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Aviso n, 2 /2016/GM-MMA Brasilia, 43 de dezembro de 2016. A Sua Exceléncia o Senhor ELIseu Lemos PaDILHA Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidéncia da Republica Assunto: Lei Geral do Licenciamento Ambiental Senhor Ministro, 1 Desde 0 inicio de nossa gestio no Ministério do Meio Ambiente ~ MMA, trabalhamos em prol da claboragio de um texto com a posicéo do Executive para a futura Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Esse texto seria encaminhado ao Legislative a titulo de subsidios para as discuss6es no Parlamento, ou mesmo na forma de uma proposicao legislativa de autoria do Presidente da Repiblica. 2. 0 objetivo ¢ simplificar processos, sem descuidar da atengio a protegdo ambiental, ¢ ia, eficiéncia e coeréncia técnica, dando ica. Pretende-s garantir a seguranca ju! assegurar eficé celeridade e seguranca ao licenciamento ambiental. 3. Foram realizadas intimeras reunides sobre o tema nos iltimos meses, com a participaco nao apenas do MMA e seus érgios vinculados, mas de treze ministérios, segundo registros da Casa Civil, Também foram empreendidas negociagdes com organizagbes da sociedade civil ¢ representantes dos governos estaduais e municipais. Em determinados meses, as reuni Presidéncia da Repiblica foram didrias, incluindo finais de semana. 4. O texto elaborado por meio dese esforgo é abrangente, objetiva estabelecer regras sobre os diferentes elementos afetos ao licenciamento ambiental, ¢ também sobre a avaliagio ambiental estratégica - AAE. Ainda ha alguns dissensos em relagao a seu conteddo, mas a maior parte dos t6picos parecia ser consenso até a semana passada, 5. Em que pese os esforgos despendidos, soubemos que 0 substitutive do Deputado ‘Mauro Pereira entraré em votaciio nesta semana. Ocorre que esse texto tem uma série de problemas, alguns deles bastante graves. Os ajustes pontuais indicados pela Casa Civil com base nas discussées ocorridas no Executivo nao sanam esses problemas. Em anexo, destacam-se os principais pontos e sugerem-se opgbes cabiveis. 6. Em face do exposto, solicitamos 0 maximo empenho da Presidéncia da Repablica para impedir a votagio do referido texto. Atenciosamente, RABY FILHO Ministro| fo do Mcio Ambiente Comentarios sobre o substitutivo ao PL n. 3.729/2004 Os comentérios aqui apresentados foram elaborados com base no substitutivo do relator datado de 15/09/2016, e no documento de sugestdes encaminhado pela Casa Civil em 09/12/2016, Comentirios sobre o substitutivo ao PL n. 3.729/2004 Os comentérios aqui apresentados foram elaborados com base no substitutivo do relator datado de 15/09/2016, e no documento de sugestées encaminhado pela Casa Civil em 09/12/2016. Em 12/12/2016, 0 relator protocolou novo substitutivo, 0 qual permanece sem alteragoes em relagao aos dispositivos legais aqui analisados. A nica modificagio relevante para esta andlise foi feita no art. 6°, com o acréscimo de novos casos de isencéo de licenciamento. Do carter de norma geral da futura lei 'A Lei Geral do Licenciamento Ambiental deve estabelecer normas gerais aplicaveis aos procedimentos de licenciamento @ cargo de Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios. Como toda lei de alcance nacional no campo das atribuigdes legislativas concorrentes (art. 24, cc. art. 30, TI, da Constituigio), nfo deve esgotar a capacidade de os entes federados estabelecerem regras € locais. De toda forma, necessita explicitar normas sita ter regras claras sobre 0 licenciamento simplificado. 0 texto do Deputado Mauro Pereira apresenta deficiéncias evidentes nesse sentido. Delega aos entes federativos a decisio do tipo de licenciamento ambiental a ser adotado em cada caso, sem definir diretrizes para essa decisao ou como cada tipo de procedimento deve ocorrer (art. 3°, eaput e § 1°, do substitutivo apresentado em 15 de setembro de 2016). As sugestoes da Casa Civil encaminhadas em 09 de dezembro de 2016 nao corrigem esse problema. Sem essas diretrizes, tenderé a ser instaurado quadro de competicao predatéria, em que estados podem acabar flexibilizando demais sua legislagio ambiental para atrair investimentos, tais como uma mineragio sendo dispensada de licenciamento em um estado e submetida a licenciamento trifasico com BIA (0 mais rigoroso dos procedimentos) em outro. Em suma, acredita-se que seré gerada guerra ambiental entre os estados (¢ possivelmente também entre os municipios, que também podem legislar sobre © tema), com a aprovacéo de leis estaduais ¢ locais com pouco rigor ambiental, em busca de atrair investimentos. Essa “guerra” traré sérios problemas para o Pais. ‘Ademais, nessa situagao conflitiva, a tendéncia seré a judicializacio do licenciamento ambiental, no lugar da seguranca juridica que se intenta aleangar com a aprovacao da Lei Geral £ especialmente preocupante 0 fato de o texto do Deputado Mauro Pereira prever a licenga por adesdo € compromisso, sem trazer qualquer regulamentagao sobre 0 assunto, Nao pode haver es tipo de licenga para empreendimentos sujeitos ao rito trifisico com EIA. Ademais, 56 é admissivel a sistemética nos casos em que se conhegam previamente os impactos ambientais da tipologia do empreendimento e as caracteristicas ambientais da rea de instalacdo, ¢ seja assegurada a validagao pelo poder piblico das informagoes apresentadas pelo empreendedor. O melhor caminho para a solugdo desses problemas é resgatar as regras sobre cada tipo de procedimento (licenciamento triffsico, biffisico, em fase nica, por adesio e compromisso e corretivo) constantes no texto que vinha sendo debatido no ambito do Executivo. Uma opcio alternativa é delegar ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 0 estabelecimento de regras minimas nacionais sobre cada um desses procedimentos. Cabe lembrar que © Conama vem legislando sobre 0 tema licenciamento desde a sua ci 10, com base no art, 8° da Lei ‘n. 6.938/1931. Na verdade, praticamente todas as normas de alcance nacional sobre o licenciamento ambiental sio fruto de resolugdes desse érgio colegiado, e essa experiéneia nao deve ser desprezada, Das isengées do licenciamento O art. 6° do texto do Deputado Mauro Pereira substitutivo de 15 de setembro de 2016) estabelece a dispensa de licenciamento dos seguintes tipos de empreendimentos: agrossilvipastoris, em Areas consolidadas; de pesquisa e servicos de cariter temporirio, como a execugio de obras que nfo resultem em instalagdes permanentes, testes pré-operacionais, bem como aquelas que possibilitem a methoria ambiental; e de melhoria ou reforco de sistemas de transmissao e distribuigio de energia licenciados, Acredita-se que a futura Lei Geral no deve listar casos de dispensa de licenciamento referentes a sctores especificos. 0 MMA defende que, apés 0 Conama e os conselhos estaduais sta positiva”), sero de meio ambiente definirem os casos que requerem licenciamento (“li considerados nao sujeitos ao licenciamento todos os que nao estiverem inclusos nessas listas. Para o caso de essa posigdo ndo ser aceita, o MMA (mesmo discordando da “lista negativa”) sugeriu alternativas de redagdo. Ocorre que as versdes mais recentes do texto debatido pelo Executivo acrescentaram varios itens de dispensa, chegando a doze incisos, que a Casa Civil (no documento encaminhado em 09 de dezembro de 2016) defende que sejam inclusos no texto do relator: Art. 6° Nio estéo sujeitos a0 licenciamento ambiental os seguintes dria extensiva e agricultura em drea rural consolidada até 22 de julho de i n® 12,651, de 25 de maio de 2012, mediante prévia adeso a0 o Ambiental ~ PRA; Ul — pecuéria extensiva e agricultura em 4rea nao enquadrada no inciso 1, em atividade que abranja até 15 (quinze) médulos fiscais; Il ~ silvicultura de florestas plantadas, em 4reas de uso consolidado, que nio envolva obras civis; IV —agroinddstria de baixo impacto ambient V—de pesquisa de natureza agropecuéria, que no impliquem em risco biol6gico, desde que haja autorizagdo prévia dos Orgios competentes ¢ ressalvado o disposto na Lei 1° 11.105, de 24 de margo de 2005; VI — de methoria ¢ ampliagao de capacidade de sistemas de transmissio ¢ distribuigo de energia localizados em faixa de servidao de empreendimento pré-existente devidamente licenciado; Vil —de melhoria, ampliagao de capacidade ¢ manutenco de rodovias e ferrovias localizados em faixa de dominio de empreendimento pré-existente devidamente licenciado; VII —a ex cugio de dragagens de manutengfo ¢ outras atividades destinadas & manutengéo das condigdes operacionais pré-existentes em portos organizados ¢ instalagGes portudrias com licenca de operacéo; IX — 0 servigos e obras de manutencdo, modernizacio e melhorias em estruturas aeroportudrias, desde que no impliquem em aumento de capacidade operacional, e de manutengio da seguranca operacional em instalagoes acroportuérias e de navegacao aérea que ja possuam licenca de operacic X — de pesquisa e servigos de carter temporério, de execugéo de obras que ni resultem em instalagdes permanentes, testes pré-operacionais, bem como aquclas que possibilitem a methoria ambiental; XI os servigos de dragagem em rios navegiveis, com as mesmas caracteristicas de servico jé licenciado anteriormente, com vistas a manter as cotas ja autorizadas; € XII — outros empreendimentos nio inclusos na relacio de empreendimentos sujeitos a licenciamento ambiental, estabelecidos pelos entes federados. (..) No novo substitutivo (12/12/2016), foram acrescentadas as seguintes isengOes: as intervengGes nas faixas de dominio das rodovias federais pavimentadas ¢ em leitos naturais ja implantados que tenham como objetivo a execugao da Politica Nacional de Transportes (...); @ execugio de dragagens de manutengio e outras atividades destinadas & manutencao das condigées operacionais pré-existentes em hidrovias, portos organizados ¢ instalagdes portuérias em operacio. Avalia-se que, quanto mais se estendorem essas listas, maior serd a probabilidade de judicializagdo da futura lei. Imp6e-se cautela nesse sentido. Cabe registrar que a dispensa de licenciamento ambiental para empreendimentos agrossilvipastoris, constante no texto do Deputado Mauro Pereira e no texto do Executivo, tem enfrentado problemas sérios no Judicidrio. Nesse sentido, a Lei do Tocantins foi suspensa judicialmente (ADI n, 5312) ¢ as dispensas genéricas da Bahia (ACP n. 10297-36.20164.01.33) ¢ do Mato Grosso (ACP n. 13286-85.2016,4.01.3600) também foram suspensas. Da abertura para outras simplificagdes ¢ isengdes O § 5° do art, 3° do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) condigées similares as de outros jé licenciados, bem como aqueles a serem instalados em éreas em spoe que atividades ¢ empreendimentos situados na mesma Area de influéncia e em que existam estudos ou instrumentos de planejamento territorial, poderio ser dispensados ou submetidos a procedimentos simplificados de licenciamento ambiental. Essa redagdo poderd levar a flexibilizagbes inaceitéveis nas licencas ambientais, sem seguranga juridica, inclusive nos casos em que se exigiria EIA, em afronta ao art. 225, § 1°, IV, da Constituigao. ‘A minuta debatida pelo Executivo contempla o assunto de forma mais consistente, como nos dispositivos a seguir: Art, 23. 0 empreendimento enquadrado no rito triffsico na forma do artigo 21 oder’ ser objeto de duas licengas, sem prejuizo do BIA, se o empreendimento estiver incluso em politica, plano ou programa governamental contemplados por AAE, devidamente validad nos termos do artigo 63 ¢ previamente aprovada para a finalidade do caput deste artigo, pelos Grgios central, seccionais locais do Sisnama em suas respectivas esferas de competéncia. § 1° Na hipotese prevista no caput deste artigo, as andlises jé realizadas no Ambito da AAE poderio resultar na dispensa parcial do contetido do EIA, a critério da autoridade licenciadora, § 2° Instrumentos de planejamento de politicas, planos e programas governamentais que contemplem o contetido previsto no artigo 65 poderdo ser equiparados & AAE para fins do disposto no caput de artigo, mesmo que nao tenham esta denominagao. (..) Art, 38. Sem prejuizo do disposto no parégrafo 2° do artigo 16, nos casos de empreendimentos localizados na mesma drea de influéncia, a autoridade licenciadora pode aceitar estudo ambiental para o conjunto, dispensando a elaboragao de estudos especificos para cada empreendimento. Pardgrafo tinico, Na hipétese prevista no caput deste artigo, pode ser emitida LP énica para o conjunto de empreendimentos, mantida a necessidade de emissio das demais licengas espeeificas para cada empreendimento. Art. 39. No caso de implantagio de empreendimento na rea de influéncia de ‘empreendimento ja licenciado, 0 empreendedor poderd aproveitar 0 diagnéstico dos meios fisico, bi6tico € socioecondmico, independentemente da titularidade do licenciamento ‘ambiental, resguardado o sigilo das informagées previsto em lei. § 1° Para atender ao disposto neste artigo, a autoridade licenciadora deve manter banco de dados, disponibilizado na internet integrado ao Sistema Nacional de Informagées sobre Meio Ambiente (Sinima), a partir das informagdes constantes nos estudos ambientais apresentados em procedimentos de licenciamento ambiental, nos termos da segio 6 deste capitulo, § 2 Cabe A autoridade licenciadora estabelecer 0 prazo de validade dos dados disponibilizados, para fins do disposto neste artigo. Da questio locacional Um mesmo empreendimento tem impacto bastante distinto de acordo com a relevancia ambiental da érea na qual vai ser instalado. Atualmente, essa variagio néo é considerada na fase de definigao dos requisitos para o licenciamento, gerando estudos desnecessérios e morosidade na andlise. O texto do Deputado Mauro Pereira nao traz quaisquer avangos nessa perspectiva. Na minuta debatida no Executivo, estava sendo trabalhada a consideragio da relevancia ambiental da drea juntamente com o potencial impacto ambiental do empreendimento, considerando sua natureza ¢ 0 seu porte, mantendo a coeréncia com a Lei Complementar n. 140/201, em matriz que basearia a definicio dos casos de licenciamento trifisico com EIA e de licenciamento simplificado, Avaliamos que os debates ocorridos sobre esse assunto estio proximos de um consenso que, se alcangado, muito contribuiré para 0 aperfeigoamento dos processos de licenciamento ambiental. Como sugestio de redagao (a ser complementada com o Anexo), apresentam-se para debate 8 seguintes dispositivos: Art. xxx. O tito de licenciamento ambiental serd definido em fungio da relagio entre 0 grau de relevancia ambiental da drea e 0 potencial impacto ambiental do empreendimento, considerando a sua natureza ¢ 0 seu porte, de acordo com a matriz. constante no Anexo I desta lei. § 1° Cabera a0 Conama definir 0 potencial impacto ambiental por natureza dos empreendimentos, considerando o porte. § 2° Nos licenciamentos ambientais de competéncia estadual e municipal, os respectivos conselhos de meio ambiente poderio definir 0 potencial impacto ambiental, na inexisténcia e suplementarmente & definicao pelo Conama, na forma do § 1° deste artigo. § 3° Até que sojam publicados os atos previstos nos §§ 1° ¢ 2° deste artigo, a autoridade licenciadora poders definir 0 potencial impacto ambiental. § 4° 0 grau de relevancia ambiental da area sera classificado de 1 a 4, em ordem decrescente de relevancia, ¢ ser baseado no mapa das Areas Prioritérias para a Conservagao da Biodiversidade, acrescido da existéncia ou néo de unidades de conservagio de protecao integral, de terras indfgenas ou quilombolas, de conjuntos urbanos ou sitios tombados como patriménio cultural, conforme as situagdes abaixo: Grau 1: a) ‘irea prioritéria para conservacao da_biodivers extremamente alta; ») unidade de conservacio de protegio integral e sua zona de amortecimento; ° 4rea prioritéria para conservacao da biodiversidade classificada como muito alta juntamente com terra indigena na ADA ou contigua ao empreendimento;, ¢ rea prioritéria para conservacao da biodiversidade classificada como muito alta juntamente com terra quilombola na ADA ou contigua ao empreendimento; ou °) rca prioritaria para conservacio da biodiversidade classificada como muito alta juntamente com conjuntos urbanos ou sitios tombados como patrim6nio cultural na ADA; MW Grau 2: D 4rea prioritéria para conservagio da biodiversidade classifieada como muito alta; 2) (erra indigena na ADA ou contfguas ao empreendimento; hy terra quilombola na ADA ou contiguas a0 empreendimento; ou i) conjuntos urbanos ou sitios tombados como patriménio cultural na ADA; 111 - Grau 3: drea prioritéria para conservacao da biodiversidade classificada como alta; ou IV ~ Grau 4: nfo ocorrer quaisquer dos elementos. § 5° Os itens listados no § 3° s georreferenciados. lerados somente quando mapeados e § 6° Os responsiveis pelas informagdes previstas nos incisos do § 3° deverio disponibilizar para as autoridades licenciadoras as bases georreferenciadas sob sua responsabilidade. § 7° O mapa das Areas Prioritérias para Conservacdo da Biodiversidade referido no § 4° deste artigo exclui as éreas urbanas consolidadas, conforme estabelecidas pela Lei n° 11.977, de 07 de julho de 2009. Da licenga corretiva © art. 2%, XI, do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) define licenga ambiental corretiva como o ato administrativo por meio do qual o érgao licenciador regulariza as atividades ¢ empreendimentos que estio em instalagdo, implantados ou em operacao sem licenga ambiental, por meio da fixagio de condicionantes que viabilizem sua continuidade ¢ conformidade com as normas ambientais. att. 24 do mesmo texto estabelece que os empreendimentos ou atividades que se encontrem em instalagéo, implantados ou em operagio, sem licenciamento ambiental, sem prejuizo da continuidade de sua operagio, deverdo requerer junto ao 6rgio licenciador a regularizagio da sua situagdo mediante a emissao de licenga ambiental corretiva. Considera-se que a licenga ambiental corretiva s6 faz sentido para empreendimentos em operagao. Se forem incluidos os empreendimentos em instalagio, passa a ser vantagem instalar empreendimento sem licenga para, posteriormente, regularizé-lo perante 0 6rgio ambiental competente. Cabe dizer que a instalagio de empreendimento sem licenga € tipificada como crime, nos termos do art. 60 da Lei n. 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). Registre-se, ainda, que hd casos em que mesmo os empreendimentos em operacdo talvez ndo possam continuar operando por razes ambientais. ‘A minuta que vinha sendo trabalhada no Executivo considera a entrada em operacao na data de 31 de dezembro de 2015 como limite maximo para os empreendimentos passiveis de regularizagao frente ao licenciamento ambiental, segundo os procedimentos especificos previstos x (que abrangem apenas a licenca de operagio). & bom lembrar que o art. 34 do Decreto n. 4,340/2002, que regulamenta a Lei n, 9.985/2000, ja estabelecia data limite para a regularizagio de empreendimento operando sem licenca ambiental, Sugere-se, contudo, que seja adotada a mesma data da Lei n. 12.651/2012 (nova Lei Florestal) 10 do para regularizacao dos empreendimentos rurais, ou seja, 22 de julho de 2008, data de edi decreto que regulamenta a Lei n. 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). Se io houver essa compatibilizagio de datas, haverd conflito de regras relacionadas & regularizacao ambiental, ou seja, serdo gerados problemas nos processos concretos. Nesse quadro de incerteza, poderd ser impulsionada “corrida” a irregularidade. Problema mais grave esté no § 2° do art. 24 do texto do Deputado Mauro Pereira, que pretende restringir 0 licenciamento corretivo aos passivos associados ao meio fisico. Isso significa desconsiderar todos os demais relativos aos meios bidtico e socioeconémico, tais como o desmatamento para a implantagéo do empreendimento e 0 reassentamento de populagdes eventualmente por ele afetadas, por exemplo. A proposta gera grave inseguranga juridica. A propria minuta do Executivo tem deficiéncia nesse sentido, pois exclui do processo de regularizacéo do empreendimento 0 componente socioecondmico, deixando apenas os elementos 108 € bi6ticos. Cabe registrar que 0 conceito de meio ambiente reconhecido pelo STF quanto & aplicacao do art, 225 da Constituigio Federal inclui 0 componente socioambiental (ADI n. 3540), argumento juridico utilizado em casos relevantes como Belo Monte, Jirau e Santo Anténio. Da cléusula revogatéria © art, 28, I (grafado erroneamente como Il ¢ Ill), do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016), a0 revogar o item 1.1 —Licenga Ambiental ou Renovacio, da secio III] — Controle Ambiental, do Anexo VII da Lei n. 9.960/2000, elimina a cobranga pelas licengas expedidas pelo Tama, o que € inaccitével. Causa estranheza essa proposta surgir na CFT, que deve cuidar da responsabilidade perante as finangas publicas. O art. 28, IV, ao alterar a Lei n. 9.985/2000 (Lei do Sistema Nacional de Unidades de idade de autorizagio do 6rgio Conservagio — Snuc), revogando 0 § 3° de seu art. 36, elimina a neces responsdvel pela gestio da unidade de conservagdo (UC) para empreendimentos que afetam a drea protegida ou sua zona de amortecimento, impondo expressiva perda a biodiversidade ¢ afrontando diretamente o art, 225, § 1°, III, da Constituigio Federal. Trata-se de outro dispositivo absolutamente grave retrocesso. O caso mais emblemético de incompatibilidade inaceitavel, pois representari Jocacional, mesmo na zona de amortecimento da UC, é 0 de Cubatio, La a presenga de indastria predat6ria junto ao parque da Serra do Mar levou a destruigio da floresta ¢ a escorregamentos gravissimos sobre as prépri O ait. 28, V, por sua vez, ao revogar © caput do art. 11 do Decreto n, 7.154/2010, intenta retirar do Instituto Chico Mendes - ICMBio a prerrogativa de autorizar a instalagdo de empreendimentos de distribuicio ou transmisséo de energia elétrica em UCs federais de uso sustentével, 0 que também impée perda a biodiversidade e afronta o art. 225, § 1°, III, da Constituigao Federal. Hé também injuridicidade neste ponto do texto do Deputado Mauro Pereira, uma vez que uma lei nao pode revogar expressamente um decreto. Lei somente revoga expressamente outra lei. Es tevogacées vio de encontro com o Acordo de Paris recentemente ratificado pelo Brasil, no qual existe 0 compromisso voluntério do pafs em reduzir em 37% suas emissdes de gases de efeito estufa até 2025, com indicativo de chegar a 43% em 2030, com base nos niveis registrados em 2005. Segundo o documento de Estimativas Anuais de Emissio, produzido pelo MCTI, 52% das emissoes brasileiras de gases de efeito estufa so provenientes da agropecudria e do uso da terra ¢ florestas, Nesse contexto, as unidades de conserva¢do tém papel importante para o atingimento desse s com competéncia e expertise. compromisso, devendo ser adequadamente geridas pelas institui Outro compromisso assumido pelo Brasil que poderd ter seu alcance ameacado, so as metas de Aichi, no ambito da Convengio da Diversidade Biol6gica, de, até 2020, ter pelo menos 30% da ‘Amaz6nia ¢ 17% de cada um dos demais biomas Caatinga, Cerrado, Mata Atlantica e Pantanal, bem como 10% da zona costeira ¢ marinha, protegidos em unidades de conservagio e outras dreas protegidas, respeitando a demarcagio, regularizagao e gestéo eficaz e equitativa, visando atingir a integridade na gestio, conectividade de habitats e representatividade ecol6gica. Dos prazos de validade das licengas O art. ® do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) estabelece os seguintes prazos de validade para as licengas: nfo inferior a 5 anos para a LP ou conforme cronograma do empreendedor; nao inferior a 6 anos para a LI ou conforme cronograma do empreendedor; nao inferior a 10 anos, no caso da LO, ou conforme o cronograma do empreendedor; no inferior a 6 anos em caso de Licenga Ambiental Corretiva concedida a empreendimentos ou atividades em instalagio ou implantados; ¢ nao inferior a 10 anos em caso de Licenca Ambiental Corretiva concedida a empreendimentos ou atividades em operacao. \ Considera-se que esses prazos séo excessivos ¢ inadequados para empreendimentos de menor porte. Uma opgio é adotar a redagao trabalhada no ambito do Executivo: Art. xxx. As licengas devem ser emitidas observando os seguintes prazos de validade: considerando 0 estabelecido pelo cronograma de elaboragao dos planos, programas € projetos © prazo de validade da LP seré, no minimo 3 (trés) anos e no maximo 6 (seis) anos, relativos ao empreendimento aprovado pela autoridade licenciadora; II 0 prazo de validade da LI e LP/LI seré, no mfnimo 3 (\18s) anos € no maximo 6 ¢ aprovado pela autoridade licenciadora; € is) anos, considerando 0 estabelecido pelo cronograma de i talagao do empreendimento III - 0 prazo de validade da LAU, LO, LI/LO e LOC considerard os planos de controle ambiental ¢ seri de, no mfnimo, 5 (cinco) anos e, no maximo, 10 (dez) anos. Cabe perceber que os prazos muito longos de validade das licengas ambientais impedem eventuais medidas corretivas que se fagam necessérias para assegurar 0 meio ambiente ecologicamente equilibrado, nos termos do art. 225 da Constituigio Federal. Dos prazos para o processo do licenciamento Os Srgdos ambientais no conseguirio cumprir os prazos previstos para a emissio da LP (ncisos 1 ¢ II do art. 8° do texto do Deputado Mauro Pereira), fase do licenciamento em que ocorre a anilise de grande volume de documentos técnicos, muitas vezes de alta complexidade A proposta do MMA (que abrange os diferentes tipos de licenga, suprindo omis nntido) é a seguinte: Art. xxx, O procedimento de licenciamento respeitard os seguintes prazos méximos de andlise para emissio da licenga, contados a partir da entrega do estudo ambiental ou dados e informagGes requeridos na forma desta Lei: 1-10 (dez) meses para a LP, nos casos em que for exigido EIA; 11-6 (seis) meses para a LP, nos demais casos; III —4 (quatro) meses para a LI, LO, LOC e LAU; IV ~ 6 (eis) meses para LP\LI ou LI\LO, nas hipsteses previstas no artigo xxx; € ‘V ~ 60 (sessenta) dias para a LAC. (...) Quanto a esses prazos processuais, cabe registrar que 0 texto trabalhado pelo Executive explicita que “o decurso dos prazos maximos previstos sem a emisséio da licenga ambiental nao implica emissao tacita nem autoriza a prética de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a Ot competéncia supletiva de licenciamento, nos termos do § 3° do artigo 14 da Lei Complementar n. 140, de 2011”. Esse dispositivo merece estar incluso na futura lei, Deve ser mencionado que hi entendimento da AGU (Parecer n. 3/2015/DECOR/CGU/AGU) de que o descumprimento dos prazos no licenciamento geraré reequilibrio econdmico-financeiro em Assim, esses prazos precisam ser estabelecidos favor do empreendedor, causando danos ao 1 com responsabilidade, considerando as reais possibilidades dos 6rgios ambientais Nessa perspectiva, deve-se colocar que, mesmo para 0 cumprimento dos prazos apresentados acima, haveré necessidade de reforgo nas equipes de licenciamento dos érgaos do Sisnama (nos planos federal, estadual e municipal). © MMA conta com o apoio da Presidéncia da Repablica em prol do reforco dessas equipes. Da manifestago das autoridades envolvidas O § 2° do art. 11 do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de sctembro de 2016) define que os érgios envolvidos no licenciamento ambiental deverio apresentar ao érgao licenciador manifestagéo conclusiva sobre 0 estudo ambiental exigido para o licenciamento, nos prazos de até 90 dias, no caso de EIA, e de até 30 dias nos demais casos, contados da data de recebimento da solicitagao. Funai, Iphan (ou 6rgios estaduais ¢ municipais equivalentes) e Fundagio Palmares. néo consegui cumprir esses prazos. Em face disso, sugere-se a adogao do dispositivo trabalhado no mbito do Executivo, a saber: Art. xxx. A autoridade envolvida apresentaré manifestagdes conclusivas para subsidiar a autoridade licenciadara no prazo maximo equivalente & metade do prazo concedido para a autoridade licenciadora, contado da data de recebimento da solicitagao. Além do prazo, deve ser comentado 0 § 5° do art. 11 do texto do Deputado Mauro Pereira, que dispée que as manifestagdes extemporineas ou encaminhadas apés a instalagdo do empreendimento ou atividade deverdo ser devidamente justificadas e serio analisadas pelo 6rgio licenciador na fase de renovagdo do licenciamento. Consideramos que ha casos em que se pode atender a demanda das autoridades envolvidas na propria LO, sem jogar a andlise para a renovagio. tucionalidade duvidosa. O pardgrafo € de cons Do contetido do EIA e outros estudos ambientais O art. 16 do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro 2016) néo inclui o diagnéstico ambiental no conteddo do EIA. Sem ele, como poderd ser feito 0 prognéstico das atesctnenetnan ne K . condigdes emergentes com a implantagéo do empreendimento e, por efeito, das medidas para prevenir, reduzir ou compensar os impactos ambientais adversos e potencializar os positivos? Sugere-se a adogio da redagdo trabalhada no ambito do Executivo: Art, xxx. 0 BIA € elaborado de forma a contemplar: 1a concepgio ¢ as caracteristicas principais do empreendimento ¢ a identifica aspectos ambientais associados aos processos, servigos ¢ produtos que 0 compdem, assim como a identificacao e a andlise das principais altemativas tecnolégicas e locacionais, quando ‘couber, confrontando-as entre si e com a hipstese de ndo implantacio do empreendimento; I — a definiggo dos timites geogréficos da area diretamente afetada pelo ‘empreendimento (ADA) e de sua drea de influéncia; IL — 0 diagndéstico ambiental da area de influéncia do empreendimento, com a anilise integrada dos elementos e atributos dos meios fisico, biético ¢ socioeconémico que poderio ser afetados por ele; IV ~a avaliagio de impacto ambiental do empreendimento, mediante a idenlificacio, a previsio da magnitude © 2 interpretagio da importincia dos provaveis efeitos relevantes, discriminando-os em adversos e benéficos, diretos ¢ inditetos, de curto, médio e longo prazo, tempordrios © permanentes, reversiveis e irreversiveis, bem como de suas. propriedades ccumulativas ¢ sinérgicas ¢ da distribuigio de seus nus e beneticios sociais V ~ a anilise da compatibilidade do empreendimento com as politicas, planos Programas governamentais existentes € em implantagio na rea de influéncia do empreendimento; VI - 0 prognéstico da evoluco do meio ambiente na ADA, bem como na érea de influéncia do empreendimento, nas hipdteses de sua implantagio ou nio; VII — as medidas para evitar, mitigar ou compensar os efeitos ambientais adversos do empreendimento © maximizar seus efeitos ambientais benéficos, incluindo cronograma fisico sincronizado com a sua implantacéo e operagio; € VIII ~ a previsio de programa de monitoramento, apoiado em indicadores que permitam acompanhar e avaliar o desempenho das medidas preventivas, mitigadoras ¢ compensat6rias. Cabe registrar que 0 texto do Deputado Mauro Pereira nao contempla o contetido mfnimo dos estudos ambientais exigidos nos licenciamentos simplificados, sequer explicita a demanda desses estudos, 0 que reforga a tendéneia A “guerra ambiental” entre os estados ¢ municipios anteriormente mencionada. Tal fato também contribui para o aumento do grau de judicializacao do tema. Da suspensio de condicionantes O § 2° do art. 7° do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) estabelece que a condicionante para a qual for solicitada prorrogagio de prazo ou que for contestada pelo empreendedor fica suspensa até a manifestacao final do érgao licenciador. O efeito suspensivo dado as condicionantes para as quais seja solicitada prorrogagao do prazo ou haja contestagéo pelo empreendedor, até a manifestagio final do Grgio, significaré fragilizagio das medidas mitigadoras ¢ compensatérias, considerando a falta de estrutura dos érgios ambientais mis mi at 4 para atendimento as crescentes demandas. Tender a haver apresentacao de contestagdes apenas com efeito protelat6rio. Em cardter adicional, € necessério pontuar que a suspensio pretendida € contréria aos principios basicos de protegdo do Direito Ambiental, o que pode ensejar a judicializagio da norma O referido pardgrafo necessita ser suprimido do texto. Das audiéncias piblicas e outras formas de participagio O texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro 2016), em seu art. 18, delega a0 Grgio licenciador a decisio sobre a realizagdo, ou nao, de audiéncias pablicas no proceso de licenciamento. Consideramos que, dessa forma, impdc-se significativa perda 4 participacao popular e ao controle social do procedimento de licenciamento ambiental, em afronta direta ao art. 225, § 1°, IV, in fine, da Cons ituicao Federal. 0 texto elaborado pelo Executivo assegura pelo menos uma audiéncia piblica nos casos de licenciamento com EIA e prevé, também, recebimento de contribuigbes pela internet: Art. 46. O empreendimento abrangido pelo artigo 21 deve ser objeto de procedimento de audiéncia pablica, com pelo menos uma reuniao presencial, antes da decisio final sobre a emissiio da LP, para apresentar & populagio da area de influéncia os provaveis efeitos ambientais do empreendimento, bem como para coletar informacdes, sugestdes ¢ opinies pertinentes & andlise de sua viabilidade ambiental. § 1° Antes da realizagio da reuniéo presencial prevista no caput deste artigo, 0 empreendedor deve disponibilizar os estudos ambientais sobre o empreendimento conforme definido pela autoridade licenciadora, § 2° A decisio da autoridade licenciadora de realizagéo de mais de uma reuniio presencial deve ser motivada na inviabilidade de participagao dos interessados em um Gnico evento, em face da complexidade do empreendimento, da ampla distribuicdo geogratica de seus efeitos ou de outro fator. § 3° O procedimento de audiéncia pablica para subsidiar o licenciamento ambiental deve observar as seguintes diretrizes 1 ~ divulgacio ampla © prévia do documento convocatério da reunido presencial, especificado seu objeto, metodologia, local, data e hordrio de realizagao; I= livre acesso a quaisquer interessados, com prioridade para os cidadaos afetados pelo empreendimento, no caso de inviabilidade de participagao de todos pelas limitagées do local da reuniao presencial; II — sistematizacao das contribuigdes recebidas; IV — publicidade, com disponibilizagao do contesido dos debates e de seus resultados; e \V—compromisso de resposta em relacdo &s demandas apresentadas pelos cidadios. Art. 47. A autoridade licenciadora poderd realizar procedimento de recebimento de contribuigées por meio da internet 1 —antes da decisao final sobre a emissio da LP, LP/LI ou LAU; € I—antes da renovagao da LO. Pardgrafo Gnico. O procedimento de recebimento de contribuigies deve durar, no minimo, 15 (quinze) dias e, no maximo, 30 (trinta) dias, observando as seguintes diretrizes: 1 — divulgagao ampla e prévia do documento convocatério, especificando seu objeto, ‘metodologia e perfodo de realizacao; Il - disponibilizagao prévia e em tempo habil dos documentos em linguagem simples ¢ objetiva, sem prejuizo da disponibilizagao dos estudos © outros documentos na forma do artigo 46; € III sistematizacio das contribuigbes recebidas ¢ sua publicidade. Art. 48. As contribuigdes recebidas na forma desta segio seréo apreciadas pela autoridade licenciadora na avaliagdo da viabilidade ¢ adequacio do empreendimento, € na definigdo das condicionantes ambientais. § 1° A autoridade licenciadora deve se manifestar de forma expressa acerca das razdes do acolhimento ou rejeigao das contribuigdes apresentadas na reuniao presencial de audiéncia piiblica prevista no artigo 46. § 2° A auloridade licenciadora, no estabelecimento de condicionantes motivadas por contribuicées apresentadas em procedimento de participacéo previsto nesta segao, deve demonstrar a relacio causal entre 0 alegado efeito ambiental adverso ¢ 0 empreendimento sob licenciamento ambiental Além disso, 0 texto trabalhado pelo Executive prevé reuniGes técnicas informativas nas disposigdes sobre os ritos pplificados de licenciamento. Na visio do MMA, é fundamental a garantia de participagio da populagao no processo de de Geral. licenciamento. Temos convicgéo de que a inobservanci preceito gerard judicializagao, colidindo com o objetivo de seguranga juridica a partir da Da renovacio automatica de licengas O texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) prevé no § 2° do art. 9° que a licenga de operacao tera mecanismos de renovagéo automética nos casos em que houver comprovacao de atendimento das condicionantes ambientais. Isso se aplica tanto a0 procedimento ordinério quanto 20 simplificado (§ 4°). As sugestdes de ajustes encaminhadas pela Casa Civil em 09 de dezembro de 2016, por sua vez, dio maior amplitude a essa previstio, estabelecendo que: “Os drgios licenciadores deverdo adotar mecanismos para prover A renovagio automatica de LO © LOC, nos casos em que 0 empreendedor comprovar 0 atendimento de todas as obrigagdes e exigéncias, legais e de seu conhecimento, realizadas durante seu processo de licenciamento ambiental, inclusive durante a vigéncia de sua licenga” No texto que vinha sendo debatido até agora no Executivo, essa previsfo era apresentada de forma mais cautelosa, para os licenciamentos simplificados ¢ atendidas duas condigdes: as caracteristicas e 0 porte do empreendimento nao tivessem sido alterados; e a legistagio ambiental aplicével a0 empreendimento nio tivesse sido alterada. Os conselhos de meio ambiente poderiam estabelecer outros sos de renovacao automética. Considera-se mais adequada essa opcao de maior cautela com as renovagdes autométicas. A renovagio periédica das licengas de operagio constitui oportunidade importante para o controle ambiental dos empreendimentos em operacio. Dos casuismos legislativos © § 3° do art. 3° do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutiv de 15 de setembro de 2016) estabelece que os empreendimentos lineares destinados aos modais ferrovidrio ¢ rodoviério, assim como servigos de transmissao ¢ distribuigio de energia elétrica, poderio iniciar a operagio Jogo apés 0 término da instalagdo, devendo 0 empreendedor manter © integral cumprimento dos programas ¢ condicionantes ambientais estabelecidos no licenciamento, até manifestagdo definitiva do 6rgio licenciador sobre as condigées de operagio. Trata-se de um casufsmo sem justificativa, Nao ha razdo para essa regra espectfica para esses empreendimentos. Ao permitir que empreendimentos lineares iniciem a operagio logo ap6s 0 término da instalagao, 0 dispositive impede que o 6rgdo licenciador verifique o cumprimento das condicionantes ambientais antes da emissao da licenga de operagao (LO). O caminho parece ser a supressao do pardgrafo. Na mesma linha, esté o art. 27 do texto do Deputado Mauro Pereira, que altera o anexo da Lei n, 6.938/1981, referente a aplicagao da Taxa de Controle ¢ Fiscalizagio Ambiental — TCFA € nao ao licenciamento ambiental. Outro dispositive com esse mesmo tipo de distorgao esté no § 4° do art. 5°, sugerido pela Casa Civil no documento de 09 de dezembro de 2016, que estabelece que, nos processos de licenciamento ambiental de atividades mineradoras, sempre que tecnicamente viavel, deverdo ser incluidos projetos de piscicultura como parte integrante do Projeto de Recuperagio de Areas Degradadas, com a finalidade de mitigar a degradagio ambiental e de facultar a migragéo da atividade econémica local freas sujeitas a atividades mineradoras possuem altos indices de Registre-se que, normalmente, contaminagéo, situacao de alto risco para uma atividade relacionada 4 produgio de alimentos, como a piscicultura, Os projetos de recuperagio de areas degradadas devem ser concebidos conforme cada icas em lei. MY realidade local, nao se justificando indicar solucGes espe Das disposigdes sobre as taxas ambientais © art. 10 do texto do Deputado Mauro Pereira (substitutivo de 15 de setembro de 2016) ispGe sobre as taxas cobradas pelos servicos prestados na anélise dos requerimentos referentes as licencas ambientais. Faculta, inclusive, que o empreendedor pega a revisdo dos itens que compdem a taxa de licenciamento. Ocorre que normas gerais sobre tributos estaduais e municipais necessitam de lei complementar, em face do art. 146, III, da Constituigdo Federal. Assim, as disposigdes estabelecidas no texto sobre essas taxas apresentam problema de inconstitucionalidade. © caminho parece ser a supressio do dispositivo. a—AAE Da avaliagao ambiental estratés Consideramos fundamental a inclusio de capitulo sobre a avaliagio ambiental estratégica AAE na futura lei. Essa importante ferramenta contribuird, temos certeza, para que a questo ambiental seja devidamente ponderada no planejamento governamental e, além disso, poderd garantir seguranga juridica e celeridade ao licenciamento ambiental de empreendimentos abrangidos por programas como 0 PPI. O Deputado Mauro Pereira chegou a incluir dispositivos sobre esse tema, mas nao incluiu a AAE na versio de 15 de setembro de 2016, A Casa Civil também no propés a incluso do tema no documento de 09 de dezembro de 2016. Entendemos que essa posigio necessita ser revertida, para que a futura lei consagre avangos na a Propomos a incluso dos seguintes dispositivos, mantendo a redagio que vinha sendo trabalhada no ambito do Executivo: Art. xxx. A Avaliagio Ambiental Estratégica (AB) tem como objetivos identificar as, consequéncias, conflitos ¢ oportunidades de propostas de politicas, planos ¢ programas governamentais, considerando os aspectos ambientais, ¢ assegurar a interacao entre politicas setoriais, territoriais ¢ de sustentabilidade ambiental no processo de tomada de de tempo hébil. Atl, xxx. A AAE si realizada pelos Grgios responsiveis pela formulagio ¢ planejamento de politicas, planos © programas governamentais, ou conjuntos de projetos estruturantes, de desenvolvimento setorial ou territorial. § 1° Em cada nivel da federagao, ato do Poder Executivo, a ser periodicamente revisto, definira as politicas, os planos, os programas governamentais © 0s conjuntos de. projetos K estruturantes a serem submetidos 4 AAE, bem como os arranjos institucionais e as diretrizes especificas a serem seguidas na aplicacao e validagdo do instrumento, § 2 Deverio ser definidos em regulamento pelos entes da federagio os arranjos institucionais, as diretrizes especificas ¢ as metodologias a serem consideradas para a tealizagio da AAB. Art. xxx. A AAE deverd contemplar, no minimo: 1 ~a identificagio do objeto da AB; TI~a identificagio prévia dos fatores criticos para a decisio e das opeSes de caminhos alternativos; IM ~ a anélise integrada dos componentes ambientais ¢ socioecondmicos do territério a ser abrangido pelo objeto da AAE; IV ~a identificagdo de oportunidades e restriges ambientais; V ~ a avaliagéo das consequéncias da proposta objeto da AAE, incluindo potenciais conflitos e oportunidades; VI ~ a produgao de cen: objetivos estratégicos; e ios de futuros possfveis, considerando opgdes para atingir os VII as recomendagées para a tomada de decisio. § 1° A sintese das atividades desenvolvidas no ambito da Avaliagio Ambiental Estratégica, bem como seus resultados, seré consolidada no Relatério de Avaliacao Ambiental Estratégica (RAAB), ao qual se dar publicidade. § 2° A AAE deve ser periodicamente revista para que se realimente o processo de planejamento. §3° Ato do Poder Executivo da esfera da Federagio responsavel pela politica, plano ou programa definiré 0 momento, a forma € os canais de comunicacio ¢ participagao social em Tungio da dindmica de cada setor ¢ do respectivo processo de decisio, Art, xxx. A realizagio da AAE nao exime os responsiveis de submeter os empreendimentos que integram as politicas, planos ou programas ao licenciamento ambiental. § 1° Os resultados da AAE poderio conter diretrizes para, se for o caso, orientar 0 mento ambiental, § 2° A AAE nio poder’ ida como requisito para o licenciamento ambiental e sua inexisténcia ndo obstaré ou dificultaré 0 processo de licenciamento. licen¢ Da abrangéncia da andlise pela Comissio de Finangas e Tributagio — CFT. O att. 55 do Regimento Interno da Camara dos Deputados ~ RICD estabelece que a nenhuma comissio cabe manifestar-se sobre 0 que nao for de sua atribuigao especifica e que se consideraré como nao escrito o parecer, ou parte dele, que infringir essa determinagio, © processo do PL n. 3.729/2004 © seus apensos, esté distribuido a CFT quanto a admissibilidade e a0 mérito, Mas essa aniilise de mérito esté adstrita ao campo de atuacdo da comissao, ou seja: X Ant. 32 (..) ‘X-Comi io de Finangas ¢ Tributagak a) sistema financeiro nacional ¢ entidades a ele vinculadas; mercado financeiro e de capitai autorizacdo para funcionamento das instituigdes financeiras; operagdes financeiras; crédito: bolsas de valores © de mercadorias; sistema de poupanga; captagio e garantia da poupanca popular; ») sistema financeiro da habitagao; ©) sistema nacional de seguros privados e capitalizaciio; «) titulos ¢ valores mobilisrios; €) regime ju ico do capital estrangeiro; remessa de luctos; £) divida pablica interna e externa; £8) matérias financeiras e orgamentarias pablicas, ressalvada a competéncia da Comissao Mista Permanente a que se refere 0 art, 166, § 1°, da Constituigao Federal; normas gerais de direito financeiro; normas gerais de licitacio © contratagéo, em todas as modalidades, para a administracéo publica direta e indireta, incluidas as fundacGes instilufdas © mantidas pelo Poder Pablico; bh) aspectos financeiros © orgamentérios piblicos de quaisquer proposigées que importem aumento ou diminuigao da receita ou da despesa publica, quanto & sua compatibilidade ou adequagéo com o plano plurianual, a lei de diretrizes orcamentérias ¢ o orgamento anual da remuneragio dos membros do Congreso Nacional, do Presidente ¢ do Vice- i) fixaca tura federal; Presidente da Repiblica, dos Ministros de Estado e dos membros da magist id nal ¢ reparticao das receitas tributérias; normas gerais de direito Uributdrio; legislagdo referente a cada tributo; }) tribuiagdo, arrecadacio, fiscalizagao; parafiscalidade; empréstimos compulsério CcontribuigGes sociais; administragao fiscal; Ge No proceso em foco, hé textos que preveem taxa de licenciamento federal, por isso se justifica a distribuigao para a CFT, inclusive com relagio ao mérito. No entanto, 0 campo das atribuigdes da CFT nfo sustenta um texto substitutive como Proposto pelo Deputado Mauro Pereira. Esta comissdo ndo trata de politica ambiental ¢ suas ferramentas, a nao ser nos pontos especificos que tiverem relagdo com seu campo temético, Nese quadro, se aprovado 0 parecer do Deputado Mauro Pereira, ele podera ser considerado como nao escrito. Além de ser antirregimental, a proposta do Deputado Mauro Pereira, como vimos, tem diversos problemas juridicos © constitucionais, traz prazos inexequiveis, que poderiam acarretar danos ao erario, deprecia a participacao popular € o controle social do procedimento de licenciamento ando as medidas de controle, mitigacao e ambiental, ¢ abre mao de importantes ferramentas, fragi compensagio. O retrocesso ambiental dessa medida seria imenso, e © Pais perderia em seus objetivos estratégicos ~ como o esforco pela seguranga hidrica -, € no cumprimento de acordos internacionais — como as metas do clima -, com o consequente sofrimento social que resulta da falta de sustentabilidade. Mas as perdas extrapolariam o aspecto socioambiental, pois a inseguranga jurfdica representada por essa proposta é tamanha, que sua vocagio € oposta ao que se pretende. Em vez de superar os gargalos que o licenciamento representa hoje, com agilidade ¢ rapidez, assistirfamos aos processos lentos e dispendiosos impostos pela judicializacio. A proposta para a Lei Geral do Licenciamento Ambiental do Poder Executivo, hoje na Casa ivil, dé resposta a todos esses problemas. Portanto, é necessério que os debates conduzidos pelo governo avancem rumo a uma conclusio consensual, para que tenhamos um projeto que atenda ao conjunto da sociedade, com celeridade, seguranca juridica ¢ protecio ambiental.

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