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A ideia de selvageria ao se pensar em índios não é nova. Em muitas escolas aprende-se que
Cabral aportou em um território de gente sem religião, sem justiça e sem estado. O livro Os índios
antes do Brasil, de Carlos Fausto, que faz parte da coleção Descobrindo o Brasil, publicada pela
editora Jorge Zahar, traz diversos estudos e teorias que mostram o surpreendente desenvolvimento
que havia nas tribos indígenas brasileiras antes da conquista europeia.
Uma rota é traçada no decorrer do livro, que leva o leitor a subir os Andes, descer o
Amazonas até alcançar as nascentes do Xingu para, de lá, seguir até o cerrado e pegar o caminho do
mar, que o leva de encontro às naus portuguesas.
O autor nos apresenta às pesquisas de Anna Roosevelt, na década de 1980, responsável pela
descoberta de restos cerâmicos na ilha de Marajó e na região de Santarém. A cerâmica marajoara
possui características que arqueólogos costumam associar a sociedades centralizadas e
estratificadas. O formato que Fausto utiliza em seu trabalho é o de apresentar modelos atualmente
considerados “certos” contrapostos aos modelos “errados”. Um primeiro exemplo deste formato é a
defesa de que Roosevelt não questiona a classificação de Steward, apenas faz a várzea amazônica
“subir” para a categoria de cacicados, imagem adotada por muitos etnólogos e historiadores. A
partir daí, são analisados outros estudos de povos e aldeias tão bem estruturadas e complexas quanto
aos da cultura marajoara, com uniformidade sociopolítica, econômica, cultural e demográfica.
Carlos Fausto é graduado em ciências sociais pela USP e obteve seu metrado e doutorado
em antropologia pela UFRJ, onde hoje leciona. Desde 1988 desenvolve pesquisas junto a grupos
indígenas.
Como resultado, tem-se uma pesquisa brilhante dos povos que habitavam o Brasil antes das
conquistas, em um texto acessível, carregado de fontes imprescindíveis ao assunto e com doses
necessárias de bom humor.