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No por acaso que perco tempo reivindicando a minha casa como meu espao
domstico por direito. por no conseguir abrir mo dessa responsabilidade sem, por
outro lado, reconhecer o preo que ela me cobra. O preo do tempo, do cansao fsico,
mental. Do cansao em no ter ao menos reconhecida a minha capacidade de me
importar com a minha casa limpa, herdada do hbito de limpar banheiros, cozinha,
quartos, loua, roupas, e evitar ao mximo fazer a comida, que minha me me ensinou.
Ento eu discuti ferozmente com meu marido, quando ele, que nunca tinha pego numa
vassoura antes de se casar, quis rebater os meus mtodos de limpeza conclamando os
mtodos da empregada da casa de sua me, mulher que ele viu trabalhar por mais de
quinze anos. E a minha raiva, necessria para me tirar dessa zona de silenciamento
criativo, da qual Olsen fala brilhantemente com uma tristeza implacvel, juntou-se
raiva dessa mulher imaginria que eu vi meu marido testemunhar por longos anos a
acariciar um cho limpo com um pano mido uma a duas vezes por dia. "Quem ele
para dizer como o cho da minha casa deve ser limpo?!"
E assim, como Olsen reclama em seu ensaio, sobre o ato de criao prprio da
maternidade: " a distrao, no a meditao, que se torna habitual; a interrupo, no
a continuidade...", se eu no posso ao menos sustentar o hbito de decidir como limpar
o cho da minha casa, ainda que eu tenha o companheiro mais disponvel do mundo,
ainda que ele tenha no s pego muitas vezes na vassoura como aprendido a cozinhar
brilhantemente, fazendo que seja ainda mais fcil me esquivar dessa tarefa, sinto-me
perdida. Eu ainda preciso me sentir "dona", responsvel legtima, do mundo domstico
do meu mundo. Ainda que a responsabilidade de escrever o que TENHO que escrever se
choque contra esse papel por causa da falta de tempo.