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Maputo
Novembro, 2009
INCENTIVOS INSTITUCIONAIS PARA PRESTAÇÃO DE CONTAS: PARTIDOS
POLÍTICOS VS TRIBUNAL ADMINISTRATIVO (2005 – 2008).
Maputo
05 de Novembro, 2009
ÍNDICE
DECLARAÇÃO .......................................................................................................................... i
DEDICATÓRIA ......................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS............................................................................................................... iii
ABREVIATURAS..................................................................................................................... iv
Gerais: ................................................................................................................................ 5
Específicos: ......................................................................................................................... 5
BIBLIOGRAFIA: ..................................................................................................................... 30
DECLARAÇÃO
Declaro que esta dissertação nunca foi apresentada, na sua essência, para a obtenção de qualquer
grau, e que ela constitui o resultado da minha investigação pessoal, estando indicadas no texto e
nas referências bibliográficas as fontes que utilizei.
O Licenciando
__________________________________
(Teles Henry Soares Ribeiro)
O Supervisor
__________________________________
i
DEDICATÓRIA
ii
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial vai para o meu supervisor Adriano Nuvunga, pelo tempo que
disponibilizou, pela atenção e paciência que dispensou ao supervisionar este trabalho, expresso o
meu muito obrigado.
Aos meus pais Vasco Faustino Ribeiro e Maria Heleonora Alberto Francisco Soares, pelo
carinho, paciência e incentivo moral e material durante todo o período da minha fomação o meu
muito obrigado do tamanho do mundo. De igual modo e pelos mesmos motivos à Tia Lidia
Soares.
Ao dr. Marcelo Mosse em particular e ao Centro de Integridade Pública no geral pelo apoio e
incentivo na conssecução do trabalho.
Aos meus irmãos, Irina Amélia Soares Ribeiro, Hélia Leopoldina Soares Ribeiro, Adelmar
Geisel Soares Ribeiro e Silvia Merícia Soares Ribeiro. A Marinela Flávio Maluleque, Natércia
Meritânia Dias e a Graziele Melannie Dias Ribeiro, obrigado pelo amor, coragem, paciência e
simplicidade com que me ajudaram na preparação do trabalho.
Aos meus amigos e colegas, Ivo José, Aurélio Ribeiro, Cossa Felipe, Monteiro Suege, Grégorio
Soares, Aguinaldo Araújo, Bento Subuhana, Domingos Mandlate, Carlos Marrove, Abdul
Danane, Iussufo Gafur, Lucrécia Lissenga, Ilda Bernardo, Manuel Chidassicua, Dickson Salé,
Emilio Mara, Dilson Chidengo, Albertino, Machava, Albertina Manjama, Nárcia e Telma
Semente, pelos conselhos e ajuda na efectivação do trabalho.
Aos meus familiares e amigos aqui não mencionados que directa ou indirectamente contribuiram
para a produção do presente trabalho, o meu obrigado.
iii
ABREVIATURAS
iv
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
O presente trabalho de fim de curso versa sobre os Incentivos Institucionais para a Prestação de
Contas em Moçambique: Partidos Políticos VS1 Tribunal Administrativo (2005-2008), isto é, na
relação entre os partidos políticos (PP) e o Tribunal Administrativo (TA) no que respeita a
prestação de contas dos fundos que os partidos políticos moçambicanos recebem do Orçamento
do Estado (OE) em virtude do seu assento parlamentar.
Com a assinatura do AGP, criaram-se as condições para o financiamento dos partidos políticos
em Moçambique através dos Trust Funds da Organização das Nações Unidas (ONU). Assim
sendo, foram criados dois Trust Funds, um para ajudar a Renamo, movimento guerrilheiro a
transformar-se em partido político e o outro para apoiar os partidos e candidatos concorrentes às
primeiras eleições num sistema de democracia multipartidária em Moçambique. Porém, estes
dois Trust Funds não tiveram prestação de contas como estipulava o acordo com a ONU.
Volvidos dezasseis anos de paz, foram criadas no país instituições responsáveis pela
transparência na gestão dos fundos públicos. Uma vez que, os partidos políticos moçambicanos
recebem fundos públicos provenientes do Orçamento do Estado em virtude do assento
parlamentar e não têm prestado contas destes fundos na sua íntegra, como o estipula a Lei 7/91
de 23 de Janeiro, que estabelece o quadro legal para a formação e actividade dos partidos
políticos em Moçambique, como deveria ser num sistema democrático. O presente estudo
procura perceber as possíveis razões deste comportamento.
1
A expressão “VS” no presente trabalho é para significar “visa-à-vis” que em inglês mais comum significa
“no que diz respeito à” ou “em relação à”, não tendo deste modo uma significação de confrontação ou choque entre
estas instituições. Definição disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/vis-a-vis>. Acesso: 03 de Março de 2009.
1
1.1. JUSTIFICAÇÃO
2
1.2. PROBLEMA
No que diz respeito ao financiamento político, África fica para trás em relação á outras regiões
do mundo na proporção de países que têm fundos do Orçamento do Estado. Com base numa
pesquisa realizada em 2002, somente 14 estados africanos financiam directamente os partidos
políticos, com ou sem legislação. Estes eram Benim, Burkina Faso, Chade, Egipto, Guiné
Equatorial, Gabão, Malawi, Marrocos, Moçambique, Namíbia, a Seicheles, África do Sul,
Tanzânia e Zimbábue. (IDEA, 2003)2
A ideia do financiamento dos partidos políticos moçambicanos surgiu em 1992 com a criação do
Trust Fund da ONU que visava essencialmente: ajudar a Renamo, movimento guerrilheiro, a
transformar-se em partido político e apoiar os partidos políticos e candidatos concorrentes às
eleições de 1994. Porém, estes dois Trust Funds não tiveram prestação de contas, uma vez que,
como afirma Nuvunga3, não havia tal preocupação, era tempo de conciliação nacional e de
garantir a Paz.
Todavia, desde a primeira legislatura democrática em 1994 já passaram pela AR sete (7)
bancadas. Três (3) em 1994; duas (2) em 1999; e duas (2) em 2004, sendo a Frelimo e a Renamo
os dominadores desta Assembleia e feito um trabalho de exame documental no Notícias e na
Imprensa Nacional, verificou-se que nenhum deles se dignou a informar ao povo moçambican o
2
Uma das conlusões deste estudo apresentado pela IDEA é de que a inexistencia estrutural de principios,
tais como transparência e prestação de contas, em muitos dos países africanos, corrói toda uma estrutra política,
cultural e social.
3
NUVUNGA (2007).
3
que faz com o dinheiro proveniente dos seus impostos, isto é, prestando contas como estipula a
lei4.
Para este efeito, a Constituição da República, impõe no art. 228 (2) que o controlo da Legalidade
dos actos administrativos e a fiscalização da legalidade das despesas públicas seja da
competência do Tribunal Administrativo (TA).
O TA tem tido um papel fundamental dado que o seu parecer é muito claro e tem a coragem
política de denunciar as práticas desviantes que identifica na CGE, incluindo aquelas que
envolvem figuras bem colocadas na classe política. (Mosse 2008)
A título exemplificativo, o relatório do TA sobre a CGE de 2007 refere que houve o seguinte
perfil de falhas na execução Orçamental, algumas das quais escondem actos de corrupção: (i) a
falta de justificativos da parte das despesas realizadas; (ii) a inscrição das despesas em linhas
orçamentais; (iii) aquisição de bens sem a observação das regras de concurso público; (iv)
realização de despesas sem comprovativos; (v) existência de contas bancárias movimentadas sem
o registo dos valores na conta e contratos de pessoal; e (vi) arrendamento e prestação de serviços
sem obediência às normas e procedimentos legais.
Porém, apesar dos avanços que o TA tem vindo a registar, ainda se verificam algumas questões
no seu desempenho, que necessitam de uma problematização, concretamente a fiscalização da
legalidade das despesas públicas.
4
Feita uma vistoria nos Boletins da República de 2005-2009, nas Ia, IIa e IIIa séries, não se encontrou nada
que se assemelhasse à conta dos partidos políticos, Imprensa nacional dias 4 e 11/03/09; Feita uma revisão no dia
13/03/09, na Imprensa nacional, não se encontrou nada que se assemelhasse à conta dos partidos políticos nos
jornais “Noticias” no período 2005-2009;
4
Estado. Esta aparente apatia do TA face a esta situação dos partidos políticos é inquietante uma
vez que este organismo desempenha um papel relevante no tocante a transparência na gestão das
finanças públicas, e é nesta vertente que se irá centrar o presente estudo.
Assim sendo o trabalho assentará nas seguintes dimensões: 1) a falta de prestação de contas por
parte dos partidos políticos; 2) a actuação do TA face a esta ausência de prestação de contas dos
partidos políticos.
Questão de Partida:
Nesta conformidade, apresentamos as seguintes questões de pesquisa:
Gerais:
1) Compreender os incentivos estruturais que movem os partidos políticos na
questão da prestação de contas dos fundos públicos que recebem em virtude da
representação parlamentar;
Específicos:
Discutir os mecanismos de prestação de contas dos partidos políticos dos fundos
provenientes do Orçamento do Estado;
5
Discutir a actuação do Tribunal administrativo, no cumprimento dos princípios
que regem a gestão das finanças públicas;
O estudo é constituído por 7 (sete) capítulos: dos quais no primeiro faz-se a introdução,
apresenta-se a delimitação da abordagem do assunto, a justificação, o problema e os objectivos
do estudo, nomeadamente os objectivos gerais e os específicos.
No sexto capítulo, onde se inicia com a análise e discussão dos resultados da pesquisa, são
apresentadas as práticas tanto dos Partidos Políticos como do Tribunal Administrativo no
processo de prestação de contas destes fundos públicos.
6
No sétimo e último capítulo, apresentam-se a conclusões gerais do trabalho. Sendo que por
último apresentam-se as referências Bibliográficas e a bibliografia.
CAPÍTULO 2: METODOLOGIA
Para elaboração deste trabalho, tomou-se como base os métodos e técnicas de investigação em
pesquisa social. A pesquisa envolveu a combinação dos seguintes passos:
Deste modo, para a realização do trabalho foram usados os seguintes métodos e técnicas:
2.1.1. Abordagem Metodológica: a abordagem metodológica é utilizada para a averiguação de
um determinado fenómeno, objecto de estudo, e sua origem. A abordagem a seguir neste
projecto é a abordagem qualitativa.
7
A abordagem qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados
são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o
instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente.
O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. Este modelo tem por
finalidade a representação dos objectos ou indivíduos e as relações associadas para formulação
de um modelo interactivo. (Silva, 2004)
No presente trabalho o uso desta abordagem é justificado pela finalidade que tem o mesmo, uma
vez que, consistiu basicamente em entrevistas no sentido de perceber o “por quê?” do
comportamento tanto do Tribunal Administrativo como dos Partidos Políticos no que se refere a
prestação de contas dos fundos que os partidos recebem em virtude do seu assento parlamentar.
Assim sendo o mesmo caracterizou-se pela interpretação dos fenómenos (as práticas) e na
atribuição de significados, não necessitando deste modo de métodos e técnicas estatísticas.
2.1.2. Técnicas:
A técnica usada para a prossecução da pesquisa foi a entrevista. As entrevistas podem ter como
objectivo a recolha de informações sobre dados de facto (entrevistas documentais), ou a recolha de
indicações sobre opiniões, atitudes e comportamentos prováveis (entrevistas de opinião). (Silva &
Menezes, 2001)
Quanto aos indivíduos a que se dirigem as entrevistas podem distinguir-se entre: entrevistas com
personalidades, que visam personalidades eminentes ou dirigentes políticos, etc. e entrevistas com o
homem de rua quando o objectivo é conhecer as opiniões de indivíduos vulgares, que sejam tanto quanto
possível representativos da média do grupo a que pertencem. (Silva, 2004)
8
Na efectivação das entrevistas não se seguiu a nenhuma estrutura ou padronização dos
questionários, tendo sido definido somente o tipo de informação a recolher e o local onde seriam
realizadas as entrevistas, procurado com isto dar aos entrevistados espaço para uma maior
elaboração sobre o assunto de modo a retirar toda a informação desejada.
Para as alíneas b) e c) – nos partidos políticos que até hoje se beneficiaram destes fundos
(Frelimo e Renamo);
9
CAPÍTULO 3: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Na área das ciências sociais, onde esse termo é mais tratado, a palavra instituição tende a ser
considerada a partir de dois focos de análise principais, como normas de conduta e como
semelhante a estrutura. Como normas de conduta, o termo instituição diz respeito ao processo de
adopção de normas e de regras de acção, de carácter duradouro, que são desenvolvidas,
socialmente aceitas e legitimadas com o tempo. Neste caso, enfatiza-se o processo de
institucionalização, também denominado desenvolvimento institucional, de normas de
comportamento, por exemplo, de uma colectividade em um dado sistema social ou sociedade. O
segundo foco, como estrutura, compreende a análise de instituições, como organizações ou
agrupamentos de pessoas, que são estruturadas a partir de bases relativamente estáveis, contínuas
e padronizadas de funcionamento, com normas e valores próprios. Sendo assim, as organizações
10
costumam ser concebidas como associações, grupos de pessoas constituídos e organizados para o
atendimento de determinados propósitos e interesses socialmente definidos5.
Scott (1983) citado por Monteiro (1999), define a instituição como um componente do sistema
de relações inter-organizacionais, afectada não apenas por questões técnicas, económicas e
financeiras, mas, também, por factores normativos de interpretação. Esses factores parecem, por
exemplo, ter constituído determinadas lógicas de acção ou racionalidades que, uma vez
institucionalizadas, orientam a acção de indivíduos no sentido de atender aos interesses e aos
objectivos difundidos pelos e nos grupos. Nessa perspectiva, para o referido autor, a estrutura e o
comportamento organizacional tendem a ser preferencialmente condicionados pelo conjunto de
regras, sistemas de crenças e outras redes relacionais que surgem no contexto social. Tais
elementos tanto podem actuar em harmonia, agregando e convergindo esforços, como actuar de
modo divergente, concorrendo entre si. Além disso, as organizações tendem a incorporar alguns
dos aspectos do ambiente, seleccionados como prioritários. A grande parte das oportunidades e
das ameaças identificadas no meio, assim como de métodos, de técnicas, de instrumentos e de
procedimentos técnicos e administrativos adoptados, normalmente não é idealizada e/ou
produzida pela organização, mas sim desenvolvida e disseminada em torno dela, em suas
fronteiras6.
Por sua vez, Macuane (2000) afirma que “a abordagem institucionalista parte do pressuposto de
que as preferências, as escolhas e o comportamento dos actores podem ser entendidos a partir da
análise dos incentivos e constrangimentos institucionais. O facto dos actores possuírem
diferentes preferências abre espaço à competição entre os mesmos, que pode ter efeitos
disruptivos para a interacção. Daí a existência dos constrangimentos institucionais para limitar
esses efeitos disruptivos.”
No caso vertente, a adopção da Constituição de 1990 e o Acordo Geral de Paz em 1992, serviram
de marco para o país na adopção da democracia multipartidária.
11
diferentes organizações na sociedade (Instituição como norma de conduta)7. Uma vez
estabelecidas estas normas, houve a necessidade de dotá-las de uma estrutura, de modo a garantir
a sustentabilidade das mesmas, isto é, criação de organizações ou agrupamentos de pessoas que
com funções diferentes na sociedade agem livremente, porém, condicionados pelas normas
previamente estabelecidas.
Instituições
7
Estas normas de conduta podem ser regras, sistemas de crenças e redes sociais e podem agir tanto de
modo harmonioso, agregando e convergendo esforços, como actuar de modo divergente, concorrendo entre si.
8
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituicao>. Acesso: 19 de Outubro de 2008.
9
Ibidem…
12
Exemplos de instituições:
Transparência
Lindstedt & Naurin (2005) in Nuvunga (2008) notam que o significado literário da transparência
é que “...é possível observar algo, para ver o que se passa [...] a informação esta lá para os que
estão prontos e capazes de procura-la”. Desta maneira, uma organização transparente, por
exemplo, um sistema político é aquele onde seja fácil para qualquer pessoa, externa ou interna,
obter a informação que ele ou ela precisa para tomar decisões ou para formar opiniões. Isto
significa disponibilidade da documentação sobre processos daquela instituição.
Já para Goldsmith (2005) in Nuvunga (2008), transparência significa que “...os cidadãos e a
comunidade empresarial que estão por fora vejam como as instituições políticas trabalham por
dentro [...] deve ser claro para os cidadãos sobre quem é responsável por que acções, isto é, não
deve haver nenhuma dúvida acerca do propósito e conteúdo das políticas públicas.”
Prestação de Contas
13
“A prestação política de contas (political accountability) vai além da geração de dados e
apresentação de argumentos. Além da sua dimensão informacional (de perguntar o que foi feito e
o que será feito) e a dimensão explicativa (apresentar as justificações e de formar julgamentos),
contém elementos de cumprimento (Governar o bom comportamento e punir o mau
comportamento). Isto significa que os actores que exigem a prestação de contas não só „clamem
por acções‟ como também „eventualmente castigam‟ comportamento impróprio.
Consequentemente, as pessoas responsáveis não só dizem o que fizeram e por que o fizeram,
como também pagam pelas consequências das suas acções, incluindo eventuais sanções
negativas (Schedler et al, 1999)”.
Sintetizando, Nuvunga (2008) afirma que, “a noção de prestação de contas tem três
características principais: a informação, justificação e punição ou compensação. Na realidade, a
prestação de contas é bi-direccional, o que significa os próprios eleitores e/ou cidadãos devem
exigir dos líderes (...) a prestação de contas, porque doutra maneira nenhum mecanismo de
prestação de contas será cumprido, independentemente do quão responsável pode ser o governo
ou os políticos que o operam. Uma outra dimensão de prestação de contas é horizontal.
Fukuyama (2005) entende que a prestação de contas horizontal requer que os detentores de
cargos políticos funcionem legal e correctamente ou que respondam no caso de falharem, por
agir desta forma, não só perante os eleitores/cidadãos mas também perante outros oficiais e
instituições de Estado que têm perícia e autoridade legal para monitorá-los.”
14
CAPÍTULO 4: O POR QUÊ DO FINANCIAMENTO PÚBLICO AOS PARTIDOS?
No presente capítulo, far-se-á uma breve apresentação do financiamento público aos partidos
políticos, dos seus objectivos e formas que pode assumir de modo a proporcionar uma maior
compreensão sobre esta problemática. De seguida é apresentado um breve diagnóstico sobre as
formas de financiamento político em África, nomeadamente no Gana e na Zâmbia de modo a
fornecer uma percepção sobre a problemática na região. Por último são apresentados alguns
argumentos dos defensores e dos opositores desta forma de financiamento.
Em tese, o financiamento aos partidos pode ser público ou privado. O foco do presente trabalho é
o financiamento público. O objectivo do financiamento público é democratizar o acesso dos
Partidos ao Poder e igualar as oportunidades de acesso destes aos fundos do Orçamento do
Estado. (Caldas, 2003).
Para Caldas (2003), qualquer grupo que seja representativo da população deve ter acesso a
fundos públicos, e deste modo o financiamento público aos partidos pode assumir as seguintes
formas:
Directo (em dinheiro): pode ser permanente (anual) ou especial para as eleições;
Indirecto (em serviços: uso gratuito de serviços estatais como correio, concessões
públicas (TV ou Rádio), ou isenções de impostos.
15
Em Gana, o financiamento político resume-se somente ao financiamento das campanhas
eleitorais, sendo que existe uma legislação sobre este tipo de financiamento e o órgão
responsável pela execução desta lei é a Comissão Eleitoral do Gana (IDEA, 2003).
De acordo com a legislação, existe uma obrigação para os partidos publicarem as contas; os
partidos políticos têm que revelar todas as contribuições recebidas; os doadores têm a obrigação
de revelar as contribuições feitas; não há um tecto (limite) de contribuição para os partidos
políticos; não há um tecto (limite) específico para um único doador contribuir para os partidos
políticos; não há nenhuma proibição para doações estrangeiras, mas só é permitida se vierem de
Governos e ONG‟s (não indivíduos ou corporações) e é distribuído entre todos partidos pela
CNE; não existe uma proibição em qualquer outro tipo de doações para os partidos políticos; há
uma obrigatoriedade de submeter as contas das despesas das campanhas para serem examinadas
pela CNE, dentro de seis meses depois das eleições; os partidos políticos não recebem o
financiamento público directo (verbas do orçamento), porém recebem o financiamento público
indirecto, que consiste em acesso livre aos mídia, sendo que o critério para a alocação destes
fundos é de tempo igual para todos os partidos (IDEA, 2003).
Por sua vez, na Zâmbia, não há nenhum sistema de regulamentação sobre o financiamento
político, sendo que o partido no poder desfruta de vantagens tendo acesso aos recursos, não
havendo deste modo formas de financiamento público (ECF, 2008)
Uma fonte persistente de conflito durante as eleições é o abuso dos recursos públicos pelos
partidos dirigentes. Os titulares usam transporte estatal e helicópteros de segurança, incluindo
infra-estruturas estatais e para-estatais, para necessidades logísticas e outras necessidades
operacionais para as campanhas. Dinheiro, comida para assistência na seca e incentivos
agrícolas, são geralmente distribuídos como parte da campanha, tirando partido da fome e da
seca que flagelou a região nos últimos anos. (HABASONDA, 2004)
A título de exemplo, foi reportado que todos os veículos e bicicletas, que foram usados durante a
campanha de 2001 em cada uma das 150 circunscrições, vieram de fundos públicos, embora tal
ajuda não tenha sido estendida aos partidos da oposição. O problema foi exacerbado pela
aprovação pelo parlamento de um fundo presidencial, que o presidente tinha a liberdade de
gastar sem qualquer responsabilidade. (Ibidem)
16
Em Moçambique, no que diz respeito ao financiamento aos partidos com assento parlamentar, o
financiamento é directo e anual durante todo o período da legislatura.
Reduz a tentação dos partidos políticos aceitarem “dinheiro interessado,” por qual um
partido se torna desproporcionalmente influenciado por uma minoria de pessoas.
Reduzindo a influência de interesses especiais em um sistema político, são representados
melhor os interesses da maioria.
Por outro lado, os que se opõem10 a este tipo de financiamento fundamentam que este:
Permite o uso impróprio de recursos públicos, isto é, o governo pode gastar grandes
somas de dinheiro com os partidos políticos, em prejuízo de satisfação das necessidades
sociais tais como: pobreza, cuidado médico, nutrição, educação básica, e assim por
diante;
10
Ghana Center for Democratic Development (2005).
17
De igual modo, há o receio de que está forma de financiamento permita que os partidos
no poder se beneficiem em demasia dos recursos do Estado, permitindo desta forma que
haja uma concorrencia desigual;
Alguns partidos poderiam ficar dependentes destes fundos, isto é, depois que eles
receberem fundo de dívida pública, deixarão de buscar novos membros e fundos. Eles já
não sentirão necessidade para executar as actividades deles uma vez que os fundos
serram providos confortavelmente pelo Estado. Este desvanecimento causará um
relaxamento dos partidos o que os fará perder a eficácia e influência;
Os partidos políticos já têm acesso a bastante dinheiro, eles precisam aprender a
administrar o que eles têm melhor e usar isto mais sabiamente. Eles têm a
responsabilidade de ser mais económicos com o dinheiro do público. O melhor modo
para reduzir corrupção na política será minimizar a influência de dinheiro restringindo a
quantia de dinheiro que geralmente flui no sistema político e no sistema eleitoral em
particular.
18
CAPÍTULO 5: QUADRO LEGAL
Este capítulo, apresentará o quadro legal sobre a formação e actividade dos partidos políticos no
concernente ao financiamento público, a lei orgânica do Tribunal Administrativo 5/92, que
determina as suas competências e as leis 13/97, 14/97 e 16/97, que estabelecem o quadro legal
sobre a fiscalização e juntamente algumas das competências que a Constituição atribui a estes
dois organismos.
O artigo 75 (1) da Constituição da República (CRM) estabelece que, no profundo respeito pela
unidade e pelos valores democráticos, os partidos políticos são vinculados aos princípios
consagrados na Constituição e na lei. O artigo 75 (2) determina que na sua formação e na
realização dos seus objectivos, os partidos políticos devem nomeadamente: (i) ter âmbito
nacional; (ii) defender os interesses nacionais; (iii) contribuir para a formação da opinião pública,
em particular sobre as grandes questões nacionais; e (iv) reforçar o espírito patriótico dos
cidadãos e a consolidação da Nação moçambicana.
A Lei 7/91 de 23 de Janeiro, que estabelece o quadro legal para a formação e actividade dos
partidos políticos em Moçambique, no art. 17, os partidos políticos têm como fontes de
financiamento: (a) quotização dos seus membros; (b) doações e legados; (c) verbas inscritas no
Orçamento do Estado; e (d) outras formas de financiamento.
Uma vez que o estudo se centra no financiamento público aos partidos políticos moçambicanos,
este trabalho centra-se na alínea (c) do parágrafo anterior. A mesma lei no art. 20 (1), estabelece
que estas verbas são atribuídas aos partidos políticos proporcionalmente ao número de deputados
eleitos para a Assembleia da República (AR); e no ponto (2) que as regras de prestação de contas
destas verbas serão idênticas às da Administração Pública. De igual modo, a lei também
estabelece que “as contas dos partidos políticos devem ser publicadas no Boletim da República e
num dos jornais de maior divulgação (neste caso o jornal “Noticias”).
19
5.2. COMPETÊNCIAS DO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
O art. 230, da CRM enuncia as competências do TA, nomeadamente: (i) julgar as acções que
tenham por objecto litígios emergentes das relações jurídico-administrativas; (ii) julgar os
recursos contenciosos interpostos das decisões dos órgãos do Estado, dos seus titulares e agentes
e a apreciar as contas do Estado.
De acordo com a Lei 5/92, Lei Orgânica do Tribunal Administrativo, o TA tem um papel central
na análise da Conta Geral do Estado (CGE), o documento final sobre a execução do Orçamento
do Estado. De acordo com a mesma lei, no seu artigo 30, o das competências da 3 a secção – da
fiscalização das despesas públicas e do visto – que no âmbito da fiscalização das despesas
públicas compete ao TA (i) apreciar as contas do Estado; e (ii) julgar as contas dos organismos,
serviços e entidades sujeitas à jurisdição do tribunal.
A lei 13/97, que estabelece o regime jurídico da fiscalização previa das despesas públicas, no art.
2 (âmbito subjectivo da fiscalização previa) dispõe que: estão sujeitos a fiscalização prévia do
TA; a) o Estado e outras entidades públicas, designadamente os serviços e organismos inseridos
no âmbito da Administração Pública Central, Provincial e Local, incluindo os dotados de
autonomia administrativa e ou financeira e personalidade jurídica.
A lei 14/97, que define o regime jurídico da fiscalização sucessiva das despesas públicas, no art.
1 (âmbito da fiscalização sucessiva) estabelece que, estão sujeitos a prestação de contas os
recebedores, tesoureiros, exactores e demais responsáveis, de direito ou de facto, pela gestão das
entidades sujeitas à jurisdição e controlo financeiros do Tribunal Administrativo, qualquer que
seja o grau da sua autonomia, ainda que as suas despesas sejam parcial ou completamente
cobertas por receitas próprias ou que, umas e outras, não constem do Orçamento do Estado.
Por sua vez, no art. 4 (Prestação e Julgamento de Contas) no 1, as contas das entidades sujeitas à
jurisdição e controlo financeiros do Tribunal Administrativo devem dar entrada neste, no prazo
de seis meses, contados a partir da data do termo da gerência.
20
CAPÍTULO 6: AS PRÁTICAS
Neste capítulo far-se-á a apresentação das práticas tanto dos partidos políticos como do Tribunal
Administrativo neste processo de prestação de contas do financiamento público, entrando deste
modo naquilo que é a análise e discussão dos resultados da pesquisa, com base naquilo que
foram as entrevistas.
Afirmou que “nunca receberam uma fiscalização por parte do Tribunal Administrativo e
que o partido não é obrigado a prestar contas ao Tribunal Administrativo mais sim a
DNCP”.
Que “não tem conhecimento de que os partidos políticos devem publicar as suas contas
no jornal de maior circulação e no Boletim da República”.
11
Por indisponibilidade de agenda não foi possível realizar a entrevista.
21
O partido possui um departamento financeiro, que se situa na Av. 25 de Setembro,
Prédio Cardoso, 10o Andar “C”. E que possui um responsável financeiro e um
contabilista (que é ele);
No concernente ao conhecimento ou não das regras de prestação de contas dos
fundos provenientes do Orçamento do Estado conforme se encontra plasmado na lei 7/91,
o entrevistado mostrou conhecimento da necessidade de se prestar contas ao Estado,
mostrando mesmo um comprovativo de que prestam anualmente contas ao Ministério das
finanças, nomeadamente na Direcção Nacional de Contabilidade Pública;
Porém, demonstrou desconhecimento da necessidade de publicação das contas do
partido no jornal de maior circulação, como a lei impõe, limitando-se na afirmação de
que “não tinha conhecimento deste facto e que nunca havia visto nenhum partido a fazê-
lo e nem ninguém a exigi-lo;
Respondendo a questão sobre se não acha que a prestação de contas deste fundo
(publicação de contas) é uma questão prioritária para o combate a corrupção de que tanto
acusa a Frelimo ou por outra que se a Renamo o fizesse, não seria uma forma de mostrar
transparência na gestão distanciando-se da Frelimo? Timba, afirmou que “no seu ponto
de vista, não é ainda altura para que os partidos políticos possam publicar as suas contas
em jornais, pois tratam-se de instituições „especiais‟ e com estratégias próprias e que
convêm não mostrar a público”;
Com isto, “ele não considera esta atitude uma forma de desrespeito ou de
demonstração de superioridade dos partidos ao aparelho institucional ou ao povo,
preferindo considerar uma questão de preservação estratégica”.
Ele afirma que “este fundo não tem direcções ou regras, o que faz com que as
rubricas possam ser diferentes. Sobre a necessidade de se estabelecer uma certa regra ou
padronização das rubricas, de modo a garantir uma maior transparência na gestão deste
fundo, considera que não há necessidade”;
Finalizando, o entrevistado afirma que “ainda ninguém lhes exigiu que
publicassem as contas e que ao seu entender o TA não tem nisto uma questão prioritária”.
22
6.2.3 Direcção Nacional De Contabilidade Pública (DNCP):
Uma vez que os dois partidos afirmam categoricamente que prestam contas a DNCP, houve a
necessidade de me deslocar a esta instituição com o intuito de confirmar este facto. Numa
entrevista no dia 03/07/09, com o Sr. Manuel Matavele, director do departamento de bens e
serviços constatou-se que:
Para o entrevistado, “os partidos políticos não prestam contas, o que eles fazem é
um simples informe sobre o que receberam dos cofres do Estado”;
Ao seu entender “seria prestação de contas, se ao se atribuir este fundo, estivesse
claro como é que estes o deveriam usar e posteriormente no acto de entrega das contas, a
DNCP, tivessem o poder de julgar o cumprimento das regras pelos partidos políticos
como o faz com outras instituições públicas”;
O entrevistado demonstrou não conhecer a lei dos partidos políticos no que se
refere a prestação de contas, porém afirmou que “neste caso quem se deve responsabilizar
pela fiscalização destes é o Tribunal Administrativo”.
Feitas diligências no TA, numa entrevista concedida no dia 2 de Outubro, pela Coordenadora da
secção de Contabilidade e Auditoria Financeira, Sra. Brunina, constatou-se que:
“Tem conhecimento de que é da competência do Tribunal fiscalizar a conta de
todas as entidades abrangidas pelo Orçamento do Estado e que uma vez que os partidos
políticos se beneficiam destes fundos devem ser fiscalizados pelo TA”;
Segundo a entrevistada, “o TA tem como objectivo fiscalizar todas as entidades
que se beneficiam destes fundos mas, devido as limitações financeiras e de recursos
humanos, ainda não é possível abarcar a todas elas, afirmando não conhecer se os
partidos já foram fiscalizados alguma vez ou se fazem ou não parte deste plano”;
Ela preferiu não falar sobre os partidos políticos porque segundo ela “não é da sua
competência falar sobre os mesmos uma vez que se trata de um processo específico e ela
só pode falar de uma maneira generalizada sobre o processo de fiscalização. Afirmando
que só o Secretario Geral é que tinha competência para falar sobre o assunto”.
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Por outro lado, afirma categoricamente que, “os partidos políticos não têm
prestado contas ao Tribunal Administrativo, como o deveriam fazer independentemente
do facto de serem alvo das fiscalizações”;
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CAPÍTULO 7: CONCLUSÃO
Tomando como base a pesquisa realizada, as conclusões que se podem tirar da parte dos partidos
políticos são:
Que a falta de prestação de contas ao TA pode ser justificada pela falta de objectividade da
legislação, que não estabelece claramente qual a entidade responsável pela fiscalização deste
fundo, limitando-se em afirmar que é idêntica a dos órgãos da Administração Pública o que
permite diferentes interpretações sobre o assunto.
Por outro lado, não se justifica a ausência de conhecimento sobre a questão da publicação das
contas, uma vez que se encontra patente na legislação dos Partidos 7/91 e até aos dias de hoje
nenhum dos partidos com assento parlamentar se dignou a fazê-lo.
A capacidade institucional do Tribunal não é das melhores (em termos financeiros e de recursos
humanos), uma vez que segundo a entrevistada, eles têm a noção de que devem fiscalizar os
partidos, mas que não o fazem aos partidos e outras instituições por causa destas limitações.
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no âmbito da Administração Pública Central, Provincial e Local. E uma vez que a lei dos
partidos impõe que a prestação de contas destes é idêntica as das outras entidades da
Administração Pública, os partidos políticos devem ser fiscalizados pelo TA.
No que diz respeito a transparência, e buscando a noção de Lidsted & Naurin citados por
Nuvunga (2008), devido as dificuldades apresentadas pela entrevistada em abordar sobre os
partidos políticos e pela resposta do Secretário-geral, pode-se concluir que a gestão do TA neste
processo não é Transparente.
De um modo geral e respondendo aos objectivos propostos, usando como base o quadro teórico,
concretamente a noção de Institucionalismo apresentada por Macuane 2000, sendo que a análise
central do trabalho recai sobre os incentivos institucionais para a prestação de contas em
Moçambique, pode se concluir que as preferências, escolhas e comportamento dos actores
(Tribunal Administrativo e Partidos políticos) derivam da inexistência de incentivos e
constrangimentos para limitar efeitos disruptivos. Isto deve-se ao facto de a lei 7/91 ser bastante
ambígua e permitir que haja diversas interpretações sobre o financiamento político público, uma
vez que não estabelece quais as regras para o gasto destes fundos e qual a instituição responsável
pela monitoria e fiscalização do gasto destes fundos, assim sendo, não existem incentivos
institucionais que obriguem os partidos políticos a prestar contas e nem para que o TA imponha
que os partidos políticos o façam.
Porém é necessário ressaltar que o facto do processo democrático moçambicano ainda ser jovem
deve ser levado em conta, mais que o mesmo não deve servir de consolo ou justificativa para a
inexistência de mecanismos transparentes na gestão pública, mais sim, deve ser tido como um
desafio, uma vez que, é necessario que cada vez mais se potênciem estes valores e príncipios
(tranparência, prestação de contas, accountability) de modo a que se estabeleçam como normas
de conduta e permitam criar princípios éticos e morais de forma estrutural politica, cultura e
sociedade moçambicana. Para com isto concluir que um dos principais problemas de
Moçambique e de muitos dos países africanos (tal como o avança a citanção no 2) é a inexistencia
estrutural destes principios, o que corrói toda uma estrutra política, cultural e social.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS:
27
MOÇAMBIQUE. Lei no 7/91, de 23 de Janeiro de 1991. Estabelece o Quadro
Jurídico para a Formação e Actividade dos Partidos Políticos. Maputo: I Série – no 4;
28
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO. Parecer Sobre a Conta Geral do Estado de
2007. Maputo, 2008.
Páginas da Internet
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BIBLIOGRAFIA:
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