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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES –

URISAN/ INSTITUTO MISSIONEIRO DE TEOLOGIA – IMT.


Disciplina: História do Cristianismo e da Teologia II (Idade Média).
Docente: Marcelo Faria Corrêa Andreatta.
Discente: Luciano Batista da Conceição.
Renascimento e Humanismo Cristão
No seio da cultura ocidental, o Humanismo (segunda metade do século XIV e
primeira metade do século XV) e a Renascença (segunda metade do século XV e o
século XVI) constituem dois momentos de um mesmo processo que se notabilizou por
buscar, sublinhar e favorecer tudo o que aperfeiçoasse o homem intelectualmente e
praticamente. Nele, o indivíduo é visto como “valor absoluto”, a natureza como seu “reino”,
a história como sua “criação” e a arte como expressão de sua “superioridade” sobre os
demais seres da criação.
Assim, o Humanismo caracteriza-se por uma nova visão do homem em relação a
Deus e, em relação a si mesmo. Essa nova visão decorre diante da nova realidade social
e econômica vivida na época. A pirâmide social da era Medieval, já não existe mais (essa
pirâmide era formada pelos Nobres/Clero/ e Povo), graças ao surgimento de uma nova
classe social: a Burguesia, cujo nome se origina da palavra burgos que quer dizer cidade.
O surgimento das cidades deve-se ao incremento do comércio que era a base de
sustentação dessa nova classe social. As cidades por sua vez, oferecem uma nova opção
de vida para os camponeses que abandonam o campo. Esse fato iniciou o afrouxamento
do regime feudal de servidão.
Nessa época também tem início as grandes navegações, que levam as pessoas a
valorizar crescentemente as conquista humanas. Esses fatores combinados levam a um
processo que atinge seu ponto máximo no Renascimento. Como conseqüência dessa
nova realidade social, o Teocentrismo pregado e defendido durante tantos anos pelas
classes anteriores, passa a dar lugar para o Antropocentrismo, nova visão onde o homem
se coloca como sendo o centro do Universo. Na cultura, esse processo de mudanças
também tem efeitos culturais, pois, o homem passa a se encarar como ser humano, e não
mais como a imagem de Deus.
Todas as Artes passam a expressar novas partículas que apareceram com essa
nova visão, as pinturas os poemas e as músicas da época, por exemplo, tornam-se mais
humanas, passam a retratar mais o ser humano em sua formação. Essa nova concepção,
não significa que a religião estava acabando, mas, apenas que agora os artistas
passavam a embutir em suas obras também o lado humano derivado desse novo regime
social. As obras dessa época vão refletir em sua formação esse momento de transição de
uma mentalidade para outra, ou seja, a passagem de uma visão Teocêntrica para a visão
antropocêntrica do mundo. Portanto o Humanismo é considerado como um período de
transição.
Ao considerar o homem como “valor absoluto”, inicia-se um novo tipo de rela-
cionamento com o sobrenatural, diante do qual vai desaparecendo o complexo humano de
inferioridade. Enquanto um ser que contempla e age, o homem é semelhante a Deus. A
razão torna-se a instância privilegiada de busca de sentido para as coisas em geral. A fé
vai perdendo sua exclusividade e a filosofia declara sua autonomia diante da teologia.
Pela primeira vez, desde os primórdios do cristianismo, autores trataram de questões
exclusivamente filosófico-científicas, sem apelo ao elemento religioso.
Pode-se dizer que, nesta época, iniciou-se a gestação de um perfeito e definitivo
“reino do homem”. Foram colocadas as premissas das antropologias modernas e
contemporâneas: o homem descobriu o seu lugar no universo e na sociedade, quis trilhar
o seu próprio caminho, acreditava numa sociedade adulta e na capacidade de conduzir a
sua própria história ao controlar as forças naturais: o “homo staticus” tornou-se “homo
dynamicus”.
No esforço de abrir os caminhos para uma nova compreensão do mundo e do
homem, os humanistas e os homens da Renascença fizeram uma releitura do passado.
Olharam para o passado, tendo-o como inspiração, dessacralizando-o com o objetivo de
tirar lições para o presente e o futuro. Retomaram autores clássicos, retirando deles o que
consideravam positivo. Platão e Sócrates tornaram-se os autores preferidos, pois neles
havia uma visão dialética da verdade, diferente daquela estática que se formou no seio da
escolástica, seguindo a esteira aristotélica.
Em suma, o Humanismo Renascentista caracterizou-se pelo grande otimismo em
relação, ao seu futuro como dominador definitivo da natureza, à sua capacidade de
conhecer racionalmente a verdade e à sua autonomia em construir a própria história. Isto,
sem ter de prestar contas a uma autoridade detentora de uma verdade definitiva. Assim,
rompeu-se a visão de um mundo visto somente como lugar de passagem. O mundo está à
disposição do homem, que é perfeitamente capaz de dominá-lo e dele tirar todos os
benefícios.
Conforme os escritos do Concílio Vaticano II, o homem não é uma ilha, nem um ser
auto-suficiente que se auto-gerou e não é resultado de sua própria vontade. Os documen-
tos do referido Concílio é bastante explicito quando afirma e ensina: que o homem “nunca
está apenas restrito à ordem temporal, mas, vivendo na história, conserva integralmente
sua vocação eterna” (GS 76c/460); que “nenhuma atividade humana, nem mesmo nas
coisas temporais, pode ser subtraída ao domínio de Deus” (LG 36d/94).
Que “a edificação da cidade terrena tenha sempre seu fundamento no Senhor e a
Ele tenda, a fim de que não trabalhem em vão os que porventura a edificam” (LG 46b/125;
AG 41e/1010); que as coisas criadas dependem de Deus, que o homem não deve usá-las
sem referência ao Criador (GS 36c/311); que a obra da redenção incluiu também a
instauração da ordem temporal com a ordem espiritual “entrosadas num único plano
divino” (AA 5/1350); sobre a interpenetração da história humana com a história da salva-
ção que tem seu Senhor no mesmo Deus Criador e Salvador (GS 41b/326); e sobre a
interpenetração da cidade terrestre com a cidade celeste, coisa que “só pode ser percebi-
da pela fé” (GS 40c/323).
Que a Igreja tem a missão e dever de “penetrar do espírito evangélico as realida-
des temporais e aperfeiçoá-las” (AA 5/1350), de “iluminar e ordenar de tal modo todas as
coisas temporais, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Deus, para o
louvor do Criador e do Redentor” LG 31b/77), de “sanar as instituições e condições do
mundo” e “impregnar de valor moral a cultura e as obras humanas” (LG 36c/93), e isso de
tal maneira que “o mundo seja imbuído do espírito de Cristo e na justiça e paz atinja mais
eficazmente seu fim” LG 36b/92); é preciso “gravar a lei de Deus na vida da cidade
terrestre” (GS 43b/334); “impregnar o mundo do espírito cristão” (GS 43d/336); em
resumo, é urgente “dar, pelo espírito cristão, nova forma à mentalidade e aos costumes,
às leis e às estruturas da comunidade” (AA 13a/1380). É este o apostolado da “animação
cristã da ordem temporal” (AA 19a/1041), apostolado este que é, como diz repetidamente
o Concílio, trabalho especifico dos leigos.
Percebe-se em todos estes numerosos e incisivos textos uma viva e profunda
inquietação do Concílio diante dos rumos secularizantes que as coisas vão tomando. A
preocupação da Igreja é no “que fazer para que a grande massa dos homens participe
dos benefícios da cultura, quando simultaneamente a das elites não cessa de se elevar e
de complicar sempre mais?” (GS 56e/380); e “como, enfim, reconhecer legítima a
autonomia que a cultura reclama para si, sem cair em um humanismo meramente terres-
tre e mesmo adversário da própria religião?” (GS 56f/381). “No meio destas antinomias é
necessário que a cultura humana se desenvolva de tal modo que aperfeiçoe de maneira
equilibrada a pessoa humana integral e ajude os homens a desempenhar as funções a
que são chamados, sobretudo os cristãos, unidos fraternalmente na única família
humana.” (GS 56g/382). Desta maneira testemunhamos o nascimento de um novo
humanismo, no qual o homem se define, em primeiro lugar, por sua responsabilidade
perante os seus irmãos e a história.

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