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Histórias

do Papai Fer
para meninos curiosos
Para eles!
(e ela, a melhor mamãe do mundo)
1
HISTÓRIAS DO PAPAI FER

Uma História de Boiadeiro 3

O Terrível Pirata Barba Negra


e o Tesouro de Cananéia 27

O Jardim dos Sonhos 41

Felisberto e a Invasão Espacial 69

Tá na Hora! 83

O Apavorante Caso do
Monstro do Cobertor 103

O Grande Livro das


Invenções do Papai 115

2
Uma História
de Boiadeiro
Texto e Ilustrações: Papai Fer

3
Foi há muito tempo, por ocasião de uma vaquejada na vila de Formoso
que este causo aconteceu.
Festejava-se então uma colheita boa do milho, naquele ano em que
bem chovera.
Formoso era então um vilarejo ali na encosta de uma chapada azul, e na
beira de um córrego cor de esmeralda, feito de casas miúdas caiadas e
gente trabalhadeira. Telhados vermelhos e pomares cheios. A vida era
boa em Formoso.
A igreja de uma torre só despontava na pracinha, onde terminava a rua
principal, a do comércio e dos negócios de gado.

4
Era natural de Formoso o renomado peão de boiadeiro Mathias dos
Anjos, assim como seu amigo irmão Miguel dos Anjos.
Mathias e Miguel laçavam cavalo bravo, domavam burro teimoso e
tocavam gado de corte, Mathias de ponteiro, Miguel tocando o
berrante. Montavam touro e marcavam bezerro a ferro. Eram
também caçadores de onça pintada e de muita fera feroz, queixada e
cateto, sem medo e com pontaria de precisão. E pescadores de peixe
pequeno e grande, de piau a pintado. A mãe, dona Rosa era orgulhosa
dos filhos, e a melhor cozinheira da região. Fazia de bolo de milho até
leitoa assada, carneiro e fubá, carreteiro e linguiça além de doce de
tudo que era jeito.
Ali na vaquejada os dois montavam e derrubavam a galope os
novilhos ariscos, agarrando o rabo e forçando a queda do bicho.
5
Da plateia assistia Maria Pia, filha do poderoso Sinhô Bento, a moça
mais graciosa de Formoso e de todo aquele sertão.
Era por Maria que Mathias montava em seu cavalo, pois a moça lhe
encantara o coração desde que a vira pela primeira vez com seu
vestido branco e vermelho passeando à beira rio. Maria Pia voltara do
colégio e estava em idade de casar. Seu pai, o Sinhô Bento era
homem honrado e bom de coração, e lhe fazia gosto no romance,
pois sabia que Mathias era trabalhador e temente a Deus.
Tinha o Sinhô Bento prometido que se Mathias ganhasse a vaquejada
seria ele o noivo de Maria Pia. Pois Mathias já tinha com seu
companheiro Miguel derrubado os novilhos mais ligeiros dali, e estava
de rosto afogueado e feliz da vida.

6
Foi, pois, no dia Santo de São João, de festa e fogueira, que o dito-cujo
chegou ali. Era um cavaleiro vestido todo de preto, montando um
cavalo preto com arreio prateado. Até o chapéu era preto. O cavalo
tinha o olho vermelho, bufava pelas ventas como se tivesse sempre
pisando em cobra. O homem tinha vista de carcará, olhava a gente de
cima para baixo como se olhasse um preá.
Chegou e foi logo à tribuna onde avistou Maria Pia. Piscou o olho e
sorriu com ouro no dente.
- A Sinhá sai hoje é na minha garupa, disse o abusado.
Maria virou a cara segurando a mão de seu pai e chamando com os
olhos a Mathias.

7
Disse o forasteiro vendo Mathias chegar:
- é você então o melhor desse lugar? Nem tem tamanho para isso.
Mathias enfezado lhe disse logo:
- pois o meu tamanho é bom o bastante para lhe vencer, e se venço
que vosmecê se suma daqui dessas bandas.
Rindo com escárnio, o homem de preto respondeu na bucha:
- pois que se solte o novilho mais rápido daqui e quem o derrubar
primeiro pelo rabo é quem ganha. Se não aceitar dou-me por
ganhador, e ganho também o beijo da moça. Se perco me vou.
E Mathias chamando a Miguel gritou-lhe que soltasse o Voador, um
novilho fumaça bravo feito o trovão, pulador e veloz como o vento.

8
Miguel abriu a porteira berrando:
- Boi lá! Pois vá e lhe mostre irmão meu que com os Anjos ninguém
pode! Derruba o danado!
E saíram os dois em desabalada carreira levantando o poeirão
vermelho, Mathias em seu baio Corisco e o forasteiro no cavalo preto.
Mathias corria pela direita e o outro pela esquerda, o novilho no meio
voando. E quando o forasteiro punha quase que já sua mão no rabo
do novilho, eis que o Voador pula de lado e vendo o quarto traseiro ao
alcance Mathias lhe agarra e num tranco faz o bicho rolar no chão
com grande alvoroço.
O de preto perdendo o equilíbrio com o golpe de braço mal dado cai
de seu cavalo com as fuças no capim ressequido arrastando-se vários
metros pelo chão.
9
Mathias feliz volta-se a todo galope para ver Maria, salta do cavalo e
lhe vai ao encontro entre sorrisos e aplausos de sua mãe, de Miguel,
do Sinhô Bento e de quem havia presenciado a proeza.
Alguém, porém dá um grito alto e sonoro e todos se viram na direção
da capoeira onde haviam arremetido os cavaleiros. O forasteiro de
olho de carcará gritava alto e com raiva. De repente o grito ficou
grave, o homem abaixou-se e se pôs de quatro patas no chão, foi
ficando grande, crescendo, criando chifre, e rabo, e de repente era um
touro grande imenso, todo preto e de cupim avermelhado.

10
Bufando e batendo o pé arremeteu contra a gente do lugar em toda
velocidade e todos saíram correndo. Maria se pôs na frente de seu pai,
Mathias se pôs na frente de Maria e Miguel se pôs na frente de
Mathias. Foi Miguel pois quem levou a cabeçada, e o chifre do touro
bravo lhe rasgou o ventre expondo as tripas e espalhando o sangue
na areia. Mathias correu segurar o amigo, enquanto o touro
abaixando-se levantou Maria e a levou para longe em seu lombo.

11
Levaram Miguel à casa de Sinhô Bento, colocando-o sobre a mesa de
jantar.
Escurecia já e alguém bateu na porta. Era ela, a Morte, a indesejada
das gentes. Vinha buscar Miguel. Disse Mathias a quem a mãe
abraçava-se chorando:
- Pois leve a mim pois é por mim que ele se sacrificou.
No que interferiu o Sinhô Bento que pediu:
- Pois você vai mais é buscar minha filha no quinto dos infernos.
Agora a vida deste justo ninguém leva, pelo menos por agora, que ele
nada fez para merecer essa triste sina.
E virando-se para a Morte lhe propôs:

12
- Enquanto espero minha filha jogamos a vida deste desgraçado às
cartas. Se perco vosmecê o leva. Se ganho leva-me a mim, que sou
velho mas ainda quero ver minha filha antes de morrer.
A Morte fria e sem palavra alguma, assentindo sentou-se à mesa.
Dona Rosa abraçou o filho. Pediu a Nossa Senhora Aparecida,
madrinha de seu filho que o abençoasse e passou-lhe ao pescoço
correntinha e crucifixo. Sinhô Bento deu-lhe uma moeda e um par de
esporas que fora seu. Miguel sussurrando disse-lhe que levasse seu
berrante que era encantado.
Mathias disse-lhe ao ouvido:
- Pois se aguente que você é cabra macho e Sinhô é jogador que não
se deixa engambelar. Pois hei de voltar e vosmecê será ainda vivente,
esta história não há de se terminar assim.
13
Mathias partiu na noite negra enquanto Sinhô Bento jogava cartas
com a Morte pela vida de Miguel e dona Rosa orava por proteção.
Nosso boiadeiro cavalgou três dias e três noites sem parar. Atravessou
capoeiras e coqueirais, mato pequeno e mato grande, galhudo e
folhudo, campo aberto e mata fechada mesmo de pés de pau altos
que não se via o fim, subiu e desce morros e pirambeiras até chegar
ao Rio das Mortes, numa manhã avermelhada.
Ali um velho e cego barqueiro fazia a travessia a troco de uma moeda.
Em uma barca chata e grande, levava até cavalo por cima do rio, que
era pedregoso e cheio de piranhas.
Dissera-lhe o barqueiro que vira ali passar um cavaleiro todo de preto
com uma moça que chorava à sua garupa.

14
Tendo a certeza do destino de Maria então, Mathias rezou um Salve
Rainha e pagando ao barqueiro com a moeda que ganhara de Sinhô
Bento atravessou à outra margem.
Ali caminhou com Corisco entre espinheiros e viu coisas que não se
via em lugar comum, como uma porca que dava de mamar a pintos,
árvores que cresciam com a raiz para cima e as folhas para baixo da
terra, flores que só davam espinhos e galos que nunca cantavam, e
muitas outras estranhezas tantas.
Ali em uma casa velha e de paredes de pedra rachada veio-lhe ao
encontro o homem de preto, riso cínico na cara, pistola no cinturão.
Perguntou a Mathias:
- Pois chegaste até aqui boiadeiro, e o que queres?

15
E Mathias sem descer do cavalo respondeu:
- Me dê a moça que não foi vontade dela vir, e isso não é coisa que
alguém de um pingo de honra faça. Me dê Maria e me vou, que não
lhe quero e nem lhe farei mal. E ande logo que seu pai a espera.
- Ah pois me dá muito medo, retrucou o danado. Diga aí qual é seu
preço. Sou homem de posses muitas. Deixe a moça aqui comigo e lhe
dou uma fazenda e mil cabeças de gado em cima, olhe lá.
E apontou ao longe além de uma cerca vizinha onde mil bois brancos
pastavam na colina.
- Tudo pode ser seu, repetiu o de preto, gado e fazenda.
Mathias olhou ao céu, olhou bem para a cara do coisa-ruim e
respondeu-lhe:

16
- Pois me olhe bem na cara seu cabra da peste, que eu não sou
homem de me vender a coisa-ruim feito você, tu é um cão sarnento e
sem qualificação. Agora a conversa acabou e vou-me embora, mas
vou com Maria,
E avançou com seu cavalo em direção à casa. Nesse momento surge
Maria a janela gritando seu nome, e Mathias ao olhar não viu o de
preto sacar de sua pistola e dar-lhe um tiro no peito.
Mathias dobrou-se de dor sobre seu cavalo Corisco, que saiu a toda
pelo mato e correu por hora inteira.

17
Quando acordou, Mathias estava caído ao chão, com uma dor no peito
que estava roxo. A cruz que trazia ao peito o havia salvo do tiro. O
chumbo ainda aparecia pregado ao ferro. O boiadeiro rezou
agradecendo a mãe e a Nossa Senhora sua madrinha pelo milagre
acontecido. Corisco descansava ao lado, atento ao dono.
Mathias voltou à Fazenda Velha onde vivia o homem de preto.
Desmontando, ali no pátio chamou:
- Venha se é homem coisa-ruim, seu tiro não me mata que eu tenho
corpo fechado, venha como touro que lhe agarro é pelos chifres.

18
E o touro bravo veio, preto e vermelho cuspindo baba e batendo o pé
no chão. Arremeteu para cima do boiadeiro que lhe saltou ao lombo e
fincou-lhe a espora. O touro pulava e Mathias esporeava, fazendo o
bicho sangrar, e mais furioso ele ficava, mais ele pulava, e mais o
boiadeiro esporeava no meio do poeirão.
Em uma corcoveada de lado, Mathias foi ao chão, mas o touro velho já
sangrava bastante. Chamou Corisco e montando ligeiro tocou o
berrante mágico de Miguel.
Maria ouvindo o berrante, correu fora da casa grande e montou junto
ao seu boiadeiro. O touro furioso disparou atrás de Corisco, Maria e
Mathias que continuava tocando o berrante.

19
Os mil bois que pastavam longe ouviam também e já vinham lá em
disparada. Mathias galopava, o touro preto atrás, e os mil bois brancos
fazendo um tropel no chão que estremecia vinham depois.
Na beira do rio das Mortes, Mathias galopou para dentro do rio, e
Corisco saiu nadando levando o boiadeiro e sua noiva.
O boi preto, sangrando parou mugindo bravo na margem, mas logo
chegou o estouro da boiada branca que o cercou e o empurrou na
água.
As piranhas vieram loucas no boi que sangrava n’água, e o boiadeiro e
o resto da boiada foram passando.

20
Três dias e três noites depois, o povo de Formoso ouvindo um
berrante tocar apareceu na beira da estrada para ver quem era.
Viram que chegavam Mathias e Maria Pia em seu cavalo Corisco,
acompanhados de uma comitiva de mil bois que se perdia no
horizonte.
Os dois correram ao encontro do pai, da mãe e do irmão que jazia
ainda sobre a mesa entre a vida e a morte.
Sinhô Bento ainda sentado às cartas, não ganhara mas tampouco se
deixara vencer pela Indesejada.
Abraçaram-se todos, e Sinhô Bento disse então à Morte:
- Não ganhei e nem perdi mas peço-lhe que leve a mim e não a um
destes. Já vi minha filha e posso ir-me deste mundo.

21
E Mathias retrucou:
- Entreguei uma filha a seu pai, e não é justo que agora fique órfã, e
nem é justo que Miguel se vá pois deu a vida por mim, era eu quem
deveria estar em seu lugar.
E Maria Pia caiu de joelhos rezando, quando a Morte levantava sua
foice antiga sobre a cabeça de Mathias.
Foi então que um anjo do céu apareceu em uma luz muito grande
dizendo:
- Por benção de Nossa Senhora não é hoje que alguém desta casa vá
morrer, pois mostraram que são justos e de coragem. Vão em paz. E
sumiu-se ele, e desapareceu a Morte.

22
Miguel levantou-se sarado e foi uma festança danada.
Teve quadrilha com casamento e fogueira de São João, paçoca, curau
e pamonha, quentão e tapioca, muito bolo e muito doce.
E eu fui na festa e comi demais, ia trazendo uns doces mas na ladeira
do escorrega fui pro chão e rolou-se tudo.

FIM

23
N.A.

Eu havia escrito Uma História de Boiadeiro antes da


vaquejada chegar ao Supremo Tribunal Federal nesses
tempos politicamente corretos e chatos.
Perdão se a história fere sensibilidades mas garanto
que nenhum animal foi maltratado enquanto eu a
escrevia.
Eu via vaquejadas quando morei no Piauí, via boiadas
no Pará, e depois no Mato Grosso do Sul, e o universo
do boiadeiro sempre me fascinou, até por profissão.
Queria fazer uma saga infantil com personagens
sertanejos.
A história é a jornada de um herói boiadeiro. Quase um
Orfeu, atravessando o Estige a buscar sua Eurídice nos
domínios de Hades.
Tem referências a Guimarães Rosa e Ariano Suassuna.
Passagens que lembram o Rapto de Europa, a tentação
de Cristo, e até a lenda do Holandês Voador que
disputa, em seu navio fantasma, a alma com o demônio
num jogo de dados.
E referências musicais também como a Travessia do
Araguaia.
Tem morte, tiro, sangue... Afinal o sertão é para os
bravos, meninos.
Mas é também uma história sobre coragem, honra, fé,
sacrifício e amor. No mundo boiadeiro.

24
Boi do Mathias

25
Boiadeiros

26
O Terrível Pirata Barba
Negra e o Tesouro de
Cananéia

Texto: Vovó Teresa


Ilustrações: papai Fer

27
Há muito tempo atrás, muito antes de os vovôs nascerem, antes de os
vovós dos vovôs dos vovôs dos vovôs dos vovôs nascerem, os moradores
de Cananéia passaram por um grande medo. Foi assim:

Era manhãzinha, o sol estava nascendo lá para os lados do mar e as


pessoas se preparavam para cuidar dos seus afazeres quando alguém,
muito assustado, apontou na direção da Ilha Comprida.

Lá longe, na ponta da trincheira, vinha surgindo uma grande e


assustadora embarcação.

“- meu Deus!”, todos gritavam. “- é um navio pirata, corram para casa!”


No alto do mastro, todos reconheceram a bandeira do terrível pirata
Barba Negra.

28
Os moradores de Cananéia correram para suas casas, morrendo de medo.

O grande navio veio navegando, navegando e lançou âncora no meio do


canal, bem na frente aqui da casa da vovó.

E então, todos viram o malvado Barba Negra subir à proa e gritar bem
alto:

“- povo de Cananéia, quem fala aqui é o Barba Negra, o mais perigoso


pirata de todos os sete mares!”.

“- hoje, até o meio dia, quero que juntem num monte, diante da igreja,
todo o ouro, prata e pedras preciosas que tiverem em suas casas, caso
contrário meus canhões reduzirão a pó esta cidade!”.

Cananéia era uma cidadezinha muito pequena e muito pobre.

29
Sem saber o que fazer, os homens foram se reunir na praça.

Uns diziam:

“- Não temos ouro, nem prata, nem pedras preciosas, só algumas moedas
e uma ou outra jóia de pequeno valor. Como vamos juntar o tesouro que o
malvado Barba Negra quer até o meio dia?”

Outros respondiam:

“ - Mas, se não dermos a ele o que ele quer, ele vai bombardear a cidade!
O que fazer?”

Foi quando um rapazinho lembrou:

“- Tem um navio da marinha inglesa ancorado em Iguape. Posso ir até lá


a cavalo e avisar que barba negra está nos atacando.”

30
“ Muito bem! Corra, faça isso já!” Disse o prefeito, que naquele tempo se
chamava alcaide.

“- Enquanto isso, vamos levar a população para dentro da igrejinha que é


o lugar mais seguro.”

O rapazinho montou no seu cavalo e disparou a galopar para Iguape


avisar o comandante dos ingleses.

Os outros moradores trataram de ir trancar-se dentro da igreja, levando


os poucos objetos de valor e algumas armas que tinham.

Quando deu meio dia, todos estavam reunidos e bem trancados, à espera
do terrível Barba Negra. Não se via ninguém nas ruas.

31
Na hora marcada, um bote lançado do navio pirata, carregado de
marinheiros e trazendo à proa o feroz Barba Negra, aproximou-se da
terra:
“- Moradores de Cananéia, vim buscar o meu butim (quer dizer, tudo
quanto ele podia saquear ou roubar das pessoas). Entreguem tudo
imediatamente ou mando este lugar pelos ares com meus canhões!”.
Dentro da igreja, nem um pio se ouvia.
Mais uma vez o pirata berrou e ninguém respondeu.
De novo o pirata gritou e mais alto e, de novo, ninguém respondeu.
Barba negra, então, ordenou que seus homens desembarcassem, fossem
de casa em casa e pegassem tudo que encontrassem de algum valor.
Depois de algumas horas, os homens tinham juntado tão pouca coisa que
o barba negra ficou furioso.
“- Seus malditos!, urrou ele. “- Pensam que estou brincando, não é? Pois
esperem para ver!”
Ordenando aos seus homens que retornassem ao bote, barba negra
rumou de volta para o navio.

32
E pouco tempo depois, os habitantes de cananéia, tremendo de medo,
olhando pelas frestas da igrejinha, viram quando os piratas começaram a
apontar os canhões para a sua cidadezinha.
De repente, “buuuuuuuummmmmmmm!”, lá veio a primeira bala que
raspou pelo sino e foi rebentar o telhado de uma casa lá atrás.
Logo depois, “buuuuummmmmm!”, outro tiro e mais outro e mais outro e
começaram a aparecer buracos no telhado da igreja.
Vendo que a igrejinha ia ser destruída e todos acabariam morrendo, o
padre sugeriu, então, que hasteassem uma bandeira branca para pedir
uma trégua ao pirata, pelo menos até o final da tarde.
E assim foi feito. Os homens se dirigiram à beira do canal e acenando
com a bandeira branca pediram mais algumas horas para ver o que mais
podiam juntar.
Barba negra, que estava mais interessado no tesouro do que em gastar
suas balas de canhão com aquela gentinha tão pobre, resolveu esperar.

33
Vendo que a igrejinha ia ser destruída e todos acabariam morrendo, o
padre sugeriu, então, que hasteassem uma bandeira branca para pedir
uma trégua ao pirata, pelo menos até o final da tarde.

E assim foi feito. Os homens se dirigiram à beira do canal e acenando


com a bandeira branca pediram mais algumas horas para ver o que mais
podiam juntar.

Barba Negra, que estava mais interessado no tesouro do que em gastar


suas balas de canhão com aquela gentinha tão pobre, resolveu esperar.

O padre e as mulheres começaram então a rezar para que o rapazinho


que tinha ido avisar os ingleses tivesse conseguido cumprir sua missão.

Mais um tempo se passou e nada dos ingleses e nem do rapazinho.

34
As nuvens já estavam ficando cor-de-rosa, e os pássaros já voavam lá
para as bandas do morro de S. João.

As mulheres e as crianças começavam a chorar de medo de que os


canhões do pirata recomeçassem o bombardeio e os homens tratavam de
carregar os seus mosquetões, quando...

Lá na barra surgiu, imponente, um grande navio da marinha inglesa
carregado de canhões. E não era só um navio: lá atrás apontavam mais
dois!!!!!

Os moradores de Cananéia começaram a pular e a dar gritos de alegria.

Os ingleses há muito tempo caçavam o malfeitor Barba Negra que vivia


de aterrorizar e roubar as embarcações que trafegavam pelo mundo.

Quando souberam que ele estava em Cananéia, içaram suas velas e


vieram a toda velocidade.
35
A batalha foi feroz. Os ingleses cercaram o navio de Barba Negra e
começaram a atirar.

Depois, abordaram o navio pirata e lutaram com suas espadas, punhais e


baionetas.

Os piratas foram sendo pouco a pouco derrotados e feitos prisioneiros.


Quando anoiteceu, a luta terminou. O navio de Barba Negra, em chamas,
lentamente afundou no canal.

Mas, os ingleses não tinham conseguido prender Barba Negra. Ele tinha
desaparecido.

36
Os moradores de Cananéia contaram que quando o navio do pirata
começou a afundar, eles viram Barba Negra fugindo no bote com dois dos
seus companheiros, carregando o enorme e pesado baú do tesouro.

Os homens de Cananéia disseram também aos ingleses que os piratas
remaram na direção da Ilha do Bom Abrigo, onde desembarcaram, já
quase no escuro.

Um navio inglês imediatamente saiu em perseguição a Barba Negra até a


Ilha do Bom Abrigo.

O que se passou por lá, ninguém sabe, porque era noite, já.

Alguns moradores juraram ter ouvido tiros e gritos. Contudo, ver mesmo
ninguém viu nada porque, na escuridão, só brilhava a luz do farol.

37
O que se sabe é que no outro dia Cananéia amanheceu em paz.

Não se via mais os navios ingleses e muito menos os piratas.

Aliás, nunca mais apareceram piratas em Cananéia.

FIM

38
N.A.

A História do Pirata de Cananéia a vovó Teresa


contava enquanto convencia as crianças a comerem
tudo no almoço.
Funcionava bem.
E dizem que de fato aconteceu esse episódio em
Cananéia, pelo menos é o que afirmam os
historiadores amadores locais.
Lógico que a vovó dá cores mais vivas a fatos tão
longínquos.
Mas qual é o moleque que não adora uma história com
piratas, canhões e batalhas navais?
Ainda mais vendo o mar da janela e os barcos
passando ao longe.

39
Cananéia

Piratas!

Cananéia by Mathias
40
O Jardim dos Sonhos

Texto e ilustrações: Papai Fer

41
Houve um tempo na Terra onde as flores pararam de
nascer. Tudo estava feio, as árvores mortas, as cidades
cinzas e os rios sujos. As pessoas brigavam muito e a vida
era ruim.
Nenhuma criança que vivia aí sonhava mais. Ninguém
conseguia sonhar.
Mas era uma vez uma menina linda dos cabelos
cacheados chamada Laura.
Laura também não conseguia mais sonhar, e estava muito
triste com isso.
Laura morava em uma casinha à beira de uma estrada
amarela.

42
Um dia ela saiu
para passear na
estrada e foi
andando para
bem longe.
Quando chegou
na beira de uma
lagoa encontrou
um sapinho.
Ela nunca tinha
visto um
sapinho antes e
se assustou com
ele. O sapinho
disse:
- Não se assuste, eu sou um só um sapinho triste.
- Triste porque, você mora aqui sozinho?
- Sim, eu moro aqui sozinho. Faz tempo que não vejo mais
nenhum outro sapo por aqui! Todo mundo sumiu, minha mãe,
meus irmãos, minha lagoa anda muito suja ultimamente.

43
- Eu também
ando triste, não
consigo mais
sonhar. Minha
mãe sempre
cantava para
que eu
dormisse.
Quando ela
cantava eu
sonhava, mas
hoje não
consigo mais.
- Mas eu sou um
sapo cantor
também!
Hoje eu não canto mais de tristeza, mas antigamente eu era
um sapo alegre, estava sempre cantando!
- Que bonito! Nunca tinha conhecido um sapinho cantor.
- Você pode deitar aqui que eu canto para você dormir, quem
sabe você sonha?
O sapinho solitário começou a cantar, croc croc, e Laura foi
ficando com sono, com sono e dormiu ali mesmo.
O sonho de Laura tomou a forma de uma flor azul. Quanto
mais ela dormia, mais a flor crescia.
44
Suas pétalas azuis foram subindo e subindo, crescendo e
crescendo, cada vez mais alto, tomando formas
arredondadas e cada vez maiores.
Quando já tinha crescido tanto, tanto, que não se via nem
o fim, Laura percebeu que no seu sonho as pétalas da flor
azul tinham se transformado em um céu.
Nesse céu começaram a brotar outras cores e outras
formas, todas feitas de sonho.
Apareceram galáxias, estrelas e planetas de todas as
cores. Verdes, amarelos, laranjas, roxos, e no meio de
tudo isso surgiu um planeta azul.

45
Essa Terra azul
tinha um mar
azul, e um céu
azul, e uma
praia tão bonita
que nela
cresceram
todos os tipos
de árvores,
flores e plantas,
que gostavam
do calor do sol
daquela Terra.

E no calor do sol apareceram bichos por toda a Terra. Bichos


que nadavam na água, outros que passeavam pela areia da
praia e outros ainda que gostavam de voar pelo céu azul.

46
Um dia, no meio
da mata
apareceu um
bicho estranho
que ninguém
ainda conhecia.
Um bicho-
homem, um
indiozinho.
Curioso e
esperto, o índio
passava os dias
a descobrir
coisas, ouvindo
os bichos,
tocando as
plantas e
olhando o céu,
as nuvens, o sol.
Se tinha fome ele comia uma fruta, se tinha sono ele dormia
na sombra de uma árvore, depois ele nadava no rio e subia
nas árvores. Ele não parava quieto.
Queria saber tudo, de onde ele vinha e para onde ele ia. Por
isso, ele perguntava a tudo que via quem ele era.
O indiozinho subiu a montanha e perguntou à pedra:
- Eu sou uma pedra igual à você?
A pedra não dizia nada, ficava só parada. Ele pensava, eu não
sou pedra porque me mexo e a pedra só sai daí quando rola
para baixo da montanha.
47
Ele foi até a floresta e perguntou à árvore:
- Eu sou uma árvore igual a você?
A árvore não dizia nada, só balançava no vento. Ele
pensava, eu não sou árvore. Eu cresço como a árvore, mas
eu falo e ela não, a árvore só faz barulho balançando no
vento.
Ele foi até um lago, onde moravam muitos peixinhos. Lá
na beira da lagoa ele ficava assistindo os peixinhos
nadando de lá para cá e de cá para lá. De repente, do
fundo da lagoa apareceu um jacaré e com seu bocão
comeu um dos peixinhos.
O jacaré se afastou e os outros peixinhos continuaram
nadando de lá pra cá, e de cá para lá.
O índio pensou, eu também não sou um peixinho, eu
estou aqui com pena do peixe que o jacaré comeu, mas
os peixes não estão nem ligando, continuam nadando
para lá e para cá.
Ele chegou a pensar que fosse até um macaquinho. Ele
não tinha rabo mas também tinha braços e pernas. Eles
podiam falar também lá na língua dos macacos e comiam
frutas como ele. Mas depois ele pensou melhor:
“O macaco passa o dia subindo e descendo de árvores,
brincando, dormindo ou comendo, mas ele não fica que
nem perguntando quem ele é e o que faz aqui... Também
não sou uma formiga ou um passarinho. O que será que
eu sou?”
E ele continuava procurando e perguntando.

48
Mas na mata morava um monstro horrível, um monstro
que aparecia no escuro da noite, que rugia sem parar, e
que assustava muito nosso indiozinho.
O monstro chamava Fera, era peludo e tinha garras e
dentes enormes, e olhos que soltavam fogo.
Uma noite ele apareceu rugindo e esfomeado, e o índio
assustado correu e correu sem parar.
Durante toda a noite pela floresta ele andou tropeçando
em galhos e pedras, se machucou todo mas conseguiu
fugir e se esconder.

49
Na manhã seguinte ele viu que na frente dele tinha
aparecido uma caixa dourada. Como ele era curioso,
achou que fosse um presente, e foi lá abrir a caixa.
Assim que ele abriu a caixa começaram a sair borboletas
de todas as cores, saíam voando às centenas.
Cada borboleta que saía dava vontade dele fazer uma
coisa diferente, rir, chorar, gritar, pular.
E assim as borboletas continuaram saindo e voando e
saindo e voando e quando ele pensou que estava
acabando saiu a borboleta mais bonita de todas, uma
borboleta de fogo.

50
Ele achou essa
tão bonita que
resolveu sair
correndo atrás
dela.
A borboleta
dizia:
- Vem, vem
comigo! - E
voava.
- Me espera, me
espera! Quem é
você? – Ele
gritava
-Eu sei quem
você é! - Ela
dizia e voava!
-Mas ela voava
para longe cada
vez que ele
chegava perto.

E assim ele foi andando e andando atrás da borboleta, e sem


perceber saiu da floresta onde morava.
Assim andando e procurando a borboleta ele chegou no
meio do deserto, onde só via pedras, cactos e o sol que
esquentava tudo a não mais poder.

51
De repente, em
cima de uma
pedra ele viu
um lagarto
verde, com uma
coroa em cima
da cabeça.
- Quem é você?
– ele perguntou
- Eu sou o Rei
dos Lagartos, o
lagartão falou,
sou eu quem
manda em tudo
aqui! Mando o
sol esquentar,
mando os
cactos
crescerem e
mando as
pedras ficarem
no lugar.
Se você quiser pode mandar um pouquinho também.
O indiozinho pensou mas viu que na verdade o lagarto não
mandava em nada.
- Eu estou procurando uma borboleta, você a viu?
- Uma borboleta? Aqui? Ela pediu permissão? Como que ela
é?
- É uma borboleta de fogo...
- Ah, essa é muito perigosa, você não vai conseguir nunca
pegá-la
- Porque não? - Porque você vai queimar as mãos!
52
O indiozinho já estava ficando aborrecido e com muito
calor nesse deserto. Ele falou:
- Eu vou embora, não há nada para fazer aqui
O lagarto falou:
- Espera, eu te dou aquela pedra ali, você pode mandar
nela! Não vá embora, fique aqui reinando comigo!
- Não quero, quero ver a borboleta e fugir da Fera que
mora na floresta.
O lagarto fez que ficou muito triste mas era mentira,
porque ele já estava arrependido de ter dado a pedra
para o índio reinar.
- Porque você quer achar essa borboleta?
- Porque ela diz que sabe quem eu sou.
- Ah mas isso eu também sei.
- Sabe mesmo?
- Você é um bicho homem, tem um monte igual lá na
cidade!
- Tem mesmo?? Então eu vou para lá!
- Mas lá eles só dão importância a reis que nem eu, você
não pode ir assim... Melhor ficar aqui onde eu deixo você
mandar um pouquinho.
- Obrigado, mas vou lá para a cidade mesmo! Bom
reinado aqui na sua terra!
- Se você ficar rico e importante eu vou lá te visitar... -
ainda falou o Rei dos lagartos.
Mas o índiozinho já estava indo embora largando o
lagartão falando sozinho.

53
Ele ainda andou
muito tempo,
atravessou rios
e campos para
chegar na
cidade onde
moravam
muitos outros
bichos-homem
iguais a ele.
Ele ficou tão
contente de ver
todas aquelas
luzes, os carros,
as torres e os
prédios que
esqueceu da
Fera e da
Borboleta.

Viu muitos outros homens e estava tão contente que


perguntou ao primeiro que viu na rua:
- Eu sou um homem como você?
E o outro respondeu:
- Você? Como eu? Você sabe com quem está falando? Eu sou
o Patrão! O que você sabe fazer?
- Eu não sei, eu como, durmo, nado, corro...
- Então você é um vagabundo que precisa já ir trabalhar!
E o Patrão pôs o indiozinho a trabalhar em uma fábrica
escura e fedorenta, que soltava fumaça pelas chaminés.
54
Ele trabalhou ali muitos anos sem lembrar mais da
floresta, da mata onde tinha nascido e do rio onde
gostava de nadar.
Ele acordava, ia para a fábrica, voltava para casa e ia
dormir.
Até que um dia ele subiu no alto dos telhados, para ver a
cidade de cima, olhar as luzes e os prédios.
Ele olhou para cima e viu acima da feia fumaça, a Lua e as
estrelas brilhando.
Assim, olhando as estrelas ele se lembrou de quando ele
era pequeno e como ele deitava na grama e ficava
olhando o céu, tentando saber quem ele era...
De repente ele avistou lá no céu a sua borboleta, a
borboleta de fogo!

55
Ela foi chegando perto e ficando maior, ficando maior,
ficando maior e quando ela chegou bem perto ele disse:
- Eu me lembro Borboleta, eu vim aqui procurar você!
- Agora vem que eu vou te levar daqui – ela falou.
O indiozinho subiu na borboleta, e voou com ela para as
estrelas.
Era tão bonito lá em cima ! Ele voou e viu a Terra azul lá
longe, passeou no meio das estrelas, encostou a mão na
Lua, viu outros planetas diferentes, planetas com anéis,
estrelas cor de rosa, cometas e outros mundos com
bichos e plantas que ele nem conhecia.

56
Eles passearam muito tempo, e depois voltaram para o
planeta azul.
A borboleta veio voando pelo céu e pousou em cima de
uma nuvem toda branca, como se fosse de algodão.
Nessa nuvem, bem no meio dela existia um jardim
maravilhoso. Um jardim secreto cheio de flores lá no céu.
- Porque paramos aqui? Ele perguntou - É tão bonito!
- Tem alguém que quer te conhecer - a borboleta disse.
- Quem é? Disse o indiozinho, quando ele viu que longe
na nuvem vinha chegando um senhor de barbas muito
brancas, um chapéu engraçado e uma capa vermelha.
- Quem é você?
- Eu sou o Jardineiro dos Sonhos, sou só um amigo seu!

57
Fui eu quem te
mandou a caixa
de borboletas lá
na Floresta, e
eu que pedi à
borboleta de
fogo para te
trazer até aqui!
- Que jardim
bonito que você
tem!
- Toda vez que
eu planto uma
flor uma criança
começa a
sonhar. E toda
vez que uma
criança sonha
uma flor nasce
neste jardim.
Mas eu estou preocupado, meu jardim está desaparecendo.
As crianças pararam de sonhar, e logo logo não haverá mais
flores aqui. Você vai ter que me ajudar a plantar o meu
jardim, mas antes disso tenho outro presente para te dar.
- Nossa, outro presente? Mas o que eu tenho que fazer?
- Esse presente você vai ter que usar para me fazer um favor.
Esse presente é uma espada! – e o Velho tirou da capa uma
linda espada dourada!
- Esta espada é Ascalon, a Espada da Luz. Você sempre quis
saber quem era e eu agora vou te contar.
58
Você é um
homem, não
como os outros,
mas um
guerreiro. A
partir de agora
você será um
Guerreiro da
Luz, e vai se
chamar
Guilherme!
- Eu sou
Guilherme! – o
índiozinho se
admirou,
segurando a
espada mágica.
- Com essa
espada você vai
derrotar a Fera
da Floresta.
No pescoço da Fera há uma chave de ouro que você precisa
pegar.
- Mas a Fera é maior do que eu, tem dentes e garras
enormes!
- Com essa espada você vai conseguir.
- E depois, o que vai acontecer comigo?
- Derrotando a Fera você libertará uma princesa! Juntos
vocês precisam me trazer as sementes que replantarão o meu
jardim!
59
E o índio, agora Guilherme, o Guerreiro da Luz,
adormeceu na nuvem do Jardineiro dos Sonhos. Quando
ele acordou, estava de volta na floresta onde ele tinha
crescido.
Ele sabia que a Fera apareceria quando anoitecesse, e
por isso passou o dia se exercitando com sua espada. Ele
corria, pulava e se exercitava esperando a hora do
combate.
Quando o sol se pôs ele esperou, à sombra de uma
árvore. No meio da noite escura ele escutava o rugido da
Fera e suas pisadas no chão. Quando ela apareceu, ele
estava preparado. Atacou com sua espada e lutou como
um guerreiro de verdade.

60
A Fera vinha e ele a ameaçava com a espada, cortava
fora suas garras. A Fera tentava devorá-lo com seus
dentes, e atingi-lo com seu rabo enorme.
Guilherme lutava, brigava, subia no pescoço da fera e
espetava seu focinho, tentando pegar a chave dourada
que ficava pendurada no pescoço do monstro.
A luta durou uma noite inteira. Guilherme estava
cansado, machucado e cheio de ferimentos da luta
mas não desistia, continuava atacando com sua espada
porque lembrava da promessa que tinha feito lá no
jardim das nuvens.
A luta continuava, mas quando Guilherme viu o Sol
nascer ele decidiu que essa era a hora em que a
batalha teria fim.
Ele segurou Ascalon com as duas mãos apontando
para o céu e gritou
-Eu sou Guilherme, o Guerreiro da Luz! Você não é
nada! - E atacou com sua espada.
-Enquanto o sol subia, Guilherme viu que começava
acontecer uma coisa estranha. A fera começava a
diminuir de tamanho. O sol ia aparecendo e ela
diminuindo, diminuindo, até ficar do tamanho de um
ratinho. A chave caiu do seu pescoço e o ratinho sumiu
entre as pedras.
Guilherme tinha vencido a batalha.
Exausto pelo esforço, ele se sentou à beira de um lago
para descansar. Estava feliz por ter vencido. Olhou a
espada e disse:
- Já não preciso mais de você
E arremessou a espada no lago.

61
Quando ele ia
pegar a chave de
ouro no chão, ele
viu que um
lagarto velho
tinha aparecido e
pego a chave. Ele
reconheceu
aquele como
sendo o Rei dos
Lagartos que ele
vira no deserto há
muitos anos.
- Essa chave é
minha, devolva!
O lagartão riu e
falou:
- É minha, é
minha, eu sou o
Rei, eu que
mando!

Aí, de dentro das águas esverdeadas do lago surgiu uma


princesa, que vinha com a espada que ele tinha acabado de
jogar na mão.
A princesa pôs a espada no pescoço do lagarto que soltou a
chave e saiu correndo para nunca mais aparecer.
- Você conseguiu, ela disse
- Quem é você?
- Sou a princesa Luana. Por causa desse monstro estive presa
este tempo todo neste lago enfeitiçado. Venha comigo que
vou tem mostrar o meu castelo.
62
Guilherme
seguiu a
princesa para
dentro do lago,
e lá, no fundo
das águas
esverdeadas
vivia a princesa
Luana em um
lindo castelo
mágico.
Eles entraram
no castelo e
Guilherme
seguiu Luana
pelas salas e
escadarias do
castelo.
Luana levou Guilherme até uma porta imensa, toda de
madeira onde se viam desenhadas flores e rostos de criança.
A princesa levava nas mãos um saquinho verde que ela
mostrou a Guilherme:
-O que eu tenho aqui nas minhas mãos são sementes.
Sementes de flores e de sonhos. O Jardineiro espera por
elas. Como você me libertou, só nós dois juntos poderemos
entrar por essa porta.

63
Com sua chave, Guilherme abriu a porta mágica e ficou
surpreso quando viu que ela dava no mesmo jardim das
nuvens do Jardineiro dos Sonhos.
O Jardineiro apareceu todo feliz, ele sabia que Guilherme
ia conseguir!
E os três saíram plantando as sementes, regando com a
água da chuva e cuidando das flores que nasciam.
E o jardim das nuvens ficou lindo, todo florido, com
plantas, árvores, riachos com peixinhos. Guilherme,
Luana, o Jardineiro e a Borboleta de fogo viveram ali
felizes para sempre.

64
E quando Laura
acordou, ela viu
que a lagoa
estava toda
florida, as águas
estavam claras e
cheias de
plantas e
bichinhos.
Ela viu o
sapinho todo
alegre
cantando, e de
repente viu
muitos outros
sapinhos
chegando!
Ela perguntou,
- O que aconteceu?
O sapinho coaxando, coaxando, todo feliz falou:
- Você nem sabe, enquanto você dormia começaram a nascer
flores em todos os lados, as árvores ficaram verdes, a minha
lagoa ficou limpinha e todos os meus irmãos e minha mãe e
meu pai voltaram para cá !
E saiu todo feliz, cantando com a família dele.

65
Laura voltou para casa correndo pela estrada que estava
toda florida para ver sua mamãe e seu papai que eram de
quem ela mais gostava no mundo.

FIM

66
N.A.

O Jardim dos Sonhos foi escrito antes do Natal de


2007.
Era um presente para os sobrinhos que tínhamos até
então, Laura, Guilherme e Luana, nossa sobrinha de
coração, filha da Silvana.
É uma odisseia que mistura mitos e referencias
malucas. Desde o hinduísmo (nossa vida é o sonho de
Brama), à caixa de Pandora, Jim Morrison (king of
lizards, a efemeridade do supérfluo), a Dama do Lago
e o Rei Arthur, Charlie Chaplin em Tempos Modernos,
um arquétipo de Papai Noel, a fera interior que todos
derrotamos (inspirada num sci-fi dos anos 50 que se
inspirou na Tempestade de Shakespeare)...
E a borboleta de fogo foi tirada de Monteiro Lobato:
"Somos vítimas de um destino, Rangel,
Nascemos para perseguir a borboleta de fogo.
Se não a pegarmos, seremos infelizes;
E se a pegarmos, lá se nos queimam as mãos."
Realmente não sei o que as crianças acham disso
tudo...
Eu me diverti.
E no fim é uma história sobre vencer medos, seguir
seu caminho, descobrir quem somos, saber o que é
importante e afinal o poder dos sonhos em
transformar a realidade.

67
Jardins de Sonhos

68
Felisberto e
a Invasão Espacial
Texto: Papai Fer
Ilustrações: Mathias

69
Felisberto morava em um sítio muito bonito,
com galinhas, vaquinhas e um trator, lá nas
beiras do riacho do Lambari, na Vila do Mato
Fundo.

70
Certa noite, calma e estrelada, Felisberto
acordou sobressaltado com um barulho, e viu
uma luz muito estranha descendo do céu.

71
Quando ele chegou perto nem acreditou!
Ele viu uma nave espacial em forma de disco
voador, e um bicho verde e esquisito dirigindo
aquele trem doido.

72
O bicho levou um susto danado quando
desceu da nave e viu o Felisberto.
E quando ele falava, parecia uma clarineta
desafinada.
Felisberto não pensou duas vezes, pegou o
estilingue e mandou uma mamona bem na
testa daquele ET maluco.

73
O bicho apitou brabo demais da conta, e
puxou um trabuco prateado que atirou um
raio e fez um pé de pequi bem atrás do
Felisberto virar paçoca.

74
O ET então virou um botão no trabuco e
mandou outro raio, dessa vez em cima do
Felisberto que não teve tempo nem de piscar
os zóio.
De repente, Felisberto tinha ido parar lá
dentro da nave espacial.
Ele e o bicho começaram a brigar para ver
quem pegava o volante do disco voador.

75
Felisberto começou a apertar um monte de
botão na nave, que começou a rodopiar e
soltar raios pra tudo quanto é lado.
Um raio desses acertou bem o galinheiro, e
sabe o que aconteceu?
As galinhas ficaram gigantes e saíram
correndo pela estrada apavorando os
moradores da Vila.

76
A nave começou a dar piruetas no céu, e os
dois tanto fizeram que acabaram se
estabacando no brejo do sítio, e aí, o disco
voador atolou na lama...

77
O ET começou a apitar baixinho, como se
estivesse chorando.
Felisberto ficou com pena e foi buscar o trator
para desatolar a nave.

78
Quando Felisberto finalmente conseguiu
rebocar o disco para fora do brejo, o ET ficou
morto de feliz. Apitava, pulava e mexia os
braços e antenas verdes.
Subiu na nave e deu tchau.
Mas antes de voltar para o espaço sideral, fez
as galinhas do Felisberto voltarem ao normal.

79
Menos uma...
Essa ele acertou com outro raio, e Felisberto e
seus amigos da Vila do Mato Dentro passaram
uma semana todinha comendo o maior frango
assado do mundo!

FIM

80
N.A.

O Mathias gostava de fazer livrinhos


grampeando folhas de papel e fazendo
desenhos nelas.
Um dia eu disse a ele que inventaria uma história
mas que ele teria que fazer os desenhos.
E assim nasceu este clássico da ficção científica
caipira, Felisberto e a Invasão Espacial.
Lembrei de uma vez no Pará onde um caboclo
que morava nos confins da fazenda contou ter
atirado em luzes que vinham do céu.
Se alguém estava em busca de vida inteligente
por aqui se deu mal.
Caipiras e aliens definitivamente não combinam.
Mas a história do Felisberto tem final feliz e
divertido.
Fez sucesso na escolinha do Mathias onde ele
levou a revistinha que fizemos com ela.

81
O autor!

82
Tá na Hora!
Texto: papai Fer
Ilustrações e fotos: papai e internet...

83
Fofucho, o Elefante, estava
pensando na vida,
quando ouviu:
tá na hora!

84
Califa, o Dromedário,
estava andando no deserto,
quando ouviu:
tá na hora!

85
Bigode, o Rato,
estava bem escondidinho
quando ouviu:
tá na hora!

86
Hot Dog, o Cachorro,
estava se sentindo sozinho,
quando ouviu:
tá na hora!

87
O Presidente Obama
estava muito ocupado
fazendo um discurso,
quando ouviu:
tá na hora!
88
O sol já tinha
se posto!

89
Foi Felix, o dorminhoco,
quem avisou
todo mundo:
TÁ NA HORA!

90
Ué,
mas tá na hora de quê?
Todo mundo perguntou na reunião.

91
Tá na hora do
Mathias
vir para a cama!

92
Que o trem dos sonhos
vai chegar!

93
E todo mundo viajou
para a terra dos sonhos...

94
Fofucho, o Elefante,
sonhou que era Tarzan,
o rei das selvas!

95
Califa, o Dromedário,
sonhou que estava numa boa,
na praia,
com muita água!

96
Bigode, o Rato,
sonhou que fazia
um concerto de saxofone.

97
Hot Dog, o Cachorro,
sonhou que estava
fazendo novos amigos.

98
O Presidente Obama
sonhou que conseguira
a paz mundial.

99
E o Mathias
sonhou que era
um Super Herói!

100
E todo mundo
acordou
para um novo dia.

Fim
101
N.A.

O Mathias foi colecionando bichos ao longo de sua


existência...
O elefante, o preferido, foi presente da tia Roberta
logo que ele nasceu. O cachorro veio da vovó Teresa,
o rato do tio Paulinho e da Isa, o Felix da Laura.
Das minhas viagens eu trouxe o dromedário de Dubai,
e um unbelievable Barack Obama de pelúcia que era
vendido na loja de souvenires oficiais ao lado da Casa
Branca em Washington. O Mathias tinha certeza que
eu e o Obama éramos super brothers.
E ele dormia com todos na cama...
Fiquei pensando o que esses bichos, um nada a ver
com o outro, conversariam enquanto ele dormia.
Saiu essa histtorinha bonitinha.

102
O Apavorante Caso
do Monstro do Cobertor!

Texto e fotos: Papai Fer

103
Era o fim de uma tarde escura de
tempestade...

O vento zunia e a chuva caia entre


relâmpagos lá fora.

104
Andrezinho brincava distraído com a
mamãe.

105
Mas de repente, um uivo assustador corta o
silêncio da sala...

- Mamãe, o que é isso?

Perguntou André assustado procurando


colo.

106
Não, não pode ser...

É mais um ataque do apavorante Monstro


do Cobertor!!!

Lá vem ele esgueirando-se pelo corredor!

107
- eu vou lutar com ele! disse o Andrezinho
valente.

E pá, dá-lhe pontapé no Monstro!

108
A luta foi feroz, e finalmente o Monstro do
Cobertor cai derrotado.

109
Ah, não era um Monstro...

Era o irmão fazendo graça!

110
Abraça o irmão!

111
E agora para o sofá que a mamãe vai ler
uma história sem sustos.

Fim

112
N.A.

Inventei o Monstro do Cobertor vestindo um cobertor


azul imenso que havia em casa para causar aquela
bagunça com a criançada.
Afinal nada melhor do que lutar contra um Monstro
fofinho agarrando ele e derrubando no chão.
A história foi feita mesmo é para o André, nosso
destemido e briguento bebê que enfrenta com a
mesma valentia bruxas, dragões e monstros divertidos.

113
Na barraca...e subindo em árvore...

114
O Grande Livro
das Invenções
do Papai
115
Engenharia Naval

116
Engenharia Aeronáutica

117
Jipes, tanques e violões

118
A lua numa caixa

Castelo

119
A Fazendinha

O campo de O planeta
batalha perdido

120
O mundo dos Dinossauros

Mr. Freezze's Dinossauro


house

121
Food truck

Pista

Churrasqueira

122
Mega Base de
Operações
Imaginext

Microscópio

123
Jogos inventados

Cavalinho homem
pássaro
Arco e
flecha

124
Pinhatas!
Pinhatas!

Andrezinho quis
pintar o "oio"
Pinhatas!
Pinhatas!
Pinhatas!
Hot Wheels Parking Place

Samurai! Massinha velha


(by mamãe)
Making
off
N.A.

Tudo começou quando eu descobri que caixinhas de


cápsulas de Nespresso podiam muito bem virar pistas
de carrinhos Hot Wheels...
Depois disso, descobri a cola quente e o e.v.a.
E descobri que cada caixa de papelão representa um
universo infinito de possibilidades de se transformar.
O Mathias, de feliz presenteado com as invenções
passou a assistente de criação e depois ele mesmo a
inventor.
As invenções faziam enorme sucesso no facebook, e
mais de uma vez recebi elogios de admiradores que eu
nem mesmo conhecia direito.
A escolinha deles, ainda por cima tinha essa tradição
da pinhata. Fazer a pinhata levava meses, desde
pensar o que ia ser, a escolher os materias, fazer o
projeto da consturção, cobrir de papel machê e pintar.
Para mim era uma terapia e uma diversão. E num
tempo de consumismo desvairado, fazer brinquedos
de papelão é uma forma de entreter crianças por horas
a fio e ter brinquedos novos toda semana, gastando
lixo reciclável, cola, papel e e.v.a.
E esse tempo com eles, é priceless.

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