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Avaliação de competências informacionais em formandos


de Arquivologia e Biblioteconomia1

Elaine Sampaio2
Safira Barbosa3
Jussara Borges4

Introdução
Hoje mais que em qualquer época, o conhecimento e a administração
equilibrada dos recursos tecnológicos e informacionais têm sido fator estratégico
indispensável para o desenvolvimento das sociedades. Paradoxalmente, como
resultado da ampla e por vezes desordenada oferta de informações, principalmente
via Internet, surgiram barreiras relacionadas ao seu acesso, tais como o número
ilimitado de fontes e o desconhecimento de mecanismos de filtragem, organização e
mesmo de apropriação da informação.
Neste cenário, a information literacy - neste trabalho traduzida por
“competência informacional” - ganha cada vez mais espaço entre bibliotecários e
arquivistas, particularmente, porque são profissionais que têm a informação como
objeto de trabalho. De forma genérica, a competência informacional está relacionada
à simbiose de conhecimentos, habilidades e atitudes para perceber uma
necessidade de informação, localizá-la rapidamente, avaliar sua pertinência e
qualidade, e aplicá-la adequadamente. Atualmente também tem sido empregada
para designar processos de construção de conhecimento a partir da busca,
utilização e criação de informações. Outro viés do conceito é a aplicabilidade da
informação para resolver questões da vida cotidiana, o que envolve também a
necessidade de reconhecimento e busca da informação para tomada de decisão.
Observa-se na literatura sobre o tema que há uma preocupação em propiciar
o desenvolvimento de competências informacionais no usuário, mas poucas
pesquisas têm se ocupado em saber se o próprio profissional da informação tem
competência informacional. Também há poucos estudos que trabalham com
métodos ou modelos para medir a competência informacional; os trabalhos, em
geral, têm como foco a discussão das habilidades a serem desenvolvidas.
A partir dessa constatação, este estudo se propõe a investigar o
desenvolvimento da competência informacional entre os estudantes formandos da
graduação em Biblioteconomia e Documentação e da graduação em Arquivologia da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), partindo do levantamento dessas
competências e da proposição de um modelo de aferição das mesmas.
O artigo está estruturado em 7 partes. Segue-se à Introdução, a
fundamentação teórica, na qual se analisa o Contexto de emergência da
competência informacional, seus Conceitos e a discussão relativa à Avaliação dessa
competência. Em Procedimentos Metodológicos se explica a estratégia para
alcançar o objetivo e nos Resultados são avaliadas as competências informacionais
desenvolvidas pelos formandos. Por fim, a Conclusão sumariza os principais

1
Versão prévia deste artigo foi apresentada como trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal da
Bahia
2
Bacharel em Biblioteconomia (ICI/UFBA)
3
Bacharel em Arquivologia (ICI/UFBA)
4
Doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Facom/UFBA), Mestre em Ciência da Informação
(ICI/UFBA), Professora Assistente (ICI/UFBA)
2

resultados e sugere caminhos para o aprofundamento dos estudos em competência


informacional.

O contexto de emergência da competência informacional


De acordo com Mueller (2004, p. 31), o trabalho profissional se origina de
necessidades sentidas por toda a sociedade, grupos dentro dela, ou indivíduos
isolados. São essas novas demandas que denunciam a evolução das ciências e
técnicas que têm modificado os perfis profissionais, os conhecimentos e as
habilidades que ontem eram suficientes.
Na área da informação, embora ela desde sempre perpasse todas as
atividades humanas, é a partir do surgimento das novas tecnologias de informação e
comunicação – a união de tecnologias de computação e telecomunicações –, em
especial a Internet, que a informação passa a estar disponível e em grandes
proporções, ocupando papel central nas atividades políticas, econômicas, sociais e
culturais que são a base do funcionamento de uma sociedade (BORGES; SILVA,
2006).
No final dos anos 90 do século XX essa evolução se acelera de forma ainda
mais intensa, o que possibilita o processamento e armazenagem de um volume cada
vez maior de informação, em equipamentos cada vez menores. O usuário se vê
diante de milhares de dados e, no entanto, sua capacidade em achar e escolher
informação relevante ainda é um desafio. De acordo com Tarapanoff e outros (2002)
não poderá haver Sociedade da Informação sem cultura informacional e um dos
principais agravantes da exclusão social é o analfabetismo informacional.
Analfabetismo informacional significa a condição do indivíduo que é incapaz de
buscar informações necessárias à sua vida ou ao seu aprendizado, seja qual for o
assunto ou a necessidade.
Ainda de acordo com Tarapanoff e outros (2002) é necessário que o
profissional da informação seja o mediador entre o mundo digital e a capacidade real
de entendimento do receptor da informação, permitindo a efetiva comunicação e
garantindo a satisfação da necessidade informacional do usuário.
Apesar de novos projetos educacionais terem surgido, ainda não se discutiu
amplamente a implementação de um projeto educacional voltado para a
informação. Isto exige uma transformação nos papéis sociais e profissionais
atuais, no âmbito da comunidade educacional e ante a sociedade
(DUDZIAK, 2003, grifo nosso).
Entre as funções sociais delineadas para o profissional da informação está a
função educativa e de mediação. Educar a si próprio e educar aos outros para a
Sociedade da Informação é um dos grandes desafios para este profissional e um
passo importante para a formação da cultura informacional. Segundo Lins (2008),
uma das causas para transformar a formação tradicional do profissional da
informação em algo que acompanhe as mudanças sociais é o fato de que não só o
ambiente de trabalho está se ampliando, como também o comportamento do usuário
vem se modificando diante das tecnologias. Torna-se necessário, portanto, que o
profissional desenvolva novas competências.
Brandão (1999 apud MIRANDA, 2004) lembra que o significado da palavra
competência vem se ampliando desde o fim da Idade Média. Houve, primeiramente,
um significado jurídico: "faculdade atribuída a alguém ou a uma instituição para
apreciar e julgar certas questões". Mais tarde surgiu uma extensão do conceito:
"reconhecimento social sobre a capacidade de alguém se pronunciar a respeito de
um assunto específico". Atualmente, um conceito muito utilizado é o que define
competência como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
3

correlacionados que afetam parte considerável da atividade de alguém; se relaciona


com o desempenho, pode ser medido segundo padrões preestabelecidos e pode ser
melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento (MIRANDA, 2004).
A competência para Zarifian (2004 apud MIRANDA, 2004), é a colocação de
recursos em ação em uma situação prática. Não somente aqueles recursos que
possuimos ou adquirimos, mas aqueles que sabemos como colocar em ação. É uma
inteligência prática das situações que, apoiando-se em conhecimentos adquiridos,
transforma-os à medida que a diversidade das situações aumenta.
Belluzzo (2005 apud VITORINO, 2007) compreende a competência como
um composto de duas dimensões distintas: a primeira, um domínio de saberes e
habilidades de diversas naturezas que permite a intervenção prática na realidade, e
a segunda, uma visão crítica do alcance das ações e o compromisso com as
necessidades mais concretas que emergem e caracterizam o atual contexto social.
Com o crescente uso do computador como fonte de dados, em 1982 surge o
termo “computer literacy”. Sreenivasulu (1998 apud LINS, 2008), define a expressão
computer literacy como: “uma extensão da alfabetização tradicional, o que exige o
desempenho de atividades no computador com pacotes de softwares, softwares de
biblioteca, base de dados em CD-ROM, base de dados on-line e informações em
rede na Internet”. O computador passou a ser considerado como um instrumento a
ser incluído no processo de uso da informação. Da mesma forma, o conceito de
technology literacy inclui algumas habilidades em computadores como também o
entendimento das inovações em tecnologia da informação, e tomada de decisões a
partir dessas tecnologias, para gerar informações ou produtos.
Nossa compreensão é de que a habilidade com a tecnologia é subjacente à
competência informacional, considerando que a informação vem migrando para o
meio eletrônico. Então, quando falamos em competência informacional já está
embutida nesse conceito a idéia do computer literacy.
[...] Com efeito, o envolvimento da sociedade pelo fenômeno da Informação,
em plena simbiose com as Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICs), determina comportamentos, atitudes e fomenta práticas de
organização e pesquisa da informação, designadamente na Internet, que não
podem ser alheias ao perfil do profissional que, forçosamente, terá de
substituir o tradicional bibliotecário/arquivista/documentalista. (SILVA;
RIBEIRO, 2004, p.1).
Neste cenário, o conceito de competência informacional ganha cada vez
mais espaço e vem adquirindo crescente relevância nos últimos anos, sendo
amplamente discutido não só no âmbito acadêmico, mas também a nível social e
político, devido à necessidade de tratamento, controle e disseminação do crescente
universo de informações produzidas pela sociedade atual.

Competência informacional
Competência informacional é um conjunto de competências que abrangem o
uso da informação de forma que possa ser recuperada e utilizada para tomada de
decisão na vida social, no trabalho, nas pesquisas acadêmicas, entre outros. Sua
definição básica é o reconhecimento da necessidade da informação, além da
habilidade efetiva na localização, avaliação e uso.
Em seu estudo, Miranda (2006) define a competência informacional em três
dimensões sendo relacionadas: ao saber (conhecimentos), ao saber-fazer
(habilidades) e ao saber-agir (atitudes). O sujeito, no seu contexto, utiliza tanto a
razão quanto a sua experiência para construir seu conhecimento. No que diz
respeito às habilidades, relaciona-se à capacidade de aplicar e fazer uso do
4

conhecimento adquirido e/ou a capacidade de buscar em experiências anteriores


informações para solucionar um problema, como também é o conjunto de elementos
adquiridos na prática (procedimentos empíricos) que não podem ser padronizados.
Já as atitudes condizem com os aspectos sociais e afetivos, a preferências e
interesses; para a autora é o sujeito, sua biografia e socialização que determinam o
saber-agir.
Segundo Melo e Araújo (2007), dentre as influências que compõem o conceito
de competência informacional, destacam-se principalmente as que enfatizam a
tecnologia da informação, a cognição e o aprendizado. Quanto à primeira, quando
marcada pela abordagem mecanicista, geralmente comete o deslize de colocar
prioridade no recurso preterindo o usuário, contudo, o uso do computador por si só
não é capaz de resumir a competência informacional. As definições ligadas à
compreensão dos processos cognitivos podem ser consideradas reducionistas e
individualistas quando não consideram o aspecto social do indivíduo. É nesse
contexto que a visão da aprendizagem por toda a vida agrega valor ao conceito de
competência informacional, dando ao usuário o cunho de agente social, que utiliza a
tecnologia da informação.
A American Library Association (2000) estabeleceu parâmetros que indicam
as competências informacionais necessárias para alunos de ensino superior. Essas
competências estão divididas em 5 standards5:
Standard nº 1
O estudante com competência informacional determina a natureza e âmbito
(quantidade) da informação necessária;
Standard nº 2
O estudante com competência em informação acessa eficiente e
eficazmente a informação necessária;
Standard nº 3
O estudante com competência em informação avalia a informação e suas
fontes criticamente e incorpora a informação selecionada em suas bases
de conhecimento e sistemas de valores;
Standard nº 4
O estudante com competência em informação, individualmente ou como
membro de um grupo, usa informação eficazmente para atingir um
propósito específico;
Standard nº 5
O estudante com competência em informação compreende as implicações
econômicas, legais e sociais que cercam o uso das informações,
acessando-as e usando-as ética e legalmente.
No Brasil, a expressão ainda não possui tradução única e regular para a língua
portuguesa. Algumas traduções possíveis seriam: alfabetização informacional,
letramento, literacia, fluência informacional, competência em informação. No caso
desta pesquisa, adotou-se a expressão competência informacional por ser a mais
adequada, em acordo com Dudziak (2003, p.3). Essa autora define competência
informacional como:
[...] o processo contínuo de internalização de fundamentos conceituais,
atitudinais e de habilidades necessário à compreensão e interação
permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a
proporcionar um aprendizado ao longo da vida.
Dudziak (2003) é categórica em dizer que o conceito de competência
informacional está diretamente relacionado às atitudes que facilitam criar e
compartilhar o conhecimento. A competência informacional é um pré-requisito e um

5
Tradução de Maria das Graças Almeida Teixeira - professora do Instituto de Ciência da Informação
(ICI/UFBA).
5

habilitador essencial para o aprendizado ao longo da vida, além de também estar


entrelaçada intimamente com a cidadania participativa.
Após o levantamento, análise e confrontamento das competências
informacionais indicadas pelos diversos autores, buscamos um exercício de síntese,
a partir do qual acreditamos que as competências informacionais podem ser
sumarizadas em:
1) Diagnosticar a necessidade de informação;
2) Pesquisar informações;
3) Analisar e avaliar informações;
4) Aplicar informações;
5) Ensinar a lidar com informação;
6) Organizar, armazenar e recuperar informações.
Essas 6 competências serão retomadas para a pesquisa empírica, conforme
explicitado em Procedimentos Metodológicos.

Avaliação de competências informacionais


Melo e Araújo (2007) explicam que a evolução da competência informacional
nos países desenvolvidos tem se estabelecido não apenas no debate científico, mas
em ações políticas consistentes. Países da Comunidade Comum Européia, Canadá,
Austrália, Estados Unidos e muitos outros já têm compreendido a necessidade de
formar cidadãos para a Sociedade da Informação. Sobre a situação do Brasil as
autoras salientam que:
Este panorama mundial encontra o Brasil ainda tomando conhecimento e
discutindo conceitos de competência informacional, enquanto os países
desenvolvidos já discutem avaliações de programas nacionais. A sociedade
brasileira recebe a cobrança das habilidades (provas do ENEM), mas não
disponibiliza de forma planejada a infra-estrutura necessária para o cidadão
conhecer e utilizar elementos da competência informacional. Estudos nesta
área no Brasil e intervenções para o desenvolvimento da competência
informacional são imprescindíveis para a colocação do país no ranking
mundial de qualificação para a cidadania no contexto da Sociedade de
Informação.
Um caminho importante para o desenvolvimento da competência
informacional, como já vem sendo perseguido por outros países, é desenvolver
parâmetros e indicadores que a avaliem. De acordo com Hatschbach (2002)
avaliação é uma atividade sistemática e contínua, integrada ao processo educativo,
que tem como objetivo proporcionar o maior número de informação para a melhoria
desse processo, reajustando seus objetivos, revisando projetos e programas,
métodos e recursos.
A educação informacional no Brasil é extremamente deficitária, por causa da
falta de investimentos nos docentes e nas estruturas das escolas em todos os níveis.
Grande parte dos estudantes chega ao ensino superior sem ter desenvolvido
habilidades voltadas para se valer dos recursos informacionais. Assim é possível
compreender a importância de se desenvolver indicadores de avaliação das
competências informacionais, a exemplo da proposta deste estudo.
No entanto, quando se busca métodos ou modelos para medir a
competência informacional, pouco se encontra sobre o assunto. Foram localizados
apenas 2 trabalhos em língua portuguesa que se ativeram para a possibilidade de
medir competência informacional: Campello e Abreu (2005), Costa e Rocha (2007).
A primeira pesquisa tem corpus empírico semelhante a este trabalho, com
os alunos de Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais - ECI/UFMG. O objetivo da investigação foi estudar o
6

percurso do aluno de graduação do Curso de Biblioteconomia na realização de


trabalhos acadêmicos, identificando habilidades, atitudes e conhecimentos
relacionados ao desenvolvimento das diversas etapas desse processo. As autoras
descrevem que “os resultados indicam que o futuro bibliotecário não se encontra
suficientemente preparado para desempenhar a tarefa de mediador no processo de
aprendizagem por meio da busca e uso de informação”.
Costa e Rocha (2007) estudaram a ligação de competência informacional
com o aprendizado do uso do computador, verificando isso com pessoas que haviam
passado pelo programa de inclusão digital das Obras Sociais de um bairro em Belo
Horizonte (MG). Os resultados apontam que algumas competências precisam ser
desenvolvidas para capacitar as pessoas em tecnologia e competência em
informação: aprender continuamente, saber manusear fontes de informação, pensar
logicamente, ter capacidade de abstração para solução de problemas, saber como
determinar uma necessidade de informação, saber quando comunicar uma
informação e avaliar criticamente a informação. Foi verificado que 80% dos
pesquisados que fizeram o curso de informática conseguiram acompanhar as
mudanças tecnológicas, mas não desenvolveram todas as habilidades da
competência informacional. Um dos problemas detectado foi a dificuldade em buscar
informações em fontes confiáveis como a consulta em livros ou usar a ajuda do
computador diante de uma dificuldade. Esse resultado demonstra claramente que,
se por um lado, o artefato tecnológico está imbricado na manipulação da informação,
ele não é condição suficiente para a competência informacional.

Procedimentos Metodológicos
Num primeiro momento, foi identificado na literatura o tema competência
informacional quanto: 1) ao conceito; 2) às competências que são apontadas para os
profissionais da informação, e 3) à avaliação de tais competências. Além da
aproximação teórica, o resultado alcançado nessa etapa foi a síntese das
competências desejáveis a um profissional da informação, tendo como base a
análise da literatura e as discussões no grupo de pesquisa. Para cada competência
foram instituídos indicadores que objetivavam verificar se a competência era
observável no pesquisado.

Competência 1: Diagnosticar a necessidade de informação.


Indicadores:
• Percebe que o problema colocado pelo usuário é uma necessidade de informação;
• Procura entender qual o problema do usuário;
• Traduz a necessidade de informação do usuário para uma terminologia de busca.

Competência 2: Pesquisar Informações.


Indicadores:
• Busca as informações necessárias à resolução do problema;
• Escolhe uma fonte de informação ou instrumento de pesquisa;
• Demonstra conhecimento dos mecanismos de busca;
• Utiliza estratégias alternativas de busca, se necessário.

Competência 3: Analisar a avaliar informações.


Indicadores:
• Compreende as informações recuperadas;
• Relaciona as informações umas com as outras;
7

• Avalia as informações quanto à utilidade, à pertinência e à relevância;


• Avalia as informações quanto à confiabilidade, correção e veracidade.

Competência 4: Aplicar informações.


Indicadores:
• Comunica as informações ao usuário de forma compreensível;
• Certifica-se de que o usuário compreendeu a resposta;
• Verifica se o problema de informação do usuário foi resolvido.

Competência 5: Ensinar a lidar com informação.


Indicadores:
• Explica e demonstra todo o processo de busca, seleção, organização e aplicação
da informação;
• Certifica-se de que o usuário compreendeu.

Competência 6: Organizar, armazenar e recuperar informações.


Indicadores:
• Organiza a informação localizada para facilmente recuperá-la;
• Sabe gravar arquivos de diferentes naturezas (textual, numérica, gráfica, sonora);
• Sabe abrir arquivos de diferentes naturezas (textual, numérica, gráfica, sonora).

A segunda etapa trata da pesquisa empírica, de caráter qualitativo e também


quantitativo. Nesta etapa foi aplicado um instrumento de coleta de dados composto
por questões semi-estruturadas que simulavam uma situação de busca de
informação por um usuário fictício, constituindo-se numa avaliação que buscou
medir as competências informacionais dos estudantes. As questões foram colocadas
a 12 formandos do curso de Biblioteconomia e 17 formandos do curso de
Arquivologia. Deve-se registrar que embora o número de formandos em
Biblioteconomia totalizasse 19 indivíduos, não foi possível efetuar o teste com todos.
Portanto, a pesquisa aplica-se a um total de 29 formandos dos cursos oferecidos no
Instituto de Ciência da Informação da UFBA, no segundo semestre de 2008.
Para simular um contexto de busca de informação próximo à realidade de
cada área, o problema inicial colocado pelo usuário fictício era diferenciado. No caso
dos formandos de Arquivologia, o contexto proposto era de um suposto usuário dos
serviços do arquivo técnico de uma empresa têxtil que colocava o seguinte
problema: “Preciso saber se existe e qual é a norma que especifica o uso de
símbolos em etiquetas de roupas”. Já para os formandos de Biblioteconomia
colocava-se a seguinte situação: “Considere que você é bibliotecário em uma
biblioteca pública ou comunitária e uma senhora que se apresenta como lavadeira e
passadeira, coloca o seguinte problema: „Preciso saber quais cuidados com as
roupas tenho de ter ao lavá-las e passá-las‟”. O estudo tem por objetivo caracterizar
a vivência da realidade através da análise e tentativa de solução de problemas da
vida real (GODOY, 1995).
O acervo e as ferramentas disponibilizadas para o pesquisado conduzir a
solução da questão foram os disponíveis na Internet. Ao longo do processo, as
pesquisadoras colocavam novas solicitações, como questionamentos sobre a
validade das informações recuperadas (a fim de observar a competência 3), pedidos
de explicações sobre o processo de busca (a fim de observar a competência 5) e
solicitação para organizar e gravar os resultados (a fim de observar a competência
6). Assim, a partir das competências informacionais sumarizadas com base na
8

análise da literatura, elas foram confrontadas com as respostas produzidas pelos


pesquisados.
É justamente neste momento que começa o ciclo empírico desse trabalho
com base na observação, indução, dedução, verificação e avaliação das atitudes ou
ações demonstradas pelos formandos para resolver o problema de informação do
usuário. A partir disso, para cada indicador foi atribuído o valor “sim”, “parcialmente”
e “não”. O “sim” foi atribuído quando o estudante atendia corretamente aos
indicadores, o “parcialmente” foi assinalado quando o estudante correspondia em
parte ao indicador e o “não” quando os estudantes não conseguiram atender ao
indicador, não demonstrando dominar a competência em questão.
O tratamento dos dados ocorreu através da estruturação das respostas em
um “Quadro de tratamento dos dados” que transformou as opções assinaladas em
números, dando origem aos quadros apresentados nos Resultados.
Deve-se destacar que essa avaliação é de caráter subjetivo, em que a
pesquisadora atribuiu esses valores de acordo com sua própria percepção do
cumprimento/entendimento das questões. Nesse sentido, estamos em acordo com
Setzer (1999, p. 5) quando salienta que:
deve-se estar consciente do fato que, ao calcular a „competência total‟ de
alguém em áreas diversas [...] usando pesos para os vários graus de
competência, é introduzida uma métrica que reduz certa característica
subjetiva humana a uma sombra objetiva daquilo que ela realmente é, e
isso pode conduzir a muitos erros.

Resultados
No Quadro 1 estão indicados os resultados obtidos em todas as 6
competências pesquisadas entre os 29 indivíduos. Na competência 3, no entanto, 2
alunos de Biblioteconomia não conseguiram compreender as informações
localizadas, o que inviabilizou o prosseguimento do levantamento com eles. A partir
da competência 4, portanto, contamos com apenas 27 pesquisados fazendo parte da
amostra.

Quadro 1: Panorama das competências informacionais:


Competências Indicadores Sim Parcialmente Não

Percebe que o problema colocado


pelo usuário é uma necessidade de
necessidade de
Competência 1:
Diagnosticar a

21 4 4
informação
informação

Procura entender qual o problema do


usuário 19 5 5
Traduz a necessidade de informação do
usuário para uma terminologia de busca 29 0 0

Resultado médio da Competência 1 23 3 3


Pesquisar
Competê

Busca as informações necessárias à


informaç
ncia 2:

resolução do problema 27 1 1
ões

Escolhe uma fonte de informação ou


instrumento de pesquisa 29 0 0
9

Demonstra conhecimento dos


mecanismos de busca 25 3 1
Utiliza estratégias alternativas de busca,
se necessário 22 1 6

Resultado médio da Competência 2


25,75 1,25 2
Ensinar a lidar com Aplicar informações Analisar e avaliar informações

Compreende as informações
recuperadas 21 3 5
Competência 3:

Relaciona as informações umas com as


outras 21 3 5

Avalia as informações quanto à


utilidade, à pertinência e à relevância. 20 7 2
Avalia as informações quanto à
confiabilidade, correção e veracidade. 23 4 2

Resultado médio da Competência 3 21,25 4,25 3,5

Comunica as informações ao usuário de


Competência 4:

forma compreensível para ele 23 4 0


Certifica-se de que o usuário
compreendeu a resposta 20 1 6
Verifica se o problema de informação
do usuário foi resolvido 15 3 9
Resultado médio da Competência 3 19,33 2,66 5

Explica e demonstra todo o processo de


Competência 5:

busca, seleção, organização e aplicação


24 3 0
informação

da informação.

Certifica-se que o usuário compreendeu 18 2 7

Resultado médio da Competência 4 21 2,5 3.5

Organiza a informação localizada para


Organizar, armazenar e
recuperar informações

facilmente recuperá-la 17 7 3
Competência 6:

Sabe gravar arquivos de diferentes


naturezas 20 6 1

Sabe abrir arquivos de diferentes


naturezas 23 3 1

Resultado médio da Competência 5 20 5,33 1,66

Fonte: pesquisa das autoras


10

De forma panorâmica podemos verificar que todas as competências foram


desenvolvidas pelos estudantes, embora em níveis diferenciados. Pode-se destacar
as competências 1 e 2, onde respectivamente 23 e 26 pesquisados em média
demonstraram um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para perceber
que o problema colocado pelo usuário fictício tratava-se de uma necessidade de
informação e encaminharam a solução realizando pesquisas. Observa-se, portanto,
que entre as competências informacionais mais desenvolvidas entre os futuros
arquivistas e bibliotecários formados pela UFBA está o domínio das estratégias e
mecanismos de busca e a compreensão de um problema de informação como uma
questão do seu âmbito de responsabilidade.
No entanto, na competência 3, pelo menos para 2 pesquisados, ficou
evidente uma deficiência de leitura e interpretação de textos: não liam a informação
por completo e por sua vez não interpretavam o que estavam lendo. Muitas vezes, a
informação ou alguma pista que solucionava a questão estava diante de seus olhos,
mas não a percebiam. Portanto, 2 profissionais da informação recém saídos da
formação universitária não puderam desempenhar sua função por simplesmente não
compreenderem a informação que encontraram. Para Teixeira (2006, p. 82):
O letramento é condição sine qua non para o desenvolvimento humano
porque, só sendo letrado um indivíduo pode ler, compreender, absorver e
utilizar as informações que contribuem para seu engajamento ou sua
inserção na sociedade.
A competência 3 se apresentou deficiente também entre os estudantes de
Arquivologia. Mas no caso destes, os números mais gritantes são os relacionados à
avaliação da informação: 7 deixaram a desejar quando à avaliação sobre utilidade,
pertinência e relevância da informação recuperada e outros 4 não estavam seguros
quanto à confiabilidade, correção e veracidade da informação que estavam
oferecendo ao usuário. Isso demonstra que existe certo nível de despreparo por
parte desses estudantes, porque se as informações não são compreendidas e
checadas, o usuário corre o risco de obter como resposta à sua necessidade uma
informação pouco confiável. Como afirma Ladner (1996, apud CABRAL, 2002):
Com a imensa popularização da Internet, devido, principalmente, à grande
facilidade de recuperação e exposição de informação, uma grave
conseqüência tornou-se comum: a veracidade e a qualidade dos dados
pesquisados pode não ser o esperado.
Corroborando a reflexão de Ladner, efetivamente, de uma forma geral, os
pesquisados demonstravam destreza com os mecanismos de busca da Internet,
mas raramente avaliaram a informação recuperada espontaneamente. Ou seja,
apenas quando o usuário fictício questionava sobre a confiabilidade daquele
resultado é que eles empregavam critérios de controle, como verificação da
autoridade da fonte ou confrontação entre informações de fontes diferentes.
Referente à comunicação das informações (competência 4), 23 pesquisados
souberam transmitir com eficiência as informações, mas 6 não se preocuparam em
questionar da usuária se as informações haviam sido compreendidas e 9 encerram o
processo de atendimento ao enunciar a resposta, sem esperar o feedback do
usuário. Dentre os pontos que Marchiori (apud SILVA; JAMBEIRO, 2004) salienta
como papel do profissional da informação estão a disseminação das informações
requeridas para o desempenho de distintos usuários; a análise do conteúdo e o
diálogo com o produtor e o consumidor sobre a qualidade da informação e seu
adequado tratamento; o domínio dos dois níveis de linguagem: a terminologia da
fonte ou produtor, e a linguagem para comunicação com o usuário. Aí, portanto, a
relevância da competência 4.
Ao observarmos a competência 5, a situação é muito parecida: o usuário
11

solicita que seja explicado o processo e busca da informação, o profissional o faz


com destreza, mas esquece-se de certificar-se quanto à compreensão do usuário, o
que demonstra baixo nível de interação com o cliente da informação.
Quanto à organização, gravação e recuperação das informações
(competência 6), os estudantes de Biblioteconomia saíram-se proporcionalmente
melhor: 86% dentre os 10 que permaneceram na amostra demonstraram
completamente a competência, contra 66% dos 17 estudantes de Arquivologia.
De fato, se por um lado os melhores resultados para ambos os cursos
encontram-se na competência 2, os piores resultados não encontraram a mesma
coincidência entre os formandos de Arquivologia e Biblioteconomia. Para os futuros
arquivistas, as principais deficiências estão na competência 6, enquanto para os
futuros bibliotecários, a lacuna principal está na competência 4. Assim, embora cada
competência e cada grupo de estudantes tenha recebido uma análise
individualizada, para efeitos deste artigo, nos ateremos aos casos com os resultados
mais díspares: as competências 2, 4 e 6.
A Tabela 1 traz os resultados da competência 2, separando os dados de
estudantes de Arquivologia (total de 17) e de Biblioteconomia (total de 12).
Tabela 1: Competência 2 - Pesquisar informações

Indicadores Sim Parcialment Não


e
A B A B A B
Busca as informações necessárias à 15 12 1 0 1 0
resolução do problema

Escolhe uma fonte de informação ou 17 12 0 0 0 0


instrumento de pesquisa

Demonstra conhecimento dos 13 12 3 0 1 0


mecanismos de busca
Utiliza estratégias alternativas de 15 7 1 0 1 5
busca, se necessário.
Média por curso 15 10,75 1,25 0 0,75 1,25

Percentual por curso 88,23% 89,58% 7,35% - 4,41% 10,41%

Fonte: pesquisa das autoras

Na busca da informação, os pesquisados demonstraram ter boa


competência, havendo diferença pouco significativa entre estudantes de
Biblioteconomia e de Arquivologia. Há uma ligeira tendência, no entanto, de os
estudantes de Biblioteconomia demonstrarem mais familiaridade com mecanismos
de busca.
À exceção de 1 estudante de Arquivologia que foi direto ao site da ABNT,
todos demais escolheram o site de busca do Google como ferramenta de busca.
Dois alunos de Biblioteconomia ainda mencionaram que a busca poderia ser feita
também em outras fontes como, por exemplo, livros e periódicos. Questionados
sobre a escolha do Google, as respostas mais freqüentes são: porque se trata do
mecanismo mais utilizado, porque dispõe de um vasto banco de dados e também
por não conhecerem outra ferramenta. Esse é um ponto problemático, já que o ideal
seria uma busca utilizando fontes específicas de informação, a exemplo da ABNT,
que tem uma norma que especifica os símbolos que devem aparecer nas etiquetas
12

de roupas alertando para os cuidados para lavá-las e passá-las. Sobre esses pontos
Cendón (2001) diz que:
Este tamanho [tamanho das bases de dados] é de alta relevância para que
a ferramenta seja considerada boa, já que os recursos informacionais na
Internet só podem ser encontrados em uma pesquisa, se alguma ferramenta
os tiver incluído. Se um motor cobre mais da Web, ele terá maior chance de
conter a informação procurada [...] Embora gigantescas, as bases de dados
de cada motor não são iguais. Assim, para a mesma busca, cada
mecanismo invariavelmente trará bons resultados que outros não
encontraram. Para uma busca ser completa, necessariamente há de se usar
mais de uma ferramenta.
Em relação ao conhecimento dos mecanismos de busca, a maioria (25
pesquisados) demonstrou o domínio nesse quesito, usando termos que buscavam
traduzir e sintetizar a necessidade de informação, como: “cuidados no lavar e
passar”; “simbologia das etiquetas”; “camisa + cuidados + símbolos”. No entanto, 22
pesquisados precisaram empregar estratégias alternativas de busca, pois os termos
usados não estavam remetendo para a resposta apropriada na primeira tentativa.
Em geral, na segunda ou terceira tentativa, a informação requerida foi localizada e
passou-se às demais etapas do atendimento, mas 2 casos merecem menção: 1
estudante de Biblioteconomia acabou “perdendo-se” no site do Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e após mais de 20
minutos desistiu: “Realmente não consegui encontrar a informação das etiquetas,
fiquei devendo isso”; outro colega chegou ao site do Mercado Livre em que verificou
algumas informações sobre cuidados com camisas de algodão, leu o conteúdo
dessa página de maneira rápida, não prosseguiu com a busca e afirmou não
conhecer os símbolos na etiqueta, como também não demonstrou interesse em
ajudar a usuária com a informação solicitada.
Os 3 estudantes de Arquivologia que obtiveram resultados parciais no
terceiro indicador, na verdade tiveram dificuldades pela ausência de domínio de
algumas ferramentas do computador, como não conseguir usar adequadamente o
mouse e desconhecer o uso de links de acesso.
Assim, embora o resultado geral dessa competência seja o mais positivo se
comparado com as demais, ficou latente que, ainda, alguns profissionais da
informação saem da universidade sem habilidades básicas no uso do computador -
o que pode atrapalhar, senão inviabilizar sua atuação – e, pior, ainda há os que
deixariam o usuário ir embora sem a informação, embora ela esteja no seu “acervo”,
por falta de competência para localizá-la.
O Quadro 2 apresenta os dados obtidos com os formandos de
Biblioteconomia com relação à Competência 4 (Aplicar Informações). Como já
mencionado, comparativamente às demais competências, essa mostrou-se a menos
desenvolvida entre os futuros bibliotecários.
Quadro 2: Competência 4 - Aplicar informações
Indicadores Sim Parcialmente Não
Comunica as informações ao usuário de forma 9 1 0
compreensível para ele
Certifica-se de que o usuário compreendeu a 6 0 4
resposta
Verifica se o problema de informação do usuário foi 6 0 4
resolvido
Média 7 0,33 2,66
Fonte: pesquisa das autoras
13

Observa-se que em relação à comunicação das informações, a maioria dos


pesquisados (9 respostas) se preocupou em passar as informações de maneira
clara, utilizando uma linguagem informal e se colocando no lugar do usuário
(empatia). Um, no entanto, foi avaliado como parcialmente competente por não se
preocupar em fornecer a informação com cuidado, passando o conteúdo de maneira
rápida.
Quanto a certificar-se da compreensão das respostas, 6 alunos se
preocuparam em questionar se a usuária ainda tinha alguma dúvida, mas 4 alunos
não mostraram interesse em questionar sobre a compreensão das informações. Em
seguida, observamos se os alunos verificavam a resolução do problema da usuária.
As respostas se igualam às anteriores: 6 alunos questionaram se ainda havia
alguma dúvida ou se precisava de mais alguma informação, mas 4 encerraram o
serviço de referência prematuramente. Para Grogan (2001), o processo de
referência é uma seqüência lógica de etapas encadeadas que não se encerra com a
resposta do bibliotecário à questão do usuário, mas sim com a efetiva solução do
problema, por isso “é de boa prática o bibliotecário e o consulente avaliarem juntos o
„produto‟ da pesquisa, e que ambos o aprovem antes de chegar de comum acordo à
conclusão de que o processo foi concluído” (GROGAN, 2001, p. 54)
O Quadro 3 apresenta os dados obtidos com os formandos de Arquivologia
com relação à Competência 6 (Organizar, armazenar e recuperar a informação).
Como já mencionado, comparativamente às demais competências, essa se mostrou
a menos desenvolvida entre os futuros arquivistas.
Quadro 3: Competência 6 – Organizar, armazenar e recuperar a informação.
Indicadores Sim Parcialmente Não
Organiza a informação localizada para facilmente 9 6 2
recuperá-la
Sabe gravar arquivos de diferentes naturezas 11 5 1
(textual, numérica, gráfica, sonora)
Sabe abrir arquivos de diferentes naturezas (textual, 14 2 1
numérica, gráfica, sonora)
Média 11,33 4,33 1,33
Fonte: Pesquisa das autoras.
A organização, a armazenagem e a recuperação da informação são funções
específicas do fazer arquivístico, conforme o inciso IV do artigo 2º da Lei 6.546 que
regulamenta as funções do graduado em Arquivologia. A fim de avaliar essa
competência foi solicitado ao pesquisado que organizasse a informação recuperada
e a gravasse para enviar por correio eletrônico; por fim, perguntou-se como abrir o
arquivo.
Enquanto 9 formandos organizaram as informações salvando-as
adequadamente, outros 6 demonstraram parcialidade na organização, usualmente
porque tinham dificuldades para usar determinadas funções do computador como os
recursos de copiar e colar e a função de seleção de texto. Dois, no entanto, não
demonstraram nenhuma habilidade em organizar as informações recuperadas e o
que enviaram por e-mail não correspondia ao que realmente haviam encontrado na
pesquisa.
Quanto à gravação da informação previamente organizada, 5 demonstraram
a habilidade parcialmente porque salvaram os resultados encontrados, mas depois
não sabiam localizar o documento salvo para anexá-lo ao e-mail. Esses 5 acabaram
localizando depois de algum tempo, mas outro não localizou e acabou desistindo
sem concluir a tarefa. Com o último indicador os formandos se saíram melhor: 14
14

abriram arquivos de diferentes extensões (pdf, html, doc), mas 2 foram avaliados
como parcialmente competentes porque demonstraram dificuldades para localizar o
arquivo enviado pelo seu e-mail. Um não conseguiu abrir o próprio e-mail.
Os resultados da competência 6 demonstraram a centralidade que as
tecnologias de informação e comunicação ocupam no fazer arquivístico e como o
despreparo em manipulá-las compromete a execução de atividades que lhe são
específicas. Como afirmam Silva e Abreu (1997): “As mudanças já instaladas
impõem mudanças conceituais, de mentalidade, de comportamento. [...] impondo-se
uma ampliação de habilidades que vão muito além do registro e da guarda de
documentos.” A evolução se faz necessária e vem se prenunciando há tempos.
Conclusão
Os resultados revelam que os alunos de ambos os cursos estudados, em
sua maioria, possuem as competências indicadas como de responsabilidade do
profissional da informação, assim como desempenham seu papel de mediadores ou
facilitadores da informação. Em contrapartida, os resultados não são uniformes, com
alguns formandos esbarrando em procedimentos básicos como a manipulação das
tecnologias de informação e a inconclusão do processo de referência.
Os pesquisados, em geral, souberam identificar a necessidade de
informação do usuário, apesar de no primeiro momento haver certa resistência de
alguns alunos ao dizer que esse tipo de questionamento é quase impossível de
acontecer em uma biblioteca ou num arquivo. De acordo com Suaiden (1995), no
entanto, a biblioteca pública é uma instituição social, tanto pela amplitude do seu
campo de ação quanto pela diversificação dos seus usuários. Com os arquivos não
é diferente: “Outro não é o papel do arquivista na sociedade contemporânea senão o
de colaborar estreitamente para que os fluxos informacionais na sua área de ação
arquivística se possam dar de forma plena e mais satisfatória possível” (BELLOTTO,
2004).
A segunda competência – pesquisar informações – encontrou os melhores
resultados em ambos os cursos, enquanto a quarta competência - aplicar
informações – e a sexta competência - organizar, armazenar e recuperar a
informação – obtiveram os resultados menos satisfatórios para formandos de
Biblioteconomia e Arquivologia, respectivamente.
Percebe-se que os alunos de Biblioteconomia estiveram mais voltados em
localizar as informações solicitadas e transmitir o que foi encontrado, mas nem
sempre atentaram quanto à compreensão das informações pelo usuário. O papel do
bibliotecário só será completo se o usuário conseguir assimilar o que foi explicado,
podendo realmente resolver seu problema de informação. Já para os futuros
arquivistas faz-se necessário algumas ressalvas acerca das competências 3 e 6: a
análise, a avaliação, a organização, a armazenagem e a recuperação da
informação, embora funções chaves para os arquivistas, ainda não foram
competências completamente desenvolvidas por todos.
Um fato agravante neste estudo é que tivemos dados que indicam que
alguns alunos não desenvolveram competências informacionais. Os dois alunos que
não prosseguiram na pesquisa demonstraram despreparo em relação a
procedimentos básicos para um bibliotecário, como é a formulação de estratégias de
busca: mesmo com a Internet disponível, não conseguiram encontrar a informação.
O profissional da informação não poderia jamais deixar um usuário sem resposta.
Por fim, deve-se deixar claro que se torna indispensável a realização de
estudos mais extensivos, para que os resultados possam servir de parâmetro para
conclusões mais substantivas. Sugere-se para o futuro uma pesquisa que relacione
15

as competências informacionais diretamente com a formação acadêmica de


arquivistas e bibliotecários. Outra proposta é o alargamento da amostra, já que a
extensão trabalhada nesta pesquisa pode ser considerada pequena, ainda que
administrada com uma metodologia rigorosa e criteriosa. De qualquer forma, embora
embrionária, esperamos que nossa pesquisa possa servir de subsídio a futuros
estudos.

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