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Avaliagao funcional como 10 ferramenta norteadora da pratica clinica ASSUNTOS DO CAPITULO Ue Rae Nite CUBE Ria} eure Oe cerac Definigao de avaliagao funcional. Objetivos da avaliagao funcional na clinica. Etapas da avaliagao funcional. Elementos da avaliagio funcional. Vevey Elementos “suplementares” para planejar a intervengao. Avaliagio funcional ¢ a identificagio das rela- gies de dependéncia entre as respostas de um organismo, o contex- to em que ocorrem (condigées Avaliagao funcional éaferramenta antece- pela qual o cl: nico analitico- dentes), seus efeitos eet no mundo (eventos terprota a dinamic de funcionamento do cliente que o levou a rocurar por terapia que determina ain- ‘tervengao apropria da para modificar as rolagOes comporta- mentais envolvidas na queixa, consequentes) ¢ as operagées motivado- ras em vigor.! Ela é a ferramenta pela qual © dlinico analitico- -comportamental in- texpreta a dindmica de funcionamento do cliente, a qual o levou a procurar por tera- pia, e que determina a intervengio apropria~ da para modificar as relagdes comportamen- tais envolvidas na queixa. Em poucas pala- vras, € a avaliagio funcional que permite a compreensio do caso ¢ que norteia a tomada de decisées clinicas Uma avaliaggo funcional tem quatro objetivos, a saber: 1. identificar 0 comportamento-alvo ¢ as con- digées ambientais que o mantém; 2. determinar a incervengio apropriada; monitorar 0 progresso da intervengio; 4, auxiliar na medida do grau de eficécia ¢ efetividade da intervengio (Follette, Nau- gle ¢ Linnerooth, 1999) > ETAPAS DA AVALIACAO FUNCIONAL A avaliagio funcional de determinado com- portamento pode ser dividida em cinco eta- pas (Pollette, Naugle e Linnerooth, 1999) 106 Borges, Cassas & Cols, 1. Idensificagao das caracteristicas do cliente em wma hierarguia de importancia clinica levantamento das informagies gerais da vida do cliente, tanto presentes quanto passadas, o que inclui a queixa clinica e os possiveis eventos relacionados a ela. 2. Organizagito dessas caracteristicas em prin clpios comportamentais: organizagio das informages coletadas na primeira etapa, a partir das leis do comportamento (apre- sentadas na primeira parte deste livro), em que so identificadas as contingéncias ope- rantes respondentes em vigor. 3. Plancjamento da intervengdo: planejamen- to de uma ou mais intervengées com 0 ob- jetivo de modificar as relagdes comporta- mentais identificadas na etapa anterior 4, Implementasao da intervengao: atuacio elt- nica com o objetivo de modificar as rela- g6cs comportamentais responsdveis pela queixa do cliente, que pode envolver os mais variados processos (reforsamento di ferencial, modelagio, instrugio, etc.) 5. Avaliagao dos resultados: anilise dos resul- tados que as intervengées produziram, 0 que inclui investigar se as novas relagdes comportamentais se manterio no ambien- te cotidiano do cliente. Se os resultados nao forem satisfaté- tins, a avaliagio fun- cional deve ser reini- ciada, A avaliagao funcio- nalde determinado ‘comportamento pode ser divi ‘inco etapas: 1. Identificagao das E caracteristicas do cliente em uma hierarquia de im- portancia clinica; 2, Organizagao des- sas caractorist- ‘cas am principios ‘comportamentais; 3. Planejamento da importante observar que as cta- pas apresentadas aci- ma sio divisées didé- ticas que visam auxi- liar 0 elinico a orga- nizar seu trabalho. Na pratica, essas eta- intervengao;, 4. mplementagéoda PS ocorrem conc’ intervengao;, mitantemente ao lon- 5. Avaliagao dos de tod 10 de todo 0 processo resultados, g Py de anilise, sobretudo porque 0 comportamento é plistico ¢ multi- determinado. Além disso, vale apontar tam- bém que alguma intervensio pode ocorrer nas ctapas iniciais, pois, muitas vezes, nao é possivel interagir com o cliente sem que isso produza certa mudanga. Por exemplo, algu: mas perguntas que o clinico faz com o intuito de levantar informases podem, por si s6, le- var a0 aprimoramento do repertério de auco- conhecimento do cliente > ELEMENTOS DA AVALIAGAO FUNCIONAL Como foi apontado anteriormente, a avalia- ‘io funcional € 0 proceso pelo qual 0 clinico identifica as contingéncias relacionadas & queixa do cliente, sendo que o objetivo final de toda avaliagao funcional é promover o pla- nejamento de uma interven¢io que produza a mudanga comportamental desejada. primeiro elemento a ser identificado em uma avaliacao funcional diz respeito as respostas envolvidas na queixa do cliente. Nesse momento, 0 clinico ainda nao esté buscando pelos determinantes do compor- tamento-alvo, mas apenas descrevendo o que ocorre ¢ como ocorre. Em geral, 0s pro- blemas relativos a essa parte da contingéncia so excessos comportamentais (lavar as mos compulsivamente, por exemplo), déficits comportamentais (falta de habilidades so- ciais, por exemplo) ¢ comportamentos inter- ferentes (dificuldade em iniciar uma intera- io social devido & maneira de se vestir, por exemplo). Em seguida, com base nos varios even- tos relatados pelo cliente ou observados na interagao terapéutica,? o clinico deve levantar hipéteses sobre quais processos comporta~ mentais estdo envolvidos nas respostas-alvo que compdem a queixa, que podem ser refe- rentes a condigées consequentes (reforcamen- to, punigio, extingao, etc.) ¢ antecedentes (disctiminagao, operagio motivadora, equi- valencia de estimulos, etc.). Para isso, 0 pro- fissional precisa identificar regularidades en- we as diversas expeti- éncias narradas pelo cliente ow vivencia- 0 profissional pr se identifica lnrdades ene as iv dwvorsasexpenéne das na interasio tera- cias narradas pelo péutica, sendo que, cliente cuvivencia~ —— uanda. possivel, es. das na interacao eranettice sas relagées identifi- cadas devem ser tes- tadas, confirmando ou nao suas existéncias. Algumas perguntas favorecem o levan tamento de informagées sobre as consequén cias produzidas por determinada resposta, tais como “O que acontece quando voce faz isso?”; “Se voc nao o fizesse, 0 que acontece- tia?”; “Como vocé se sente depois que age desta maneira?”, Outras perguntas contri- buem para a coleta de dados sobre os antece- dentes, tais como “Quando vocé se comporta assim?”; “O que vocé acha que te leva a agit (ou pensar) assim?”; “Como vocé estava se sentindo antes de fazer isso?”. Outros recursos podem ser utilizados além de fazer perguntas, como a observacio direta da interac3o terapéutica a regularida- de (ou sua auséncia) no discurso do cliente. Cabe a0 clinico usar diferentes estratégias para levantar as informagées necessérias para a formulagio da avaliagio funcional. E essencial destacar que todo 0 clinic deve ser versado nos aspectos filosdficos, teé- ticos ¢ empfricos da andlise do comporta- mento. E esse conhecimento que orienta 0 te- rapeuta a formular perguntas, criar hipéteses ¢ elaborar uma intervengao bem-sucedida. > ELEMENTOS “SUPLEMENTARES” PARA PLANEJAR A INTERVENCAO Em geral, a énfase da avaliagéo funcional re- cai sobre o feito especifico e momentaneo de varidveis ambientais sobre determinada classe 107 Clinica analitico-comportamental de respostas— 0 que é designado pela liceracu- rade andlise molecular (Andety, 2010). Toda- via, o clinico deve ampliar a avaliag3o funcio- nal englobando ou- ros aspectos. que favorecem o plancja- mento da interven- O clinica deve ampliar a avaliagao funcional engloban- do outros aspactos que favorecem 0 planejamento da intervengao, como ohistérico de desenvolvimento do problema, « historia de vida do cliente no diretamente relacionada & queixa ea analise molar do funcionamento do clionte. a0, como o histéri- co de desenvolvi- mento do problema, a histéria de vida do cliente nao direta- mente relacionada & queixa ¢ a anilise molar do funciona- mento do cliente. Historica dedesenvolvimentodocomportamento- -alvo: consiste no levantamento de informa- g6es sobre o desenvolvimento do problema, o gue permite ao clinico entender a constitui 80 da queixa e verificar as possiveis estraté- gias que jé foram utilizadas e seus respectivos resultados, Historia de vida do cliente ndo diretamente re- lacionada a queixa: rata-se da coleta de dados (mesmo que breve) acerca da histéria de vida do cliente, © que inclui seu desenvolvimento infantil, adolescéncia, relagGes familiares, re- lagées sociais ¢ culturais, estudo, trabalho, hobbies, etc. Midentificagio dos recursos exis- tentes na vida do cliente pode ser dil para 0 planejamento da intervengio. Andlise molar do funcionamento do cliente: con- siste na avaliagao dos impactos que o problema clinico estd causando no funcionamento glo- bal do cliente. Para o elinico abranger essa am- plitude de analise, ele nao deve se limitar as questées tradicionais como “Quais sio as res- postas que fazem parte da classe?”, “Em que contexto clas acontecem?”, “Quais séo suas consequéncias?”, “Com que frequéncia ocor- rem?”, etc. Apesar da enorme importancia de tais questées, é fundamental incluir perguncas como “De que forma as pessoas reagem aos 108 Borges, Cassas & Cols, comportamentos do cliente, atualmente?”; “O que aconteceria se estes comportamentos mu- dassem?”; “O ambiente cotidiano do cliente pode prover conse- fame tee quéncias reforgadoras possul um repertério ‘comportamental vasto em que aal rapdo de uma Gnica classe de repostas pode afetar todo 0 sistema em diferen- para set novo respon- der”, etc. (Borges, 2009). ‘Todo indivi- duo possui um reper- tério comportame tal vasto em que a al- teragio de uma tinica papel do clinico anal decadamudangaa classe. de_respostas curt, méio e longo prazos. pode afetar todo 0 sistema em diferentes graus, sendo o papel do clinico analisar os efei- tos de cada mudanga a curto, médio ¢ longo prazos. > CONSIDERAGOES FINAIS © dlinico analitico-comportamental analisa os comportamentos funcionalmente, ou seja, examina como as relagées entre o cliente e seu ambiente se constituftam ¢ se mantém, Desse modo, 0 clinico compreende os comporta- mentos-alvo sem emitir julgamentos de valor ¢ sem recorrer a explicacdes metafisicas, pois entende que aqueles comportamentos foram sclecionados na histéria de vida do cliente. © planejamento ¢ implantagio da in tervengio sio passos que stucedem & avaliagio funcional inicial. Nao € aconselhavel fazer qualquer intervengio sem que a primeira cta- pa seja claborada, sob pena de fracasso do processo terapéutico. A intervencio sé deve ocorrer quando se conhecer sobre qual(is) pedago(s) da contingéncia ser4 necessério in- tervir — operagio motivadora, estimulo dis- criminativo, classe de respostas, reforsador, ete. =, ot seja, quando 0 clinico souber qual € © “problema” que ocorte. Este capitulo teve como objetivo explici tar as ecapas do processo clinico, a importan de conduzir a avaliagio funcional ao longo de todo este processo ¢ apresentar os elementos que a compsem. Nos demais capitulos desta se5%0 do livro, o leitor poderd encontrar virios outros aspectos que merecem a atengao do clf- nico analitico-comportamental. > NOTAS 1. Hum longo debate sobre o termo mais apropriado a empregar para se referic a0 processo de identifica- Gio das relagbes de dependéncia entre uma classe de respostas, os estimuls antecedentes ¢ consequentes € as operagées motivadoras. Alguns termes propos tos na literatura ineluem andlise funcional, avalia- fo funcional, avaliagio comporta de contingéncias. Além disso, nio hi consenso sobre as priticas que esses termos representam (cf Neno, 2003: Sturmey, 1996; Ulian, 2007). 2 Um maior aprofundam encontrarse nos demais capitulos desta segio do livro. al ¢ andlise nto de como fazer isso > REFERENCIAS [American Peychiatrie Association. (2002). Manual diagnés: tics ecstatic de trantornos ments (4, ed exto revisado) Porea Alegre: Artmed, Andery, M. A. B.A. (2010). Mécodos de pesquisa em and- lise do comportamento. Picologia USP 21(2), 3133-42. Borges, N. B. (2009). Terapia analtico-comportamental: Da teoria & prétiea clinica. In R, Wiclenska (Org), Sobre comportamento e cognigio (vol. 24, pp. 231-239). Sanco Andeé: ESE'Tee G., Langdon, N. A., & Yarbrough, S, C. (1999), Hypothesisbased intervention for severe problem behavioe InA.C. Repp, & RH. Homer (Orgs). 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