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2. OS SINDICATOS: SUA FUNCAO E SEUS PROBLEMAS J& expusemos, ainda que brevemente, as causas da erise que reina no interior do nosso Partido. Vamos agora esclarecer os pontos mais importantes da con- trovérsia que se estabelece entre os dirigentes do Partido e a Oposigéo Operaria. Existem dois pontos principais. Primeiramente, a fungaéo e os problemas dos sindicatos durante o periodo de reconstrucéo da economia nacional, em ligagéo com a organizagiéo da producéo numa base comunista. Em segundo lugar, a questéo da acgio auténoma das massas, questio ligada & burocracia no Partido e nos Sovietes. Respondamos 4 primeira das questées, na medida em que a segunda resposta é consequéncia desta. O periodo de «redacgio de teses» no Partido esta terminado, Temos 4 nossa frente seis plataformas diferentes, seis tendéncias do Partido. Nunca o Par- tido conheceu uma tal diversidade de tendéncias, uma tio subtil variedade de opgdes entre essas ten- déncias. Nunca o pensamento do Partido foi tio rico em férmulas respeitantes a uma s6 questio, E portanto dbvio que esta questéo é fundamental. E é-o de facto, Toda a controvérsia se reduz a uma 86 questéo de base: quem construiraé a economia comunista e como devera ela ser construida? Esta questio define, além disso, a esséncia do nosso pro- grama: o seu dmago. & tao importante como a ques- tao da conquista do poder politico pelo. proletariado. S6 0 grupo de Boubnov, o chamado «. * A raiz da controvérsia e a causa da crise encon- tra-se na suposicio de que os «homens realistas», téenicos, especialistas e organizadores da produgio capitalista, podem libertar-se repentinamente das suas concep¢des tradicionais sobre a maneira de gerir o trabalho (concepcgdes neles profundamente im- pregnadas pelos anos passados ao servico do capi- tal) e adquirir a capacidade de criar novas formas de produc&o, de organizacéo do trabalho e de moti- vagaio dos trabalhadores. Supor que isto 6 possivel, € esquecer que um sistema de produgfo nfo pode ser mudado por alguns individuos geniais, mas so- mente pelas necessidades duma classe. Imaginemos, por um momento, que durante o pe- riodo de transicio do sistema feudal (fundado no trabalho dos servos) para o sistema capitalista de produgéo (com o aluguer, dito livre, do trabalho), a classe burguesea, faltando-lhe entéo a necessaria experiéncia da organizagio da produgao capitalista, eonvidava os dirigentes habeis, inteligentes e expe- rimentados das propriedades feudais, habituados a trabalhar com servos, e hes confiava o encargo de organizar a produgio numa nova base capitalista. Que teria acontecido? Teriam estes especialistas, habituados ao uso do chicote para aumentar a pro- dutividade, conseguido dirigir um «proletario livre», se bem que esfomeado, que se tinha lbertado do jugo do trabatho forgado para se tornar num soi- dado ou num trabalhador & jorna? Nao teriam esses 53 especialistas destruido completamente a produgdo capitalista nascente? Individualmente, og cdes-de- -fila dos escravos acorrentados, og antigos proprie- tarios de terras e os seus -administradores, foram capazes de se adaptar as novas formas de produgio. Mas nao foi nas suas fileiras que se recrutaram og verdadeiros criedores e og construtores da econo- mia capitalista burguesa, O instinto de classe segredava aos primeiros pro- prietdrios de exploragées capitalistas que mais valia eaminhar com prudéncia e bom senso, na falta de uma, experiéncia que s6 viria mais tarde, procurando estabelecer relagdes entre o capital e o trabalho, do que utilizar og antigos e intteis métodos de exploragio do trabalho do velho e ultrapassado sistema, Um correcto instinto de classe ensinou aos pri- meiros capitalistas que em vez do chicote e do cav- -de-fila deviam usar um outro incentive —a rivali- dade, a ambicdo pessoal dos operdrios, face ao de- semprego e & miséria, Tendo compreendido o efeito deste novo estimulante do trabalho, og capitalistas foram suficientemente inteligentes para se servir dele a fim de promover o desenvolvimento das for- mas burguesas capitalistas de produgio, pelo au- mento da produtividade do trabalho . «Trabalho principal» é uma expressio demasiado vaga. Per- mite varias interpretagdes, E, apesar de tudo, pare- cia que a plataforma dos «Dez» deixaria maior liberdade aos sindicatos na gestio industrial do que © centralismo de Trotsky (8,9). Mas, mais adiante, as teses dos «Dez» explicam o que eles entendem por «trabalho principal» dos sindicates: , mas nico um «mestres; e, no entanto, enquanto a ameaca do mestre-patrao pende sobre a sua cabega, o aprendiz trabalha e produz, 60 # esta, na opinifio de Trotsky, a maneira de deslo- car o centro de gravidade «dos problemas politicos para os industriaiss. Aumentar, ainda que tempo- rariamente, a produtividade por todos os meios possiveis, é o fulcro dessa tarefa. A verdadeira educa- ¢&o nos sindicatos, segundo Trotsky, deve ser orien- tada para este fim. Os camaradas Lenine e Zinoviev nao estio, no entanto, de acordo com Trotsky. Sio os educadores de «uma forma moderna de pensar». Foi jé dito mais de uma vez que os sindicatos sfo as escolas do comunismo, O que quer isto dizer? Se tomarmos a sério esta definigéo, isso significard que nas , Uma vez mais, a controvérsia néo gira em torno do problema dos sindicatos, mag dos métodos de educagio dag massas por meio dos sindicatos, Tro- tsky é, ou melhor, era, por um sistema que, com a ajuda daquele que foi introduzido para og opera- rios dos caminhos de ferro, martela na cabega dos operariog organizados a justeza da construgio comu- nista. E que, por meio de nomeacdes verticais, remo- delagdes e toda a sorte de miraculosas medidas promulgadas em conformidade com o «sistema de choque>, possa remodelar os sindicatos de forma a que eates se integrem nas instituigdes econdmicas soviéticas e we tornem instrumentos obedientes da realizagaio de planos preparados pelo Conselho Supe- rior da Beonomia Nacional. Zinoviev e Lenine nao estio apressados em juntar os gindicatos A maquina econdmica sovistica. Os sindicatos, dizem eles, devem permanecer sindicatos. 68 Quanto 4 produgdo, ela seré posta em marcha e controlada por homens que nés escolheremos, Logo que os sindicatos tiverem fabricado obedientes e laboriosos , enquanto por outro lado encorajam a « da Oposicio Operaria vai télo longe), mas pela aasisténcia 4s aulas dadas pelo Conselho Superior da Economia Nacional sobre este assunto. , Sempre que uma questao respeitante aos operdrios deve ser decidida, como por exemplo a distribuigéo de alimentos ou de forga de trabalho, é necessario que os sindicatos possam conhecer exactamente — nao que participem eles proprios na resolugdéo da questio, mas tio somente que saibam—nao em linhas gerais como qualquer cidad&éo, mas em por- menor, todo o trabalho corrente que est4 a ser feito pelo Conselho Superior da Economia Nacional (dis- curso de Dezembro de 1920). Os professores deste 66 organismo nao sé forgam as sindicatos a «aplicars os seus planos, como também as massas e elev4-las a um nivel de compreensio tal do comu- nismo que possam ser facilmente integradas nas instituigdes soviéticas. Bukharine e os restantes outros exprimem essencialmente a mesma opiniio. As variantes existentes dizem apenas respeito 4 maneira de o realizar; a esséncia 6 a mesma. $6 a Oposic¢io Operéria exprime uma teoria inteiramente diferente, defendendo o ponto de vista da classe 72 proletéria no processo de criagio e de realizagio das suas tarefas, O érgio de administragio econédmica da Republica operaria, durante o actual periodo transitério, deve ser um 6rgao directamente eleito pelos préprios produtores. Todas as outras instituicdes soviéticas de administragio econémica. devem fumcionar ape- nas como centros executivos da politica econédmica do érgéio econémico supremo da Republica operfria. Tudo o resto néo passa de escapatérias que revelam a desconfianga nas capacidades criadoras dos opera- rios, desconfianga que nao é compativel com os ideais apregoados pelo nosso Partido, cuja forca reside no espirito de criatividade permanente do proletariado. Nada haveré de surpreendente se, ao aproximar-se o Congresso do Partido, os promotores das dife- rentes reformas econémicas, com excepgio apenas da Oposicgio Operaria, se ponham de acordo sobre uma base comum gragas a compromissos e conces- gdes mituas, pois nfo existem divergéncias essen- ciais entre eles. S86 a Oposicio Operfria nio pode nem deve entrar em compromissos, Isto nao significa, no entanto, que ela «provoque uma cisio». Nada disso. O seu papel é inteiramente diferente. Mesmo em caso de derrota no Congresso, ela deve permanecer no Par- tido e defender ponto por ponto a sua opinido, salvar © Partido e clarificar a sua linha de classe. Em resumo: qual é o programa da Oposigao Ope- varia? 1) Constituir um orgio dos operfrios—— og pré- prios produtores— para a administragéo da eco- nomia. 2) Para tamto, isto é, para que os sindicatos se transformem, deixem de ser assistentes passivos dos organismos econémicos, participem activamente e 3 manifestem a sua actividade criadora, a Oposi¢éo Operdria propde uma série de medidas preliminares com vista a uma realizagio ordenada e gradual daquele objectivo, 3) A transferéncia das fungées administrativas da indistria para as méos dos sindicatos nio deve ter lugar antes de o Comité Centra] Executivo Pan-Russo dos Sindicatos ter considerado que os sindicatos sic capazes e estio suficientemente preparados para assumir essa tarefa, 4) Todas as nomeagdes para os postos adminis trativos da economia devem ser feitas com o con- sentimento dos sindicatos. Todos os candidates nomeados por estes sao irrevogaveis. Todos os res- ponsiveis nomeados pelos sindicatos séio responsé- veis perante eles e podem ser revogados por elea. 5) Para por em execugio todas estas proposicgées é necessério reforgar os nicleos de base dos aindi- catos e preparar os comités de fabrica e de oficina para gerir a producio, 6) Pela concentragio num sé érgio de toda a admi- nistragio da economia piblica (euprimindo a actual dualidade entre 0 Conselho Superior da Economia Nacional e o Comité Executivo Pan-Russo dos Sin- dicatos) deve ser criada uma vontade unica que facilitar&é a execugdo do plano e fara nascer o sis- tema comunista da produgio. B& isto o sindicalismo? Nao seré, pelo contrario, aquilo que est inscrito no programa do nosso Par- tido? E nfo serio antes os principios eubscritos pelo resto dos camaradas que se desviam do pro- grama? 4

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