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O Direito do Consumo

(a partir do livro “Introdução ao Direito”, de Roberto Rodrigues e Luís Valério)

Direitos dos consumidores (segundo o artigo 60.º da


Constituição)
a) Direito à qualidade dos bens e serviços consumidos;
b) À formação e informação;
c) À protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos;
d) À reparação dos danos.

A publicidade é objecto, de acordo com a Constituição, de um controlo


apertado, sendo proibidas todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou
dolosa.
A Lei n.º 29/81, de 22 de Agosto (Lei de Defesa do Consumidor), e diversas
outras têm vindo a consagrar alguns princípios de inegável importância em
matéria de Direito do Consumo.

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O Direito do Consumo
(a partir do livro “Introdução ao Direito”, de Roberto Rodrigues e Luís Valério)

Os Consumidores e a Constituição

O artigo 60.º da Constituição da República Portuguesa atribui aos


consumidores e respectivas organizações diversos direitos de inegável
importância:

Artigo 60.º
(Direitos dos consumidores)

1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à


formação e à informação, à protecção da saúde, da segurança e dos seus
interesses económicos, bem como à reparação de danos.
2. A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas todas as formas de
publicidade oculta, indirecta ou dolosa.
3. As associações de consumidores e as cooperativas de consumo têm direito,
nos termos da lei, ao apoio do Estado e a ser ouvidas sobre as questões que
digam respeito à defesa dos consumidores.
A Constituição, ao atribuir às associações de consumidores e cooperativas
de consumo o direito de audição sobre as questões que interessam aos
consumidores (n.º 3), pretende reforçar a democracia participativa (art. 2.º).
Esse direito de participação deve traduzir-se, nomeadamente, na
representação dos consumidores nas instâncias públicas de participação que
lidem com assuntos que digam respeito aos consumidores.
No que diz respeito à publicidade, importante meio de promoção do
consumo e de influência dos consumidores, a Constituição determina que esta
actividade deve ser disciplinada por via legal. A lei deve, pois, criar
mecanismos que protejam os consumidores da publicidade oculta e enganosa.
Não esclarece a Constituição, nem deveria fazê-lo, o que deve entender-se
por consumidor.
A Resolução da Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, de 17 de
Maio de 1973, relativa à Carta de protecção do consumidor, define-o assim:

Resolução da Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, de 17 de


Maio de 1973

Um consumidor é uma pessoa física ou colectiva a quem são fornecidos bens


e prestados serviços para uso privado.

Outras organizações e entidades têm proposto várias noções para esta


realidade que agora nos ocupa. Em seguida, referiremos a que propõe a Lei de
Defesa do Consumidor, que, como veremos, não é inteiramente coincidente
com a que se referiu atrás.

A Lei da Defesa do Consumidor

Noção de consumidor

Artigo 2.º
(Definição e âmbito)
1- Considera-se consumidor, todo aquele a quem sejam fornecidos bens,
prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não
profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade
económica que vise a obtenção de benefícios.
(…)

A definição acabada de enunciar, ainda que generalizadamente aplaudida,


não esclarece por completo algumas dúvidas, a saber:
a) O consumidor que negoceia com uma empresa pode ser ele próprio
também uma entidade empresarial?
b) O consumidor tem de ser uma pessoa física?
c) A relação de consumo é necessariamente directa e exclusiva com o
sujeito adquirente ou integra também um círculo mais vasto,
designadamente o agregado familiar?
Relativamente à questão levantada na alínea a), tem-se entendido pela
negativa. Tal conclusão é deduzida da contraposição estabelecida com o outro
contraente e do conteúdo dos direitos que a lei estabelece a favor do
consumidor.
Sobre se o consumidor tem de ser uma pessoa física, tem-se entendido que
cabe à jurisprudência a decisão de tal matéria, designadamente permitindo ou
não que certas pessoas colectivas de organização não empresarial caibam no
conceito em causa.
Quanto á alínea c), tem-se entendido que, ainda que a lei o não refira
expressamente, existem lugares paralelos que apontam para a aceitação do
agregado familiar como sendo a unidade que deve caber no âmbito do conceito
de consumidor.

Direitos do consumidor

O artigo 3.º da Lei de Defesa do Consumidor enuncia os direitos do


consumidor:

Artigo 3.º
(Direitos do consumidor)
O consumidor tem direito:
a) À qualidade dos bens e serviços;
b) À protecção da saúde e da segurança física;
c) À formação e à educação para o consumo;
d) À informação para o consumo;
e) À protecção dos interesses económicos;
f) À prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que
resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos,
colectivos ou difusos;
g) À protecção jurídica e a uma justiça acessível e pronta;
h) À participação, por via representativa, na definição legal ou administrativa
dos seus direitos e interesses.

Associações de defesa do consumidor

Nos termos da presente lei são consideradas associações de defesa do


consumidor:

Artigo 17.º
(Associações de consumidores)
1- As associações de consumidores são associações dotadas de
personalidade jurídica, sem fins lucrativos e com objectivo principal de
proteger os direitos e os interesses dos consumidores em geral ou dos
consumidores, seus associados.

O art. 18.º enuncia um vasto conjunto de direitos atribuídos às associações


de consumidores com representatividade genérica:
Artigo 18.º
(Direito das associações de consumidores)
1- As associações de consumidores gozam dos seguintes direitos:
a) Ao estatuto de parceiro social em matérias que digam respeito à política de
consumidores, nomeadamente traduzido na indicação de representantes para
órgãos de consulta ou concertação que se ocupem da matéria;
b) Direito de antena na rádio e na televisão, nos mesmos termos das
associações com estatuto de parceiro social;
c) Direito a representar os consumidores no processo de consulta e audição
públicas a realizar no decurso da tomada de decisões susceptíveis de afectar
os direitos e interesses daqueles;
d) Direito a solicitar, junto das autoridades administrativas ou judiciais
competentes, a apreensão e retirada de bens do mercado ou a interdição de
serviços lesivos dos direitos e interesses dos consumidores;
e) Direito a corrigir e a responder ao conteúdo de mensagens publicitárias
relativas a bens e serviços postos no mercado, bem como a requerer, junto
das autoridades competentes, que seja retirada do mercado publicidade
enganosa ou abusiva;
f) Direito a consultar os processos e demais elementos existentes nas
repartições e serviços públicos da administração central, regional ou local que
contenham dados sobre as características de bens e serviços de consumo e
de divulgar as informações necessárias à tutela dos interesses dos
consumidores;
g) Direito a serem esclarecidas sobre a formação dos preços de bens e
serviços, sempre que o solicitem;
i) Direito de participar nos processos de regulação de preços de fornecimento
de bens e de prestações de serviços essenciais, nomeadamente nos domínios
da água, energia, gás, transportes e telecomunicações, e a solicitar os
esclarecimentos sobre as tarifas praticadas e a qualidade dos serviços, por
forma a poderem pronunciar-se sobre elas;
j) Direito a solicitar aos laboratórios oficiais a realização de análises sobre a
composição ou sobre o estado de conservação e demais características dos
bens destinados ao consumo público e de tornarem públicos os
correspondentes resultados, devendo o serviço ser prestado segundo tarifa
que não ultrapasse o preço de custo;
l) Direito à presunção de boa fé das informações por elas prestadas;
m) Direito à acção popular;
n) Direito de queixa e denúncia, bem como direito de se constituírem como
assistentes em sede de processo penal e a acompanharem o processo contra-
ordenacional, quando o requeiram, apresentando memoriais, pareceres
técnicos, sugestão de exames ou outras diligências de prova até que o
processo esteja pronto para decisão final;
o) Direito à isenção do pagamento de custas, preparos e de imposto de selo,
nos termos da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto;
p) Direito a receber apoio do Estado, através da administração central,
regional e local, para a prossecução dos seus fins, nomeadamente no
exercício da sua actividade no domínio da formação, informação e
representação dos consumidores;
q) Direito a benefícios fiscais idênticos aos concedidos ou a conceder às
instituições particulares de solidariedade social.
O Instituto do Consumidor

De acordo com o artigo 21.º, este instituto:

Artigo 21.º
Instituto do Consumidor
1- O Instituto do Consumidor é o instituto público destinado a promover a
política de salvaguarda dos direitos dos consumidores, bem como a coordenar
e executar as medidas tendentes à sua protecção, informação e educação e
de apoio às organizações de consumidores.

Necessidade de Códigos de Defesa do Consumidor e da Publicidade

A necessidade da lei de defesa do consumidor

“Entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o explorador e


explorado, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.” Lamentavelmente,
desconhece-se o autor desta afirmação. Dela resulta de uma maneira bastante
clara que a lei (os códigos são leis), se justa, note-se, é um instrumento
essencial de protecção dos mais fracos contra os mais fortes. Os consumidores
em geral, por razões múltiplas, designadamente de natureza económica, social
e cultural, são de facto a parte mais fraca na relação de consumo.
Carecem pois os consumidores de especial protecção. Eis a razão do
Código de Defesa do Consumidor.

A publicidade

A – Noção

Por publicidade, entende-se toda a actividade de divulgação que vise


conduzir a atenção do público para um bem ou serviço de natureza comercial,
com o fim de promover a sua aquisição.
Nesta noção de publicidade, propositadamente ampla, cabem todas as
mensagens de promoção empresarial, quer tenham origem no comerciante-
vendedor quer no produtor, qualquer que seja o meio utilizado. Assim, as
indicações que se encontram contidas em embalagens, rótulos, etiquetas,
facturas, papel timbrado ou análogos, desde que incluam elementos com a
finalidade de “promover a aquisição” de bens ou serviços devem ser
consideradas publicidade. O mesmo se verifica com os chamados “contactos
personalizados”, quando o número de pessoas atingidas se possa qualificar
como público.
O D.L. n.º 330/90, de 23 de Outubro, alterado pelo D.L. n.º 275/98 de 9 de
Setembro (Código da Publicidade), deve ser consultado.
B – Princípios gerais da actividade publicitária

Estes princípios que regem a publicidade encontram-se no Código da


Publicidade já referido.

Artigo 7º
(Princípio da licitude)
1 - É proibida a publicidade que, pela sua forma, objecto ou fim, ofenda os
valores, princípios e instituições fundamentais constitucionalmente
consagrados.

2 - É proibida, nomeadamente, a publicidade que:


a) Se socorra, depreciativamente, de instituições, símbolos nacionais ou
religiosos ou personagens históricas;
b) Estimule ou faça apelo à violência, bem como a qualquer actividade ilegal
ou criminosa;
c) Atente contra a dignidade da pessoa humana;
d) Contenha qualquer discriminação em relação à raça, língua, território de
origem, religião ou sexo;
e) Utilize, sem autorização da própria, a imagem ou as palavras de alguma
pessoa;
f) Utilize linguagem obscena;
g) Encoraje comportamentos prejudiciais à protecção do ambiente.
h) Tenha como objecto ideias de conteúdo sindical, político ou religioso.

3 - Só é permitida a utilização de línguas de outros países na mensagem


publicitária, mesmo que em conjunto com a língua portuguesa, quando aquela
tenha os estrangeiros por destinatários exclusivos ou principais, sem prejuízo
do disposto no número seguinte.
4 - É admitida a utilização excepcional de palavras ou de expressões em
línguas de outros países quando necessárias à obtenção do efeito visado na
concepção da mensagem.
Artigo 8º
(Princípio da identificabilidade)
1 - A publicidade tem de ser inequivocamente identificada como tal, qualquer
que seja o meio de difusão utilizado.

2 - A publicidade efectuada na rádio e na televisão deve ser claramente


separada da restante programação, através da introdução de um separador no
início e no fim do espaço publicitário.

3 - O separador a que se refere o número anterior é constituído na rádio, por


sinais acústicos, e, na televisão, por sinais ópticos ou acústicos, devendo, no
caso da televisão, conter, de forma perceptível para os destinatários, a palavra
«Publicidade» no separador que precede o espaço publicitário.
Artigo 9º
(Publicidade oculta ou dissimulada)
1 - É vedado o uso de imagens subliminares ou outros meios dissimuladores
que explorem a possibilidade de transmitir publicidade sem que os
destinatários se apercebam da natureza publicitária da mensagem.

2 - Na transmissão televisiva ou fotográfica de quaisquer acontecimentos ou


situações, reais ou simulados, é proibida a focagem directa e exclusiva da
publicidade aí existente.

3 - Considera-se publicidade subliminar, para os efeitos do presente diploma, a


publicidade que, mediante o recurso a qualquer técnica, possa provocar no
destinatário percepções sensoriais de que ele não chegue a tomar
consciência.

Artigo 10º
(Princípio da veracidade)
1 - A publicidade deve respeitar a verdade, não deformando os factos.

2 - As afirmações relativas à origem, natureza, composição, propriedades e


condições de aquisição dos bens ou serviços publicitados devem ser exactas e
passíveis de prova, a todo o momento, perante as instâncias competentes.

Artigo 12º
(Princípio do respeito pelos direitos do consumidor)

É proibida a publicidade que atente contra os direitos do consumidor.

C – Alguns casos especiais

Alguns bens ou serviços, por diversas razões, estão sujeitos a regras


especiais no domínio da publicidade, que podem ir desde a proibição total até
ao estabelecimento de regras próprias, de conteúdo negativo ou positivo.
Vejam-se os casos seguintes:

• Proibição total de publicidade – é o caso dos jogos de fortuna e de azar


(salvo os promovidos pela Santa Casa da Misericórdia); das substâncias
abortivas e de objectos ou meios pornográficos;
• Proibição total de utilização de certos meios publicitários – é o caso da
publicidade na televisão e na rádio do tabaco;
• Proibição relativa da utilização de bebidas alcoólicas na televisão e na
rádio antes de certas horas – é o que se verifica com a publicidade de
bebidas alcoólicas na televisão e na rádio antes de certas horas;
• Restrição ao conteúdo ou forma da mensagem publicitária: exemplos –
publicidade de bebidas alcoólicas e tabaco (quando são permitidas), de
modo que “não sugira sucesso, não encoraje consumo excessivo, não
sugira ou contenha o acto de beber”.

D – O caso da publicidade de medicamentos para uso humano

I. Razão da referência

O D.L. n.º 100/94, de 19 de Abril, do Ministério da Saúde, “transpõe para a


ordem jurídica a Directiva n.º 92/28/CEE, do Conselho, de 31 de Março, e
estabelece o regime jurídico da publicidade dos medicamentos para uso
humano” (art. 1.º).
A importância dos produtos em causa e o facto de se tratar de um regime
semelhante aos dos demais estados-membros da Comunidade Europeia /
União Europeia, justificam, no nosso ponto de vista, o tratamento especial
que lhe damos.

II. Elementos proibidos na publicidade junto do público

A publicidade de medicamentos junto do público, nos termos do art. 5.º do


identificado diploma, obedece a certas restrições. Assim, não pode conter
qualquer elemento que:

a) Leve a concluir que a consulta médica ou a intervenção cirúrgica é


desnecessária, em particular sugerindo um diagnóstico ou preconizando o
tratamento por correspondência;
b) Sugira que o efeito do medicamento é garantido, sem efeitos
secundários, com resultados superiores ou equivalentes aos de outro
tratamento ou medicamento;
c) Sugira que o estado normal de saúde da pessoa possa ser melhorado
através da utilização do medicamento;
d) Sugira que o estado normal de saúde da pessoa possa ser prejudicado
caso o medicamento não seja utilizado, excepto no que diga respeito às
campanhas de vacinação;
e) Se dirija exclusiva ou principalmente a crianças;
f) Faça referência a uma recomendação emanada por cientistas,
profissionais de saúde ou outra pessoa que, pela sua celebridade, possa
incitar ao consumo de medicamentos;
g) Trate o medicamento como um produto alimentar, produto cosmético ou
qualquer outro produto de consumo;
h) Sugira que a segurança ou eficácia do medicamento é devida ao facto de
ser considerado um produto natural;
i) Possa induzir, por uma descrição ou representação detalhada da
anamnese, a um falso autodiagnóstico;
j) Se refira de forma abusiva, assustadora ou enganosa a demonstrações
ou garantias de cura;
l) Utilize de forma abusiva, assustadora ou enganosa, representações
visuais das alterações do corpo humano causadas por doenças ou lesões,
ou da acção de um medicamento no corpo humano ou em partes do corpo
humano;
m) Refira que o medicamento recebeu uma autorização de introdução no
mercado.

Determina o n.º 3 do referido art. 5.º que é proibida “qualquer forma de


publicidade comparativa” e a “distribuição gratuita de medicamentos ao público
com fins promocionais.”

Produtos e serviços defeituosos

As relações socialmente relevantes

Frequentemente, a problemática da protecção dos interesses económicos


do consumidor é perspectivada com base na relação contratual entre o
comerciante e o comprador de bens ou serviços. Trata-se, é certo, de uma
simplificação que abrange a generalidade das situações. É inquestionável,
contudo, que por vezes não existe relação contratual entre o consumidor e a
entidade perante quem se pretende fazer valer os seus direitos. É o caso de os
bens serem consumidos por familiares ou amigos do adquirente que celebrou o
negócio de consumo com o fornecedor. Nem sempre as pretensões dos que
consomem se devem dirigir, portanto, contra as entidades que intervieram nos
contratos de fornecimento. É o que acontece, por exemplo, com os produtores
ou fabricantes que colocaram no mercado os seus produtos para que sejam
comercializados por outros.
Assim, a relação de consumo, numa perspectiva mais ampla, pode ser
perspectivada do seguinte modo:

FABRICANTE COMERCIANTE ADQUIRENTE CONSUMIDOR


RETALHISTA FINAL

Ainda que exista sempre a relação entre o retalhista e adquirente, o que é


certo é que existem outras relações relevantes. Se o adquirente e o
consumidor nem sempre coincidem, do que não existem dúvidas é que muito
raramente coincidem o fabricante e o retalhista. Isto é, normalmente são duas
entidades distintas.
Do que acaba de afirmar-se resulta que é fundamental alargar o âmbito de
análise para além dos direitos e dos deveres contratuais, sob pena de, em
inúmeras situações, não existir uma resposta adequada para os interesses dos
consumidores por essa via.

A responsabilidade do produtor

O D.L. n.º 383/89, de 6 de Novembro, transpõe para a ordem jurídica


interna a Directiva n.º 85/374/CEE, em matéria de responsabilidade decorrente
de produtos defeituosos.
Saliente-se que o referido Decreto-Lei não se aplica aos produtos agrícolas
naturais que não tenham sofrido qualquer transformação, aos acidentes
nucleares e aos produtos postos em circulação antes da sua entrada em vigor.
Artigo 1.º
(Responsabilidade objectiva do produtor)
O produtor é responsável, independentemente de culpa, pelos danos
causados por defeitos dos produtos que põe em circulação.

Não existe responsabilidade do produtor se este provar (art. 5.º) alguma das
causas de exclusão de responsabilidade, designadamente se não pôs o
produto em circulação, que não fabricou o produto para venda ou que o defeito
é devido à conformidade do produto com normas imperativas estabelecidas
pelas autoridades públicas.

Importante é, sem dúvida, o que determina o art. 10.º:

Artigo 10.º
(Inderrogabilidade)
Não pode ser excluída ou limitada a responsabilidade perante o lesado, tendo-
se por não escritas as estipulações em contrário.

O art.º 2.º dá-nos uma noção muito ampla de produtor:

Artigo 2.º
(Produtor)
1 - Produtor é o fabricante do produto acabado, de uma parte componente ou
de matéria-prima, e ainda quem se apresente como tal pela aposição no
produto do seu nome, marca ou outro sinal distintivo.
2 - Considera-se também produtor :
a) Aquele que, na Comunidade Económica Europeia e no exercício da sua
actividade comercial, importe do exterior da mesma produtos para venda,
aluguer, locação financeira ou outra qualquer forma de distribuição;
b) Qualquer fornecedor de produto cujo produtor comunitário ou importador
não esteja identificado, salvo se, por escrito, comunicar ao lesado no prazo de
três meses, igualmente por escrito, a identidade de um ou outro, ou a de
algum fornecedor precedente.

Noção de defeito
Artigo 4.º
(Defeito)
1 - Um produto é defeituoso quando não oferecer a segurança com que
legitimamente se pode contar, tendo em atenção todas as circunstâncias,
designadamente a sua apresentação, a utilização que dele razoavelmente
possa ser feita e o momento da sua entrada em circulação.
2 - Não se considera defeituoso um produto pelo simples facto de,
posteriormente, ter sido posto em circulação, outro mais aperfeiçoado.
Prescrição e caducidade

O direito ao ressarcimento (indemnização) prescreve no prazo de três anos


a contar da data em que o lesado ou deveria ter tido conhecimento do dano, do
defeito e da identidade do produtor (art. 11.º).
Decorridos dez anos sobre a data em que o produtor pôs em circulação o
produto causador do dano, caduca o direito ao ressarcimento, salvo se estiver
pendente acção intentada pelo lesado (art. 12.º).

Os contratos pré-redigidos

Noção

Também conhecidos por contratos de adesão ou contratos-tipo, os


contratos pré-redigidos são actos jurídicos cujas cláusulas contratuais gerais
(todos ou as mais relevantes) são impostas por uma das partes à outra,
conforme um modelo genericamente aplicável

Estes contratos contêm normalmente duas partes distintas:

a) As condições gerais – normalmente impressas, com muitas cláusulas,


não raramente em letra miúda a convidar o outorgante que adere a não
ler, e repletas de vocábulos técnicos, difíceis para o cidadão comum;
b) Onde se identifica o outro contraente – normalmente manuscrita ou
dactilografada, onde, além de se identificar o contraente que adere, se
particulariza o conteúdo do contrato, especificando o preço ou
remuneração, os serviços ou coisas a prestar, etc.

Estes contratos pressupõem que entre os outorgantes do contrato não


existe um poder económico semelhante. Uma das partes, a economicamente
mais forte, impõe à outra condições que pouco têm a ver com as necessidades
concretas desta. Daqui resulta que, não raramente, algumas das cláusulas
apostas neste tipo de contrato sejam manifestamente abusivas.
Estes contratos, fruto das sociedades técnicas e industrializadas da
actualidade, vêm introduzir, pois, alterações de vulto nos parâmetros
tradicionais da liberdade contratual. A massificação caracteriza o comércio
jurídico, fazendo com que a celebração dos contratos não seja precedida de
qualquer fase negociatória.
Com efeito, tradicionalmente os contratos eram sempre vistos como o
resultado possível de uma luta de vontades entre as partes, cujo conteúdo
podia variar de caso para caso, indefinidamente, ainda que um dos sujeitos
fosse o mesmo e semelhantes fossem os interesses em causa.
As cláusulas contratuais gerais

A. O D.L. 446/85, de 25 de Outubro

O Decreto-Lei, n.º 446/85, de 25 de Outubro, veio determinar que as


cláusulas contratuais gerais, insertas nos contratos, se regem por este
diploma.
O art. 3.º refere que este diploma não se aplica aos casos que nele vêm
previstos, designadamente quando as cláusulas são aprovadas pelo
legislador ou quando resultem de instrumentos de regulamentação colectiva
de trabalho.

B. A inclusão de cláusulas contratuais gerais em contratos singulares

Dispõe o art. 5.º do referido diploma que as cláusulas contratuais gerais


devem ser comunicadas na íntegra aos aderentes que se limitam a
subscrevê-las ou a aceitá-las. Com isto, pretende-se evitar que a parte que
impõe as cláusulas oculte da outra, aquelas que se revelem mais nocivas
para a parte economicamente mais fraca.

São excluídas dos contratos singulares as cláusulas que:

a) Não tenham sido comunicadas nos termos do art. 5.º;


b) Tenham sido comunicadas com violação do dever de informação, de
molde a que não seja de esperar o seu conhecimento prévio;
c) Passem despercebidas de um contratante normal, colocado na
posição do contratante real;
d) Sejam inseridas em formulários, depois da assinatura de um dos
contraentes.

C. Cláusulas contratuais gerais proibidas

Determina este diploma que certas cláusulas, por serem completamente


inaceitáveis, devem ser pura e simplesmente proibidas. É o que dispõe o
art. 18.º.

C.1. Cláusulas contratuais gerais proibidas

São em absoluto proibidas, designadamente, as cláusulas contratuais


gerais que, de modo directo ou indirecto, excluam ou limitem:

a) A responsabilidade por danos causados à vida, à integridade moral


ou física ou á saúde das pessoas;
b) A responsabilidade por danos patrimoniais extracontratuais,
causados na esfera da contraparte ou de terceiros;
c) A responsabilidade por não cumprimento definitivo, mora ou
cumprimento defeituoso, em caso de dolo ou culpa grave;
d) A responsabilidade por actos de representantes ou auxiliares, em
caso de dolo ou culpa grave.
Também são absolutamente proibidas, entre outras, as cláusulas que
estabeleçam obrigações duradouras perpétuas ou cujo tempo de vigência
dependa, apenas, da vontade de quem as predisponha.

C.1. Cláusulas contratuais gerais proibidas

O artigo 19.º do identificado diploma enuncia, exemplificativamente, um


conjunto de cláusulas que, consoante o quadro negocial padronizado, são
relativamente proibidas. Refiram-se a título de exemplo as seguintes:

a) As que consagrem cláusulas penais desproporcionadas aos danos a


ressarcir;
b) As que estabeleçam, a favor de quem as predisponha, prazos
excessivos para o cumprimento, sem mora, das obrigações
assumidas;
c) As que façam depender a garantia das qualidades da coisa cedida
ou dos serviços prestados, injustificadamente, do não recurso a
terceiros;
d) As que coloquem na disponibilidade de uma das partes a
possibilidade de denúncia, imediata ou com pré-aviso insuficiente,
sem compensação adequada, do contrato que este tenha exigido à
contraparte investimentos ou outros dispêndios consideráveis.

D. Relações com os consumidores finais

Além das anteriormente referidas, dispõe a lei que, nas relações com os
consumidores, também existem cláusulas absoluta e relativamente
proibidas. Assim, dispõem os artigos 21.º e 22.º, respectivamente.

O contrato de compra e venda a prestações

O Código Civil, no artigo 934.º e seguintes, regula a venda a prestações.

Artigo 934.º
(Falta de pagamento de uma prestação)
Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade, e feita a sua
entrega ao comprador, a falta de pagamento de uma só prestação que não
exceda a oitava parte do preço não dá lugar à resolução do contrato, nem
sequer, haja ou não reserva de propriedade, importa a perda do benefício do
prazo relativamente às prestações seguintes, não obstante convenção em
contrário.

Este artigo visa de algum modo proteger o comprador contra certos abusos
dos vendedores que, na falta de pagamento de uma prestação, exigem a
restituição da coisa que foi objecto de venda, em consequência da resolução
do contrato, e a consequente perda por parte do comprador das prestações
entretanto pagas. Por outro lado, nada impede que entre as partes se celebre
um contrato que seja mais favorável ao comprador, não podendo, contudo,
acontecer o inverso.

Afixação e controlo dos preços

O D.L. n.º 138/90, de 26 de Abril, veio, na sequência da Directiva do


Conselho n.º 88/315/CEE, de 7 de Junho, trazer significativas alterações ao
regime legal então vigente. Com efeito, o Governo, nos termos da alínea a) do
n.º 1 do artigo 201 da Constituição, aprovou o identificado diploma.

Artigo 1.º
(Indicação de preços)
1 - Todos os bens destinados à venda a retalho devem exibir o respectivo
preço de venda ao consumidor.
2 - Os géneros alimentícios e os produtos não alimentares, postos à
disposição do consumidor, devem conter também o preço por unidade de
medida.

5 - O preço de venda e o preço por unidade de medida, seja qual for o suporte
utilizado para os indicar, referem-se ao preço total expresso em moeda com
curso legal em Portugal, devendo incluir todos os impostos, taxas e outros
encargos que nele sejam repercutidos, de modo que o consumidor possa
conhecer o montante exacto que tem a pagar.
6 - Os géneros alimentícios comercializados nos hotéis, estabelecimentos
similares e cantinas, desde que sejam consumidos no local da venda, são
objecto de disposições especiais.

A prestação de serviços também está sujeita a regras de fixação de preços.


Com efeito, no lugar onde os serviços são prestados ou propostos ao
consumidor devem ser afixadas listas ou cartazes contendo o preço de toda a
prestação de serviços.
A falta de indicação do preço de venda ou do preço da unidade de medida
nos casos em que a lei o exija constitui contra-ordenação.
Compete à Direcção-Geral da Inspecção Económica a fiscalização das
aplicações das regras da afixação e controlo dos preços, bem como a instrução
dos processos por contra-ordenação.

O Crédito à Habitação

Noção

O sistema de crédito à aquisição ou construção de habitação própria não é


mais do que a concessão de empréstimos a prazos bastante longos, com taxas
de juros bonificadas pelo Estado e diferenciados em função dos rendimentos,
dimensão do agregado familiar e o valor da habitação a adquirir, construir,
beneficiar, recuperar ou ampliar e, ainda, ao fim que a mesma se destina.
Regimes

O sistema de crédito à habitação é constituído pelos seguintes regimes:

a) Regime geral de crédito;


b) Regime de crédito a deficientes;
c) Regime de crédito bonificado;
d) Regime de crédito jovem bonificado.

Além destes quatro regimes, existem dois regimes especiais que prevêem a
formação de poupanças prévias:

• Sistema Poupança-Emigrante – utilizado para habitação própria


permanente, secundária ou para arrendamento;
• Sistema de Contas Poupança-Habitação – cujo fim é apenas a
habitação própria, permanente ou secundária.

O Contrato de Arrendamento para Habitação

Noção

O Código Civil, no art. 1023.º, refere-se expressamente ao contrato de


arrendamento nos termos seguintes:

Artigo 1023.º

(Arrendamento e aluguer)

A locação diz-se arrendamento quando versa sobre coisa imóvel, aluguer


quando incide sobre coisa móvel.

No artigo anterior do mesmo diploma, define-se assim o contrato de


locação:

Artigo 1022.°

(Noção)

Locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à


outra o gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição.
Elementos do contrato de locação

São três os elementos do contrato de locação, de acordo com o referido art.


1022.º do Código Civil:

a) Obrigação de proporcionar o gozo de uma coisa – o locador obriga-se a


proporcionar ao locatário o gozo da coisa que é objecto do contrato;
b) Prazo – o contrato em causa tem necessariamente que ser temporário.
Nos termos do art. 1025.º do mesmo diploma, “a locação não pode
celebrar-se por mais de trinta anos.” Pode contudo o contrato ser
renovado;
c) Retribuição – o gozo da coisa deve ser concedido mediante retribuição.
Se não houver retribuição, não há locação, mas comodato.

A noção do comodato é dada a seguir:

Artigo 1129.°

(Noção)

O comodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à outra
certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a
restituir.

Arrendamento urbano para habitação

A. Pessoas que podem viver no locado

Quem pode residir no locado? Apenas o arrendatário? Apenas ele e o


agregado familiar?
Nos termos do art. 76.º do D.L. 321-B/90, de 15 de Outubro, podem residir
com o arrendatário:

Artigo 76.º
(Pessoas que podem residir no prédio)
1 - Nos arrendamentos para habitação podem residir no prédio, além do
arrendatário:
a) Todos os que vivam com ele em economia comum;
b) Um máximo de três hóspedes, salvo cláusula em contrário.
2 – (…).
3 - Apenas se consideram hóspedes as pessoas a quem o arrendatário
proporcione habitação e preste habitualmente serviços relacionados com esta,
ou forneça alimentos, mediante retribuição.
B. Transmissão do direito do arrendatário

B.1. Transmissão por divórcio

Nos termos do art. 83.º do identificado diploma, “a posição do arrendatário


não se comunica ao cônjuge e caduca por morte, sem prejuízo no disposto nos
artigos seguintes.”

Artigo 84.º
(Transmissão por divórcio)
1 - Obtido o divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens, podem os
cônjuges acordar em que a posição de arrendatário fique pertencendo a
qualquer deles.

Nos termos dos números seguintes deste art.º 84.º, cabe ao tribunal decidir,
em caso de falta de acordo dos cônjuges, quem fica na posição de arrendatário
em caso de divórcio.

B.2. Transmissão por morte

A morte do primitivo arrendatário não provoca a caducidade do contrato de


arrendamento se se verificar alguma das circunstâncias previstas no artigo que
se refere em seguida.
Artigo 85.º
(Transmissão por morte)
1 - O arrendamento para habitação não caduca por morte do primitivo
arrendatário ou daquele a quem tiver sido cedida a sua posição contratual, se
lhe sobreviver:
a) Cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens ou de facto;
b) Descendente com menos de um ano de idade ou que com ele convivesse
há mais de um ano;
c) Ascendente que com ele convivesse há mais de um ano;
d) Afim na linha recta, nas condições referidas nas alíneas b) e c);
e) Pessoa que com ele viva há mais de cinco anos em condições análogas às
dos cônjuges, quando o arrendatário não seja casado ou esteja separado
judicialmente de pessoas e bens.
2 - Nos casos do número anterior, a posição do arrendatário transmite-se, pela
ordem das respectivas alíneas, às pessoas nele referidas, preferindo, em
igualdade de condições, sucessivamente, o parente ou afim mais próximo e
mais idoso.
3 - A transmissão a favor dos parentes ou afins também se verifica por morte
do cônjuge sobrevivo quando, nos termos deste artigo, lhe tenha sido
transmitido o direito ao arrendamento.
Artigo 86.º
(Excepção)
O direito à transmissão previsto no artigo anterior não se verifica se o titular
desse direito tiver residência nas comarcas de Lisboa e Porto e zonas
limítrofes, ou na respectiva localidade quanto ao resto do País, à data de
morte do primitivo arrendatário.
Cessação do contrato

A. Causas

De acordo com o art. 50.º, a cessação do contrato de arrendamento pode


cessar:

a) Por acordo entre as partes;


b) Por resolução;
c) Por caducidade;
d) Por denúncia;
e) Por outras causas determinadas na lei

B. O caso especial da resolução pelo senhorio

Referem-se em seguida os casos em que o senhorio pode resolver (fazer


cessar) o contrato.

Artigo 64.º
(Casos de resolução pelo senhorio)
1 - O senhorio só pode resolver o contrato se o arrendatário:
a) Não pagar a renda no tempo e lugar próprios nem fizer depósito liberatório;
b) Usar ou consentir que outrem use o prédio arrendado para fim ou ramo de
negócio diverso daquele ou daqueles a que se destina;
c) Aplicar o prédio, reiterada ou habitualmente, a práticas ilícitas, imorais ou
desonestas;
d) Fizer no prédio, sem consentimento escrito do senhorio, obras que alterem
substancialmente a sua estrutura externa ou a disposição interna das suas
divisões, ou praticar actos que nele causem deteriorações consideráveis,
igualmente não consentidas e que não possam justificar-se nos termos dos
artigos 1043.º do Código Civil ou 4.º do presente diploma;
e) Dar hospedagem a mais de três pessoas das mencionadas no n.º 3 do
artigo 76.º, quando não seja esse o fim para que o prédio foi arrendado; ou
violar cláusula contratual, estabelecida nos termos da alínea b) do n.º 1 do
mesmo artigo;
f) Subarrendar ou emprestar, total ou parcialmente, o prédio arrendado, ou
ceder a sua posição contratual, nos casos em que estes actos são ilícitos,
inválidos por falta de forma ou ineficazes em relação ao senhorio, salvo o
disposto no artigo 1049.º do Código Civil;
g) Cobrar do subarrendatário renda superior à que é permitida nos termos do
artigo 1062.º do Código Civil;
h) Conservar encerrado, por mais de um ano, o prédio arrendado para
comércio, indústria ou exercício de profissão liberal, salvo caso de força maior
ou ausência forçada do arrendatário que não se prolongue por mais de dois
anos;
i) Conservar o prédio desabitado por mais de um ano ou, sendo o prédio
destinado a habitação, não tiver nele residência permanente, habite ou não
outra casa, própria ou alheia;
j) Deixar de prestar ao proprietário ou ao senhorio os serviços pessoais que
determinaram a ocupação do prédio.
2 - Não tem aplicação o disposto na alínea i) do número anterior:
a) Em caso de força maior ou de doença;
b) Se o arrendatário se ausentar por tempo não superior a dois anos, em
cumprimento de deveres militares, ou no exercício de outras funções públicas
ou de serviço particular por conta de outrem, e bem assim sem dependência
de prazo, se a ausência resultar de comissão de serviço publico, civil ou militar
por tempo determinado;
c) Se permanecerem no prédio o cônjuge ou parentes em linha recta do
arrendatário ou outros familiares dele, desde que, neste último caso, com ele
convivessem há mais de um ano.

A adequada acção judicial (acção de despejo) deve ser proposta no prazo


de um ano a contar do conhecimento do facto que lhe serve de fundamento,
sob pena de caducidade.
Quando se trate de facto continuado ou duradouro, o prazo conta-se a partir
da data em que tiver cessado (art. 65.º).

O Direito Real de Habitação Periódica (“Time Sharing”)

Lei aplicável

O Decreto-Lei n.º 275/93, de 5 de Agosto, que veio revogar o D.L. n.º


130/89, de 18 de Abril, regula o direito real de habitação periódica.
Trata-se de um diploma que veio trazer algumas importantes alterações no
sentido de dar uma maior protecção aos consumidores.

Disposições gerais

Artigo 1.º
(Direito real de habitação periódica)
Sobre as unidades de alojamento integradas em hotéis-apartamentos,
aldeamentos turísticos e apartamentos turísticos podem constituir-se direitos
reais de habitação periódica limitados a um período certo de tempo de cada
ano.
Duração

Salvo disposições em contrário, o direito real de habitação é perpétuo. Pode


contudo ser-lhe fixado um prazo um limite de duração, não inferior a 15 anos.
Trata-se de um direito que é limitado a um período certo de tempo em cada
ano, que pode variar entre o mínimo de 7 dias seguidos e o máximo de 30 dias
seguidos (art. 3.º)

Direito de resolução

Inúmeros problemas têm surgido com as chamadas “técnicas agressivas de


promoção e comercialização”. Os consumidores, pouco habituados a certas
técnicas de venda, sentem-se muitas vezes defraudados pelo facto de terem
sido “levados” a comprar. O D.L. n.º 275/93, de 5 de Agosto, veio alargar o
prazo conferido ao consumidor para, sem encargos, resolver o contrato-
promessa ou o contrato de aquisição.

Artigo 16.º
(Direito de resolução)
1 - O adquirente do direito real de habitação periódica pode resolver o
respectivo contrato de aquisição, sem indicar o motivo e sem quaisquer
encargos, no prazo de 10 dias úteis a contar da data em que lhe for entregue o
contrato de transmissão do direito real de habitação periódica.
2 - A declaração de resolução deve ser comunicada ao vendedor através de
carta registada, com aviso de recepção, enviada até ao termo do prazo
previsto no número anterior.
3 - O adquirente tem direito a resolver o contrato no prazo de três meses a
contar do momento da assinatura por ambas as partes do contrato, se o
mesmo não contiver os elementos referidos no documento complementar
previstos no n.º 2 do artigo 11.º

Direitos e deveres dos titulares de direitos reais de habitação periódica

O titular do direito real em causa tem as seguintes faculdades:


a) Habitar a unidade de alojamento pelo período a que respeita o seu
direito;
b) Usar as instalações e equipamentos de uso comum do
empreendimento e beneficiar dos serviços prestados pelo titular do
empreendimento;
c) Exigir, em caso de impossibilidade de utilização da unidade de
alojamento objecto do contrato devido a situações de força maior ou
caso fortuito motivado por circunstâncias anormais e imprevisíveis
alheias àquele que as invoca, cujas consequências não poderiam ter
sido evitadas apesar de todas as diligências feitas, que o proprietário ou
o cessionário lhe faculte alojamento alternativo num empreendimento
sujeito ao regime de direitos reais de habitação periódica, de categoria
idêntica ou superior, num local próximo do empreendimento objecto do
contrato;
d) Ceder o exercício das faculdades referidas nas alíneas anteriores.
O titular do direito real de habitação periódica é obrigado a pagar
anualmente ao proprietário das unidades de alojamento sujeitas ao regime dos
direitos reais de habitação periódica a prestação pecuniária indicada no título
de constituição. Tal prestação destina-se exclusivamente a compensar o
proprietário das unidades de alojamento sujeitas ao regime dos direitos reais
de habitação periódica das despesas com os serviços de utilização e
exploração turística a que as mesmas estão sujeitas, contribuições e impostos
e quaisquer outras previstas no título de constituição e a remunerá-lo pela sua
gestão, não podendo ser-lhe dada diferente utilização (art. nº 22)

Contas Poupança-Habitação

Objectivos

As contas Poupança-Habitação visam incentivar a poupança prévia com


vista a aumentar os recursos disponíveis, destinando-se a financiar a aquisição
de habitação própria permanente. Os titulares das contas poupança-habitação
têm a garantia de acesso a um empréstimo.

Características

As principais características destas contas são as seguintes:

a) Podem ser abertas nas instituições de crédito e constituídas por


pessoas singulares, quer em contas individuais quer em contas
colectivas, solidárias ou conjuntas;
b) Podem ser constituídas por menores, através dos seus
representantes legais;
c) O prazo mínimo é de um ano, renovável por iguais períodos de
tempo, podendo o seu titular efectuar entregas ao longo de cada
prazo anual, conforme for acordado entre ambas as partes;
d) As instituições de crédito podem fixar mínimos ou máximos para a
abertura das contas em causa e para as entregas subsequentes bem
como a periodicidade destas últimas;
e) Os juros são calculados à taxa proporcional no fim de cada prazo
anual, sendo acumulados ao capital depositado;
f) O saldo das contas pode ser mobilizado pelos seus titulares, quando
haja decorrido o primeiro prazo contratual (um ano), para os fins
seguintes:

• Aquisição, construção, recuperação, beneficiação ou


ampliação de prédio para habitação própria permanente;
• Realização de entregas a cooperativas de habitação e
construção para aquisição quer de terrenos destinados à
construção, quer de fogos destinados à habitação própria
permanente.
g) Se o saldo da conta for mobilizado para os fins referidos na alínea
anterior, os juros da conta estão isentos de IRS, assim como as
entregas feitas em cada ano são dedutíveis ao rendimento familiar do
titular até um montante fixado anualmente;
h) Os encargos notariais e do registo predial respeitantes à aquisição de
habitação própria permanente dentro desta modalidade são
reduzidos em 1/2, beneficiando de um regime de prioridade ou
urgência.

O Direito Penal de Consumo

Os consumidores têm sido progressivamente protegidos por um conjunto


significativo de diplomas legais. Entende-se mais ou menos pacificamente que
se trata do lado mais fraco da relação que se estabelece ao nível do consumo.
Certos comportamentos no domínio do consumo são de tal modo graves
que se torna fundamental a sua qualificação como crimes, daí resultando
penas mais ou menos graves para os seus infractores. Assim, por vezes são
praticados crimes, designadamente:

• Abate clandestino de animais para consumo público;


• Fraude sobre mercadorias;
• Fraude contra a genuinidade, qualidade ou composição de géneros
alimentícios e aditivos alimentares;
• Açambarcamento;
• Especulação;
• Publicidade fraudulenta.

Ora, tais actos não devem ser tolerados pela colectividade dos cidadãos,
devendo ser aplicadas penas a quem os praticar.

Organismos de defesa dos consumidores

Noção

São consideradas associações de defesa do consumidor as associações


que, dotadas de personalidade jurídica e sem intuito lucrativo, tenham por fim
exclusivo a defesa dos consumidores em geral ou dos consumidores, seus
associados, ou de uns e outros em conjunto.
Associações de consumidores com representatividade genérica

As associações com representatividade genérica são aquelas que:

a) Estatutariamente tenham como objectivo a defesa dos consumidores


em geral;
b) Tenham um mínimo de sete mil e quinhentos associados;
c) São dirigidas por órgãos livremente eleitos por voto universal e
secreto dos seus membros, sem excepção.

Direitos das associações de consumidores com representatividade


genérica

Refiram-se, a título de exemplo, que as associações gozam dos seguintes


direitos:

a) Ao estatuto de parceiro social para todos os efeitos legais


b) De consulta dos processos administrativos de que constem elementos
referentes às características de bens ou serviços postos à disposição
dos consumidores;
c) De solicitarem às empresas concessionárias de serviços públicos e às
empresas públicas de transportes e de abastecimento de água, gás e
electricidade os esclarecimentos adequados à apreciação das tarifas e
da qualidade dos serviços, por forma a poderem pronunciar-se sobre
elas;
d) De rectificação e de resposta relativamente a quaisquer mensagens
publicitárias relativas a bens ou serviços postos à disposição dos
consumidores;
e) De se constituírem parte acusadora nos processos por infracções
antieconómicas e contra a saúde pública;
f) De solicitarem aos laboratórios oficiais a efectivação de análises sobre a
composição ou o estado de conservação de produtos destinados ao
consumo público, ou de simples comparação de produtos, e de tornarem
públicos os correspondentes resultados;

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