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Os ApóstolosA n tig o s

por DAVID O. McKay

tradução de MYRIAM
B. M. DE CASTRO

— JUNTA DA ESCOLA DOMINICAL —

Missão Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos


Santos dos Últimos Dias

BUA HENRIQUE MONTEIRO, 21. (Pinheiros) — SÃO PAULO (SP).


CAIXA POSTAL 863 — TEL. 8O-4638
SÃO PAULO – 1963
Í N D I C E PRIMEIRA
PARTE — PEDRO
1 — Fontes de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 — Infância e Meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 — Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4 — Os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5 — Gloriosas Experiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6 — O Testemunho de Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
7 — Uma Soberba Manifestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
8 — Lições de Verdadeira Liderança . . . . . . . . . . . . . . . . 46
9 — Na Noite da Traição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
10 — Da Escuridão Para a Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
11 — Um Verdadeiro Líder e Valoroso Defensor . . . . . . 65
12 — Pedro e João Aprisionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
í3 — Perseguidos Mas Incansáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
14 — Uma Visita Especial a Samaria . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
15 — Em Lida e Jope . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
16 — O Terceiro Aprisionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
17 — Cenas Finais de um Grande Ministério . . . . . . . . . . 94

SEGUNDA PARTE — TIAGO


18 — Tiago — O Filho de Zebedeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
TERCEIRA PARTE — JOÃO
19 — Com o Redentor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 107
20 — Com Pedro e os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
21 — últimas Cenas do Ministério . . . . . . . . . . . ... 116

3—
QUARTA PARTE — PAULO E SEUS COMPANHEIROS

22 — Saulo de Tarso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123


2)3 — A Convenção de Saulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
24 — Em Outra Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
25 — Mensageiros Especiais a Jerusalém . . . . . . . . . . . . . . 137
20 — Primeira Viagem Missionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
27 — A Primeira Viagem Missionária — (continuação) .. 146
28 — Uma Grande Controvérsia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
29 — Paulo Inicia Sua Segunda Viagem Missionária . . . . 156
30 — Em Filipos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
31 — Na Macedônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
32 — Em Atenas e Corinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
33 — A Terceira Viagem Missionária de Paulo de Antió-
quia a Ëfeso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
34 — Terceira Viagem do Missionário — (continuação) 185
35 — Excitantes Experiências em Jerusalém . . .. . . . . .. 190
36 — Dois Anos em Prisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
37 — A Viagem a Roma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
318 — O Mundo Enriquecido Por Um Prisioneiro Açor-
rentado ...................................... 210
PRIMEIRA PARTE

PEDRO
LIÇÃO I FONTES

DE LUZ

Todos gostam de ler e ouvir falar sobre grandes


homens. As crianças e os adultos têm satisfação em sa-
ber como os líderes dos homens no passado fizeram o
mundo melhor e mais feliz com seus atos nobres. Após
passarem-se muitos e muitos anos, ainda se vê o bem
que esses líderes fizeram ao mundo, despertando
grandes e admiráveis aspirações nos meninos e me -
ninas que hoje em dia desejam imitar esses heróis do
passado.
Todos os meninos têm alguém que representa o
seu ideal. Talvez haja mais de uma pessoa represen -
tando esse ideal — um menino, por exemplo, pode de -
sejar ser como um bom atleta, como um bom violinis -
ta, e também como um músico algum dia. Podem tam -
bém desejarem ser como um bom orador. Mas, algu -
mas vezes, as crianças escolhem maus exemplos para
seus ideais. Isto acontece quando lêem maus livros ou
se associam com homens de má índole. Como é infeliz
o menino que lê sobre um salteador de estradas ou la -
drão e vê despertar em sua jovem mente o desejo de
ser como aquele homem mau! Como é infeliz o menino
que escolhe para seu ideal um homem que fuma, bebe
e passa a vida toda despreocupado e sem trabalhar!
Assim as vidas dos homens são como sinais que nos
indicam os caminhos que levam a existências úteis e
felizes ou a vidas de egoísmo e miséria. É importan te,
então, que procuremos, tanto na vida como nos li-
vros, a companhia dos melhores e mais nobres homens
e mulheres.
Carlyle, um grande escritor inglês, diz:
"Os grandes homens são sempre boas
companhias, não importa sob que ponto de vista sejam
considera dos. Não podemos olhar, ainda que
ligeiramente um grande homem, sem dele ganhar
algo. É a fonte de luz perto da qual é útil e agradável
estar."
Se você estudar a vida dessas grandes fontes de luz
do mundo, aprenderá pelo menos uma coisa, que fez
seus nomes imortais. É o seguinte: cada um deu
alguma coisa de sua vida para fazer o mundo melhor.
Não passaram seu tempo procurando prazer, ou diver -
são para si mesmo, mas encontraram sua maior ale -
gria em fazer os outras felizes e mais confortados. To -
dos esses bons atos vivem para sempre, mesmo que o
mundo jamais tenha conhecimento deles.
Há uma história muito antiga que diz que um
homem de um outro planeta visitou a terra. Do alto de
uma montanha ele olhou para as movimentadas ci -
dades do mundo. Milhares de homens, como formigas,
estavam ocupados construindo palácios de prazer e
outras coisas que não duram muito. Ao partir de vol ta,
disse: "Toda essa gente está gastando seu tempo para
construir frágeis ninhos. Não é de se admirar que
fracassem e se envergonhem".
Todos os homens verdadeiramente grandes no
mundo construíram algo além de frágeis ninhos. Do
fundo de suas mentes e de seus corações, saíram pre -
ciosidades que fizeram o mundo mais rico. Realizaram
feitos c!e amor e de sacrifício que inspiraram milhões.
Ao assim fazerem, podem ter sofrido; muitos,
realmen te, tiveram morte prematura, mas todos que
assim de ram suas vidas, as salvaram. O que fazemos
por Deus e nosso próximo, vive para sempre; aquilo
que faze mos só para nós não pode durar.
Quando ouvimos qualquer coisa sobre um grande
homem, logo queremos saber tudo a seu respeito —
onde nasceu, quem eram seus pais, onde viveu, como
brincava, com quem brincava, em que espécie de casa
morava, onde ia nadar, onde pescava, etc. Estas coi sas
ditas a respeito de George Washington e Abraão
Lincoln são sempre interessantes. Qual é o menino que
não gosta de ouvir a história do pequeno Lincoln que
vivia na cabana de troncos no sertão de Indiana? Ima -
giná-lo entre os ursos e outros animais selvagens?
Imaginá-lo sentado ao pé do fogo aprendendo a fazer
contas com auxílio de um pedaço de carvão e uma pá
porque não tinha lousa, nem papel e nem lápis?
Abraão Lincoln foi um homem grande e bom, e
queremos sa ber tudo a seu respeito, mesmo quando
era menino, em parte para que isto nos ajude a ser
mais ou menos co mo ele, pois, como Lincoln escreveu,
"os meninos que se dedicam aos livros, aos poucos se
tornarão grandes homens".
Infelizmente, muito pouco sabemos a respeito da
infância dos apóstolos antigos, sobre quem leremos
neste pequeno livro. Naturalmente, podemos imaginar
que espécie de meninos eram, se considerarmos a es -
pécie de homens que se tornaram mas, os pequenos in -
cidentes de sua infância e mocidade, que tenderam a
modificar seu caráter e que poderiam nos interessar
tanto, apesar de se terem passado mil e novecentos
anos, nunca foram escritos e talvez jamais sejam co -
nhecidos. Cresceram e se tornaram adultos antes de
terem a oportunidade de prestar ao mundo o trabalho
que os imortalizou.
Sob um aspecto, contudo, eram os homens mais
favorecidos que o mundo conheceu, porque tiveram o
privilégio de estar em contacto diário durante cerca de
dois anos e meio, com o Salvador do mundo. Não é de
se admirar, portanto, que tenham se tornado gran des,
tendo um exemplo de verdadeira grandeza cons-
—9—
tantemente diante de si. Assim que aprenderam a
amar Jesus, quizeram ser como Ele e guardaram os
seus en sinamentos e procuraram agir como Ele havia
agido. Sem dúvida, será proveitoso para nós se nos
familiari zarmos com tais homens.
Pensem bem: o único motivo pelo qual o mundo ouviu
falar deles foi por terem encontrado o Salvador e feito
Dele o Guia de suas vidas. Se eles não o tivessem feito,
ninguém saberia hoje que tais homens existiram um
dia. Teriam vivido, morrido, e sido esquecidos da
mesma forma que milhares de outros homens que em
seus dias morreram sem que ninguém tomasse conhe -
cimento de sua existência, da mesma forma como mi -
lhares e milhares vivem hoje, desperdiçando sua vida e
energias numa vida inútil, escolhendo a espécie errada
de homens para seus ideais, dirigindo seus passos à
estrada do prazer e indolência, em vez de dirigi-los à
estrada do trabalho. Logo chegarão ao fim de sua
jornada na vida e ninguém poderá dizer que o mundo
se tornou um pouco melhor por eles terem nele vivido.
Ao fim de cada dia, tais homens deixam o caminho que
palmilharam, tão estéril como o encontraram -— não
plantam árvores para dar sombra a outros nem ro -
seiras para fazer o mundo mais doce e belo para aque -
les que virão — nenhum ato nobre e nenhuma realiza -
ção qualquer — apenas um caminho infrutífero, esté -
ril, árido, entremeado, talvez, com espinhos e cardos.
Mas o mesmo não aconteceu com os discípulos que
escolheram Jesus para seu guia. Suas vidas são como
jardins de rosas do qual o mundo pode colher belas
flores para sempre.

— 10 —
LIÇÃO 2
INFÂNCIA E MEIO

"A mocidade é como as plantas: desde os primei -


ros frutos que produzem nos fazem saber o que
espe rar no futuro".
Correndo ao norte do Lago de Utah, através de
parte da Grande Bacia, e esvasiando-se no Grande
Lago Salgado, o Mar Morto da América, acha-se o
Rio Jordão. No Lago Utah a água é doce e há grande
abun dância de peixes; no Lago Salgado, como o
próprio nome indica, a água é salgada; e tão salgada
que os peixes nela não podem viver. Ao presidente
Brigham Young e aos valorosos pioneiros que o
acompanhavam, o Vale do Lago Salgado, com o Mar
Morto refletindo os raios gloriosos do sol de Julho,
eram sem dúvid.i a "terra prometida".
Muito longe, além do Oceano Atlântico, estenden -
do-se na parte oriental do Mar Mediterrâneo,
encon-tra-se um outro mar salgado, um outro Rio
Jordão e um outro lago doce, correndo o rio através
da "Terra Prometida" ou a "Terra de Canaan".
Contudo, se con sultarmos um mapa daquele país,
veremos que as posi ções relativas deste lago, rio e
mar, são exatamente opostas às de Utah. Na Terra
Santa, o lago, de água doce encontra-se ao norte, o
Rio Jordão corre para o Sul, para dentro do Mar
Morto.
A terra que contém estes três marcos impor -
tantes na história, tem vários nomes. Como menciona -
mos acima, é chamada a Terra Santa, também a
Ter-
— 11 —
ra de Canaan, a Terra dos Hebreus, ou, ainda, a Casa
de Israel, porque os filhos de Jacob um dia lá se esta -
beleceram. É 'ainda algumas vezes chamada a Terra
de Judá, como se chamava um dos filhos de Jacob na
Palestina, provavelmente por causa dos Filisteus que
viveram, como sabemos, nos dias do menino pastor
David.
Tamanho de Canaan — O Lago Salgado tem cerca
de oitenta milhas de comprimento e quarenta de lar -
gura. A terra de Canaan tem quasi o dobro do compri -
mento e da largura, ou cento e setenta milhas de com -
primento e oitenta de largura. A cidade de Dan encon -
trava-se ao Norte e Barsheba ao sul.
O lago de água doce da Terra Santa, também tem
vários nomes. É geralmente conhecido como o Mar da
Galiléia, mas algumas vezes é chamado Mar de Tibe-
riades, Lago de Genezaré, Lago de Tiberíades e Mar
de Ceneró. Tem cerca de dezesseis milhas de compri -
mento e seis de largura. "As (águas deste lago se en -
contram numa profunda bacia, rodeada de todos os
lados por colinas, exceto a estreita entrada e saida do
Jordão em cada extremo.
Este mar visto da cidade de Capernaum, que está
situada perto da extremidade superior da encosta do
lado ocidental, parece extremamente grande; seu
maior comprimento vai de norte a sul. O aspecto
estéril das montanhas que se vêem em ambos os lados e
a com pleta ausência de madeira, dão contudo, uma
aparên cia de tristeza à paisagem que é aumentada com
a me lancolia da calma morta de suas águas".
No lado ocidental deste lago encontrava-se unia
das mais importantes regiões da Palestina, chamada
Gali léia. Um escritor antigo diz que em certa ocasião
esta província "continha duzentas e quatro cidades e
vila rejos, com pelo menos quinze mil habitantes".
Betsaida — Em algum lugar desta província, pró-
vàvelmente muito perto de Capernaum, achava-se
uma
— 12 —
cidadezinha chamada Betsaida. Havia uma outra ci -
dade com o mesmo nome na parte noroeste, mas é em
Betsaida, perto de Capernaum, que agora estamos
mais interessados. Deve ter sido perto do lago, porque
mui tas das pessoas que lá viviam ganhavam a vida
pescan do, não com anzóis e linhas como os meninos
pescam hoje em dia, mas com redes, que lançavam ao
mar, e passavam pelo lago até que apanhassem os
peixes que eram então arrastados para a praia.
Simão — Na casa de um desses pescadores, prova -
velmente alguns anos antes do nascimento do Salva -
dor, nasceu um dia uma criança a quem seus pais cha -
maram Simão ou Simeão. Tinha um irmão chamado
André (João 1:42-43). O nome de seu pai era Jonas ou
Johanas, mas muito pouco se sabe a seu respeito e na -
da absolutamente a respeito de sua mãe. Nada defi -
nitivo se conhece a respeito da infância ou da mocida -
de de Simão. Contudo, podemos concluir sem medo de
errar, pelo que sabemos dos costumes, crenças e prá -
ticas dos judeus de seu tempo, que ele vivia numa ca sa
pequena de telhado chato, contendo pouca ou ne -
nhuma mobília. Sabemos também que em casa e na
escola ele aprendeu tudo sobre os profetas no que ho je
é o nosso Velho Testamento; que observou estrita -
mente o dia do Sábado, e, o que é mais importante,
aprendeu a esperar pelo dia em que o Salvador do
mundo viria a Seu povo.
Em fantasia, podemos imaginar Simão, André e
seus companheiros de brinquedos divertindo-se na
praia da Galiléia; mas é somente em imaginação que
podemos ver quaisquer dos acontecimentos da infân -
cia de Simão. "Podemos pensar nele. diz George L.
Weed, "como um menino útil, auxiliando sua mãe nos
deveres da casa — trazendo cuidadosamente as peque -
nas lâmpadas de argila vermelha para serem enfeita -
das, ou o milho para ser amassado, o peixe que seu pai
havia apanhado, o carvão para cozinhá-lo, o pão

— 13 —
do forno, óleo e pães de mel para serem comidos por
ele, ou água do riacho que corria na colina atrás da sua
casa, em direção ao lago, ou enchendo as jarras de água
ia porta. Não foi ele um orgulho para sua mãe quando
pela primeira vez sacudindo a oliveira trouxe as
azeitonas para ela como parte de sua refeição fru gal, ou
quando esparramava o milho e o cânhamo pa ra
secarem no telhado chato de sua casa, ao sol do verão?
Não foi ele um orgulho para seu pai quando pe la
primeira vez tomou o remo e mergulhou-o na onda,
ajudou a lançar a rede e contou os peixes que haviam
apanhado? Ele admirava o voo das pardais e colhia
flores — papoulas, margaridas e anémonas — como
aquelas das quais o Grande Mestre, a quem ele ainda
não conhecia, ensinaria a ele lições de sabedoria e
amor. Infantilmente ele colhia conchinhas à beira-mar
e fazia buracos na branca areia da praia com um pe -
daço de pau com o mesmo prazer que uma criança mo -
derna brinca na praia com sua pàzinha e seu balde.
Nenhum dos pescadores que viram Simão com
seus companheiros brincando com redes e barcos, ja -
mais suspeitou que quando ele crescesse estaria entre
os maiores homens do mundo!
Alguns escritores nos dizem que os Galileus eram
geralmente corajosos, destemidos e amavam a liber -
dade. Os homens davam bons soldados, pois eram "ou -
sados e intrépidos". O menino Simão, ao se tornar
adulto, deve ter admirado os homens corajosos que
havia ao seu redor, pois ele também se tornou um
homem de cartáter forte, como vemos pelo primeiro
incidente de sua vida que foi registrado.
O NOME DE SIMÃO É MUDADO
Logo após ter Simão se tornado adulto, veio um
homem do deserto do Jordão, vestido somente com pêlo
de camelo e uma túnica de couro em seus quadris,

— 14 —
mas pregando com tal poder que o povo da "Judéia e
de todas as regiões ao redor" vieram ouvi-lo. Este gran -
de pregador era João Batista, o precursor de Cristo.
Entre aqueles que vieram ouvi-lo encontrava-se Simão
que, sem dúvida alegrou-se ao ouvir este pregador do
Arrependimento declarar que o Filho do Homem de -
veria em breve se manifestar na terra. Simão, André e
alguns de seus amigos, creram no que João Batista
pregava.
Um dia, quando juntamente com alguns de seus
seguidores, João se encontrava perto de Betabara
(uma palavra que significa encruzilhada) vendo Jesus
que se dirigia para ele, disse: "Eis aqui o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do
qual eu disse: Após inim vem um varão que já foi
antes de mim; porque já era primeiro do que eu".
No dia seguinte, 'italvez pelas proximidades das
dez da manhã, João estava falando com dois discípu -
los, eram eles André, irmão de Simão, e João. Cami -
nhando a curta distância deles se achava o mesmo ho -
mem a quem João havia apontado no dia anterior, co -
mo o Cordeiro de Deus. "E vendo por ali andar a Je -
sus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. E os dois dis -
cípulos ouviram-no dizer isto e seguiram a Jesus".
O Irmão de Simão crê em Jesus — Aceitando o
convite de Jesus para acompanhá-lo até onde estava
morando, estes dois homens permaneceram com Ele,
ouvindo Suas palavras durante o resto do dia. Ao par -
tirem, acreditavam que Jesus fosse o Rei de Israel, o
Salvador do mundo. Assim foram eles naquele dia, os
primeiros, dois, além de João Batista, a crer em Jesus.
Sempre que temos algo que é muito bom, quere -
mos partilhar com os que amamos. Assim aconteceu
com estes dois irmãos. Logo que sentiram a influência
divina irradiar do Salvador, encheram-se de grande
vontade de fazer com que os que amavam ficassem sob
a mesma influência. André saiu a procurar seu

— 15 —
irmão Simão e João seu irmão Tiago. André
encontrou Simão primeiro e disse: "Já achamos o
Messias (que, traduzido, é o Cristo)".
Simão é chamado Cefas — E ele o trouxe a Jesus
quando Este o viu, disse: "Tu és Simão, filho de
Jonas; lu -serás chamado Cefas (que quer dizer
Pedro)". Na queles dias os judeus falavam a língua
hebraica, mas o Novo Testamento foi escrito em
grego. Em hebraico, Cefas significa "pedra", mas em
grego a palavra pe dra é "Petras" ou Pedro. Assim,
daquele momento em diante, Simão foi conhecido
como Simão Pedro, ou Si mão a Rocha.
Quando pensamentos neste mundo maravilhoso no
qual vivemos, em suas grandes divisões de terra cha -
madas continentes, que no continente ocidental se en -
contram os países da Europa, Ásia, África; que num
cantinho da Ásia, há uma faixa de terra quase só duas
vezes maior do que o Lago Salgado; que naquela fai xa
de terra havia uma divisão como um de nossos es-tados,
chamada Galiléia; que nesta província havia mais de
duzentas cidades e que em cada cidade habita vam
vários milhares de pessoas, entre as quais um dia
nasceu um menino cujos pais eram desconhecidos, e
que este menino cresceu para se tornar um homem de
tal caróter que Jesus o chamou "A Rocha" e que du -
rante mil e novecentos anos ele foi conhecido e honra do
por milhões e milhões de pessoas, precisamos com -
preender, mesmo em nossa mocidade, que um nasci -
mento humilde não é um impecilho para a grandeza!

— 16 —
LIÇÃO 3
DESENVOLVIMENTO
"Oh, sê meu amigo e ensina-me a ser teu amigo".
SEU LAR EM CAPERNAUM
Desde o momento em que Pedro encontrou Jesus,
seus pontos de vista na vida mudaram. Até aquele
tempo, ele havia esperado a vinda do Rei dos Judeus
como um acontecimento a se realizar em futuro inde -
finido. Com os outros judeus, ele havia pensado que a
vinda do Salvador seria marcada por maravilhosas
manifestações e que, vestido em trajes púrpura e ser -
vido por muitos anjos ele viria em poder infinito e nu -
ma expressão divina de Sua ira, quebrar as cadeias ro -
manas que prendiam a cativa nação judia.
Mas agora, Pedro havia encontrado o Messias —
um homem solitário nas margens do Jordão. Somente
cerca de cinco homens sabiam então que Ele clamava
ser o Messias. Não havia legiões de hostes celestes
acompanhando-O! Ele não trazia vestes purpúreas! Não
possuía meios visíveis ao seu alcance com os quais
pudesse quebrar o jugo romano. Seria Ele realmente o
Messias que deveria vir, ou deveria Pedro esperar
outro?
A influência de Jesus sobre Pedro — Êsíes pensa-
mentos e centenas de outros sem dúvida assomavam à
mente de Pedro, ao sair ele das proximidades do Jordão
e voltar à sua pesca na Galiléia. André e João, naquela
memorável visita, pareciam ter recebido um
_ 17 _
testemunho da divindade da missão de Jesus e eles le -
varam aquele testemunho aos seus irmãos, ao excla -
marem com alegria: "Já achlámos o Messias". Mas
Pedro, impetuoso e que, como aprenderemos, era na -
turalmente livre para falar o que sentia, até onde sa -
bemos ainda não havia expressado tal segurança. Con -
tudo, ele havia se impressionado profundamente;
pois não havia Jesus, à primeira vista, lido seu
caráter? Não havia Ele penetrado no mais profundo
da sua nature za? Não havia Ele irradiado um espírito
que tão com-pletamente envolvia Pedro que ele não
mais queria sair de Sua influência?
O Lar de Pedro — Pedro nessa ocasião era
casado, sendo, talvez, pai de um pequeno menino. Ele
havia mudado de seu antigo lar em Betsaida, e vivia
com a mãe de sua esposa, ou ela com ele, em
Capernaum. Com ele, achavam-se também André e
seus dois fiéis companheiros e amigos, Tiago e João,
os filhos de Zebedeu.
A casa de Pedro tornou-se conhecida em Caper -
naum e, posteriormente tornou-se, um dos pontos
memoráveis do mundo. Lá, sem dúvida, Jesus ficava
sempre que se achava em Capernaum. Depois que
Jesus foi tão impdedosiamente (rejeitado por seus
próprios conterrâneos em Nazaré, fez de Capernaum
sua cida de; e supõe-se que grande parte do tempo,
coube a Pedro a honra de hospedar em seu lar o
Salvador do mundo. Cada palavra, cada ato de seu
grande hóspe de deve certamente ter aumentado a
confiança de Pe dro em Jesus como o Messias!

UMA LIÇÃO DE OBEDIÊNCIA


Nas praias da Galiléia — Numa bela manhã, vá-rios
meses após os acontecimentos narrados na lição
anterior, e pouco tempo após ter sido renegado em
Nazaré, Jesus estava pregando a uma multidão nas
praias

— 18 —
da Galiléia. Pedro e André estavam ocupados nas
proximidades, lavando suas redes, após terem
passado a noite toda no lago em tentativa baldada de
apanhar alguns peixes.
"E aconteceu que, apertando-o a multidão, para
ouvir a palavra de Deus, estava Ele junto ao lago de
Genezaré. E viu estar dois barcos juntos à pram do
lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam
lavando suas redes. E, entrando num dos barcos, que
era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco
da terra e, assentando-se, ensinava do barco a
multidão".
Primeiro caso registrado da obediência de Pedro —
Quando Pedro satisfez o pedido de Jesus "que o
afastasse um pouco da terra", fez o primeiro ato de
obediência à voz de Cristo, que foi registrado. Agora,
contudo, seguiu-se uma obediência que era completa-
mente contrária à maneira de pensar do pescador.
Quando Jesus havia acabado de falar à multidão,
disse à Pedro: "Faze-te ao mar alto, e lançai as
vossas re des para pescar. As folhas e a sujeira
haviam sido tiradas da rede vazia; estava seca, e os
fios arrebenta dos haviam sido emendados. Pedro
estava cansado e queria descançar. Estava com fome
também, ou talvez desencorajado. Não é de se
espantar, portanto, que tenha respondido: "Mestre,
havendo trabalhado toda a noite nada apanhámos".
Era o mesmo que dizer: "Não adianta nada, pois não
há peixes nesta manhã, nesta parte do lago e também
não havia nenhum durante toda a noite". Mas
'Pedro estava aprendendo a honrar e obedecer este
Homem entre os homens; assim, rapi damente
acrescentou estas palavras: "mas sobre tua palavra
lançarei a rede". Como um pescador expe -
rimentado que era, seu bom senso lhe dizia que uma
outra tentativa seria inútil; como um seguidor
de .Jesus, sua Fé lhe ordenava que tentasse.

— 19 —
(ZindocoResultado da Obediência — "E fazendo
assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e
rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinal aos
companheiros que estavam no outro barco, para que
os fossem ajudar. E foram, encheram ambos os
barcos de maneira tal que quase iam a pique. É-nos
relatado que "o espanto se apoderara deles e de
todos que com ele estavam, por causa da pesca de
peixe que haviam feito". Pedro, o lider dos quatro e
que mais tarde se tornou o chefe dos Doze,
"prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Se nhor
ausenta-te de mim, que sou um pecador".
Teria sido simplesmente a dúvida e hesitação
expressas quando, alguns minutos antes, Jesus havia
pedido a ele que se "fizesse ao alto mar?" ou seria a
compreensão das muitas dúvidas da divindade de
Cristo que agora o abatiam, e lhe faziam sentir sua
própria inferioridade e fraqueza na presença deste
Todo Po deroso? Jesus havia manifestado seu poder, e
assim fa zendo havia ensinado a Pedro uma lição que
ele e o mundo todo, mais cedo ou mais tarde deveriam
aprender: que a obediência às palavras de Cristo traz
bênçãos, tanto materiais como espirituais.
Enquanto a compreensão desta verdade embalava
seus sentimentos cheios de respeito, Jesus lhe disse:
"Não temas: de ago ra em diante serás pescador de
homens".

UM SÁBADO MEMORÁVEL
Após ter sido rejeitado em sua própria cidade,
Nazaré, Ele "desceu a Capernaum e ali os ensinava
nos sábados".
Culto na Sinagoga — A última parte do culto na
sinagoga naqueles tempos, era a exposição das
escrituras e a sua pregação ao povo. Isto não era
feito sempre por um oficial mas por uma pessoa
distinta que esti vesse na congregação.
Naturalmente, Jesus era conhe cido em todos os
lugares naquele tempo como um gran-

— 20 —
de mestre, um operador de milagres e um capaz intér -
prete da lei; "e admiravam a sua doutrina, porque a
sua palavra era com autoridade".
Cura de Um Endemoninhado — Certo slábado,
quando Jesus estava pregando, Pedro e todos os pre -
sentes firam surpresos por ver um homem levantar-se
na audiência e, repentinamente, interromper gritando
em alta voz: "Ah! que temos nós contigo, Jesus Naza -
reno? vieste a destruir-nos? Bem sei quem és; O Santo
de Deus". Ao calar-se este homem, que estava possuído
por um espírito mau, a audiência toda estava em
suspenso quando Jesus o repreendeu, dizendo: "Ca la-
te e sai dele." E o demónio, lançando-o por terra no
meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mau algum. E
veio espanto sobre todos, e falavam entre si uns e
outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espí -
ritos imundos manda com autoridade e poder e eles
saem?"
A Cura da Sogra de Pedro — Ao terminar este culto,
Jesus foi com Pedro à casa deste, acompanhado de
André, Tiago e João.
Pedro, André, Tiago e João eram companheiros de
de infância, sócios como pescadores, companheiros co -
mo discípulos de João Batista e agora estavam se tor -
nando inseparáveis e amados elos da Irmandade de
Cristo! Ao entrarem em casa souberam que a mãe da
esposa de Pedro estava muito doente, com febre. Sem
dúvida, foi Pedro que contou a Jesus as condições de
sua sogra e rogou que Ele a abençoasse. "Inclinando- se
sobre ela, repreendeu a febre e esta a deixou. E,
levantando-se logo, servia-os".
É fácil imaginar como toda Capernaum
comentava como Jesus havia repreendido o espírito
mau do ho mem aflito, na sinagoga! E que então,
alguns minutos n pós o culto, Ele havia curado uma
mulher instantân-ncnmentc, de febre! As notícias se
esparramaram de casa em casa e de grupo em grupo
até que "sua fama
— 21 —
Domínio divulgou-se por todos os lugares em redor
daquela co marca" .
Muitos Curados — Durante toda a tarde a casa de
Pedro e as ruas ao seu redor estavam cheias de pes -
soas, algumas movidas por curiosidade, mas a
maioria desejando uma bênção. Homens possuídos de
demó nios eram levados através da multidão até Jesus
e eram curados; aqueles que durante muitos dias
haviam so frido de febre escaldante, aqueles que eram
afligidos por várias espécies de moléstias, eram todos
trazidos à presença deste Grande Médico que
impunha suas mãos sobre todos e os curava.
O sol desceu, veio a meia luz, e as sombras da noite
começaram a cair, mas os doentes e os sofredores
ainda buscavam aquela cura divina que somente
Cristo, o Se nhor poderia dar. "Jamais", diz
Eidersheim, "jamais, sem dúvida, foi Ele mais
verdadeiramente o Cristo do que quando, no silêncio
daquela noite passou por aquela multidão sofredora
colocando suas mãos sobre os doen tes curando todos os
expulsando muitos demónios".
Provavelmente naquele dia Jesus só pôde descan-
çar bem tarde. Depois que o povo havia partido para
os seus lares, agora mais alegres, Pedro e os de sua
casa queriam conversar com o hóspede ilustre, sobre
os grandes milagres daquele dia. Finalmente, todos se
retiraram e dormiram ao escoarem-se as últimas ho ras
daquele inesquecível sábado.

OUTRA SEMANA DE PREPARO


A Manhã de Domingo — Antes de surgir a luz, con -
tudo, Jesus levantou-se quietamente, respirando o
puro ar da manhã; procurou um lugar quieto e
solitário e lá orava. Pedro deve ter se surpreendido
quando ao ir cumprimentar seu hóspede, encontrou
seu quarto va zio. Talvez tivesse adivinhado onde Jesus
havia ido, pois nos é dito que "seguiram-nO Simão e os
que com

— 22 —
ele estavam. E, achando-o, lhe disseram: "Todos
Te buscam".
Que gloriosa será a situação deste velho mundo
quando puder ser verdadeiramente dito de Cristo, —
"Todos Te buscam".
O egoísmo, a inveja, o ódio, a mentira, o roubo, a
desonestidade, a desobediência aos pais, a crueldade
para com as crianças e animais, a discussão entre os
vizinhos e as lutas entre as nações — tudo
desaparece rá quando se puder dizer
verdadeiramente ao Redentor da humanidade, —
"Todos Te buscam".
Parece que Jesus e Seus amigos saíram de
Carper-naum naquele dia e "pregava nas sinagogas
deles por toda Galiléia e expulsava os demónios".
Onde quer que fossem, os doentes eram curados e os
leprosos eram limpos. Alguns dias mais tarde,
voltaram a Caper-naum. Assim que o povo soube
que Jesus se encon trava "na casa" (sem dúvida, na
casa de Pedro), "Lo go que se ajuntaram tantos, que
nem ainda nos lugares junto à porta cabiam; e
anunciava-lhes a palavra".
O Paralítico de Capernaum — Foi nesta ocasião que
quatro homens trouxeram um paralítico. O pobre
infeliz jazia em sua cama que era carregada pêlos
qua tro homens. "E não podendo aproximar-se d'Êle
por causa da multidão", subiram ao telhado. Ali
fizeram uma abertura comunicando com a sala "e
baixaram o leito em que jazia o paralítico".
"E Jesus vendo a fé deles, disse ao paralítico:
Filho, estão perdoados os teus pecados. E levantou-se
e, to mando logo o leito, saiu em presença de todos, de
sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus,
dizen do: Nunca tal vimos". Todas estas gloriosas
manifes tações de poder divino e, sem dúvida muitas e
muitas mais, Jesus havia feito mesmo antes de
escolher Seus Do/c Apóstolos.

— 23 —
'Pedro, como se vê, foi uma testemunha de todas
elas. Se ele tivesse tido qualquer dúvida alguns meses
antes, quando seu irmão André disse: "Já
encontramos/ o Messias", certamente elas haviam há
muito tempp sido banidas de sua mente; e podemos
entender porque, quando Jesus disse: "de agora em
diante serás pesca dor de homens", Pedro deixando
tudo, seguiu após Ele.
Mas, mesmo assim, não obstante todas as experi -
ências, a fé de Simão ainda não era a pedra em que
Jesus queria que ela se transformasse.

— 24 —
LIÇÃO 4

OS DOZE

"Os Doze conselheiros viajantes são cha -


mados para serem os Doze Apóstolos, ou
testemunhas especiais do nome de Cristo
em todo o mundo".

Provavelmente muitos meses após os acontecimen -


tos narrados no capítulo anterior e um pouco antes da
Festa da Páscoa, Jesus foi a uma montanha perto de
Capernaum. Como era de costume deste tempo de sua
vida, uma grande multidão O seguia. Mas Ele afas tou-
se da multidão, foi ao alto da montanha para que
pudesse estar a sós com Seu Pai nos Céus, ao qual Ele
orou a noite toda.
Os Doze Escolhidos — Sem dúvida, muitos de seus
mais ardentes seguidores também permaneceram na
montanha por toda noite, pois "quando já era dia,
chamou a si os seus discípulos e escolheu doze deles, a
quem também nomeou apóstolos".
A palavra apóstolo significa "Enviado" ou "Aque -
le que é enviado". Um apóstolo é uma "testemunha
especial do nome de Cristo em todo o Mundo".
Em todos os relatos feitos deste importante acon -
tecimento, o nome de Pedro é mencionado primeiro,
indicando que ele foi escolhido como chefe dos após -
tolos, e foi sem dúvida indicado e abençoado como o
Presidente do Conselho dos Doze. Os nomes dos Doze
a quem Jesus ordenou naquele tempo, são:

— 25 —
(1) Simão Pedro, e seu irmão; (2) André; (3) Tia -
go e (4) João, os dois filhos de Zebedeu; (5)
Filipe de Betsaida e (6) Natanael, também
chamado Bar-tolomeu; (7) Tomé, também
chamado "Dídimos", nome que significa
"gémeo"; (8) Miateus, o publi-cano, ou coletor
de impostos; (9) Tiago, filho de Alfeu; (10)
Lebeu, que era também chamado Ta-deu e
também Judas, mas não o Iscariotes; (11) Simão
o "Cananita" ou Simão o "Zelador" e (12)
Judas Iscariotes, que foi o traidor.
Quem Eram os Doze — Estes doze homens eram,
em sua maioria, pescadores galileus que trabalhavam
em seu ofício nas praias da Galiléia. Mateus, contudo,
era um publicano e, portanto, desprezado petos
Judeus; e Judas era Judeu. Alguns dos líderes dos
judeus pen saram que eles fossem "homens sem letras
e indoutos", isto é, sem instrução e ignorantes.
Indoutos eles o eram; mas não ignorantes, pois pela
sua sabedoria e pregação, sobrepujaram toda a
estrutura do conheci mento humano, e conduziram o
mundo à luz e à ver dade".
Como um humilde discípulo de Jesus, Pedro
havia sido testemunha de muitas coisas maravilhosas
relacio nadas com a missão do Salvador; mas era
difícil para ele compreender o significado do plano do
Evangelho. Ao continuarmos com sua biografia,
notaremos que sua compreensão se desenvolveu
vagarosamente, apesar de ter ele estado, durante um
ano mais ou menos, na pre sença de seu Senhor. Aqui
estão algumas das coisas que ele testemunhou
imediatamente após a sua ordenação como apóstolo.

NA FESTA DE MATEUS
J oiro — Um dia Jesus e os Doze aceitaram um con -
vite para ir à casa de Mateus, o que muito ofendeu os

— 26 —
fariseus, pois Jesus comeu com um publicano e os pe -
cadores. Enquanto Jesus e os Doze ainda estavam na
festa, e Jesus estava respondendo à acusação dos fari -
seus, "eis que chegou um dos principais da sinagoga,
por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, e
rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribun -
da; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para
que sare e viva".
Jesus imediatamente abandonou os prazeres da
festa de seu amigo e irmão Mateus, e seguiu Jairo à
sua casa.

A MULHER QUE TINHA UM FLUXO DE SANGUE


"...E seguia-o uma multidão que o apertava".
Nesta multidão achava-se uma senhora que vinha so -
frendo por doze anos em virtude de uma ferida que
não podia ser curada. O sangue havia corrido por tan -
to tempo que ela estava fraca e era muito pobre, pois
"havia dispendido tudo quanto tinha, tentando curar-
se". Ela havia ouvido falar em Jesus e em seu poder
para curar os doentes, e tinha tanta fé que havia dito a
si mesma: "Se tão somente tocar os seus vestidos, sa -
rarei" .
Ao passar Jesus ela esticou suas mãos e tocou a
barra do Seu vestido, "e logo se lhe secou a fonte
do seu sangue e sentiu no seu corpo estar já curada
daquele açoite".
"Quem tocou os meus vestidos"? Jesus, sentindo
imediatamente que havia saído virtude dÊle, virou-se e
perguntou: "Quem tocou os meus vestidois". Pedro
respondeu, "Mestre, a multidão te aperta e oprime, e
dizes: "Quem é que me tocou?" (Lucas 8:45).
Que grande visão deve Pedro ter recebido dos po -
deres divinos de Cristo, ao notar que a mulher que
estava doente vinha através da multidão, atirando-se
— 27 —
aos pés de Cristo, e confessava tudo a Ele. Que sa -
tisfação deve ter ele experimentado, ao ouvir seu Se -
nhor dizer: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê
curada deste teu açoite".
Mas logo Pedro foi testemunha de um milagre
ainda maior.

A FILHA DE JAIRO

Enquanto Jesus ainda estava falando à mulher que


agora havia sido abençoada e estava feliz, e enquanto
Pedro e seus companheiros e a multidão ainda olhavam
com grande admiração, viu uni dos principais da sina
goga, a quem diziam: "A tua filha está morta, não in
comodes o Mestre". /
Pobre Jairo! Ele havia saído apressadamente do
lado da cama de sua filhinha apenas meia hora antes
para pedir a Jesus de Nazaré que viesse salvá-la. O
médico divino havia saído imediatamente para aten dê-
lo, porém era tarde demais. O coração de Pedro deve
ter se movido de simpatia e pena pelo pobre pai. Mas
então, após o triste anúncio de falecimento, eles
ouviram a voz confortadora de Jesus: "Não temas, crê
somente e será salva".
Ao aproximarem-se da casa, ouviram o pranto dos
amigos e os lamentos da mãe infeliz. Mas, Pedro, co mo
também os outros, ouviram o Mestre dizer "Não
choreis: Não está morta, mas dorme. E riam-se dÊle
sabendo que estava morta". O Salvador então pediu
que todos deixassem a sala, com exceção de Pedro,
Tiago e João, o pai e a mãe. Então dirigiu-se à cama,
tomou a pequenina e branca mão nas suas e disse:
"Levanta-te menina". "E o seu espírito voltou e ela
logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de
comer".

— 28 —

Estes acontecimentos na vida de Pedro são apenas


algumas das gloriosas experiências que ele teve antes
de partir como "uma testemunha especial do nome de
Cristo". Jesus sabia que nem Pedro e nem ninguém
poderia converter outros à verdade antes que eles
mes mos a conhecessem. Ninguém pode ensinar o que
não sabe. Sem dúvida, por esta ocasião Pedro cria,
com todo o seu coração, que Jesus, o fazedor de
maravilhas, era realmente o Messias que deveria vir;
mas seu teste munho ainda não era firme como uma
"pedra".

A PRIMEIRA MISSÃO DE PEDRO


Contudo, chegou o tempo em que ele estava sufi -
cientemente instruído para partir em missão "e Jesus
chamou a si os doze e começou a enviá-los a dois e
dois" (Marcos, 6).
"... e lhes ordenou dizendo: Não ireis pelo cami -
nho das gentes, nem entrareis em cidade de samarita-
nos; mas ide às ovelhas perdidas da casa d'Israel e,
indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
Curai os enfermos, purificai os leprosos, ressuscitai os
mortos, expulsai os demónios: de graça recebestes, de
graça dai. (Mateus, 1:5-42).
Ele lhes disse que viajassem sem dinheiro e sem
roupas extras e que levassem bênçãos e paz a todos
que os recebessem. Disse-lhes que seriam perseguidos,
presos e julgados diante de governadores e reis, mas
deu-lhes a certeza de que o Senhor os livraria. Disse
ainda que "se ninguém vos receber, nem escutar vos -
sas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o
pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia
do juizo, haverá menos rigor para as cidades de
Sodo- ina e Gomorra do que para aquela cidade".
"Quem vos recebe, me recebe a mim; e quem
me recebe a mim, recebe Aquele que me enviou. E
qual-

— 29 —

quer que tiver dado só que seja um copo d'água fria a um


destes pequeninos na qualidade de discípulos, em
verdade vos digo que de modo nenhum perderá seu
galardão".
Não sabemos quem foi o companheiro de Pedro
nesta missão mas sabemos que eles foram e pregaram
arrependimento aos homens, que expulsaram demónios e
fizeram muitas outras coisas em nome de Jesus de
Nazaré.
Foi enquanto estavam empenhados nesta missão que
João Batista foi decapitado por ordem do perverso rei
Herodes.
Ao voltarem, "Os apóstolos ajuntaram-se a Jesus
(provavelmente em Capernaum) e contaram-lhe tudo,
tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado.
Mas havia tantos que "iam e vinham" que "não tinham
tempo para comer", assim Jesus, querendo estar sozi nho
com os Doze, disse: "Vinde vós aqui à parte, a um lugar
deserto, e repousai um pouco". Assim eles en traram num
barco "em particular", e navegaram ao lado de
Capernaum para a costa noroeste. Mas algu mas das
pessoas os viram partir e correram a pé ao redor da costa
noroeste do lago. Outras pessoas as vendo correr,
juntaram-se a elas, e quando Jesus e os Doze
desembarcaram havia centenas, se não milhares de
pessoas lá para cumprimentá-los.
Ao aproximar-se a noite, os discípulos pediram a
Jesus para dispersar a multidão, para que pudessem ir à
cidade e comprar algo que comer.
Foi nesta ocasião que Pedro testemunhou outra
manifestação do poder de Deus e viu repetida a lição que
ele aprendera um ano atrás quando fez a mara vilhosa
pesca, isto é, que a obediência k palavra de Cristo sempre
traz conforto e felicidade. Em lugar de dispersar a
multidão que estava com fome, Jesus disse: "Onde
compraremos pão para estes comerem?"

— 30 —

Respondeu Filipe: "Duzentos dinheiros de pão não


lhes bastarão, para que cada um deles tome um poueo"
(João 6). Mas de cinco pães de cevada e dois peixinhos,
Jesus, por algum processo que lhe era natu ral, mas
milagroso para nós, alimentou a vasta multi dão em número
de quase cinco mil.
Pedro ajudou não só a distribuir os pães e os peixes
entre a multidão, mas também a juntar doze cestas de
sobras. Sem dúvida ele foi um dos que disseram: "Este é
verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo".
Vamos esperar, contudo, que ele não tenha sido um dos
que tomariam Jesus pela forca para fazê-lo Rei.

— 31_
LIÇÃO 5
GLORIOSAS EXPERIÊNCIAS
"Os passos da fé caem no nada aparente, mas
sob eles encontram a rocha".
"Tudo o que vi me ensinou: a confiar no
Criador, pelas coisas que não vi".
—x. x. x. x—
Quanto Jesus chamou Simão "Pedro" ou "A Ro -
cha", sem dúvida expressou com aquele nome uma
das* características que Ele desejava ver na fé de Seus
discípulos, e, particularmente, em Seus Apóstolos.
Queria que eles tivessem uma fé inabalável — uma fé
que os faria firmes na verdade, a despeito de milagre
ou milagres de homens — fé no Senhor em todos os
íem-pos e sob todas as circunstâncias, fossem elas
quais fossem. Jesus sabia que os Judeus eram
facilmente in fluenciáveis, que um milagre feito hoje
poderia des pertar neles um sentimento de que Ele era o
rei pelo qual eles estavam esperando e que a verdade
ensinada amanhã poderia despertar neles um
sentimento de que Ele era um impostor. Ele queria
leviá-los a Deus e ao Seu Evangelho. Queria que
compreendessem as ver dades da vida para que as
vivessem após a sua partida do meio deles.
Imaginem então qual não foi a sua dor, quando,
após o milagre mencionado no último capítulo, o povo
se levantou e o aclamou rei e pensou que por lhe ofe-
— 32 —
recer uma coroa vazia lhe estava prestando honras.
Ele não queria que eles o honrassem. Queria apenas
que vissem o poder de Deus e cressem em sua divina
verdade.
Querendo estar a sós mais uma vez com Seu Pai,
não querendo a companhia nem mesmo dos três
prin cipais apóstolos, Pedro, Tiago e João, Jesus
dispersou a multidão, disse aos Doze que
embarcassem e voltas, sem a Capernaum e Ele se
dirigiu a um local solitário para orar.
O MAR TEMPESTUOSO
Durante a noite, enquanto Jesus ainda orava, caiu
uma grande tempestade, que fazia levantar grandes
ondas no mar. Da montanha, Jesus podia ver Seus
discípulos lutando, mas incapazes de fazer muito pro -
gresso, embora eles não o vissem.
Quando o barco estava cerca de trinta estádios da
praia, Jesus decidiu ir a ele. Já passava da meia noite e
os discípulos ainda estavam lutando contra o mar
encapelado.
Jesus anda sobre o mar — Imagine seu medo quan -
do, na escuridão, viram um objeto dirigindo-se a eles
sobre as ondas! E quando alguém gritou: "É um fan -
tasma", ficaram mais amedrontados que nunca.
"Jesus, porém, lhe falou logo, dizendo: Tende
bom ânimo, sou eu, não tenhais medo".
Pedro imediatamente falou, dizendo: "Senhor, se
és tu, manda-me ir ter consigo por cima das águas".
"Vem", disse Jesus.
E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas
para ir ter com Jesus".
Pedro, firme em crença e forte em determinação
quando seus olhos vêem somente a magestade da fé e a
perfeita manifestação de seu poder: Poderoso e des-
— 33 —
temido, quando vê somente a glória de Deus e sua
alma grita para ir ter com Ele:
Mas quando vê "o vento forte" fica com medo
e, começando a afundar-se, grita, dizendo:
"Senhor, sal va-me" (Mateus 14).
Assim é na vida, quando os ventos da tentação e
as ondas do desespero se abatem sobre nós, o olho
da fé se eleva mais para estes elementos de que para
a luz da vida, enfraquecendo o poder da fé, como
Pedro, começamos a afundar. Muitos, sim, muitos,
afundam-se sob as vagas; poucos gritam como ele:
"Senhor salva-me".
"E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e
disse-lhe: Homem de pouca fé, porque duvidaste?".
OUTRA EXPERIÊNCIA
Na manhã seguinte o povo de Capernaum que
sabia que Pedro e os outros discípulos haviam
partido do lado oposto sem Jesus, muito se
admiraram por vê-lo junto com eles e disseram:
"Rabi, quando chegaste
aqui?".
"Vós me buscais, não pêlos sinais que vistes, mas
porque comestes do pão e vos saciastes".
"Trabalho, não pela comida que perece, mas
pela
comida que permanece para a vida eterna, a qual o
Filho do homem vos dará", (João 6:25-27).
Ele então proferiu o famoso sermão sobre o Pão
da Vida, parte do qual, como João dele se lembrava,
acha-se registrado no capitulo sexto do evangelho
de João. Havia tantas coisas que eram faladas e que
os Judeus não podiam compreender, por causa de
seu pre conceito, que primeiramente ficaram meio
confusos, depois enraivecidos e finalmente muito
ofendidos. Aqueles que tinham pouca fé,
influenciaram-se pêlos murmúrios da multidão e
disseram: "Não cremos que
_ 34 _

este homem seja o Filho de Deus. Mesmo alguns de


Seus discípulos afastaram-se da Verdade "e já não
andavam com Ele".
A massa de homens e mulheres enraivecidos
muito se assemelhava com o mar encapelado que
fustigava os discípulos na noite anterior. Os ventos
do ridículo e as ondas do descontentamento batiam-
se contra os discípulos inconstantes. Ao olharem
para estes maus elementos da paixão humana, sua fé
em Cristo enfra queceu-se e eles "começaram a
afundar".
Em vão, Jesus testificou "Sou Eu, o Filho do Ho -
mem!" Eles não lhe dariam ouvido, pois Ele era
para eles nada mais que o filho de José o carpinteiro.
Ao afastarem-se dele os vários grupos, Ele virou-se
para os apóstolos e disse: "Quereis vós também
retirar-vos?" Mais uma vez foi Pedro que quebrou o
silêncio. Com os outros ele havia olhado para a
barulhenta mul tidão, com os outros ouvira as
palavras enraivecidas dirigidas ao seu Mestre. No
meio deste mar de paixão humana, diria ele,
"Senhor, se és tu, manda-me ir ter consigo?"
Como que um pouco hesitante, como se sua fé
não fosse tão firme como Jesus queria que se
tornasse, ele respondeu: "Senhor, para quem iremos
nós? Tu tens as palavras da vida eterna". (João
6:68).
Então, sua certeza se fortaleceu e seus pensamen tos
se afastaram da multidão apóstata e ele acrescen -
tou: "E nós temos crido e conhecido que tu és o
Cristo, o Filho de Deus". Apesar do não ter vindo
dos lábios de Jesus, nessa ocasião, a palavra
"Abençoado", sem dúvida Ele se sentia satisfeito
por ver a fé incerta de seus discípulos se tornar
firme nos corações de seus Apóstolos.
- 35 -
LIÇÃO 6

O TESTEMUNHO DE PEDRO

Em Tiro e Sidon. — Pouco tempo depois que o


povo de Capernaum negou o Salvador, como foi n ar-
rado no capitulo anterior, Jesus levou seus doze discí -
pulos ao oeste, através da Galiléia, para a terra de
Tiro e Sidon, perto do Mar Mediterrâneo. Ele queria
estar sozinho com os Doze, para que pudesse ensinar-
lhes muitas coisas relacionadas com o reino de Deus e
assim prepará-los para levar adiante o trabalho,
depois que Ele os deixasse.
A Mulher Cananea — Muitas coisas aconteceram
nesta viagem que deve ter sido memorável para
Pedro e os outros membros dos Doze. Primeiro,
houve uma mulher cananea que procurou Jesus e
implorou que Ele curasse sua filhinha.
Porque ela não pertencia à raça judia, os
discípulos disseram: "Despede-a, que vem gritando
após nós".
Naturalmente, eles devem ter pensado então, e
por muito tempo depois, que o Evangelho era
somente para os Judeus. Mas Jesus lhes ensinou que
Ele amava à mulher cananea tanto quanto aos
judeus. Mas Pedro não compreendeu inteiramente.
Outros milagres — Da Costa de Tiro e Sidon, eles
viajaram ao redor da Galiléia e chegaram ao lado
este do Mar da Galiléia. Aqui os discípulos
testemunharam outras manifestações do poder de
Jesus. Um homem surdo que não podia falar
claramente, foi curado e ouviu e falou; e quando o
povo ouviu sobre isto, se-
— 36 —
guiu a Jesus e os Doze, fora da cidadezinha, até "um
lugar deserto".
Mais uma vez Pedro viu uma multidão ser ali -
mentada, desta vez, tendo somente sete pães e alguns
peixinhos.
Pode parecer que depois de todos estes meses
junto do Salvador — ouvindo Suas parábolas, vendo
Seus milagres, sentindo Seu espírito e recebendo Seus
ensinamentos diariamente, os apóstolos
compreenderiam certamente a missão do Redentor.
.ás palavras de Jesus não são compreendidas. — Mas
lemos que após terem sido alimentados estes "quatro
mil homens, além de mulheres e crianças" os
discípulos entraram com Jesus num barco e remaram
para o lado oeste do lago. Lá eles encontraram alguns
Fariseus e Saduceus, que começaram a se opor a Jesus.
Quando Ele e os Doze estavam sozinhos novamen te,
disse: "Adverti-vos e acautelai-vos do fermento dos
fariseus e saduceus".
Sabemos o que Ele queria dizer com isto, mas os
discípulos disseram entre si: "É porque não nos for -
necemos de pão".
Quando Jesus viu que eles não o compreenderam,
disse: "Como não entendestes que não vos falei a res -
peito de pão, mas que vos guardásseis do fermento dos
fariseus e saduceus?"
"Então compreenderam que não dissera que se
guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos
íuriscus e dos saduceus". (Mateus, 16:1-12).
Sem dúvida, havia viários entre eles cujo testem u-
nliu estava se tornando firme e inabalável. Sabemos «l
u e apenas alguns dias mais tarde o apóstolo chefe
mostrou em palavras que não poderiam ser mal inter-
prcludus, sua firme convicção de que Cristo era real -
mente o Filho do Deus Vivo.

— 37 —
A inesquecível confissão de Pedro — Eles haviam se
dirigido para o norte, para Cesaréia de Filipo, aos pés
do monte Hermon. Aqui, Jesus, um dia, fez aos seus
discípulos esta pergunta: "Quem dizem os ho mens ser
o filho do homem?"
"E eles disseram: "Uns João Batista, outros Elias,
e outros Jeremias ou um dos profetas".
Então Jesus disse: "Mas vós, quem dizeis que eu
sou?
Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo".
Não havia hesitação agora, nem medo, nem incer -
teza, para a expressão direta de uma alma convencida
da verdade: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
"Bemaventurado és tu, Simão Barjonas, porque
t'o não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que
está nos céus", disse-lhe Jesus.
Finalmente Jesus descobre em Pedro a certeza que
estava há muitos meses procurando desenvolver. Ele
agora sabe que o espírito de Pedro recebeu certeza di -
vina de que todos estes milagres e poderosas manifes -
tações haviam sido feitas pelo poder de Deus através
de Seu filho unigénito. Ele sabe que o testemunho de
Pedro não tinha vindo dos homens mas de Deus, e não
importava o que os homens pudessem fazer ou pensar.
Pedro levantar-se-ia firme como uma rocha sobre este
testemunho.
"E também te digo", continuou Jesus, "que tu és
Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela".
A Igreja de Cristo edificada sobre revelação — Com
isto Jesus queria dizer que, como o nome de Simão era
"Pedro", que significa "pedra", assim também seu
testemunho que veio por revelação seria a rocha sobre
a qual a Igreja de Cristo seria construída. Porque
quando alguém recebe certeza divina em sua alma, da
vera

— 38 —
cidade do evangelho, nem os homens, nem as ondas
da tentação e nem o poder do inferno poderão privá-
lo dela. Logo que Jesus encontrou Simão, Ele disse
que ele seria chamado "a Rocha". Parecia que desde
então Jesus havia estado esperando o tempo em que
o teste munho de Pedro fosse como seu caráter —
expressivo e firme. Este tempo chegou; e Pedro
estava agora pre parado para receber uma
responsabilidade maior.
Chaves do reino — "E eu te darei as chaves do
reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será
ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será
desliga do nos céus".
Uma chave era para abrir a porta do evangelho
aos gentios, mas levou algum tempo para que Pedro
soubesse como uslá-la.
Uma coisa é saber que o evangelho é
verdadeiro; mas outra coisa é compreender seu
propósito e significado .
Jesus prediz sua própria morte — Desse tempo em
diante Jesus começou a dizer aos Apóstolos que ele
sofreria e morreria e que eles precisavam continuar
a pregar o evangelho. Disse-lhes que dentro de
alguns meses Ele seria levado pêlos principais
sacerdotes, se ria morto e ressurgiria novamente no
terceiro dia.
Zelo desnecessário — Quando Pedro ouviu isto,
levou o Salvador para um lado, e ainda esperando
que Jesus um dia viesse a ser rei, disse: "Senhor,
tem compaixão de ti; de modo nenhum te aconteça
isso". Kru o mesmo que dizer, eles não O levarão se
pudermos evitá-lo.
Pedro é repreendido — Corajoso, mas incompre-
eiiHÍvel Pedro! Ele não compreendia que era
necessá rio (jue seu Senhor morresse, antes que Sua
missão de redenção fosse cumprida. Assim, em seu
amor cego, rvilnriii que o Senhor completasse Seu
trabalho! O Salvador, percebendo isto, virou-se e
disse a Pedro:

— 39 —
"Arreda-te de diante de mim, Satanaz, que me serves
de escândalo; porque não compreendes as coisas que
são de Deus, mas só as que são dos homens". (Mateus
16:
16-23).
Esta era uma reprensão severa, e deve ter causado
profundo efeito em Pedro com o pensamento de que o
seu plano não era o de Deus; sem dúvida ele compre -
endeu que ainda tinha muito o que aprender antes de
poder levar a cabo a grande tarefa que o Senhor lhe
havia atribuido naquele dia. Mas em seu zelo para
salvar Jesus da morte, ele errou, em amor.
De qualquer modo, sabemos que Jesus estava sa -
tisfeito com o testemunho de Pedro e com seu amor, e
que esperaria pacientemente pela sua compreensão do
plano do evangelho.

— 40
LIÇÃO 7 UMA
SOBERBA MANIFESTAÇÃO
O Monte Santo — Na região de Cesaréia de Filipo,
onde Pedro deu seu testemunho e recebeu bênção e po -
der de seu Mestre, achava-se uma alta montanha da ca -
deia do Líbano, conhecida como Monte Hermon. Pe dro
a chamava Monte Santo. Após sabermos o que acon teceu
lá, todos concordaremos que Pedro deu-lhe um nome
adequado.
Um escritor que visitou esta região nos diz que o
"magnífico esplendor" deste pico "elevando-se como
um gigante sobre todos os outros picos da cadeia do
Líbano, com sua cabeça coberta de neve, é visível de to -
das as direções. É provavelmente o lugar mais alto na
terra sobre o qual o Senhor jamais se encontrou e do
qual Ele tinha uma vista das mais amplas. Do alto, Ele
olhava para baixo sobre a Galiléia, onde havia ensinado
c trabalhado, onde havia sido recebido por poucos e ne -
gado por muitos".
A renúncia a si mesmo é necessária — Seis dias
(Lucas diz oito) haviam se passado desde que Pedro
linvia dado seu grande testemunho — seis dias, sem dú-
vida, de importantes instruções a Pedro e aos outros
« m /c .
1'oi provavelmente durante aquele tempo que os
Do/c aprenderam que para ser um verdadeiro seguidor
ilr .lesus, é preciso negar a si mesmo muitos desejos e
npclitcs — controlar os sentimentos de raiva, ciúmes
e uuirus paixões. Disse o Salvador: "Se alguém quizer
vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a
cruz

— 41 —
e siga-Me. Porque aquele que quizer salvar a sua
vida, perde-la-á e quem perder a sua vida por amor
de Mim, acha-laJá. Pois que aproveita ao homem, se
ganhar o o mundo inteiro e perder a sua alma? ou
que dará o homem em recompensa da sua alma?"
(Mateus 16: 24-26).
Estas e muitas outras verdades gloriosas Pedro,
sem dúvida, ouviu durante aquela memorável
semana em Cesaréia de Filipo.
Mas ele ouvira coisas ainda mais gloriosas.
Ainda perplexo com alguns dos dizeres de Jesus,
ainda imaginandjo porque era necessário que o Se -
nhor sofresse muitas coisas e fosse rejeitado e mesmo
morto, Pedro, Tiago e João certamente,
acompanharam Jesus ao lado do Monte Hermon.
Parece, pelo breve re lato que temos deste incidente,
que eles gastaram vá rias horas em solene
conversação, perguntando-lhe os apóstolos muitas
coisas relacionadas com Suas pala vras.
A meia-luz transformava-se em escuridão, e as som -
bras da noite escondiam o Monte Hermon completa-
mente dos vales adormecidos abaixo.
A transfiguração — Talvez os três líderes estives -
sem sonolentos, e ao afastar-se o Senhor para orar,
eles estavam profundamente adormecidos. Mias, seja
como for, sabemos que quando seus olhos voltaram-
se para Jesus "transfigurou-se diante deles; e os seus
vestidos tornaram-se brancos como a neve, tais como
nenhum lavadeiro sobre a terra os poderia
branquear. E apareceu-lhes Elias corri Moisés e
falavam com Je sus". (Marcos 9:1-6).
Não Morte mas transformação — Estes personagens
celestes falaram, com Jesus, sobre a sua aproxi mação
da morte, e ressurreição, uma das coisas vi tais no
ministério de Cristo, que Pedro não podia com -
preender. Após esta gloriosa visão de dois seres celes-

— 42
tiais, a Morte perderia muito se não todo o terror pe -
rante Pedro, Tiago e João. Eles saberiam que mesmo
se os homens maus matassem seu Mestre, Ele viveria e
ainda seria seu Senhor e Salvador. A Morte, para eles,
depois disto, seria apenas uma separação. Eles com -
preenderam que "a morte nada tinha de terrível em si
mas o que a vida tinha a fazia assim."
"E bom que nós estejamos aqui" — Pedro, por ins -
piração, havia recebido certeza de que Jesus era real -
mente o Cristo; agora ele testemunhava um sinal vi -
sível de seu testemunho. Desejoso de ter um monu -
mento erigido a este sinal externo, alguma coisa que
outros olhos além do seu pudessem ver, ele gritou, pe la
impulsividade de seu coração: "Mestre, é bom que nós
estejamos aqui, e façamos três cabanas, uma para li,
uma para Moisés e uma para Elias". Mas repenti -
namente ao desaparecerem Moisés e Elias, uma nuvem
os cobriu e uma voz saiu da nuvem dizendo: "Este é
meu filho amado, a Ele ouvi",
Fontes de Testemunho — O testemunho de Pedro
eslava, neste tempo, fortalecido e a sua fé provada:
(Pedro 1:7).
(1) Pela confirmação de milagres; (2) pela visão
de seres celestiais; (3) por inspiração; (4) por ouvir
não somente o testemunho destes anjos mas
também o divino Testemunho do próprio Deus.
Sim, a sua fé estava construída sobre a pedra e
as portas do inferno não podiam prevalecer contra
ela!
Isto é verdade e, de agora em diante podemos con -
cluir com segurança, ao acompanhar sua carreira,
que nem uma sombra de dúvida da divindade da
missão de Cristo jamais atravessou a mente de
Pedro.
A Pureza e a sinceridade são essenciais — Quando
pensamos que Pedro esteve em contacto quase diário <-
om o Salvador dos homens, podemos concluir que seu
testemunho cresceu muito vagarosamente, mas, se as-

— 43 —
sim aconteceu, como o carvalho que também cresce
vagarosamente, tornou-se tanto mais durável.
Afinal de contas, a experiência de Pedro é a ex -
periência que virá a quase todos os meninos e meni nas
que lerem estas páginas. O conhecimento da ver dade, e o
testemunho do Evangelho podem vir gra dualmente a
quase todos eles. A grande lição a ser aprendida mesmo
na mocidade é a de pureza de pen samento e busca com
coração sincero, da orientação diária do Salvador que
conduzirá a um testemunho da veracidade do Evangelho
de Cristo, tão seguro e per manente como o que Pedro
possuía ao descer do Mon te Hermon onde presenciou a
transfiguração de Cristo e ouviu a voz de Deus testificar
da Sua divindade.
Mas, o saber que Jesus era o Salvador da Humani -
dade, não deu a Pedro uma compreensão do plano do
Evangelho. Quanto a isto ele ainda tinha muito o que
aprender. E pode ser que a sua força de caráter ou
melhor, seu julgamento, não fossem tão firmes como
deveriam ter sido num homem cuja vida toda deveria ser
firme como uma pedra.
Na força de seu testemunho e numa atitude até certo
ponto resignada ao destino que mais cedo ou mais tarde
levaria o Mestre, Pedro continuou a fazer muitas
perguntas relacionadas aos aspectos vitais da missão de
Cristo. Uma pergunta que os apóstolos fi zeram a si
mesmos ao descerem à multidão que per manecia ao pé
da colina, foi: o que o Mestre queria dizer quando falou
que o Filho do Homem se levanta ria dentre os mortos?
Enquanto o Salvador estava respondendo esta
pergunta e explicando as profecias a ela relacionadas,
chegaram ao lugar onde, na noite anterior, eles haviam
deixado os outros discípulos. Uma grande multidão se
reunia ao redor deles, e os escribas lhes faziam per -
guntas.

— 44 —
O jovem, lunático — Entre esta multidão encon trava-
se um pequeno garoto que padecia por influên cia de um
mau espírito. Quando ele estava "possuído" caia ao chão,
espumava pela boca, rangia os dentes. O pai encontrou
Jesus e implorou a Ele que aliviasse seu pobre filho, e
acrescentou que os discípulos haviam tenlado fazê-lo, sem
conseguí-lo.
"Quanto tempo faz, perguntou Jesus "que lhe su cede
isto?" "Desde a infância," disse o pai "e muitas vezes o
tem lançado no fogo, e na água para o destruir, mas, se tu
podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-
nos." E Jesus repreendeu o espírito imundo e o menino foi
curado.
Um contraste — Para Pedro, Tiago e João, quão
grande era o contraste entre a cena que eles presencia ram
na noite anterior no Monte e esta. Aqui se mani festava o
poder do mal, causando suspeita, dor, ago nia, morte; lá,
havia se manifestado o poder do Senhor, proclamando
felicidade, paz, glória, e imortalidade!
Tais têm sido os resultados destes dois grandes poderes,
influenciando as vidas dos homens em todas as idades.
Tal é o resultado hoje em dia. Uma pergun-la vital para
nós é: Permaneceremos nós ao lado do pecado onde o
mal triunfa, ou mostraremos nós pelo menos boa vontade
para subir ao monte da Santidade c deixar que Deus
transforme nossas vidas?

— 45 —
LIÇÃO 8 LIÇÕES DE
VERDADEIRA LIDERANÇA
"O cará ter é formado pelas circunstâncias.
Com os mesmos materiais, um homem .
constrói palácios enquanto outro constrói
cabanas"
—x. x. x. x—

Entre a transfiguração e a última semana cheia de


acontecimentos da vida do Salvador na terra, há ape -
nas alguns casos registrados nas escrituras nos quais
Pedro é pessoalmente mencionado. É significativo, con -
tudo, que quase todos estes confirmam direta ou indi-
retamente, o caráter de Pedro como um líder apostó -
lico. IPedro sabe que Jesus é o Cristo que deveria vir,
mas teria força para defendê-lo com palavras e atos?
Compreende ele os princípios divinos do Evangelho
suficientemente para manifestá-lo em sua vida diária
nas conversações e em todas as suas associações com o
seu próximo? Com a excessão provável do incidente
do dinheiro do tributo, que salienta para Pedro a fi -
liação do seu Mestre, todas as lições seguintes baseiam-
se diretamente sobre força de canáter e princípios de
conduta.
TRIBUTO
Uma antiga lei — Naquele tempo existia uma taxa
sobre todo Judeu homem, de vinte anos ou mais, para

_ 46 _
a manutenção do Templo e de seus serviços. Esta lei
havia estado em vigor desde os dias dos filhos de Is -
rael, quando o grande Moisés disse: "a metade
dum siclo é a oferta do Senhor". (Êxodo 30-13).
Maleus nos relata que "chegando eles a Caper-
niuini, nproximaram-se de Pedro os que cobravam
as didrucmas e disseram: O vosso mestre não paga
as didracmas?" "Sim", prontamente respondeu
Pedro.
Se ele soubesse quando estava falando com os co-
lotores de impostos, que não havia dinheiro disponí -
vel, teria se preocupado sobre como poderiam pagar
o meio siclo devido como tributo, naquele dia.
Os filhos são livres — Quando Pedro voltou à ca -
sa, Jesus antecipou-se ao que ele ia dizer, e pergun -
tou-lhe: "De quem cobram os reisi da terra os
tributos, ou o censo? De seus filhos ou dos alheios?"
"Dos alheios", respondeu Pedro.
"Logo, são livres os filhos", disse Jesus, querendo
dizer que desde que esse dinheiro de tributo se desti -
nava à manutenção da casa de Seu Pai, Ele, o
Filho, não teria que pagá-lo; mas acrescentou:
"Mas para que os não escandalizemos, vai ao
mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e,
abrin do-lhe a boca encontrarás um státer; toma-o
e dá-o por inim e por ti:" (Mateus 17:24-27).
Esta experiência deve ter introduzido na mente
de IPedro de que é melhor sofrer ofensa do que ofen -
der.

UMA LIÇÃO DE PERDÃO


Mais ou menos nessa ocasião, Pedro perguntou:
"Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão con tra
mini e eu lhe perdoarei? Até sete? (Mateus 18:21).
Talvez já estivesse sido necessário que Pedro re-
Holvesse alguma dificuldade entre os homens em dis-

— 47 —
puta ou pode ser que ele tenha sido provocado duran te
o argumento que surgiu entre os discípulos, sobre quem
era o maior entre eles. Se algum deles o tivesse
insultado por ele ser o maior, é muito provável que sua
paciência se tivesse esgotado. De qualquer forma, ele
queria saber se há um limite no número de vezes que
um homem deveria perdoar seu irmão. Que grande
lição deu a este impetuoso apóstolo quando respon deu:
"Não te digo: Até sete, mas até setenta vezes se te".
(Mateus 18:22).
Então, para tornar o ensinamento mais firme, o
Senhor lhes contou a parábola do servo impiedoso.
Um certo rei quiz fazer contas com seus servos,
para ver os que lhe deviam e descobriu que um lhe de -
via dez mil talentos. O servo não podia pagar esta di -
vida, e assim o rei ordenou que fosse vendido, junta -
mente com sua esposa e filhos e tudo o que tinha. O
servo pediu misericórdia, dizendo: "Senhor sê gene roso
para comigo e tudo te pagarei."
"Então o senhor daquele sorvo, movido de íntima
compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida."
O rei não somente teve piedade do infeliz devedor,
como também o libertou da prisão, deixando que fi -
casse com sua esposa e filhos e cancelou a divida.
O Servo ingrato — Mas, aquele mesmo servo saiu e
encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem
dinheiros, milhares de vezes menos do que o primeiro
servo devia a seu mestre.
Lançando mão do seu conservo, sufocava-o, dizen -
do: "Paga o que me deves".
Então o seu conservo, prostando-se aos seus pés,
rogava-lhe misericórdia, dizendo: "Sê generoso para
comigo, e tudo te pagarei".
Mas o maldoso servo, recusando-se a ter piedade,
"foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida".

_ 48 —
Assim, quando o seu senhor ouviu como o servo a
quem ele havia perdoado, havia tratado o seu
conservo, chamou-o à sua presença e disse: "Servo
malvado, per doei-te Ioda aquela dívida, porque me
suplicaste; não devias tu igualmente ter compaixão do
teu companhei ro, como eu também tive misericórdia de
ti?
A este servo impiedoso foi ordenado que pagasse os
dez mil talentos, e foi entregue aos "atormentado res"
até que pagasse tudo o que devia.
Então concluiu o Salvador: "Assim vos fará tam -
bém meu Pai celestial se do coração não perdoardes
cada um a seu irmão as suas ofensas". (Mateus 18: 23-
35).
Será que Pedro se esqueceu da lição?

A RECOMPENSA DO SACRIFÍCIO

O governador jovem e rico — Um dia Pedro e os


outros ouviram uma conversação entre o seu Senhor e
um rico e jovem governador. Era jovem e rico e, como
pintado pêlos antigos mestres, muito simpático. Ele
havia se mantido moralmente limpo e queria con seguir
a vida eterna. Mas seu coração estava com suas
riquesas; assim, quando o Salvador disse: "vende tudo
quanto tens, reparte-o entre os pobres, e terias um te -
souro no céu; vem e segue-me", o jovem se afastou
muito triste.
Então Pedro disse: "Eis que nos deixámos tudo e
te seguimos". Era o mesmo que dizer: Senhor, deixa -
mos tudo por sua causa, agora qual será a recompen -
sa?" Jesus disse:
"...ninguém há que tenha deixado casa, ou pais,
ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, e
não haja de receber muito mais neste tempo e no sé -
culo vindouro a vida eterna".

— 49 —
"Porém", acrescentou Ele, "muitos primeiros se -
rão derradeiros e muitos derradeiros serão primeiros".
Humildade — Esta última afirmativa deve ter con -
tido, para Pedro, o primeiro entre os Doze, uma im -
portante lição de humildade.
UMA LIÇÃO DE FÉ
Foi provavelmente na terça-feira da última sema -
na que Jesus passou com os seus apóstolos, que Pedro
chamou a sua atenção para o resultado de uma divina
maldição.
A figueira seca — Um dia ou dois antes, Jesus ha -
via se afastado de seu caminho para colher alguns fi -
gos de uma figueira que ficava a alguma distância.
Quando descobriu que a árvore não produzia figos, dis -
se que ela jamais produziria frutos novamente. Na
manhã desta têrça-feira, £|o passarem os discípulos,
"viram que a figueira se tinha secado desde as raízes".
"E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que
a figueira, que tu amaldiçoaste, secou-se".
O Poder da Fé — Jesus respondeu: "Tende fé em
Deus. Porque em verdade vos digo que qualquer que
disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar; e não
duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo
que diz, tudo o que disser lhe será feito. (Marcos 11:
21-23).
Naquele mesmo dia, Pedro, sem dúvúda, estava
com os Doze no Monte das Oliveiras, quando eles per -
guntaram a Jesus, em particular, sobre a destruição do
Templo. (Marcos 13; Mateus 24; Lucas 21)
Guardar mandamentos — A Pedro e a todos, Ele
disse: "Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que
sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas
que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho
do Homem".

_ 50 —
LIÇÃO 9 NA NOITE DA
TRAIÇÃO

"O ponto mais fraco do homem é o se jul gar


o mais sábio".

NO CENÁCULO

Na quinta-feira da semana da paixão, Jesus cha -


mou Pedro e João a Ele e disse: "Ide, preparai-nos a
páscoa para que a comamos". (Lucas, 22-8).
A Páscoa — A páscoa, como lembramos, é o nome
dado à festa estabelecida para comemorar o tempo em
que o anjo destruidor passou sobre as casas dos he -
breus, que haviam sido marcados pelo sangue do cor -
deiro. Neste festival, era morto um cordeiro, que era
chamado o cordeiro pascoal. * Foi no dia em que o
cordeiro deveria ser morto, que Pedro e João foram
instruídos para fazer os preparativos.
Um cenáculo é preparado — "Onde queres que a
preparemos?", perguntaram eles.
"Eis que quando entrardes na cidade", disse Ele,
"vos encontrará um homem, levando um cântaro d'á-
gua: seguí-o até a casa em que ele entrar. E direis ao
* N. R. — Perfeita analogia entre a morte do Salvador
e a ocasião em que o sangue de um cordeiro inocente
marcou as portas das casas daqueles que não iriam ter
a visita da morte que ceifaria as vidas dos seus primo -
génitos.

_ 51 —
dono da casa. O Mestre te diz: Onde está o aposento
cm que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?
Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilia do;
aí fazei preparativos".
Os dois apóstolos procederam de acordo com as
instruções e fizeram os necessários preparativos.
Na hora determinada Jesus e os Doze se reuniram
neste cenáculo. Alguns pensam que foi em casa de
Marcos, alguns em casa de José de Arimatéia, mas nós
não sabemos e também não tem muita importância.
Estamos mais interessados no que aconteceu lá.
Uma reunião solene — Jesus presidiu a festa. De
um lado, suficientemente perto para reclinar-se sobre o
peito do Mestre, sentou-se João e do outro lado, Pe dro.
Foi talvez, a reunião mais solene que os Apósto los
tiveram, pois o Salvador disse no princípio da mes ma:
"Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes
que padeça; porque vos digo que não a comerei mais
até que ela se cumpra no reino de Deus".
Queria dizer que havia chegado a hora em que
Seus inimigos viriam para levá-lo e matá-lo.
Quase ao terminar a ceia, Jesus levantou-se de
onde estava reclinado, depoz ao lado seus vestidos ex -
teriores ,tomou uma toalha e cingiu-se como criado.
Tomou então uma bacia d'água e começou a lavar os
pés dos discípulos.
Jesus lava os pés dos discípulos — Talvez o Salvador
tenha descoberto nas mentes dos discípulos o mes mo
pensamento que havia certa vez causado uma disputa
entre eles, isto é, quem era o maior. Talvez este
pensamento tenha surgido quando eles viram Pe dro e
João ocupando os lugares de honra. De qualquer
modo, seu Senhor, o maior dentre eles, assumiu uma
atitude de servo, o menor e mais humilde dentre eles.

— 52 —
protesta — Quando Ele se aproximou de Pe -
dro, esto disse: "Senhor, tu lavas-me os pés a mim?"
1'edm serviria seu Mestre, mas seu Mestre jamais ser.
V in il n r l e !
"O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o Hiilirnis
depois", respondeu Jesus. "iNimca me lavarás os pés".
"Sc eu te não lavar, não tens parte comigo", continuou
Jesus.
Quando Pedro pensou que sua recusa a submeter-
HC a ser servido pelo Senhor, podia realmente afastá-lo
«Ir si, ele disse:
"Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos
<• :i cabeça".
Um Exemplo — "Depois que lhes lavou os pés e
tomou os seus vestidos, tornou a se assentar à mesa e
lhes disse. Entendeis o que vos tenho feito?" Vós me
chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou.
IPois se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós
<lcveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu
vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós
também".
Assim, esses doze homens receberam, de manei ra
clara e prática, a divina lição de utilidade ao pró ximo.
Assim eles aprenderam que aqueles que eram maiores
entre eles, eram em verdade servos de todos.
"f/m de vós me há de trair" — Imediatamente após
esta impressionante e sagrada cerimónia, cujo signifi -
cado completo apenas alguns compreendem, o Senhor
disse: — Um de vós me há de trair".
lista notícia lançou tristeza sobre todos. O dá-la,
lê/; com que perturbação viesse sobre o "espírito" de
Cristo e o ouvi-la fez todos muito tristes.
Começaram a perguntar uns aos outros qual de les
seria tão infiel; e logo cada um perguntava ao Mes tre,
"Porventura sou eu, Senhor?"

— 53 —
Judas, o último de todos disse: — "Porventura
sou eu, Rabi?"
Jesus respondeu: — "Tu o disseste". A sua respos -
ta entretanto, parece não ter sido ouvida pêlos outros,
porque Pedro pediu a João que perguntasse ao Mes tre
"quem era aquele de quem ele falava". (João 13).
Jesus respondeu com voz baixa: — "É aquele a
quem eu der o bocado molhado".
Judas Iscariotes — E molhando o bocado, deu-o a
Judas Iscariotes. Pedro e João, então souberam quem
era o traidor; mas os outros provavelmente não o sa -
biam; pois não compreenderam Jesus quando disse a
Judas: "O que fazes fá-lo depressa".
LEALDADE COMO PEDRO A SENTIA
Após ter desaparecido na noite o traidor — oh! que
noite para ele! — Jesus continuou a ensinar e a consolar
os Onze.
Amai-vos uns aos outros — "Um novo mandamen to
vos dou: Que vos ameis uns aos outros, como eu vos
amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis".
Entre outras coisas, Ele disse, referindo-se à apro -
ximação da morte: "Para onde eu vou não podes ago ra
seguir-me".
Isto aumentou o amor de Pedro e ele perguntou:
"Porque não posso seguir-te agora? Por ti darei a mi -
nha vida". (João 13: 34-37).
Pedro seria experimentado — "Simão, Simão, eis que
Satanaz vos pediu para vos cirandar como trigo; mas
eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu,
quando te converteres, (isto é, voltar a ser discí pulo
penitente) conforta a teus irmãos". (Lucas 22: 31-32).
Isto aborreceu Pedro grandemente. Pensar que
seu Mestre levemente suspeitaria que ele, Pedro, enfra-

— 54 —-
queceria em sua firmeza no Senhor (é significativo qu«
o Senhor o tivesse chamado pelo seu antigo nome, Si-
mão) !
Pedro, protestando, disse "Senhor, estou pronto ;»
ir contigo até a prisão e à morte" (Lucas 22:33).
Uma Profecia — Digo-vos Pedro", continuou Je sus
"que não cantará hoje o galo antes que três vezes
negues que me conheces".
Mas ele falou com grande veemência: "Ainda que
me seja mister morrer contigo, não te negarei. E o mes -
mo todos os discípulos disseram" (Mateus 26:35).
Pedro foi sincero em todas as palavras que disse c
sentiu-se profundamente a verdade do que disse; mas
sua força real ainda não tinha vindo a ele e seu Mes tre
o sabia. Viria, mas nasceria do profundo silêncio de um
coração sofredor.

A LEALDADE COM QUE PEDRO AGIA

Getsemane — Mais tarde naquela noite, o grupo


deixou o cenáculo, atravessou o regato Kedron, e diri -
giu-se ao Jardim Getsemane, ao oeste do Monte das
Oliveiras.
Mandando que oito dos Doze permanecessem jun -
tos, Ele tomou os outros três, Pedro, Tiago e João apar -
te. Sua alma estava "cheia de tristeza até à morte".
Ele disse: "Ficai aqui e velai comigo".
Não como eu quero mas como tu queres — Afastando-
se um pouco deles, orou. Os apóstolos puderam vê-lo e
talvez ouvi-lo, ao dizer: "Meu Pai, se é possi-vel, passe
de mini este cálice; porém, não como eu que-ro, mas
como tu queres". (Mateus 26).
Ao voltar, encontrou os três dormindo e disse "Si -
mão (chama-o Simão novamente) dormes? Não podes
vigiar uma hora?"
_ 55 _
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação",
o Espírito na verdade, está pronto, mas a carne é fra-
ca".
A sonolência de Pedro e de seus irmãos — Afastou-se
novamente; novamente voltou e novamente en -
controu-os dormindo, "porque os seus olhos estavam
pesados e não sabiam que responder-lhe".
Ao voltar pela terceira vez, disse com bondade
"Dormi agora e descançai. Basta; é chegada a hora.
Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos
dos pecadores".
Após um sono um pouco mais longo, os três fo ram
despertados por Jesus, apenas para ver aproxi mando-
se "uma grande multidão com espadas e va rapaus, da
parte dos principais dos sacerdotes e dos escribas e
dos anciãos"; à frente estava Judas que se aproximou
do Senhor e traiu-o com um beijo.
Pedro defende seu Senhor — Ao aproximarem-se os
soldados para lançarem suas mãos sobre Jesus, Pe dro
que agora estava completamente acordado, saltou
para libertar seu Mestre e, tomando "a espada,
desem bainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote e
cortou-lhe a orelha direita".
Este servo, cuja orelha direita Pedro cortou, com
um só golpe chamava-se Malco.
Uma lição — "Mete a sua espada na bainha',' or -
denou o Salvador, "não beberei eu o cálice que o Pai
me deu?" Que lição para Pedro! Apesar do dever o ter
conduzido ao sofrimento e à morte, mesmo assim o
Senhor não fraquejava em sua força.
Então disse Jesus: "Deixai-os; basta. E, tocando-
lhe a orelha, o curou". (Lucas, 22:52).
Ao levarem os oficiais a Jesus, os discípulos dei -
xando-os, fugiram.
Pedro segue Jesus — A força de Pedro e sua leal -
dade oscilavam; mas ele não podia fugir com os ou-

— 56 —
tros. Nem podia ele concluir que seria melhor ir com
Jesus. Assim, ele não fez nem um e nem outro, mas "o
seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote".
A princípio, ele permaneceu no exterior, mas mais
tarde aventurouse no palácio, onde estavam os cria dos.

A FRAQUEZA TRAZ SOFRIMENTO

Enquanto Pedro estava sentado ao pé do fogo.


aquecendo-se, entrou uma criada e, reconhecendo-o
como um dos que tinham estado com Jesus disse: "Tu
também estavas com Jesus da Galiléia".
Num momento de fraqueza — "Não sei o que di zes"
disse Pedro diante de todos.
Saiu então para fora, talvez para esfriar sua
cons ciência que queimava ou para resolver o que
seria melhor fazer.
Uni homem, vendo-o lá, gritou: "Este também es -
tava com Jesus de Nazaré".
"Não conheço tal homem" disse Simão; e neste
momento fez um juramento.
Um dos servos do sumo sacerdote, que era paren -
te de Malco, aproximou-se de Pedro um pouco mais
tarde e disse: "Não te vi eu no horto com ele?" (João
18:26).
Então ele começou a praguejar e jurar dizendo:
"Homem não sei o que dizes". Neste momento, Pedro
ouviu o galo cantar.
Dor — Quase imediatamente também, o Salvador
passando por ele, voltou-se e olhou para Pedro.
Então, lemlbrando-se das palavras do Seu Senhor,
"Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes",
Pedro saiu e chorou amargamente.

— 57 —
LIÇÃO 10 DA
ESCURIDÃO PARA A LUZ
"A força nasce do profundo silêncio e dos
corações sofredores e não da alegria".
—x. x. x. x—
Força oriunda da fraqueza — Diz-se que quando
Pedro se afastou, sem fala, da face de todos e, cheio de
silêncio, chorou amargamente, sua dor era tão gran de
que ele permaneceu sozinho durante a Sexta-feira e o
Sábado, após a crucificação do Salvador. Se assim foi,
sua dor pelo que havia feito, tornou-se muito mais
profunda ao lembrar-sc das muitas palavras bondosas
que o Salvador lhe havia dito e dos muitos e muitos
momentos fcli/es que ele havia passado em companhia
do Salvador, dada palavra, alo e olhar associados com
seu Mestre surdia c-in sua mrnlc com uni novo signifi -
cado. Talvez pela primeira vê/ em sua vida compreen -
dia porque o Senhor linha querido que sua natureza
e fé fossem como uma "pedra". Através de amargas
lágrimas, ele viu todos os verdadeiros atributos da hu -
manidade, personificados em .k sus. Reverência, Fra -
ternidade, Paciência, Sinceridade, Coragem. Estas
e muitas outras qualidades nobres faziam Jesus parecer
a ele grandioso e, mais claramente compreendia sua
pequenez e miséria. Esta última manifestação de sua
fraqueza, que o levou a negar o seu Senhor, fez com que
ele se visse a si mesmo sob nova luz, e isto teve um efeito
decisivo sobre ele. Do profundo silêncio de

— 58 —
seu sofrimento, naqueles dois dias, nasceu aquela for-
ça que Cristo lhe tentava dar desde que o chamara
"Pedro".
Uma triste reunião — Deve ter sido uma triste reu -
nião quando João e Pedro reuniram-se pela
primeira vez após a crucificação. Quando foi, ou
onde, não nos é dito; mas estamos certos de que João
deve ter reco nhecido uma grande mudança em seus
companheiros apóstolos. Do olhar macilento e das
profundas linhas de dor, deve ter brilhado uma
humildade que João ja mais havia visto antes na face
de 'Pedro. Podemos so mente imaginar quais eram
os sentimentos de Pedro ao ouvir João contar tudo o
que havia acontecido ante Herodes e Pilatos e na
Cruz. Misturando-se com a dor de Pedro estava o
profundo desapontamento de saber que o Messias,
seu Rei, não ia libertar os judeus e go verná-los como
ele havia esperado. Em dúvida sobre o que fazer,
eles provavelmente decidiram visitar o lu gar onde seu
Mestre havia sido posto e então voltar à sua antiga
profissão de pescadores.
No Sepulcro — Mas havia uma cujo amor e devo -
ção a conduziram ao túmulo mesmo antes dos após -
tolos. Maria Madalena, quando ainda estava escuro,
aproximou-se do lugar onde pensava que Jesus
dormia na morte. Mas em vez de ver o corpo de seu
Senhor no sepulcro frio e escuro, ao redor do qual
nada mais ha via além de tristeza e dor, ela
encontrou um túmulo vazio. Alarmada, correu a
Pedro e João e, sem fôlego, gritou: "Levaram o
Senhor do sepulcro". "Então Pe dro saiu com o
outro discípulo e foram ao sepulcro". A princípio
eles correram juntos, mas Pedro, já can sado do
sofrimento, logo se distanciou do Apóstolo João que
era mais jovem, e que alcançou o local pri meiro. "E
abaixando-se, viu postos os lençóis; todavia não
entrou".

—59 —
Olhar para dentro, contudo, não satisfez Pedro;
pois assim que chegou, "entrou no sepulcro". João o
seguiu. Notaram que o lenço que tinha sido posto so bre
a cabeça de Jesus não estava com os lençóis enro lado
num lugar à parte; os lençóis de linho também,
estavam bom dobrados c colocados ao lado, com cui -
dado, files concluíram que ladrões não teriam feito
isto o assim desfizeram a teoria de Maria pela qual o
corpo do Senhor havia sido roubado. Mas, "ainda não
sabiam a Escritura: que era necessário que ressuscitas -
se dos mortos".
Maria vê o Redentor Ressuscitado — Perplexos e
cheios de admiração, os dois discípulos "tornaram pa -
ra casa" mas Maria permaneceu perto do túmulo, e
como recompensa por sua fidelidade e devoção,
tornou-se a primeira pessoa no mundo a ver o
Redentor res suscitado.
Pedro vê seu Senhor — Outras mulheres que ti -
nham vindo ao túmulo naquela manhã para render,
como pensavam, o último serviço ao Senhor, também
puderam vê-lo. Mais tarde, no mesmo dia, Ele deve ter
aparecido a Pedro; mas onde, ou sob quais circuns -
tâncias, ou o que foi dito, não sabemos. Podemos ter
certeza, contudo, que a alma arrependida de Pedro en -
cheu-se de eterna alegria ao receber o perdão divino
de Seu Senhor.
Os discípulos de Emaús — Naquela noite, ao se
reunirem os Onze no cenáculo, discutindo os aconte -
cimentos do dia e particularmente a aparição do Se -
nhor a Pedro, entraram dois discípulos de Emaús. Lo -
go ao entrarem na presença dos Onze, ouviram a ma -
ravilhosa mensagem "Ressuscitou verdadeiramente o
Senhor e já apareceu a Simão". Eles podiam crer pron -
tamente nisto pois contaram que quando voltaram de
Jerusalém, naquele dia, tendo ouvido dos anjos e do

— 60 —
sepulcro vazio, Jesus em pessoa aproximou-se e foi com
eles.
Jesus apareceu aos onze — Enquanto estavam assim
reunidos, Jesus apareceu a eles novamente e disse-lhes:
Paz seja convosco". Cenas como estas não podem ser
descritas e os evangelistas que nos contam a res peito
dela simplesmente mencionam o fato e nos dei xam
imaginar o que eles pensaram e sentiram naquela
gloriosa ocasião.

O PESCADOR SE TORNA PASTOR

No Mar de Tiberíades — Viários dias depois disto


Pedro e seis outros discípulos estavam de volta ao mar
de Tiberíades, pescando. Estavam na Galiléia, evi -
dentemente esperando encontrar o Senhor lá como Ele
havia prometido. Uma noite, como se já estivesse qua -
se desesperado de esperar disse ele aos outros:
— "Vou pescar".
— "Também nós vamos contigo" disseram eles.
Entraram num barco imediatamente e baixaram
suas redes. Trabalharam a noite toda e nada pesca -
ram, da mesma forma como havia acontecido numa
noite memorável alguns meses atrtás.
Ao levantar-se a manhã, viram um homem de pé
na praia, porém, à distância, não puderam reconhe cê-
lo. De repente o homem gritou:
Muitos peixes são apanhados — "Filhos, tendes al -
guma coisa de comer?"
— "Não", foi a resposta.
"Lançai a rede para a banda direita do barco e
achareis, disse o homem.
Assim fizeram e apanharam tantos peixes que
mal podiam retirar a rede.

— 61 —
João cujos olhos cheios de amor foram feitos mais
agudos por um coração cheio de amor, correu ao lado
de Pedro e murmurou: — "É o Senhor".
No mesmo momento, Pedro sabia que João havia
falado a verdade e, homem de ação que era, colocou
seu paletó de pescador, mergulhou no mar e correu aos
pés do seu Mestre. Os outros vieram no pequeno
barco, arrastando uma rede de peixes.
Jesus já havia começado a acender fogo, e estava
cosinhando algo para comer. Após as saudações, Ele
disse: "Trazei dos peixes que agora apanhastes".
Pedro foi à rede fez com que fosse puxada para a
terra. Enquanto os peixes estavam cosinhando, os dis -
cípulos contaram o número apanhado e verificaram
que duma vez haviam cento e cincoenta e três e, "sen -
do tantos, não se rompeu a rede".
Pedro, um Pastor do rebanho de Cristo — Jesus havia
lhes mostrado onde apanhar os peixes, havia acendido
o fogo sobre o qual cozinhá-los e agora "to mou o pão c
deu-lhes e, semelhantemente, o peixe". Certamente
estes pequenos incjidentes serviam para salientar a eles
a verdade de que se eles 'buscassem pri meiramente o
Heino de Deus o a sua justiça tudo o mais lhes seria
acrescentado. De qualquer modo, esta foi a lição
ensinada na grande ocasião: Os apóstolos não
deveriam agora passar suas vidas buscando as coi sas
que perecem, mas procurando almas que durariam
através de toda a eternidade. Muitos estariam então
reunidos no redil de Crislo, e o pastor foi dele afasta -
do. Daquele momento em diante Pedro e seus compa -
nheiros deveriam ser os guardadores deste rebanho.
Quando eles quebraram seu jejum, Jesus disse a
Simão Pedro, "Simão, filho de Jonas, amas-me mais
do que estes?"
— "Sim, Senhor; tu sabes que te amo", respondeu
Pedro.

— 62 —
— "Apascenta os meus cordeiros". Isto é, lomr ton -
ta dos pequeninos da minha Igreja. Não deixe que se
afastem por veredas que os levarão ao pecado e ú mi -
séria.
Disse-lhe ele novamente, pela segunda vez:
— "Simão, filho de Jonas, amas-me?"
— "Sim, Senhor: Tu sabes que te amo".
— "Apascenta as minhas ovelhas". Mantenha os
mais velhos juntos e dê-lhes as palavras de vida como
as tens recebido de mini.
Unxa terceira vez. Jesus disse:
— "Simão, filho de Jonas, amas-me?" E Pedro,
entristecido, respondeu: — "Senhor, tu sabes tudo;
tu sabes que te amo".
— "Apascenta as minhas ovelhas".
O Dever Primeiro — Então o Salvador admoestou
Pedro a não seguir sempre as suas próprias
inclinações e a sua natureza impulsiva, mas sempre
fazer o seu dever como Pastor do Rebanho. Quando
Pedro era jo vem, e não possuia o conhecimento e
responsabilida de de agora, podia ir pescar, ganhar
dinheiro, ou estu dar, ou fazer qualquer outra coisa
que queria, mas ago ra precisava realizar seus deveres
no Reino de Deus, não importando o que pudesse
suceder ia ele pessoal mente ao fazer isto. Apesar dos
deveres de Pedro o le varem à cruz, o Salvador disse:
— "Siga-me".
Enquanto esta conversação se desenvolvia, Jesus e
Pedro estavam conversando a sós um pouco adiante
dos outros.
— Senhor, disse Pedro, o que seria de João?
— "Se eu quizer que ele fique até que eu venha,
que te importa a ti? Segue-me tu". Era o mesmo que
dizer. Limite-se aos seus deveres, Pedro, ensine os ou -
tros a fazerem o mesmo e tudo estará bem.

— 63 —
Esta é a última palavra registrada de Cristo a
Pedro, mas ele estava presente, naturalmente,
quando o Sal vador deu suas últimas instruções aos
Doze (Veja Mar cos 16:16).
Deste tempo em diante, o zelo de Pedro no traba -
lho do seu Ministério foi constante e sua ousadia insu-
perada.

— 64 —
LIÇÃO 11 UM VERDADEIRO
LÍDER E VALOROSO DEFENSOR
"A recompensa de alguém pelo cumpri -
mento do seu dever é a capacidade de po der
cumprir outros deveres". —x. x. x. x—

Com o conhecimento de que Jesus Cristo era seu


Salvador, que ele era mais feliz quando ele, Pedro, fa zia
o que o Senhor queria que ele fizesse, e que quando ele
agia errado ou cedia à tentação do mal, ele era in feliz,
Pedro iniciou sua grande missão como principal
apóstolo e presidente dos Doze.
Em Jerusalém — De acordo com a ordem do Sal -
vador, pela qual eles não deviam sair de Jerusalém, até
que tivessem recebido o Espírito Santo, Pedro, por
algum tempo após a ascenção do Senhor, estabeleceu-se
na Cidade Santa. Aqui, ele, Tiago e João e outros dos
Onze, frequentemente reuniam-se num cenáculo, tal vez
no mesmo em que Jesus havia comido a páscoa com
Seus discípulos. Com eles estava Maria, a Mãe de Jesus
e algumas outras mulheres.
UM APÓSTOLO ESCOLHIDO
Numa dessas ocasiões, estavam presentes cento e
vinte pessoas. "Todas perseverando unanimemente em
oração e súplicas". Pedro se levantou em seu meio e
disse que era necessário escolher um homem que ti-
vesse sido fiel em seguir o Salvador, para tomar o lu-

— 65 —
gar do traidor, Judas, no Quorum dos Doze Apóstolos.
Dois nomes foram sugeridos: José, chamado Barsabás
e Matias. Sabendo que o Senhor é que deveria escolher
os homens que deveriam ser suas testemunhas espe -
ciais, eles oraram, dizendo: "Tu, Senhor, conhecedor
dos corações de todos mostra qual destes dois tens es -
colhido". Então lançaram sortes e caiu a sorte sobre
Matias; e "foi contado com os onze apóstolos".

O DIA DE PENTECOSTES

O Espirito Santo — Antes das nove horas da ma -


nhã, dez dias após a ascenção do Salvador e cincoenta
dias após a Páscoa associada com a crucificação, os
Apóstolos realizaram uma reunião memorável. Estan -
do "reunidos num mesmo lugar" de repente veio
um .so;ii dos céus" como de um vento veemente e
encheu toda a casa em que estavam assentados".
Assim veio o batismo pelo fogo e o Espírito Santo,
como Cristo ha via prometido. O Confortador sobre o
qual seu Mestre havia tantus vezes falado, tinha
finalmente vindo a eles, para guiá-los e inspirá-los
como Jesus havia fei to em pessoa.
O Dom de Línguas — Imediatamente uma maravi -
lhosa manifestação teve lugar. — Apesar de quase
todos os apóstolos serem Galileus e falarem a mesma
lingua, quando passaram a dar o seu testemunho de
Cristo e de seu Evangelho, "começaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem".
Logo se ouviu em toda a cidade que algo de notá -
vel havia acontecido e o povo, em grande número, reu -
niu-se ao redor dos apóstolos. Na multidão encontra -
vam-se judeus de muitas nações que tinham vindo a
Jerusalém para celebrar o dia de Pentecostes. Estes
falavam as linguas dos países de onde tinham vindo.

— 66 —
lutlflinem o seu espanto quando ouviram o evangelho
pregado em sua própria língua!
— "Pois que não são galileus todos estes homens
(|iic estuo falando?" perguntaram. — "Sim",, foi a
resposta.
— "Como pois os ouvimos, cada um, na nossa pró-
priti lingua em que somos nascidos?"
Ao contarem os apóstolos, um após outro, da sal -
vação dos homens através do evangelho de Jesus
Cristo, algumas das pessoas se admiraram, outras se
diverti ram, mas todos estavam perplexos.
— "Que quer isto dizer?" perguntaram alguns.
— "Estão cheios de mosto (isto é: bêbados)".
O discurso de Pedro — Então Pedro se levantou e,
com grande poder, dirigiu-se à multidão. "Varões ju -
deus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto
notório e escutai as minhas palavras. Estes homens
não estão embriagados como vós pensais, sendo a
terceira hora do dia.
Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: (Leia
tudo o que foi dito, como se acha registrado em Atos
2:14-37).
Sem dúvida, somente uma pequena parte de discur -
so de Pedro nos é dada, mas ao lermos suas palavras
inspiradas, e ao partilharmos do destemor com o
qual disse aos judeus que eles haviam crucificado o
Cristo, lornamo-nos prontamente convencidos que a
fraqueza que ele manifestou cerca de um mês e meio
antes, foi .substituída pela força de um homem de
Deus. Naque la ocasião ele havia gaguejado e dito:
"Não o conhe ço", mas agora, ele declarava: "Deus
ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos
testemunhas".
Seu destemor — Com toda a coragem de sua con -
vicção, e como o poder do Espirito Santo, ele acrescen -
tou: "Sabia pois com certeza toda a casa d'Israel
que
— 67 —
a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Se nhor
e Cristo".
Ao ouvirem da iniquidade da crucificação de Cristo e
de muitos outros pecados, desejaram obter perdão pelo
que haviam feito, e gritaram a Pedro e aos outros
apóstolos:
— "Que faremos, varões irmãos?"
Na resposta de Pedro, vemos a porta aberta atra vés
da qual todos precisam passar para serem salvos no
Reino de Deus:
"Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados: e
recebereis o dom do Espírito Santo".
Então aqueles que acreditaram no que Pedro ha via
dito, foram batizados; e o pequeno grupo de cento e
vinte pessoas cresceu para três mil cento e vinte. E todos
os dias, dali em diante, muitos outros foram con vertidos e
juntaram-se à Igreja.

O HOMEM QUE NÃO ANDAVA

O local de reuniões gerais - Cerca de três horas certa


tarde, Pedro e João iam ao Templo para orar. Ali iam
Iodos os dias para reunirem-se com os santos e então
visitar as casas, "partindo o pão". Assim sendo, o Templo
parece ter sido o local de reuniões gerais dos primeiros
seguidores do Redentor. Era a Sua casa, e lá eles gostavam
de se reunir para adoração. A en trada principal do templo
era por intermédio do "Al pendre de Salomão", através dum
portão que era cha mado "O Belo Portão". Ali se reuniam
todas as pessoas pobres, os cegos, aleijados, fracos e
doentes — que vi viam pedindo esmolas dos que vinham ao
Templo.
Um Apelo — Certa tarde, um desses fez, um pie doso
apelo a Pedro e João. Era um homem de qua renta anos de
idade, mas jamais tinha dado um passo

— 68 —
em sua vida. Os amigos o carregavam lá pela numlul 6 o
levavam de volta à noite. Em resposta ao sen pedido de
dinheiro, Pedro disse: — "Olha para nós".
A Resposta. — Enquanto o homem tentava adivi -
nhar quanto dinheiro os apóstolos lhe dariam, Pedro
acrescentou: — "Não tenho prata nem ouro, mas o que
tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Naza reno,
levanta-se e anda".
Tomando-o pela mão direita, Pedro levantou-o, e
imediatamente os ossos de seus pés e tornozelos rece -
beram energia.
O homem ficou tão contente que entrou no tempo
saltando e louvando a Deus pelo grande milagre que
tinha vindo à sua vida.
Novamente o povo ficou "cheio de pasmo e assom -
bro" e reuniram-se em grande número no alpendre de
Salomão ,olhando para Pedro e João e tentando adivi nhar
que espécie de homens eram.
Outro impressionunte discurso. — Aqui Pedro fez outro
grande discurso no qual ele disse que este homem havia
sido curado através da fé no nome de Jesus Cristo, a quem
Deus glorificou e a "quem vós entregastes e, perante a face
de Pilatos negastes, tendo este determi nado que fosse solto.
Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos
desse um homem homicida. E matastes o Prín cipe da vida
ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos
testemunhas. (Atos 3:12-26).

— 69 —
LIÇÃO 12 PEDRO E
JOÃO APRISIONADOS
"Pois nenhum bem é feito, ou dito, ou ima -
ginado pelo homem, sem o auxílio de
Deus... portanto nenhum mal é feito, ou
dito, ou imaginado, sem o auxílio do
Demónio".

—x.x.x.x—

Pedro é interrogado. — Quando Pedro ainda esta va


pregando aos milhares que se achavam no "alpen dre
de Salomão", viu aproximar-se do castelo perto do
Templo, o capitão da guarda e seus comandados.
Os sacerdotes judeus tinham ficado enciumados e
desconfiados dos apóstolos e olhavam com alarme para
os milhares que se juntavam à Igreja. Assim decidi ram
chamar seus soldados, dispersar a multidão e pren der
Pedro e João como homens responsáveis por toda
aquela agitação. Contudo, cerca de cinco mil pessoas
foram convertidas naquela tarde.
Aprisionados. — Assim os soldados "lançaram mão
deles e os encerraram na prisão pois era já tarde" e,
portanto não dava mais tempo de levá-los a julgamen -
to. Apesar de terem sido encerrados em celas fecha das,
seus espíritos estavam livres e suas consciências limpas.
Podiam dormir mais socegadamente do que o
sacerdote que havia sido responsável pela sua prisão.
Perante o Sinédrio. — Pela manhã os prisioneiros
foram levadas ao Sinédrio, onde se assentava Anãs, o

— 70 —
NIIIIKI Hiiccrdote e Caifás, e João c Alexandre, c parcn li
••, i In Mimo-sacerdote. Estes homens haviam condena do
JCMIS , talvez naquela sala, e haviam determinado que
a pregação em nome de Jesus de Nazaré deveria
terminar.
Outros estavam presentes naquela manhã, e entre
t'11 es, verdadeiros amigos dos apóstolos. Um deles era
o aleijado que havia sido curado.
Curiosidade e Espanto. — Como ele havia sido a
causa inocente da reunião da multidão na noite ante -
rior, todos pareciam estar ainda mais interessados
nele do que nos prisioneiros. Ele havia sido carregado,
sabiam todos, somente há vinte e quatro horas atrás
para o portão do templo e agora estava andando
firmemente através da multidão para aproximar-se
dos apóstolos.
"Com que poder ou em nome de quem fizestes
isto?" perguntou um dos Juizes.
Então Pedro cheio do Espírito Santo lhe disse: —
"Principais do povo, e vós, anciãos d'Israel.
Visto que hoje somos interrogados acerca do bene -
fício feito a um homem enfermo, e do modo como foi
curado".
Pedro testifica de Cristo — "Seja conhecido de vós
todos, e de todo o povo dlsrael, que em nome de Jesus
Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a
quem Deus ressuscitou dos mortos em nome desse é
que este está são diante de vós".
Como aqueles homens pecadores devem ter fra -
quejado ao ver a dignididade de Pedro, sentir sua sin -
ceridade e ouvir as agudas palavras que penetravam
suas almas culpadas!
Disse-lhes mais que não poderiam obter salvação a
menos que também eles tomassem sobre si mesmos o
nome de Cristo: "porque também debaixo do céu ne
nhum outro nome há, dado entre os homens, pelo q mi
l devemos ser salvos".

— 71 —
O que poderiam dizer os sacerdotes? O que pode -
riam fazer? Nada.
Os Inimigos ficam confusos. — Lá estava um ho -
mem curado e são, que havia estado inutilizado por
quarenta anos!
Lá estava Pedro, ousadamente proclamando que o
milagre fora operado em nome de Jesus de Nazaré, a
quem haviam condenado à morte.
Eles consideravam Pedro como sem instrução, mas
ele os havia aturdido a todos.
Conselho. — Após mandar que os prisioneiros fos -
sem levados para outra sala, disseram entre eles: "Que
havemos de fazer a estes homens porque a todos que
habitam em Jerusalém é manifesto que por eles foi fei -
to um sinal notório, e não o podemos negar".
Assim, para que a doutrina que os apóstolos esta -
vam pregando não se esparramasse mais, eles combi -
naram de ameaçar Pedro e João e mandar que eles
não falassem "nesse nome" a homem algum.
Chamando os prisioneiros novamente à sua pre -
sença, disseram-lhes que "absolutamente não
falassem, nem ensinassem no nome de Jesus".
Disseram os Apóstolos: "Julgais vós se é justo di -
ante de Deus, ouvirmos antes a vós do que a Deus?"
É melhor obedecer a Deus que aos homens". —
"Porque não podemos deixar de falar do que temos vis -
to e ouvido".
Sem dúvida estes sacerdotes teriam punido os após -
tolos naquele momento se não tivessem medo do povo,
"porque todos glorificavam a Deus pelo que acon -
tecera" .
Quando foram postos em liberdade, (Pedro e João
foram "para os seus" e contaram aos seus amigos
tudo o que havia acontecido. Quando ouviram estas
coisas, os santos uniram-se em oração de graças a Deus
por to das as Suas bênçãos. (Atos 4:23-31).

— 72 —
Nesta reunião verificou-sc nova e poderosa
manifestação do Espírito Santo "e anunciavam com
ousadia a palavra de Deus".

PERIGO DENTRO DO REDIL


Infiéis. — Estes líderes tinham que lutar não so -
mente com os inimigos fora da Igreja, mas com o povo
contencioso e desonesto que havia penetrado no redil.
Havia homens e mulheres que não haviam se arrepen -
dido de seus pecados antes de serem batizados; portan to
não haviam recebido o Espírito Santo.
Dois destes eram Ananias e sua esposa Safira.
Todos que se filiavam à Igreja tinham tudo em
comum. Aqueles que tinham terras e outras proprie -
dades, vendiam-nas e traziam o dinheiro aos Apósto -
los . Não havia ricos e nem pobres — todos tinham tudo
que os outros tinham e o que um possuía pertencia a
todos.
Dois enganadores. — Aranias e Safira venderam
uma propriedade mas trouxeram somente parte do
dinheiro e disseram que era tudo. Assim eles disseram
uma mentira, e, mostraram pertencer à pior classe do
mundo.
A mentira é descoberta. — Através da inspiração do
Espírito Santo, Pedro descobriu a mentira e disse a
Ananias: "...porque encheu Satanás o teu coração
para que mentisses ao Espírito Santo, o retivesses par -
te do preço da herdade?"
A severa punição. — "Porque formaste este desíg -
nio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a
Deus".
"E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e
expirou".
Cerca de três horas mais tarde, sua esposa entrou
e contou a mesma história que seu marido. Ela, lam-

— 73 —

bem, recebeu a divina repreensão e pagou a penalida -


de de seu pecado, pela morte.
Depois disto, ninguém ousava enganar os apóstolos
ao fazer suas contribuições à Igreja.
Esta é uma boa lição para todos guardarmos em
mente hoje em dia, especialmente quando pagarmos
dizimos ao Senhor.

— 74 —

LIÇÃO 13
PERSEGUIDOS MAS INCANSÁVEIS
"Eu não amaldiçoarei Senhor, pois ouvi
dizer que uma maldição é como uma pedra
atirada para os céus e cai sobre a ca beça
de quem atirou".
—x. x. x. x—
l

A sinceridade com que Pedro e os outros Apóstolos


pregavam o Evangelho de Jesus Cristo tinha um ma -
ravilhoso efeito sobre as multidões que os ouviam. No
alpendre de Salomão, dia após dia, homens e mulhe -
res ouviam os Doze testificarem que o Redentor do
Mundo tinha vindo de fato.
Doentes são curados. — Estes testemunhos eram
corroborados também, por maravilhosas
manifestações, pois "muitos sinais e prodígios eram
feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos". Tão
grande era a fé no po der de Deus que "transportavam
os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em
macas para que ao menos a sombra de Pedro,
quando estes passasse co brisse alguns deles".
As pessoas doentes de Jerusalém não eram as úni -
cas abençoadas; pessoas das cidadezinhas perto de Je -
rusalém que estavam doentes e afligidas por espíritos
maus, apelavam aos apóstolos, e pelo poder de Deus,
eram curadas.
Regozijo e união. — Deve ter sido para Pedro e seus
companheiros apóstolos um motivo de alegria ver

— 75 —
o interesse e a fé de tantos milhares, na mensagem de
Cristo. Que alegria, também, nos corações de todos
aqueles inválidos que, curados, pulavam de suas camas
e também louvavam o Redentor! Como os Doze devem
ter se amado mutuamente e as batidas de seus cora -
ções devem ter sido como uma, pois, dia a dia, eles le -
vavam seu testemunho da morte e ressurreição de seu
Senhor e recebiam certeza divina de que Ele ainda esta -
va se manifestando a eles através do Espírito Santo!
Como este Espírito permeava aqueles que se
juntavam à Igreja, não é de se admirar que a
multidão dos que acreditavam tivessem um só
coração e uma só alma!
Ódio. — Mas haviam alguns homens em Jerusa -
lém que tinham muitos ciúmes dos Apóstolos, e cujos
corações estavam cheios, não de alegria, mas de inve -
ja. Esses homens tinham sido os líderes na crucifica -
ção de Jesus. Diz-se que: "Logo que se levanta um
templo a Deus, o demónio levanta uma capela ao la -
do". Assim, enquanto o Senhor derramava o espírito
de amor sobre aqueles que se ligavam à Igreja, o de -
mónio derramava ódio no coração dos que eram
maus e não queriam se arrepender.
Pedro é aprisionado. — Assim, "levantando-se o
sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, enche -
ram-se de inveja, e lançaram mãos dos apóstodos e os
puzeram na prisão pública". Estes governadores igno -
rantes e cheios de preconceitos estavam determinados
a fazer com que os Doze cessassem de pregar Crist*
porque se o que os Doze diziam fosse verdade, estes
magistrados seriam culpados da morte do Rei dos Ju -
deus. Mas o homem fraco e pusilânime não pode inter -
romper o trabalho do Senhor.
Uma libertação milagrosa. — Durante a noite, en -
quanto os prisioneiros estavam reunidos na prisão —
talvez cantando e orando — um anjo do Senhor lhes

— 76 —
apareceu. Abriu as portas da prisão, trouxe-os para
fora e disse:
"Ide, e apresentai-vos no templo e dizei ao povo
todas as palavras desta vida".
A respeito desta ordem, George L. Weed escreve:
"Ide" — apesar das ameaças e comando, ferrolhos e
barras e guardas da prisão. Em nome Dele que lhes
ordenou "Ide e pregai meu Evangelho", "apresentai-
vos no templo" — exatamente o mesmo lugar de onde
haviam sido expulsos — "dizei ao povo" todos os que
ouvirem, pois seu Mestre que é também o meu, é o Sal -
vador de todos eles. Dizei todas as palavras desta vi da
— "a prometida vida futura da qual a ressurreição de
Jesus é a primeira realização".
Obedientes à ordem do anjo, os Doze entraram no
tempo bem cedinho e ensinavam. Como sua mensa -
gem deve ter emocionado os ansiosos ouvintes que ha -
viam se reunião tão cedo para ouvir a palavra de
Deus!
Os judeus ficam perplexos. — Na mesma hora da
manhã um outro grupo se reuniu. O surno sacerdote
chamou seu conselho e "todos os anciãos dos filhos de
Israel". Quando o conselho estava reunido, o sumo
sacerdote mandou buscar Pedro e seus irmãos na pri -
são. Logo os oficiais voltaram dizendo:
"Achamos realmente o cárcere fechado, com toda
segurança e os guardas que estavam fora, diante das
portas; mas quando abrimos, ninguém achamos
dentro".
Perplexos por este inesperado acontecimento, o su -
mo sacerdote e o conselho pareciam ser incapazes de
decidir exatamente o que fazer. Enquanto ainda bus -
cavam uma explicação satisfatória ou decidiam qual o
próximo passo a dar, entraram alguns dizendo:
"Eis que homens que encerrastes na prisão, estão
no Templo e ensinam ao povo".
Ao ouvir isto o capitão do templo com seus oficiais
foram buscar os Apóstolos para colocá-los ante o con-

— 77 —
selho. Então os oficiais trouxeram-nos sem violência,
isto é sem feri-los e sem brutalidade, "porque temiam
ser apedrejados pelo povo".
Perante o conselho. — Assim que os Doze apare -
ceram, o sumo sacerdote perguntou: "Não vos admoes -
tamos nós expressamente que não ensinásseis nesse no -
me? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa dou -
trina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse ho -
mem".
Seu coração cheio de preconceito o induzia a fa lar
de Jesus sem nem siquer mencionar o seu nome. Mas
mesmo em sua rudeza, ele nos dá um grande tes -
temunho do sucesso da pregação dos Apóstolos. "En -
chestes Jerusalém dessa vossa doutrina" disse ele, "e
quereis lançar sobre nós o sangue desse homem". Te -
ria o sumo sacerdote se esquecido então que os Judeus
gritaram no julgamento de Jesus "O seu sangue caia
sobre nós e sobre nossos filhos?" Se assim era, devem
ter se sentido temerosos de que se cumprisse a impre -
cação.
Então disse Pedro e os outros apóstolos:
"Mais importa obedecer a Deus que aos homens".
Mostrando tanta ansiedade quanto o sumo sacerdote
havia manifestado relutância ao nome de Jesus, Pedro
acrescentou:
Um discurso ousado — "O Deus de nossos pais res -
suscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o
no madeiro. Deus com a sua dextra o elevou a Prínci pe
e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e
remissão dos pecados. E nós somos testemunhas acer -
ca destas palavras, nós e também o Espírito Santo".
Esse ousado discurso foi como uma agulhada no
coração dos juizes iníquos. Enfureceu-os tanto que eles
falaram em matar os Doze, da mesma forma como
haviam matado o Salvador.

— 78 —
A Defesa 'de GamtílieJ,. — Mas havia x hábil ad-
vogado entre eles, que tinha justiça em seu coração.
Seu nome era Gamaliel. Levantou-se entre eles e disse
que levassem os Apóstolos para fora por um pouco de
tempo.
Quando isto foi feito, ele continuou: "Varões israelitas,
acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes
homens, porque antes destes dias levantou-se Teudas,
dizendo ser alguém, a este se ajuntou o número de uns
quatrocentos homens, o qual foi morto e todos os que
lhe deram ouvidos foram dis persos e reduzidos a
nada; e depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos
dias do alistamento e todos os que lhe deram ouvidos
foram dispersos". Agora vos digo: deixai estes
homens; porque se esta obra é dos homens, perecerá;
mas se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que
não aconteça porventura, serdes achados com batendo
contra Deus". (Atos 5:33-39).
Espancados e libertos. — Prevaleceu a influência
de Gamaliel; e a vida dos apóstolos foi poupada; mas
não foram soltos antes de serem espancados e ordena -
dos a não falarem no nome de Jesus. Cada um foi
amarrado pela cintura com os braços amarrados
numa coluna baixa, para que se pudessem inclinar a
fim de que as batidas os atingissem mais facilmente e
recebe ram trinta e nove chicotadas.
Ao deixarem a câmara do conselho, com suas fe -
ridas sangrando, seus corações encheram-se, não de
amargura e sofrimento, mas de alegria "regozijando-
se de terem sido julgados dignos de padecer afronta
pelo nome de Jesus".

— 79
LIÇÃO 14 UMA VISITA
ESPECIAL A SAMARIA
Diáconos. — Ao aumentar o número de membros
na Igreja, os homens foram chamados e ordenados aos
v.ários cargos no trabalho do ministério. Além dos
Apóstolos, havia Evangelistas, Pastores, Mestres, Diá -
conos, etc. Entre os primeiros a ser escolhidos e orde -
nados para um cargo determinado na Igreja, encontra -
vam-se "sete varões de boa reputação, cheios do Espi -
rito Santo e de sabedoria". Seus nomes eras Estêvão,
Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Parmenas e Nicolau.
Foram chamados diáconos e um de seus deveres era o
de observar a distribuição de alimentos entre os
pobres.
O martírio de Estêvão. — Logo após a sua indica ção,
uma perseguição amarga c cruel levantou-se con tra a
Igreja em Jerusalém, durante a qual os Santos se
esparramaram para fora, pelas regiões da Judéia e
Samaria. Estêvão, um homem cheio de fé e do Espiri to
Santo, foi apedrejado até à morte. Filipe desceu para a
cidade de Samaria e lá continuou a pregar Cris to aos
Samaritanos.
Filipe. — Parece que maior poder acompanhava o
ministério de Filipe, pois "muitos espíritos imundos
saiam de muitos que os tinham, clamarido em alta
voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. E
havia grande alegria naquela cidade". O povo ouvia a
men sagem de Filipe e se batisava na Igreja.
Autoridade Limitada. — Mas o batismo pela água
não é suficiente. Deve ser seguido pelo batismo do Es -
pirito Santo. Parece, contudo, que Filipe, apesar de ter

— 80 —
autoridade para batisar, não tinha o direito de
conferir o Espírito Santo. Ele, portanto, tinha o cargo
de sacerdote.
O Espírito Santo. — Quando a notícia de que Sá.
maria havia recebido o Evangelho chegou a Jerusalém,
"enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo desci -
do, oraram por eles para que recebessem o Espírito
Santo". Sobre as cabeças destes crentes batisados, Pe -
dro e João punham suas mãos e lhes conferiam o Espi -
rito Santo.
Pretendentes. — O Senhor não aceita na Igreja to -
dos os que são batisados. Sòmentes aqueles que since -
ramente acreditam em Jesus Cristo como o Redentor
do Mundo e que se arrependem de seus pecados e
recebem o Espírito Santo. Aqueles que são batizados
sem fé e arrependimento, são meros pretendentes.
Uma pessoa nessas condições juntou-se à Igreja da
Inglaterra há alguns anos atrás. Um dia um membro,
vendo que o jovem não tinha fé, perguntou-lhe porque
havia se juntado 'à Igreja. "Oh, só para sair da Améri -
ca", respondeu ele.
Um pouco mais tarde, em conversação, confessou
ter se afiliado à Igreja Católica uma certa vez, para
conseguir um rosário, e mais tarde juntou-se à Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, para vir a
Utá. Naturalmente, não demorou muito para que fosse
excomungado e um pouco mais larde caiu nas profun -
dezas do pecado e da miséria.
Simão, o Feiticeiro. — Na ocasião em que Filipe foi
a Samaria, havia um homem chamado Simão na ci -
dade, que era um grande pretendente. Ele clamava ser
um feiticeiro, e ganhava muito dinheiro enfeitiçando as
pessoas com as suas mandingas. Contudo, quando o
povo ouviu o verdadeiro Evangelho e viu os milagres
feitos pelo poder de Deus, perderam interesse nas feiti -
çarias de Simão e foram batisados por Filipe.

— 81 —
"E creu o próprio Simão; e sendo batisado ficou
de contínuo com Filipe; e vendo os sinais e as grandes
maravilhas que se faziam, estava atónito". Mas ele
não se converteu. Seu único propósito em reunir-se à
Igre ja era descobrir como esses milagres eram feitos,
pen sando que poderia usá-los para ganhar dinheiro.
Sua ambição. — Quando Simão viu que através
da imposição das mãos dos Apóstolos o Espirito Santo
era concedido, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo "Dai-me
também a mim esse poder, para que aquele sobre
quem eu puzer as mãos receba o Espirito Santo".
Pobre ho mem ambicioso! Sua sede de dinheiro levou-
o ao sa crifício de sua própria honra.
Simão é Repreendido. — Se ele pensou que o co -
ração de Pedro era tão avarento como o seu próprio,
logo se convenceu de que estava errado, pois o apósto -
lo indignado, olhando diretamente para a alma
sórdida deste mercenário hipócrita, respondeu:
— "O teu dinheiro seja contigo para perdição,
pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por
dinheiro.
"Tu não tens parte nem sorte nesta palavra
porque o teu coração não é relo diante de Deus".
"A aparência exterior e as pretenções hipócritas
não podiam influenciar Pedro mais do que poderiam
conseguir o favor de Deus. Somente era aceitável um
coração sincero. Vendo que o coração de Simão
estava em conseguir dinheiro, com o sacrifício de sua
honra e da contaminação da palavra de Deus, Pedro
lhe disse que se arrependesse de sua iniquidade e
que orasse a Deus por perdão, "pois", terminou ele,
"Vejo que estás em fel de amargura e em laço de
iniquidade".
Tal repreensão encheu o feiticeiro de temor e ele
pediu a Pedro que orasse a Deus "para que nada do
que disseste venha sobre mim". Pedro continuou a
pregar por algum tempo em outras cidades em
Samaria e então voltou a Jerusalém.
— 82 —
LIÇÃO 15 EM

LIDA E JOPE

A Igreja é estabelecida. — Apesar de apenas al guns


anos se terem passado desde que os apóstolos ti nham
recebido a comissão final "Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho", através de seu trabalho contí nuo e
sincero, muitas Igrejas foram estabelecidas em toda
Judéia, Galiléia e Samaria. Como era o dever dos doze
cuidar dos interesses de toda a Igreja, tornou-se
necessário que eles viajassem através de toda a terra
dos Judeus. Pedro foi de lugar em lugar, organizando,
ordenando, abençoando e pregando o Evangelho de
Cristo.
Enéias, o Paralítico. — Em uma dessas viagens, ele
visitou as cidades nas planícies de Sharon, na costa do
Mar Mediterrâneo. Uma dessas cidades era Lida, na
parte sul da planície. Enquanto estava visitando os san -
tos, "achou ali certo homem, chamado Enéias, jazendo
numa cama havia oito anos, o qual era paralítico". Esta
era uma doença que afetava os membros dos que a
sofriam, e fazia com que não pudessem andar. Este
pobre aleijado não tinha dado um só passo por oito
anos. Sem dúvida, ele ouvira que Cristo havia curado
homens tão doentes como ele próprio e também, que
Pedro, em nome de Cristo, havia ordenado ao aleijado
do portão do Templo que se levantasse e andasse. De
qualquer forma, quando Pedro o encontrou, ele pediu
a Pedro que lhe desse a mesma bênção.
"E disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te dá saú -
de; levanta-te e faze a tua cama. E logo se levantou.

— 83 —
E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona
os quais se converteram ao Senhor".
Tábua. — Não muito distante de Lida havia outra
cidade chamada Jope. Um dos motivos pêlos quais há
escritos sobre Jope é porque era a cidade de uma mu -
lher muito boa a quem todos amavam. Seu nome em
hebreu era Tabita e em grego Dorcas — Ambos estes
nomes significam "Gazela", o nome de um belo animal,
parecido com o veado. Tabita parece ter sido tão bela
como boa, e todo o seu tempo evidentemente era gasto
em dar conforto e felicidade a outros. Fazia benefício
aos pobres, dando-lhes agasalhos e roupas que ela mes -
ma fazia. Mas um dia ficou doente e todos os seus inú -
meros amigos ficaram muito preocupados. Quando
sua doença piorou e ela morreu, os seus corações
enche ram-se de tristeza. Entre os que choravam,
haviam al gumas viúvas a quem Tabita havia
confortado. Esta vam mesmo muito tristes, como toda
a Igreja em Jope. Após terem lavado cuidadosamente
o corpo, foi este le vado a um quarto a]to.
Não fizeram nenhuma cerimónia fúnebre, pois al -
guns dos discípulos ouviram dizer que Pedro estava
ern Lida, e "lhe mandaram dois varões, rogando-lhe
que não se demorasse em vir ler com eles".
Pedro consentiu em atender seu pedido e foi ime -
diatamente a Jope. "... e quando chegou, levaram-no
ao quarto alto e todas as viuvas o rodearam chorando
e mostrando as túnicas e vestidos que Dorcas fizera
quando estava com elas" e, sem dúvida, entre seus so -
luços, louvando as virtudes da irmã que partira.
Seguindo o exemplo de seu Mestre quando a pe -
quena filha de Jairo voltou à vida, Pedro pediu a
todos que estavam no quarto que saissem. Ele então
ajoe lhou-se e orou. ^ 7irando-se para o corpo, disse:
"Tabi ta, levanta-te".
— 84 —

Tabitn volta à vida. — À primeira rnanifcstiirào


devida, como nos é dito, "ela abriu os olhos". Quiil
não deve ler sido a sua surpresa ao ver o Principal
Apósto lo ao seu lado, em vez de seus amigos mais
próximos, — que troca de cumprimentos foi feita,
que expressões de gratidão, não podemos dizer; mas,
"ele, lhe dando a mão, a levantou e chamando os
santos e as viúvas, apresentou-lh'a viva".
Como um resultado deste milagre, que ficou
conhe cido em toda Jope "muitos creram no Senhor".
Pregação dòmenle aos judeus. — Até esta ocasião os
apóstolos pregavam somente aos Judeus porque, sen do
eles próprios judeus, pensavam que Jesus era o seu
Salvador mas não Salvador de outras nações, especial -
mente daquelas nações que adoravam ídolos.
Todos os que não eram judeus, eram chamados
gentios e eram considerados pêlos judeus "comuns"
ou "não limpos".
Cornélio. — Apesar do Senhor ter comandado,
"ensinai todas as nações", os apóstolos não pareciam
ter compreendido sua missão, até que Pedro recebeu
uma visão especial.
Enquanto ele estava em Jope, com um homem
chamado Simão, um curtidor, havia um oficial
romano cm Cesaréia, a trinta milhas ao norte. Seu
nome era Cor-nelius. Era o capitão de cem soldados, e
era portanto chamado um "centurião". Apesar de ser
gentio, Cor-iiélio aão adorava ídolos como fazia a
maioria dos gentios.
Um homem devoto. — Sem dúvida, ele ouviu falar
de Cristo e sabia que muitos dos Judeus O aceitavam
como seu Salvador; e imaginava porque o verdadeiro
Evangelho não podia salvá-lo da mesma forma que aos
judeus. Era um homem "piedoso e temente a Deus" e
ensinava o mesmo a todos em sua casa. Não somente
— 85 —

isto, mas vivia também uma vida direita e, o que é


melhor, ajudava os pobres.
Uma tarde estava orando em sua casa quando
um anjo lhe apareceu e disse "Cornélio".
A inesperada aparição do anjo encheu o centurião de
medo; mas ele respondeu: "Que é Senhor?"
São respondidas as suas orações. — "As tuas «'ra-
ções e as tuas esmolas têm subido para memória
diante de Deus; agora, pois, envia homens a Jope e
manda chamar a Simão, que tem por sobrenome
Pedro. Este está com um certo Simão curtidor, que
tem a sua casa junto ao mar. Ele te dirá o que deves
fazer".
Assim que o anjo se foi, Cornélio chamou dois ser -
vos e um soldado que também adoravam o Senhor, e
dizendo-lhes o que o anjo havia dito, os enviou a Jope.
Seguiram pela praia rumo ao sul, toda a noite, e che -
garam a Jope mais ou menos ao meio dia do dia se -
guinte.
Uma visão ao meio dia. — Mais ou menos na hora
em que estes mensageiros entraram na cidade, Pedro,
como era costume, foi ao terraço para orar. Enquanto
estava lá, esperando que fosse preparada a sua
refeição do meio dia, foi-lhe arrebatado o sentido e
viu o céu aberto e descendo um vaso, "como se fosse
um grande lençol, atado pelas quatro pontas e vindo
para a terra, no qual havia de todos os animais
quadrúpedes e rep tis da terra e aves do céu".
Enquanto Pedro olhava estes animais, pensando
que não eram próprios para comer, uma voz disse:
"Levanta-te, Pedro, mata e come".
"De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi
coisa alguma comum e imunda".
"Não faças tu comum", continuou a voz, "o que
Deus purificou".

— 86 —

Isto foi repetido três vezes, e então o lençol foi U 1


vado novamente para os céus.
Pedro perplexo. — Pedro estava perplexo, e sen -
tou-se tentando adivinhar o significado da visão. Con -
tudo, não ficou muito tempo em dúvida; pois
enquanto estava pensando na visão "disse-lhe o
Espirito: Eis que três varões te buscam. Levanta-te
pois e desce e vai com eles, não duvidando, porque eu
os enviei".
Aconteceu que enquanto Pedro recebia sua visão,
os três mensageiros de Cornélio bateram à porta de
Simão e foram admitidos à sua casa. Ao vê-los entrar
Pedro disse: "Sou eu a quem procurais qual é a causa
porque estais aqui?"
"Cornélio, o centurião *** foi avisado por um
santo anjo para que te chamasse à sua casa e ouvisse
as tuas palavras".
Os mensageiros permaneceram naquela noite
com Pedro, na casa de Simão; na manhã seguinte,
conduzi ram-no e a "alguns irmãos de Jope", para
Cesárea. No dia seguinte, ao chegarem em casa do
centurião, encon traram toda a sua casa, seus parentes
e amigos reuni dos para recebê-los. Ao aproximar-se
Pedro da porta, Cornélio saiu para encontrá-lo, caiu
aos seus pés e co meçou a adorá-lo. Mas Pedro
levantou-o dizendo gen tilmente :
"Levanta-te que eu também sou homem".
Ao entrarem os dois na casa, Pedro, vendo uni
grupo de pessoas presente, disse:
Pedro se mistura com gentios. — "Vós bem sabeis
que não é licito a um varão judeu ajuntar-se ou che -
gar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a
nenhum homem devo chamar comum ou imundo, ***
"Por que razão me mandastes chamar?"
Cornélio então contou tudo sobre seu jejum e
oração, a visita do anjo e as suas instruções. (Veja
Atos 10:30-34).

— 87 —

O preconceito que havia impedido que Pedro


compreendesse o significado total da ordem
"Ensinai todas as nações" começou a desaparecer
de sua alma, seus olhos começaram a ver mais
claramente a misericór dia de nosso Pai Celestial; e
ao terminar Cornélio de falar, exclamou:
"Reconheço por verdade que Deus não faz
accep-ção de pessoas. Mas que lhe é agradável
aquele que, em qualquer nação, o leme e obra o que é
justo". (Veja Atos 10:31-13).
Então, nesta primeira reunião dos gentios na
primitiva igreja, Pedro contou a história do
redentor, tes tificando da morte e ressurreição do
Salvador.
É concedido o Espírito Santo. — Como prova fi nal
o principal dos Apóstolos viu que Deus aceitaria os
gentios da mesma forma que aos judeus, em sua
Igre ja, "caiu o Espírito Santo sobre todos os que
ouviam a palavra".
Aceitando isto como uma manifestação direta
de Deus, Pedro declarou:
"Pode alguém porventura recusar a água, para
que não sejam batisados estes, que também
receberam como nós o Espirito Santo?"
— 88 —

LIÇÃO 16 O TERCEIRO
APRISIONAMENTO
"Aqueles que procuraram a Deus, jamais
o fizeram em vão".
"Não faça aquilo sobre o que não puder
orar pela benção de Deus. Um segredo que
não dirias a Deus é um segredo que
deveria ser afastado de teu próprio co -
ração".
—x. x. x. x—
Após haver completado seu trabalho em Lida, Jope
e nas cidades adjacentes, Pedro voltou a Jerusalém e
continuou em seu trabalho sincero no ministério.
f/m Rei iníquo. — Mas havia um rei iníquo que
governava a Judéia naquela ocasião, chamado Herodes
Agripa, que "estendeu as mãos sobre alguns da igreja,
para os maltratar". Era o neto de Herodes o Grande,
que, como nos lembramos, matou todas as criancinhas
em Belém em seus esforços para matar o pequeno me -
nino Jesus. Era também sobrinho de Herodes Anlipas,
o rei iníquo que mandou cortar a cabeça de João Ba-
tista. Herodes Agripa, tinha as mesmas paixões iníquos
de seu avô e de seu tio; assim, naturalmente, odiava e
desprezava os homens direitos que, ao pregar o Evan
gelho, condenavam o pecado e a iniquidade.
Pedro é joç/ado na prisão. — O primeiro apóstolo a
sofrer pela iniquidade do rei Agripa, foi Tiago, irmão
de João, a quem ele matou "à espada". Quando v i u
que Isso agradara aos judeus orgulhosos, pensou nu
— 89 —

matar mais alguns do grupo dos apóstolos. Assim,


prendeu Simão Pedro; mas, felizmente, resolveu não
matá-lo até depois da Páscoa e assim atirou-o na pri são
até uma ocasião mais favorável para a execução.
Fortemente guardado. — Para ter certeza de que
Pedro não escaparia desta vez, "entregou-o a quatro
quaternos de soldados para que o "guardassem". Isto
queria dizer quatro piquetes de quatro guardas,
dezes- seis no total. Cada grupo devia vigiar três horas
e en tão ser substituído por outro durante a vigília
noturna. Dois oficiais deveriam guardar o portão
exterior da pri são e dois deveriam estar na cela, um
em cada lado do prisioneiro com seus braços
acorrentados a ele". As sim firmemente guardado e
acorrentado, Pedro deitou-se para dormir "entre os
dois soldados, ligados com duas cadeias e os guardas
diante da porta guardavam a prisão".
A morte cruel de Tiago e a notícia da prisão de
Pedro, causou grande consternação entre os santos
na Judéia. Alguns, talvez, estivessem atemorizados;
mas todos oravam.
Reuniões Especiais de Oração. — Parece que gru pos
de santos sinceros reuniam-se em diferentes luga res, e
rogavam em sincera oração a Deus para que pou passe
a vida de seu líder. Realmente, na Igreja, ora vam a
Deus incessantemente por ele. Alguns historia dores
pensam que entre estes que assim suplicavam ao
Senhor, encontrava-se Paulo e Barnabé, que estavam
provavelmente em Jerusalém nessa ocasião.
Uma das principais reuniões foi feita em casa de
Maria, mãe de João Marcos, que muitos anos depois
escreveu o evangelho segundo S. Marcos.
Em Casa de Maria. — Enquanto os deixamos em
solene oração na noite anterior ao dia em que Pedro
seria morto, voltemos à prisão e vejamos o que está
acontecendo lá.

— 90 —

Um anjo aparece a Pedro. — Enquanto Pedro es -


tava dormindo em seu catre de palha, "eis que sobrc-
veio um anjo do Senhor, e resplandeceu uma lu/ nn
prisão". Evidentemente, os guardas estavam adorme -
cidos, e não viram ou ouviram nada porque o anjo
tocou Pedro na ilharga e o levantou, dizendo:
"Levanta- te depressa".
Ao obedecer, suas cadeias caíram de suas mãos.
Então o anjo lhe disse: "Cinge-te e ata as tuas al -
parcas".
Pedro, mal sabendo o que fazia, obedeceu. Então
o anjo continuou:
"Lança às costas a tua capa e segue-me".
Ainda pensando estar sonhando, Pedro seguiu o
anjo.
Pedro é libertado da prisão. — Deixaram os guar das
na cela, passaram a primeira guarda, e a segunda;
ninguém tentou detê-los. Quando chegaram "à porta
de ferro, que dá para a cidade", ela "se lhes abriu por
si mesma". O anjo continuou a dirigir Pedro através
de uma das ruas da cidade e deixou-o tão repentina -
mente como havia aparecido.
Nesta altura, contudo, Pedro compreendeu clara -
mente que não estava sonhando mas que estava de fato
fora da prisão. Disse consigo mesmo:
Sua vida é salva. — "Agora sei verdadeiramente
que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de
Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus esperava".
Com este último comentário ele se referia à execução
pública que Herodes havia prometido fazer realizar
naquele mesmo dia. Mas a fé e as orações foram mais
poderosas a favor de Pedro do que o decreto de reis, e
as exigências dos perversos judeus.
Pensando por alguns momentos a que lugar se di -
rigir, dirigiu-se à casa de Maria, mãe de João Marcos,

— 91 —

onde, sabemos, alguns dos santos estavam no mesmo


momento orando pela sua libertação.
Rode. — "Batendo Pedro à porta do páteo" uma
jovem chamada Rode veio atender e perguntou quem
era. Quando ela ouviu a voz de Pedro, ficou tão con -
tente que não parou para abrir o portão, mas correu
imediatamente para a sala, dizendo:
O espanto dos amigos. — Pedro está aqui; está à
p<)rta.
Assim repentinamente interrompidos em sua ora -
ção as pessoas não acreditaram em Rode e disseram
que ela estava fora de si. Rode insistiu que estava cer -
ta. Ela conhecia a voz de Pedro e sabia que ele estava
à porta. Eles finalmente concluíram que era um anjo.
Enquanto isso, Pedro continuava batendo até que
foi finalmente atendido. Parece que o pequeno grupo
não esperava que suas orações fossem atendidas de
maneira tão literal; assim "quando abriram, viram-
no e se espantaram".
Pedro levantando sua mão, e pedindo-lhes que fi -
zessem silêncio, contou como o Senhor o havia liberta -
do da prisão. Então acrescentou: "Anunciai isto a
Tiago e aos irmãos". Este Tiago era provavelmente o
irmão de Jesus que parece ter sido encarregado da
Igreja de Jerusalém (Gal. 1:19).
Pedro foge. — Sabendo que assim que fosse nota -
da a sua falta na prisão os soldados de Herodes esta -
riam procurando por ele, "Pedro partiu para outro
lugar". Quando veio a manhã, ihouve grande
alvoroço entre a multidão em virtude da fuga de
Pedro. Hero des ordenou que se fizesse uma busca
completa, mas foi em vão.
Os guardas são mortos. — Pensando então que os
guardas da prisão tivessem sido negligentes, o perver -
so rei mandou que fossem mortos. Não muito tempo
depois ele próprio morreu tão repentina e tão miserà-

— 92 —

velmente que alguns disseram que a ira de Deus o vi.


sitara por sua maldade. Lucas nos diz que o anjo do
Senhor o matou.
A morte de Herodes. — Mas Pedro, a quem Hero des
tinha procurado matar, foi poupado, através de
bênçãos do Senhor, para abençoar a Igreja e pregar o
Evangelho ainda por muitos anos.

— 93 —
LIÇÃO 17 CENAS FINAIS DE UM

GRANDE MINISTÉRIO

"O evangelho é a concretização de todas


as esperanças, o aperfeiçoamento de todas
as filosofias, o intérprete de todas as re -
velações e uma chave para todas as apa -
rentes contradições da verdade no mundo
físico e moral".
—x. x. x. x—
O caráter de Pedro. — Muitos anos se passaram
desde que Pedro se encontrou com Jesus e foi chamado
Cephas que, por interpretação, significa "Pedra". Pe -
dro não imaginava então porque o Senhor queria que
o caráter deste pescador se tornasse como uma rocha.
Não havia compreendido a grande responsabilidade
que seu Mestre queria colocar sobre ele. Os anos que
se passaram foram Iodos plenos de grandes e maravi -
lhosas experiências, que tendiam fazer de Pedro não
somente o homem de rocha que Cristo havia querido
que ele se tornasse, mas o grande líder e principal
apóstolo da Igreja de Cristo.
Destemor, fidelidade, oração, humildade e zelo in -
cansável em seus esforços para instruir e abençoar o
povo eram característicos do caráter de Pedro, que
bri lharam em toda sua vida.
Devemos nos lembrar, contudo, que este caráter de
rocha não foi formado repentinamente. Cresceu gra -
dualmente. O leitor se lembra de como Jesus, obser -
vando sua formação, reprovava as fraquezas de Pedro,

— 94 —

elogiava sua força e o encorajava sempre, a permne- cer


fiel e verdadeiro no trabalho de "pescador de lio.
mens".
O Pescador de Homens. — Chegamos agora naquele
período de sua vida em que este homem que uni dia
puxava redes cheias de peixes do Mar da Galiléia
poude olhar para traz, para seus anos de ministério e
ver inúmeras redes cheias de homens, mulheres e crian -
ças, retiradas do mar da ignorância e do pecado e co -
locadas a salvo na Igreja de Cristo.
Havia diferença, contudo, entre os resultados de
sua pesca de peixes e de homens: os peixes, ele retira va
do elemento de vida para morte física; os homens ele
tirava do elemento da morte para vida eterna.
Durante cinco anos após sua libertação do terceiro
aprisionamento, Pedro continuava suas visitas de cida -
de em cidade, de província em província, pregando a
Palavra do Senhor. Durante muitas dessas viagens ele
foi, sem dúvida, acompanhado por sua fiel esposa.
Aberta a porta aos gentios. — Havia sido dever e
privilégio de Pedro pregar o Evangelho primeiramente
aos gentios. Note que quando o Senhor queria que os
gentios ouvissem sua palavra, ele instruía o chefe dos
Apóstolos a girar a chave que abria a porta do Evan -
gelho a eles. Este é um doa deveres especiais do Apos -
tolado.
Cristãos. — Desde aqueles tempos, muitos gentios
se converteram; e em algumas cidades eles se reuniam e
prestavam culto juntamente com os judeus. Isto
acontecia particularmente na Antióquia, uma impor -
tante cidade da Síria, onde os seguidores de Jesus fo -
ram pela primeira vez chamados cristãos.
Mas haviam certos homens na Judéia, que foram a
Antióquia e ocasionaram atrapalhações. Estes eram
judeus que haviam aceitado o Evangelho, mas que a i n -
da acreditavam que os gentios teriam que fazer ludo o

— 95 —

que os judeus faziam antes de poderem obter a sal -


vação.
Pedro justifica os gentios. — A questão quanto à
possibilidade dos gentios receberem o evangelho e
serem salvos, sem estar de acordo com o rito
judaico, chegou aos apóstolos e outros líderes da
Igreja em Je rusalém.
"E havendo grande contenda, levantou-se Pedro
e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há
mui to tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os
gen tios ouvissem da minha boca a palavra do
evangelho e
cressem.
"E Deus, que conhece os corações, deu
testemunho deles, dando-lhes o Espirito Santo, assim
como também a nós.
"E não fez diferença alguma entre eles e nós,
purificando os seus corações pela fé".
Ele então os exortou a não provocar Deus inven -
tando uma regra que faria com que os gentios
fizessem o que o Senhor não pedia deles. "Pois",
acrescentou ele "seremos salvos péla graça do
Senhor Jesus Cristo como eles também".
Apoio ao direito. — Houve um tempo quando Si-
mão, o pescador judeu, com todos os seus
preconceitos judeus, teria apoiado o lado judeu da
questão; mas agora, não era Simão, o pescador que
falava, mas Pe dro, o chefe dos apóstolos do Senhor. O
que eram os pre conceitos para ele à luz da inspiração
da verdade! Tudo o que era preciso é que ele
soubesse o que estava certo e, com ou sem
preconceito, com ou sem favor, ele o defenderia.
É verdade que após este conselho, assim diz
Paulo, (Gal. 2:7) Pedro retirou-se da companhia de
alguns gentios porque alguns judeus desceram de
Jerusalém. Paulo diz que repreendeu Pedro por suas
ações nesta ocasião, mas nada foi registrado sobre o
que Pedro-

— 96 —

disse ou fez. Conhecendo Pedro como nós, j concluir


com segurança que ele não deve ler se do da retidão
intencionalmente. Parece mais provável que Paulo
tivesse compreendido mal o motivo das acõrs de Pedro.
De qualquer modo, podemos ter certeza d r que o que
Pedro disse e fez foi para ajudar os que st-achavam
influenciados por seus atos.
Visita às igrejas. — Daquele tempo em diante,
pouco sabemos a respeito das viagens de Pedro. Pela
leitura de suas epístolas, temos uma pequena visão da
natureza dos seus trabalhos e viagens durante os últi -
mos anos de sua vida. Sem dúvida, ele visitou todos os
países em que existiam ramos organizados da Igreja,
até mesmo as "sete Igrejas da Ásia".
Trinta e cinco anos de trabalho. — Não se sabe
exatamente onde morreu, e nem a espécie de morte que
sofreu; mas é evidente que o fim não estava longe
quando ele escreveu sua segunda carta às Igrejas. Isto
foi cerca de trinta e cinco anos após ter encontrado seu
Salvador. Ele havia estado no.ministério então, apro -
ximadamente trinta e cinco anos, ou talvez ainda mais.
Referindo-se à profecia do Senhor nas praias da
Galiléia, o velho apóstolo, escrevendo aos Santos e os
encorajando a serem verdadeiros ao Evangelho, disse:
"Sabendo que brevemente hei de deixar este meu
tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo
já m'o tem revelado, mas também ou procurarei em
toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lem -
branças destas coisas".
Alguns dos mais antigos autores cristãos nos dizem
que Pedro e Paulo foram ambos aprisionados em Ro
ma durante as terríveis perseguições aos Santos pelo
perverso rei Nero.
Uma Lenda. — Conta-se que antes de Nero apri -
sionar Pedro, os Cristãos, percebendo o perigo em quo
ele se encontrava, rogaram que deixasse Roínn. C.oni

— 97 —

muita relutância, ele cedeu aos seus pedidos e fugiu da


cidade à noite. Ao fugir, encontrou o Senhor levando
Sua cruz e dirigindo-se a Roma. "Mestre, para onde
vais?", perguntou Pedro, "Para Roma, para ser cruci -
ficado pela segunda vez", foi a resposta.
Pensando que o seu Senhor poderia ser
crucificado pela segunda vez, pela Verdade, ele
também queria morrer por ela, e voltou a Roma, e
algum tempo mais tarde, foi condenado pelo
imperador Nero a sofrer morte por crucificação. Ao
aproximar-se do local da execução, contudo, Pedro
pediu que lhe fosse permiti do ser crucificado com a
cabeça para baixo, o que lhe foi concedido.
As circunstâncias são mais ou menos lendárias e
podem ou não ser verdadeiras. Mas seja qual for a
maneira ou tempo da morte de Simão Pedro, ele mor -
reu fiel a todas as tarefas que o Senhor e Mestre lhe
havia dado.
— 98 —

Segunda Parte

TIAGO

— 99 —
LIÇÃO TIAGO -O FILHO DE ZEBEDEU

Entre as mulheres devotas que seguiram Jesus na


Galiléia, que o auxiliaram e que assistiram com zelo e
sofrimento os julgamentos em Jerusalém, achava-se
uma dedicada mãe chamada Salomé. Com Maria Ma -
dalena e Maria, mãe de Jesus, e José, presenciou à dis -
tância a crucificação do Salvador.
Ela não se esqueceria de seu Senhor nem mesmo
na cruz. Foi também uma das que, com unguentos e
perfumes, foi cedinho ao sepulcro na manhã de domin -
go, para participar do embalsamento do corpo de Je -
sus. A ela e a outros, o Salvador apareceu naquela ma -
nhã dizendo:
"Não temais; ide, e anunciai a meus irmãos que
vão a Galiléia, e lá me verão". (Matheus 28:10).
"Feliz era ele com tal mãe! A fé nas mulheres pul sa
com seu sangue, e a confiança em todas as coisas ele -
vadas vêm facilmente a ele, e apesar dele tropeçar e
cair, não cegará sua alma com argila". (Tennyson).
Orgulhosa de Seus Filhos. — Assim era a fiel e de-
votada mulher a quem Tiago e João, os filhos de Zebe-
deu, chamavam mãe. E ela era tão orgulhosa de seus
filhos como estes o eram dela; pois pareciam haver her -
dado de sua mãe, e talvez de seu pai também, aquelas
qualidades verdadeiras e constantes que os faziam dis -
cípulos tão devotos de Cristo.
Um pedido de mãe. — Como a maioria das mães,
Salomé queria ver seus filhos honrados; e um dia pe diu
ao Salvador que seus filhos pudessem sentar-se,

— 101 —

uniu à sua esquerda e outro à sua direita, em seu Rei no.


Jesus disse: "Podeis vós beber do cálix que eu hei de
beber e ser balizados com o batismo com que eu sou
balizado?"
files responderam: "Podemos".
Hebcreisi do meu cálix. — "Na verdade bebereis do
meu cálix e sereis balizados com o batismo com que eu
sou batizado", respondeu o Senhor, "mas assentar-se à
minha direita ou à minha esquerda não me pertence
concedê-lo".
Verdadeiros servos. — A anciedade da mãe por ter
seus filhos assim honrados, fez os outros dez ficarem
um pouco enciumados mas Jesus viu seus sentimentos,
e disse-lhes que enquanto os homens que têm alta po -
sição no mundo exercem um domínio iníquo, aqueles
que recebem cargos em Sua Igreja são servos de todos.
"E qualquer que entre vós quizer ser o primeiro,
seja vosso servo".
De Bethsaida. — Tiago era de Bethsaida, na Gali-
léia, e era pescador.
Estava trabalhando em seu ofício quando o
Senhor chamou ao ministério. Quando veio a
chamada, Tiago e seu irmão estavam sentados num
barco, remendando suas redes. Seu pai e os servos
empregados também se encontravam no mesmo local.
Naturalmente, Tiago ti nha visto Jesus antes disto e
sem dúvida havia ouvido as suas palavras; pois
quando André apressou-se para encontrar Simão
Pedro, após ter encontrado o Senhor. João havia
corrido para encontrar seu irmão Tiago.
A chamada é aceita. — Assim, também Tiago, ha -
via encontrado o Messias e jiá havia se convertido ao
Evangelho. Portanto, quando Jesus parou naquela ma -
nhã na praia, disse: "\ rinde após mim, eu vos farei
pescadores de homens" eles imediatamente deixaram
seu pai com os servos e seguiram Jesus.

— 102 —

Um dos doze. — Quando os doze foram escolhidos,


Tiago foi escolhido após Pedro, e era um dos que cons -
tituíam o que podemos chamar a Presidência dos Do -
ze. Nesta posição, ele tornou-se bastante próximo do
Redentor, e foi uma testemunha de vista de alguns dos
acontecimentos mais sagrados do ministério do Seu Se -
nhor. Assim, com Pedro e João, ele foi apresentado na
sala quando a pequena filha de Jairo foi restaurada à
vida.
No Monte. — Ele foi também um dos três favore -
cidos no Monte da Transfiguração; e foi um daqueles
escolhidos para acompanhar o Mestre ao lugar
deserto no Jardim de Getsêmani quando Cristo sofreu
aquelas amargas agonias preparatórias para sua
traição e sofri mentos na cruz.
O Filho do Trovão. — Tiago era chamado filho do
Trovão; e há um incidente na Ríblia que nos dá uma
pequena visão da sua natureza, e que talvez tenha
dado origem àquele nome. Quando chegou o tempo
em que Jesus havia decidido ir a Jerusalém para ser
oferecido como um sacrifício, ele "mandou
mensageiros adiante da sua face; e indo eles, entraram
numa aldeia de sa-maritanos, para lhe prepararem
pousada. (Lucas 9:52). Tiago foi um desses
mensageiros.
Mas os Samaritanos, que nada queriam saber dos
judeus, e que estavam particularmente ofendidos
nesta ocasião porque Jesus estava determinado a
cultuar em Jerusalém, recusaram-se a receber Jesus.
Sua recusa tornou Tiago e João tão indignados que
viraram-se para seu Mestre e disseram: "Senhor,
queres que diga mos que desça fogo do céu e os
consuma, como Elias também fez?"
Repreensão. — Mas o Senhor desagradou-se por
eles estarem zangados e disse "Vós sabeis de que es -
pírito sois. Porque o Filho do homem não veio para
destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. Por

— 103 —

esta manifestação de fogo em suas nature/as, é que se


acredita que Tiago e João fossem chamados "Boaner-
ges", ou "filhos do trovão".
Mas, se ele tinha natureza impetuosa e tempera -
mento nervoso, ele o controlava, e através de sua fé e
devoção conquistou o favor de seu Senhor.
Pouco é registrado sobre seus trabalhos — Acredita-se
que ele tenha viajado bastante, pregando o Evan gelho,
a todas as tribus dispersas de Israel, Mas de seus
trabalhos, muito pouco foi registrado.
O Primeiro mártir — Cerca de quarenta e dois ou
quarenta e quatro anos depois de Cristo, Herodes
Agri-pa, como já aprendemos, iniciou uma terrível
perseguição contra os Santos. Tiago se encontrava
entre os primeiros a serem presos.
Oficial convertido — Foi ele sentenciado logo após
sua prisão mas, tão grande era sua fé e sua coragem
durante o julgamento que o oficial que o guardava
(que como dizem alguns, era seu acusador)
arrependeu-se de seus pecados, converteu-se e declarou
sua fé no Cris tianismo.
Ao ser Tiago conduzido ao lugar da execução, es te
oficial lançou-se ao pés do apóstolo, e humildemen te
implorou perdão pelo que havia dito contra ele.
Colocando seus braços ao redor do homem penitente,
Tiago respondeu "paz, meu filho, paz seja contigo e
perdão pêlos teus pecados".
Execução — Ambos foram então executados por
ordem do cruel rei Herodes.
Assim, Tiago, o primeiro apóstolo mártir,
partilhou da taça que muitos anos atrás ele disse ao
Seu Senhor que beberia.

— 104 —

TERCEIRA PARTE

JOÃO
LIÇÃO 19 COM O
REDENTOR

"A modéstia é uma luz brilhante; prepara


a mente para receber conhecimento, e o
coração para a verdade".

"Humildade é o sólido alicerce de todas as


virtudes".

— x. x .x. x —

Modéstia — No primeiro capítulo do evangelho


segundo São João, lemos que dois discípulos de João
Batista ouviram seu mestre testemunhar da divindade
de Jesus. Disse o Batista, referindo-se a Jesus cami -
nhando sozinho à distância "Eis o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo". Um dos dois discípulos
que ouviram este testemunho é mencionado. Em todo
o livro, que, sem dúvida, foi escrito pelo próprio São
João, o nome de João, filho de Zebedeu, jamais foi es -
crito. No relato da iiltima Ceia, lemos de um discípu lo
"a quem Jesus amava" que se sentava perto do Se -
nhor para que sua cabeça pudesse descançar no peito
de Jesus.
Estes dois casos e ainda outros podem ser men -
cionados para indicar-nos uma das importantes
carac terísticas de São João, uma modéstia sincera,
que lhe grangearam o amor e respeito de todos
quantos o co nheceram.
107

Destemor — Mas João era o filho de Salomé e Ze-


bedeu, e irmão mais novo de Tiago, pelo que era
chamado "Boanerges", ou filho do Trovão. Isto nos
dá uma pequena visão de uma outra faceta de seu ca-
ráter. Como seu irmão Tiago, ele era evidentemente
inflamado em seu zelo em tudo que se propuzesse a
realizar, e destemer ao fazer as coisas que ele achava
certas.
Amor — Uma modéstia que sempre o afastou de
glorificar-se ou adiantar-se indevidamente; um deste-
mor em defender o que era certo, e amor por seu
Mes tre que lhe deu o maior lugar no coração de Jesus
—-estas eram as três características do canáter de
João, que sobressaem distintamente no relato
fragmentário de sua vida.
Ele viveu e provavelmente nasceu em Bethsaida, a
cidade de Pedro, André e Filipe. Era pescador de pro -
fissão, e trabalhava com seu pai e seu irmão Tiago. Seu
pai, Zebedeu, era proprietário de seus próprios
barcos e tinha servos; assim concluímos que estivesse
bem de finanças. (Marcos 1:20:).
Buscava a verdade — Buscava ele sempre o verda -
deiro aprendizado, e especialmente aquelas coisas que
lhe dissessem algo sobre Deus e a próxima vida. Man -
tinha sua mente e coração puros, para que pudesse
apreciar a verdade quando a ouvisse.
Assim, quando João Batista saiu do deserto pre -
gando arrependimento e declarando que o Reino de
Deus estava próximo, João foi um dos jovens destemi,
dos que creram em João Batista e o seguiram. Assim
ele estava preparado para aceitar o testemunho de
João sobre Jesus, após ter sido este batisado, no Jor -
dão, e foi um dos dois que falara com o Salvador do
mundo do princípio de seu ministério.
Segue a Jesus — Na mesma ocasião em que Simão
Pedro e seu irmão foram chamados como discípulos de

— 108 —

Jesus, Tiago o filho de Zebedeu e João, seu irmão, es -


tavam com seu pai consertando as redes e quando Je sus
os chamou, eles imediatamente deixaram o barco e seu
pai e seguiram-no (Matheus 4:21-22. Lucas 5:1-11).
A primeira lição — Lucas nos relata que João es -
tava presente à primeira pesca miraculosa de peixes e
muito se admirou pelo que viu e ouviu na ocasião. Foi
uma das primeiras lições, se não a primeira que lhe
ensinou a grande verdade de que a obediência às pala -
vras de Cristo trazem obediência.
O mais jovem dos doze — Deste tempo, até o fim de
sua acidentada vida, ele esteve sempre no ministé rio.
Quando Jesus escolheu seus discípulos, João foi
escolhido como um dos três principais, apesar de ser o
mais jovem membro dos Doze.
Memoráveis experiências — Desde aquele tempo
João permaneceu sempre bem perto de Jesus, e teste -
munhou alguns dos mais notáveis e divinos incidentes
registrados na história do ministério de Cristo. Ele foi
um dos três apóstolos que tiveram! a permissão de
per manecer na sala quando a pequena filha de Jairo
foi restaurada à vida. (Lucas 8:51). Ele estava no
Monte da Transfiguração quando o Salvador
conversou com Moisés e Elias e quando uma voz dos
céus disse "Este é meu filho amado, ouvi-o" (Lucas
9:28).
Com 'Pedro, Tiago e André, João estava presente
no Monte das Oliveiras quando Jesus lhes ensinou
quanto à destruição do templo e da segunda vinda de
Cristo. Como a lerribrança de tais ocasiões deve ter en -
chido sua memória nos anos que se seguiram, de ale -
gria e doce contentamento.
Ele e Pedro foram encarregados de fazer os pre -
parativos para a Páscoa. (Lucas 22:8).
Próximo de Jesus — No momento solene em que o
Senhor disse "um de vós me há de trair", foi João, "o

— 109 --

discípulo a quem Jesus amava" que recebeu a resposta


indicando quem era o traidor.
Em Getsêmani — Quando a tristeza de Getsêmani
começou a pesar sobre o espírito de Jesus, João foi um
dos três a quem ele disse: "A minha alma está profun -
damente triste ate a morte: ficai aqui, e vigiai". (Mar -
cos 14:33).
Em casa do Sumo Sacerdote — Mais tarde naquela
mesma noite, quando o traidor deu o beijo da traição e
os soldados prenderam Jesus e o levaram como prisio -
neiro, todos os outros discípulos fugiram, mas João
acompanhou seu mestre à casa do sumo sacerdote e mais
tarde deixou entrar Pedro, que, como já foi dito, seguia
à distância.
Um terrível sofrimento — Apesar de não nos ter sido
contado, podemos imaginar quais foram os senti mentos
deste amado discípulo ao ouvir as falsas e per versas
acusações contra o Senhor, e como seu coração deve ter
doído ao ver Jesus ser espancado e maltrata do e uma
coroa de espinhos ser posta sobre sua cabeça. Se ele
tinha querido invocar fogo dos céus para consu mir os
samaritanos que haviam se recusado a abrigar e
acomodar ao Senhor, qual não deve ter sido o estado
de sua alma inflamada quando viu os judeus e seus
juizes perseguindo Cristo até a morte!
O último Pedido — Como sua alma deve ter sido
presa de agonia ao ver seu Salvador pregado na cruz, e,
não obslante, que paz deve ter vindo a ele quando
recebeu dos lábios agonizantes de seu Mestre uma das
mais queridas tarefas jamais dada a um mortal. Quan -
do as três Marias e João estavam o pé da cruz, Jesus
olhou para eles e disse à sua mãe: "Moilher, eis aí teu
filho" e a João: "Eis aí tua mãe".
"E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua
casa

— 110 --

No sepulcro — Na manhã de domingo após a cru -


cificação, João estava com Pedro quando Maria Mada -
lena veio correndo dizer-lhes: "Levaram o Senhor do
sepulcro e não sabemos onde o puzeram".
Assim que os apóstolos ouviram estas palavras,
correram para o local onde Jesus tinha sido sepultado.
João, sendo mais jovem chegou primeiro que Pedro e
foi o primeiro a ver o túmulo vazio, "e, abaixando-se,
viu no chão os lençóis; todavia, não entrou". Um mo -
mento mais tarde, contudo, seguiu Pedro para dentro
do túmulo, examinou cuidadosamente as roupas de li -
nho e o lenço que estava envolto na cabeça; mas não
compreendendo ainda que Cristo deveria ressuscitar
no terceiro dia, voltaram às suas próprias casas.
Seu testemunho — João estava com os dez e mais
tarde com os Onze quando Cristo apareceu a eles no
cenáculo. Desta e de outras experiências gloriosas, ele
dá seu testemunho em seu Evangelho. "Para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e para
que, cren do, tenhais vida em Seu nome".

— 111 --
LIÇÃO 20

COM PEDRO E OS DOZE


"Ame um ser humano com pureza e ter nura e
amarias a todos" "O amor dá-se a si mesmo e não
é comprado".

—x. x. x. x—
No mar da Galiléia — João foi um dos que, após a
morte e ressurreição de Jesus, quando Simão Pedro
disse: "Vou pescar", responderam: "Também nós va -
mos contigo". Labutaram toda a noite e nada apanha -
ram, mas quando a manhã veio, um homem que se
achava na praia lhes disse: "Lançai a rede para a ban -
da direita do barco". Isto eles fizeram imediatamente e
apanharam uma enorme quantidade de peixes. Quasi
imediatamente João reconheceu Jesus e disse a Pedro:
"É o Senhor".
Apascenta as minhas ovelhas — Um pouco mais tarde,
na praia, ele ouviu a admoestação a Pedro, para
apascentar ovelhas e cordeiros no rebanho de Cristo e
sem dúvida João partilhava do sentimento de respon -
sabilidade que então foi atirado sobre os Doze.
Foi nesta ocasião que Pedro perguntou a Jesus o
que aconteceria a João a que Jesus deu a significativa
resposta: "Se eu quero que ele fique até que eu venha,
que te importa a ti?" "Segue-me tu".
Uma profecia — Divulgou-se pois entre os irmãos
este dito, que aquele discípulo não havia de morrer,
Jesus, porém, não lhes disse que não morreria, mas: Se

— 112 —

eu quero que ele fique até que eu venha, que te impor ta


a ti?
A este respeito, lemos em Doutrinas e Convénios
(secção 7) que João havia dito ao Senhor "Dá-me po der
sobre a morte, para que eu possa viver e trazer almas a
ti".
E o Senhor respondeu: "Na verdade, na verdade te
digo que, visto como o desejaste permanecerás até que
Eu venha em Minha glória e profetizarás perante nações,
tribos, línguas e povos".
O Senhor então disse a Pedro que Ele faria João
como "o fogo abrasador e um anjo ministrador e ele
ministrará àqueles que serão herdeiros da salvação e
habitam a terra".
Verdadeira grandeza — Assim foi expresso o amor de
João não somente por seu Senhor e Mestre mas por
todos os filhos de homens aos quais ele queria trazer
Cristo e participar das alegrias do evangelho eterno.
Por este espírito, João provou ter sido um dos maiores
homens que já viveram, pois a verdadeira grandeza
consiste em perder-se por amor de outros.
Fiel ao encargo — Cerca de quinze anos após a
ascenção do Salvador, acredita-se que João continuou
em Jerusalém e permaneceu um verdadeiro filho de
Maria. Durante todo o tempo, contudo, ele per maneceu
ativo no ministério.
O aleijado — Ele estava com Pedro, a caminho do
Templo, quando o aleijado do portão do templo pediu
esmolas.
Com Pedro ele exerceu sua fé na ocasião em que
abençoou o pobre homem que nunca tinha andado. (Atos
3:1-12).
Aprisionado —- João, sem dúvida, testificou à mul -
tidão que se reuniu no Alpendre de Salomão no dia
deste milagre; mas nenhum historiador nos diz o que ele
disse. Deduzimos pelo que Lucas nos diz, que João

— 11 3 —

falou na ocasião, mas somente o sermão de Pedro e


somente parte dele foi guardado.
Enquanto eles estavam falando, o capitão do tem -
plo prendeu-os e aprisionou-os.
Perante o conselho — Quando foram trazidos pe -
rante o Conselho no dia seguinte e lhes disseram que
não mais falassem de Jesus, João mostrou-se tão ousa -
do como Pedro, ao declarar: Julgai vós se é justo,
dian te de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus;
por que não podemos deixar de falar do que temos
visto e ouvido" (Atos 4:19-20).
Após terem sido soltos, continuaram a pregar ao
povo e a louvar ao Senhor por todas as suas maravi -
lhosas manifestações a eles. A grande festa espiritual
que resultou de seus trabalhos, deve ter enchido a al -
ma de João com uma paz divina, tal como ele jamais
havia experimentado, pois, de todos os apóstolos, ele
era o mais espiritual.
Um verdadeiro servo — Durante este periodo, ele
foi aprisionado várias vezes, mas jamais hesitou em
sua determinação de fazer com que todo o povo sou -
besse que Jesus era o Redentor do Mundo.
Ele podia sofrer e ser feliz porque amava todos
aqueles a quem servia. Assim, no princípio de seu mi -
nistério, seu caráter brilhou em verdadeira grandeza,
pois ele era paciente, serviçal e forte para sofrer pé-los
outros".
Em Samaria — Quando os samaritanos receberam
o Evangelho através da pregação de Filipe, João acom -
panhou Pedro a Samaria, e conferiu o Espírito Santo
pela imposição das mãos, sobre aqueles a quem Filipe
batizara (Atos 8:5-14).
Vários Oficiais — Sem dúvida esta foi apenas uma
das muitas visitas que ele fez durante aqueles quinze
anos em que permaneceu em Jerusalém. Os Doze, os
setentas, anciãos, sacerdotes, mestres e diá-

— 11 4 —

conos foram pregando em todas as cidades dos arredo -


res de Jerusalém e os três apóstolos principais Pedro,
Tiago e João seriam necessários e quando não necessá -
rios seriam convidados a organizar ramos e conhecer
os novos conversos e encorajá-los em sua fé gloriosa.
O Pilar da igreja — Quando surgiu a grande ques -
tão sobre os gentios que se filiavam à Igreja e sobre o
que deveriam fazer, João foi um dos que se assenta ram
no conselho convocado em Jerusalém. Paulo, es -
crevendo sobre este conselho, menciona Tiago, Cephas
e João, que pareciam ser colunas. À luz da organização
da Igreja hoje, sabemos que Pedro, Tiago e João eram
os homens que presidiam naquela ocasião, sendo Tia go
o que tomava as decisões que eram adotadas em todas
as províncias.
Coração amoroso — Depois daquele tempo, sabe -
mos muito pouco sobre o ministério de João. Parte do
que é conhecido será ensinado na próxima lição. Sabe -
mos mais sobre a espécie de homem que ele era do que
de seus atos. Quando lemos suas cartas escritas à
igreja e seu Evangelho, podemos entender prontamen -
te porque Jesus o escolheu para cuidar de Sua Mãe
Maria. O coração de João estava cheio de amor, e ele
que ria que todos se amassem. Disse que ninguém que
diz que "está na luz, e aborrece a seu irmão, até agora
está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na
luz".
"Mas aquele que aborrece a seu irmão está em
trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deve ir;
porque as trevas lhe cegaram os oihos".
"Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos
são perdoados os pecados". Naquela carta ele diz "E
agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando
ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos
confundidos por ele na sua vinda".

— 11 5 —

LI C ÃO 21

ULTIMAS CENAS DO
MINISTÉRIO
"O amor era para a sua alma não sòmen-
le uma parte de sua existência, mas o to -
do, o verdadeiro alento de seu coração.
—x. x. x. x—
Passam-se 18 anos — O importante conselho men -
cionado no último capítulo, foi realizado cerca de 50
anos depois do nascimento de Cristo (50 D.C.). Duran -
te os próximos 18 anos, João parece ter estado fora de
vista. Nada se sabe sobre o que ele fez ou onde esteve.
Presume-se que tenha deixado Jerusalém e raramente,
voltado, se é que o fez. Se assim foi, podemos concluir
que Maria, a mãe de Jesus também tenha saído de Je -
rusalém deixando-a e a todos os seus queridos paren -
tes e amigos na terra, para um feliz, e glorioso encon -
tro com o seu Filho, em seu lar celestial nas alturas. O
amor e a atenção que João dedicou a Maria podiam
ser dedicados inteiramente à Igreja que agora levava o
nome de seu Filho.
Sem dúvida ele visitou todos ou quasi todos os
lugares importantes onde os cristãos habitavam; mas
a maioria de seus últimos anos parecem ter sido pas -
sados na Ásia Menor.
Em Éfeso — A tradição nos informa que ele fez
seu lar em Éfeso, uma cidade grande e populosa de
lona, cerca de 40 milhas de Smirna. Era notória prin -
cipalmente por sua iniquidade e por seu belo templo
dedicado a Diana. Alguns dizem que Maria mãe de Je -
sus e Maria Madalena, foram a Éfeso com João, e lá

— 116 —

morreram. A tradição agrada porque moslrn como h


devoção de um filho à sua mãe, como é moslnuln por
João, se associou o amor de Maria Madalena, q m- p<»
deria bem ser expresso nas palavras de outra bela mu -
lher, que disse à mãe de seu marido: "Não me ins tes
para que te deixe e me torne de detrás de ti; porque
aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que
pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu
povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morre -
res, morrerei eu e ali serei sepultada". (Ruth 1:16-17).
De Éfeso João visitou todos os ramos da Igreja,
trabalhando especialmente entre "As Sete Igrejas da
Ásia".
Quando João havia passado muitos anos em Éfeso,
um cruel imperador Romano, durante sua perseguição
à Igreja, prendeu-o, mandou levá-lo a Roma, conde -
nou-o à inorte e mergulhou-o em óleo fervente. Tendo
sido a vida de João preservada pelo poder de Deus, foi
ele então banido para Patmos. Tudo o que João diz so -
bre isto é que ele esteve "na ilha que é chamada Pat -
mos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho
de Jesus Cristo". É evidente daí que ele tenha sido per -
seguido por sua crença no Evangelho e por seu indes -
trutível testemunho da vida, morte e ressurreição de
Jesus Cristo. Ele foi provavelmente a última testemu--
nha viva dos milagres e ensinamentos do Salvador. Tal -
vez este tenha sido o motivo pelo qual foi degredado.
Mas os homens iníquos não podiam banir o testemu -
nho que ele havia deixado. Este achava-se plantado nos
corações de milhares de crentes sinceros e como se -
mentes esparramadas em solo fértil, cresceriam e pro -
duziriam ricas colheitas anos e anos depois.
O degredo não feriu o velho apóstolo, pois ele uno
estava só nem mesmo naquela rocha estéril e dcsnbi-
tada. Numa manhã de domingo ou o "dia do Senhor"
como ele o chamava, ele "ouviu atrás dele "unin gnin

— 117—

Ho voz, <-omo de trombeta, que dizia: O que vês, escre vi 1


i» num livro e envia-o às sete igrejas que estão na AHÍM :
A fifeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, o n Sardo, e
a Filadélfia, e a Laodicéia". Ele virou-se r v i u o Filho do
Homem vestido até os pés com um vestido comprido e
cingido com um cinto de ouro. Ao deparar com o Senhor
vestido com tal divino esplendor, caiu aos seus pés como
morto. Mas o Salva dor, diz João, "pôs sobre mim a sua
dextra, dizendo-me: "Não temas; Eu sou o primeiro e o
último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo
para todo o sempre". Ele foi novamente mandado escrever
tudo o que havia presenciado e o que lhe seria mostrado
em visão. Assim foi dado às sete Igrejas da Ásia, e subse -
quentemente ao mundo, o que é conhecido como "Apo -
calipse", o último livro da Bdblia, mas o primeiro es crito
por seu autor.
Ao morrer Domiciano, o cruel imperador que o havia
banido, o Apóstolo poude voltar a Éfeso, onde con tinuou
sua pregação, suas escrituras e seu testemunho.
Os escritos de João — Além do "Apocalipse", ele
escreveu seu Evangelho e suas três epistolas. A segun da
epistola de João deve ser de especial interesse aos jovens.
Dela nós inferimos que ele escrevia cartas a dois lares
Cristãos. As mães desses lares eram irmãs. Sua carta é
endereçada "à Sra. Eleita", como é algu mas vezes
chamada e a seus filhos. João diz de seu amor e do amor
de outros para com eles — mãe e fi lhos — em virtude de
seu caráter cristão. Diz de sua grande alegria por
caminharem as crianças na verda de, vivendo como devem
viver os que aprenderam os ensinamentos de Cristo.
Conta-se que quando ele ficou tão velho e fraco que
não mais podia caminhar para a Igreja, nem pre-tfnr ao
seu povo, seus amigos o carregavam para o lo-cnl da
reunião. Nestas ocasiões, ele repetia freqüente-

— 118 —

mente: "Queridos filhinhos, amai-vos uns aos outroi". Um


dia alguns lhe perguntaram :"Mestre, porque tem* pré
dizeis isto?. Ao que ele respondeu: "Isto é o <{Ut o
Senhor te ordena; e isto, se o praticares, é suficien te".
Diz-se que ele viveu mais de cem anos, mas de seus
últimos dias nada está especificamente registrado. Sa-
bemos, contudo, que ele resistiu à mais amarga perse -
guição, viveu mais que seus perseguidores, instruiu com
sua vida e ensinamentos milhares no Caminho da vi da, e
está abençoando muitos milhares no mundo ho je em dia
por amor sublime e infantil.
"Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem
é de Deus: mas quem faz mal não tem visto a Deus".
— 119 -

QUARTA PARTE

PAULO E SEUS COMPANHEmOS


LIÇÃO 22 SAULO
DE TARSO
"Boa companhia e bons sermões são os
verdadeiros tendões da vida".
—x. x. x. x—
Um Benjaminita — No tempo em que Pedro, An -
dré, Tiago e João eram meninos e brincavam em Beth-
saida, nas praias da Galiléia, havia um outro rapazola
inteligente e hábil, brincando e estudando numa cida -
de, cerca de trezentas milhas distante e a quem aqueles
apóstolos conheceriam depois de muitos anos, primei -
ramente como um perigoso inimigo e depois como um
amigo e irmão. O nome deste menino era Saulo, e vi via
em Tarso, a capital da Sicília. Era judeu e perten cia à
tribo de Benjamim, o filho mais novo de Jacó. O pai de
Benjamim, como nos lembramos, manteve-o em casa
quando os outros filhos partiram pela primeira vez
para o Egito, para comprar milho. A tribo de Ben -
jamim era tida como muito valorosa; e sobre isto, ve -
remos que Saulo era um verdadeiro Benjaminita.
Outros membros da Família — A respeito dos pais de
Saulo e de sua meninice, sabemos muito pouco. Seu
pai, certa vez, viveu na Palestina, e teria naturalmente,
ensinado seu filho a ser um bom judeu ortodoxo. De
sua mãe nada sabemos, mas podemos estar certos de
que ela cuidava dele com grande cuidado, guiando-o
em seus jogos e estudos e o inspirava, mesmo em sua
mocidade, para crescer sendo um homem úli l c gran-

— 123 —
de. Sem dúvida, uma boa mãe ele tinha, pois todos os
grandes homens foram abençoados com mães nobres.
Não sabemos, entretanto, se tinha algum irmão; mas
sabemos que tinha pelo menos uma irmã, a quem ele
sempre amou e para quem foi um irmão verdadeiro e
nobre toda a sua vida.
Um bom estudante — Saulo era um bom estudan-
Ic, e frequentou escola provtàvelmente desde os seis
anos de idade, até se tornar um homem. Mas naqueles
dias. os meninos não tinham livros. Limitavam-se a
ouvir o que lhes era dito pelo professor, lembrá-lo, e
tentar repeti-lo quando lhes pedissem que o fizessem.
O principal estudo na sala de aula, naquele tempo, era
o das santas escrituras. Naturalmente, eles não tinham
a Bíblia como a temos agora, mas tinham o Velho Tes -
tamento e podiam aprender tudo sobre Abrão, Isaque,
e Jacó, os filhos de Israel. Rei Saul. o Rei Davi. o Rei
Salomão e os profetas. Assim, ele aprendeu desde cedo
e aguardar a vinda do Messias que seria Rei dos Ju -
deus.
Fariseus e Saduceus — Entre os judeus encontra -
vam-se diferentes seitas ou religiões, sendo as princi -
pais a dos Fariseus e Saduceus. Nos dias de Saulo, a
geita dos fariseus era a mais popular de todas elas, e
tinham eles os mais altos postos no governo do Estado
e na igreja. Acreditavam na lei oral dada por Deus a
Moisés, bem como na lei escrita. Acreditavam tam bém
na ressurreição do corpo. Mas oravam longa c
frequentemente, não somente nas sinagogas e no tem -
plo, mas nas ruas, para que pudessem ser ouvidos pê -
los homens. Também em outras coisas eram muito hi -
pócritas.
Os saduceus não aceitavam a ressurreição do cor -
po. Veremos, mais tarde, como Saulo usou com vanta -
gem a diferença de crença destas duas seitas.
— 124 —

Fariseu — Saulo era fariseu e por sinal um bom


fariseu. Era justo e sincero em sua crença e educação,
como qualquer homem poderia ser. Se Saulo tivesse
sido um Fariseu hipócrita, provavelmente jamais te ria
encontrado a verdade, mas sendo sincero, isto é.
sempre fazendo o que julgava certo, foi conduzido ao
evangelho.
Um cidadão romano — Há mais uma coisa a
aprender a respeito deste menino, Saulo de Tarso. Ele
nasceu um cidadão romano. Tarso, uma cidade muito
rica e populosa, era um município romano, ou corpo -
ração livre. Isto significa que a liberdade de Roma (que
governava todos aqueles países naquela ocasião) havia
sido dado aos homens livres de Tarso. Esta li berdade
havia sido concedida porque os homens de Tarso
haviam defendido dois imperadores de Roma durante
uma rebelião contra eles.
Assim, Saulo, apesar de judeu, era um cidadão
romano livre. Nesta condição dupla, tinha dois nomes.
Saulo e Paulo; o primeiro, seu nome judeu e o viltimo
seu nome romano ou latino.
Fazedor de lendas — Como já foi dito, Saulo era
um estudante; mas era trabalhador, não somente com
suas mãos. Fazia tendas. Este oficio ele o aprendeu
quando ainda era menino. Era uma prática constante
dos judeus conduzir seus filhos a um oficio honesto
para que, em caso de necessidade, pudessem ganhar
suas vidas com o trabalho de suas próprias mãos. Hou -
ve tempo em que Paulo, apesar de ser um apóstolo,
trabalhou em intervalos durante vinte e nove anos no
oficio que seu pai lhe dera. Foi durante esse tempo que
ele escreveu: "Estas mãos me serviram".
Gamaliel — Quando havia completado o estudo
que era ministrado nas escolas judaicas de Tarso, e ha -
via aprendido seu oficio, quiz aumentar sua educação.
Tinha ele então, cerca de catorze anos de idade. Ha-
— 125 —

via as universidades dos gentios, perto de sua cidade,


mas, como ele queria se tornar um Habí, foi a Jerusa -
lém e se tornou aluno da famoso "Escola de Hillel". O
presidente desta famosa instituição de ensino era "um
certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, vene -
rado por todo o povo" (Atos 5:34). Supõe-se que ele
tenha sido filho de Simão que estava no templo quan do
o menino Jesus foi abençoado e que disse: "Agora.
Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua
palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação".
Mas, apesar de Gamaliel ser o homem mais instruí do
de seus dias, não sabia que o Messias tinha vindo.
Evidentemente, ele não acreditou no que seu pai havia
dito sobre o menino Jesus.
Instruído e influenciado por este grande mestre.
Saulo continuou por vários anos estudando em hebreu
e grego, e decorando todos os mandamentos importan -
tes contidos no Velho Testamento.
Estêvão — Paulo completou seu curso sob a ins -
trução da Gamaliel e provavelmente retornou à Sicília.
Durante esse tempo, Jesus havia sido crucificado e ha -
via começado uma terrível perseguição contra alguns
de Seus discípulos. O primeiro a sofrer a morte duran te
esta perseguição foi Estêvão, um dos sete diáconos
escolhidos para cuidar das provisões aos pobres. Estê -
vão era um servo muito fiel "cheio ,de fé e do Espírito
Santo". Ele declarou que Jesus era o Salvador do mun -
do e que todos os homens deviam crer em Seu nome se
quizessem ser salvos. Estêvão sabia que os fariseus es -
tavam errados no que acreditavam ser a salvação, e ele,
sem dúvida, lhes disse isto. De qualquer modo, dis cutiu
com eles na sinagoga.
Estêvão perante o Sinédrio — Tendo sido derrota dos
em suas disputas, os judeus enraivecidos arrasta ram
Estêvão perante o Sinédrio e o acusaram de blas fémia.
Mesmo no tribunal ele manteve o seu testemu-
— 126 —

nho da divindade, morte e ressurreição do Snlvndor o


que enraiveceu de tal modo os judeus que eles "mu -
giam os dentes contra ele" e finalmente o arraslannn
para fora do tribunal e o apedrejaram até a morlc.
Entre estes cegos fariseus que disputavam com
Estêvão, encontrava-se o jovevn e instruído Saulo de
Tarso. E quando eles "gritaram com grande voz,
tapa ram os seus ouvidos e arremeteram unânimes
contra ele", presenciou a morte cruel deste primeiro
mártir cristão. Saulo era sincero em acreditar que
Estêvão era um inimigo da religião judaica.
Provavelmente Estê vão reconheceu este fato então,
pois, ao morrer, orou: "Senhor, não lhes imputes
este pecado". (Atos 7).

— 127 —
LIÇÃO 23 A
CONVERSÃO DE SAULO
"Melhor é estar errado com sinceridade do
que certo com falsidade".

Um grande perseguidor — Após a morte de Este vão,


"houve uma grande perseguição contra a igreja que
estava em Jerusalém", e todos foram dispersos pe las
terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos"
(Atos 8:1). Um dos perseguidores mais valorosos e in-
cansáveis dos Santos, durante aqueles dias terríveis,
era o cego fariseu Saulo de Tarso. Estava tão determi -
nado a por um fim no que ele pensava ser uma here sia
que adquiriu o direito de oficial do Sinédrio para
prender os seguidores de Jesus onde quer que os en -
contrasse. Ia de casa em casa, afastando homens de
suas mulheres e crianças; Prendia mesmo mulheres e
as atirava em prisões. Certamente os gritos e as súpli -
cas das crianças devem ter cortado seu amargo cora -
ção mais que o martírio do fiel Estêvão. Ao afastar ho -
mens e mulheres de seus lares, as faces pálidas das
criancinhas devem ter impressionado sua alma de ma -
neira a humilhá-lo e perseguí-lo todos os dias de sua
vida.
Sua sinceridade — Somente uma coisa poderia
dar-lhe conforto em sua vida mais tarde, ao se recor -
dar destas terríveis experiências. Era isto, expresso
em suas próprias palavras: "Bem tinha eu imaginado
que

— 128 —

contra o nome de Jesus nazareno devia m pratiClf!


muitos atos". Saulo era sincero no que fu/ia. Não acre -
ditava que Jesus Cristo fosse o filho de Deus, c acredi -
tava que seria agradável ao seu Pai Celeslial fazer I o -
dos os crentes em Cristo negarem o Seu nome.
Assolava as Igrejas — Assim, Saulo assolava as
igrejas e quando havia aprisionado ou expulso de Je -
rusalém todo homem que podia encontrar e que con -
fessava Cristo, com sua alma "respirando ainda amea -
ças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se
ao Sumo Sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco
para as sinagogas, afim de que, se encontrasse alguns
daquela seita, quer homens quer mulheres, os condu -
zisse presos a Jerusalém". (Atos 9:1-2).
Dúvida — Damasco, fica a cerca de cento e cin-
coenta milhas ao norte de Jerusalém, e, assim sendo,
levaria cerca de uma semana para Paulo e seus acom -
panhantes vencerem a distância. Talvez durante
alguns daqueles dias de relativa inatividade, ele tivesse
começado a pensar se de fato o que estava fazendo era
cer. to. Talvez a face resplendente de Estêvão
agonizante e a última oração do mártir tivessem
começado a calar mais profundamente em sua alma do
que antes. Os gritos das criancinhas chorando pêlos
seus pais a quem Sau lo havia perseguido, começavam a
penetrar mais agu damente em sua alma e fizeram-no
sentir-se miserá vel e infeliz ao olhar para as outras
experiências que o aguardavam em Damasco. Faria o
trabalho do Senhor com que ele se sentisse tão
amargurado e nervoso, se es tivesse empenhado nele?,
Deve ter pensado Saulo. Lo go aprendei-ia que somente
o trabalho do mal produz aqueles sentimentos, e que o
verdadeiro serviço do Se nhor sempre trás paz e
contentamento.
Luz — Mas, fossem quais fossem os seus pensa -
mentos e sentimentos, a verdade é que ele se apressa -
va, com a determinação de prender todos os seguido-

— 129 —

rés de Jesus, que pudesse encontrar. Ao se aproximar


da cidade, contudo, "subitamente o cercou um resplen -
dor de luz do céu" Saulo caiu ao chão, e os homens
que estavam ao seu redor ficaram mudos em silêncio.
A revelação — Desde aquele momento, Saulo era um
homem mudado. Quando caiu ao chão, era um fa -
riseu orgulhoso e altivo, um perseguidor de
inocentes: quando se levantou, era um humilde
procurador da verdade, um arrependido seguidor
daquele a quem ha via perseguido. Do meio da luz
veio uma voz que di zia: "Saulo, Saulo, porque me
persegues?"
— "Quem és, Senhor?" perguntou Saulo.
— "Eu sou Jesus, a quem tu persegues", e então
acrescentou: "duro é para ti recalcitrar contra os
agui- Ihões".
Quando Saulo o compreendeu e viu que estava igin-
do errado, perguntou — "Senhor, que queres que
faça?"
— "Levanta-te e entra na cidade e lá será dito o
que te convém fazer", e não o que Saulo gostaria de fa -
zer, nem o que poderia fazer, mas o que conviria fa -
zer para ser aceito pelo Senhor. Saulo havia sido aben -
çoado com olhos, mas tinha estado cego espiritual -
mente. Agora ele estava cego fisicamente mas chega -
va luz ao seu espírito. Ao levantar-se nada podia ver e
seus acompanhantes o conduziram à cidade, onde se
hospedou em casa de Judas, numa rua chamada Di -
reita.
Ananias — Enquanto isto o Senhor, em visão, dis -
se a um de seus servos, chamado Ananias: "Levanta-
te e vai à rua chamada Direita, e pergunte em casa de
Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; pois
eis que ele está orando".
Mas Ananias respondeu: "Senhor, de muitos ouvi
acerca deste homem, quantos males tem feito aos
teus santos em Jerusalém; e aqui tem autorização
dos prin cipais dos sacerdotes para prender a todos os
que invo-

— 130 —

cam o teu nome". Ananias era dos que,


provavelmente, Saulo prenderia primeiro.
O Senhor disse a Ananias que fosse como huvhi
sido instruído pois Ele havia escolhido Saulo para "le -
var o Seu nome diante dos gentios e dos reis e dos fi -
lhos dTsrael".
Saulo é ministrado — Ananias procedeu de acor -
do com as instruções recebidas, e quando entrou na ca -
sa de Judas encontrou Saulo penitente, como cego. To -
da a impiedade do orgulhoso fariseu havia
desapare cido e ele orava pela luz — luz, em seus olhos
e luz em sua alma. Suas orações foram respondidas,
pois o hu milde servo de Deus pôs suas mãos sobre
ele e disse: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te
apareceu no ca minho por onde vinhas, me enviou
para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito
Santo".
Sua visão é restabelecida — E Saulo recebeu sua
visão imediatamente e levantou-se e foi batizado.
Isto era algo que precisava fazer se quizesse ser
contado como membro da Igreja de Cristo. Assim,
na conver são deste grande homem, encontramos
ilustrada a apli cação dos vários princípios do
Evangelho, isto é: Fé em Jesus Cristo;
Arrependimento dos maus atos; Ba- tismo e
reconhecimento da autoridade de Cristo na terra.

— 131 —

LIÇÃO 2A EM
OUTRA ESCOLA
"Todo o cabedal de conhecimento cai co -
mo um medifício ante uma única palavra
— Pé".
—x. x. x. x—

Durante muitos dias, que seguiram a sua maravi -


lhosa conversão e a restauração de sua vista, Saulo
permaneceu "com os discípulos que estavam em Da -
masco". Havia agora encontrado uma outra escola, e
como era esta diferente da escola em que antes se as -
sentara aos pés do sábio Gamaliel. Lá ele ouviu as ins -
truções dos homens mais sábios de seus dias; agora ele
ouvia a homens que eram julgados ignorantes. Lá
recebeu treino de intelecto; agora ele recebia treino da
alma. Lá ele estudou cegamente; agora ele estudava,
vendo verdadeiramente. Seu instrutor era um dos ho -
mens fiéis a quem ele desprezava e a quem viera pren -
der. "Nem Pedro, Tiago ou João, ou qualquer dos gran -
des e eminentes apóstolos precisaram ser ouvidos pa ra
instruir o sábio e talentoso Saulo, mas Ananias, um
cristão pobre e de coração simples de quem a Palavra
divina não fizera menção anteriormente, foi capaz, nas
mãos de Deus, de ensinar o mais bem aquinhoado de
todos os antigos conversos".
Verdadeiro zelo — A aprender horas seguidas, na -
queles dias memoráveis, sua alma incendiou-se com
verdadeiro zelo. "E logo nas sinagogas pregava a Je sus,
que este era o Filho de Deus".

— 132 —

O Espanto dos Judeus — Não nos c dito se qual -


quer dos homens que o acompanharam a Damasco se
converteu. Talvez vim ou dois o tenham feito; mas, sem
dúvida, alguns deles pensaram que Saulo havia se tor -
nado um traidor. Assim também pensaram os Judeus
em Damasco, que se espantaram e murmuraram entre
si: "Não é este o que em Jerusalém perseguia os que
invocavam este nome, e para isso veio aqui, para nos
levar presos aos principais dos sacerdotes?" Mas,
quanto mais eles se opunham a ele, com maior
eloquência defendia o nome de Jesus e provava a eles
que Jesus era o Cristo.
A Escola da Solidão — Após alguns dias de fla -
mantes disputas nas sinagogas, Saulo decidiu deixar
Damasco e fazer um retiro. Assim, despediu-se de seus
novos amigos, partiu para a Arábia, nas montanhas
perto do Mar Vermelho. Aqui ele recebeu instruções
na Escola da Solidão.
Da mesma forma que Moisés, Elias, João Batista e
mesmo o próprio Salvador, Saulo agora procurava
estar a sós com Deus e aprender a comungar com o Es -
pírito Santo.
Quanto tempo ficou lá não o sabemos. Tudo o que
ele diz sobre a sua viagem é que "parti para a Arábia,
e voltei outra vez a Damasco".

FUGA DE DAMASCO
Assim que ele volou à cidade em que havia sido
convertido, começou a pregar novamente nas sinago -
gas. Novamente os Judeus começaram a disputar com
ele, e novamente ele os confundiu. Dia após dia, e se -
mana após semana a controvérsia religiosa
prosseguiu até que os judeus não puderam mais
aguentar e "to maram conselho entre si para o
matar".

— 133 —

Todos os portões guardados — Ao redor da cidade de


Damasco havia um grande muro, e ninguém pode ria
entrar ou sair a não ser através dos portões. Por tanto,
quando os Judeus decid^r)am<mtitar Saulo, a
primeira coisa que fizeram foi tentar barrar sua saída.
Colocaram guardas em todos os portões tanto de dia
como de noite para poderem tirar-lhe a vida".
Mas Saulo tanto tinha amigos como inimigos, e
tinha um Amigo que o havia escolhido para uma gran -
de e útil missão, e enquanto Saulo tivesse fé, sua vida
seria poupada até que seu trabalho especial fosse exe -
cutado. Por inspiração ou de qualquer outra maneira.
Saulo sabia que seus inimigos estavam esperando por
ele, e assim manteve-se fora de seu caminho.
Sobre o muro — Felizmente, um de seus amigos
vivia numa casa construída perto dos muros da cidade
e dali alguns dos discípulos auxiliaram Saulo a fugir.
Puzeram-no num cesto e então vigiando cuidadosamen
te para ver se havia algum inimigo à vista, eles carre -
garam Saulo para o alto do muro, e baixaram-no do
outro lado. Assim aconteceu que enquanto os guardas
vigiavam dia e noite, para apanhar Saulo, aquele dis -
cípulo do Mestre estava a caminho de Jerusalém.

COM OS DISCÍPULOS EM JERUSALÉM

Três anos antes, ele havia deixado Jerusalém co mo


um oficial do Sinédrio, portador de comissão espe cial e
acompanhado de servos e oficiais. Partiu com
inimizade em seu coração por toda pessoa que profes -
sava acreditar em Jesus Cristo. Agora ele viajava de
volta, sozinho, rejeitado por aqueles a quem ele ha via
servido, um fugitivo dos judeus que, alguns anos antes,
esperavam aclamá-lo como herói» Mas Saulo sente-se
mais feliz agora, sozinho como está, do que quando foi
com pompa prender os servos de Deus. E

— 134 —

não obstante até nem pode esperar qualquer espécie


de boa acolhida em Jerusalém, Seus antigos antigos e
professores pensavam que ele havia se tornado um
traidor de sua causa e os Apóstolos de Jesus duvida -
vam de sua conversão". ... todos o temiam, não cren do
que fosse discípulo".
Barnabé — Mas havia um velho e verdadeiro ami -
go, colega de escola, e concidadão, que estendeu a Sau lo
uma mão amiga. Era Barnabé que "tomando-o con -
sigo o trouxe aos apóstolos" contando como Saulo ti -
nha sido convertido por uma luz e a voz do Senhor e
como 31e havja pregado em Damasco em nome de
Jesus.
Com este testemunho os Apóstolos aceitaram Sau -
lo, e deram-lhe sua companhia. Logo estava ele pre -
gando em Jerusalém com tanta ousadia como tinha
feito em Damasco. Em suas disputas com os gregos, ele
evidentemente os confundiu como havia feito com os
de Damasco e com o mesmo efeito: "tomaram con -
selho entre si para o matar".
Retorno a Tarso — Quando os irmãos ouviram
isto "o acompanharam à Cesaráia e o enviaram a
Tar so" de volta ao seu antigo lar aos seus pais e à sua
irmã. Mas que homem diferente era ele do que quando
>havia partido para praticar em Jerusalém! Em
nome, ainda "Saulo de Tarso", mas em natureza era
"Paulo e dis cípulo de Jesus Cristo".
Chamado a auxiliar Barnabé — Durante a perse -
guição na qual Estêvão foi martirizado, os Santos se
esparramaram para diferentes lugares c, onde quer
que fossem, pregavam as alegres novas de grande ale -
gria. "E a mão do Senhor era com eles; e grande nú -
mero creu e se converteu ao Senhor'.
Cristãos — Muitos desses conversos reuniram-se
em Antióquia e foi lá, como já sabemos, qu<' os Smilos
foram pela primeira vez chamiidos Cristãos. Foi pri-

— 135 —

meiramente aplicado este apelido a eles como a pala^/


vra Mórmon é aplicada à Igreja nestes dias, mas pojsí-
teriormente foi aceito como título honroso.
Barnabé procura Saulo — Barnabé, que "era um
bom homem, e cheio do Espírito Santo e de fé" foi in -
dicado para cuidar dos Santos naquela cidade. Encon -
trando uma grande oportunidade missionária naque le
campo, e desejando ter alguém capaz para ajudá-lo a
levar adiante o grande trabalho que lhe foi destina do,
Barnabé decidiu ir a Tarso, sua antiga cidade, para
encontrar Saulo. Que felicidade esses antigos colegas
de infância devem ter sentido quando novamente se
encontraram nas cenas familiares de seus dias de in -
fância. Não sabemos o que fizeram, nem o que disse -
ram, e nem o que seus antigos amigos e parentes pen -
savam de sua nova religião. O que sabemos, contudo, é
que Paulo aceitou o chamado para ir com Barnabé a
Antióquia. Lá "eles se reuniram naquela igreja e ensi -
naram muita gente". Esta parece ter sido a primeira
tarefa de Saulo na Igreja.
136

LIÇÃO 25 MENSAGEIROS
ESPECIAIS A JERUSALÉM
"Deus ordenou aos homens, necessitando
estes uns dos outros, a se amarem mutua -
mente, e a carregaem as cargas do pró -
ximo".
"Lamentar os infortúnios, é somente hu -
mano; aliviá-los é divino".
—x.x.x.x—
Ágabo — Enquanto Saulo e Barnabé estavam na
Antióquia, vieram profetas de Jerusalém, um dos quais
era chamado Ágabo. Acredita-se que ele tenha sido um
dos setenta escolhidos pelo Salvador; mas exatamen-te
que grau do sacerdócio ou que posição na Igreja ele
ocupava, não sabemos ao certo. Mas ele deve ter sido
um homem direito, e cheio do Espírito Santo, pois
podia prever através de inspiração do Espirito, coisas
que outras pessoas, por sua própria inteligência, não
podiam ver. No tempo do qual falamos, ele profetizou
que "haveria uma grande fome em todo o mundo".
Ofertas aos pobres -— Os discípulos tinham fé em
Ágabo e acreditavam ser verdadeiro o que ele dizia.
Conheciam alguns santos na Judéia, que não poderiam
suportar a fome; muitos deles haviam dado tudo o que
possuíam à Igreja; assim "os discípulos determinaram
mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos
irmãos que habitavam na "Judéia". Saulo e Harnabó
foram escolhidos como mensageiros de socorro.
— 137 —

Fome — Foi bom que assim tivessem procedido,


pois a fome veio com Ágabo havia previsto. Lucas nos
diz que aconteceu nos dias de Cláudio César (44 D.C.) e
os historiadores profanos nos dizem que foi tão seve ra
que até mesmo o imperador foi insultado no merca do
por aqueles que passavam fome.
Perseguição sob Herodes — Mais ou menos no tem po
em que os dois élderes foram enviados da Antióquia
para Jerusalém, houve uma amarga perseguição con -
tra os Santos; e "o rei Herodes estendeu suas mãos so -
bre alguns da Igreja para os maltratar; e matou à es -
pada Tiago, irmão de João". Aqueles foram os dias
nos quais Pedro foi aprisionado e acorrentado aos
seus guardas, mas através da intervenção milagrosa
de Deus foi solto por um anjo. Saulo e Barnabé talvez
estives sem presentes na casa de Maria, a mãe de João
Mar cos, unindo-se às orações para a preservação da
vida de Pedro, quando, como já aprendemos na lição
sobre Pedro, Rode anunciou a presença de Pedro à
porta.
Volta a Cesaréia — Após testemunhar esta mara-
vilh°sa manifestação de poder de Deus a favor de seus
servos, Saulo e Barnabé provavelmente tenham teste -
munhado como Deus pune os iníquos. Se assim foi.
aconteceu da seguinte maneira: Seu dever como men -
sageiro dos Santos da Antióquia havia sido fielmente
executado e o socorro enviado aos membros da Igreja
na Judéia, devidamente entregue a/queles a quem o
deveriam fazer. Haviam gasto muitos dias revendo ve -
lhos amigos e gozando da companhia, mesmo em per -
seguição, dos líderes e membros da Igreja de Cristo.
Estavam agora prontos para retornar e relatar os
seus trabalhos prestados à Igreja na Antióquia. Sua
viagem de volta os levou a Cesaréia. Talvez eles
tenham visi tado Cornélio, cujo lar, como você se
lembra, lá fica va. De qualquer modo, alguns dos que
estudaram cui dadosamente a vida e as viagens de
Saulo nos dizem

— 138 —

que ao voltar para Jerusalém, desta vez, ele testemu -


nhou a morte do perverso Rei Herodes. Weed
descreve a cena da seguinte maneira:
Morte, de Herodes — "O Imperador Cláudio havia
conseguido grandes vitórias na Grã-Bretanha. Ao vol -
tar a Roma, houve grande alegria. Herodes pensou
que obteria grandes favores do imperador, oferecendo
um grande festival em sua honra em Cesaréia, para
onde se apressou partindo de Jerusalém. Na manhã do
segundo dia, o teatro estava lotado com uma massa
enor me de seres humanos para presenciarem a
exibição desumana de gladiadores que lutavam
para diverti mento público. Herodes apresentou-se
vestido em ma ravilhoso manto, brilhando de prata.
Ao cair sobre ele os raios do sol da manhã, os olhos
dos espectado res foram feridos pelo brilhante manto.
Lisongeado por seus tolos gritos de admiração, ele
disse uma oração ao povo que gritava dizendo: "É a
voz de um Deus e não de um homem". Ele gostava de
assim ser chamado, ape sar de ser isto blasfémia,
dando a um homem o que pertence a Deus somente.
Imediatamente o anjo do Senhor feriu-o porque não
deu a glória a Deus". Esta experiência não foi
diferente da que Pedro teve na pri são, quando o anjo
do Senhor desceu sobre ele e o to cou na ilharga,
afastando-o da morte.
O golpe do anjo sobre Herodes feriu-o com uma
terrível doença, tal como a que havia causado a
morte de seu avô. Ele foi levado do teatro ao seu
palácioi on de permaneceu cinco dias em agonia até
que a morte encerrou sua vida no quinquagésimo
quarto ano de sua vida. Era o quarto ano do seu
reinado sobre a região onde havia reinado seu avô,
cujo mau exemplo ele se guiu para um fim igualmente
inglório.
Quando no teatro a cena foi repentinamente mu -
dada, das diversões gladiatórias e iníquas, para o
julgamento

— 139-

do rei, a multidão fugiu horrorizada, abando,


liando MS roupas de acordo com o costume.
João Marcos — Todas estas coisas e muitas mais,
Paulo c H;irnnt>é relatariam aos santos ao voltarem
a Anlióqiiia. Lucas nos diz que após terem cumprido
seu niinislrrio, eles voltaram de Jerusalém e levaram
com (Mrs João cujo sobrenome era Marcos".
Interessantes reuniões foram realizadas na
Antió- i|iiia, nas quais o relatório da missão de Saulo
e Bar- nabé foi dado. Presentes a estas reuniões e
residentes na Antióquia nesta ocasião, haviam "alguns
profetas, doutores a saber: Barnabé e Simeão,
chamado Níger, e Uúcio Cireneu e Manahen, que fora
criado com He-rodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo
eles ao Senhor e jejuando, disse o Espirito Santo:
"Apartai-me a Bar nabé e a Saulo para a obra a que os
tenho chamado". Eles haviam se desempenhado de um
dever com fideli dade e estavam agora melhor
preparados para um maior, para o qual o Senhor os
havia escolhido. Tra tava-se de uma missão especial
aos gentios.
Algum tempo mais tarde, após terem orado e je -
juado, alguns dos profetas e mestres impuseram suas
mãos sobre os missionários escolhidos, abençoaram-
nos e mandaram que se preparassem para sua viagem.

— 140-
LIÇÃO 26 PRIMEIRA

VIAGEM MISSIONÁRIA

"Permita que sua religião seja vista. As


lâmpadas não falam, brilham. Um farol
não toca nenhum tambor, não soa
nenhum gongo; não obstante, longe, longe
no ocea no sua luz amiga é vista pelo
navegante".

—x. x. x. x—

Logo após as reuniões especiais mencionadas no


último capitulo, S. Paulo, Barnabé e João Marcos ini -
ciaram sua missão que é conhecida como a primeira
viagem missionária de Paulo.
Em Chipre. — Partindo da famosa cidade de Atió-
quia, na Siria, eles navegaram rio abaixo para a Se-
lêucia, um porto do Mar Mediterrâneo. Ali embarca -
ram no mar aberto, e navegaram para o sul, para a
ilha de Chipre.
Desembarcando em Salamina, um porto de Chipre,
os missionários iniciaram seus trabalhos
imediatamen te, pregando a palavra de Deus na
sinagoga dos Judeus. Ali Barnabé estava em casa, e
sem dúvida experimen tou grande alegria em pregar
o Evangelho aos seus antigos amigos e companheiros
de brinquedos. Mas de ve ter ficado profundamente
aborrecido por ver o gran de número deles que
rejeitou sua mensagem e conti nuou em pecado e
idolatria.

— 141-

Os gentios nesta ilha adoravam a deusa Vénus, a


quem haviam construído um Templo e ofereciam sa -
crifícios .
Sua religião, em vez de torná-los mais puros em
seus pensamentos e mais virtuosos em suas ações, os
fazia pecadores. Assim Saulo e seus companheiros
acharam o povo de f a l o muito iníquo. Onde quer que
fossem, êsles Ires missionários pregavam o único evan -
gelho verdadeiro, e chamavam os homens em todos os
lugares ao arrependimento.
Viajaram por Ioda Chipre, uma distância de cerca
de cem milhas, falando ao povo sobre Cristo o Re -
dentor do Mundo.

K M >PAFOS

O Governador ouve o evangelho. — Na parte su -


doeste de Chipre encontrava-se a principal cidade da
ilha. chamada Pafos. lira ali que o governador roma -
no ou, como diy. laicas, o procônsul vivia. Como era
seu costume, logo após sua chegada os missionários
entraram na cidade c proclamaram sua mensagem ao
povo. Quando o governador Sérgio Paulo ouviu falar
deles, "chamando a si llarnabó e Saulo, procurava
muito ouvir a palavra de Deus". Lucas diz que ele era
um "varão prudente" e, assim sendo, concluímos que
tenha sido sincero em seu desejo de conhecer a
verdade.

ELIMAS, O ENCANTADOR
Um encantador rejeita o evangelho. — Vivendo em
casa do preconsul, na ocasião, havia um homem que
não era sincero e que dizia ser um encantador. Ele
rejeitou a mensagem de Saulo e opoz-se aos seus ensi -
namentos. Barjesus era o seu verdadeiro nome e era

— 142 —

judeu e falso profeta. Saulo leu seu coração per verso e


sabia que era por egoísmo e amor ao dinheiro que ele
rejeitava o Evangelho.
Então Saulo, também chamado Paulo, "cheio do
Espírito Santo e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do
diabo, cheio de todo engano e de toda malícia, ini migo
de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos
caminhos do Senhor?"
"Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e
ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo".
O Governador Crê. — Sérgio Paulo, contudo,
"creu, maravilhado, na doutrina do Senhor". Muitos
outros também acreditaram e na perversa cidade de
Pafos onde os habitantes adoravam a deusa do amor,
uma igreja foi organizada, e um pequeno corpo de
cris tãos se reuniu para adorar o verdadeiro Deus e Seu
Filho, Jesus Cristo.

EM PAMFÍLIA

De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram


em direção ao norte, para Perge na Panfília. Neste
lugar algo aconteceu sobre o qual devemos aprender
mais. Tudo o que Lucas relata é o seguinte: "Mas
João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém".
Sabemos que mais tarde, esta circunstância
tornou-se uma questão de grande disputa entre
Barnabé e Paulo, mas o motivo exato, porque João
quiz voltar, não nos foi dito. Talvez, não tivesse sido
sua intenção viajar para tão longe; ou talvez assuntos
em sua casa necessitassem de sua atenção; ou talvez
tenha sido muito sensível e julgado que "dois é bom,
três é de mais". Mas, seja qual for a causa, Paulo e
Barnabé tinham que continuar sua viagem sem o jovem
Marcos. Mais tarde ele reiniciou seus trabalhos
missionários, via jando com Barnabé. Não há nenhum
registro de que

_ 143—

ele tenha reiniciado suas viagens com Paulo; apesar


do último ter escrito sobre ele mais tarde, como um
conforto, e um companheiro no reino de Deus.

NA PISÍDIA

Através de Montanhas. — De Perge, na Panfília,


Paulo e Barnabé continuaram para o norte, para a
Antióquia, na Pisídia. Dia após dia, estes dois missio -
nários viajaram a pé através duma região
montanhosa, onde poucas pesoas moravam. Algumas
vezes, talvez, eles tenham podido encontrar
alojamento com algum pastor, mas, mais
frequentemente, dormiam em caver nas ou entre as
árvores. Mas tinham uma mensagem de salvação em
seus corações e por isso sentiam-se fe lizes. Após cerca
de sete dias de viagem cansativa e perigosa chegaram
a Antióquia, na Pisidia.
Na sinagoga. — Ao chegar o dia de sábado, como
era seu costume ,os missionários foram à sinagoga, e
sentaram-se com a congregação. Após os líderes terem
lido a lei e os profetas, perguntaram aos visitantes se
eles tinham "alguma palavra de consolação para o
povo". Ao ouvir isto, Paulo levantou-se e pronunciou
um sermão muito expressivo, tão expressivo que o
povo convidou Paulo para falar novamente no
próximo sá bado. "Muitos que estavam presentes
aceitaram o Evan gelho". (Atos 13:14-21).
"E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a ci -
dade a ouvir a palavra de Deus.
"E então os judeus, vendo a multidão, encheram-
se de inveja: e blasfemando, contradiziam o que Paulo
dizia": "Sua oposição e contradição fez com que os
missionários se tornassem mais empolgados e positi -
vos, quando era aparente que os Judeus não
aceitariam a verdade, Paulo e Barnabé, usando de
ousadia disse ram: "Era mister que a vós se pregasse
primeiro a

_ 144—

palavra de Deus; mas visto que as rejeitaes, e vos não


julgaes dignos da vida eterna, eis que nos voltamos
para os gentios". Quando os gentios ouviram isto,
alegraram-se e muitos deles aceitaram os princípios do
Evangelho.
Judeus ciumentos. — Os judeus ficaram enciuma -
dos; encheram-se de inveja e decidiram expulsar os
missionários para "fora de seus termos". Isto eles fi -
zeram com o auxílio de "mulheres religiosas e hones -
tas, e os principaes da cidade". A perseguição se tor -
nou tão grande que Paulo e Barnabé "sacudindo con -
tra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio.
EM ICÔNIO
Novamente na sinagoga. — Cheios da alegria que
vem do verdadeiro serviço ao próximo, Paulo e Bar -
nabé, começaram sua pregação em Icônio. Entrando na
sinagoga, como haviam feito na cidade da qual aça
bavam de ser expulsos, "falando ousadamente acerca
do Senhor, o qual dava testemunho da palavra da sua
graça, permitindo que por suas mãos se fizessem si nais
e prodígios".
Novamente contraditos. — Judeus e gregos se ajun.
taram ao redor do estandarte que era levado por estes
grandes missionários; mas também judeus e gregos se
organizaram para se opor a eles. O resultado foi que a
cidade de dividiu, "uns eram pêlos judeus e outros
pêlos apóstolos".
Ouvindo que se havia organizado uma trama para
causar-lhes danos e apedrejá-los, Paulo e Barnabó re -
tiraram-se da cidade e foram a "Listra e Derbe, ruln-
des da Lycaonia, e para a província circunvi/inlin".
_ 145—

LIÇÃO 27

Á PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA —

(continuação) EM LISTRA E DERBE

"Os ataques externos e as atribulações


mais firmam do que abalam o Cristão, da
mes ma forma como as tempestades só
servem para melhor firmar o carvalho ao
solo".

"Se Deus puzer Seus filhos na fornalha,


Ele estará na fornalha com eles, com toda
certeza".

—x. x. x. x—

Entre os pagãos. — Em Listra, Paulo e Barnabé en -


contraram um povo que era quase inteiramente pagão,
pois adoravam Júpiter, Mercúrio e outros deuses fal -
sos, e sabiam pouco ou nada sobre o verdadeiro Deus.
Havia judeus entre eles mas não em número suficiente
para construir uma sinagoga.
O país era selvagem e inculto e os seus habitantes
eram bem parecidos com o país. Eram "pobres, de
pequeno conhecimento e rudes no vestuário e nas ma-
lieiras". Um povo assim é comumente acanhado entre
extranhos e vagaroso para aceitar qualquer coisa no -
va. Mas assim que começa a ganhar confiança no
extranho, pode ser facilmente levado por ele, não ten -
do opiniões próprias muito definidas.

— 146 —

A doutrina pregada por Paulo e Barnabó, era no va


para eles, e após um certo tempo começou a dfci*
perlar sua curiosidade, e então o seu interesse.
Povo escolhido entre eles. — Alguns dos mais in-
teligentes compreenderam a verdade e a aceitaram.
Para que não se pense que entre os pagãos não existia
povo superior, mencionarei que entre estes pagãos ha -
via pelo menos uma família cuja participação na
Igre ja a Bíblia menciona, e em Derbe havia outras.
Timóteo. — Nestas cidades, fora da perseguição e
aflição que desciam sobre eles, movidas pêlos igno -
rantes e maus, Paulo e Barnabé trouxeram à fé
alguns dos melhores membros da antiga Igreja. Entre
estes encontrava-se Timóteo, a quem Paulo mais
tarde cha mou seu filho; Eunice, a Mãe de Timóteo e
Loide, avó de Timóteo, cuja fé Paulo comentou anos
mais tarde-Sem dúvida, somente a amizade deste
nobre povo pa gava Paulo em sobejo por toda
perseguição que ele sofreu durante sua primeira
missão.
Mas, para o povo em geral, a mensagem era
extra- nha e incompreensível, Eles não podiam separar
a dou trina de Cristo de suas divindades pagãs, como
nos mostra uma admirável experiência.
Um Milagre. — Paulo e Barnabé e alguns conver -
sos estavam reunidos um dia ao ar livre. Na audiên cia
sentava-se um homem "leso dos pés" que tinha esta do
aleijado desde o seu nascimento e que jamais havia
andado. Este fato, naturalmente, todo o povo sabia,
pois muitos estavam familiarizados com ele e tinham
visto ser ele carregado à reunião. "E ouviu falar
Paulo" e a convicção entrou em seu cansado coração
de que o que Paulo dizia era verdadeiro. Paulo olhou
para ele e "vendo que tinha fé para ser curado",
disse: "Le vanta-te direito sobre teus pés", isto
ordenado pelo po der do Redentor.

— 147 —

"E ele saltou e andou". Quando o povo viu isto,


levantou-se um clamor na cidade e disseram em sua
linguagem, que era uma mistura de grego e sírio:
"Chamaram a Paulo e Barnabé pêlos nomes de seus
deuses. Barnabé era alto, assim eles o chamaram Jú -
piter; e Paulo, sendo baixo e orador de talento, eles
chamaram Merciirio, porque Mercúrio era o deus da
instrução e da eloquência.
Oferecer Sacrifícios. —- Algum tempo após a reu -
nião, os sacerdotes de Júpiter que oficiavam no templo
de Júpiter que havia na cidade, decidiram oferecer sa -
crifícios aos seus deuses, personificados em Paulo e
Barnabé. Assim, todos eles, juntaram-se nos portões
da cidade, trouxeram touros e começaram a fazer os
pre parativos para oferecer sacrifícios.
Os missionários protestam. — Quando «Paulo e Bar -
nabé ouviram isto, correram para entre o povo e "ras -
garam os seus vestidos" em protesto contra tal sacrifí -
cio. Rasgar seus vestidos era uma expressão de inten -
so sentimento e o povo o compreendeu. Além de fa zer
isto, eles gritaram: "Varões, porque fazeis estas
coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos
às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos conver -
testes dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu e a
terra, e o mar e tudo quanto há neles".
Paulo apedrejado. — Contudo, eles mal podiam
evitar que o povo os adorasse, mas alguns judeus ha -
viam seguido os missionários da Antióquia e Icònio
tendo convencido a multidão que Paulo e Barnabé
eram impostores, e que o milagre tinha sido feito pelo
poder do mal. Instaram o povo de tal maneira que, em
vez de adorarem a Barnabé e Paulo, apanharam
pedras e ape drejaram Paulo até que este caiu ao chão,
aparente mente morto. Pensando que estivesse morto,
a multi dão então arrastou seu corpo para fora da
cidade e o abandonou.

148

Um monstro de muitas cabeças. — Esta multidão


era como um monstro de muitas cabeças. Primeiro
estavam prontos a adorar os homens como deuses e
então, apenas em alguns minutos tornaram-se tão
per versos que chegariam a manchar sua alma com
um assassínio.
Paulo volta a si. — Dispersada a multidão, ao re -
dor do corpo silencioso e sangrento que ainda jazia
inerte ao solo, reuniram-se alguns discípulos fiéis e inte -
ligentes que haviam acreditado no verdadeiro evange -
lho . Como devem ter ficado satisfeitos e gratos quando
viram Paulo mover-se e mais; tarde recobrar seus
sentidos!
Ele havia sido apedrejado, mas não ferido seria -
mente assim uns poucos cuidados deram-lhe força pa -
ra se manter sobre seus pés e caminhar de volta à
cidade.
Gaio. — No dia seguinte ele saiu de Listra e via -
jou vinte milhas, para Derbe. Aqui ele pregou com
ousadia e efetivamente, e converteu muitos à
verdade, e entre eles um homem chamado Gaio, que
provou ser um amigo firme e verdadeiro de Paulo e
da Igreja em geral.
Outro ramo organizado. — Como haviam feito em
outras cidades, os missionários organizaram em
Derbe um ramo da Igreja e ordenaram Élderes para
dirigi-lo. Instruiu a estes e se reuniram a eles e com os
membros em jejum e oração, e "os encomendarem ao
Senhor" e deles se despediram, pois havia chegado o
tempo em que os primeiros missionários da
Antióquia deveriam regressar para seu lar,
De volta a casa — Eles visitaram todos os ramos,
pregando o Evangelho, instruindo, abençoando e
con fortando os Santos em Listra e nas regiões
circunvizi nhas. Voltaram então quarenta milhas
para Icònio e sessenta milhas para Antióquia, na
Pisidia. De lá,

— 149 —

partiram para Gergue na Panfilia e navegaram de


Atta- lia para Antióquia, na Síria.
Aqui os Santos se reuniram e lhes deram boas vin -
das, e ouviram o relato dos Élderes de "quão grandes
coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios
a porta da fé".

— 150 —
LIÇÃO 28 UMA
GRANDE CONTROVÉSIA
Textos: Atos 15 1-35.
"A união dos cristãos em Cristo, sua ca -
beça comum, por meio da influência que
dele emana, pode ser ilustrada por um
imã. Não somente junta as partículas de
ferro a si mesmo por sua virtude magné -
tica, mas também por esta virtude as une
umas às outras".
—x.x.x.x—
Os judeus espalhados pelo império — Ao seguirmos
Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missio nária,
notamos que em quase todas as cidades que visi taram
Judeus e que judeus estavam espalhados por quase
todo o império romano. Estavam nas costas e Ühas da
Ásia ocidental, no litoral do Mar Cáspio, e alguns se
encontravam até mesmo na China.
Os judeus mantinham-se em sua religião — Mas não
importa onde o judeus vivesse, ele sempre manti nha
sua religião e estudava cuidadosamente a Lei de
Moisés. Foi isto que Tiago quiz dizer quando disse
"Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade
quem o segue, e cada sábado é lido nas sinagogas". Sua
religião os ensinava a não se misturarem com os gen tios
em casamento ou intercurso social.
Os gentios, por outro lado, olhavam com desprezo
para os judeus, enquanto as festividades alegres e li -
cenciosas da adoração grega e romana fazia com que

— 151 —

chocada; pois obedecer seria quebrar a Lei de seus


antepassados, associando-se aos gentios. Os cristãos
judeus que estavam com Pedro desde Jope até
Cesaréia, admiraram-se quando viram o dom do Espi -
rito Santo derramado sobre os "imundos" gentios.
Quando Pedro chegou a Jerusalém, foi acusado não so -
mente de ter se associado com gentios mas também co -
mido com eles. Porém Pedro havia aprendido por Re -
velação que "o que Deus purificou" ninguém os judeus
olhassem com desprezo para os gentios. Eles faziam,
negócios entre si, e se misturavam em seus afa zeres
diários, mas de regra, era só até aí que iam suas
ligações. Diriam com Shylock (Mercador da Veneza,
Ato I, Cena 3): "Comprarei com você, venderei com
você .falarei com você, caminharei com você e assim
por diante; mas não comerei com você, não beberei
com você e nem orarei com você".
Naturalmente havia certqs gentios que algumas
vezes se convertiam à religião judaica e havia alguns
que se casavam com mulher judia, mas a barreira de
desapreciação e suspeita não se desfazia.
Os Preconceitos de Pedro — Como já vimos, foi difícil
para o Senhor convencer Pedro de que os gen tios
mereciam ser batizados na Igreja de Cristo. Pedro viu
numa visão uni grande lençol descendo dos céus no
qual havia animais imundos e ele ouviu uma voz:
"Levanta-te Pedro, mata e come". Mas Pedro disse
"De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa
alguma comum ou imunda". (Veja toda a experiência).
A Revelação de Pedro — Quando Pedro compre -
endeu o significado da visão, toda a sua natureza ju dia
ficou deveria chamar "Comum ou imundo", que o
Senhor "não faz acepção de pessoas" e que tôdasi as
nações que O acei tam, O temem e trabalham com
justiça, podem rece ber Suas bênçãos.

— 152 —

A QUESTÃO É AGITADA
A Igreja é agitada — Mas havia muitos judeus na
Igreja que não criam nisto e a única condição sob a
qual aceitariam um gentio, era que estes deveriam
também obedecer à religião mosaica. Quando esta
classe de Cristãos ouviu que Paulo e Barnabé haviam
batizado centenas de gentios .ficaram muito agitados
em seus sentimentos, e alguns deles foram a Antióquia
e começaram a pregar, primeiro particularmente e de -
pois publicamente, que a menos que os gentios obede -
cessem um certo rito judeu, não poderiam ser salvos.
Paulo e Barnabé haviam dito aos Santos que a obediên -
cia ao Evangelho de Cristo salvaria os Gentios da mes -
ma forma que os judeus e que os gentios não tinham
que se tornar judeus. Estes homens do principal ramo
da Igreja declararam que Paulo e Barnabé estavam
errados. Sem dúvida aqueles que dentre os gentios se
voltaram para Deus estavam perturbados e perplexos.
A controvérsia se tornou tão aguda que ameaçou de
afastar alguns da Igreja.

MENSAGEIROS ENVIADOS A JERUSALÉM


Mensageiros a Jerusalém — Assim foi determinado
que Paulo e Barnabé e outros dentre eles fossem a
Jerusalém e levassem esta questão perante os apósto los
e anciãos.
A Igreja em Antióquia, evidentemente acreditava
que (Paulo e Barnabé estavam certos pois quando ini -
ciaram sua viagem foram acompanhados em seu ca -
minho pela Igreja. Ao passarem através da Siro-^Fení-
cia e Samaria, e dizerem aos Santos que os cumpri -
mentavam, como os gentios haviam sido convertidos,
«lês "davam grande alegria a todos os irmãos".
A Terceira visita de Paulo — Esta foi a terceira visita
de Paulo a Jerusalém desde a conversão. A pri-

— 153 —

meira foi três anos após ter se afiliado à Igreja, quan do


ele passou duas semanas com Pedro e então fugiu por
estar em perigo de vida. A segunda foi quando ele
acompanhou os mensageiros que trouxeram socorro
aos Santos na Judéia durante a fome. Foi nesta oca sião
que Pedro foi condenado à morte. Quinze anos haviam
se passado desde que ele havia partido de Je rusalém
para Damasco, com papéis para prender to dos os
Cristãos que encontrasse. Agora ele entra na ci dade
como defensor de uma das maiores verdades que a
Igreja Cristã do mundo pode conhecer, isto é, que Deus
não faz acepção de pessoas, mas que abençoará toda
nação que obedeça os princípios de vida e sal vação.

NO CONSELHO COM OS LÍDERES


Tito — Ele primeiramente se reuniu a Pedro, Tia go
e João, e recebeu pela primeira vez, pelo que nos é dado
conhecer, "a mão direita e amizade" de João, o
discípulo amado. Tito estava com Paulo como um
exemplo do que eram os conversos gentios.
Um Apelo à Presidência — Esta visita foi realmen te
um apelo à Presidência dos Doze, e confirma a cren ça
dos membros da Igreja hoje em dia, que Pedro, Tia go e
João foram nomeados lideres naquela ocasião, da
mesma forma como temos hoje os três Sumo Sacerdo tes
que são escolhidos como a Primeira Presidência da
Igreja de Cristo.
Uma reunião importante — Finalmente a grande
reunião. Foi uma cena de grande debate e talvez, em seu
início, de grande discussão, mas finalmente Pedro se
dirigiu à audiência e contou como Deus lhe havia
revelado a fato de que os gentios podiam aceitar o
Evangelho sem obedecer todas as cerimónias judaicas.
Os Missionários testificam — Então Paulo e Bar-
nabé falaram em meio a grande silêncio, todos os olhos

— 154 —

estando como que presos a esses dois grandes missio -


nários que haviam sido os primeiros a organizar ra mos
da Igreja entre as nações dos gentios. Finalmen te,
Tiago, o irmão do Senhor, que era conhecido entre os
judeus como "Tiago o Justo", levantou-se e procla mou
a decisão do conselho, que estabelecia a união dos
cristãos judeus e gentios.

PAULO VOLTA A ANTIÓQUIA

Judas e Silas — Assim terminou a controvérsia e a


missão de Paulo aos gentios estava oficialmente
aprovada. Quando ele partiu de volta a Antióquia,
achava-se acompanhado de Judas, cujo sobrenome era
Barsabás e Silas que era chefe entre os irmãos. Pare ce
que João Marcos também partiu com eles. Levaram
com eles o decreto do conselho para ser lido às Igrejas
que haviam sido tão perturbadas com a controvérsia.
Quando chegaram a Antióquia, toda a Igreja se
reuniu, para ouvir a decisão do conselho. Podemos
imaginar com que interesse e consolo os Santos ouvi -
ram o decreto de que não deveria haver uma igreja
para os gentios e outra para os judeus, mas que todos
que sinceramente criam em Cristo e obedeciam Seu
evangelho seriam salvos.

-155 —

LIÇÃO 29
PAULO INICIA SUA SEGUNDA VIAGEM
MISSIONÁRIA
"O homem deveria confiar em Deus, co mo
se Deus cuidasse de tudo, e não obs tante,
trabalhar tanto como se ele mesmo fizesse
tudo".
—x. x. x. x—
Paulo deseja visitar os ramos — Depois que Silas e
Judas Barsabás permaneceram na Anüóquia por al -
gum tempo "ensinando e pregando a palavra do
Senhor" com Paulo e Barnabé e "muitos outros",
Judas prova velmente retornou a Jerusalém, e "pareceu
bem a Si Ias ficar ali". Dois anos se passaram desde
que Paulo e Barnabé haviam voltado de sua primeira
missão e Paulo quiz visitar novamente as igrejas que
eles ha viam estabelecido naquela memorável viagem.
Assim, um dia ele disse a Barnabé: "Tornemos a
visitar nos sos irmãos por todas as cidades em que j/á
anuncia mos a palavra do Senhor, para ver como
estão".
Desacordo — Barnabé logo consentiu, mas disse
"Vamos levar meu primo João Marcos conosco".
"Não", respondeu Paulo, "não adianta levar Marcos
conosco pois ele se afastou de nós em Pamfilia e não foi
trabalhar conosco".
Separação — Mas Barnabé sabia porque Marcos
havia feito aquilo e tinha certeza de que ele não de -
sistiria desta vez. Paulo contudo não consentiu e assim
estes dois grandes missionários concordaram em se se -
parar e cada um tomar seu próprio companheiro. Bar-

— 156 —

nabé escolheu João Marcos e Paulo escolheu Silas. Eles


provavelmente concordaram que Barnabé e Mar cos
fossem visitar as igrejas nas ilhas e Paulo e Silas
visitariam as do continente.
Não nos consta que Paulo e Barnabé jamais te -
nham se encontrado novamente, mas Paulo se refere a
ele posteriormente, como um apóstolo ativamente
empenhado no serviço do Mestre. Marcos também, pos -
teriormente, conquistou a confiança de Paulo, pois
mais tarde se refere a ele como um companheiro de
trabalho e um dos que tinham sido úteis no ministério.
Barnabé e Marcos em Chipre — Barnabé e Marcos
partiram primeiro e navegaram para Chipre, a ilha
natal de Barnabé. Aqui Marcos também se sentiria em
casa, pois foi onde iniciou seu trabalho missionário.
Aqui os deixaremos entre os novos cristãos e seguire -
mos Paulo e Silas.
PROVÁVEL VISITA À TERRA NATAL DE PAULO
Estes dois missionários iniciaram por terra, em di-
reção ao norte, através da "Síria e Sicília, confirman -
do as igrejas". Levaram com eles, naturalmente, a de -
cisão do Conselho que, sem dúvida, deu grande con -
forto aos gentios cristãos nestes ramos.
Exatamente quais cidades Paulo e Silas visitaram
na Siria e na Sicília, não sabemos; mas havia uma pe la
qual Paulo certamente passaria: a sua cidade natal,
Tarso. Se ele conseguiu estabelecer uma igreja lá, com
que alegria e satisfação ele não retornaria agora. Pau -
lo sempre foi muito orgulhoso de Tarso e referiu-se a
ela mais tarde como "cidade não pouco célebre".
EM DERBE E OUTRAS CIDADES
Derbe, Primeiro — Em sua primeira viagem Pau lo
e Barnabé visitaram, por ordem, Icônio, Listra e

— 157 —

Derbe. Agora ele e Silas se aproximam destas cidades


em ordem contrária, visitando Derbe primeiro e en tão
Listra e Icônio.
Bem recebidos em Listra — Em Listra a sua che -
gada foi comemorada pela bela Eunice que era judia, a
mãe de Timóteo, Loide, sua avó e seu companheiro
Silas.
CHAMADA E ORDENAÇÃO DE TIMÓTEO

Timóteo é fiel — Em Icônio e Listra, Paulo soube


pêlos irmãos que aquelas boas mulheres e seu nobre
filho, Timóteo, haviam sido fiéis (à fé. Ele já sabia que
Timóteo havia sido instruído desde a infância a repar -
tir as escrituras e a viver uma vida pura. Timóteo foi
um dos que permaneceram ao seu lado quando a mul -
tidão o arrastou para fora da cidade e o abandonou
como morto e agora ele ainda encontra no coração do
jovem a fé que primeiro tinham sua avó Loide e sua
mãe Eunice. Sem dúvida, Paulo disse à senhora: "Eu
desejo que Timóteo me acompanhe".
Timóteo é ordenado — A mãe consentiu e Timó teo
foi ordenado pela imposição das mãos, para ser um
missionário e servo do Senhor Jesus Cristo. Paulo
posteriormente chamou este jovem "meu verdadeiro
filho na fé", (l Tim. l :2) Este fato confirma a verda de
contida no Artigo de Fé que declara ser crença dos
Santos dos Últimos Dias que "um homem deve ser cha -
mado por Deus, por profecia e pela imposição das
mãos por aqueles que tenham autoridade para pregar
o Evangelho e ministrar as suas ornenanças".
Para a Galácia — Após batizar muitos mais con -
versos e estabelecer as Igrejas na fé, e sem dúvida vi -
sitando a Antióquia, Pisidia e outras cidades no inte -
rior onde ele e Barnabé organizaram ramos da Igre ja,
Paulo, Silas e Timóteo se dirigiram para a direcão
norte, através da região da Galácia.

— 158 —

Paulo adoece — Enquanto estavam atravessando


aquela região Paulo adoeceu. Que espécie de doença?
não sabemos se era "o espinho na carne". O certo é
que ele estava muito doente, e ficou detido na Galácia,
aparentemente contra sua vontade. A despeito de sua
doença, contudo, ele pregou o Evangelho ao povo e
muitos creram. A maneira como ele amava os amigos
que fez naquela ocasião, pode ser parcialmente com -
preendida por uma carta que ele lhes escreveu na qual
ele diz: "E vós sabeis que primeiro vos anunciei o
Evangelho estando em fraqueza da carne; e não re -
jeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação
na minha carne antes me recebestes como um anjo de
Deus, como Jesus Cristo mesmo. Porque vos dou
testemunho de possível fora, arrancaríeis os vossos
olhos e m'os darieis". (Gal. 4:13-15).
Naquela mesma carta ele os chama "meus filhi-
nhos" (Gal. 2-19) e expressa o desejo de estar com eles
novamente e fortalecê-los no Evangelho.
Ramos estabelecidos — Antes dos missionários dei -
xarem a Galácia, ramos da Igreja foram organizados,
e a carta de Paulo a eslas Igrejas é parte do Novo Tes -
tamento.
Rumo ao Oeste — Partindo da Galácia, os três via -
jantes continuaram para o oeste, em direcão ao Mar
Egeo, e "tendo passado por Misia, desceram a Troas",
cujo nome completo era Alexandria Troas. Paulo ti nha
suas vistas voltadas para a Europa e deste lugar podia
olhar através do Mar Egeo e ver as distantes co linas
da Macedônia".
Uma visão — Certa noite ele foi para a cama, tal -
vez pensando no povo que vivia no outro lado das
águas e inspirado com o sentimento de que o Senhor
queria que ele fosse para eles. Naquela noite apareceu
a ele uma visão, na qual "se apresentou um varão da

— 159 —

Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia e


ajuda-nos".
Lucas — Mas antes deles tomarem o barco para
atravessar, ele e seus companheiros haviam recebido
entre eles outro converso fiel a quem introduziremos
agora em nossa lição. Pode ser que Paulo o tenha en -
contrado quando estava doente pois o homem era um
médico, e podia ser de grande utilidade para ele em
sua doença. Este novo companheiro fez várias notas e
posteriormente escreveu os "Atos dos Apóstolos" em
que aprendemos a maioria das coisas que ora estamos
estudando. Seu nome era Lucas, chamado por Paulo
"o amado médico".
Paulo contou sua visão aos irmãos e "imediata
mente" Lucas disse: "e logo depois desta visão, pro -
curamos partir para a Macedônia, concluindo que o
Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evange
lho".
Eles navegaram de Troa, em caminho direito atra -
vés da Samotrácia e no dia seguinte para Nápoles e
dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte
da Macedônia.

— 160—

LIÇÃO 30
EM FILIPOS

"O Evangelho é a realização de todas as


esperanças, a perfeição de toda filosofia, o
intérprete de todas as revelações, e uma
chave para todas as aparentes contradi -
ções da verdade no mundo físico e moral".

—x. x. x. x—

Nas margens do rio — Perto da cidade de Filipos,


corria o rio Gagitas. Em suas margens "fora das por -
tas" achava-se um lugar de oração, provavelmente ao
ar livre, no qual algumas pessoas se reuniam para
adorar ao Senhor. Não havia sinagoga em Filipos e os
poucos judeus que lá se encontravam se reuniam nes te
lugar, "lá beira do rio" para orarem. Quando chegou o
primeiro dia de sábado, após terem os Élderes estado
em Filipos por vários dias, foram a este lugar de ora -
ção "e falaram às mulheres que ali se ajuntaram".
O Evangelho é pregado — Sem dúvida os homens maus
acusaram os missionários naqueles dias de afas tarem
as mulheres do bom caminho da mesma forma como
os inimigos acusam os Élderes da Igreja hoje em dia.
Mas as mentiras e as falsas acusações não podiam
evitar que Paulo e seus companherios continuassem
seu trabalho. A estas mulheres, eles pregaram o
Evangelho de Jesus Cristo e contaram a história de
Sua vida, Sua morte cruel e Sua gloriosa ressurreição.

— 161—

LÍDIA

Entre o grupo que ouvia a maravilhosa mensa gem,


achava-se uma certa mulher chamada "Lídia" que
vivia em Tiatira mas que estava naquela ocasião em
Filipos, cuidando de seus negócios relacionados com a
venda de púrpura. Ela vendia corantes e púrpura
usados pêlos ricos e pela nobreza. O Senhor lhe deu
um testemunho da verdade, como Paulo a explicou e
ela pediu para ser batizada. Ela e sua casa foram ad -
mitidas como membros naquele dia. Se Lídia foi a pri -
meira a ser batizada, então ela teve o privilégio de ser
a primeira pessoa na Europa a aceitar o cristianismo.
Se a referência à sua "casa" significa que ela tinha
filhos ou se se refere somente aos seus escravos ou a
ambos, não sabemos, mas eles se tornaram o núcleo de
um ramo esforçado da Igreja naquela cidade, e na
cidade de Lídia também.
Após o batismo, Lídia convidou os missionários
para irem 'à sua casa e disse: "Se haveis julgado que
eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa".

A PITONISA

O mau Espírito é repreendido — Um dia quando os


Élderes se dirigiam ao lugar de oração, eles encon -
traram uma infeliz mulher que os perturbava. Era
uma moça que parecia ser possuída por "espírito de
adivi nhação", que seus mestres (pois ela tinha mais de
um) usavam para para fazer dinheiro. Quando ela se
encontrou com os Élderes, gritou: "Estes homens que
nos anunciam o caminho da salvação, são servos do
Deus Altíssimo".
Depois que ela repetiu isto em vários dias dife -
rentes, Paulo "perturbado", não particularmente pelo
que ela dizia, mas porque sabia que o mau espírito a

— 162 —

estava atormentando, voltou-se para ela um dia e dis se


aos maus espíritos:
"Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias de -
la" e imediatamente ela foi curada.
Efeito — Quando seus mestres compreenderam
que sua escrava tinha sido curada, e que a esperança
de ganhos havia desaparecido, ficaram muito zanga -
dos, "prenderam Paulo e Silas e os levaram à praça, à
presença dos magistrados" Mas eles foram suficien -
temente espertos para não contarem aos magistrados a
verdadeira razão porque Paulo e Silas haviam sido
levados lá. Não disseram "estes homens curaram nos
sã escrava e não mais podemos enganar o povo por
dinheiro". Não. Eles os acusaram de quebrar a lei ro -
mana introduzindo costumes e crenças que eram ile -
gais perante a lei romana.
"E a multidão se levantou unida contra eles" e os
magistrados sem dar aos Élderes uma oportunidade
para se defenderem mandou açoitá-los com varas.

AÇOITADOS E APRISIONADOS

No cárcere interior — Com suas mãos amarradas e


com suas costas desnudas para o chicote, os Élderes
foram açoitados com muitos açoites. Sangrentos e
ator doados, foram então levados para a prisão.
Quando o carcereiro os recebeu, teve ordens de
guardá-los "com segurança". Ouvindo esta ordem e
julgando que os pri sioneiros fossem homens muito
maus, o carcereiro os levou e "os lançou no cárcere
interior". O cárcere in terior de uma prisão romana,
era um subterrâneo es curo, úmido e triste. Um escritor
a chama de cela pes tilenta, úmida e fria, da qual a luz
foi excluída e onde as correntes se enferrujam nos
membros dos prisio neiros". Mas, não satisfeito em
fechar os Élderes em lal Imraco, o carcereiro "lhes
segurou os pés no tron-

— 163 —

co". Ao prender somente seus pés, contudo, ele de -


monstrou um pouco de misericórdia pois havia bu -
racos no tronco para os punhos e o pescoço também.
Alegria na tristeza — Com suas costas feridas e
sangrentas, seus corpos gelados pelo frio e humidade,
suas pernas apertadas e doendo, esfaimados e sono -
lentos e rodeados pela escuridão da noite, Paulo e Si las
que sabiam estar sofrendo pelo verdadeiro Evan gelho,
podiam regosijar-se e louvar a Deus. Isto eles fizeram à
meia noite, orando e cantando "hinos a Deus". Suas
vozes soaram através das celas da prisão e os
prisioneiros de corações duros e pecadores ouvi ram
com surpresa o primeiro hino cristão que jamais
tinham ouvido. O Poder de Deus se manifestou não
somente nos corações de Seus verdadeiros servos, mas
em toda a prisão e também na cidade, pois "de repen te
sobreveiu um tão grande terremoto, que os alicer ces do
cárcere se moveram". Todos os ferrolhos e bar ras das
portas caíram e as portas da prisão se abriram e
"foram soltas todas as prisões", mas nem um prisio -
neiro tentou fugir.
O temor do carcereiro — Acordado de seu sono pelo
barulho e tremor de terra, o carcereiro correu para a
prisão somente para encontrar as portas escancara das.
Lembrando-se de sua vida se algum deles esca passe
,desembainhou sua espada para suicidar-se, quando
Paulo gritou: "Não te faças nenhum mal, que todos
aqui estamos".
Então ele, (o carcereiro) "pedindo luz, saltou den -
tro, e, todo trémulo, se prostrou ante Paulo e Silas".

SUA CONVERSÃO
Umai pergunta muito importante — Talvez ele tivesse
ouvido a pitonisa dizer, "estes homens são servos do
Deus Altíssimo", pode ser que os tivesse ouvido

— 164 —

pregar, ou pelo menos tenha ouvido pela boca de oa-


tros o que eles pregavam. Provavelmente o próprio
tremor de terra o tivesse convencido de que aqueles
homens não somente eram inocentes, mas também
servos de Deus. De qualquer modo, ele gritou: "Senho -
res, que é necessário que eu faça para me salvar?" Es -
ta é a pergunta que todos deviam fazer e a resposta,
quando dada com verdade, todos deveriam obedecer.
A Resposta — Note a resposta: "Crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo, tu e a tua casa". Então os servos
do Senhor explicaram o que é a verdadeira crença,
expondo "a palavra do Senhor", ensinou-lhes fé,
arrependimento e batismo ;e quando o carcereiro e
sua família disseram que acreditavam ser verdadei ro
o Evangelho, ele levou-os para fora lavou seus ver gões
e foi batizado na mesma noite "ele e todos os seus".
Então eles os levou, não de volta è prisão, mas à
sua própria casa, e lhes pôs a mesa. Conta-se que seu
coração encheu-se de alegria porque ele creu no
Senhor
com toda a sua casa.
Por fazer o bem havia aberto as janelas de sua al -
ma e o sol de pura felicidade havia irradiado através
de todo o seu ser.
Os Prisioneiros são soltos — O terremoto ou qual-
quer outra coisa havia amedrontado outros homens
da cidade, também, e entre estes os magistrados que
haviam sentenciado e condenado, dois homens inocen -
tes a serem açoitados e aprisionados. Compreendendo
seu erro, logo de manhã enviaram a seguinte ordem
ao carcereiro. "Soltai aqueles homens".
Paulo surpreende o carcereiro — Satisfeito com a
mensagem o carcereiro correu a Paulo e Silas, dizen -
do: "Os magistrados mandaram que vos soltasse; ago -
ra pois saí e ide em paz".

— 165 —

Ele surpreendeu-se ao ouvir Paulo responder


friamente: "Açoitaram-nos publicamente e, sem
sermos condenados, sendo homens romanos, nos
lançaram na prisão e agora encobertamente nos
lançam fora? Ago ra eles querem que saiamos
quietamente para que o povo pense que somos
pestilentos que fugimos da ca deia. "Não será assim;
mas venham eles mesmos e ti-rem-nos para fora".
Os magistrados se humilham — Quando os magis -
trados perceberam ter eles sido açoitados e lança dos
na prisão sem mesmo um julgamento, ficaram muito
amedrontados e compreenderam que poderiam até
mesmo perder o seu cargo. Assim eles vieram e le -
varam Paulo e Silas para fora da prisão, e expressa -
ram o desejo de que os missionários saissem da cida -
de.
Os prisioneiro»! soltos haviam conquistado uma
grande vitória e embora não fizessem ostentação na
frente dos seus perseguidores, aproveitaram a ocasião
para irem à casa de Lídia e encontrar-se com todos os
Santos. Talvez Paulo tenha relembrado aos santos a
noite em Jerusalém em que Pedro foi solto da prisão e
veio à casa de Maria.
Não sabemos o que foi dito, com exceção de que
"vendo os irmãos, os confortaram e depois partiram".
Lucas ficou para fortalecer e levantar a Igreja em
Filipos e Paulo e seus outros companheiros prossegui -
ram para Tessalônica.

— 1 66 --

LIÇÃO 31 NA

MACEDÔNIA

"Uma luta constante, uma batalha inces -


sante para trazer sucesso nos meios inós -
pitos, é o preço de toda grande realiza ção".

—x.x.x.x—

"Banir, aprisionar, pilhar, passar fome, enforcar,


e queimar homens por religião, não é o Evangelho de
Cristo, mas a política do demónio. Cristo jamais usou
qualquer coisa que se parecesse com a força, com ex-
cessão de uma vez, que foi para expulsar os mercado -
res para fora do templo e não para fazê-los entrar".
É muito fácil fazer o bem quando estamos em boa
companhia, mas não é fácil defender o direito quando
a maioria se opõe a ele e, não obstante, é quando de -
vemos mostrar verdadeira coragem. O Profeta Joseph
Smith por exemplo, foi aviltado e perseguido por di -
zer que havia recebido uma visã/o, mas ele sempre
permaneceu fiel ao seu testemunho. Apesar de ser odia -
da e perseguido, ele afirmava que Deus havia falado
com ele e que "todo o mundo não podia fazer com que
ele pensasse e acreditasse o contrário".
Esta é a coragem e a firmeza que todos deveriam.
ter. Quando se sabe que alguma coisa é verdadeira,
deve-se sempre ter a coragem para defendê-la mes mo
diante do ridículo e da punição.

__ 167 —

Quanto à coragem para pregar o Evangelho em


face da grande perseguição os missionários em Tessa-
lônica e Beréia provaram ser verdadeiros heróis.
Após o cruel tratamento que Paulo recebeu em
Filipos, não estava em condições de suportar longas
viagens. Não obstante, ele e seus companheiros viaja -
ram mais de cem milhas antes de chegarem a Tessa-
lônica.
Esta cidade, a capital da Macedônia, em direção à
qual Paulo havia dirigido seu roteiro desde que dei xou
Troas, era um importante centro comercial. "Em toda
Grécia, com excessão de Corinto, não havia por to com
melhor situação; a ancoragem era das melho res; as
estradas eram lisas como lagos enquanto os va les da
vizinhança davam acesso às estradas que leva vam a
Epirus e lá Macedônia superior". (Touard).
Seu nome — Certa vez a cidade fora chamada
Terma, mas nos dias de Alexandre o Grande, foi cha -
mada Tessalònica, em homenagem à irmã de Alexan -
dre, Tessolônica, esposa de um dos generais de Ale -
xandre. A cidade ainda é chamada por este nome, li -
geiramente modificado. É agora chamada Salonique, e
foi um dos centros da grande guerra que em 1915 as -
solou toda a Europa. Em importância é a segunda ci -
dade da Turquia Europeia.
Cansados fisicamente, mas alertas em Espirito —
Cansado e sem dinheiro, Paulo entrou nesta grande
cidade. Exausto fisicamente mas vigoroso e animado
como nunca em espírito, ele deu os primeiros passos
para dar ao povo a gloriosa mensagem do Evangelho
do Redentor. A primeira reunião foi provavelmente
realizada na sinagoga, pois Tessalònica era naquele
tempo e tem sido até hoje, um forte centro judeu. Du -
rante três semanas consecutivas, Paulo e Silas disser -
taram com eles sobre as, escrituras", expondo e de -
monstrando que convinha que o Cristo padecesse e

— 168 —

ressucitasse dos mortos". E este Jesus, que vos


anun cio, dizia ele, é o Cristo".
Não era só na sinagoga que os esforçados missio -
nários proclamavam a mensagem, mas também
nas ruas.
Com Jason — Paulo e Silas hospedaram-se com
um homem chamado Jason, onde Paulo trabalhava
no ofício que havia aprendido em Tarso. O próprio
Pau lo relata que "trabalhando noite e dia para não
sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o
evan gelho de Deus", (l Tess. 2:9). Assim, tarde da
noite, quando o sol há muito se havia deitado sobre
os in cessantes trabalhos espirituais do dia, o
apóstolo po deria ser visto à luz da vela trabalhando
no áspero pa no de crina, para que não fosse uma
carga para nin guém. (Sua profissão era tendeiro,
isto é fabricante de tendas).
Auxiliados pêlos santos — Podemos bem imaginar
que ele tenha sido frequentemente interrompido neste
trabalho por homens e mulheres que procura vam
mais luz nas doutrinas do Evangelho. O resultado foi
que Paulo mal ganhava o necessário para pagar seus
alimentos e roupas, e se os bons santos de Filipos não
lhes tivessem enviado socorro, ele e Silas teriam talvez
passado grandes necessidades.
Poucos judeus aceitaram sua mensagem e assim
Paulo e seu companheiro se voltaram para os gentios,
muitos dos quais acreditaram e "também uma grande
multidão de gregos religiosos e não poucas distintas
mulheres".

ARMA-SE A TEMPESTADE
Quando os judeus descrentes viram grande
núme ro de pessoas aceitarem este novo Evangelho,
ficaram enciumados e zangados. Dirigiram-se a uma
classe bai-

— 169 —

xá e ignorante de cidadãos "homens perversos, dentre os


vadios" e lhes disseram que estes cristãos estavam pondo o
mundo todo em alvoroço e deviam ser expul sos da cidade.
Assim reuniram uma multidão e cerca ram a casa de Jason
onde os Élderes estavam hospeda dos.
Os missionários são avisados — Mas, felizmente, Paulo
e Silas não estavam e não puderam ser encon trados.
Talvez algum amigo ou o Espirito do Senhor tivesse
prevenido os servos de Deus para que não fos sem para
casa naquela hora. Não encontrando os Élde res, a
multidão arrastou Jason e alguns outros irmãos para
diante dos magistrados da cidade e disseram:
Jason é preso — Estes que têm alvoroçado o mun do,
chegaram também aqui". Os quais Jason recolheu; e
todos estes procederam contra os decretos de Cé sar,
dizendo que há outro rei, Jesus".
Como é fácil, às vezes, fazer da verdade uma men tira.
Paulo e Seus companheiros escapam — Jason e seus
amigos dando "satisfação" (pelo que talvez se que-ra
dizer que tiveram de depositar dinheiro como ga rantia de
que nada fariam contra o governo), foram postos em
liberdade. Mas a multidão ainda estava mo vida contra
Paulo e Silas que foram aconselhados pê los irmãos a
partirem imediatamente.
Eles partiram à noite, viajando cincoenta e uma
milhas para Beréia.

EM BERÉIA
Muitos aceitam o evangelho — A perseguição e o
sofrimento não mais podiam deter estes inspiradores
Élderes em sua pregação; assim, logo que chegaram a
Beréia "foram à sinagoga dos judeus". Os judeus da qui
eram mais nobres do que os da Tessalônica, e dis-

— 170 —

cutiram sobre as escrituras que eram constituídas pelo


Velho Testamento, guardado em pergaminhos sagra dos na
sinagoga. Assim, concluímos que os bereanos não somente
ouviram atenciosamente ao que os mis sionários disseram
mas também buscaram nas escritu ras para ver se o que
diziam estava de acordo com a lei. Quando verificaram
que estava, muitos acredita ram e" também mulheres
.gregas da classe nobre e não poucos varões".

A TEMPESTADE OS SEGUE

Da mesma forma como os judeus foram de Icônio a


Lastra, assim vieram de Tessalônica a Beréia, como
caçadores sobre sua presa, e "excitaram as multidões".
Silas e Timóteo permanecem — As sementes da
verdade já haviam se enraizado no rico solo e conquan to a
tempestade de perseguição ameaçasse cair sobre Paulo*
iserviu sjòmente para fortalecer e vitalizar o campo do
evangelho.
Deixando Silas e Timóteo para* continuarem o
trabalho, para abençoar e encorajar os Santos, Paulo
tornou-se mais uma vez um fugitivo e foi levado por
alguns dos irmãos para o mar.
Paulo foge — Do mesmo ponto na costa, ele em barcou
para Atenas.

— 171 —

LIÇÃO 32EM
ATENAS E CORINTO
"Algumas vezes um nobre fracasso serve
ao mundo tão fielmente como um grande
sucesso".
"Na vida não há maior bênção do que a
de ter-se um amigo prudente".
—x. x. x. x—
Solidão. — Talvez poucos dos que leram este livro
tenham tido a oportunidade de ficar sozinhos, mesmo
por pouco tempo, numa cidade estranha; mas pode ser
que alguns de seus parentes o tenham feito. Se assim é,
poderão saber como se pode sentir sozinho, mesmo
quando se está entre uma grande multidão, numa cida -
de extranha, e sem a amizade das pessoas que o ro -
deiam. Esta deve ter sido a condição de Paulo depois
que se despediu de seus irmãos e caminhava pelas ruas
de Atenas, sozinho.
Esta solidão o impressionou tanto que posterior-te
escreveu aos Tessalonicenses dizendo que fora dei xado
só em Atenas. Ele enviou uma ordem a Beréia, para que
"Silas e Timóteo fossem ter com ele o mais depressa
possível" mas até que eles chegaram, ele era o único
cristão na grande cidade pagã.
Estátuas e divindade. — Ao caminhar através das
ruas de Atenas, Paulo viu muitas estátuas e monumen -
tos erigidos em homenagem a homens e a deuses mís -
ticos. Algumas destas eram as estátuas de grandes ho-

172 —

MH - IISde Alenas, tal como "Solon o fazedor de leis, Co-


iioii, o almirante, Demóstenes, o orador". Entre seus
heróis se encontravam Hércules, Mercúrio, Apoio, Ne-
liino, Júpiter, Minerva e muitos outros e num lugar,
no centro de todos esses encontrava-se um altar
erigido aos "Doze Deuses". Havia mais estátuas em
Atenas do que em todo o resto da Grécia. Diz-se como
quase ver dade que era mais fácil encontrar um deus
em Atenas do que um homem" (Weed). Havia também
altares erigidos à Fama, à Modéstia, à Energia, á
Persuassão, à Piedade e Paulo viu uma inscrição:
"Ao Deus desconhecido"
Na cidade havia um local de reunião comum cha -
mado Agora. Ali os atenienses se reuniam para falar e
discutir as questões do dia. Os vadios e os grandes fi -
lósofos se misturavam, anciosos para ouvir algo de no -
vo. Enquanto Paulo esperava por seus companheiros,
visitava diariamente este local e conversava com aque -
les que encontrava. Dele a multidão ouviu, pela primei -
ra vez, sobre Jesus e sobre a ressurreição.
Ele também frequentava o culto na sinagoga, e
discutia com os judeus.
Interesse despertado. — Assim, Paulo, apesar de
sozinho e desencorajado, e talvez triste por ver a igno -
rância e a iniquidade que havia ao seu redor,
começou a agitar a cidade, por causa da mensagem
que anun ciava. Os atenienses e estrangeiros também,
começa ram a ficar curiosos; pois alguns deles, nos
conta Lu cas, "de nenhuma outra coisa se ocupavam,
senão de dizer e ouvir alguma novidade".
Então alguns filósofos o notaram e ouviram
falar dele. Alguns disseram:
"Que quer dizer este paroleiro?"
E outros:
"Parece que é pregador de deuses estranhos;
por que lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."
— 173 —

A colina de Marte. — No alto da colina do Areó pago,


existia uma plataforma e um lance de degraus de pedra,
saindo diretamente de Agora, davam acesso a ela.
Nesta haviam se sentado os principais juizes que
haviam, desde tempos imemoriais, decidido as impor -
tantes questões de religião, ou pronunciado sentenças
sobre os maiores criminosos. Supunha-se que Marte
tivesse sido julgado ali, e porisso era chamada "A coli -
na de Marte". No alto desta colina erguia-se o templo
de Marte.
Para este lugar importante e memorável, os
filósofos levaram o apóstolo, dizendo: "Poderemos
nós saber que nova doutrina é essa de que falas?
Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos:
queremos pois saber o que vem a ser isto.
Um discurso memorável. — Paulo aceitou o con -
vite, e pronunciou um dos discursos mais notáveis
no mundo. Pode-se notar, entretanto, que ele nem
siquer menciona o nome de Cristo, mas tenta
influenciar seus ouvintes atraindo-os para o que
queria que eles se in teressassem (Atos 17:22-31).
Logo que Paulo mencionou a ressurreição dos
mortos, foi interrompido. Alguns começaram a rir e
fazer pouco de sua afirmativa. Outros eram mais
cortezes e disseram ao afastar-se dele "Acerca disso
te ouvire
mós outra vez".
Dionísio é convertido. — Paulo deve ter se
sentido quasi esmagado com o pensamento de que
seu sermão tivesse sido um grande fracasso; mas ele
havia se desin-cumbido de seus deveres e as
sementes da verdade ha viam sido semeadas.
Produziram frutos na forma da conversão de
Dionisio membro da corte do Areópago e uma
mulher cujo nome era Damaris, "e outros com
eles".
Após permanecer curto tempo, ele partiu de
Atenas como havia nela vivido, um 'homem
desprezado e solitário. Não obstante, aquela curta
visita e aquele

— 174—

discurso interrompido, foram caracterizados por um


sincero desejo de reunir os que andam no erro e na
iniquidade para arrependimento e fizeram Paulo
mais famoso do que qualquer dos filósofos, tão sábios
em seu próprio conceito, que caçoaram e o
desprezaram.
NO FIM DA SEGUNDA MISSÃO
Sozinho em Corinto. — É provável que Timóteo
tenha se juntado a Paulo em Atenas; mas, se assim
aconteceu, ele voltou imediatamente às Igrejas na
Ma-cedônia. Assim, Paulo partiu de Atenas sozinho e
tendo desembarcado no porto de Cencrea, caminhou
dezoito milhas para Corinto. Lá ele encontrou muitos
gregos e judeus. Havia também uma multidão de es -
tranhos que vinham ver os grandes jogos e corridas;
os comerciantes, os mercadores e outros negociantes
de longe e perto constituiam a sua população. Assim,
a solidão de Paulo aqui deve ser sido tão aguda como
o tinha sido em Atenas. Ele próprio relata que lá che -
gou "em fraqueza, em temor e em grande tremor".
Áquüa e Priscila, — Mais ou menos naquele tem po
o imperador romano, chamado Cornélio, assinou
um decreto mandando que todos os judeus
fossem afastados de Roma. Entre os que tiveram que
partir encontrava-se um homem chamado Áquila e
sua espo sa Priscila. Se eram cristãos antes de
chegarem a Co rinto, não se sabe. De qualquer
maneira, estiveram entre os primeiros amigos que
Paulo encontrou naque la cidade. Pode ser que se
tenham conhecido porque Áquila e Paulo tinham o
mesmo ofício. Seja como for, Paulo vivia com Áquüa
e Priscila e se já não o haviam feito antes
converteram-se ao Evangelho, ao qual per maneceram
firmes e fiéis. Estes amigos foram muito úteis a
Paulo dando-lhe emprego, mas principalmente,
provando ser verdadeiros amigos.

— 175 —

Na Sinagoga. — Todos os dias de Sábado, estes


três amigos e companheiros de trabalho punham de
lado suas tendas e iam à sinagoga adorar a Deus. Pau -
lo, como de costume, falava aos seus compatriotas e
aos gregos conversos, e proclamava a eles a gloriosa
mensagem do Redentor ressurreito. Discutia com eles
sobre as escrituras e os persuadia a se tornarem cris -
tãos.
Timóteo e Silas reunem-se a Paulo. — Por algum
tempo ele parecia ser menos enérgico do que o comum.
Mas naquele mesmo período, juntaram-se a eles seus
queridos amigos, Timóteo e Silas. Sua vinda deu-lhe
novo alento, ou como diz Lucas, "impulsionado pela
palavra, testificava aos Judeus que Jesus era o Cristo".
Julgando pela força que Paulo recebeu de seus compa -
nheiros, ele compreendeu que "Um verdadeiro amigo é
um dom de Deus e somente Ele que fez os corações
pode uni-los".
Os judeus recusam a verdade. — Quanto mais ou -
sadamente Paulo pregava, mais acirradamente os ju -
deus inconversos se opunham a ele. Finalmente, quan -
do blasfemaram em nome de Deus e se recusaram a
aceitar a verdade, Paulo "sacudiu os vestidos" e disse:
"O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou
limpo e desde agora parto para os gentios".
A conversão de Crispo. — Mas muitos se converte -
ram e entre esses se encontrava Crispo, o principal da
sinagoga — "ele com toda a sua casa". Sua conversão,
com as multidões de coríntios que também foram bati-
zados, somente fizeram os judeus mais ofendidos que
nunca; e começaram a ameaçar Paulo.
Conforto. — Mais ou menos nesta ocasião Paulo
escreveu sua segunda carta aos Tessalonicenses. Nes ta
ele pede, especialmente, orações para que eles pu -
dessem se libertar dos homens iníquos que tinham ao
seu redor. "Rogai por nós, para que a palavra do Se -
nhor tenha livre curso e seja glorificada, como tam-

— 176 —

l>t'm o é entre vós. E para que sejamos livres de ho -


mens dissolutos e maus; porque a fé não é de todos."
(II. Tess. 3:1-2).
E Paulo orou também e recebeu uma resposta di-
rcta do Senhor, que disse: "Não temas mas fala e não
lê cales; porque eu estou contigo e ninguém lançará
mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo
nesta cidade".
Na casa de Justo. —- Quando Paulo deixou a sina -
goga, promoveu reuniões na casa que estava "junto
de sinagoga", talvez vizinha. Aqui Paulo e seus dois
companheiros continuaram a pregar. Isto exasperou
os ju deus de tal modo que eles decidiram fazer com
que Paulo fosse expulso ou punido. Mias aconteceu que
naquele mesmo tempo, um novo governador foi
nomeado para governar Acais.
Ante Gálio. — Seu nome era Gálio e era conheci -
do como um homem muito amável e gentil. Pensando
que ele seria facilmente influenciado, os judeus pren -
deram Paulo e o levaram perante a cadeira do julga -
mento, dizendo falsamente "Este persuade os homens
a servir a Deus contra a lei".
Paulo levantou-se e indicou de qualquer maneira
que queria responder à acusação; mas Gálio o impe -
diu e, dirigindo-se aos judeus, disse: "Se houvesse ó
judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão
vos sofreria; mas se a questão é de palavras e de
nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos:
porque eu não quero ser juiz dessas coisas".
E expulsou-os do tribunal.
Assim Paulo não sofreu injúrias, como o Senhor
havia prometido. Mas os judeus sim, pois os gregos
pegaram seu líder e o açoitaram mesmo diante da ca -
deira de julgamento.
Paulo permaneceu em Corinto um ano e meio, e
estabeleceu lá uma forte igreja.

— 177 —

Então, como se aproximasse o tempo da Páscoa


em Jerusalém, ele despediu-se dos Santos; e tomando
Áquila, Priscila, Silas e Timóteo, seus amigos e com -
panheiros fiéis, partiu para Éfeso, daí para a Cesaréia
e Jerusalém.
— 178 —

LIÇÃO 33

A TERCEIRA VIAGEM MISSIONARIO DE PAULO DE


ANTOQUIA A EFESO

“E niguém toma para si esta honra se não o que é chamado por


Deus como Aarão”

—x. x. x. x—
Uma Promessa. — Quando Paulo se deteve em
Éfeso a caminho de Jerusalém, como mencionamos na
lição anterior, os Judeus a quem ele pregou pediram-
lhe que permanecesse um pouco mais entre eles. Não
sendo possível atendê-los, prometeu voltar novamente,
se Deus quizesse. Esta promessa, como veremos, Pau lo
cumpriu literalmente.
Saudações à Igreja. — Não sabemos se ele chegou a
Antióquia em tempo de estar presente à Páscoa. So mos
levados a crer que não o fez, pois tudo o que sabe mos
de sua visita é que ele saudou a Igreja e continuou para
Antióquia.
Início da Terceira Viagem. — Após ter ficado algum
tempo com a importante Igreja da Antióquia, Paulo
iniciou sua terceira viagem missionária. É difí cil
determinar exatamente o curso que ele seguiu, mas
desde que Lucas nos conta que ele esteve "cm todo ò
país da Galácia e Frigia", podemos concluir com segu -
rança que ele visitou sua cidade natal, Tarso, bem como
as cidades de Derbe, Listra, Icônio e possivelmen te
Antióquia na Pisídia. O bom povo da Galácia tam-

— 179 —

bem teve o prazer de receber o apóstolo que foi o pri -


meiro a lhes pregar o Evangelho, e a quem ele havia tão
bondosamente administrado em aflição.
Também não sabemos com certeza quem foram
seus companheiros. Timóteo, sem dúvida, foi um dos
que o acompanharam em toda a sua viagem.
APOLO
Um Eloquente Pregador. — Enquanto «Paulo e Ti -
móteo estava visitando as Igrejas na Galácia e na Fri -
gia, vamos adiante deles até Éfeso, pois lá se encontra
um homem que devemos conhecer. Seu nome é Apoio e
ele veio a Alexandria. Era, sem dúvida, um dos mais
eloquentes pregadores do Evangelho naqueles dias.
Mas logo que chegou a Éfeso, "conhecia somente o
batismo de João". Havia aceitado a mensagem de João
Batista, mas não tinha ouvido o Evangelho como havia
sido ensinado por Jesus e Seus discipulos. Pa recia
desconhecer também a missão do Espírito Santo.
Com ele havia outros homens que tinham a mes ma
crença incompleta.
Nova Luz — Acreditando ter a verdade, estes ho -
mens foram à mesma sinagoga na qual Paulo pregou
quando os judeus lhe pediram que ficasse mais tempo e
Apoio falou ao povo. Na congregação se achavam
Áquila e Priscila. Estes dois bons cristãos perceberam
imediatamente que Apoio não compreendia o evange -
lho; assim, eles o convidaram para ir à sua casa e "lhe
expuseram minuciosamente os caminhos de Deus".
Logo depois disto, Apoio deixou Éfeso e partiu para
Corinto, levando consigo uma carta de recomen dação
dos Santos em Éfeso.
É CONCEDIDO O ESPÍRITO SANTO
As coisas se achavam neste pé quando Paulo che -
gou a Éfeso. Encontrou os doze homens que haviam

— 180 —

aprendido o evangelho como Apoio o sabia. Quiindo


disseram a Paulo que acreditavam no Evangelho, ôlr
lhes perguntou: "Recebestes vós já o Espírito Sanlo
quando crestes?"
E eles disseram-lhe: "Nós nem ainda ouvimos que
haja Espírito Santo".
— "Em que sois batizados então?"
— "No batismo de João" responderam-lhe eles.
— "Certamente João batizou com o batismo do
arrependimento dizendo ao povo que cresse no que
após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.
Eles foram batizados pela autoridade própria em
nome do Senhor Jesus. Paulo então "impondo-lhes as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo e falavam lín -
guas e profetizavam".
Três meses na sinagoga — Durante três meses Pau -
lo continuou a pregar na sinagoga, "disputando e per -
suadindo-os acerca do reino de Deus". Durante este
tempo, ele trabalhou em seus ofício mantendo-se a si
próprio com suas mãos. Diariamente a Igreja crescia
em força, e diariamente seus inimigos se tornavam tão
mais acérrimos em sua oposição que Paulo saiu da si -
nagoga, e fazia suas reuniões numa escola onde ensina -
va um homem chamado Tirano.
Dois anos em Éfeso — Neste lugar Paulo trabalhou
durante dois anos, um período em sua vida marcado
por maravilhosas manifestações do Senhor. Doentes
eram curados pelo poder da fé, nas formas mais mila -
grosas. Algumas vezes Paulo não podia visitar em pes -
soa estes doentes, eles se curavam apenas tocando um
lenço ou um avental que ele tivesse usado. "Assim o
nome do Senhor Jesus Cristo era engrandecido".
HOMENS QUE AGIAM SEM AUTORIDADE
Filhos de Sceva — Entre aqueles que testemunha ram
estes milagres haviam alguns vagabundos judeus

— 181 —

que ganhavam a vida angariando do povo, fingindo


ser mágicos. Quando viram Paulo curar os doentes
em no me de Jesus, pensaram que podiam fazer o
mesmo e assim ganharem uma grande quantidade de
dinheiro. Assim, um dia estes sete homens, que eram
filhos de Sceva, encontrando um homem que se
achava domi nado por um mal espírito, disse um
deles: "Esconju ro-vos por Jesus a quem Paulo
prega", a sair dele.
— "Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo, mas
quem sois vós?"
"E, saltando neles o homem que tinha o espirito
maligno e assenhoreando-se de dois, poude mais que
eles, de tal maneira que, nus e feridos, fugiram
daque la casa".
A Grande Fogueira — O tratamento que estes
sete homens receberam pela sua hipocrisia, logo se
espar ramou por toda a cidade. Muitos que haviam
pratica do tais artes, como os filhos de Sceva,
trouxeram to dos os seus livros de mágica e fizeram
uma fogueira com eles. Paulo viu se queimar naquele
dia uma quan tidade de papeis e livros que valiam
cerca de cincoen-ta mil peças de prata.
Festa anual — Todos os anos em Éfeso, no mês de
maio, havia um grande festival em honra à Deusa
Dia na. Homens ricos vinham de todas as partes da
Ásia "e pagavam vastas somas de dinheiro para
diversões en tre o povo". Eram de diferentes espécies.
Nos teatros haviam consertos e espetáculos; no
hipódromo, corri das; no estádio, jogos de ginástica,
de correr, pular e lutar. Havia cenas barulhentas
tanto de dia como de noite. Em todas as horas do dia
havia alegres procis sões ao templo, seguindo-se os
animais coroados com guirlandas, levados ao
sacrifício. "Vagabundos e bê bados podiam ser vistos
quase em todos os lugares na quela época" (Weed). As
lojas e bazares enchiam-se de todas as coisas
atraentes daquela época, que os pais e os amigos
compravam para eles próprios e para aque-

— 182 —

lês que estavam distantes. Os principais enfeites eram


os pequenos modelos de Diana e seu santuário. Os com -
pradores mais pobres compravam modelos feitos de
madeira, enquanto os ricos os compravam de ouro.
Paulo, sem dúvida havia dito aos efésios, como o fez
aos atenienses, que Deus não é feito de madeira, de
prata ou de ouro, e nem esculpido pela arte do homem.
Milhares de pessoas acreditavam em Paulo e adora vam
o verdadeiro Deus. Conseqüentemente, nesta fes ta
anual, não havia tantas imagens de Diana como ti nha
havido nos outros festivais.
REUNE-SE UMA MULTIDÃO
Demétrio — Demétrio, um ourives de prata, que
fazia nichos de prata para Diana, ficou muito agitado
quando viu interferência em seu negócio. Reuniu os que
trabalhavam no mesmo ramo e disse: "Varões, vós bem
sabeis que deste oficio temos a nossa prosperida de. E
bem vedes et ouvis que não só em Éfeso, mas até quase
em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado
uma grande multidão, dizendo que não são deuses os
que se fazem com as mãos".
Ele continuou a falar a eles até que todos se agi -
taram e gritaram: "Grande é a Diana dos efésios".
Os companheiros de Paulo são presos — Logo a
cidade toda entrou em confusão. Reuniu-se uma
multi dão que tentava encontrar Paulo. Não o
conseguindo, apanharam Gaio e Aristarco, dois dos
companheiros de Paulo e os arrastaram ao teatro.
Paulo foi mantido em segurança por seus amigos
que se recusaram deixá-lo entrar no teatro, apesar
dele insistir em fazê-lo.
Um judeu chamado Alexandre tentou falar com a
multidão, mas ninguém queria ouvir e continuaram a
gritar por duas horas: "Grande é a Diana dos efé -
sios".

— 183 —

Quando cansaram, o escrivão de cidade levantou-


se e lhes disse que era melhor que fossem para casa e
ficassem quietos, ou os romanos poderiam acusá-los de
"sedição". Ele disse também que se Demétrio tinha
qualquer questão contra Paulo, poderia mandar pren -
dê-lo e apresentá-lo na corte.
Como a metade deste povo, como no caso de todas
as multidões, não sabia porque tinha vindo, começa -
ram a evacuar o teatro. "Os assentos de pedra foram
esvasiados gradualmente, cessou o grande clamor e os
arruaceiros se dispersaram para as svias várias ocupa -
ções e diversões".
Como Paulo já havia feito os necessários prepa -
rativos para ir à Macedônia, chamou seus discípulos a
si e após abraçá-los, deixou Éfeso, até onde sabemos,
para sempre. Posteriormente, contudo, como veremos
na próxima lição, ele encontrou alguns Élderes e San-
los de Éfeso.

— 184 —
LIÇÃO 34

TERCEIRA VIAGEM DO MISSIONÁRIO


(Continuação)

Visita de despedida de Paulo às Igrejas que


ele havia estabelecido. —x.x.x.x—

Durante os seguintes nove ou dez meses — do


verão de 57 A. D. até à primavera de 58 A. D. após a
carinhosa despedida de Paulo aos discípulos de Éfeso,
sabemos muito pouco a respeito de suas viagens. Das
epístolas que ele escreveu durante este período tira mos
a maioria do que é conhecido a respeito de seus
trabalhos e deveres nos lados da Macedônia.
Ele primeiramente foi a Troas, onde esperava en -
contrar Tito, o qual ele havia enviado a Corinto. Aqui
ele diz: "Não tive descanco no meu espírito, porque
não achei ali meu irmão Tito". (II. Cor. 2:13)
Preocupado com o que tinha ouvido sobre as más
condições predominantes na Igreja de Corinto, ele
par tiu de Troas para Filipos.
Uma alegre recepção — Aqui ele encontrou alguns <ie
seus mais queridos Santos, pois os conversos fili-
penses, apesar de estarem entre os mais pobres,
finan ceiramente, eram dos mais fiéig de todas as
Igrejas. Paulo aceitou seu auxilio quando recusou-o
de outras fontes. Esta foi uma Igreja que Paulo não
reprovou. Que alegre acolhida estes fiéis santos
devem ter dado ao apóstolo! Como seus corações
devem ler exultado ao recordarem as experiências
que viveram quando

— 185 —
Paulo, Timóteo e Silas pregaram pela primeira vez às
mulheres que se achavam às margens do rio. Lídia e o
carcereiro e um enorme grupo de outros membros
fiéis / estavam todos lá para relembrarem a sua prisão,
seu açoitamento, o tronco, os hinos cantados à meia
noite, o terremoto, o temor das autoridades e todas as
mara vilhosas experiências daquela primeira visita a
Filipos.
.A depressão de Paulo — Não obstante, apesar da
boa acolhida, Paulo diz: "a nossa carne não teve re -
pouso algum, antes em tudo fomos atribulados: por
fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que
con sola os abatidos, nos consolou com a vinda de Ti
to". (II Cor. 7:6).
Segunda epístola aos Coríntios — Tito contou-lhes
que os membros da Igreja em Corinto que não
estavam agindo direito foram excomungados e que
muitos dos santos haviam melhorado. Ao ouvir isto,
Paulo escre veu outra carta a eles (a segunda epístola
aos corin-tios) e mandou Tito de volta com ela.
Ofertas — Tito parece ter sido um dos principais
em arrecadar contribuições para o socorro dos pobres
na Judéia. Quando voltou a Corinto continuou a fazer
arrecadações para Paulo levar a Jerusalém em futuro
próximo. (II Cor. 8)
A próxima vez que ouvimos de Paulo, ele se en -
contrava em Corinto. Aí ele ouve que os Gaiatas esta -
vam dizendo que ele não era um apóstolo porque Je -
sus não o havia escolhido como um dos Doze. Assim,
ele escreveu uma carta aos Gaiatas, na qual ele diz:
Os Gaiatas são reprovados — "Maravilho-me que
tão depressa passásseis daquele que vos chamou à
graça de Cristo para outro evangelho". (Gal. 1:6)
Então ele admoesta a não aceitarem qualquer
outro Evangelho, pois qualquer que pregar outro
Evan gelho, "seja anátema" (amaldiçoado).
Aqui ele também escreveu sua espístola aos ro -
manos.

— 186
Paulo preparou-se para ir à Palestina,
dirclnmm- te de Corinto, mas soube que estava sendo
tramado um plano para tirar sua vida. Para frustá-lo,
ele volln polo mesmo caminho até a Macedônia.
Quando o grupo chegou novamente a Filipos, Timóteo
e vários ou lios seguiram na frente para Troas. Paulo e
Lucas permii- neceram por algum tempo e depois
juntaram-se novii-mente ao grupo em Troas.

UMA LONGA E MEMORÁVEL REUNIÃO

Quando chegou o domingo, todos os discípulos se


reuniram "para partir o pão" e Paulo pronunciou seu
discurso de despedida. Quando estava para deixá-los,
cedo, persuadiram-no a continuar seu discurso até à
meia-noite, o que ele fez.
A reunião foi feita num cenáculo, cujas janelas es-
tavam abertas para que a congregação pudesse gozar
o ar fresco da noite.
Êutico cai — Sentado numa das janelas estava um
jovem chamado Êutico, que havia ouvido o sermão o
tanto quanto tinha podido e então adormecera. En -
quanto Paulo falava, Êutico ia se inclinando sempre
até que perdeu o equilíbrio e caiu ao pátio em baixo.
Sem dúvida, um grito de mulher interrompeu primei -
ramente o sermão. O povo levantou-se e correram pa -
ra baixo, e levantaram o jovem como morto.
Revivido — Paulo também desceu e abraçando o
rapaz, disse: "Não vos perturbeis que a sua alma m"
lê está".
Cheios de graça por ter sido restaurada a vida do
jovem, o povo voltou ao cenáculo e Paulo lhes pregou
até pela manhã.
Os companheiros de Paulo foram de navio ale
Assos, mas ele preferiu andar as vinte milhas sozinho.

— 187 —
Em Assos ele embarcou e navegou até Mitilene,
daí a Chios e depois para Samos, e permaneceram em
Tro-gilio cerca de uma milha de lá.
Em Mileto — No dia seguinte, Paulo passou de na -
vio por Éfeso, julgando que não teria tempo para visi -
tar os Santos, pois queria estar em Jerusalém no dia de
Pentecostes. Mas quando chegou a Mileto, a algu mas
milhas de Éfeso, enviou uma mensagem para que os
Élderes da Igreja viessem ter com ele. Isto eles fi zeram
com toda a satisfação e ouviram com intenso interesse
suas palavras, (veja Aios 20:17-35)
"E havendo dito isto pôs-se de joelhos e orou com
todos eles".
Aquele pequeno grupo de cristãos reunidos num
lugar obscuro na praia, apresenta às nossas mentes
uma das mais belas figuras do mundo, e sua saudação
de despedida uma ds mais impresionantes e patéticas.
Uma triste despedida — Quando o querido após tolo
estava para de(ixtá-los, "Levantou-se um grande
pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo,
o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pe -
la palavra que dissera, que não viriam mais o seu ros -
to". Parecia que eles não podiam suportar a dor de vê-
lo partir. Agarraram-se a ele até mesmo quando
embarcou e foi com dificuldade que seus companhei ros
conseguiram afastá-lo.
Uma cena semelhante verificou-se em Tiro, onde o
grupo permaneceu sete dias. Enquanto Paulo visita va e
confortava os Santos ali, eles o aconselhavam a não ir a
Jerusalém onde sua vida estaria em perigo. Mas Paulo
não se deixou convencer.
Quando chegou a hora da despedida, os homens,
mulheres e crianlças, todos foram com Paulo e seu
grupo até a praia. Ali se ajoelharam, oraram e fizeram
as despedidas. Paulo e seus companherios embarca-

— 188 —
ram e os Santos tristemente regressaram para seus
lares.

EM CESARÉIA
Em Cesaréia os missionários foram hospedados
por Filipe, o evangelista, um dos sete diáconos esco -
lhidos.
Uma profecia — Enquanto lá estavam, Ágabo, um
profeta, desceu de Jerusalém e após cumprimentar a
todos, tomou a "cinta de Paulo e ligando-se os seus
próprios pés e mãos, disse: Assim ligarão os judeus, em
Jerusalém, o varão de quem é esta cinta, e o en -
tregarão nas mãos dos gentios".
Ouvindo esta profecia, Lucas e o grupo de Pau lo
rogavam para que ele não fosse a Jerusalém. Mas
Paulo respondeu:
"Que fazeis vós, chorando e magoando-me o co -
ração? Porque eu estou pronto, não só a ser ligado,
mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Se -
nhor" ao que seus amigos responderam: "Faça-se a
vontade do Senhor".
De Cesaréia viajaram de carruagem até Jerusalém
onde foram recebidos festivamente pêlos irmãos

— 189 —
LIÇÃO 35 EXCITANTES

EXPERIÊNCIAS EM JERUSALÉM

"Na grande massa do mal, ao rolar e au -


mentar, há sempre um bem trabalhando
pela libertação e pelo triunfo".

No quartel-general — Em Jerusalém, Paulo e seus


companheiros se reuniram à Igreja e sem dúvida de -
ram o dinheiro que lhe havia sido entregue pelas
igre jas dos gentios para benefício dos pobres na
judéia. Aconselhado por Tiago, o irmão do Senhor,
que pre sidia a igreja em Jerusalém, Paulo fez a
barba, cortou o cabelo e fez outras coisas para
mostrar aos judeus que ele tinha boa vontade em
observar as leis judaicas.
Falsamente acusado — Depois de estar em Jerusa -
lém por cerca de uma semana, foi ao templo para ado -
rar. Aconteceu que se achavam no Templo alguns ho -
mens que tinham visto Paulo na Ásia com os gentios.
Pensando que ele tinha trazido alguns dos gentios ao
templo, agitaram o povo, prenderam Paulo e
gritaram: "Varões israelitas, acudi: este é o homem
que por to das as partes ensina a todos contra o povo e
contra a lei e contra este lugar; e, demais disto,
introduziu também no templo os gregos e profanou és
lê santo lu gar".
Naturalmente, isto não era verdade, mas serviu
para agitar a multidão que arrastou Paulo para fora
do templo e fechou as portas. Em sua agitação esta -
vam prestes a matar Paulo, o que teriam feito se não

— 190 —
fosse a providencial interferência de um oficial
roma no.
Postada num castelo ao norte do templo havia
uma guarda de soldados, sob o comando de um
oficial chamado o "tribuno da corte".
Salvo da Morte — Quando alguém disse ao capi -
tão, cujo nome era Cláudio Lisias que havia
confusão na parte exterior do templo apressaram-se
os soldados para o local, chegando lá exatamente
quando a multi dão começava a bater e a pisar em
Paulo para que mor resse. Os soldados salvaram
'Paulo, mas o capitão, pen sando que era um
desordeiro, mandou que fosse acor rentado.
"Quem é e o que tem feito?" perguntou
Cláudio aos enraivecidos judeus.
Alguns gritaram uma coisa, outros outra, em tal
confusão que o tribuno nada poude compreender.
Assim, disse aos soldados: "conduzam-no à fortaleza".
Nos degraus do castelo — Ao levarem Paulo, a
multidão, agindo como lobos atrás da presa,
acompa nhou-os, gritando: "Mata-o". Ao subirem os
degraus da fortaleza, Paulo, faiando em grego, disse
ao tri buno :
— É-me permitido dizer-te alguma coisa?"
— "Sabes o grego", respondeu o capitão, "Não
és porventura aquele egípcio que antes destes dias fez
uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteado -
res?"
— "Sou um homem judeu, cidadão de Tarso, ci -
dade não pouco célebre na Sicília: rogo-te, porém
que me permitas falar ao povo".
Na esperança de saber alguma coisa a respeito
do motim, o tribuno deu seu consentimento. Paulo
vol tou-se à multidão e pediu-lhes que fizessem
silêncio. Cessaram de gritar, especialmente quando
ouviram que Paulo falava em hebreu, sua própria
língua (Leia todo o discurso, como se acha registrado
em Atos 22:1-21)

— 191 —
A palavra "gentios" — Os judeus ouviram em si -
lêncio até que ele mencionou a palavra "gentios". En -
tão eles gritaram: "Tira da terra um tal homem, por -
que não convém que viva". Em seu rancor, arranca -
ram suas vestes e jogavam pó no ar para mostrar o
quanto o odiavam.
Paulo é açoitado — Estando ainda em dúvida
quanto ao que Paulo havia feito, o tribuno mandou
que ele fosse levado para dentro da fortaleza e o açoi -
taram até que Paulo dissesse porque os judeus grita -
vam tanto contra ele. Ao prenderem-no para açoitá-
lo. Paulo disse ao centurião que estava ao seu lado:
"É-vos lícito açoitar um romano, sem ser
condenado?"
Ouvindo isto o centurião correu ao tribuno dizen -
do: "Vê o que vais fazer, porque este homem é ro -
mano". Então o tribuno veio e disse a Paulo:
— "Dize-me, és tu romano?"
— "Sim", respondeu Paulo.
— "Eu com grande soma de dinheiro alcancei es -
te direito de cidadão", respondeu Cláudio.
— "Mas eu sou-o de nascimento", respondeu or
gulhosamente Paulo.
Quando eles ouviram isto, aqueles que iam tortu -
rá-lo afastaram-se dele e o tribuno também se pertur -
bou, pois que não tinha o direito de acorrentar um ci -
dadão romano que não tenha tido um julgamento jus -
to.

PERANTE ANANIAS, O SUMO-SACERDOTE


Na manhã seguinte Paulo foi levado à presença
de Ananias, o Sumo-Sacerdote, e do Conselho.
Paulo é espancado — "E, pondo Paulo os olhos no
conselho, disse: Varões irmãos, até ao dia de hoje te -
nho andado diante de Deus com toda a boa consciên-
cia".

— 192 —
Ao ouvir isto, Ananias enfureceu-se e disse aos que
estavam ao lado de Paulo:
— "Firam-no na boca".
— "Deus te ferirá, parede branqueada", respon -
deu Paulo com repentina fúria, "tu estás aqui
assenta do para julgar-me conforme a lei, e contra a
lei me mandas ferir?"
Aqueles que estavam sentados ao lado de Paulo,
disseram: "Injuriais o sumo-sacerdote de Deus?"
Então, Paulo, controlando seus sentimentos, disse:
— "Não sabia, irmãos, que era o sumo-sacerdote:
porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu
povo.
Duas Seitas — Paulo então notou que no conse lho
haviam dois grupos, alguns fariseus e outros sadu-
ceus; assim, falando sabiamente sobre a ressurreição,
conquistou os fariseus para o seu lado, que disseram:
"Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espí -
rito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus". Isto
enfureceu os fariseus e as duas seitas começaram a
discutir e tanto se enfureceram que o tribuno, temen -
do que eles esfacelassem Paulo, mandou que seus sol -
dados Q levassem de volta à fortaleza.
Na noite seguinte, quando Paulo ainda estava no
castelo, o Senhor surgiu ao seu lado e disse:
Conforto Divino — "Paulo, tem ânimo: porque,
como de mim testificaste em Jerusalém, assim
importa que testifiques também em Roma".
Conjuração assassina — Na manhã seguinte, cer -
ca de quarenta desses judeus enraivecidos, ligaram-
se por um juramento, de que não comeriam e nem
bebe riam enquanto não matassem Paulo. Para isto
real i/a r, disseram ao sumo-sacerdote: "conjuramo-
nos, sol) poiui de maldição, e nada provaremos até que
matemos ;i 1'an Io. Agora, pois, vós, como conselho,
rogai no Irilmno que v<Ho traga amanhã, como que
querendo snlx-r

— 193 —
mais alguma coisa de seus negócios e, antes que che -
gue, estaremos prontos para o matar".
Mas o filho da irmã de Paulo soube da conjura -
ção e indo à fortaleza, contou, a seu tio tudo o que sa -
bia. Após ouvir a história de seu sobrinho, Paulo cha -
mou um dos centuriões e disse: "Leve este mancebo
ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comuni -
car". O centurião fez como lhe havia sido dito e
disse ao tribuno:
— "O preso Paulo, chamando-me a si rogou-me
que te trouxesse este mancebo, que tem alguma
coisa que te dizer".
— "Que tens a me contar?" perguntou o
tribuno.
"Os judeus combinaram rogar-te que amanhã
leves Paulo ao conselho, como que tendo de inquirir
dele mais alguma coisa, mas tu não creias porque
mais de quarenta homens dentre eles lhe andam
armando ciladas: os quais se obrigaram, sob pena de
maldição, a não comerem nem beberem até que o
tenham morto.
O tribuno acreditou no que lhe dizia o jovem e
disse:
— "Não contes a ninguém que me mostrastes es -
tas coisas".
E chamando dois centuriões, disse:
— "Aprontai para as três horas da noite,
duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos
arqueiros para irem até Cesaréia. Aparelhai as
cavalgaduras, para que pondo nelas a Paulo, o levem
a salvo ao presidente Félix".
Cláudio escreveu então uma carta ao
Governador Pélix, explicando brevemente porque
Paulo lhe estava sendo enviado (Atos 23:25-30).
Mandou também um recado aos acusadores de
Paulo, dizendo que fossem ao governador fazerem
suas queixas.

— 194 —
Quando Paulo, são e salvo, apareceu diante de Fé-
lix, o governador, este lhe perguntou:
— "De que província sois?"
— "Da Silícia", respondeu Paulo.
"Ouvir-te-ei, disse, quando também aqui vieram
os teus acusadores".
Paulo foi então colocado na sala de julgamento de
Herodes, até o seu julgamento cinco dias mais tarde.
Preso — Assim, a vida de Paulo, dentro do curto
espaço de alguns dias, havia sido salva por duas vezes
daqueles que queriam matálo. Deus lhe havia fa lado
dizendo: "Paulo, tem ânimo" e apesar de ainda ser um
prisioneiro, havia paz em sua alma pois ele sabia que
somente havia feito o que era certo e que Deus
aprovava suas ações.

— 1 95 —
LIÇÃO 36 DOIS ANOS

EM PRISÃO

"Tenho a consciência livre de ofensas a


Deus e aos homens".
Joseph Smith

—x. x. x. x —

PERANTE FÉLIX

Cinco dias após ter sido Paulo colocado na prisão,


o sumo-sacerdote Ananias e alguns dos Élderes vieram
a Cesaréia, para depor contra ele. Trouxeram com ele
um advogado chamado Tértulo.
Félix, o governador romano, mandou buscar o pri -
sioneiro para ouvir do advogado judeu as coisas que
Paulo tinha feito. O advogado começou seu discurso
lisonjeando Félix, para obter seu favor e então acusou
Paulo da seguinte maneira:
Paulo é falsamente acusado — "Temos achado que
este homem é uma peste, promotor de sedições entre
todos os judeus, por todo o mundo, e o principal de -
fensor da seita dos nazarenos . O qual intentou também
profanar o templo: e por isso o prendemos e conforme
a nossa lei o quizemos julgar".
E todos os judeus gritavam:
— "Sim, estas coisas são assim".
"Quando acabaram de falar, Félix acenou com sua
mão para que Paulo falasse em sua própria defesa, o
que ele fez, dizendo:

196 —
— "Porque sei que já vai para muitos anos que
desta nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo
por mini. Pois bem podes saber que não há mais de
doze dias que subi a Jerusalém a adorar, mas nego que
tenha disputado com qualquer homem ou que tenha
amotinado o povo, nas sinagogas nem na cidade. Nem
tão pouco podem provar as coisas de que agora me
acusam. Mas confesso-te isto: que, conforme aquele
caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de
nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos
profetas, e na ressurreição dos mortos, tanto para os
justos como para os injustos. E por isso procuro
sempre ter uma consciência sem ofensa tanto para com
Deus como para com os homens".
Inocente, mas prisioneiro. — íPaulo falou com tan to
entusiasmo e sinceridade que Félix se convenceu de
que falava a verdade. Quando ele concluiu, Félix sabia
que era inocente, mas, com medo de desagradar os
judeus, que como ele via, odiavam a Paulo, disse aos
oficiais que mantivessem Paulo prisioneiro, mas que
lhe dessem alguma liberdade, e que permitissem que
seus amigos viessem vê-lo. Assim Ananias e Tér tulo
tiveram que voltar a Jerusalém sem ter visto Paulo
punido. Eles ainda esperavam, contudo, fazer com que
fosse açoitado ou morto.
Perante Félix e Druscila. — Vários dias mais tarde,
Félix e sua esposa Druscila, uma judia, chamaram
Paulo perante eles para ouvirem a respeito de sua
dou trina cristã. Infelizmente o presidente e sua
cxpòsn não tinham vivido corretamente. E assim,
quando Paulo falou da "justiça e da temperança, e do
jui/ o vindouro, Félix, espavorido, respondeu:
— "Por agora vai-te e em tendo oporlunidiidc
Ic chamarei".
Félix não era um juiz justo, mas ijucrin
livrnrl Paulo. Queria porém dinheiro paru fa/.ê-lo.
<',liiiinnil|

— 197 —
o prisioneiro perante si muitas vezes e sugeriu que se
Paulo lhe desse dinheiro ele o libertaria; mas Paulo
desprezava a intimação de suborno.
Assim, durante dois anos Paulo permaneceu na
pri-ceu mas, durante aquele tempo ele pregou o
Evangelho a muitos de seus amigos e talvez a muitos
estranhos também. Quando Félix foi sucedido, "que -
rendo comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso".
PERANTE FESTO
Outra conspiração perversa. — Félix foi sucedido por
Festo, que era uni presidente mais justo e honrado.
Festo permaneceu em Cesaréia cerca de três dias, e su -
biu para visitar Jerusalém. Então os sacerdotes prin -
cipais e outros tentaram envenenar sua mente contra
Paulo e perguntaram se podiam trazê-lo de Cesaréia
a Jerusalém para julgá-lo. O seu plano perverso era
matá-lo no caminho.
Mas Festo respondeu: "Este prisioneiro será man -
tido em Cesaréia e eu mesmo irei para lá. Quem den -
tre vós tem poder, desça comigo e prove que este ho -
mem é tão mau como dizem".
Paulo nega as acusações. — Dez dias mais tarde, em
Cesaréia, Festo assentou-se na cadeira do julgamen to e
mandou que trouxessem Paulo perante ele. No -
vamente acusaram Paulo de muitas coisas más, mas
não podiam provar nenhuma delas. Paulo
novamente respondeu por si mesmo, dizendo:
— "Eu não pequei em coisa alguma contra a lei
dos judeus, nem contra o Templo, nem contra
César".
Festo, desejoso de agradar os judeus e não
saben do que eles queriam matar Paulo, disse:
— "Queres tu subir a Jerusalém e ser lá perante
mim julgado acerca destas coisas?"
— "Estou perante o tribunal de César, onde
convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos
judeus

— 198 —
como tu bem o sabes; ninguém me pode entregar a
eles, apelo para César.
Apelo a César. — Paulo, como já vimos, era um
cidadão romano, e portanto a lei lhe facultava o
direito de ser julgado em Roma, perante César, o
impe rador.
Então Festo, tendo falado com o conselho, disse a
Paulo:
—"Apelaste para César? Para César irás!" Assim
Paulo voltou <à prisão à espera de uma oca sião
favorável para ser enviado a Roma.
PERANTE O REI A GRIPA
Quando Paulo esteve cego logo após a sua visão, o
Senhor disse: "... este é para mim um vaso escolhi do,
para levar o meu nome diante dos gentios, e dos fi lhos
d'Israel".
Entre as pessoas a quem Paulo pregou o Evange -
lho, estava o rei Agripa e sua irmã Berenice. Agripa,
que reinava sobre parte da terra no lado este do rio
Jordão, fez uma visita a Festo; e o presidente aprovei -
tou a ocasião para falar com o rei a respeito de Paulo,
a maneira como tinha sido feito prisioneiro por Félix,
como os Judeus o acusavam, sem conseguirem provar
suas acusações; como ele se recusou a ir a Jerusalém e
como finalmente havia apelado para César. (Atos
25:13-22).
Disse Agripa: — "Festo, eu mesmo gostaria de
ouvir este homem".
— "Está bem", disse Festo, "amanhã o ouvirás".
Uma Assembleia Real. — Pela manhã, Agripa r
Berenice vieram com grande pompa", o que signifini,
sem dúvida, que ele estava vestido com sons mimlns de
púrpura e ela com suas jóias brilhantes c servidos por
escravos vestidos com cores berrantes. lira u n i u

— 199 —
assembleia real e a ocasião era solene, mas o persona -
gem mais real entre eles era o humilde prisioneiro que
apareceu em correntes para defender sua inocência e
buscar a justiça de sua causa.
O rei, olhando Paulo com mais curiosidade do que
desprezo, disse:
— "Permite-se que te defendas". Então Paulo,
dirigindo-se principalmente a Agri-pa, disse um
impressionante discurso, como se segue:
— "Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que
perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas
de que sou acusado pêlos judeus; mormente sabendo
eu que tens conhecimentos de todos os costumes e ques -
tões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me
ouças com paciência.
A minha vida, pois,desde a mocidade, qual haja
sido, desde o principio em Jerusalém, entre os de mi -
nha nação todos os judeus o sabem.
Sabendo mais de mim, desde o princípio (se o qui-
zerem testificar) que, conforme a mais severa seita da
nossa religião, vivi fariseu.
E agora pela esperança da promessa que por Deus
foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado, á qual
as nossas doze tribos esperam alcançar, servindo a
Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó
Rei Agripa, eu sou acusado pêlos judeus.
Pois que? julga-se coisa incrível entre vos que Deus
ressucite os mortos? Bem tinha eu imaginado que con -
tra o nome de Jesus nazareno devia eu praticar muitos
atos. O que também fiz em Jerusalém. E, havendo
recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei
muitos dos santos nas prisões e quando os matavam eu
dava o meu voto contra eles. "E, castigando-os muitas
vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar.
E, enfurecido demasidamente contra eles, até nas cida -
des estranhas os persegui. Sobre o que, indo então a

— 200 —
Damasco, com poder e comissão dos principais dos sa -
cerdotes, ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do
céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me
envolveu a mim e aos que vinham comigo. E, caindo
nós todos por terra, ouvi uma voz que falava, e em
língua hebraica dizia: Saulo, porque me persegues?
Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. E disse
eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a
quem tu persegues: Mias levanta-te e põe-te sobre teus
pés, porque te apareci por isto, para te pôr por
ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto
como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livran -
do-te do povo e dos gentios, para os quais agora te en -
vio. Para lhes abrires os olhos, e das trevas os conver -
teres à luz, do poder de Satanaz a Deus; afim de que
recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os san -
tificados pela fé em mim.
"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à vi -
são celestial. Antes anunciei primeiramente aos que
está em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da
Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se con -
vertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependi -
mento. Por causa disto os judeus lançaram mão de
mim no templo, e procuraram matar-me. Mas alcan
çando socorros de Deus, ainda até ao dia de hoje per -
maneço, dando testemunho tanto a pequenos como a
grandes, não dizendo nada mais do que o que os pro -
fetas a Moisés disseram que devia acontecer.
"Isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o pri -
meiro da ressureição dos mortos, devia anunciar ;i l u/,
a este povo e aos gentios. E, dizendo ele islo cm sim
defesa, disse Festo em alta voz: — Estás louco, 1'imlo;
as muitas letras te fazem delirar. Mas ele disse 1: Nn<>
deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palnvrn.s «Ir
verdade e de um são juizo. Porque o rei, ilianu- de
quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois mm rn-iii

— 201 —
que nada disto lhe é culto; porque isto não se fez em
qualquer canto". (Atos 26:11-26).
— "Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei
que crês.
Então disse Agripa: — "iPor pouco me queres
persuadir a que me faça cristão".
— "Prouvera a Deus" disse Paulo, "que, ou por
pouco ou por muito, não somente tu, mas também to-
dos quantos, hoje me estão ouvindo se tornassem tais e
quais eu sou, exceto estas cadeias".
Após ouvir o grande discurso de Paulo, o rei e
sua irmã e o presidente retiraram-se para um lado e
disse ram que não havia motivo para manter Paulo
prisio neiro, pois ele nada tinha feito que merecesse
morte ou cadeias.
Bem se podia soltar este homem", disse Agripa a
Festo, "se não houvesse apelado para César".

— 202
Lição 37

A VIAGEM A ROMA

"Deus prometeu que se O respeitarmos em


todos os nossos caminhos, ele dirigirá com
segurança nossos passos e em experiências
veremos esta promessa cumprida".

—x.x.x.x—•
Júlio, o Capitão Romano. — Em virtude do apelo de
Paulo a César, tornou-se necessário que ele fosse a
Roma, na Itália, onde vivia o imperador Romano. As -
sim, quando tudo estava pronto, e a passagem no na vio
garantida, Paulo e alguns outros prisioneiros em -
barcaram para Roma. Foi posto a cargo de um capitão
romano, chamado Júlio, um homem gentil, honrado, e
verdadeiro amigo de íPaulo. Ele reconheceu que o
apóstolo seu prisioneiro, era um homem grande e bom,
e possuia sabedoria superior ia dos mais sábios. Emo -
cionantes experiências se verificaram em sua viagem
que provaram a Júlio que Paulo não somente era sá bio,
mas também inspirado pelo Senhor. Não imporia onde
Paulo estivesse, em cuja companhia fosse coloon-do,
em paz, ou em perseguição, tendo diante de si a vida ou
ameaçado pela morte, ele sempre era o mesmo
esforçado pregador do Evangelho — um verdmlciro
servo de Seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo. (•: por i^lo
que mesmo seus inimigos o respeitavam e o trmiimi «<
porque Júlio e outros homens honestos o ml mi r nv mn
e o amavam.

— 203 —
Companheiros. — Dois dos verdadeiros amigos de
Paulo estavam com eles, Lucas o douto historiador, e
Aristarco de Tessalônica. Navegando ao norte de Ce-
saréia, eles pararam um dia em Sidon, onde, por cor -
tesia de Júlio, Paulo desembarcou para ver seus ami -
gos que lá viviam. Que alegre e ao mesmo tempo tris te
reunião deve ter sido esta. De Sidon eles navega ram
para o norte, além da ilha de Chipre, daí para oeste,
além das praias da Ásia Menor. Em Mira, uma cidade
da Lícia, Júlio, o Centurião encontrou um na vio
navegando de Alexandria para a Itália e assim
transferiu seus prisioneiros do navio de Adranitum
para o de Alexandria. Este último navio estava carre -
gado de trigo destinado à Itália, vindo do Egito.
Bons Portos. — Durante muitos dias o navio mo -
veu-se vagarosamente em virtude de uma forte venta -
nia, mas finalmente chegou a uma ilha chamada Cre ta.
Seguiram a sua praia até que encontraram um an -
coradouro chamado "Bons Portos", perto da cidade de
Lasea. Como não era um bom lugar para passar o in -
verno, o proprietário decidiu navegar para outro
porto.

PAULO ADVERTE

Como a viagem fosse perigosa, sendo já quasi in -


verno, Paulo os preveniu a não partir, dizendo:
"Varões, vejo que a navegação há de ser incómo -
da, e com muito dano, não só para o navio e carga mas
também para as nossas vidas", e aconselhou-os a per -
manecer onde estavam, durante o inverno.
Mas o proprietário do navio, acreditando que Pau -
lo nada soubesse a respeito de navegação, disse que
podiam ir; e o centurião, crendo que o proprietário do
navio tinha melhor julgamento que Paulo, consentiu
em navegar novamente.
Os navios naqueles dias não eram como os vapo -
res de hoje. Eram rudemente construidos. tendo um

— 204 —
grande mastro, em cuja cabeça passavam enormes cor.
das e uma grande vela. Era dirigido por dois limões.
Estando facilmente sujeito a fazer água, corria o peri -
go de adernar, apesar das cordas para amarrar o cas-
co, quando este se enfraquecia pelas tempestades. Na
proa estava pintado um olho, como que para procurar
a direção e vigiar contra perigos. Seus ornamentos
eram figuras de divindades pagãs, a quem os
marinhei ros idólatras e supersticiosos procuravam
para pedir proteção".
Na opinião de Paulo, seria perigoso tentar cruzar
o Mediterrâneo em tal barco, e ele sabia por
inspiração do Senhor que, se os marinheiros tentassem
fazê-lo. encontrariam o desastre.
Havia duzentas e setenta e seis pessoas a bordo
quando levantaram âncoras em Bons Portos e, conti -
nuaram sua viagem. O bom tempo e o vento favorá vel
prometiam uma viagem bem sucedida e segura; e sem
dúvida os marinheiros riam-se de Paulo por seus
temores.
Inicia-se a Tempestade. — Mas, de repente, tudo se
modificou. Um forte vento descendo das montanhas
pela praia, abateu-se sobre o navio e o fazia andar à
roda. Os marinheiros eram incapazes de controlá-lo e o
leme se desgovernou. Atraz do navio havia um pe queno
barco, que eles agora puxavam a bordo para que
quando o navio estivesse ameaçado de se despedaçar,
eles o amarrassem com cordas para que, não se esfa -
celasse e não fizesse água.
Mas, não obstante todos os seus esforços, o barco
começou a vazar e a ser levado para alto mar. Foi en -
tão que começaram a aliviar o barco. Mas ainda o veiu
to tempestuoso açoitava o navio e a chuva aliali»-sc
contra ele e o perigo de afundamento era imiiicnlo
aumentava sempre. As horas se prolongai ain pnn dias
e os passageiros e marinheiros esfomeados cniiii
nhavam aterrorizados dia e noite. No loivoiro din. n-

— 205 —
lata Lucas, "lançamos ao mar a armação do navio,
com as nossas próprias mãos", donde concluimos que
o na vio estava fazendo tanta água, que mesmo os
passagei ros auxiliavam a jogar para fora tudo o que
podia ser dispensado.
"E não aparecendo, havia muitos dias, nem sol
nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena
tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos
salvarmos". Mesmo Lucas, parece, perdeu a coragem,
e estava a ponto de desistir.
Ttodos em desespero, com exceção de um. — Sem
alimentação regular, pois o que tinham estava prova -
velmente estragado, ensopados e gelados, o desespero
se apossou de todo o grupo. Mas havia uma exceção •
— (Paulo. Enquanto os outros estavam perdendo a es -
perança, empenhou-se em oração. Nem a falta de con -
forto e nem o perigo, nem a oposição aos seus conse -
lhos, nem tudo isto junto poderia perturbar sua
calma que tanto diferia do temor e da angústia que
havia ao seu lado. Havia um grande contraste entre o
inseguro navio e a sua firmeza; estava na escuridão
mas a luz divina subsistia nele. Ele distinguia entre a
fraqueza física e a força espiritual, entre os gritos
desesperados ao seu redor e a paz interior, entre os
olhos pintados na proa do navio e o olho que tudo via
e que estava com ele, entre as imagens ornamentais
de deuses fal sos e impotentes e o governador de todas
as coisas.
Em meio a este desespero e escuridão, Paulo le -
vantou-se e disse: "Fora na verdade razoável, varões,
ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim
evi tariam este incómodo e esta perdição. Mas agora
vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não
se per derá a vida de nenhum de vós, mas somente o
navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de
quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo:
"Paulo, não temas: importa que sejas apresentado a
César e eis que Deus te deu todos quantos navegam
contigo.

— 206 —
Portanto, ó varões, tende bom ânimo, porque creio
cm Deus que há de acontecer assim como a mini me
foi dito. É contudo necessário irmos dar numa ilhn".
A tempestade durou catorze dias; e então 11111:1 m>i
te os marinheiros pensaram estar se aproximando d:i
terra. Sondaram a profundida e viram que a íigim es -
tava a vinte braças. Dentro de algum tempo, mediram
novamente e verificaram que estava somente a 15 bra -
ças de profundidade e portanto sabiam que a terra uno
estava distante.
Os marinheiros tentam escapar. — Ancoraram na vio
e esperaram anciosamente pelo dia. Então alguns
marinheiros começaram a abaixar um pequeno barco,
fingindo estar lançando mais âncoras mas na verdade
tentando abandonar o navio e deixar tudo no navio
entregue à destruição. Quando Paulo descobriu seus
intentos, disse ao centurião":
Paulo os previne. — "Se estes não ficarem no na -
vio não podereis salvar-vos". Ao ouvir isto uns mari -
nheiros cortaram a corda e deixaram o barco cair c
deste modo aqueles não puderam fugir.
Conforto e Alimentos. — Quando estava amanhe -
cendo, 'Paulo dirigiu-se novamente à tripulação, man -
dando que comessem. "É já hoje o décimo quarto dia
que esperais e permaneceis sem comer, não havendo
provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais al -
guma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um
cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós".
Ele então tomou pão e deu graças na presença de
todos e quando o partiu, começou a comer. Enconijn-
dos pela fé e segurança de Paulo, todos quebraram
seu jejum e então aliviaram o navio atirando o trigo
puni fora do navio.
Assim que veio a luz do dia, puderam ver lerni.
mas não sabiam que lugar era. Contudo, virnm um
regato que desembocava no mar, e concluirnin que po-
deriam levar seu navio em segurança paru n bnin. A1*-

— 207—
sim eles cortaram a âncora levantaram velas e
dirigi ram-se para a praia.
Como uni clímax de todos os desastres, o navio
ficou preso na areia. A proa enterrou-se fundo na
areia e a popa começou a se despedaçar.
O Navio afunda. — Havia uma lei romana que
dizia que um soldado devia tomar o lugar do
prisioneiro se permitisse que este escapasse; assim os
soldados te mendo que os prisioneiros pudessem
nadar para a praia e escapar, pediram ao centurião
para matar to dos os prisioneiros enquanto ainda
estavam a bordo. Mas Júlio, querendo salvar a vida
de Paulo se recusou a permitir que os prisioneiros
fossem mortos.
Alguns deles nadaram para a praia e,
auxiliando os outros, conseguiram salvar a todos —
nem uma só vida se perdeu, exceto o navio,
exatamente como Pau lo havia previsto.
A ilha era Malta, logo ao sul da Sicília. É

MANIFESTO O PODER DE DEUS

Lucas relata que "os bárbaros usaram conosco de


não pouca humanidade; porque acendendo uma gran -
de fogueira, nos recolheram a todos por causa da chu -
va que caía e do frio".
Paulo estava ocupado ajudando a manter o fogo, e
a dar maior conforto aos outros quando algo aconte -
ceu que assustou os nativos. Uma víbora que se acha va
no meio dos paus de lenha, rastejou-se e prendeu-se à
mão de Paulo, o qual sacudindo a mão lançou-a ao
fogo. Quando todos a viram e souberam o quanto era
venenosa, disseram "Certamente este homem é um ho -
micida, visto como, escapando do mar a Justiça não o
deixa viver".
A admiração dos nativos. — Eles estavam espe rando
que ele inchasse e morresse. Mas surpreende-

— 208 —
ram-se ao ver que nenhum dano veio a ele. Então mu -
daram de ideia e disseram que era um deus.
É pregado o evangelho. — Sem dúvida Paulo lhes
disse quem ele era, e pregou o Evangelho de Jesus
Cria-to a eles. Ficaram em casa de Públio, o chefe da
ilha, que também ouviu o evangelho e viu o poder do
Sacer dócio manifestado. Seu pai estava doente com
febre c muito mal. Paulo administrou-lhe virtude pela
impo sição das mãos e ele curou-se imediatamente. As
notícias destes milagres logo se esparramaram e o
resul tado foi que muitos que estavam doentes "vieram
também ter com ele e sararam".
"Os quais nos distinguiram também com muitas
honras", diz o historiador Lucas, "e havendo de nave -
gar, nos prouveram das coisas necessárias".
Semeadas as sementes da verdade. — Que bênção para
este povo foram os três meses que Paulo e seus
companheiros passaram lá, e que grande tristeza eles
devem ter experimentado ao se despedirem quando o
"Castri e Polux", o navio de Alexandria, levou Paulo
para sempre. Levou a ele, mas não às verdades que ele
ensinara. Estas permaneceriam com eles e, se fossem
aceitas, os abençoariam eternamente.

— 209 —
LIÇÃO 38
O MUNDO ENRIQUECIDO POR UM PRISIONEIRO
ACORRENTADO
"O Sangue dos mártires é a semente da
Igreja."
/
—x. x. x. x—
Antecipação versas Realização. — Alguns meninos da
escola reuniram-se um dia para discutir a ques tão: A
Antecipação dá mais prazer que a realização". Um do
lado dos que tentavam provar que a Antecipa ção dá
mais prazer, referiu-se a todas as experiências de um
menino no Natal, dizendo que o dia antes do Na tal que
é a véspera de Natal, sempre dá maior satisfa ção que o
próprio Natal — "Assim que o menino rece be seus
presentes, começa a lamentar-se que o Natal não seja
amanhã".
O menino expressou em seus modos simples, mais
ou menos o mesmo pensamento contido nesta sentença
de Emerson: "O homem olha para a frente com sorri -
sos, mas para traz com suspiros" ou, como outro autor
o descreve "O que esperamos é sempre melhor do que
o que gozamos".
Nem sempre é assim na vida; mas certamente de ve
ter sido isto o que aconteceu com Paulo e sua espe -
rada visita a Roma. Durante muitos anos ele havia
aguardado com prazer a ocasião em que pregaria o
Evangelho na famosa capital do grande Império Ro -
mano. Mas agora, ao aproximar-se da realização de

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suas esperanças, é um homem velho, gasto pelo
traba lho e pela prisão, e um prisioneiro.
Contudo, não devemos concluir que ele não
tivesse conforto, ou que tivesse menos desejo de levar
seu tes temunho ao mundo, sua mensagem da divina
missão do seu Salvador. Ao contrário, ele
continuava a apro veitar toda oportunidade que
tinha para pregar o evan gelho eterno.
Siracusa. — Assim ele fez quando o Castri e Po-
lux ou "Os Gémeos" pararam a oitenta milhas ao
norto. de Malta, num lugar chamado Siracusa, a
antiga capi tal da Sicilia. É bem provável que Paulo
tenha pedido permissão para desembarcar e pregar
o Evangelho aos judeus e gentios que se achavam
naquela celebrada ci dade. Se isto aconteceu,
estamos certos de que Júlio acedeu ao seu pedido. De
qualquer modo, os Sicilianos posteriormente
clamaram que Paulo fundou uma Igre ja naquela
cidade.
Puteoli. — Sua próxima parada importante foi
na parte norte da bela baía de Nápoles, onde estava
situa da uma cidade chamada Puteoli; agora
conhecida como Pozzuoli. Ao entrar no porto, o
navio que levava Pau lo e seus amigos foi saudado por
uma multidão. Entre estes havia irmãos que
tinham vindo apresentar boas vindas e confortar o
missionário prisioneiro. Talve/ por um desejo de
Júlio de permanecer naquele local tempo suficiente
para se comunicar com Roma ou lal vez em
consideração a Paulo, o grupo permaneceu cm
Puteoli por sete dias, dando assim aos Éldcrcs
uma oportunidade de passar o domingo com os
sanlos na quele local. Como deve ter sido
refrescante para o es pírito de Paulo adorar mais uma
vez com aqueles «pie tinham o mesmo testemunho
do Evangelho «pie ele
tinha.
Tendo sido enviada uma mensagem tia f r e n t e , «pie
Paulo estava em seu caminho de 1 ' n t e o l i p a r a Kmmi.
muitos dos irmãos naquela c i d a d e p a r t i r a m p a i a en

— 211 —
contrar o amado e famoso missionário. Sem dúvida OF
Santos de Roma compreenderam que o espírito de Pau -
lo bem como o seu corpo deveriam estar gastos e can -
sados, e, como verdadeiros amigos, preparam-se para
recebê-lo. A verdadeira adversidade sempre encoraja
uma pessoa a ir a um amigo na adversidade mais do
que em prosperidade. Pode ser que eles tivessem que -
rido somente dar a ele uma acolhida real na sua cida -
de, pois ele era de fato um personagem real, apesar de
estar a ferros. Seja qual for o motivo, alguns dos ir -
mãos viajaram quarenta milhas e encontraram seu
amado apóstolo na praça d'Apio. Outro grupo o encon -
trou nas "Três Vendas", a trinta milhas de Roma. O
coração de Paulo estava tocado por esta manifestação
de amizade e verdadeira irmandade, e ele "deu graças
a Deus e tomou ânimo".
Sob guarda. — Quando o grupo alcançou a famo sa
capital do mundo antigo esta deve ter parecido a
Paulo como uma grande prisão; e quando seus
amigos dele se separaram para ir para suas casas e
ele para o seu lugar guardado, seu coração deve ter se
sentido bas tante pesado. Contudo, Júlio gentilmente
entregou seu prisioneiro ao capitão da guarda
pretoriana, a mais alta autoridade na cidade o
guarda encarregado de to dos os que deveriam ir à
presença do Imperador para julgamento. Felizmente,
Paulo não foi posto em pri são mas permitiram-lhe,
que morasse sozinho numa casa, sob a guarda
constante de um soldado. Ali ele gozou de toda a
liberdade possível a um prisioneiro; assim, fiel ao seu
espírito enérgico, ele descobriu mui tas oportunidades
para continuar sua pregação. Isto ele fez
primeiramente aos soldados a quem estava li gado
diariamente. Como eles se revezavam constante-
mente, teve ampla oportunidade para pregar a
verda de a muitos guardas e assim pregou
indiretamente ao próprio Imperador.

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Apelo aos judeus. — Ele teve ocasião de também
pregar aos judeus. Chamou os chefes desta nação e
lhes contou porque ele era então um prisioneiro. "Na -
da havendo eu feito contra o povo ou contra os ritos
paternos", disse ele, "vim contudo preso desde Jerusa -
lém, entregue nas mãos dos romanos, os quais, haven -
do-me examinado, queriam soltar-me por não haver
em mim crime algum de morte. Mas opondo-se os
judeus, foi-me forçoso apelar para César",
"Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar;
porque pela esperança d'Israel estou com esta cadeia".
Os judeus negam a mensagem. — Os judeus dis -
seram que nada tinham ouvido contra ele, mas "quan to
a esta seita (referindo-se aos Cristãos) notório nos é que
em toda a parte se fala contra ela". De fato, em Roma
como em todos os outros lugares, os judeus re cusaram
a mensagem do evangelho e obrigaram Paulo a
regressar aos gentios.
O Evangelho se divulga. — Durante cerca de oito -
centos dias, Paulo permaneceu prisioneiro aguardando
seu julgamento perante o Imperador. Durante este
tempo, ele pregou o Evangelho a centenas de soldados
que tinham um após outro lhe servido de guardas. Es -
tes, quando convertidos, convertiam outros e quando
enviados para as províncias romanas, espalhavam o
evangelho por novas terras, aumentando assim a área
sobre a qual a luz da verdade podia brilhar.
Mas esta não era a única maneira como ele irra diava
da habitação humilde do missionário prisionei ro.
Durante aqueles dois anos de reclusão, ele se man teve
em comunicação com as Igrejas da Europa e da Ásia.
Como não havia estradas de ferro, nem navios e nem
telégrafo, todas as cartas que recebia ou que en viava
eram levadas por um correio que viajava muito
vagarosamente por terra e mar, algumas vexes por
centenas de milhas. Mas ele tinha ólimos c dedicados
ami gos que o serviam e que estavam sempre prontos
para

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levar suas mensagens. Alguns destes nós já conhece -
mos. Lucas, o fiel médico; Timóteo, seu filho no Evan -
gelho; João Marcos o que partiu com Paulo e Barnabé
em sua primeira missão; Aristarco de Tessalônica;
Epafrodito, um amigo da Macedônia; Onésimo, um es -
cravo pertencente ao amigo de Paulo, Filemon, e ou -
tros. Com estes servos fiéis como mensageiros, Paulo
escreveu cartas que são chamadas epistolas, que fize -
ram o mundo todo melhor e mais rico em conhecimen -
to da verdade. Estas cartas estão agora no Novo Tes -
tamento e são chamadas Epístolas aos Filipenses, a
Filemon, aos Colossenses, aos Efésios, etc.
Assim se tornaram as epístolas escritas por Paulo
na prisão romana, mensageiras aladas que podem voar
do este ao oeste em missão de amor.
Livre. — A certeza do que Paulo fez após ter sido
prisioneiro em Roma por dois anos, termina com a
afir mativa de Lucas de que ele "recebia todos quantos
vinham vê-lo, pregando o reino de Deus e ensinando
com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor
Jesus Cristo sem impedimento algum". Acredita-se,
contudo, que ele tenha finalmente recebido sua
liberdade e pregado em muitas terras, dizendo a
tradição que ele chegou mesmo a ir à Inglaterra.
Acredita-se que tenha sido durante esta viagem
missionária que ele escreveu sua primeira carta a
Timóteo, que havia sido indicado para tomar conta da
Igreja em Éfeso e também a carta a Tito que estava
com as Igrejas na ilha de Creta.
Preso novamente. — Cerca do ano de 64 A.D., con -
tudo, ele foi novamente preso em Roma. Somente um
ano antes os santos haviam sido perseguidos até à mor -
te pelo perverso Nero. Eles haviam sido atirados na
arena, devorados por animais selvagens, queimados
como tochas humanas e martirizados de outras formas
cruéis.

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Degolado. — Foi logo depois do incêndio de Ro ma
por este perverso imperador, que Paulo, o mais
enérgico de todos os missionários, após 30 anos de cons -
tante serviço no ministério, foi degolado. Um pouco
antes de sobrevir a morte, ele escreveu a Timóteo estas
belas e patéticas palavras: "Porque eu já estou sendo
oferecido por aspersão de sacrifício e o tempo da mi -
nha partida está próximo. Combati o bom combate,
acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da
justiça me está guardada a qual o Senhor, justo juiz,
me dará naquele dia; e não somente a mini. mas tam -
bém a todos os que amarem a sua vinda".
Ao inclinar sua cabeça para receber o golpe fatal,
sabemos que poderia ter dito em toda verdade:
"Sinto minha imortalidade sobrepujar todas as dores,
todas as lágrimas, todo o tempo, todos os temores e
penetrar, como os eternos trovões das profundezas,
nos meus ou vidos esta verdade — tu vives para
sempre!"

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