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6 | FEVEREIRO 2007 ARTIGO PUC MINAS

O direito à privacidade
to ao patrimônio; e o es- uma casa devidamente Assim, o antigo “direi- pois não há expectativa

D
os muitos direitos ilícito, pois há alguma ex-
fundamentais con- tupro, pois viola a liberda- fechada e com cortinas to de ser deixado só” ga- de que isso ocorra. É pectativa de registro de
sagrados constitu- de sexual. Poucas são as opacas foi uma garantia nhou contornos bem claro que a ilegalidade e imagens, já que se trata
cionalmente, o direito à pessoas, porém, que contra os olhos e ouvidos mais abrangentes para as conseqüências seriam de um local público. O
privacidade talvez seja compreendem as múlti- de intrusos, atualmente tutelar não só o isola- ainda maiores se a refe- mesmo não se pode afir-
um dos menos compre- plas violações que po- as modernas tecnologias mento físico das pesso- rida imagem fosse divul- mar em relação à divulga-
endidos pelos cidadãos dem ser praticadas con- informáticas não só per- as, mas também, e princi- gada para terceiros. ção desses registros na
sem formação jurídica. tra o direito à privacidade mitem que se observe à palmente, os direitos de Imaginemos agora Internet ou em outro
Qualquer pessoa, por e, dentre elas, mais raras distância por microcâme- não ser monitorado, de uma praia. Um banhista meio de comunicação de
mais simplória que seja, são as que dão ao fato a ras e se ouça por micro- não ser registrado e de que lá se encontre tem, massa. O simples fato de
compreende que um ho- devida importância. fones, mas, sobretudo, não ter registros pesso- se encontrar em um local
micídio é um ato ilícito, O direito à privacida- permitem que estas infor- ais publicados. E é aqui público não gera em nin-
pois atenta contra o direi- de há muito não se limita mações sejam gravadas que se encontra uma das guém a expectativa de
to à vida de alguém; da à sua clássica concepção e, posteriormente, publi- principais dificuldades na “A RÁPIDA ter sua imagem ou suas
mesma forma, um furto, de “direito de ser deixa- cadas nos meios de co- correta compreensão do conversas divulgadas
pois atenta contra o direi- do só”. Se, no passado, municação de massa. direito à privacidade: não DIMINUIÇÃO DAS posteriormente para um
Valf é porque alguém tem o número potencialmente
direito de monitorar ou- DIMENSÕES DOS infinito de pessoas.
trem que se pode deduzir Toda e qualquer análi-
daí,necessariamente, INSTRUMENTOS se do direito à privacida-
que este alguém pode de deve partir do pressu-
também registrar as ce- TECNOLÓGICOS DE posto de que há três
nas e gravar os sons. De graus possíveis de viola-
forma semelhante, não é REGISTRO, ALIADA AO ção desse direito funda-
porque se pode registrar mental: a monitoração, o
que se pode necessaria- CRESCENTE registro e a publicação.
mente divulgar. E é aqui Os limites desse direito
que surgem os proble- INTERESSE PÚBLICO estarão condicionados à
mas. expectativa de privacida-
Tomemos um exem- PELA VIDA de de cada um em cada
plo simples. Em um ves- momento.
tiário masculino os rapa- PARTICULAR, NÃO SÓ A rápida diminuição
zes furam a parede de tal das dimensões dos ins-
forma que consigam ver DE CELEBRIDADES, trumentos tecnológicos
as moças trocando de de registro, aliada ao
roupa no vestiário femi- MAS DE PESSOAS crescente interesse pú-
nino ao lado. Obviamen- blico pela vida particular
te, trata-se de uma moni- COMUNS, não só de celebridades,
toração ilegal e, muito mas de pessoas comuns,
mais grave ainda seria o REMETE-NOS A UM remete-nos a um futuro
registro fotográfico das aterrador, no qual todos
imagens e sua divulga- FUTURO ATERRADOR” vigiam as ações de todos
ção. Se uma moça, no e onde ninguém é livre
entanto, entra em um em sua solidão. É preciso
vestiário feminino e en- por certo, o direito de que cada cidadão com-
contra sua colega tro- monitorar com seus sen- preenda que seu direito à
cando de roupa, eviden- tidos as cenas que estão privacidade é muito mais
temente ela não comete a seu redor. Pode ouvir a que uma simples garantia
nenhum ato ilícito por vi- conversa do casal ao de estar só, consistindo
sualizar a cena, pois é lado e apreciar a imagem principalmente na garan-
perfeitamente previsível das moças que perambu- tia de agir livremente sem
que outra mulher entre lam pela areia. É possível o julgo alheio.
no recinto e a veja em admitir ainda que esse
trajes sumários. Se, po- banhista tenha o direito Túlio Vianna
rém, com sua câmera de de gravar a referida con- Professor da
celular ela fotografa sua versa e fotografar um to- PUC Minas
colega despida, trata-se pless de uma moça na Doutor em Direito
evidentemente de uma praia sem que isto impli- pela UFPR
violação à privacidade, que por si só em um ato www.tuliovianna.org

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