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Gerson Dudus
Faculdade de Filosofia de Campos/RJ
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora (Macaé/RJ)
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Trabalho apresentado na Sessão de Comunicações – Temas Livres, XXV Congresso Anual em Ciência
da Comunicação, Salvador/BA, 03. setembro.2002.
INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador/BA – 1 a 5 Set 2002
1. Introdução
constitui na integração dos lugares de conhecimento. E essa é uma crença também para
mim. O nome que recebi vem do hebraico ‘gershom’ e significa ‘peregrino, errante,
estrangeiro’. Tornar o nome um destino ou enredo.
2. Justificativa
3. Os conceitos serresianos
“É preciso conceber ou
imaginar como voa e se
desloca Hermes, quando ele
transporta as mensagens que
lhe confiam os deuses – ou
como viajam os anjos. E,
para tanto, descrever os
objetos que se situam entre
as coisas já observadas,
espaços de interferência (...).
Esse deus ou esses anjos
passam no tempo dobrado,
daí surgindo milhões de
conexões. A preposição
‘entre’ sempre me pareceu e
continua parecendo para
mim uma preposição de
importância capital”5
3.1 Hermes
“Estranhamente: do
hermético brota o potencial
de uma verdadeira
comunicação humana”7
Serres descobre que Hermes, este personagem conceitual - como Deleuze, outro filósofo
que admira chamava este tipo de operador – se adeqüa à tarefa que ele quer cumprir:
descompartimentalizar o conhecimento, torná-lo uno e múltiplo, global e local e
singular. Nos seus dizeres, “a ciência não é um conteúdo, mas um modo de circulação.”9
Para Serres, é preciso perceber que todas as coisas estão envolvidas num
outro modo de tempo que não é o geométrico: linear-progressivo (passado,
presente, futuro), ou plano. Ele cita o conceito da física contemporânea do tempo
dobrado. Imagine um lenço estendido de forma plana. Você desenha uns pontos a
distâncias variáveis dentro dele. Há pontos bastante distantes entre si, se você
conservar o lenço esticado. Mas se você amassá-lo aleatoriamente, esses pontos
distantes podem ficar colados um no outro e a distância acaba. O tempo acontece
num espaço topológico e não geométrico , que permite paradas, lacunas, poços,
chaminés de aceleração. O tempo se dobra e se torce.
“(...)qualquer acontecimento da história é multitemporal, remete a algo
passado, contemporâneo e futuro, simultaneamente. Este objeto, esta
circunstância são por conseguinte policrônicos, multitemporais, mostram
um tempo estampado, multiplamente dobrado”10
política, economia, ciência, mito. Antes disso, muito antes, outro Andrade já tinha
começado esta revolução com uma obra estranhíssima, que críticos profetizaram seria
lida apenas 50 anos depois. Souzândrade faz o Guesa Errante na segunda metade do
século XIX – poema que narra a odisséia de um inca pela América Latina, até ser morto
sacrificialmente em Wall Street, pelos operadores da bolsa e os banqueiros, numa língua
que mescla inglês com português, sem rimas e com uma estranha composição. As idéias
modernas circulando já antes na cabeça do maranhense. Uma espécie de profecia sócio-
político-econômica da nossa situação. No ano em que Souzândrade morre, nasce outro
Andrade – Carlos Drummond. Toda uma família Andrade sem laços de sangue se
enlaça na história multitemporal da cultura. Daí a sempre difícil pergunta de onde
começa o modernismo, se é que ele existe.
“O regime das revoluções é, com certeza, apenas aparente. E se por trás
delas ou abaixo desses cortes corressem, percolassem – fluxos lentos e
viscosos?(...)Os terremotos descontínuos resultam de rompimentos
bruscos, não longe das falhas reconhecidas(...)mas embaixo, movimentos
de deslizamentos contínuos, extraordinariamente lentos, explicam esses
rompimentos súbitos(...) e mais embaixo ainda desses movimentos
contínuos, arrastados e tranqüilos, mas inexoráveis, um núcleo de calor
mantém ou carrega os tapetes rolantes.”11
3.2 O Parasita
O ‘parasita’ está sempre ao lado de nossas relações, daí o prefixo ‘para’: sempre
pronto a interceptar, a levar a relação em outra direção. Ele se torna a própria
relação. Ele inventa algo novo, uma nova forma de complexidade. Michel Serres
aponta três operações que o parasita desenvolve no sistema – análise, paralisia e
catálise. Na primeira, o parasita está separado das estações, interceptando
mensagens. Este é o movimento analítico tradicional – observar sem ser observado.
Mas essa operação causa uma interrupção no sistema, suas funções são
perturbadas. É uma paralisia temporária. Então acontece uma mudança, um nível
diferente de funcionamento, de relação. O parasita cataliza essa mudança. O
sistema funciona porque não funciona.
“Systems work because they do not work(...) Given, two stations and
a channel. They exchange messages. If the relation succeeds, it is
perfect, optimum, and immediate; it disappears as a relation(...)
That’s what the parasite is. The channel carries the flow, but it
cannot disappear as a channel, and it breaks the flow, more or
less.(...) There are channels, and thus there must be noise. No
channel without noise.”13
Para Serres, o parasita tem uma função positiva, que é constituir o sistema e
provocar mudança. Eco em sua “Obra Aberta” afirma que a comunicação usual
reduz a informação, porque o que interessa verdadeiramente são as possibilidades
da linguagem no equívoco (ruído) do texto. A obra aberta é poiesis: máquina de
informação. Uma poética funciona no limite do caos , como se fosse o caomos
joyceano, criando a partir desse ruído de fundo - talvez uma reverberação do big-
bang ou nosso músculo cardíaco soando.
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3.3. Anjos
“Os anjos são as mensagens, seu corpo é uma mensagem. Mas o que
opõe os anjos a Hermes é sobretudo sua multiplicidade, sua névoa, seus
turbilhões(...)Imagino que acada anjo corresponda uma preposição. Mas
uma preposição não transporta mensagens, ela indica um conjunto de
caminhos possíveis, no espaço ou no tempo.” 15
Perceber como se tornar anjo modifica a comunicação pode significar uma experiência
única de desopressão intelectual e libertação criativa. E esta criação, produção - poética
da comunicação, é fundamental para confrontar certos desafios contemporâneos. A
amplitude que o conceito ganha, levando a comunicação para a ecosofia - segundo Felix
Guattari, a relação entre a ecologia ambiental, social e cultural - faz dela o fio condutor
de todo conhecimento. Mas vê-se logo que é outra comunicação.
Michel Serres afirma que quando se escreve sobre comunicação, é preciso ter coragem
de chegar até o fim. E declara, sem pieguice nem pudor, que a verdadeira comunicação
entre os homens é o amor.
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Notas
Bibliografia
http://devpsy.lboro.ac.uk/psygroup/sb/parasite.htm
1999
7. _______________ Hermes, uma filosofia das ciências Rio de Janeiro Graal 1990
8. _______________ Luzes, Cinco entrevistas com Bruno Latour São Paulo Unimarco
1999
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