O caráter primário-exportador significa, fundamentalmente, que as export
ações representam o único meio autônomo de aumento de renda.
Em nenhum momento se indaga da natureza capitalista das economias primár io-exportadoras. Isto gera um atraso com relação à compreensão desse fato. Diferença entre a economia colonial e a economia primário-exportadora: a primeira era subordinada aos interesses da colônia (monopólio) e utilizava trab alho servil, compulsório ou escravo; a segunda era subordinada à demanda externa (periferia subordinada ao centro) e utilizava trabalho assalariado. *O surgimento das economias organizadas com trabalho assalariado deve se r entendido como o nascimento do capitalismo na América Latina. Por organizar-se com trabalho escravo, a plantation estaria prenhe de ir racionalidade. Weber: “maiores gastos e riscos ao se adquirir o trabalhador e pe rca da flexibilidade da economia ao não poder ajustar o emprego à demanda. Era crucial a oferta de escravos a baixo preço para reduzir ao mínimo a imobilização de capital sob esta forma. O escravo sendo incapaz de operar tecnol ogia, tornava necessária a utilização da terra de maneira predatória. É necessár io para tanto cada vez mais terras (deslocamento da fronteira agrícola). Sem est es dois requisitos a plantation perde a condição de existência. A concepção de Weber está viciada pelo formalismo. Abstrai-se ora sua An tiguidade, ora sua Modernidade. Outros (também formalistas) caracterizam as econ omias coloniais a partir da presença de relações sociais servis ou escravistas ( como se escravidão fosse igual a modo de produção escravista, e servidão, a feud alismo). 1.1 Da economia colonial à economia exportadora capitalista Economia colonial em dois setores: um exportador e um produtor de alimen tos. O setor exportador produz, em larga escala, produtos coloniais (açúcar, met ais preciosos,etc.) destinados ao mercado mundial. Este setor pode utilizar mão- de-obra servil, escrava ou produtores independentes. Parte do tempo da mão-de-ob ra pode ser, também, utilizada na produção de subsistência. A economia colonial, altamente especializada e complementar à economia m etropolitana, exporta produtos coloniais e importa produtos manufaturados e escr avos (em alguns casos). Por que o trabalho era servil ou escravo? Para obter produção em larga e scala seria necessário assalariar a força de trabalho. Isso se tornaria muito ca ro, visto que seria necessário compensar a auto-subsistência. Assim, o emprego d o trabalho compulsório era mais rentável. Além disso, o tráfico negreiro abriu u m setor no comércio altamente rentável. Por que o monopólio? O excedente gerado na economia se transferia à burg uesia comercial metropolitana. A exclusividade rebaixava o preço dos produtos co loniais e encarecia os produtos metropolitanos. Além disso havia a tributação (“ economias mineiras”). *Tanto a acumulação de capitais quanto a criação de mercados coloniais foram fat ores essenciais à constituição do capitalismo. *Se o “Antigo Regime” está tanto na Metrópole quanto na colônia, é forçoso admit ir que haja capitalismo na Metrópole e também modo de produção colonial, e també m na colônia existe capitalismo. Há formalmente capitalismo porque a escravidão é escravidão introduzida pelo capital. *Se a economia colonial representa um estímulo ao capitalismo no “período manufa tureiro”, isto leva à revolução industrial. A passagem ao “capitalismo industria l” propõe e estimula a liquidação da economia colonial. *Economia colonial e Capitalismo guardam, a partir de agora, relações contraditó rias. Agora se passa a operar com alimentos e matérias-primas produzidas em ma ssa, porque só produção em massa pode significar preços baixos. Só o trabalho assalariado poderia significar mercados os mais amplos pos síveis e, simultaneamente, produção complementar em massa. =>O capitalismo industrial “propõe” a formação de uma periferia produtor a, em massa, de produtos primários de exportação, mediante trabalho assalariado. Na América Latina, o capitalismo industrial traz consigo o início da cri se das economias coloniais, mas não destrói o trabalho compulsório. Ele em nada afetava a entrada de produtos industriais ingleses, além de a transformação para trabalho livre ser uma decisão nacional. Na Inglaterra: deslocamento do foco da indústria têxtil para a industria de bens de produção. Estimula, em seguida, a exportação de capital (capital mon etário e bens de produção) como “extensão” das relações sociais de produção capi talista. Situação distinta na América Latina: o capitalismo industrial inglês não tem o mesmo interesse nem o mesmo poder, pois estava de frente com Estados Naci onais e não com uma de suas colônias, além de não haver por aqui oportunidades s uficientemente interessantes de investimento. O fraco “poder de difusão” do capitalismo sobre as nações latino-america nas se deve mais pelas dificuldades internas de organização de economias exporta doras vigorosas. Onde isto se deu, como no caso do Brasil, foi possível criar, d e certo modo, a própria demanda, e as importações de capitais desempenharam um p apel crucial na passagem da economia colonial à economia exportadora capitalista . O “poder de difusão” na etapa competitiva (Revolução Industrial ao iníci o da “Grande Depressão”), se manteve restrito devido a somente a Inglaterra ter atingido um estágio relativamente avançado. Situação entre 1880 e 1900, Emergência do capitalismo monopolista: proce sso de concentração intensifica-se extraordinariamente; tecnologia da Física e d a Química; durante a segunda revolução industrial ocorre a monopolização dos pri ncipais mercados industriais por empresas cada vez maiores; surgimento de outras potências industriais (Estados Unidos, Japão, Alemanha) (quebra do monopólio in glês); exportações de capitais se intensificam; surge o colonialismo monopolista . As exportações de capital geram fortes interesses (proteção e privilégio s) muito maiores do que a simples influência econômica e política. Há luta entre as potências industriais (corrida por anexações territoriais). O capital dessas potências encontra oportunidades de investimento mais lucrativas do que em seu próprio território. A dificuldade maior do capital não é nem a inexistência de demanda, que é oferecida pelas nações industriais, nem a falta de capital monetário, que pode ser importado, e sim a falta de trabalho livre, de trabalho assalariado. Essa é uma condição para que a remuneração da força de trabalho se situe muito abaixo da metrópole. Isso significa um “capitalismo importado”, de “fora para dentro”, uma ve z que os “fatores internos” não tiveram qualquer papel na dinâmica de seu nascim ento. Áreas vazias coloniais: se tornam grandes produtoras de alimentos, graça s à imigração maciça. Graças à importação de meios de produção atrelada à import ação de capitais, montou-se a estrutura indispensável da empresa capitalista exp ortadora de alimentos. Na América Latina entre 1880 e 1900, tanto a extraordinária ativação da exportação de capitais ( destinadas a constituição de empresas do setor exportad or ou à montagem da infra-estrutura necessária) quanto, em alguns casos, a imigr ação em massa, foram cruciais ao nascimento das economias exportadoras capitalis tas. Concluindo, a passagem da economia colonial à economia exportadora capit alista, tomando o movimento como determinado, em primeira instância, por “fatore s internos” e, em última instância, por “fatores externos”. 1.2.2 O início da crise da economia colonial e a constituição da economia mercan til-escravista cafeeira nacional A queda do monopólio e a subseqüente formação do Estado Nacional marcam o início da crise econômica colonial no Brasil. A economia mercantil-escravista cafeeira nacional surgiu do capital merc antil nacional, que se formou na época da colônia, mas que ganhou grande impulso com o fim do monopólio e com o surgimento de um muito embrionário sistema monet ário nacional. Inúmeras fazendas de café foram organizadas com capitais do setor mercan til (comércio de mulas, capital usurário, tráfico de escravos, etc.). Por outro lado, existiam recursos produtivos prévios e subutilizados, terras próximas ao R io de Janeiro e próximas ao café, além de escravos liberados pela desagregação d a economia mineira. Persistiria outro “problema de financiamento”: o café tem um longo perío do de maturação e exige considerável emprego de mão-de-obra tanto para o plantio , quanto para os cuidados rotineiros (por quase todo o ano). Nascimento da demanda externa por café: nas três primeiras décadas do sé culo XIX, o café deixou de ser produto colonial, uma vez que seu consumo se gene ralizou. Para que isto pudesse ocorrer, os preços internacionais baixaram, em gr ande parte devido ao crescimento da oferta brasileira. Além disso, era necessári o que as pessoas desenvolvessem alta atividade física e intelectual (o café é um estimulante). A demanda externa não foi mero fator independente ou inerte. Ao contrári o, é a própria expansão da oferta brasileira que permite, em ultima análise, que a demanda se amplie constantemente e, ao mesmo tempo, estimule novamente o cres cimento da oferta. A empresa cafeeira surge como latifúndio porque, dados os preços dos rec ursos produtivos e se definindo a produção cada vez mais como produção em massa, as margens de lucros eram reduzidas. Como latifúndio escravista, devido ao cará ter da demanda externa e o investimento exigido, o trabalho escravo, superexplor ado, se mostrou mais rentável. Deixou-se o trabalho assalariado de lado, então, pois isto significaria um aumento de custos, tendo em vista que teria de se ress arcir ao trabalhador no mínimo o valor da subsistência. Produzindo “muito” e “barato”, o Brasil, já em 1830, tornou-se o primeir o produtor mundial, e o café se alçara a primeiro produto de exportação brasilei ra e sul-americana. Estava estabelecida, portanto, no Brasil uma economia nacional.