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Finisterra, XXXIIL, 66, 1998, pp. 91-118 MINORIAS ETNICAS E SEGREGAGAO NAS CIDADES UMA APROXIMACAO AO CASO DE LISBOA, NO CONTEXTO DA EUROPA MEDITERRANICA! JORGE MACAISTA MALHEIROS* Resumo — O presente artigo pretende interpretar o processo de segregaciio espacial sécio-étnica que se desenvolveu na Regiiio Metropolitana de Lisboa ao longo do tiltimo quarto de século, posicionando-o no contexto de transformagdo das cidades europeias, nomeadamente as situadas na Europa do Sul. Na primeira parte do texto, procede-se a uma discuss4o da segregacio sdécio-étnica nas cidades Europeias, confrontando-a com os referenciais dos Estados Unidos. Neste contexto, argumenta-se que a originalidade das metrpoles da Europa do Sul e a especificidade do seu contexto migratério so susceptiveis de originar um processo de segregagiio dotado de algumas particularidades no contexto europeu. ‘Na segunda parte, efectua-se uma anilise das caracteristicas da segregagiio sécio-étnica contemporanea numa metrépole da Europa do Sul — Lisboa —, colocando em confronto os dife- rentes espagos étnicos da cidade e discutindo o agravamento dos indices de segregacdo espacial verificado na Ultima década. A conclusio procura posicionar a temitica da segregacio espacial de cardcter étnico no quadro das principais transformagdes urbanas em curso, apontando tendéncias de evolugio possiveis. Palavras-chave: segregagio étnica, imigrantes, reestruturagio espacial, reestruturagio. econdé- mica, Europa do Sul, Regia Metropolitana de Lisboa. Abstract — ETHNIC MINORITIES AND SEGREGATION IN Cries. AN ASSESSMENT OF THE CASE OF LISBON WITHIN THE FRAMEWORK OF MEDITERRANEAN EUROPE — The present paper offers an analysis of the socio-ethnic spatial segregation process that has taken place in the Lisbon Metropolitan Region throughout the last 25 years. This process is analysed within the framework of the contemporary changes affecting the European metropolis and particularly those located in the Southern zone of the EU. ' Bmbora o presente texto se baseie num conjunto de dados e reflexdes originais, deve referir-se que 0 caso de estudo correspondente & Regitio Metropolitana de Lisboa foi apresentado, numa versio menos com- pleta, na revista Sociedade e Territ6rio. 2 Investigador do Centro de Estudos Geogrificos. Assistente da Universidade de Lisboa (Enderego do CEG no inicio do volume). E-mail: jmalheiros@hotmail.com 92 The first part discusses the features of socio-cthnic segregation in the metropolises of Europe, bearing in mind North-American references. Within this line of thought, it is argued that the uniqueness of Southern European metropolis as well as its specific immigratory context lead to relatively original patterns of segregation. In the second part, the features of the contemporary socio-ethnic segregation of the Lisbon conurbation are presented as a case-study from Southern Europe. The confrontation of the different ethnic spaces of the Portuguese metropolis as well as the increase in the values of the segregation indices registered in the last decade are discussed herein. The final part tries to place the ethnic segregation issue within the framework of the ongoing restructuring urban processes, offering a short overview of a few possible evolutionary trends. Key-words: ethnic segregation, immigrants, spatial restructuring, economic restructuring, Southern Europe, Metropolitan Region of Lisbon. 1-INTRODUGAO Embora seja discutivel a aplicagao do termo globalizagaio aos movimentos migra- t6rios internacionais das décadas de 80 e 903, as evidéncias empiricas demonstram um importante incremento desta populagao nos paises desenvolvidos a partir da segunda metade dos anos 80, registando o continente europeu as maiores variagGes relativas*. Para além da Alemanha, foram os paises do Sul (Portugal, Espanha, Italia e Grécia) que emergiram como grandes receptores de imigrantes, operando-se, no tiltimo caso, uma transigéo da emigragio para a imigragdo ou, em alternativa, um modelo misto que resulta da coexisténcia dos dois processos*. Este reforgo da imigragdo para a Europa tem privilegiado, em larga medida, as metrépoles, locais que possuem mercados de trabalho mais amplos e diversificados, para além de oferecerem maiores oportunidades para o sector informal. Paul White realga o facto de as grandes cidades serem, historicamente, “um produto das migra- ges”, uma vez que “ao longo do passado histérico mantiveram as suas populagdes mais pela chegada de novos residentes do que pelo excesso dos nascimentos sobre os 6bitos” (WHITE, 1998: 2). Efectivamente, os diferentes tipos de migrantes que foram chegando 4 Europa no pés-guerra acabaram sempre por privilegiar as dreas urbanas. Foi assim, com os “trabalhadores-convidados” das décadas de 50 e 60, com o movi- mento de reunificagio familiar do periodo 70-85 e, também, com os “novos” movi- 3 A este propésito, podem identificar-se posicionamentos contraditérios, procurando alguns autores demons- trar a nao aplicabilidade da nogao (TAPINOS e DELAUNEY, 1998; SKELDON, 1997: 194-195) e outros a sua validagtio (CASTLES e MILLER, 1993: 8). 4 Entre 1965 e 1995, a percentagem de imigrantes no conjunto da populacdo dos paises da Europa passou de 3,3% para mais de 5% (no total da populacao mundial este valor manteve-se relativamente estavel ~ 2.27% em 1965; 2,28% em 1995), Em 1997, residiam cerca de 19 milhdes de no nacionais nos paises da UE, mais de 2/3 dos quais oriundos de paises tercciros. 5 Relativamente 20 caso da Europa do Sul, tém sido publicados diversos estudos de conjunto: WERTH, e KORNER, (1991); 0 volume 12(1) da Revue Européenne des Migrations Intemationales (Espagne, Portugal, Gréce, pays d'immigration), publicado em 1996; KING e BLACK (1997); BAGANHA (1997) ¢ BALDWIN-EDWARDS ¢ ARANGO (1999). 93 mentos migratérios (profissionais qualificados, trabalhadores clandestinos, comercian- tes étnicos e refugiados) dos Ultimos anos (WHITE, 1993). Também na Europa do Sul, nao obstante importantes concentragdes de imigrantes em dreas menos urbanizadas, como € 0 caso dos trabalhadores agricolas marroquinos em Alicante e Murcia (Espa- nha), dos Albaneses nalgumas regides agricolas gregas ou de outros grupos de estran- geiros na Sicilia (Itdlia), as grandes cidades concentram a maioria da populagao imi- grante. A Area Metropolitana de Lisboa, por exemplo, concentra cerca de dois tergos dos estrangeiros residentes no pais, valor bastante superior aos cerca de 25% da popu- lagdo total que lhe correspondem. Em Italia, 60% dos imigrantes vive em cidades com mais de 30 000 habitantes (PALLIDA, 1998: 118). Estas evidéncias demogrdficas e quantitativas da presenga das minorias de origem nao nacional nas cidades da Europa remetem, no presente contexto de reorganizac3o e revitalizagiio dos grandes centros urbanos num quadro de integraco internacional cres- cente, para a andlise do posicionamento geografico das minorias no espaco urbano. O presente texto tem como objectivo apresentar uma reflexdo sobre a dindmica recente dos processos de segregaciio étnica na Area Metropolitana de Lisboa, posicio- nando-a no contexto mais amplo da discussio sobre as migragdes internacionais e a sua influéncia na (re)organizago espacial das cidades europeias, com destaque para 0 caso das cidades do Mediterraneo Norte. Il = SEGREGAGAO NAS CIDADES EUROPEIAS — DOS REFERENCIAIS DOS ESTADOS UNIDOS E DA EUROPA DO NORTE A ORIGINALIDADE MEDITERRANICA? 1 —As influéncias da Escola Ecolégica de Chicago e a “metafora” europeia Desde a Escola Ecolégica de Chicago que investigadores de diferentes dominios das ciéncias sociais tém analisado as dindmicas sociais especificas dos meios urbanos e as formas de organizacao espacial que Ihes esto associadas. A segregacio espacial urbana, que corresponde 4 separagdo espacial dos diferentes grupos (sobretudo étnicos e sociais) que habitam a cidade®, tem constituido um dos objectos fundamentais destas andlises. Efectivamente, a cidade capitalista, por forga do modelo de producio (fordis- mo) e decisao politica espacialmente concentrado que até hd poucos anos lhe estava associado, caracteriza-se por possuir uma organizagio espacial segregada, residindo os diferentes grupos em dreas com um certo grau de homogeneidade social interna (BARA- TA SALGUEIRO, 1997). No caso do desenvolvimento das cidades norte-americanas, a componente social sempre coexistiu com a componente étnica e, embora o bindémio brancos-negros Em termos técnicos, os nfveis de segregag3o de um determinado grupo so tanto mais elevados, quanto maior fOr 0 seu grau de concentragao espacial. Por outras palavras, se a localizacao espacial de um determi- nado grupo apresentar um padro muito distante da distribuigio espacial uniforme, esté-se em presenca de uma situagio de segregacao. Esta ser4 tanto mais elevada, quanto maior for o afastamento relativamente a0 padrao de distribuigao espacial do conjunto de toda a populagdo residente na frea em estudo. A este propé- sito, ver KEMPEN ¢ OZUEKREN (1998: 1632-1633). 94 assuma uma preponderancia particular na problemitica do espaco urbano, as vagas de imigrantes que se foram sucedendo a partir do século XIX diversificaram os padrées de organizagao espacial, complexificando a légica da segregacao. Neste sentido, fica claro © contexto que levou os investigadores da Escola de Chicago a privilegiarem, j4 nos anos 20, tanto o nivel socioeconémico como a composigao étnica, enquanto elementos fundamentais para a compreensio das diferenciagGes na estrutura interna das cidades americanas (PARK e BURGESS, 1925). No contexto da segregagiio espacial das cidades americanas, 0 ghetto negro emerge como o paradigma de situagdes de desvantagem extrema (MUSTERD, OSTENDORF e BREEBAART, 1998: 3-5), em termos de pobreza, marginalidade social e desvalorizagao espacial. Nas cidades da Europa, a relevancia da dimensio étnica nos processos de segrega- Gao € relativamente recente, estando sobretudo relacionada com os movimentos migra- t6rios internacionais iniciados no periodo posterior 4 Segunda Guerra Mundial (FORTUUN, MUSTERD e OSTENDORF, 1998: 367-368). E sobretudo a partir do inicio do decénio de 70’, que se comegam a realizar estudos empiricos sobre a localizagao parti- cular dos imigrantes e das minorias étnicas nas cidades da Europa Central e do Norte, gerando concentragées residenciais, frequentemente desvalorizadas (em termos sociais, da qualidade do espago, da imagem...) face ao conjunto da cidade. J4 a partir da segunda metade dos anos 80, a relagdo entre o posicionamento das minorias nas cida- des e os processos de reestruturagiio funcional e econémica por que estas passam vem emergindo como uma teméatica em crescendo. A reestruturagdo das economias urbanas é claramente identificdvel através da reorganizagdo do sistema empresarial e dos mercados de trabalho (HARVEY, 1990). A passagem do fordismo para os sistemas de acumulacio flexiveis (ou a coexisténcia dos dois modelos) originou a erosio do sistema industrial de produgio em massa nos pafses desenvolvidos e permitiu o desenvolvimento de estratégias de flexibilizag3o nas formas contratuais (crescimento do trabalho tempordrio, do part-time e da subcontratagio) e nos processos de produgio (e.g. da linha de montagem ao trabalho em equipa). Neste novo contexto, as grandes cidades assumiram um elevado protagonismo, vendo acentuar 0 seu papel de micleos decisores, funcionando como sedes do poder politico (os governos, as instituigdes supra-nacionais) e do poder econémico (as gran- des empresas) e concentrando os servigos mais especializados e inovadores (telecomu- nicagGes, investigacao cientffica, etc.). A reestruturagdo econémica aparece associada a reestruturagio do espago urbano (operagées de reabilitago de bairros nas dreas centrais e de antigas zonas industriais, criag&o de nticleos de “nova centralidade”, tealizagio de grandes eventos) e 4 emergéncia de novas formas de pobreza urbana e de marginali- dade social (SASSEN, 1991; MINGIONE, 1995; BARATA SALGUEIRO, 1997). A flexibili- zacao das relagdes contratuais facilitou o emprego precdrio e contribuiu para o aumento do desemprego e do trabalho clandestino. Concomitantemente, a desindustrializagio e o desenvolvimento de uma economia urbana assente nos servigos levaram a polarizagio 7 Ver, como exemplo: McEVOY (1978) para GLASGOW; DREWE (1975) para Roterdao ¢ BELBANRI (1982) para Lyon. 95 dos salarios, aumentando as diferengas entre trabalhadores qualificados e nao qualifi- cados (KESTELOOT, 1995). A esta polarizacdo dos salarios corresponde, naturalmente, alguma polarizagio nos ramos de actividade dos servicos presentes na economia urbana: a procura por gestores, analistas de sistemas e engenheiros experientes tem correspondéncia no aumento das necessidades em empregados de seguranca e limpeza, empregados de balcio e trabalhadores da construgio civil (SASSEN, 1996). Como estas Ultimas fungdes tém um grau de transferabilidade geogrifica reduzido, ao contrério das tarefas associadas a indiistria transformadora, as cidades tém necessidade de possuir mao-de-obra pouco qualificada em abundancia suficiente para as satisfazer. O aumento da escolaridade média nos paises desenvolvidos provoca desajustes entre as expectativas profissionais e salariais e as qualificagdes da oferta nacional de emprego ¢ as exigéncias dos empregadores, emergindo solugdes como o trabalho clan- destino e a importagiio de mo-de-obra estrangeira para o desempenho de tarefas pouco qualificadas. Deste modo, as minorias étnicas urbanas que se foram consolidando a partir dos anos 50, so permanentemente alimentadas por novas vagas de imigrantes, até porque © contexto sécio-econémico de muitos locais de partida (grande massa de popula¢ao jovem devido aos crescimentos demograficos elevados das décadas de 70 e 80, aumento relativamente lento dos empregos, proliferago de situacdes de insegu- tanga ¢ conflito, salérios muito baixos...) acentua a pressio emigratéria em diversas regides da Africa, Asia e América Latina, sobretudo no actual quadro de grande difusdo das maravilhas do “Eldorado Ocidental”. A vulnerabilidade laboral da maioria dos imigrantes oriundos dos paises em desenvolvimento associada a um poder de compra limitado e aos mecanismos de fun- cionamento dos mercados habitacionais piiblico e privado (custos, localizagao, condi- ges de acesso...) contribuem para a concentragio das comunidades imigradas em determinadas Areas das cidades. Por outro lado, a segregacio acaba também por ser acentuada por mecanismos inerentes ao proprio funcionamento dos grupos de imigran- tes: as redes de solidariedade e os lagos comunitérios convergem no sentido do reforgo da proximidade e da auto-protecg’o dos membros do grupo numa sociedade estranha, frequentemente com resultados ao nivel de algum isolamento societal e da concentra- ao espacial. Finalmente, o préprio planeamento urbano contemporaneo, com as suas operagdes de reabilitagao e renovagio, acaba por valorizar determinadas Areas da cida- de, com destaque para os nicleos histéricos, provocando movimentos de expulsio da populagdo mais desfavorecida em direccao as periferias. Se os conceitos e os modelos da Escola de Chicago (e.g. processo de invasio- ~sucessio) sao tidos como referéncia em diversos estudos (e.g. de JONG e VERKUYTEN, 1996), com o desenvolvimento das pesquisas na Europa, varios autores (WHITE, 1993; MUSTERD, OSTENDORF ¢ BREEBAART, 1998) preocuparam-se com a identificagao das especificidades do processo europeu: indices de segregagéio mais reduzidos do que nos Estados Unidos, menores niveis de concentrago de minorias pobres no centro das cidades e na sua envolvente imediata, relevancia da habitagio social publica nos processos de realojamento, maior grau de consolidagao das cidades no momento da chegada dos contingentes migratérios que se tém sucedido no pés-guerra. 96 Nao obstante as especificidades dos processos inerentes as diferentes cidades europeias, hoje transformadas em metrépoles multiétnicas (MUSTERD, OSTENDORF e BREEBAART, 1998: 192), é possivel reter trés ideias principais: « Em primeiro lugar, uma relativa diversidade nos padrées residenciais de distri- buicio das minorias étnicas nas grandes cidades europeias, destacando-se, em diversos casos, a rea central ¢ a sua envolvente, embora também se observem cidades em que as minorias esto sobre-representadas nas periferias. + Adicionalmente, nas décadas de 70 e 80, parece ter-se verificado uma acentuagio dos niveis de segregac&o espacial dos imigrantes instalados em diversas 4reas metro- politanas, de que sao exemplo Bruxelas (KESTELOOT, 1995), Londres (PETSIMERIS, 1995), Viena (GIFFINGER, 1998) e mesmo Lisboa. + Por tiltimo, e em terceiro lugar, as desvantagens sociais dos imigrantes e a sua concentraco nas dreas degradadas das cidades levam as diferentes autoridades nacio- nais e locais a desenvolverem politicas direccionadas para estes grupos e estes espacos. Para além destas politicas poderem ser de cardcter genérico (para todos os grupos des- favorecidos) ou especifico (destinadas especificamente as minorias ou mesmo apenas a uma destas), MUSTERD e de WINTER (1998: 666-668), referem que 0 modo como € encarada a segregacao espacial condiciona 0 tipo de politicas desenvolvido. Nos casos em que a segregagSo é assumida como um problema de privacio prossegue-se uma politica que associe compensagao social a requalificago urbana; nos casos em a segregacdo é vista como um problema espacial, privilegiam-se as medidas tendentes a dispersar o grupo problematico. 2- Reprodugio e originalidade nos padrdes da Europa do Sul — uma discussdo preliminar Nao obstante o processo de sistematizagio dos estudos sobre segregacdo étnica em diversas cidades da Europa e 0 desejo de construir uma “metéfora cientifica europeia” neste dom{nio, como € proposto por MUSTERD, OSTENDORF ¢ BREEBAART (1998: 5), a inclusao das cidades da Europa do Sul neste processo quase nao se verifica. Refira-se que em quatro publicagées recentes de carécter comparativo, que incluem 30 artigos sobre diferentes cidades da Europa, apenas dois versam sobre a Europa do Sul, e, em ambos casos, sobre cidades italianas. Os centros urbanos mediterranicos, com destaque para aqueles que se situam em Espanha, em Portugal e na Grécia estio ausentes da “metafora europeia”. Para esta situagdo concorrem diversas motivagdes. Antes de mais, os menores quantitativos dos imigrantes e das minorias étnicas nas cidades da Europa do Sul®. Em 8 Atenas serd, neste contexto, um caso extremo. Efectivamente, diversos estudos (lOsIFIDES, 1997: 28; FRAN- GOULL-PAPANTONIOU, 1998) referem que o peso relativo dos imigrantes na Grécia é superior ao registado Nos restantes paises da Europa do Sul, ndo obstante as limitagdes do material estatfstico disponfvel e a diversidade das estimativas apresentadas. Como entre 3/4 ¢ 4/5 destes imigrantes se concentram na Area Metropolitana de Atenas (IOSIFIDES, 1997: 29), isto significa que o seu peso é superior ao registado noutras metrépoles mediterranicas, como Madrid ou Lisboa. 97 segundo lugar, o facto de a segregagiio urbana de cardcter étnico ser um fendmeno mais recente nas cidades da Europa do Sul do que nas cidades da Europa do Norte leva a que 0 estudo da relagao dinamica entre os mecanismos de transformagdo urbana e os pro- cessos de exclusdo e segregaco espacial de imigrantes e minorias ainda se encontre numa fase menos avangada. As anélises efectuadas assumem, normalmente, uma pers- pectiva duplamente centrada — do ponto de vista geogrdfico, num determinado bairro (ou conjunto de bairros com ms condigdes de habitabilidade); do ponto de vista socio- ldgico, num determinado grupo étnico minoritario. Por tiltimo, 0 motivo mais interessante para a reduzida inclusio das cidades da Europa do Sul no contexto geral dos estudos de segregacfio étnica na Europa Ocidental poderd corresponder a originalidade que o processo assume nas primeiras. Efectiva- mente, a dindmica da organizagao interna do espago urbano nas cidades mediterranicas apresenta caracteristicas proprias, verificando-se também certas especificidades no que diz respeito ao posicionamento geografico dos diferentes grupos (sobretudo sociais) nas cidades. LEONTIDOU (1993) destaca 0 facto de as cidades mediterranicas ndo serem com- postas por dreas segregadas, caracterizadas por uma relativa homogeneidade social intema. A permeabilidade dos regulamentos urbanos e a tardia implementagiio dos pro- cessos de planeamento associados a um importante mercado habitacional informal tero contribuido para este processo. Por outro lado, as importantes migragdes campo- cidade ocorridas entre meados da década de 50 e inicios da década de 70 (KING, FIEL- DING e BLACK, 1997: 10-11) exerceram uma forte pressiio sobre os mercados de habita- Go formais e informais das principais metrépoles da Europa do Sul, contribuindo quer para dinamizar a oferta habitacional, quer para reforgar praticas menos disciplinadas por parte dos construtores civis (incumprimento de regulamentos, pouco respeito pelos planos, etc.). Numa perspectiva idéntica, BARATA SALGUEIRO (1997) destaca a manutengio de bairros socialmente mistos nas cidades da Europa, designadamente do Mediterraneo, mesmo apés 0 processo de industrializagdo destas sociedades. Para esta investigadora, a cidade segregada do perfodo industrial estard a ser substituida por um modelo de cidade fragmentada, caracterizada pela emergéncia, ao nivel micro, de enclaves discordantes do tecido que os cerca. Estes enclaves, que podem corresponder a um tipo de uso dis- cordante, introduzem também, frequentemente, descontinuidades de ordem social (rea- bilitag&o de habitagdes antigas em bairros populares que so posteriormente ocupadas por classes privilegiadas, construgio de prédios de luxo em contextos espaciais desva- lorizados) (BARATA SALGUEIRO, 1997). Aceitando os menores niveis de segregacdo das cidades da Europa do Sul e a emergéncia de processos de fragmentagdo do tecido urbano que, embora nfo sejam exclusivos destas cidades, também nelas se verificam, importa discutir o modo como a emergéncia da dimensdo étnica se conjuga com estes processos. Se por um lado a chegada relativamente recente, a menor dimensio quantitativa das comunidades imigradas e das minorias étnicas e a sua relativa diversidade geogré- 98 fica? limitam a formagao bairros étnicos ou de ghettos, por outro é a presenga crescente destas que vai, de algum modo, contrariar as imagens de reduzida segregacao e de ten- déncia para a fragmentaciio que acima se discutiram. A transformagao da segregagio social em segregagao s6cio-étnica nas cidades do Mediterraneo contribui para o desen- volvimento de novos bairros degradados onde os imigrantes e as minorias étnicas estiio sobre-representados, fenédmeno que contraria a légica dos baixos niveis de segregacio. E significativo que LEONTIDOU (1993: 954) se refira “As bolsas de pobreza nos bairros das minorias” como um exemplo que, de algum modo, contraria uma certa tendéncia para a homogeneidade nas cidades gregas e italianas. A dinamica de funcionamento dos mercados habitacionais (relagdo promogio ptiblica-promogio privada), a importancia dos bairros clandestinos e de barracas nas periferias de algumas grandes cidades mediterrdnicas e a simultaneidade dos processos de reestruturacdo do espago urbano e do crescimento dos nticleos de imigrantes nas duas Ultimas décadas introduzem também diferenciagdes face aos processos que ocor- reram em diversas cidades da Europa do Norte. Enquanto nas metrépoles da Europa do Norte, os imigrantes se instalaram, fre- quentemente, nas dreas envolventes do centro, este fenémeno ocorreu em menor grau nas cidades da Europa do Sul. Efectivamente, aquando da chegada das vagas de imi- grantes dos anos 60 a cidades como Bruxelas ou Amesterdiio, verificava-se um pro- cesso de deslocagao da populagdo autéctone (casais jovens, membros da classe média) para novas dreas residenciais periféricas, deixando desocupadas habitagGes antigas e pouco valorizadas situadas na zona envolvente do centro. Em virtude dos baixos niveis iniciais de solvéncia e das dificuldades formais em aceder a habitagdo social, foram estas as dreas preferidas pelos imigrantes (MUSTERD, OSTENDORF e BREEBAART, 1998; GIFFINGER, 1998). Nas décadas subsequentes, ocorreu um processo natural de reprodugao das minorias nestes espagos, de tal modo que, no inicio dos anos 90, apenas 5% dos imigrantes turcos e marroquinos" instalados em Bruxelas e 15% dos indivi- duos dos mesmos grupos residentes em Amesterdio habitava em areas suburbanas (KESTELOOT e CORTIE, 1998: 1849). Se estas duas cidades do Benelux tém aqui servi- do como exemplo, podem identificar-se processos idénticos em Manchester (concen- tragdo de Africanos na envolvente do centro), em Viena e em Roterdao. Relativamente 4 Europa do Sul, o processo de despovoamento dos centros das grandes cidades foi mais limitado, verificando-se, quer alguma fixagio de migrantes internos, quer a manutengdo das residéncias de uma parte significativa das classes média e média alta (LEONTIDOU, 1993: 959). Refira-se igualmente que este processo mais suave de despovoamento e 0 inicio da vaga de imigragao contemporanea (segunda 9.0 conjunto de nacionalidades que compdem os stocks de imigrantes dos paises da Europa do Sul é bastante diversificado, quando comparado com a situagdo verificada na Europa Central e do Norte, nomeadamente nos anos 60. Neste contexto, Portugal tem um comportamento algo discordante que surge na sequéncia de anteriores lagos coloniais, dando origem a uma sobre-representagio dos cidadiios dos PALOP. '0 Estes grupos correspondem a dois conjuntos étnicos extremamente relevantes nestas cidades. Em Amesterdio, apenas 0s surinameses apresentam um quantitativo superior a0 de turcos ¢ marroquinos. Em Bruxelas, os marroquinos constituem o maior grupo étnico nfo autéctone da dea metropolitana. 99 metade dos anos 70, inicios dos anos 80) so em larga medida simultaneos, verificando- -se mesmo, nalguns casos, uma ligeira precocidade do segundo face ao primeiro. Neste contexto, a fixagdo de imigrantes em torno das reas centrais das cidades terd sido mais limitada!!, até porque a dinamica do mercado informal de habitag’o em certos bairros suburbanos com menor qualidade urbanistica garante escoamento para a nova procura. Nao obstante os esforgos das autoridades municipais para melhorarem a qualidade urbanistica dos bairros periféricos e para implementarem planos de urbanizagio efica- zes, ainda prevalece uma certa cultura de nao regulacao, bem como um mercado infor- mal de habitagao bastante activo que tira partido da nova procura constituida pelos imigrantes. E certo que a instalagao em bairros clandestinos periféricos no é a tnica opcao dos imigrantes contemporaneos, mas a situagdo em que se encontram muitos individuos pertencentes a estas populagGes (falta de documentos que permitam a permanéncia no pais, insergéo nos segmentos clandestinos do mercado de trabalho, saldrios relativa- mente baixos e caracterizados por alguma irregularidade) limita bastante 0 acesso aos mercados formais de habitagao. De resto, aspectos regulamentares e informais relativos ao funcionamento destes tiltimos também dificultam, frequentemente, 0 acesso dos estrangeiros & habitagdo. No Ambito do mercado de habitacfo social, as restrigdes legais telativas ao acesso dos estrangeiros sé recentemente tém sido removidas, mantendo-se os stocks ¢ a oferta a niveis bastante baixos, quando comparados com os paises da Europa do Norte. Quanto ao sector privado, é frequente os proprietarios terem alguma relutancia em arrendar casa aos estrangeiros identificados com as minorias étnicas pobres, fazendo-o, em diversos casos, em condigdes menos favordveis (pagamento antecipado de maior numero de meses, investigagdes bancdrias mais aprofundada: do que as exigidas aos nacionais!2. Mas a menor presenga dos imigrantes nos espagos residenciais situados na zona envolvente dos centros das grandes cidades da Europa do Sul também esté relacionada com 0 desenvolvimento dos processos de reabilitagio e requalificac¢do que comegaram a ocorrer nestas reas. Neste Ambito, 0 exemplo dos centros das metrpoles italianas é pertinente, uma vez que tais processos comecaram a ocorrer logo na primeira metade dos anos 80 levando a revalorizagao destas dreas, o que funcionou como entrave para a instalagao dos grupos desfavorecidos, de que sao exemplo as minorias étnicas menos solventes (PALIDDA, 1998: 123). Todo este quadro parece confirmar uma maior periferizagdo das minorias nas metrdpoles da Europa do Sul. BUCKLEY IGLESIAS (1998: 286), por exemplo, refere que “apenas alguns nticleos de barracas da periferia de Madrid” tém uma populagdo maio- Isto nao significa que o fenémeno esteja ausente ou seja negligenciavel. Por exemplo, PETSIMERIS (1998: 461-462) evidencia a localizagio das minorias étnicas na zona central de Turim e na sua envolvente préxima, Pelo seu lado, King e losifides referem-se & existéncia de um processo de transigaio demogrifica no centro de Atenas que envolve a safda de familias gregas ¢ a instalagio de albaneses (1998: 208-209). Contudo, os mesmos autores identificam também minorias mais periferizadas, como € 0 caso dos egipcios. 12 King ¢ losifdes (1998; 217-218) ilustram bem este fendmeno para o caso de Atenas, sendo possivel identificar situagées idénticas noutras éreas metropolitanas, como Madrid ou Lisboa. 100 ritariamente composta por minorias étnicas e PALLIDA (1998: 124) destaca a “guerra” entre os pobres nacionais € os pobres estrangeiros que ocorre nalguns subiirbios operd- tios das cidades italianas. TOSI e LOMBARDI (1999), analisando 0 caso de Milao, refe- rem que as vagas imigratérias mais recentes (e.g. marroquinos) tém tendéncia a insta- lar-se nalgumas periferias, 4reas para onde também parecem convergir outros grupos de estrangeiros, apés uma passagem, mais ou menos curta, pelo centro da cidade. Para reforcar esta imagem de menor concentrago nas zonas centrais, pelo menos Para 0 caso das capitais ibéricas, refira-se que 0 censo de 1991 evidenciava que a pro- porcao de estrangeiros residentes (excluindo Europeus e Norte-americanos) no munici- pio de Madrid (68% dos residentes em toda a AMM) era relativamente idéntica ao peso destes no conjunto da populagio total da Area Metropolitana (66%). Na Area Metro- politana de Lisboa, a periferizagio das minorias étnicas de origem nao nacional é ainda mais nitida, uma vez que Lisboa concentrava, em 1991, cerca de 26% da populacdo total da AML, mas apenas 20% dos estrangeiros nao europeus e nao norte-americanos. Ainda que seja necessdrio aprofundar os estudos sobre a presenga de minorias nas cidades da Europa Mediterrinica e, sobretudo, desenvolver sistematizagdes comparati- vas, parece possivel destacar, como hipétese preliminar, alguns macro-elementos comuns, n&o obstante as especificidades apresentadas pelas diversas cidades. Em ter- mos genéricos, estes correspondem a: + Menor significado quantitativo das minorias étnicas e da populacio imigrada oriunda de paises exteriores 4 Unidio Europeia, o que impede a formacio de grandes bairros e unidades de vizinhanga predominantemente étnicos, com consequéncias ao nivel da redugao dos niveis da segregagio espacial. Emergem, contudo, alguns micleos residenciais de dimensio relativamente pequena (e.g. bairros clandestinos e de bar- racas), sobretudo nas periferias de cidades como Lisboa e Madrid, onde a populagiio de origem nao autéctone jé é dominante. + Menor concentragao nas dreas centrais das cidades e na sua envolvente, o que no significa a inexisténcia de micleos residenciais de imigrantes nestes espagos, em diversas metrépoles da Europa do Sul. Esta maior periferizagao dos imigrantes e das minorias foi favorecida pela dinamica do sector habitacional informal, pela expansiio de habitacdo social nas dreas suburbanas e, ainda, pelos pregos competitivos da oferta de habitagao em diversas periferias. Eventualmente, as cidades francesas ocuparao uma posigéo de charneira neste dominio, pois como afirmam MUSTERD, OSTENDORF e BREEBAART, (1998: 154), “a presenca de grupos étnicos parece dirigir-se mais para as dreas exteriores da aglomera¢ao, quando comparada com outras 4reas metropolitanas”” (da Europa Central e do Norte). + A introdugao da dimensio étnica nos processos de segregacio altera as inter- pretagdes correntes (baseadas no comportamento espacial das classes sociais) e introduz algumas distorgées relativamente ao processo de fragmentagio social do espago urbano. Efectivamente, a localizaco residencial das minorias no espago urbano das cidades da 13 Apesar desta evidéncia, convém frisar que também ocorre alguma sobre-representacio das minorias nfo nacionais na zona central de Madrid (Almendra Central), como atesta o facto de quase 50% dos estran- gciros residentes no municipio, em 1991, aqui ter residéncia 101 Europa do Sul parece ainda ser marcada por tendéncias que apontam para a concentragio espacial e © acréscimo da segregagao'+, contribuindo para tal fenémenos como as limitagdes no acesso as residéncias promovidas pelo sector privado, a geografia da habitagdo social e a tendéncia para o reagrupamento dos grupos minorit4rios no destino. Ill -O EXEMPLO DA REGIAO METROPOLITANA DE LISBOA’ 1-O passado recente Até meados dos anos 60, a instalagao de imigrantes na Regido Metropolitana de Lisboa (RML) era extremamente reduzida, designadamente porque as necessidades regionais de mio-de-obra eram completamente satisfeitas pelo mercado interno. Nesta década, 0 reforgo da dindmica da indistria e da construgio civil na RML provocou um incremento nas exigéncias de mio-de-obra, designadamente masculina. Como a ele- vada emigragao e a guerra colonial afastavam um contigente significativo da populagio jovem do mercado de trabalho nacional, o recurso 4 imigragao de trabalhadores pouco qualificados de origem cabo-verdiana comegou a ser praticado por diversas empresas da construc¢do civil e da industria transformadora (FONSECA, 1990; SAINT-MAURICE, 1997). Nesta época, apesar de diversos trabalhadores viverem dispersos pela periferia de Lisboa ou nos estaleiros das obras, foi uma drea relativamente préxima do porto e do centro tradicional da capital (Sado Bento/Santos, com destaque para 0 triangulo formado pelas Ruas de Sdo Bento, dos Poiais de Sio Bento e do Pogo dos Negros) que se tornou 0 ponto de referéncia espacial dos cabo-verdianos. Os jardins da vizinhanga (Estrela, Sao Bento) comegaram a funcionar como ponto de encontro desta populacao, apare- cendo depois os primeiros locais de convivio, inicialmente discretos e exclusivos, depois abertos ao exterior, sob a forma de cafés e tascas. A pouco e pouco, alguns caboverdianos foram-se instalando como residentes, 0 que transformou esta 4rea da vizinhanga do centro antigo, no bairro da cidade antiga onde a visibilidade da minoria é mais significativa, ainda que a maioria da populacio residente seja branca e autéctone. Ao longo de trinta anos, a consolidagao de Sdo Bento como espaco residencial da minoria e, sobretudo, como ponto de encontro de caboverdianos e de africanos em geral, € um exemplo didactico, tanto da relativa inércia dos processos de mobilidade residencial do centro de Lisboa e da sua vizinhanca, como da relevancia das redes sociais no apoio aos imigrantes. Espaco de africanos (caboverdianos, sobretudo), a imagem de Sao Bento difundiu-se na cidade e foi interiorizada e reproduzida pelos pré- prios membros do grupo, desde dos mais antigos aos mais jovens, que incluem imi- grantes recentes e gente j4 nascida em Portugal. |4 Apesar do niimero reduzido de estudos, podem citar-se como exemplo a andlise de PETSIMERIS para Turim (1998: 461) e os resultados da secgio seguinte, referentes a0 caso de Lisboa. 15 Usa-se a designagdo de Regio Metropolitana de Lisboa, em virtude da unidade de andlise utilizada nesta componente do artigo incluir apenas 16 concelhos da Area Metropolitana, estando excluidos Mafra e a Azambuja. Duas razGes justificam esta opgao: 0 fraco peso da populagdo estrangeira ¢ a menor insergao destes municipios na I6gica de funcionamento e interacgio metropolitana. 102 Apesar das origens do ciclo de imigragao laboral contempordneo para Portugal se situarem nos anos 60, esta populagao, oriunda do império, nao era classificada como estrangeira. Os estrangeiros residentes representavam cerca de 1% da populagao da Regido Metropolitana de Lisboa, constituindo os europeus o grupo dominante (Qua- dro 1), com os espanhdis em primeiro lugar. Para além deste grupo, apenas os Brasilei- ros apresentavam um contigente com algum significado. Quadro I — Populagao estrangeira na Regio Metropolitana de Lisboa (dados sintese) - 1960 e 1981 Table I — Foreign population in the metropolitan region of Lisbon (basic data for 1960 and 1981) 1960 1981 Percentagem de estrangeiros na populagao total 1,0 18 Grau de concentragao na RML (% da RML no pais) 55,2 44,5 Grau de concentragao na cidade de Lisboa (% de Lisboa na RML) 72,8 33,5 Grau de concentragao no muniopio de Cascais (% de Cascais na RML) | 12.4 40 Percentagem de Europeus no conjunto dos estrangeiros 84.2 28.2 Percentagem de Africanos nos estrangeiros(1) 09 60,5 Percentagem de Americanos nos estrangeiros(2) 60 39 Percentagem de Brasileiros nos estrangeiros 79 5,2 1) Em 1960, nao inclui a populagdo das ex-coldnias. 2) Nao inclui brasileiros. Fonte: INE, Censos de 1960 e 1981. A relevancia destas nacionalidades aponta para uma sobre-representagao das clas- ses média e média-alta e est4 associada ao efeito de contra-corrente e 4 proximidade cultural relativamente ao Brasil, ds trocas populacionais entre os Estados Ibéricos ¢ a instalagao de reformados e de alguns profissionais qualificados que trabalhavam para representagGes diplomaticas, colégios e algumas empresas estrangeiras, que j4 entio actuavam em Portugal. Deste modo, é natural que mais de dois tergos dos estrangeiros residentes trabalhassem no comércio e nos servicos. Em termos geogrdficos, a maioria destes residentes estava instalada no interior da cidade de Lisboa e na Linha do Estoril, com destaque para Cascais. Estas localizagées confirmam os elevados niveis de solvéncia e 0 estatuto social da maioria da populago estrangeira, uma vez que para além de revelarem proximidade aos locais de trabalho, correspondem a dreas de prestigio, com uma imagem extremamente atractiva. Na Linha do Estoril, érea em clara valorizagio desde o terceiro quartel século XIX, que nao sé exercia a sua atracgiio sobre as elites nacionais, mas também sobre os estrangeiros'* 16 A génese da alracgéio da Linha do Estoril sobre grupos de estrangeiros europeus pode ser tragada a partir de 1872, quando a companhia inglesa do cabo submarino se instalou em Carcavelos. Nos anos subsequentes, diversos ingleses ¢ alemaes instalaram-se na drea, dando origem a coldnias que ainda hoje se mantém (CAVACO, 1983: 33). 103 (CAVACO, 1983), o turismo balnear estava associado a lazeres luxuosos, simbolizados pelo casino ¢ pelos bons restaurantes. As exigéncias espaciais e paisagisticas da popu- lagao residente, nacional e estrangeira, assim como a execugio de um plano de urbani- zagao relativamente precoce contribuiram para impedir a degradagao ambiental e urba- nistica da area, quando © processo de suburbanizacao se intensificou durante os anos 60, Tal como foi mencionado a propésito dos cabo-verdianos em Sao Bento, o factor inércia, que remete para uma capacidade de reprodugdo espacial dos grupos de imi- grantes in situ, também se verificou no caso dos europeus instalados na Linha do Esto- ril. Embora as motivagdes sejam diferentes e a capacidade de escolha alargada, este ultimo grupo ainda hoje esta sobre-representado nesta area. Os factores positivos, atras mencionados, mant&m-se enquanto componentes atractivas que, de resto, sido divulgadas por promotores imobilidrios que actuam ao nivel internacional, com desta- que para a Europa do Norte. O movimento migratério macigo que se verificou na sequéncia da Revolugo e do processo de descolonizagao dos PALOP contribuiu, nao s6 para aumentar (15 317, em 1960; 45 416, em 1981) e alterar a composigio geogrdfica e sécio-profissional da populagdo estrangeira!’ da Regiao Metropolitana de Lisboa, como para reconfigurar os seus padrdes de localizagao residencial (Quadro I). Efectivamente, a chegada de mais de 500 000 pessoas oriundas das ex-col6nias na segunda metade dos anos 70 exerceu uma forte pressiio sobre o mercado habitacional, com particular incidéncia na Regiaio Metropolitana de Lisboa, uma vez que mais de 50% destes individuos acabaram por aqui fixar residéncia. Esta procura habitacional contribuiu, por um lado para a intensificagao da promogio publica'* e, por outro, para dinamizar, mais ainda, os processos de produgiio de habitagao clandestina (FONSECA, 1990). Como 0 processo imigratério foi stibito e sem preparacdo, os recursos econédmicos da populagio recém-chegada nao possibilitavam, em muitos casos, 0 arrendamento ou a aquisigio de habitagio no mercado privado. Ne caso da populagao africana, tormada estrangeira por decreto na sequéncia da descolonizagao, esta situagado era frequente- mente agravada pelos baixos niveis de solvéncia no territério de origem e pela auséncia de apoio familiar no destino. Deste modo, muitos imigrantes foram compelidos a ins- talar resid&ncia nos municipios da primeira coroa metropolitana, com destaque para os bairros clandestinos das franjas ou traseiras de Lisboa, Este padrao de localizagao (figura 1a) foi facilitado pelo desenvolvimento do mercado habitacional paralelo que envolveu, quer a ocupagdo habitacional clandestina de terrenos expectantes, quer a transferéncia de barracas de migrantes internos para a populago oriunda do exterior. 17 Para além dos individuos de ascendéncia portuguesa e indiana, muita populagio de origem afticana, tomada estrangeira pelas disposigdes do DL 308-A de 24 de Junho de 1975, chegou no perfodo compreendido entre 1974 e 1976. 18 Apés os decréscimos verificados entre 1974 e¢ 1976, o nimero médio anual de fogos (construao licenciada) colocado rio mercado pelo sector piiblico, nos tiltimos trés anos da década, situou-se préximo dos $100, valor nunca antes atingido, Na primeira metade dos anos 80, 0 valor médio anual foi ainda mais elevado (INE, sistematizado por FERREIRA, 1987: 239). 104 a-AFRICANOS, Pemager no iaica ML 11.2 b- Nacional da CE (12) Estrangeiros (Aficanos ou nacianais da CE(12))Populacao total 4000 11-20 Pemiagom rate da MLS 21-45 46-112 o 50m 113-225 Lt 1 1 1 i Fig. 1 — Peso relativo dos estrangeiros oriundos da CE (12) ¢ de Africa na Regiao Metropolitana de Lisboa, em 1981 Fig. 1 — Relative weight of the foreign nationals coming from African and EC (12) countries in the municipalities of the Metropolitan Region of Lisbon — 1981 105 Quadro II - fndices de segregagiio para um conjunto de grupos de migrantes internos ¢ internacionais (municipios da RML — 1981) ‘Table II - Segregation indices for selected groups of foreign and internal migrants (municipalities of the Metropolitan Region of Lisbon — 1981. indices de Populagao segregagao 1981 1981 Guineenses 16,1 809 Cabo-verdianos 25,2 16814 Angolanos 144 5966 Brasileiros 188 2337 Espanhdis 33,7 4905 Franceses 15,4 1846 Britanicos 40.9 1359 Nacionais dos paises da CE (12) 27,8 11078 Nacionais de paises africanos 18,1 27237 Naturais do Algarve 184 58842 Naturais do Alentejo 18,6 224695 Naturais da Regiao de Lisboa 63 1304502 Naturais de Leiria-Santarém 11,9 141389 Naturais de Coimbra-Aveiro (Centro Litoral) 13,4 91735 Naturais de C.Branco-Guarda-Viseu (Centro Interior) 14,0 254064 Nalurais de Porto-Braga-V.Castelo (Litoral Norte) 12.3 97541 Naturais de Braganga-Vila Real (Interior Norte) 12,7 73060 Naturais da R.A. dos Agores 13,2 7385 Naturais da R.A. da Madeira 11,3 9899 Fonte: INE, Censo de 1981. Concomitantemente, estes recém chegados também se instalaram nas Areas periféricas que, na segunda metade dos anos 70, ofereciam residéncias novas a custos acessiveis, tanto de promocdo ptiblica, como privada. Os exemplos siio diversos, podendo citar-se, como situagdes contrastadas dos pontos de vista locativo e da composigio sécio- -geografica, os casos da Cidade Nova (Santo Antonio dos Cavaleiros) e do Vale da Amoreira (Moita). Verifica-se assim que a componente étnica passou a integrar, em definitivo, o pro- cesso de segregacdo espacial da RML, na segunda metade dos anos 70. A partir deste periodo, a segregagiio social tornou-se segrega¢do socio-étnica. Para além das dificuldades de acesso ao mercado habitacional condicionarem as possibilidades de escolha dos grupos de imigrantes mais desfavorecidos, o facto de os 106 indices de segregag’o! dos estrangeiros em 1981 serem, em termos gerais, mais eleva- dos do que os dos grupos de migrantes internos (Quadro II) revela outro aspecto, Efectivamente, constata-se um maior vigor dos mecanismos associados ao papel das redes migrat6rias no reestabelecimento dos grupos de migrantes no destino, no caso das populagées estrangeiras. Uma maior distancia sécio-cultural relativamen- te a origem, reflecte-se, de algum modo, numa tendéncia mais elevada para o reagrupamento no destino. Claro que o grau de identidade territorial partilhado pelos membros do colectivo em movimento e o nivel de homogeneidade social de cada grupo influenciam também os niveis de segregagio. E significativo que as populagGes estrangeiras mais homogé- neas do ponto de vista social e identitdrio (e.g. ingleses e caboverdianos”) apresentem indices de segregacao mais elevados. Do mesmo modo, é interessante verificar que os naturais do Alentejo, com uma pertenga social relativamente idéntica?! e possuidores de uma identidade cultural forte registem o indice de segregagéio mais elevado de todos os grupos com origem nacional. 2—Tendéncias dos anos 80 e 90: reestruturagao urbana e aceleraciio da segregacio de base étnica 2.1— Reestruturagio econémica e espacial na Regiio Metropolitana de Lisboa — alguns elementos O processo de intemacionalizagio da economia portuguesa a partir da segunda metade dos anos 80 teve a Regido Metropolitana de Lisboa como principal protago- nista. O investimento directo estrangeiro em Portugal concentrou-se na Regiaio de Lis- boa e Vale do Tejo e, dentro desta, na Area Metropolitana de Lisboa. No dmbito deste processo, a crescente presenga de empresas de capital estrangeiro da area do comércio 19.0 indice de segregagio foi calculado segundo a seguinte formula %E|x;_y,|*100 x — corresponde & relagdo entre um grupo de populagdo residente numa determinada regio i ea popullacdo total do mesmo grupo residente em toda a drea incluida no estudo. y—corresponde & relagao entre a populagdo de todos os restantes grupos na regio i e a populagao dos mesmos grupos residentes em toda a drea em estudo. n— Numero de unidades espaciais que integram a rea em estudo. Este indice de segregagao varia entre 0 (distribuicdo perfeita - distribuigao equitativa dos grupos étnicos efou sociais pelo territério) © 100 (segregagdo maxima). Para obter explicagdes mais desenvolvidas relativamente a estes tipo de indices, ver PETSAMERIS (1995). 20 Por exemplo, MACHADO, em 1992, refere-se a este grupo como uma comunidade possuidora de “uma estrutura de classes mais proletarizada...” (p. 126). 21.4 origem s6cio-profissional desta populago, designadamente no inicio dos anos 80, correspondia a0 assalariamento agricola no mundo rural alentejano, Uma traject6ria social frequente associada a migracao para a Regido Metropolitana de Lisboa coresponde & passagem de proletério agricola (na origem) para proletério industrial (no destino) (FONSECA, 1990). 107 e, sobretudo, dos servicos* contribuiu para a instalagio na RML de diversos profissio- nais qualificados e altamente qualificados oriundos de paises da Unido Europeia. Refi- ra-se que foi precisamente o ramo de actividade correspondente As actividades financei- Tas € a0s Outros servicos prestados 4s empresas que registou a maior variacio relativa do emprego, entre 1986 e 1994, na Regido Metropolitana de Lisboa (BARATA SAL- GUEIRO et al., 1997: 107). A construgio civil e as obras piiblicas foram outras actividades que experimenta- ram uma forte dinamica na RML, tanto ao nivel do crescimento do emprego, como da captago de investimento estrangeiro. O processo de internacionalizac3o deste sector, contribuiu para a instalagio em Portugal de alguns quadros técnicos de empresas estrangeiras de construgao civil, mas reflectiu-se sobretudo num acréscimo dos traba- Ihadores africanos, com destaque para os nacionais dos PALOP, que exercem as fun- ges menos qualificadas. E a capacidade de atracgo da construgao civil relativamente ao trabalho masculino menos qualificado, tem paralelo na capacidade de atracgio do comércio e, sobretudo, dos servicos pessoais e domésticos, sobre as activas imigrantes das empresas de limpeza industrial e das residéncias particulares. A dinamica da economia urbana a partir de meados dos anos 80 parece ter acentuado as tendéncias polarizadoras ao nivel do emprego, tendéncias essas que incorporam uma dimensio étnica: por um lado, favorecem a presenga de quadros inter- nacionais, curopeus, norte-americanos e brasileiros, qualificados e bem pagos; por outro, exigem a presenga de um forte contigente de emprego pouco qualificado nos ser- vigos € nas actividades formais de produgao e transformagio fisica da cidade (constru- go civil e obras ptiblicas), largamente satisfeito pelos imigrantes dos PALOP. Estas tendéncias, reforgadas pela polarizagdo global dos saldrios verificada na RML, entre 1986 e 1994 (BARATA SALGUEIRO et al., 1997: 127-128), so, contudo, simultanea- mente étnicas e sociais. Nao sé existe alguma diferenciagdo nas condigdes sociais internas de cada grupo de imigrantes (MACHADO, 1999: 72), mas também a sobre- -tepresentaco de certas origens geogrdficas em determinadas fungOes est associada a uma prevaléncia de determinadas qualificagdes e estatutos sociais. Para além dos aspectos de cardcter econémico, as recentes intervengdes de requa- lificagdio e renovagao urbanistica também tiveram efeitos ao nivel das dinamicas relati- vas a localizagao espacial dos grupos étnicos nao nacionais. Por um lado, o processo de transformagiio das acessibilidades metropolitanas, pri- vilegiando, em larga medida, o transporte privado individual, acentua a dicotomia entre 0 espaco positivo (servido por novas infra-estruturas vidrias e com bons acessos aos veiculos automéveis) e os espacos marginais, pior servidos pelo mesmo tipo de infraes- truturas. Se bem que os investimentos na rede de transportes tenham um efeito social- mente desejével, na medida em que reduzem as distancias-tempo envolvidas nos movimentos pendulares, sobretudo daqueles que utilizam as rodovias, o privilégio con- cedido ao automével acentua as desigualdades. Efectivamente, como as familias 2s sectores financeiro, imobilidrio e dos servigos &s empresas concentraram mais de metade do inves- timento directo estrangeiro efectuado na Regio de Lisboa e Vale do Tejo entre 1991 € 1993 (BARATA SALGUERO et al., 1997: 80). 108 pobres, que incluem bastantes imigrantes dos PALOP, no tém automével ou utilizam- -no de modo mais parcimonioso, o seu direito 4 mobilidade é afectado, acentuando-se esta forma de injustiga espacial. Por outro lado, tanto a dinamica do mercado habitacional, como as préprias politi- cas de habitacdo n&o vao no sentido de atenuar os processos de segregaciio no interior da Regio Metropolitana de Lisboa, pelo menos aqueles que tem um contetido mais marcado pela etnicidade. A dinamica do sector imobilidrio lisboeta durante os anos 80 privilegiou, no dominio da habitagao, o segmento de luxo. Do ponto de vista espacial, apesar de algu- ma dispersiio, as acgGes privadas de renovagao e requalificacao urbana de dreas antigas e degradadas comecaram por privilegiar, essencialmente, dreas com uma boa imagem urbanistica e social (Lapa, Santa Catarina, Belém e mesmo 0 Principe Real) (BARATA SALGUEIRO, 1994: 83). Efectivamente, apesar da diversificagio dos tipos de oferta habitacional dirigidos para os estratos mais elevados (condominios fechados, edificios teabilitados, novas vilas nos subtrbios) as localizagées escolhidas parecem privilegiar, quer dreas que j4 possuem boa imagem social e urbanjstica (em Lisboa, na Linha...), quer espagos periféricos pouco densos, cuja imagem ainda vai ser construfda (e.g. Belas, novos conjuntos residenciais de Benavente ou Alcochete). Também no dominio da habitagio social, a politica seguida nao parece atenuar a segregagao de cardcter sdcio-étnico. As operacdes de realojamento no tem tido gran- des efeitos ao nivel da redugio da concentragdo espacial das classes mais desfavore- cidas, tanto nacionais, como estrangeiras (BAGANHA, 1996). Efectivamente, uma parte significativa dos realojamentos efectuados ao abrigo do PER resultam na transferéncia maciga de populagdes para grandes areas de habitacdo social (Zona M de Chelas; Apelagaio, no concelho de Loures, ete.). A qualidade habitacional melhora, mas a concentragio espacial nao é contrariada. Mesmo o muito recente PER-famiflias, ins- trumento destinado a flexibilizar as opges residenciais dos candidatos a realojamento, mantém tais restrigdes que a sua utilizac3o tem sido bastante diminuta”, 2.2 —O acentuar da dimensao étnica: em direcg&o a uma metropole mais segregada As modificagdes na distribuigao de Europeus e Africanos por municipio, durante a década de 80 (fig. 2), indiciam um provavel incremento nos fndices de segregag3o com base na etnicidade. Os concelhos onde a proporgdo de Europeus na populagio residente total experimentou um incremento correspondem 4 Costa do Estoril (Oeiras e Cascais) e, no caso da Margem Sul, a espagos da segunda coroa periférica com uma boa imagem urbanistica e ambiental que actualmente esté em valorizagiio (e.g. municipios de Sesimbra e Palmela que beneficiam da proximidade do mar e da serra da Arrabida). 23 Inicialmente, parece ter existido algum desajuste entre a capacidade de resposta dos servigos que lidavam ‘com o processo (IGAPHE e, posteriormente, INH; Camaras Muncipais) ¢ as exigéncias despoletadas pelo langamento do programa. Actualmente, os tectos financeiros impostos, a obrigatoriedade de recorrer a uma tinica entidade bancéria ¢ a lentidao dos processos burocritico-administrativos sao alguns exemplos de limitagGes a uma implementaco bem sucedida deste programa. 109 6 04m Ltt Incremento relativo dos Aticanos Ineremento relative nos nacionais de paises da CE (12) TI omens rate ob arnoe oe rp Total Taxa de variacao 1905-1987. (0.4%), strangolroe na AML|T981) 45281 ringho vwar-1995 (142%) thas atncanes estrangelos sa RAL (1981).27017; Tax@ de vane 1981-1894 — 04) Fone: INE, Genses oa ppaicto, 196) « 160% Fig. 2 — Municipios onde os Africanos ¢ os Nacionais de Paises da Comunidade Europeia (12) registaram um incremento no seu peso relativo, entre 198] € 1991 Fig. 2 — Patterns of increase of African and EC (12) nationals in the municipalities of the Metropolitan Region of Lisboa, 1981-1991 J& no caso da populagio de nacionalidades africanas, o seu peso relativo tornou-se mais significativo nos espagos suburbanos menos prestigiados, onde a habitagiio é mais acessivel e/ou barata. Neste Ambito, destacam-se os bairros onde se manteve, ao longo dos anos 80, uma dindmica de expansio sécio-urbanistica que est4 associada, em diversos casos, a processos de etnicizagao de unidades de vizinhanga. Embora esteja- mos de acordo com MACHADO (1992: 129), quanto 4 menor incidéncia de bairros ocu- pados por minorias étnicas quando se compara a RML com outras metropoles da Euro- pa Central ¢ do Norte, a evolugio verificada ao longo dos tiltimos 15 anos evidencia um incremento no nimero de locais onde as minorias dos PALOP se tornaram claramente 110 maioritarias. A Quinta do Mocho, no concelho de Loures, ¢ diversos bairros da “cintura cabo-verdiana da Amadora” ilustram bem este processo. De resto, se em 1992, MACHADO (p. 129), citando um trabalho de RODRIGUES que incluia como caso-de- -estudo 0 bairro do Alto da Damaia, referia a impossibilidade de se falar “de espagos da minoria cabo-verdiana”, a presente evolugdo deste e doutros bairros do concelho da Amadora, j4 aponta noutro sentido. O crescimento da populagio de origem africana, tanto por via das migragdes como da fecundidade, o incremento dos espacos de sociabi- lidade ancorados numa clientela de base étnica (cafés, associagSes...) ¢ 0 desen- volvimento de comércio étnico (mercearias, cabeleireiros e barbeiros especializados em cortes e penteados africanos) apontam para a génese de um espago apropriado pela minoria, ainda que se mantenham relag6es, frequentemente conflituais, com a popula- cao branca autéctone. Sistematizando a informagdo contida na figura 2, verifica-se que os concelhos (Loures, Vila Franca de Xira, Moita, Almada) onde ocorreu, durante a década de 80, um incremento relativo dos Africanos incluiam importantes 4reas de bairros clandesti- nos nao consolidadas, alguns grandes projectos de habitagio social e situagdes de bair- ros de barracas e mesmo de edificios semi-acabados. Os concelhos que registavam maiores nfveis de concentragio de Africanos em 1981 — Amadora e Oeiras — no observaram variagGes relativas tao significativas. Por um lado, o facto de a populagdo de base ser mais numerosa torna a variagio relativa Quadro III - indices de segregago dos principais grupos de estrangeiros residentes na Regiao Metropolitana de Lisboa (municipios da RML - 1981 e 1991) Table III - Segregation indices for the main foreigners groups of in the Lisbon Metropolitan Region (municipalities of the MRL, 1981 and 1991) indices de Segregagao 1981 1991 Portugueses 14,23 17,37 Comunidade Europeia (12) 27,79 30,5 Alemaes 25,19 27,1 Espanhéis 33,74 36,6 Franceses 15,36 19,5 Ingleses 40,88 412 Nacionais de paises africanos (total) 18,05 214 Cabo-verdianos 25,18 27.5 Nacionais da Guiné-Bissau 16,09 31 Angolanos 11,05, 14,5 Saotomenses 37,56, 30,2 Mocambicanos 11,81 22,5 Brasileiros 18,83 24,2 Cidadaos dos EUA e do Canada 30,2 29,3 11 menos relevante. Para além deste aspecto de cardcter estatistico, o grau de consolidagao atingido em diversos bairros clandestinos e de barracas (relativo esgotamento do espago de construgio, maior controlo sobre a realizagao de habitagio ilegal...) dificultou a sua expansdo fisica, sobretudo a partir da Ultima metade da década de 80. Por tltimo, a antiguidade da presenga em Portugal de muitos membros das minorias étnicas residen- tes nestes locais, com destaque para os cabo-verdianos, reforgard, provavelmente, os processos de naturalizacdo, o que tem como efeito a exclusio destes individuos do pro- cesso de cAlculo, que apenas inclui os africanos de nacionalidade estrangeira. O Quadro III revela um incremento generalizado dos indices de segregacaio dos grupos de populagdo estrangeira residentes na RML, entre 1981 e 1991. Uma observago por grupos mostra que os valores mais elevados sao atingidos entre os Europeus (especialmente Ingleses e Espanhdis) e os Norte-Americanos. No caso dos Africanos, so os Sio Tomenses e os Guineenses que apresentam maiores indices. A quase duplicago do indice de segregagio desta tiltima populagio, que corresponde a nacionalidade dos PALOP com maior crescimento durante a primeira metade da década de 90, reflecte, do ponto de vista espacial, a tendéncia para alguma homogeneizaciio, patente no processo de proletarizacdo identificado por MACHADO (1999: 70-71), no periodo 1986-1995. A identificacio de indices de segregagiio elevados entre os grupos de imigrantes que residem, maioritariamente, tanto nas areas mais desvalorizadas, como nos espacos de maior qualidade ¢ prestigio, reflecte a influéncia das componentes activas e passivas da segregacio. Efectivamente, entre os Europeus’e os Norte-americanos a segregacao est4 mais dependente de estratégias activas inerentes ao proprio grupo, uma vez que 0 seu acesso a informacio e a sua capacidade aquisitiva alargam o leque de escolhas resi- denciais possfveis. J4 no caso das populagdes de origem africana, os elementos exter- nos (oferta de habitago ptiblica, discriminagao...) actuam como condicionantes muito mais fortes, uma vez que largos contingentes destas possuem meios mais limitados, niio s6 em termos de informacdo, mas também no Ambito do acesso as instituigdes e dos prdprios recursos financeiros. Contudo, deve referir-se que, nao obstante 0 quadro de Testrigdes externas identificado, as estratégias endégenas aos préprios grupos africanos (e.g. valorizagao das redes familiares e de solidariedade entre conterraneos, oportuni- dades do mercado informal mais etnicizado) também assumem alguma relevancia nas op¢Ges residenciais tomadas por estes. As figuras 3a e 3b ilustram, de modo mais detalhado, os padrGes de distribuigao™ espacial dos estrangeiros oriundos, por um lado de paises africanos e, por outro, de 4 Estes padrdes de distribuigo esto representados através de mapas com quocientes de localizacao (QL’s) Estes indices expressam a relaclo entre o peso relativo de um grupo particular de estrangeiros (e.g Africanos) em cada freguesia ¢ 0 peso relativo do mesmo grupo no conjunto da Regido Metropolitana. Os valores de referéncia para os quocientes de localizagio sio: QL> 1 ~ Sobre-representagio relativa do grupo na freguesia. QL = | ~ 0 peso relativo do grupo na freguesia reproduz 0 seu significado no conjunto da Regido Metropolitana. QL< 1-0 grupo esté sub-representado na freguesia. 112 a mm +30 FREER 2.0123,00 [EE 1.5122,00 FED 1o1a1,50 Fig. 3a - Quocientes de localizagdo, nas freguesias da RML, Imigrantes de nacionalidade africana, 1991 Fig. 3a — Location quotients for the immigrants of African nationalities (freguesias of the Metropolitan Region of Lisboa, 1991) 113 or HE 30 EER 2.010300 [EOD 1512200 FEE] i oraiso FEZ] asiai00 [J coians0 SeAML- 047 4 Maxima = 4,10 8 Minima - 0,00 Fig. 3b — Quocientes de localizago, nas freguesias da AML, Imigrantes de nacionalidade europeia e norte-americana, 1991 Fig. 3b — Location quotients for the immigrants of European and North- American nationalities (freguesias of the Metropolitan Region of Lisbon, 1991) 114 nagdes da Europa e da América do Norte. A dicotomia é bastante nitida. Os primeiros estéo sobre-representados nas margens da cidade Lisboa e nos espagos suburbanos intersticiais, onde abundam os clandestinos e os bairros de barracas*5, tanto na Margem Sul, como na Margem Norte do Tejo. Os segundos residem, preferencialmente, na Margem Norte do Tejo, ao longo da faixa ribeirinha que se estende de Belém/Sio Francisco Xavier até Cascais, com um prolongamento pelas freguesias da costa oci- dental, até Colares. Adicionalmente, est&o também sobre-representados no Centro anti- go e, especialmente, nas freguesias da sua envolvente ocidental (Lapa/Sdo Mamede), onde se mantém uma tradi¢do de prestigio social e de instalagdo de populagiio estran- geira que j4 vem do século XVIIL Actualmente, é natural que algumas operagdes de teabilitago induzam processos de nobilitagéio que incluam como protagonistas alguns estrangeiros mais qualificados e bem remunerados de origem europeia. IV - NOTAS CONCLUSIVAS A segregac¢io étnica do espago urbano de diversas cidades europeias tem susci- tado, nos tiltimos anos, um interesse crescente por parte de politicos e investigadores. A implementagiio de politicas assistencialistas (apoio a infancia e aos jovens, as mulheres imigradas, 4 aprendizagem da lingua, etc...) centradas nos bairros onde as minorias étnicas estio sobre-representadas e/ou de iniciativas tendentes 4 dispers‘io territorial daqueles grupos sio exemplos dos dois tipos principais de acgdes que tém sido desen- volvidas (MUSTERD, OSTENDORF e BREEBAART, 1998). Nas cidades da Europa do Sul, o problema da segregac4o por motivos étnicos é menos relevante do que nas metrépoles do Norte da Europa, nao s6 porque os quantita- tivos de imigrantes e seus descendentes so menores*, mas sobretudo porque as carac- teristicas destes grupos detém alguma especificidade (diversidade geografica das ori- gens, insergGo no mercado de trabalho informal, ilegalidade nas presengas) e as dinamicas urbanas sao originais (padres de organizagdo sécio-espacial originais, infor- malizagio dos mercados habitacionais, menor eficdcia dos mecanismos de planea- mento). Contudo, j4 se identificam na periferia de cidades como Madrid ou Lisboa, unidades de vizinhanga com reduzida qualidade urbanistica, onde a populagiio autécto- ne € minoritéria. Também nestes casos, o desenvolvimento de politicas assistencialistas de base local tem sido colocada em pratica, verificando-se uma ldgica de abrangéncia nas medidas implementadas, que nao privilegiam uma comunidade em particular, mas 250 coeficiente de correlacdo de Pearson entre a percentagem de alojamentos no classicos ¢ a percentagem de populacio africana, registados no Censo de 1991, para as 177 freguesias da Regidio Metropolitana & de +0565. 26Nalgumas das maiores reas metropolitanas de pafses como a Holanda, a Bélgica, a Alemanha ou a Franga, 0 peso da populacéo imigrante aproxima-se dos 20% dos residentes totais. No caso das dreas metropolitanas de Lisboa e Madrid, por exemplo, o valor fica abaixo dos 5%. No caso da metrépole ateniense, esta proporgao é bastante mais elevada. Nao obstante as diferenciagdes nas estimativas existentes, o valor deverd situar-se abaixo dos 20%. 115 todos os grupos populacionais residentes nos bairros. No fundo, 0 objecto de interven- ¢40 dos programas em curso (Realojamento, URBAN e seus complementos nacionais) so os bairros degradados e n&o um determinado grupo social ou étnico neles residente. A evolugio especifica das dreas centrais das metrépoles da Europa do Sul, onde o Pprocesso de transi¢do habitacional para as minorias étnicas foi mais limitado, assim como a maior dinamica dos mercados informais de habitagdo nas periferias, parecem apontar para uma maior presenca dos imigrantes nas areas suburbanas. Eventualmente, os processos de reabilitagao das dreas centrais terdo efeitos ao nivel de uma maior convergéncia nos posicionamentos dos imigrantes nas cidades do Sul e do Norte da Europa. No primeiro caso, estes processos Poderdo contribuir para “empurrar” alguns imigrantes membros das minorias para as periferias” enquanto nas segundas tenderao a funcionar como mais um “tampao”’ a instalagio daqueles nas zonas centrais. No caso especffico da Regiaio Metropolitana de Lisboa verificou-se, ao longo dos Ultimos 20 anos, a incorporagio da dimensio étnica no processo de diferenciagio do espago residencial. Contudo, a componente étnica nao pode ser considerada isolada- mente, antes interagindo, nao sé com a dimens&o socioeconémica, mas também com varidveis intrinsecas ao préprio espago (ambiente, imagem, tradigfo, acessibilidade....). As diferentes possibilidades de acesso ao espaco materializaram esta desigual- dade, que tem a etnicidade como base, em niveis de segregagio acrescidos. Deste modo, espagos marginalizados interagem com grupos étnicos ¢ sociais desfavorecidos, numa espiral de desvalorizagao mitua e de continua reprodugao de imagens negativas. Ao longo da década de 80, a segregaciio espacial por motivos étnicos agravou-se, acentuando-se padrdes de distribuigdo residencial opostos, que evidenciam, por um lado, um acentuar da periferizagao dos imigrantes africanos, sobre-representados em zonas residenciais mais baratas, manchas de habitagao social e bairros clandestinos e de barracas, e, por outro, um reforgo da concentrag’o dos Europeus e Norte-americanos na Linha do Estoril e, de algum modo, na zona envolvente do centro, com destaque para as freguesias ocidentais (Lapa, Sao Mamede). Verifica-se assim que a polarizagao sécio- -profissional dos estrangeiros presentes no mercado de emprego tem algum paralelo na sua dicotomia residencial na Regiao Metropolitana de Lisboa. Refira-se, contudo, que estes macro-padrées de cardcter dicot6mico nao impedem a existéncia de diferencia- gGes sociais e geogréficas a niveis mais finos, uma vez que os membros dos diversos grupos estrangeiros apresentam diferenciagdes internas a nivel social, do género, da estrutura etdria e das proprias opgGes espaciai: A tendéncia para o acentuar da segrega¢ao étnica na Regiado Metropolitana de Lis- boa deverd ter-se mantido durante a primeira metade do actual perfodo inter-censit4rio (1991-1996), nao obstante a inexisténcia de dados que o possam confirmar. Efectiva- mente, 0 crescimento da imigragdo neste periodo, com destaque para as populagdes oriundas da Africa e da Asia, sem que tenham ocorrido alteragdes significativas no comportamento do mercado habitacional, tera levado os recém-chegados a instalar-se 27De JONG e VERKUYTEN (1996: 694), referem que as operagdes de renovagao urbana em Amesterdao tm tomado as éreas reabilitadas menos atractivas para os imigrantes. 116 em locais onde ja residiam compatriotas ou na sua vizinhanga. Paralelamente, o nimero de estrangeiros qualificados oriundos da Europa também acelerou o ritmo de cresci- mento, niio parecendo verificar-se alteragdes relativamente aos padrées de habitacio atrds apresentados, A partir de meados do presente decénio, as interrogagées relativamente 4 evolugio da segregagao espacial sio maiores. A consolidagiio de algumas minorias étnicas, de que a cabo-verdiana ser4 o exemplo extremo, comportard potenciais processos de mobi- lidade social ascendente, intra ¢ inter-geracional. No contexto em causa, seré possivel a transigdo de alguma populago dos actuais bairros onde os imigrantes e descendentes so maioritérios ou estéo sobre-representados para outras areas residenciais, provavel- mente também situadas na periferia de Lisboa, mas dominadas pelo mercado habitacio- nal legal’s, Neste ambito, a interrogacdo que se coloca diz respeito 4 eventual substitui- ¢ao da populagio que sai dos actuais bairros pelos elementos que integram as novas vagas migratérias, uma vez que a chegada de imigrantes dos PALOP se mantém. Para além dos aspectos que remetem para os comportamentos dos prdprios imi- grantes, existem algumas condicionantes externas, sobretudo relacionadas com o mer- cado habitacional que importa mencionar. Em primeiro lugar, é possivel que a progres- siva implementagao do PER origine alguma recomposicio territorial, embora isto nio signifique, necessariamente, uma atenuacSo dos niveis de segregacio. Um maior e melhor aproveitamento das possibilidades oferecidas pelo PER-familias poderia ter consequéncias interessantes, mas tal questo ndo parece colocar-se de momento. Em segundo lugar, a revalorizagio de diversas dreas situadas no interior da cidade de Lis- boa (Graga, Ajuda...), quer pelo interesse que suscitam entre os jovens da classe média-alta, quer pelo efeito de operagdes de reabilitagdo, mais ou menos pontuais, que se vio verificando, contribui para a emergéncia de enclaves nobilitados e, também, para © aumento dos pregos na sua envolvente. Desta forma, 0 acesso de populagdes menos solventes (que incluem a maioria dos imigrantes africanos) 4 cidade-capital da metré- pole parece cada vez mais dificil, podendo mesmo ocorrer, se o desenvolvimento das areas nobilitadas se mantiver, uma progressiva expulsio da populacdo mais desfavore- cida, tanto para os espagos periféricos da cidade, como para os subtrbios menos valori- zados. Se assim fér, as evidéncias de fragmentagao social do espaco corresponderao a um estadio de evolugdo intermédio num processo de reformulagdo da estrutura segre- gada da Regio Metropolitana de Lisboa. BIBLIOGRAFIA BAGANHA, MLL. (1996) — Immigrant Insertion in the Informal Economy — The Portuguese Case. CES-Universidade de Coimbra, Coimbra (1° Relat6rio). BAGANHA, MLL (org,) (1997) — Immigration in Southern Europe. 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