Em certos países, é comum as mulheres escolherem entre ser mãe ou ter
uma carreira profissional. Na Alemanha, por exemplo, é assim. Ao perguntar a uma aeromoça alemã se ela tinha filhos, me respondeu diretamente que não. Havia escolhido se dedicar à carreira profissional.
Aqui nos Estados Unidos, as mulheres não precisam necessariamente
fazer uma escolha. Muitas mulheres tentam conciliar carreira e filhos; uma tarefa sempre difícil. Para algumas mulheres, entretanto, ter uma vida sem filhos não é uma opção.
Em geral, espera-se que o casal tenha filhos. Muitas vezes, exite um
estiga ligado à infertilidade e a mulher pode sofrer as conseqüências socias da infertilidade. Em certas culturas, como em Gambia, na África, o marido tem o direito de se divorciar da esposa se ela não poder ter filhos. Na Nigéria, elas são negligenciadas e abandonadas. Na nossa sociedade, o stigma social pode até não existir, embora isso não elimine o sofrimento de mulheres que desejam ser mãe.
Como aprender a aceitar a infertilidade?
Hoje, os tratamentos que existem têm dado esperanças a casais que
desejam ardentemente ter filhos. O tratamento é caro. No Brasil, cada tentativa de fertilidade custa em torno de 10.00 a 20.000 reais. Aliás, o SUS irá oferecer gratuitamente tratamento de reprodução para casais a partir do fim do ano, de acordo com declaração do ministro da saúde José Gomes Temporão.
Não há nenhuma garantia que a fertilização ocorrerá durante o
tratamento. Em geral, cada tentativa se faz com vários óvulos e pode ocorrer que um ou vários óvulos sejam fecundados. Aqui nos Estados Unidos, quando uma mulher tem vários óvulos fecundados, ela pode optar por ficar com apenas um ou dois. O processo é legal. O médico avalia qual óvulo parece mais saudável e o mantém, eliminando os outros. No Brasil, este processo é considerado aborto e portanto, proibido por lei. A redução embrionária na inseminação artificial só é permitida pela justiça brasileira quando a gravidez põe em risco a vida da mãe ou dos bebês. Um casal que quer ter um filho pode terminar por ter quatro ou cinco.
Mas o que acontece quando as mulheres passam por diversos
tratamentos, gastam muito dinheiro e não conseguem realizar o sonho de ter filhos? Muitas mulheres têm dificuldade de aceitar a impossiblidade de ser mãe. De acordo com Dr. Mardy Ireland, da Universidade de Berkeley, Califórnia, essa pessoa passa por um processo semelhante ao luto pelos filhos que não teve.
Outros estudos têm mostrado que mulheres que sofrem de infertilidade
têm estresse alto e alto nível de depressão.
A cada ano, novos tratamentos surgem, inclusive na área de tratamentos
alternativos, como ioga, acumpultura e homeopatia. Mesmo assim, é preciso saber quando parar de tentar. Enfrentar a infertilidade, parando os tratamentos, pode ser um processo doloroso. A aceitação da realidade, entretanto, direciona à paz. Termina-se um capítuto para que outros podem começar.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers
College, Columbia University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2009, May 29). Sem filhos. Clarim, Ano 14, n. 670, p. A2.