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ISSN 1809-7790 Revista 10B pe Dinero Civit & Processuat Civ. Avo X=" 50 — fhov-Dez 2007 Rerosirdnio Auroniano o: JuaspRuDéxcA Superior Tribunal de Justiga — N° 45/2000 Tribunal Regional Federal da 1° Regido — N° 20/2001 Tribunal Regional Federal da 4° Regiao — N° 07/0042596-9 Tribunal Regional Federal da 5? Regiao — N° 10/2007 Dieta i Elton José Donato Genetne Envvoniat Maria Liliana C. V. Polido Envtora Simone Costa Saletti Oliveira Coustuno Eoworia. Ada Pellegrini Grinover, Anténio Carlos Marcato, Araken de Assis, Arruda Alvin, Athos Gusmao Carneiro, Enio Santarelli Zuliani, Humberto Theodora Jt., J. J. Calmon de Passos, Joao Baptista Villela, José Carlos Barbosa Moreira, José Rogério Cruz e Tucci, Ricardo Raboneze, Sérgio Gilberto Porto, Silvio de Salvo Venosa Covasonanones nests Eoigdo Adriano Sant’ana Pedra, André Balbinot, Dierle José Coelho Nunes Eduardo Bastos de Barros, Henrique Lima Quites, José Carlos Barbosa Moreira Juliana Peres Almenara, Leonardo de Faria Beraldo, Magno Federici Gomes, Maiura Guilherme de Rezende, Rubens Approbato Machado Sumario Assunto Especial Nova Let DE FALENCIAS Doutrina 1. Alteragdes da Nova Lei de Faléncias e de Recuperagao das Empresas Rubens Approbato Machado ... 2. A Nova Lei de Faléncias e os Processos em Curso Quando de Sua Vigéncia Eduardo Bastos de Barros ..... 3. A Nova Lei de Faléncias e a Legitimidade Social para a Protecao Judicial de Empresa em Dificuldade Economica André Balbinot ..... JuRISPRUDENCIA 1. Acérdao na Integra (ST) 2. Ementario ... Parte Geral Doutrina 1. Observacoes sobre a Estrutura ¢ a Terminologia do CPC apés as Reformas das Leis n°s 11.232 e 11.382 José Carlos Barbosa Moreira .... . Colegialidade das Decisdes dos Tribunais — Sua Visualizagao Como Principio Constitucional e do Cabimento de Interposi¢zio de Agravo Interno de todas as Decis6es Monocraticas do Relator Dierle José Coelho Nunes .. i w . O Processo como Relacao Juridica e os Pressupostos Processuais Adriano Sant’Ana Pedra .. 4. Honorarios Advocaticios no Cumprimento da Sentenga: Realidade, e Nao Simplesmente Uma Tese Leonardo de Faria Beraldo... . Os Principios Constitucionais do Acesso a Justiga e do Duplo Grau de Jurisdigdo: Andlise do Cabimento do Agravo de Instrumento em Mandado de Seguran¢a Magno Federici Gomes e Maiura Guilherme de Rezende . Artigo 285-A do Codigo de Processo Civil: um Novo Momento para a Rejeicao do Pedido do Autor Juliana Peres Almenara ... wa -101 x Doutrina Colegialidade das Decisdes dos Tribunais —Sua Visualizacdo Como Principio Constitucional e de Cabimento de Interposigde de Agravo Intemo de Tedas as Decisées Monocraticas do Relator DIERLE JOSE COELHO NUNES Mestre em Direita Processual — PUC/MG, Doutorando em Direito Processual — PUC/MG e Université degli Studi di Roma “La Sapienza”, Professor do Curso de Pés-Graduagéo Lato Sensu em Direito Processual do Institito de Educagao Continuada —|EC-PUC/MG, Professor dos Cursos do Cegjufe e da Anamages, Professor do Curso de Graduagdo da Faculdade Mineira de Direito — FMD PUC/MG, Professor do Curso de Graduagéo da Faculdade de Direito de Sete Lagoas — Facisete-FEMIM/MG, Membro da Comissao de Ensino Juridica — CEJ-OAB/MG, Advogado Militante. RESUMO: 0 presente ensaio discute a possibilidade de interposigio de recurso de agravo interno em face de todas as decisdes monocraticas proferidas pelos relatores nos tribunais, inclusive no recurso de agravo por instrumento, apds a reforma da Lei n° 11.187/2005 e do novo paragrafo Unico do art. 527 do CPC, devido a existéncia de um principio constitucional da colegialidade das decisées dos Tribunais. PALAVRAS-CHAVE: Principio da colegialidade; contraditério; influéncia; juizo natural; direito constitucional ao recurso; taxatividade; decisao monocratica; agravo; reforma; inconstitu- cionalidade. SUMARIO: Consideragées iniciais; 1 Do principio constitucional da colegialidade dos tribunais; 1.1 Do principio do jufzo natural; 1.2 Do contraditétio, da taxatividade e da colegialidade — da jutisprudéncia do STJ; 2 Da possibilidade de interposigéo de agravo interno em face da decisao monocratica liminar do relator no recurso de agravo de instrumento; 3 Da necessidade do agravo interno para o esgotamento das instancias ordinatias; Consideragoes finais. CONSIDERACOES INICIAIS Nos Gltimos anos, a jurisprudéncia dos tribunais superiores (STF e especialmente STJ) vern estruturando as bases de aplicagao do denominado principio constitucional da colegialidade dos tribunais que, apesar de per- mitir a delegacao legal de poderes monocraticos ao relator dos recursos, garantiria o reexame de decises derivadas do exercicio desses poderes para o colegiado, juizo competente para o julgamento do recurso. ADCPC N* 50 — Nov-Dez/2007 — DOUTRINA..... Esse principio envolveria aspectos pragmaticos importantes para o esgotamento das instancias recursais para a hipdtese de interposigao de re- cursos nos Tribunais Superiores e especialmente para a irresignacgao das decisées monocraticas proferidas no curso da tramitacao do agravo por ins- trumento apés a reforma da Lei n° 11.187/2005, que alterou a sistematica do recurso. No entanto, antes da verificacgao desses aspectos pragmaticos, faz-se mister o delineamento das bases do aludido princfpio. 1 DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA COLEGIALIDADE DOS TRIBUNAIS 1.1 Do patncieto oo suizo waTURAL Para que se entendam as bases normativas (constitucionais) do princf- pio em comento, é necessaria a compreensao do principio do juizo natural. Tal principio foi assentaco pela primeira vez na Constituigao francesa de 1791 e, desde entao, encontra ressonancia nos textos constitucionais de muitos paises, como, v.g., na Alemanha (art. 101, |, 2, Lei Fundamental de Bonn — Bonner Grundgeseiz)', na Italia (art. 25, § 1°, Costituzione Repubblicanay’ € no Brasil’. O principio do jufzo natural encontra-se ligado ao requisito constitu- cional da ordinariedade do juizo. A ordinariedade significa que um juizo (6rgao) pode considerar-se legitimamente constitufdo se pertencente a um aparato jurisdicional ordina- rio, de modo que sua competéncia deve ser estabelecida ex ante facto (ou a priori), ou seja, antes da ocorréncia de fatos dos quais ele podera julgar em ndmero indeterminado e abstrato de casos futuros*. Deste modo, é vedada constitucionalmente qualquer criacao de 6r- gaos julgadores extraordinarios instituidos ad hoc (ex post facto ou a posteriori) para julgar determinados fatos ja ocorridos, constituindo tribu- nais de excecao’. 1 SCHWAB, Karl Heine, Divisdo de fungdes e oie natural Revista de Processo, a. 12, n. 48, p 124, out/dez. 1987. 2 ANDOLINA, fain; VIENERA, Giuseppe. 11 modelo casttuzinale def processo chil tafano. Torino: Gappicheli Edtore, 1890. p. 24 3. Art. 5°. inc. XXXVIE "Na haverjuzo ou tribunal de excegéa" inc, LI "Ninguém sera processado nem senterciado senéo pala autoridade compatente’” 4 ANIDOUINA, itelo: VIGNERA, Giuseppe, modelo costtuzionale dol processo ci alana, Cit, p. 20-21 5 “Trnunal de excecdo 6 aquele designadh ou criada por deliberacdo legislative ou néo, para jlgar determinad caso, tena le j& ovortida ou nfo, ielevante aexistBncia prévia da tribunal Diz-se que o tribunal é de excegao quanda de encomenda, ist é, credo ‘ex post facto, para juger num ou nautza sentido, com parciadade, para prejudicar ou benefcer alguém, tudo acertado previamente Enquanto ojunatural 8 quel previsto abstatamente,o juga de excegda € aquelsdesignado para tar no caso concret au individual NERY JUNIOR, Nebon, Prints do processo oil na Constulpao Fedral, Séo Palo: Revista dos Tibunais, 2002. p. 67. a2 coos noe ADEPC NY 60 —Nov-Der/2007 — BOUTRINA Além desse aspecto, o principio garante que a todo cidadao seja ga- rantido um julgamento por uma autoridade competente (art. 5°, inc. LIII, CRFB/1988) e é esse aspecto que especialmente nos interessa no presente ensalo. Como ha muito tempo defende a melhor doutrina, 0 6rgao jurisdicional competente para o julgamento dos recursos sera sempre o colegiado, e nao 0 juizo monocratico do relator’. Ocorre que, apesar da inerente colegialidade de andlise dos recursos, © sistema normativo brasileiro vivencia uma notoria tendéncia de delega- ¢ao de poderes monocraticos aos relatores dos recursos sob o discurso da busca de um processo em tempo razoavel e visando “desobstruir a pauta dos tribunais ao dar preferéncia a recursos que realmente reclamam a apre- cia¢ao do colegiado, aqueles em que ha matéria controversa’”. Essa tendéncia, como noticia Dinamarco, nao é tao recente em nosso sistema, em termos: “Foi pioneiro 0 Supremo Tribunal Federal, no distante ano de 1963, sob a lideran- ga historica do Min. Victor Nunes Leal, seu regimento interno passou a incluir na Competéncia do relator o poder de ‘mandar arquivar o recurso extraordinario ou 0 agravo de instrumento indicando o correspectivo numero da Sdimula’ (att. 15, inc. IV). Essa foi uma das técnicas idealizadas com o objetivo de buscar saidas para 0 not6rio, antigo e angustiante problema da sobrecarga de trabalho da Corte Suprema brasileira [...] Estava nesse momento, também, instituida a SGmula do Supremo Tribunal Federal, que se destinou a favorecer a estabilidade da jurispru- déncia e, de igual modo, a simplificar 0 julgamento das questées mais frequientes. Bem depois e havendo dito regimento sido alterado ou substitufdo mais de uma vez, a chamada Lei dos Recursos trouxe para o plano legal o que era meramente regimental, ratificando aqueles poderes do relator e dando igual tratamento ao recurso especial, processado no Superior Tribunal de Justiga, institu’do um ano antes (Lei n? 8.038, de 28.05.1990, art. 28, §§ 2° e 3°).” Apés essa aludida reforma legislativa, o CPC sofreu 0 influxo de uma série de alteragGes que permitem, na atualidade, ao relator, negar segui- mento a recurso manifestamente inadmissivel, improcedente, prejudicado ou em confronto com stmula ou com jurisprudéncia dominante do respec- tivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior e, se a decisao recorrida estiver em manifesto confronto com simula ou com juris- prudéncia dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Supe- rior, o relator podera ainda dar provimento ao recurso (art. 557, CPC, nos termos da reda¢ao dada pela Lei n° 9.756/1998). Podera ainda decidir, de 5 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Algumas inovagées da Lei n® 9,758 em materia de recursos civeis. Aspectas polémicos e atuais dos recursas cive's de coro com a Lei? §.756/1998. Sao Paulo: RT, 1998. p, 324, 7 STJ, 1°, AgRg-Ag 740.396/RU, Rel. Min. Luz Fu, J. 03.08.2006. OCC N* 50 —Nov-Dev/2007 ~ DOUTRINA..... en ead plano, 0 conflito de competéncia havendo jurisprudéncia dominante do tri- bunal, nos termos do paragrafo tinico do art. 120 do CPC. E, especificamente para o recurso de agravo, as Leis n®°s 9.139/1995, 10.352/2001 e, mais recentemente, a Lei n° 11.187/2005 delegaram ao relator a possibilidade de conversao do agravo por instrumento em agravo retido, de atribuir efeito suspensivo nos moldes do art. 558 do CPC, efeito ativo, nos moldes do art. 273 (antecipagao de tutela recursal), dentre outros pode- res presentes no art. 527 do CPC. Tal tendéncia, desde que nao ofenda ao modelo constitucional de processo, seria perfeitamente aceitavel. O grande problema se encontra exatamente nessa adequacao consti- tucional, uma vez que se permite, em algumas hipdteses, a utilizagdo de poderes monocraticos sem assegurar um meio técnico de fiscalidade sobre os aludidos poderes. 12 Como ja demonstrado em outras oportunidades®, 0 principio consti- tucional do contraditério garante a todos os sujeitos processuais a possibili- dade de influenciar na formacao das decisdes, permitindo um controle intersubjetivo contra o individualismo e o subjetivismo na aplicagao da “pres- tacdo jurisdicional”. CONTRADITORIO, BA TAXATIVIDADE E DA COLEGIALIOADE — DA JURISPRUDENCIA DO ST No entanto, a recorrente delegacao legal aludida vem permitindo o exercicio de poderes pelo relator, que devem ser fiscalizados por algum mecanismo técnico que garanta uma maior discursividade processual e uma influéncia das partes na aludida formacao dos provimentos. Tal meio de controle endoprocessual das decisdes do relator é 0 de- nominado agravo interno, interposto no prazo de 5 dias, que permite a revi- sao dos aludidos provimentos monocraticos pela andlise do colegiado. No entanto, apesar da existéncia de inGmeros dispositivos legais (arts. 120, paragrafo Unico, 532, 545, 557, § 1%, CPC, art. 39 da Lei n® 8.038/ 1990, art. 4°, § 3°, da Lei n° 8.437/1992 etc.) que permitem a interposicao do recurso para casos especificos, existe, ao mesmo tempo, uma série de hipdteses onde nao existe a previsao legislativa explicita da técnica de irresignacao do recurso interno contra a decisao monocratica. 8 NUNES, Diare José Coelho, 0 principio do contraditSro, Revista Sintese de dreto oil e processuel cv, Porto Alogre: Sintse, n 29, maiofun. 2004. NUNES, Dierle José Coelho, Comentérias acerca da stimula impedhtiva de recursos (Lei n? 11.278/2006) e do julgamentofiminar de agbes repettivas (Lei n° 11.277/2006) — Do duplo grau de jurisdiga e do direita constitucional ao recurso {contractéra sucessivo| — Aspectos narmativos e pragméticos. RePro, Sao Paulo: Ay. 137 jul 2008 84 vee ROCPG N° 50 —Nov-De7/2007 — DOUTRINA E sao exatamente para essas hipéteses que se apresenta uma das facetas do denominado principio constitucional da colegialidade dos Tribunais que constitui uma “garantia fundamental do processo que visa neutralizar o in- dividualismo das decisdes”? como corolario dos principios constitucionais do juizo natural e do contraditério. Pelo principio da colegialidade, seria possivel a delegacao de com- peténcia de julgamento do recurso para o relator desde que dessa decisao singular caiba recurso para o colegiado". Desta forma, existindo ou nao previsao legislativa espectfica (explfci- ta), prevendo o recurso de agravo interno contra a deciséo monocratica do relator, havera possibilidade de sua interposicao. Entrementes, essa tese encontraria um entrave normativo na medida em que o sistema recursal é institufdo mediante o principio da taxatividade. Como salienta Lima: “O recurso, para ser interposto, admitido, conhecido e julgado, precisa estar con- signado em lei.” Assim, vislumbra-se a esséncia do principio da taxatividade, que, como decorréncia da seguranga juridica e previsibilidade’? que 0 ordenamento jurfdico deve fornecer, impede que as partes, ao seu alvedrio, criem outros recursos além dos estabelecidos em lei (art. 22, |, CRFB/1988), para mani- festarem seu inconformismo em face de determinado provimento’’. Dentro desse raciocinio, somente caberia agravo interno nas exatas hipdteses em que houvesse previsao legal do recurso contra as decisdes monocraticas do relator. 9 STJ, 1°T,, Agfig-4g 556508/70, Rel, Min. Luiz Fux, J, 28.04.2006, DJ 30.08.2006, p. 278 10. Nombito do STF: "Poderes processuais do Ministro-Relatoro prineiso da colegiaidade. Assiste, 20 Ministro-Relator, competéncia plana, para, com fundamento nos poderes processuais de que dispie, exercer, monocraticamente, 0 controle de admissibildade cas ages, pecidos ou recursos diigidas 20 Supremo Tribunal Federal, Cabe-the, em conseaiincia, pader para negarténsito, em deciséo monocratica, @ agdes, pedidos ou recursos, quando incabiveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quancia veicularam pretenséo incompativel com a urisprudéncia predominante na Suprema Cort, Precedentes. O reconhacinento dessa competéncia momnoerdtca, deriva ao Relator da causa, no transgrite 0 posulado da colegiatlade, pois sempre caberé, para us érgdos coegiados do Suprei Trbunal Federal Pendro e Tunas), recurso contra as decisies singulares que verkam a ser proferitas por seus Jukes" (Dastacamos). ISTE Pleno, Min, Rel. Celso de Melo, MS-AgR 24542/DF, J. 27.08.2004, ATJ 183/824). No émbito do STU: “Oart. 57 do CPC e seus parégrafs incide quando da ascenséo do recurso de agravo ao tribunal. Consequentements, 0 relator pode, monocraticamente negar saguimento 20 recurso ou dar-he provimento, independentemente da itiva da parte adversa, 2. ‘eciséo monocrética adotévelem prol da eftividade e celeridade processuais nao excli o contraditério postecipaco dos recursos, nam infirna essa garantia, porquanto a colegialdadee a fotor’o duplo grau testaram mantidos pela possibiidads de interposigo do agravo regimental’ (ST4, 1°. REsp 714794/RS, Rel. Min. Luie Fux, . 23.08.2005, OJ 12.08.2005, p. 241) 11 UMA, Alsdes de Mendonga. Iirocupao aos recursos cves, So Paulo: Revista dos Tribunals, 1976. p. 238. 12 WALTER, Gerhard. | dirt fondamental nel processo civile tadesco. Avista Wf Drita Processuale, Milano: Cadam, n. 3, p. 740-741, juldset. 2001 13 NUNES, Dietle Jose Coelho Nunes. Diteto consttuconal ao recurso: da teora geal dos recursos, das reformas processus © da comparticipacéo nas dacisdes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 87-69. NERY JUNIOR, Nelson. Prinajpins Andamentais: teoria getal dos recursos, So Paulo: FT, 1997 p, 45-46, ROCPC N° 50 — Nov-Der/2007 — DOUTRINA..... No entanto, esse mesmo raciocinio conduziria ao descumprimento do principio da colegialidade, com quebra do contraditorio e do juizo natu- ral. Enfrentando essa questao, precedente jurisprudencial do ST), da lavra do Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira, embasado em entendimento de Barbosa Moreira, explicita que, na auséncia de disciplina normativa espect- fica, aplicar-se-ia analogicamente a possibilidade de interposi¢ao de agravo interno, prevista no art. 39 da Lei n® 8.038/1990, para qualquer decisao monocratica proferida por relator em qualquer tribunal do Pais. Como cons- ta de seu voto: “LJ a Lei n® 8.038/1990 veio disciplinar a situacao, ao prever, no art. 39, 0 cabimento de agravo (‘interno’) contra qualquer deciséo monocratica proferida por membro de tribunal causadora de gravame a parte. Embora a referida lei se refira somente ao Superior Tribunal de justi¢a e ao Supremo Tribunal Federal con- forme consta de sua ementa, no ha porque deixar de aplica-la, por analogia, aos outros tribunais do Pais, consoante entendimento de Barbosa Moreira nos seus Comentarios, v. V, Forense, 7. ed., 1998, n. 109, p. 187." Desse modo, da anilise sistematica dos princfpios da colegialidade e da taxatividade, mediante a aplicacao analégica do art. 39 da Lei n° 8.038/ 1990, em qualquer tribunal seria possfvel a interposi¢ao de agravo interno em face de qualquer decisao monocratica do relator de modo a se permitir uma aplicacao dinamica do contraditério e da ampla defesa e, decorrente disso, 0 exercicio do direito constitucional ao recurso'’. Esse entendimento vem sendo esposado pela jurisprudéncia iterativa do Superior Tribunal de Justiga'®. Tragados os contornos basicos de aplica¢ao do princfpio, é possivel o enfrentamento da questao referente a possibilidade de interposi¢ao de agra- vo interno em face do disposto no paragrafo Gnico do art. 527 do CPC, com a redacao dada pela Lei n° 11.187/2005. STJ, 4°T, AgRg-AMS 9395/84, Min. Rel, Salvo de Figueiredo Teixeira J, 1°.08.1888, ASTJ 118/247. 15 Por decorréncia de perspective dnémica dos principio canstitucionais haveria a possibildade de apicacdo da enelogia na viabilzagdo do recurso interna. Cf, ANDOLINA, Italo, VIGNERA, Giuseppe. modelo casttvzionale del processo ci! tefano. Torino: Gappichelh Ettore, 1996. p. 13. COMOGLIO, Luigi Paoio. Garanze costituzionale “giusto processo” (modellia confronto), Revista de Processo, ‘Séo Paulo: Revista dos Titbunais, v.90, p 101, abr jun. 1998. NUNES, Dierfe Jose Coelho Nunes. Direto consttucional ao recurso da teoria geral das recursos, das reformas processuais e da compatticipagdo nas decisées. Cit, , 121-160, 18 “Conforme ceteracajurisprudéncia desta Corte, 'écabivel a interposi¢do de agrava regimertl contra qualquer deciséo monocrética de relator de tribunal, entendimento decorrente ‘do principio constitucional da colegaldade dos vibunais e do art. 38 da Lei n° 8.039, de 1990’ (MoRg-Ag 586 5080, {*T, Rel, Min. Luiz Fux, DJ 30.05.2005; AgR-MC 6.586/MT. 1°T., Rel. Min. Teor Albino Zavaschi, DJ 1209.2003).” STJ, 1° T, AgRg-REsp 701734/SP. Min? Denise Arruda, J, 20.08.2008, DJ 10.082006, p. 195. No mesma sertido: STJ,2*T, REsp 770820/PA, Min, Castro Mia, J. 109.2006, DJ 03.10.2006, p. 236; ST4, 1°, AgRg-AaRg-Ag 694108/SP Min, Denise Auda, J.07.02 2006, DJ 06.03.2008, p. 192; ST, 1°T, RESp714784/RS, Rl Min. Lz Fux, 23.08.2008, J 12.08.2006, p. 241; STJ, 1°T., AgRG-MC B566/MT, Min, Tori Albino Zavasck, J. 05.08.2003, OJ 1°09,2008, p. 217. ToT o-oo ADCPE N* 50 —Nov-Dez/2007 — DOWTRINA 56 2 DA POSSIBILIDADE DE INTERPOSICAO DE AGRAVO INTERNO EM FACE DA DECISAO MONOCRATICA LIMINAR DO RELATOR HO RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO Em outra oportunidade de se comentar a Lei n? 11.187/2005”, defen- deu-se a impossibilidade de cabimento de agravo regimental ~ criado obvia- mente pelo regimento interno dos tribunais — contra as decisdes proferidas pelo relator do agravo de instrumento (com a excecao da hipdtese do 557, do CPC) pelo descumprimento do principio da taxatividade. Tal entendimento decorria da nova redagao do paragrafo Gnico do art. 527 do CPC, que impede a reforma das decisdes liminares do relator que convertem 0 agravo de instrumento em retido, quando nao vislumbre possibilidade de lesao grave e de dificil reparagao, e que analisam o pedido de atribui¢ao de efeito suspensivo e ativo ao recurso. Garante-se apenas 0 sucedaneo recursal do pedido de reconsideracao. No entanto, esse pensamento nao se mostra completamente adequa- do devido a percep¢ao do principio constitucional da colegialidade. Em verdade, respaldado pela jurisprudéncia dos tribunais superiores e por aplicagao do aludido principio constitucional, de toda decisao liminar monocratica do relator cabera 0 agravo interno (pela aplicacao analégica do disposto no art. 39 da Lei n® 8.038/1990). Desse modo, mostra-se inconstitucional o disposto no art. 527, para- grafo Gnico, do CPC, pela quebra dos principios da colegialidade, do con- traditorio, do juiz natural e do direito constitucional ao recurso". Em anilise de norma regimental restritiva de interposigao de agravos internos contra a decis4o monocratica que analisa a antecipacao de tutela recursal em agravo de instrumento, o Superior Tribunal de Justiga ja se ma- nifestou pela inadequagao constitucional, no contexto normativo anterior a Lei n® 11.187/2005, em termos: “Admitindo-se a existéncia da norma impeditiva do recurso interno, ele certa- mente nao se adequaria ao principio constitucional da colegialidade do julga- mento nos Tribunais, do qual decorre o natural cabimento de recurso contra qual- quer deciséo monocratica de relator em questdes afetas & competéncia de drgio colegiado. Nao é por outra razao que esta Corte tem reiterado a aplicabilidade do ‘Nao ha mais que se cogitar de possiiidade de interposigdo de agravos internos contra as decisis prferides pelo relator curso do agravo por instrumento, selvo a hipdtese de inadmisséo Iminar do recurso (art 657, do CPC). A utiizegdo andmala dos ‘agravos criados pelos regimentos dos tibuneis {agravas regimentais), para a ataque de decisdes monocréticas profaridas pela relator, ndo possuer respaldo jurcic om nosso sistema, pois vo de enconto ao fundemento legal constitucional ert. 22, | da CF/1988) do principio da taxatvidada, que estabeiece @ necessidade de previséo normativa ds recursos.” NUNES, Diarle José Coalho. Primet- ros comentéris & ein? 11.187 de 19.10.2005, que atera asistematica do recurso de agravo, @ & aplcagéo da cléusulageral eso ‘rave e de dificil reparagao do novo art. §22 do CPC. fePra, Sao Paulo: RT, v. 134, p. 68, ab. 2006, 18 NUNES, Disrle Jose Coelho Nunes. Direto constiucional ao recurso, Cit ROCPC N° 50 —Nov-De7/2007 — DOUTRINA ... a7 art. 39 da Lei n® 8.038/1990 em relagao a todos os tribunais (AGA 476218/SP, 1° Turma, Min. Luiz Fux, DJ 02.06.2003; MC 6041/DF, 1° Turma, Min. José Delgado, DJ 12.05.2003; AROMS 9395/BA, 4° Turma, Min. Sélvio de Figueiredo Teixeira, DJ 14.12.1998). Portanto, ha recurso interno para o 61gao colegiado da decisdo de relator que nega antecipacao da tutela recursal em agravo de instrumento.’"° (Destacamos) Tal fundamentacao podera ser aplicada atualmente no que tange a inaplicacao do paragrafo tinico, art. 527 do CPC, em face de sua incons- titucionalidade. Havera, desse modo, possibilidade de interposicao de agra- vo interno de todas as decisdes monocraticas do relator, mesmo que versem sobre a conversao do agravo ou acerca de seus efeitos (suspensivo e€ ativo). 2-DA NECESSIDADE DO AGRAVO INTERNO PARA 0 ESGOTAMENTO DAS INSTANCIAS ORDINARIAS Pelo principio da colegialidade, percebe-se que é possivel a interposicao de agravos internos contra as decisdes dos relatores. No entan- to, alguns precedentes do ST) afirmam nao somente sua possibilidade, mas, também, sua obrigatoriedade na hipdtese da parte possuir interesse em bus- car a reanalise de matéria perante os Tribunais Superiores. Hipdtese recorrente dessa necessidade é a que ocorre no julgamento de mandado de seguranca de competéncia originaria dos Tribunais, o qual é julgado por decisao monocratica do relator, uma vez que o recurso ordina- rio somente sera analisado caso a parte tenha manejado o agravo interno. Nesse sentido: “7, Denegado o mandado de seguranga por decisdo monocratica, € mister que a parte vencida promova 0 esgotamento prévio da inst&ncia ordinaria, manifestan- do, para tanto, 0 cabivel agravo interno, objetivando a revisao do decisum pelo 6rgao colegiado. Isto porque, a decisao denegatéria, que desafia 0 Recurso Ordi- nario, deve provir de Tribunal, e nao ato isolado de um de seus membros. 2. Nao obsiante a inexisténcia de previsdo, no Regimento Interno do Tribunal a quo, de recurso contra decisao indeferitéria de liminar no mandado de seguran- ¢a, O art. 39 da Lei n® 8.038/1990, que disciplina 0 cabimento do agravo interno contra decisao singular proferida por membro do Superior Tribunal de Justica e ao Supremo Tribunal Federal, deve ser aplicado, por analogia, aos demais tribunais patrios. Precedentes jurisprudenciais."”” T, Agfig-MIC B586/MT, Rel. Min, Teoi Albino Zavesck, J. 05.08.2003, DJ 1°.09.2008, p. 217 20 STU, 1°. AgRg-Ag 476218/SP Min. Rel. Luie Fux. J. 20.05.2003, DJ 02.08.2003. p. 189. No mesma sentido: STU. 5° T, REsp 14.821/RS, Rel. Min. Felx Fisher, J. 15.10.2002, DJ 18.11.2002, p. 242; ST4, 4°T, REsp 12429/AM, Rel, Min. Ruy Rosado Aguia, J. 2706-2002, D.J 16.09.2002, p. 186; STu, 6°, AMS 7.136/RS, Rel. Min, Farando Goncalves, J. 12.06.1997, DJ 09.06.1997, p. 25571; STJ, 5°, REsp 12.853/AL, Rel. Min, Jorge Scartezzn, J. 14.05.2002, DJ 26.08.2002, p. 257 58 .- ADCPC H* 60 —Nov-Deo!2007 — DOUTRINA Tora-se necessdria, assim, a interposigao de agravo interno para 0 esgotamento prévio das instancias ordinarias de modo a viabilizar a utiliza- ¢4o do recurso ordinario em mandado de seguranga. CONSIDERACOES FINAIS Das afirmagoes delineadas nesse despretensioso ensaio, pode-se per- ceber que as bases do principio constitucional da colegialidade decorrem da aplicacao dinamica dos princfpios do contraditério e do jufzo natural, que, apesar da possibilidade de delegagao de poderes monocraticos para o relator, viabiliza a interposicado de agravo interno para o colegiado como instrumento de aplicagao de um contraditério dinamico sucessivo. O principio, ainda, implementaria a necessidade de esgotamento das instancias ordinarias para o alcance das esferas extraordinarias de recorribilidade, uma vez que a deciséo monocratica nao seria de “tltima instancia” (art. 102, Ile III, e art. 105, I e Ill, CRFB/1988)?". Percebe-se, também, a inconstitucionalidade do disposto no paragra- fo nico do art. 527 do CPC, ao impedir a interposicao do aludido agravo interno. Entrementes, em face do possivel desconhecimento da leitura dina- mica do principio da colegialidade por parte do relator, torna-se necessario ao agravante interpor o recurso interno devidamente fundamentado com as consideragées aqui expendidas e pedindo por eventualidade, na hipdtese de nao admissibilidace desse agravo (interno), seu conhecimento e andlise como pedido de reconsideragao. E, na hipotese especifica de manutengao da converséo do agravo de instrumento em retido, ainda cabera mandado de seguranga contra a deci- sao interlocutéria de primeiro grau para o mesmo 6rgao jurisdicional que processou 0 agravo por instrumento. Note-se, ainda, que diversamente do entendimento esposado por al- guns doutrinadores posteriormente a reforma da Lei n° 11.187/2005, dificil- mente havera cabimento de mandado de seguranca da decisao monocratica do relator, em face do quadro jurisprudencial atual de aplicagao da Simula n° 121 do antigo Tribunal Federal de Recursos”. Essa afirmacao decorre de varios precedentes da Corte Especial do STJ, que ratificaram o entendimento da Stmula n° 121, permitindo somente 21 STE 1°T, AL-AgR 247591/R8, Rel Min. Morsira Alves, J. 14.03.2000, DJ 23.02.2001. p. 84 22 Simute n° 121 TFR: "No cabe [Vandedo de Seguranga contra ato ou daciséo, de natureza juriscécionalemanado de Relator ou Turmat ROCPC N* 50 —Nov-De2/2007 — OOUTRINA ... em hipoteses teratolégicas* a impetragao do writ contra decisao monocratica do relator’, Perceba-se, no entanto, precedente do STJ posterior a reforma da lei que aceitou a utilizagao do writ na situagao em comento, veja-se: “Proceso civil. Recurso em mandado de seguranga. Possibilidade de impetracao do writ dirigido diretamente ao Plendrio do Tribunal a quo, visando a impugnar decisao irrecorrtvel proferida pelo Relator que, nos termos do art. 522, inc. II, do CPC (com a redacao dada pela Lei n® 11.187/2005), determinou a conversio do agravo de instrumento interposto pela parte, em agravo retido. As sucessivas reformas do Cédigo de Processo Civil estabeleceram um processo ciclico para o agravo de instrumento: Inicialmente, ele representava um recurso pouco efetivo, de modo que sua interposicéo vinha sempre acompanhada da impetragao de mandado de seguranga que Ihe atribuisse efeito suspensivo. Visan- do a modificar essa distorcao, a Lei n® 9.139/1995 ampliou o espectro desse re- curso, tornando-o agil e efetivo, o que praticamente eliminou o manejos dos writs para a tutela de direitos supostamente violados por decisao interlocutéria. O aumento da utilizacdo de agravos de instrumento, porém, trouxe como contrapartida 0 congestionamento dos Tribunais. Com isso, tornou-se necessario iniciar um movimento contrario aquele inaugurado pela Lei n® 9.139/1995: o agravo de instrumento passou a ser restringido, inicialmente pela Lei n® 10.352/ 2001 e, apés, de maneira mais incisiva, pela Lei n® 11.187/2005 A excessiva restricao a utilizagao do agravo de instrumento e a veda¢ao, a parte, de uma decisao colegiada a respeito de sua irresigna¢ao, trouxe-nos de volta a um regime equivalente aquele que vigorava antes da Reforma promovida pela Lei n® 9,139/1995: a baixa efetividade do agravo de instrumento implicara, nova- mente, 0 aumento da utilizacao do mandado de seguranca contra ato judicial A situacao atual 6 particularmente mais grave porquanto, agora, o mandado de seguranga nao mais é impetrado contra a decisao do julzo de primeiro grau (hip6- tese em que seria distribuido a um relator das turmas ou camaras dos tribunais). Ele 6 impetrado, em vez disso, contra a decisao do préprio relator, que determina a conversao do recurso. Com isso, a tendéncia a atravancamento tende a aumen- tar, j que tais writs devem ser julgados pelos 6rgaos plenos dos Tribunais de origem. Nao obstanie, por ser garantia constitucional, ndo é possivel restringir 0 cabimen- to de mandado de seguranca pata essas hipsteses. Sendo irecorrivel, por disposi- 23° Somente na absurda hipétese de inadmisséo do agravo interno & que se cogitria da utieagao do writ, como sucedéneo recursal fem face da deciséo monocrética 24 "PROCESSO GIL MANDADO DE SEGURANGA™ ATO JUDICIAL — DECISAO DE TURMA 00 STF--DESCABIMENTO D0 MANDAMUS ~ PRECEDENTES DO STFE STJ- |. Ajurisprudéncia da eg, Corte Especial tem ratficado o entendimento consoldado na Simula n° 121 do Entinto TER consoante 0 qual. “Nao cabe Mandado de Seguranca contra ato ou decisao, de natureza urisdcional, emanado de Relator ou Turma”, Ademeis,ndo se tratando de deciséo definitva, mas de jlgementa liminar, & de aplcar-se a mula n° 267/ STF 2. Finalmente, a decisdo impugnada nao é teratoligica, (rica hipStese que viebilzara a impetragio do wri.” STJ, CE, MS ‘7068/MA, Min, Francisoo Pecanha Martins, J. 18.04.2001, DJ 04.03.2002, p. 161:STJ, CE, MS 6325/MG, Min, Demborito Reinaldo, J. 16.06.1998, DJ 02.08.1999, p. 126; STJ, CE, MS 2828/DE Min. Pecanha Martina, J, 11.11.1983, Ov 21.03 1994, p. 5426, ad .. ADEPE N° $0 —Now-Dez/2007 — DOUTRINA ao expressa de lei, a decisdo que determina a conversao de agravo de instrumen- to em agravo retido, ela somente € impugnavel pela via do remédio herdico.” Verifica-se, assim, apesar da Stmula n? 121 do TFR, que existe um certa tendéncia incipiente em aceitagao do MS. Também nao havera a possibilidade de interposigao de recursos ex- traordinarios”® (para o ST| e STF) em face da ja aludida auséncia de esgota- mento das instancias ordinarias. Em assim sendo, a primeira escolha de mecanismo de irresignagao contra a decisaéo monocratica do relator dentro do quadro normativo e jurisprudencial atual sera o da interposicao do agravo interno e, caso esse nao seja acatado, dever-se-4, em 120 dias, impetrar do mandado de segu- ranga para o pleno do Tribunal. Poder-se-ia argumentar que a solucao aqui propugnada iria de en- contro ao principio da duracao razoavel do processo, insculpida no art. 5°, inc. LVIII, da CRFB/1988, mas, sem divida, essa assertiva seria equivocada. O tempo razoavel nao representa o término do processo “o mais rapi- do possivel”, e sim o uso do tempo-espaco suficiente e tecnicamente racio- nal para a implementagao do conjunto de principios processuais constitucio- nais (modelo constitucional de processo) aplicados em sua acepcao dina- mica e em sua integralidade”’. A partir desse pressuposto, o exercicio da colegialidade e do contra- ditorio nao pode se tornar eventual e acidental, como algumas linhas teéri- cas vém defendendo, sob pena de imitarmos alguns teéricos do periodo nazifacista’’, que chegaram a crer que a falta do contraditério (a falta da cooperagao das partes) nao impedia a obtengao de uma decisao justa ou mesmo a se permitir a defesa de sua supressao (contradit6rio) no processo civil mediante a absor¢ao do “processo de partes” no procedimento oficio- so de jurisdicao voluntaria. 25 STJ, AMS 22.847, 3°, ReP Nancy Andrighi, J. 12.03.2007, DJ 26.03.2007, p. 230, 26 Que "so aqueles que possuem limitagSo nos fundamentos de interposigao e requisitos especias, podendo abordar apenas ques tes jurdicas, mas séo destinados contra decisdes néo acobertadas pela res judicata, J8 0s tecursos ortindos permitem aendlise de qualquer questo fética ou juridiea do provimento iresignado”. NUNES, Dierie Jose Coelho Nunes. Direto constiveional aa recurso: da teoria geral dos recursos, das reformas processuais © da compartcipagéo nas decisdes. Cit, p. 66. 27 “ACorte de Strasburyo ao fxar os crtérins de apreciagdo da duragéo do proceimento (compiexidade do case, conduta das partes comportemento de autoridade competente)afirma que a celeridade deve ser buscada mas sem permit o esvaziamentos dos cdemais princiics constitucionais, especialmente o contracitéia e 0 dreto de defesa.” Ct. [Al Ivano. La durata ragionevote del procedimento nella iursprudenza dela Corte Europea sino a 31 otabre 1898, Avista ddrto processuale, Padova: Cedam, 1989, p. 548.568, 28 BETTI. Dito processuale civ, Roma, 1936. p. 89; BAUMBACH. Zvlprozess und reewilge Grichtsbareit. Zetischrit der akademie fur Deutsches Rect, 1988. p. 983, Apud PICARD, Nicola, I princino dei contraddtora, Avista of Dirto Processuale, Milano: Coda, n. 3, p. 871, jul/set. 1988 ADCPC N* 50—Nov-Dez/2007 — DOUTRINA .. oT A manutengao do contraditorio e de seus corolarios permitira a mantenca da tendéncia de reforco dos poderes dos magistrados, mas, forne- cendo um mecanismo técnico-constitucional para o exercicio da fiscalidade endoprocessual”? que assegurara a tao almejada percepgao da interde- pendéncia entre os sujeitos processuais inerente a uma perspectiva demo- cratica de processo”? 28 LEAL, Rosemiro Pereira, Teoria processual da deciséo jurdica. Séo Paulo: Landy, 2002. 30 "0 modelo constitucional de processo, constiuido pelo conjunto de pincipios processuais estabelecidos na Constituigéo, permite segumida a moderna processualstca a denominada ‘comunidade de trabalho’ Vrbeasgemeinschatt} entre jive. partes © advoge dos em face da percepgéo da necesséra interdepend8ncia entre as adades desempenhadas por todos esses sujeitos processu- ais. Tal percopego impie a existincia de ume advocaciae de ume magistratuta forte com enormes responseblidades,formaoéo ‘técnica e paderes para. exercicio de suas fungies. Dessaforma, aastam-se 2s concepgées equivocadas do fvealsmo processu- al caractristico dos sistemas processus co século XX e primeira metade do sécula XX, que atribula forca e importancia t20- somante 2s partes e advogados (pracesso como coisa das partes — Sache der Partein),e, também, de uma inha de socilizacdo Go processo, que persague téo-scmente otefro do papel dos juizes. “NUNES, Diere José Cosfho. Honordros de sucumbancia na nova fase de cumprimanto de sentence estrutucada pela Lain? 11.282/2008. Jus Navigand, Teresina, a, 10, n. 1088, 4 jul 2006. Disponivel em. , Acesso em: 23 ago. 2008,

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