teologia da prosperidade baseia-se na idéia do “Health and Wealth Gospel”, ou seja, na prosperidade
do fiel, seja na sua saúde ou financeiramente.
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Evento iniciado na Inglaterra em 1987 para dar maior visibilidade aos evangélicos no espaço público.
Espalhou-se para diversos países. No Brasil, a “Marcha para Jesus” é organizada pela Igreja Renascer em
Cristo, mas reúne diferentes denominações evangélicas, sendo a maior concentração numérica de fiéis na
cidade de São Paulo. Além da caminhada dos fiéis, existem os shows com grupos de música gospel,
orações, discursos religiosos - políticos, até camisetas relacionadas com o evento.
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Idéia defendida pelo sociólogo e professor da UFRJ Alexandre Brasil Fonseca.
Neste sentido, existe uma maior valorização do improviso do que do culto litúrgico pré-
estabelecido.
A fé não pode ser rotineira, litúrgica, pois para se conseguir mais sucesso (leia-
se mais fiéis) torna-se necessário ter eventos espetaculares, estádios lotados, curas,
milagres, sonhos, adivinhações, aparições midiáticas que sejam respostas do tempo do
“aqui e agora”, mais ao gosto dos (neo) pentecostais do que os discursos transcendentais
dos grupos reformados. Uma das questões é saber se existe um limite na capacidade de
atração dos fiéis a essa visão que a fé tem que ser constantemente espetacular? Essa
rotinização da espetacularização da fé poderia perder a capacidade de atraírem fiéis?
Essa discussão me parece em aberto, sendo que necessitamos de mais algum tempo e de
pesquisas para percebermos se a tendência de crescimento numérico dos
neopentecostais continua ou não. A questão é saber se a curva de crescimento dos
neopentecostais atingiria um teto nesse crescimento.
O meio católico discutiu três concepções distintas em face ao crescimento
pentecostalismo. A primeira visão julga tanto o pentecostalismo como muito ligada ao
caráter emotivo, mas extremamente despolitizante. No segundo ponto-de-vista, a
renovação carismática representa a resposta correta ao pentecostalismo. A terceira
resposta é a reafirmação do catolicismo romano, com um melhor preparo teológico as
questões da modernidade. (ANTONIAZZI,1994:19)
Se questionássemos qual é o perfil do fiel que deixa o catolicismo para o
pentecostalismo, citamos que:
cotidianas, como fome, emprego, habitação, saneamento básico, fossem buscadas mais
no pentecostalismo, já que a renovação carismática apresentava um caráter
politicamente mais conservador e voltado para a classe média.
Além disso, a escassez dos padres está ligado ao demorado processo de
formação no catolicismo, pois se necessita de formação teológica e filosófica para ser
ordenado. Nas igrejas neopentecostais, o tempo de formação, às vezes é menor do que
um ano, permitindo uma ascensão social e visibilidade muito mais rápida, se comparado
ao catolicismo.
Considerações Finais
Bibliografia
BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião.
2 ed. São Paulo: Paulinas, 1985.
DAVI, Marco. A religião mais negra do Brasil. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
GAARDER, Jostein et al. O livro das religiões. São Paulo: Cia das letras, 2000.
SOUZA, André Ricardo. Igreja in concert: padre cantores, mídia e marketing. São
Paulo: Annablume e FAPESP. 2005.
Site: www.igrejauniversal.com.br