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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS - FAFICH TRABALHO AVALIATIVO: BIENAL E A CRITICA DA CRITICA Trabalho avaliative final para a disciplina Estética, ministrada pela professora Giorgia Cecchinato, do curso de graduagao em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, Aluno: Jofo Vitor Ferrari Matricula: 2014007220 E-mail: joaovitorf@gmail.com BELO HORIZONTE - MG 2017 PROPOSTA Escrita de um pequeno texto em que se exponha a opinido do autor a respeito da repercussio da 32*Bienal de Sao Paulo, norteado pela anélise de Paula Braga em A Critica da Critica’, de modo que se leve em conta que autora coloca em conexdo a experiéncia da arte € formagao do sujeito, que entende a arte como algo que no entra nas normas comuns; ¢ Iembrando os pontos fundamentais do curso de Estética: o desinteresse, o papel do conceito e da imaginagdo da arte, a importéncia de uma experiéneia direta e de um gosto bem treinado. Os textos complementares escolhidos foram 32* Bienal de Sao Paulo: incertezas vivas?*, de Rodrigo Naves, ¢ Especial 32° Bienal: Arte que se alimenta da incerteza’, de Camila Molina ¢ Maria Hirszman, ‘chitp://www.select art bultextos-criticos.sobre-32a-bienal-de-sao-paulo-uma-analise/# WFOTI7iznH1A facebo cole avessado em 16/01/2017, } acessado em 16/01/2017, Schupuleul 23> acessado em 16/01/2017, cs ocia)-32-bienal- c-alimenta- O FORMALISMO E 0 LUGAR-COMUM DA ARTE ENGAJADA. Aconteceu, no ano de 2016, a trigésima segunda Bienal Internacional de Arte de S40 Paulo, com o titulo de Incerteza Viva, cuja curadoria coube ao historiador de formagao Jochen Volz. © tema do evento buscou, pois, trazer uma reflexdo acerca das “atuais condigSes da vida € as estratégias oferecidas pela arte contempordnea para acolher ou habitar incertezas™. Isto é, dada a turbuléncia do contexto mundial em seus diversos ambitos — iminentes conflitos diploma icos, descrenga na “salvagdo pela ciéncia”, crise ambiental, instabilidade econdmica, crescente xenofobia -, procurou-se tratar da incerteza natural que acompanha tal processo de maneira mais heterodoxa: a proposta seria habité-la, vivé-la, como uma oportunidade de reconhecer o potencial criativo que ali subjaz. Nesse contexto, esté explicito no tema da exposigdo que ali se organizou uma curadoria que compreende a relagdo arte-sociedade como capaz de mobilizar e impulsionar politicamente tanto artistas como néo-attistas; capaz de toreer as concepgdes vigentes de ética, moralidade ¢ politica, a fim de que 0 debate ali iniciado reverbere para os demais ambitos da sociedade. A arte concebida, pois, em seu carter essencialmente experimental e transformador: No entanto, ¢ notvel que, de maneira sintomética, a recepgiio da Bienal pela critica veio a confirmar o diagnéstico de turbuléncia generalizada, Uma nitida cisto & percebida entre as opinides acerca do evento, que oscilam entre as dos apoiadores ¢ as dos maledicentes, Ressalta-se ainda que uma latente oposigao entre forma e contetido, entendidos de uma maneira mais prosaica do que o jargio faz-nos crer, é, talvez, o fio condutor da querela, A fragdo da eritica que defende 0 tema e a curadoria, grosso modo, & composta por pessoas que se coadunam com o paradigma contemporaneo da arte enquanto ativismo, Estas véem na arte um espaco aceptivel a debates que ndo ocorreriam em outras esferas, geralmente colonizadas por nogdes materiais de lucro e produtividade, os quais, na visio de tais artistas, jazem justamente no ceme da trama que gradualmente o mundo se embrenha, Tal frago defende uma concep¢ao de arte, pois, intrinsecamente relacionada 4 construgao de uma nova moralidade, isto &, ndo que ela necessariamente desenvolva no individuo um cédigo de conduta moral especifico, mas que ela permite tomar um ponto de vista critico em relagdo ao “estabelecimento", ¢ que este suscite um questionamento com potencial para alavancar solugGes criativas para tempos de crise como os atuais. O vinculo entre o estético eo moral, “Para a explicagio do titulo da mostra: acessado em 22/01/2017. aqui, no € portanto uma identidade entre 0 belo eo bom. A arte seria, a0 contrario, sob um vigs mais sociolégico, capaz de suspender concepgdes rigidas de ética e moralidade, possibilitando a ruptura com paradigmas vigentes; funcionaria, enquanto toda uma atividade de criagdo, exposi¢do, ete, como motor para novas e ousadas visdes de mundo, através das quais se espera ndo incorrer nas mesmas catdstrofes que a racionalidade tecnocritica da vida cotidiana torou pouco a pouco realidade. Nessa perspectiva, 0 arquiteto Alvaro Razuk, assume 0 papel de iconoclasta, ao tentar subverter a ortodoxia da racionalidade cartesiana de organizago do espago, ¢ propde um projeto expogréfico mais livre ¢ fluido, de arquitetura “propositalmente malcriada, na qual vale o prineipio da entropia, [..] em que ninguém é mais importante do que o outro"®, Com efeito, 0 paradigma da arte como ativismo é sensivel aos atuais temas dos movimentos por mais justiga social, ¢ busca subverter as concepgdes consolidadas, cegas & distribuigdo desigual de poder nos ambitos social e econdmico. Por outro lado, a outa fragdo das criticas apontam para o fato da Bienal ter “pouca arte ¢ ideologia de sobra”, parafraseando Rodrigo Naves, isto é, criticam que se foi dada tanta impor incia para o cardter politico da obra — esta enquanto capaz de trazer solugdes para os problemas sociais atuais — que no se deu a devida atengo ao seu carater estético, em seu sentido mais tradicional. Naves, por exemplo, constréi um argumento imenso, envolvendo desde a condenagao da arte de vanguarda de esquerda pelo fracasso do projeto sovistico até um preciosismo com as definigdes mais ortodoxas de arte, a fim de resguardar a importéncia do belo, entendido aqui quase como o invélucro de uma ideia. Uma instalagio que exemplifica a critica de Naves € a cabana de barro em Nose Ears Eyes [Nariz Orelhas Olhos], 2016, de Pia Lindman, em que se perceberia que o "aprego pelo conceito” sobrepuja em mu a © da forma, quando se procura na obra um tipo de beleza aderente, da qual ela propositalmente nao dispée. Naves também rejeita o projeto expografico de Razuk, e dé a entender que seus jardins irregulares — mas no menos intencionais — so mais monétonos e irrelevantes do que propriamente uma deniincia contra a ortodoxia na arte, como teria sido seu objetivo. Com efeito, sa fiagao da critica sugere, por um lado, como que um retorno as concepgdes que vinculam 0 belo ao agradavel dos contornos; advogam por uma arte que retome o valor da forma em seu sentido nao-kantiano, que se desvaneceu pouco a pouco a partir dos caminhos * Em Especial 32° Bienal: Vivenciando o espaco, por Camila Molina e Maria Hirszman:

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