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oo DLO DO DOURO E DO VINHO DO PORTO eo et ES 5 Oe ae, |, OO ei I ->_ ae >Y a ee Pe yA og ; S age a = ae Z Pe FF / Pe P r a fe ; poe [giao Demarcada do Douro] «... 0 Douro é uma regido quente e seco, rodeada por altas monta- nhas que a protegem dos ventas humidos do sul, mareiros de oeste, frios do norte © secos de leste ~ 0 vento sudo ~ que tanto mirra e queima as culturas...6 uma regido afogada que 0 sol aquece fortemente e onde @ luz penetra a jorros... Fonseca, 1949, p. 41. I introdugao A regiao vinhateira designada por Regido Demarcada do Douro é uma das regides viticolas mais importantes, ricas e conhecidas no mundo. Ins- creve-se numa area de caracteristicas climaticas, morfolégicas, litolégicas e pedoldgicas originais que se estende por mais de 2500 km’, no troco mon- tante do vale do rio Douro nacional [Figuras | © 2]!.A vinha ocupa cerca de 400 km’ de solo de 172 freguesias dos distritos de Vila Real®, Braganga?, Viseu* e Guarda> [Figura |]. A maioria das parcelas tem menos de 0,5 hectare e é trabalhada por cerca de 33 000 agricultores. O arranjo paisagistico imposto pela insercao do vale do rio Douro é, sem diivida, o sinal da diferenca que, climatica e mesologicamente, define esta regio. A mescla de materiais rochosos laboriosa e, em alguns lugares, violentamente erodida pelo Douro e pelos seus afluentes gerou as formas as volumetrias que permitiram o surgimento de um tipo de vinha, plan- tada bem junto ao solo, cascalhento, seco e pobre, que, por isso mesmo, adquire uma matura¢io perfeita e completa, dando origem a mostos de elevado teor sacarino e muito encorpados. A Regido Demarcada do Douro subdivide-se em trés subareas que se sucedem de W para E e se designam de: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior.A distancia ao mar e a morfologia geram mosaicos climaticos locais distintos que associados a exposicao, litologia e pedologia contribuem para originar vinhos com caracteristicas diversas [Figura 2] Apesar de fruir de condicdes biogeofisicas sensivelmente idénticas, nem todo o vinho produzido nesta regiio beneficia do privilégio de ser rotulado e comercializado como Vinho do Porto. O Instituto do Vinho do Porto estabe- lece, anualmente, a quantidade de Vinho do Porto a beneficiar. Pese embora o facto da decisio, quanto a quantidade total a produzir, reger-se por critérios puramente economicistas, atendendo apenas 4 neces- sidade de preservar 0 equilibrio adequado entre a oferta e a procura, interna e externa, a seleccio das parcelas de vinha que contribuirdo para os mostos que serao submetidos a teécnicas de preparacio do Vinho do Porto passa pela atribuicio de um sistema de pontuagao, onde, além das caracteristicas intrinsecas da planta (casta, idade da vinha, armacio, com- passo, produtividade, etc.), sao consideradas as caracteristicas do suporte biogeofisico onde se localiza cada uma das propriedades (altitude, natureza do solo, declive, exposi¢io solar, condigdes de abrigo, temperatura, preci- pitagdo, humidade relativa, etc.). © sistema de classificagio da quantidade de beneficio® a atribuir a cada vinha inclui pontuagao positiva e negativa para cada um dos parimetros analisados [Quadro 1]. As vinhas plantadas nos lugares com pontuagio mais elevada supde-se corresponderem as produgées viticolas que gerario mostos de melhor qua- ~ Caracteristicas do prédio de vinha maior produtividade maior compasso castas ‘mais de 25 anos de idade altitudes acima de 300 m altitudes até 300 m Jocalizado na 1.* sec¢i0 (Mouratia, rio Sermanha) Jocalizado na 2? secgio (rios Cabri, Varosa, Corgo) focalizado na 3. seccio (cima Corgo) Jocalizado na 4.” secgio (rios Tedo, Tavora, Torto) localizado na 5.* seccio (rios Sabor, Freixo de Espada Cinta, Foz Céa) maior porosidade do solo ‘menor permeabilidade do solo mais cascalhento rochaemae ~ granito graniticos de fundos de vale férteis e inundaveis ‘temperatura estivais elevadas e fraca precipitacio ‘maior declive, menos agua, menos solo, mais sol declive até 7° 25° C) ou muito quente (120 dias com > 25° C) e Inverno fresco (cerca de 30 dias com < 0° C), e Verdo muito quente e Inverno ameno (entre 10 ¢ 15 dias com < 0° C). (© ritmo térmico diurno e anual evidencia caracteristicas tipicas dos efeitos da continentalidade que a distancia ao mar e o abrigo dos maci- ‘g0s localizados a W Ihe conferem, dependendo a variabilidade térmica da ‘exposicdo aos principais corredores de penetragio do ar de W ~ fresco “@ hiimido — ou de E — extremamente quente ou frio e sempre seco. ‘Ao longo da recortada morfologia proliferam corredores de ascendén- "cia e subsidéncia do ar que ora o humidificam e arrefecem, ora aque- cem e tornam mais seco. Neste contexto geogrifico, sucedem-se a W vertentes frequentemente nebulosas € a presenca, nos fundos de vale, de nevoeiros de irradiacao, | pouco espessos de noite € no inicio da manha durante todo 0 ano, excepto no Verao. A geada cobre os solos entre 20 e 70 dias/ano [Figura |], distribui dos por 2a 6 mesesiano agricola. Num maior ntimero de dias e num maior nimero de meses nos sopés das vertentes menos soalheiras, expostas a N, NW e NE, e nas areas de montanha mais elevadas. A precipitacao [Figuras 12 © 13] pode totalizar mais de 1000 mm/ano nas encostas das serras do Mario, do Alvao, de Montemuro e da Nave. Diminui de W para E e, no Douro Superior, junto ao vale do Douro, no “ultrapassa os 500 mm anuais [Figura |2].Ocorre em menos de 75 dias/ano “em quase toda a regido [Figura !3] | A distribuigao dos valores de humidade relativa [Figura |4] ¢ de eva- Potranspiracio real [Figura 15] confirmam os efeitos que as nuances mor- foldgicas criam em lugares localizados a pouco mais de 41° N e€ a cerca de 50 km ~ em linha recta — da linha de costa. A humidade relativa diminui, nesta regido, segundo um eixo sensivel- WSW-ENE © a evapotranspiracao real aumenta dos lugares mais abrigados para os mais himidos e expostos @ precipitagio apro- damente na direcgao E-W [Figuras 14 © 15] 20330 dias 30240 das WH 40550 das 50 60 dias Wl 60270 dias —h 400-500 mm | i 500.400 mm WH 600.700 mm BH 700-200 mm 200.1000 mm 1000-1200 mm 1200-1400 mm inferior 8 50 as Wh 50275 das Wis 100 das Wh specie 3 100 dias (Fonte: Aas do Ambiente, 1975) at B . Evaporrans mm hago 0 Douro [Fonve: Aas do 1975) zonas ecoligcas Heoclidtias ef Exminiano ( 1300) Montano (700 1000m) WB crosinn = WB sbattincica Submontan (4002 700m) Bass (400%) a = Wh stare mednerrines BW somednerrin (Fonte: Aos do Ambiente, 1964) o a = a = (n vel pastor = vel fl = eneara (poicuitura) a dest a ana WB our0 winhateiro (monocultur [Fonte: os do Ambient 1964) Agradecimentos ‘Agradeco a Helena Madureira e ao Rui Pimenta a preciosa e indispen- sivel colaboracao na digitalizagao, tratamento e adaptagio da informagio das cartas do Atlas do Ambiente que permitiram elaborar todas as figuras incluidas neste capitulo. Notas ' Definida pelos Decretos-Lei n.*: i) 7934 de 10 de Dezembro de 1921; ii) 23057 de 26 de Setembro de 1933; ii) 23331 de 1] de Dezembro de 1933; iv) 36341 de 13 de Junho de 1947; v) 41963 de 18 de Novembro de 1958. 2 67 freguesias das concelhos de Mesio Frio (7), de Peso da Régua (II), de Santa Marta de Penaguiao (10), de Alijé (14), de Murga (3). de Sabrosa (12) e de Vila Real (10), 3 41 freguesias dos concelhos de Alfindega da Fé (|), de Carrazeda de Ansides (13), de Freixo de Espada 4 Cinta (4), de Torre de Moncorvo (8), de Vila Flor (I!) e de Mirandela (4). 4 42 freguesias dos concelhos de Armamar (5), de Lamego (I), de Resende (I). de S. Joao da Pesqueira (14) e de Tabuago (10). 5 22 freguesias dos concelhos de Vila Nova de Foz Céa (17), de Figueira de Castelo Rodrigo (1) @ de Meda (4). 6 «... Designa-se por beneficio a pratica tecnolégica da adigao de aguardente para inter- rupgio da fermentacio alcodlica, isto , técnica de preparacio do Vinho do Porto...» IVP, 1981, p. 71. 7 Esta leitura morfoldgica, hidrolégica e pedoldgica da Regido Demarcada do Douro foi elaborada a partir dos miltiplos contributos cientificos que varios gedgrafos foram legando para melhorar © conhecimento do nosso territério. Dentre a inumera biblio- grafia consultada atrevemo-nos a destacar a titulo de exemplo as publicages de Birot, P, s/d; Ferreira, A B., 1979; Daveau, S., 1987; Ferreira, D. B.,1981; Ferreira, C., Velhas, E. 1995. Mar30, Alvao e Montemuro. Algumas superiores a 35% (Mario, Alvio e Montemuro), varias entre 25 e 35% e as restantes entre 8 e 15%. '9 © nome Douro deve-se ao tom dourado-amarelado das suas Aguas. Esta cor é tipica de todos os cursos de agua que correm em regides xistentas e arrastam, no seu leito, materiais argilosos, em suspensio. JA existiam antes das Ultimas movimentacdes tect6nicas € por isso, talvez, alguns cur- sos de Agua parecem até indiferentes 4 direccio de linhas de fragilidade tecténica '2 Encaixa-se a cerca de 100 m em Freixo de Espada a Cinta e a aproximadamente 50 m no Peso da Régua. '3 Qs rios Corgo, Pinhao, Tinhela e Torto correm em vales cuja altitude diminui rapi- damente dos 700-900 m até 50-60 m. NATURAIS Os afluentes do trogo mais ocidental do trecho do rio Douro incluido na Regido Demarcoda do Douro recebem a agua da precipitagio das vertentes orientais. das montanhas do NW, onde se registam os totais de precipitacio mais elevados de "Portugal. Solos formados a partir de rochas siliciosas, normalmente pouco espessos e de fer- “tilidade reduzida ‘ipo de solos, também muito susceptivel 4 erosio, tem baixo teor de matéria €¢ apreciavel conteudo de matéria mineral aluvionares espessos e, normalmente, bastante férteis. 45.55. No sentido geografico do termo. declive facilita a acumulacio de radiacao solar e dificulta a permanéncia da agua “no solo. Condicées essenciais para faciliar uma maior e melhor concentragao do “suco. | A humidade prejudica a maturacio perfeita das uvas, diminuindo a graduagio alcod- Mica.

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