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KALUMBONJAMBONJA

O homem que casou com uma alma do outro mundo

OS BAILUNDOS
2

KALUMBONJAMBONJA

(O HOMEM QUE CASOU COM UMA ALMA DO OUTRO MUNDO)

ROMANCE – AUTOBIOGRÁFICO

ANGOLA

OS BAILUNDOS

(AS SUAS ORIGENS, AS SUAS TRADIÇÕES E CULTURA, OS SEUS MITOS E SUPERSTIÇÕES,


OS SEUS PECADOS/CRIMES, PADECIMENTOS COM AS GUERRAS E A CHEGADA DO
EVANGELHO INTERPRETADO PELA TRADIÇÃO REFORMADA E EVANGELICAL)

ARMANDO RIBEIRO SIMÕES

2
Introdução
3
A nação de Angola é vasta e tem muitas tribos, e cada uma delas tem a língua ou
dialecto, os seus costumes e a sua origem. Todos os povos do mundo têm cada um deles
a sua história e estórias. Acontece porém, que para muitos desses povos as suas
tradições são desconhecidas.

Muitos africanos confiam mais nas feitiçarias e em tudo o que os europeus cultos
e nada dados a sincretismos religiosos consideram como superstições. O feitiço na África
tem dado bons resultados aos seus possuidores, visto que é uma obra do Diabo (leitura
da teologia cristã tradicional e que é a postulada por este escritor, um metodista
ortodoxo). Há muitos tipos de feitiçarias e os seus ingredientes são restos de cadáveres
que eles desenterram dos cemitérios durante a noite; também recorrem às raízes e folhas
de certas e determinadas plantas, ídolos, etc. As fezes humanas também desempenham
importante papel nas feitiçarias dos africanos. Seria bom se houvesse a história de um
povo. Todas as nações ocidentais têm a sua história que é leccionada nas escolas.

No tempo colonial português, em Angola, estudávamos a história de Portugal


juntamente com a da nossa terra, sem falar a respeito de outros povos. Citava-se
portugueses ilustres como Diogo Cão, descobridor de Angola, e outros mais.

Ao longo dos tempos, os Bailundos nada têm escrito quanto à sua própria
históriai,e do que dela se sabe tem sido transmitida de pais para filhos oralmente e por
meio das tradições entre o povo. Assim, como os mais velhos vão desaparecendo, corre-
se o risco de se extinguir as verdadeiras origens dos seus costumes e dos seus feitos, os
quais bem poderiam ser o fundamento da sua história. Costuma dizer-se que um velho é
um museu de antiguidade. Por conseguinte, muitos dos que poderiam narrar a história e
estórias já desapareceram. Os instrumentos musicais tradicionais, como o ombumba, o
ochissanji, o cacheque, que tem a forma dum violino, o olombendo, parecido com a
flauta, e outros, já desapareceram. As danças tradicionais também vão desaparecendo.

Os Bailundos optaram pela civilização dos povos europeus e deixaram por


completo todos os costumes dos seus antepassados. Hoje em dia, qualquer adolescente
angolano não sabe como os portugueses maltratavam os seus antepassados.

A verdadeira origem dos Bailundos (vide nota de rodapé “i”, página 15) não é
conhecida; apenas se sabe que o seu primeiro rei, de nome Katiavala era originário das
terras do Kuanza Sul, era caçador de elefantes e pertencente à tribo Goya.

De Katiavala até à independência de Angola tinham reinado mais de quarenta


reis, e dos quais só se destaca Katiavala, Ekuikui II, que foi quem recebeu os primeiros
missionários cristãos de confissão reformada, o de cognome “Numa”, que tinha o
epalanga (era vice rei) de nome Matuyakevela e que em 1903 lutou contra os
portugueses, e por último Kandimba, a quem Lisboa, em 1918, usou para massacrar a
tribo dos Seles.

O passo seguinte foi destruir todo o poder que os reis tribais e tradicionais tinham,
desrespeitando toda a cultura dos Bailundos. Os sobas (reis) eram os cobradores de
impostos indígenas, sendo submetidos a palmatoadas, chicotadas e outros castigos
severos, caso levassem pouco dinheiro às autoridades dominantes. Eu pessoalmente vi
os sobas serem espancados severamente.

3
Angola, como as outras nações, tem muitos lugares dignos de serem turísticos,
mas os portugueses, que a governaram durante longos tempos, não tinham interesse 4
nessas coisas.

Tenho encontrado muitos sítios onde viveram esses primeiros povos, “talvez muito
antes de Cristo”, murados de pedras, e que são dignos de admiração. Os cacos das
panelas de cerâmica espalhados por vários locais, demonstram que estes Bailundos
vieram de tempos remotos.

Quando trabalhei com o governo português como recenseador no Concelho do


Mungo, de todas as vezes que ia recensear a população do sobado (o território governado
por um soba) de kaiumbuka, presenciei as muitas e maravilhosas pinturas duma caverna,
cujo nome é Kewe lia yolua, que significa “Pedra pintada”.

Ninguém dava valor àquelas pinturas, até que um dia falei delas perante o
secretário do Concelho que interessou-se muito por elas. Levei-o até onde as tais pinturas
se encontravam, Depois foi publicado num jornal e, por tal motivo, passou a ser lugar
turístico. Era visitado por muita gente de Angola e até mesmo por sul-africanos. Dizia-se
que por ali haveria de passar uma estrada asfaltada para ter melhor acesso ao lugar.
Estas pinturas passaram a ser conhecidas como “Pinturas Rupestres do Kanili”.

Outro morro de pedra, também de grande realce, encontra-se no sobado


Neguenje, onde eu também ia fazer o recenseamento. O referido morro, com um
comprimento enorme, podia conter mais de 5 mil pessoas. É uma caverna muito escura,
e para ali entrar é necessário utilizar iluminação artificial. Dizem que antigamente
refugiavam-se ali as pessoas que fugiam das guerras e para o abastecimento de água ou
quando iam em busca de lenha. Tem três entradas pequenas, uma para o lado do sul,
outra para o lado do rio vizinho, e o terceiro para o lado da floresta. A agricultura recorria
à riqueza dos excrementos dos morcegos, que ali faziam o seu habitat, e que depois são
utilizados como adubo para os campos.

Quero que saibam que os rios kulele e kukai e a Missão Evangélica Reformada do
Bailundo abrigam um grandioso monumento muito antigo de grande destaque, feito pelo
homem, “talvez mesmo antes de Cristo”. É um grande morro feito de terra e pedra, e feito
muito provavelmente por muitos milhares de pessoas. Os construtores daquela obra
abriram uma vala profunda com a largura de cerca de dez metros; a terra da escavação
era transportada para determinado lugar onde formou um monte grande que calçaram
com pedras.

A antiguidade daquele monte prova-se pelas árvores centenárias que nele


nasceram e que nele continuam em pé.

De todas as vezes que o tenho visitado fico “de boca aberta”, e o considero como
igual às pirâmides do Egipto, e ninguém sabe qual a sua utilização. Uns dizem que era o
túmulo de um rei tribal, outros, uma torre de vigia, e a vala que atingia os dois rios era
uma espécie de trincheira de guerra.

Outra maravilha natural encontra-se junto da Missão Católica do Bailundo e da


aldeia de Chissanji. Trata-se dum poço muito profundo, aberto numa rocha, chamado
Ombia Yondungo. Quando se lança uma pedra para o seu interior, ouve-se ela a bater nas
paredes do poço durante bastante tempo antes de bater no fundo.

4
Um padre francês utilizou dez novelos de barbante, tendo amarrado uma pedra na
ponta do fio de um novelo, fez descer ao poço a pedra, e quando o novelo terminou ligou- 5
lhe outro novelo, até contar os dez novelos, e mesmo assim sem chegar ao fundo, e cada
novelo tinha cerca de 500 metros. Na minha opinião este buraco devia ser explorado,
provavelmente sendo um depósito de petróleo. É um poço histórico, porque a tradição diz
que antigamente lançavam para lá todas as pessoas acusadas de feitiçarias.

O autor

Trabalharam como revisores deste trabalho de autor:


José Júlio Vieira Fernandes

(Diácono da Igreja Evangélica Metodista de Braga)

Braga, 26 de Fevereiro de 2009

Luís Manuel da Silva Magalhães

(Élder [Ancião de orientação Baptista Particular e calvinista] congregante da Igreja Baptista Pentecostal de
Braga)

Braga, 12 de Maio de 2010

5
Prefácio à obra de Armando Ribeiro Simões
6
Pelo Diácono Metodista Conservador e Criacionista José Fernandes

Foi para mim muito gratificante e proveitoso reescrever este trabalho a pedido do
seu autor, trabalho este que apresenta com bastante clareza a maneira de viver de um
povo lá dos confins africanos, povos estes que foram dominados e explorados, por vezes
com bastante dureza e desumanidade pelos seu colonizadores, segundo relata quem
escreve, e durante séculos, e da forma como eles pensavam acerca da vida e dos seus
mistérios que pode ser comparada com a forma de viver e de sentir de muitos outros
povos do mundo e que poucas diferenças apresentam. É que quando o Criador de todas
as coisas criou o ser humano, todo ele foi feito com a mesma sensibilidade divina, feita
da mesma massa, fez uma espécie apenas, todos feitos à imagem e semelhança de
Deus, todos iguais, por isso é que todos têm os mesmos direitos bem como os mesmos
deveres, uns para com os outros e todos para com Deus. No seu instinto todos percebem
que estão dependentes de um Espírito Superior que governa o universo, O qual não é
perceptível aos olhos humanos mas sentido através dum Juiz que o Criador colocou em
cada ser humano que nasça neste mundo, o que não aconteceu com qualquer outra
criatura da Terra, cujo Juiz controla todas as sensibilidades deste ser, quando este faz o
bem mas sobretudo quando ele pratica o mal; este Juiz é conhecido por todos e todos o
sentem, mais conhecido por Consciência humana. Qualquer um destes seres, seja mais
civilizado ou menos civilizado sabe muito bem quando pratica uma maldade que lhe irá
depois pesar no seu subconsciente, pois percebe que depois terá que disso prestar contas
diante dum ser supremo. Ora a Consciência pode funcionar para o bem da criatura, mas
também é o causador de muitas perturbações mentais que têm infelicitado muita gente e
a faz sofrer de muitas formas. Mas este Juiz não foi colocado em qualquer outra criatura
nascida no planeta Terra, por maior que seja ou por maior que tenha o seu cérebro, o que
faz com que ele depois não tenha quaisquer perturbações no seu instinto quando tenha
que matar para sobreviver. Ele mata e dorme sossegadamente.

Mas todos os povos, feitos à semelhança do Criador, passam também eles a


capacidade de criadores, criam depois os seus costumes, criam as formas mais práticas
para a sua sobrevivência, seja dentro da selva ou na cidade, usam a sua imaginação para
criar o que pensa que lhes faz falta para a vida. Todos sabem também que têm uma vida
limitada na terra, e instintivamente sabem que depois do envelhecimento virá a morte,
sabendo também, instintivamente, que irão para um outro lugar desconhecido.

Mas de povo para povo existem muitas diferenças, na forma de pensar, na forma
de sentir, na forma de se relacionar com os outros, na forma de perceber a vida, na forma
de se governar, o que atesta a capacidade do ser humano em ser diferente mas sempre
igual ao seu semelhante, e essas diferenças nós as poderemos apreciar nos vários itens
aqui relatados, o que nos impressiona bastante.

O autor destas histórias/estórias, que segundo sei é filho de pai branco, da região
da Beira Alta, e de mãe negra, ele envolveu-se profundamente na forma de viver do povo
onde nasceu, o Bailundo, na região angolana de Huambo que, segundo ele testemunha,
até ele mesmo declara-se vítima de feitiçarias, o que me impressiona ainda mais, pois

6
esta situação acontece-lhe já mesmo depois de ter-se convertido a Cristo através dos
evangélicos metodistas de origem americana, segundo o seu próprio testemunho. 7

Pelas histórias aqui descritas, muitas delas com o português misturado com o
umbundu a língua falada entre os bailundos, em que muitas destas histórias/estórias são
o testemunho do autor como fazendo parte das mesmas, percebe-se que estava bem
integrado na cultura e costumes deste povo; que apesar de ser uma mistura de africano
com europeu, era pessoa com uma cultura acima da média africana, criado numa família
de bem, conhecedor das origens, tradições, mitos, superstições e pecados/crimes do
povo onde estava inserido, testemunhando também da presença dos brancos e do seu
comportamento para com os negros, mas também testemunha a chegada dos trabalhos
missionários, quer católicos, quer protestantes com as suas diferenças, e da importância
da mensagem Evangélica para o seu povo.

O autor apresenta todo o conhecimento histórico desse povo, porque além de o ter
adquirido na sua formação escolar, também o ensinou a muitos dos seus alunos no
período em que leccionou como professor primário, e aprofundando estes conhecimentos
quando trabalhou para o Estado Português como funcionário público na área do
recenseamento das populações nativas, contactando directamente nas suas aldeias o
próprio povo, perguntando acerca de todas as histórias, as suas origens e sentido das
mesmas e depois vivendo com elas.

Mas também testemunhou e participou nos acontecimentos políticos que viriam a


transformar Angola, e que quase a destruiu, primeiro numa guerra de libertação da sua
situação de colonizados para a independência, conflito este que agravou a vida de todos
os angolanos pela reacção negativa dos colonizadores, que terminou com o 25 de Abril
em Portugal, mas também testemunha a guerra civil, a qual iria colocar toda a nação
ainda em pior situação por causa das lutas ideológicas e políticas que dividiu o povo, mas
sobretudo testemunha muitos dos crimes cometidos pelos líderes angolanos contra
pessoas inocentes, que esperavam que a sua guerra contra Salazar lhes trouxesse o bem
estar que nunca haviam tido, mas que se desiludiram com os seus próprios líderes que
acabaram por suportar uma guerra ainda mais destruidora e mais demorada, e que terão
de esperar muitos anos ainda para melhorarem a sua situação, política e social, bem
como noutras áreas da vida.

Acabou por ter de fugir da sua própria terra, para este africano mestiço uma terra
madrasta, refugiando-se em Portugal, onde adquiriu dupla cidadania, uma vez ser filho de
um cidadão português.

Braga, 15 de Março da 2009

José Júlio Vieira Fernandes

7
A criação do mundo e do primeiro homem 8

Quem percorrer o território angolano, ao chegar ao centro do


país entre os paralelos 12 e 14, encontrará um povo destacado, nobre
e delicado: os Bailundos, pertencentes à etnia Ovimbundu ou
Imbundu, cuja língua é umbundu. Trata-se duma língua tão rica como
a língua portuguesa, especialmente na tradução das Sagradas
Escrituras, sendo a mais falada em Angola, sobretudo nas províncias
do Huambo, Benguela e Bié. No entanto, esta língua é falada em
todas as províncias de Angola, até mesmo em Luanda, cidade
habitada maioritariamente habitada pelo grupo étnico Kimbundu,
onde é usual ouvir-se nas ruas pessoas falarem umbundu, e sendo
também falada fora de Angola. Dou-vos dois exemplos para ilustrar:

Conta-se que uma vez em Lisboa num autocarro estavam dois


homens sentados de fronte duma senhora muito bonita; para evitar
que os presentes compreendessem o que diziam resolveram falar em
umbundu dizendo:

- Ukai u wa puai lua! (Esta mulher é muito bonita!) – De repente


ouviu-se uma voz, dentro do espaço partilhado, que dizia:

- Wa fina puai o wange! (De facto é bonita mas é minha!)

A minha mulher foi certa vez ao Canadá. Uma ocasião, ao ouvir


muitas pessoas falarem em português, disse a alguém que a
acompanhava:

- Kulo Kulivo va português? (Aqui também há portugueses?)

Imediatamente interveio alguém que em umbundo retorquiu:

- Ava valiva mola cimue? Vova enda ovo chilili, chilili… (Estes não
podem ver nada? Ei-los a andar em grandes grupos…)

Soku
Muito antes do Evangelho de Cristo ter chegado aos bailundos,
estes já sabiam que havia um Deus, Soku, um Ser omnipotente,
Criador do Mundo e de todas as coisas que nele existem. Não só
sabiam isto como também confiavam plenamente n’Ele,

8
considerando-o benigno e misericordioso. Se alguém escapasse de
9
algum perigo logo dizia:

- Suku wa nu atisa! (Deus ajudou-me!)

Na concepção tradicional dos bailundos, um doente mesmo que


estivesse perante um médico ou curandeiro, só se curava se Suku
quisesse. Por isso é costume dizer-se:

- Suku a kuece oco ovimbanda vi li pande oku sakula (Que Soku


te dispense para os curandeiros se vangloriarem).

Os bailundos consideram Soku como a fonte de toda a luz, e por


isso julgam que Ele vive perto do Sol.

De acordo com a sua tradição, Soku mandou descer do Céu um


Ochinjila (uma ave gigantesca), que ao chegar ao espaço ocupado
pelo nosso planeta pôs um ovo no ar, que cresceu até atingir as
proporções deste mundo. Desta maneira foi o mundo criado.

Depois de ter criado o mundo, Soku desceu à Terra, pousando


nas rochas, nas margens e junto à foz dos rios Cunene e
Cumbongamua. As pegadas de Soku ficaram naquelas rochas
juntamente com as do seu cão, o arco e as respectivas flechas. Estas
marcas continuam gravadas até ao dia de hoje.

A descida de Soku à Terra, passando por estas rochas,


denomina-se Feti, o que significa Génese. Infelizmente o local onde se
encontram estas pegadas atribuídas a Soku, foi coberto pelas águas
de uma barragem que ali construíram.

Depois de ter criado o mundo, chegou a vez de criar os homens.


Para o efeito, Soku utilizou dois caldeirões de barro com as
respectivas tampas. Num meteu os homens brancos e no outro os
negros. Aqueles caldeirões serviam de viveiros, pois os homens eram
pequeninos como os percevejos e tinham uma propriedade que os
fazia crescer.

Enquanto os homens cresciam nos caldeirões, Soku prosseguia


com a sua obra criadora abrindo o mar e os rios. Todos os rios
dirigiam-se para o mar, e com o lodo destes Soku formou as
montanhas, e todo o tipo de elevações.

9
Depois de ter criado os rios, Soku fez chover torrencialmente
10
durante alguns dias até os rios se encherem juntamente com o mar.
Quando chovia desciam do Céu, como gotas de água, todos os
animais aquáticos. Em seguida Soku criou os vegetais, chamando-os
pelos nomes, em função de cada espécie dizendo:

- Que venham as árvores de Mako. As árvores de mako


desceram do Céu e enraizaram-se na terra. Soku fez assim com todas
as árvores que se encontram no planeta, como por exemplo:

- Sesse, Capilangau, Uncha, Mone, Nundo, Ussamba e tantas


outras.

Os arbustos e as ervas também foram chamados da mesma


forma, um de cada vez, e os nomes mantêm-se até aos dias de hoje.
Desde então a terra passou a ter água, frutos e cereais, para poder
alimentar os seres vivos.

A seguir à criação dos vegetais, procedeu à criação dos outros


seres vivos. Tal como acontecera com os vegetais, Soku foi chamando
por cada espécie:

- Que venham as palancas; e as palancas desciam do céu e


pousavam na terra.

- Que venham os leões; estes desciam do céu e pousavam na


terra.

Soku fez assim com todos os outros animais que existem, tantos
os domésticos como os selvagens.

Por último chamou pelas mulheres, começando pela raça


branca e depois pela raça negra.

Assim ficou concluída a criação do mundo.

Depois Soku foi abrir os caldeirões de barro que continham os


homens. Nesta altura já estavam crescidos, e Soku lhes entregou o
reino da terra bem como lhes deu directrizes sobre a forma de
governar o mundo e lhes ensinou as directrizes sobre a forma de
governar o mundo e lhes ensinou as “tecnologias”.

10
Primeiro foi abrir os caldeirões de barro que continham os
11
homens brancos que, obedecendo-lhe, logo saíram e O seguiram.
Depois foi abrir a tampa do caldeirão que continha os homens negros,
dizendo-lhes que saíssem para O seguirem. Porém, tal não foi
possível, pois muitos deles não permitiam que os outros saíssem.
Sempre que um deles tentasse sair, era logo impedido pelos outros
que o puxavam pelas pernas. É desta forma que os bailundos
explicam o “atraso tecnológico” que se verifica entre os africanos em
relação aos “países mais desenvolvidos”.

Após Soku ter concluido toda a sua obra criadora, surgiu uma
contenda entre os animais e os homens.

Uma leoa tinha 5 filhos e sempre que ia à caça deixava-os ao


cuidado de um cão, na qualidade de ama-seca. No primeiro dia, na
ausência da leoa, o cão comeu um dos filhotes. Quando a leoa
regressou ordenou ao cão que lhe trouxesse as crias, uma de cada vez
para se amamentarem. O cão, para que a leoa não desse conta, levou
um filhote e em seguida levou outro duas vezes. Como eram todos
muitos parecidos a leoa não se apercebeu.

No dia seguinte, na ausência da leoa, o cão comeu mais um dos


leõezinhos, ficando menos três. No terceiro dia o cão voltou a comer
mais um e restaram dois. Quando a leoa chegou, e como era usual
pediu ao cão que trouxesse os filhotes. Então o cão usou a mesma
estratégia, perfazendo sempre o número de cinco.

No dia seguinte quando a leoa saiu para caçar, o cão comeu


mais uma cria, restando apenas uma. Quando a leoa chegou e pediu
ao cão para trazer os seus filhos, este pegou no que restava e levou-o
à leoa cinco vezes consecutivas.

No outro dia o cão aproveitando a retirada da leoa, comeu o


último filhote dela. Por conseguinte o cão não tinha outra alternativa
senão fugir, pois sabia que, sem dúvida, seria perseguido. Assim
procurou um refúgio seguro de forma a escapar à vingança da leoa.

Durante a fuga, os primeiros seres que encontrou foram as


galinhas a quem disse:

11
- Mostrem-me como é que vocês lutam para eu ver se são
12
capazes de derrotar o inimigo que me persegue.

As galinhas lutaram às bicadas, e o cão disse:

- Vós não podereis lutar contra quem me persegue.

- Quem te persegue? – Perguntaram as galinhas.

- É a leoa. – Explicou o cão.

As galinhas ouvindo que se tratava da leoa, também tiveram


medo e começaram a fugir juntamente com o cão.

Entretanto a leoa foi à caverna onde costumavam estar os


filhotes e dizer ao cão que lhe trouxesse as suas crias para as
amamentar. Nem vivalma! Nem o cão nem os filhotes estavam ali.
Assim, orientando-se pelo faro saiu em perseguição do cão com o
intuito de o aniquilar.

O cão, sempre a fugir, encontrou os cabritos e disse-lhes:

- Mostrem-me como lutam.

Os cabritos lutaram com os chifres em riste e o cão lhes disse:

- Nem tampouco vós sereis capazes de vencer aquele que me


persegue.

E os cabritos perguntaram:

- Quem te persegue?

- É a leoa! – Respondeu o cão.

Os cabritos, sabendo que ela não tardaria a chegar, também se


juntaram ao grupo fugitivo.

O cão continuou a correr até se encontrar com os porcos e pediu-


lhes que lhe mostrassem como costumavam lutar. Também estes
lutaram com os focinhos em riste e o cão logo lhes disse:

- Vocês não conseguirão lutar com aquela que me persegue.

- Quem te persegue? – Perguntaram os porcos.

12
- É a leoa! – Disse o cão.
13
Ouvindo isto, também os porcos se poseram em fuga seguimdo
o cão.

Depois o cão encontrou os bois e lhes pediu:

- Mostrem-me como é vocês costumam lutar.

Os bois começaram a lutar e o cão lhes disse:

- De facto vocês têm muita força e penso que bem poderiam


derrubar a leoa que me persegue.

Os bois ao saberem que a perseguidora era a leoa, encheram-se


de medo e incluiram-se no grupo que seguia o cão; e também fugiram.

O cão rodeou-se de todos os animais, que se denominam de


domésticos, e viu que não podia socorrer-se de nenhum deles perante
a eminência de ser apanhado pela leoa.

Por fim o cão encontrou as mulheres. Primeiro as de raça


branca que estavam à sombra duma frondosa árvore, tinham
espelhos e penas nas mãos com as quais tratavam os cabelos. O cão
quando lá chegou, pediu-lhes que lhe mostrassem como lutavam. Elas
fizeram-no dando chapadas e pontapés umas às outras. Face a isso o
cão disse:

- Vocês são muito fracas e por isso incapazes de derrubar a leoa


que me está a perseguir.

As mulheres brancas, ao ouvirem falar da leoa ficaram


assustadas e prontamente meteram-se no grupo dos animais que
fugiam com o cão.

Um pouco mais adiante o cão encontrou as mulheres de raça


negra que estavam a cavar olonguesso (capim que produz nas raízes
uns tubérculos do tamanho de ervilhas com gosto a coco) e disse-lhes
a mesma coisa:

- Mulheres de raça negra mostrem-me como lutam!

As mulheres negras pegaram nas suas pequenas enxadas


atirando-as umas contra as outras. Mas logo o cão argumentou:

13
- Da maneira como vocês lutam não sereis capazes de derrubar
14
a leoa que vem perseguindo-me.

Ao ouvirem falar da leoa, as mulheres negras fizeram como as


brancas e puseram-se em fuga imediatamente.

O cão continuou a fugir juntamente com os outros seres que os


acompanhavam. Momentos depois chegaram a um grande quimbo
(aldeia) cercado de pau-ferro que era a residência de homens de raça
branca e negra. Pedindo autorização para entrar, pediu que os
homens lhe mostrassem a forma como lutavam. Então eles pegaram
em armas (não especificam o tipo de armas, visto as armas de fogo
terem vindo para África pelos europeus) e começaram a lutar. Então o
cão disse:

- Sim senhor! Vejo que serão vocês capazes de derrubar a minha


perseguidora.

- Quem te persegue? – Perguntaram os homens.

- É a leoa. – Respondeu o cão.

Os homens disseram que seriam capazes de derrotar a leoa, e


depois de deixarem entrar no cerco todos os animais que
acompanhavam o cão bem como as mulheres, disseram ao cão que
devia ficar no portão como vigilante e que ladrasse logo que a leoa
aparecesse, o que não tardou a acontecer, pois logo surgiram a leoa
na companhia do leão.

Quando este os viu pôs-se a ladrar para alertar os homens, que


prontamente, pegaram nas suas armas. A fêmea que apareceu
primeiro foi atingida em cheio e caiu morta. O macho, vendo a leoa
estendida no chão, tentou reagir acabando também por ser atingido.

Deste modo o cão livrou-se da leoa e resolveu ficar com os


homens. Passou assim a ser guarda, sendo esta a razão porque ainda
hoje ladra sempre que dá conta do aparecimento de alguém que seja
estranho, seja homem seja animal.

Quanto aos outros animais que acompanhavam o cão decidiram


não mais voltar para a mata, e daí também passaram a ser
considerados como animais domésticos até hoje.

14
Por sua vez os homens apreciaram de tal modo a presença das
15
mulheres, que não as deixaram ir embora e ficaram a viver com elasii.

Depois da vitória do homem sobre o leão, o deus Suku (talvez


uma referência velada e sincretista a D-us) apareceu novamente para
distribuir as pessoas pelos locais onde se encontram actualmente.
Juntou um varão com uma mulheriii, abençoou-os, deu-lhes uma
linguagem para comunicarem-se e enviou-os para que formassem
uma nação; dizendo-lhes:

- Ide, frutificai-vos e multiplicai-vos. – E assim formaram-se


todas as nações.

Por fim o deus Suku voltou para a Sua residência celestial que
se encontra no Céu perto da Estrela denominada pelos homens como
“Zam/Sol”iv.

Onjembo e kalunga

Na concepção tradicional os bailundos acreditam que os seres


humanos têm uma alma que se desprende do corpo, assim que a
pessoa morre. Em Umbundo, a alma de uma pessoa enquanto viva
chama-se Ochilulu ou Ukuassuku, o que significa “o que é de deus”, e
como tal, pode também operar milagres como o próprio deus Suku:
como meter lodo numa casa com as portas fechadas; disparar sem
arma uma bala e matar alguém; deixar cair uma faísca sobre alguém
quer em tempo seco quer em tempo chuvoso; pode inclusivamente,
produzir milho numa lavra, assim como outras acções impossíveis de
serem realizadas pelos humanos.

As almas dos malfeitores vão para o Onjembo onde são


torturadas “eternamente”v, mas os bailundos não descrevem os tipos
de torturas que lá existem. Certamente, onjembo significa infernos

15
(termo judaico) ou inferno (ausência do Eterno) segundo as igrejas
16
cristãs tradicionais não inclusivas ou a teologia sincretista dos
bailundos. Por exemplo, pode citar-se a tradução bíblica do português
para umbundu, onde “infernos/inferno” foi traduzido mesmo para
“onjembo”.

As almas dos benfeitores “vão para kalunga” (entender como o


“Seio de Suku”) onde irão desfrutar da glória do seu deus plenamente
transcendente, uma divina providência definida como sui generis
(http://www.ritosdeangola.com.br/page.php?118).

Os benfeitores bantos enquanto vivos gozam da companhia da


magia, dos espíritos. Só muito excepcionalmente recorrem a Suku. E a
divindade preserva assim a sua distância da carnalidade, da impureza.
O banto preserva a autodeterminação quase plena. O ser humano é
contingente: ser e não ser. Felizmente.

Entre este grupo étnico os sonhos ocupam um lugar especial,


sobretudo pelo facto da pessoa falecida poder ou não ser sonhada
pelos seus familiares. Assim, se uma pessoa falecida não aparecer
nos sonhos de alguém, é sinal de que foi para onjimbo de onde não
pode sair; caso contrário indica que a alma tenha ido para Kalunga ao
lado da divindade.

Torna-se fácil deduzir que Kalunga corresponde ao místico


“Paraíso ou Pomar da Várzea” celestial conforme ensina a religião
cristã. É, no entanto, de referir que todas as almas, quer as que vão
onjembo quer para Kalunga, têm vida eterna (entenda-se na vox
populivi semita [que corresponde literalmente ao “baixo rabinato”]:
“óhlam”, na interpretação hebraica popular seria “eterno” mas é uma
posição que é limitativa historicamente para os letrados Rabinos, para
o altovii sacerdócio moral e intelectual), uma vez que ali não existe
mais a morte. A inexistência da morte é, geralmente, ilustrada com a
seguinte história entre os bailundos:

Estava-se no tempo do Eyele (trata-se da “Grande Festa” de


todos os quimbos, de todas as aldeias e povoações da região). Todos
os quimbos estavam agitados devido ao grande acontecimento do
Eyele. Os presentes sentiram-se, em dado momento, incapazes de
beber tanto Kimbombo (bebida feita de farinha de milho). Fazia-se

16
pirão ao ar livre e carne assada em grandes fogueiras. Havia
17
espectáculos para entreter as pessoas. Durante as noites, o povo
dançava ao som do batuque no ochila (campo de danças).

Um homem de nome Kalumbonjambonja, depois de ter dançado


muito, resolveu à meia-noite abandonar a dança e ir para casa dormir,
já cheio de sono. Era uma noite de muito luar. Tendo caminhado uma
pequena distância quando, perto do alumbo (cerca de estacas de
madeira à volta de um quimbo [povoação]), viu uma moça toda
vestida de branco. Kalumbonjambonja assim que a viu, estando ela
sozinha, cumprimentou-a dizendo:

- Akuku?

- Kuku. – Respondeu ela.

- O que fazes aqui? – Perguntou Kalumbonjambonja.

- Estou à procura da minha gente que não me aparece. –


Respondeu a moça.

- Onde é o teu quimbo? – Perguntou ele.

- Eu venho do Kalundo (cemitério), explicou a moça.

Agindo de conformidade com o costume bailundo, designado


por Oku tumisa (dormir com uma mulher mas sem ter relações
sexuais), convidou-a para pernoitar em sua casa, sem saber que ela
era uma alma do outro mundoviii. Ela aceitou o convite e seguiu
Kalumbonjambonja.

Já em sua casa, entraram. Ele que era solteiro, mostrou-lhe a


cama, foi à cozinha onde havia fogo, e acendeu capim para fazer luz.

Kalumbonjambonja quando chegou ao dormitório viu que a


moça era muito bonita mas ela o alertou dizendo-lhe:

- Não te aproximes de mim com o fogo; na minha terra nuca


usamos fogo.

Aquela noite foi para os dois uma anfitriã plena de prazeres.


Apesar de se resumir a carícias, sem as relações sexuais (coito)
consumadas. Entretanto Kalumbonjambonja assim que ia tendo

17
contactos com o corpo da rapariga, notava que o corpo dela estava
18
muito frio. Apesar disso, e como estava visivelmente apaixonado (uma
paixão descontrolada e utópica nocenteix - baixa irracional e perigosa
de serotonina no cérebrox), perguntou-lhe se queria se casar com ele,
ao que ela respondeu afirmativamente. Momentos depois acordava o
dia em que Kalumbonjambonja devia ir pedir aos pais dela a mão da
moça e todas as outras coisas relativas ao casamento, tal como era o
costume dos bailundos. No entanto, e a pedido da noiva, excluiu-se o
acto de pedir-se a mão. De modo que, dentro de alguns dias ela
voltaria ali e realizariam o casamento.

De manhã muito cedo ela disse que queria ir para o seu quimbo
e que ele lhe desse uma galinha de oniane (galinha branca) por
aquela noite.

Kalumbonjambonja foi à capoeira procurar a galinha branca e


lha entregou. Antes da noiva vestida de branco despedir-se, ele então
perguntou-lhe pelo seu nome, e a rapariga disse-lhe que chamava-se
Pepeka. De seguida, e perante o espanto estúpido do noivo, ela
retirou-se saindo pelo tecto.

Nos dias que se seguiram Kalumbonjambonja vivia mergulhado


em saudades de Pepeka.

Quando faltavam alguns dias para o potencial casamento,


Kalumbonjambonja pediu que toda a gente preparasse o ossovo
(milho grelado para fazer o fermento das bebidas alcoólicas), para
fazer Kimbombo para o seu casamento, o que foi aceito de bom
grado. Toda a população do quimbo meteu o milho na água para
grelar.

Na véspera do casamento estava tudo a postos. Havia grandes


quantidades de Kimbombo e tinham-se morto muitos animais,
incluindo o usual porco dos noivos. Mas o povo não sabia de onde era
a noiva. Ao tentarem satisfazer esta curiosidade, Kalumbonjambonja
respondia que era originária de um quimbo chamado Kalundo.
Ninguém desconfiava que Kalundo era um cemitério.

Nesse dia à noite ouviu-se um grande reboliço no quimbo. Era a


chegada de Pepeka. Vinha com ela muita gente, incluindo os seus

18
pais. A gente que a acompanhava trazia consigo diversa tralha onde
19
se podia ver muita criação, incluindo lavras enroladas como esteiras.

Quando amanheceu deu-se, como reza a tradição, o inicio às


cerimónias do casamento. Todos os presentes ficaram deslumbrados
face à beleza da noiva, muito longe de imaginarem que se tratava de
uma alma do outro mundo.

Depois do casamento, Kalubonjambonja passou a ter uma vida


plena de felicidade e muitos êxitos. À noite, Pepeka mobilizava todas
as almas das pessoas que dormiam no quimbo, e mandava-as
trabalhar na sua lavra. Quando os donos das referidas almas
despertavam do sono notavam que estavam muito cansados, pois
tinham ido trabalhar nas lavrasxi de pepeka (sem que o soubessem).

Tempos depois, Pepeka concebeu e teve um filho do sexo


masculino que era, portanto, mestiço, uma vez que era filho de um
adam (homem da terra vermelha, o mesmo que dizer aonde circula o
sangue) e de um espírito. Cumpriu-se de seguida o costume
denominado Ongulo yo koviongo (porco que os sogros dão aos genros
como prémio à região lombar do genro, de onde veio o filho que
nasceu; acredita-se, entre os bailundos, que os filhos vêm dos lombos
dos homens).

Para Kalumbonjambonja receber o tal porco tinha de deslocar-


se à aldeia da esposa, tendo Pepeka determinado o dia de partida
para lá. Nesse dia, saíram de casa muito cedo e andaram quase o dia
todo. Depois, quando encontraram a toca de uma toupeira, Pepeka
disse ao seu marido:

- Eis aqui o caminho para a nossa terra, apontando com o dedo a


toca da toupeira.

- Como é que havemos de entrar num buraco assim tão


pequeno? – Perguntou atónito o marido.

- Ora essa! Se um elefante pode ali entrar, quanto mais nós!

Pepeka fez um gesto que lhes permitiu entrar. Depois de terem


entrado, Kalumbonjambonja viu-se perante o luzeiro maior (o Sol) com
uma nuance: o Sol não era quente como o seu. Por outro lado, as
pessoas eram muito estranhas, pois tinham raízes atravessadas nos

19
seus corpos (são as raízes que atravessam os cadáveres enterrados).
20
Outros eram apenas esqueletos. Ele nunca vira nada igual.

Andaram até ao anoitecer, tendo-se abrigado numa choupana


feita de ossos humanos e coberta de cabelos das pessoas mortas. A
dona da casa era uma velha que tinha as costelas a descoberto.
Inclusivamente podia-se ver o coração a trabalhar. Umas raízes
haviam-lhe entrado pelo nariz e saiam-lhe pela boca.

Os dois pediram à velha para ali passarem a noite, e a velha


acedeu com gosto. De perto era ainda mais repugnante, pois do pouco
corpo que ainda tinha carne, estava cheio de furúnculos. Para grande
surpresa de Kalumbonjambonja, pediu para rebentar-lhe os furúnculos
com a boca, o que ele fez, cuspindo o pus para o chão.

À noite a velha quis preparar a ceia, mas disse que tinha apenas
fubá, farinha de milho para fazer o pirão. Como não tinha conduto, ela
pediu que cada um desse os seus dois olhos. Assim a velha tirou os
olhos de Pepeka e de Kalumbonjambonja, lavou-os muito bem,
meteu-os numa panelinha, acrescentando uma pitada de sal, e numa
fogueira muito diferente das que conhecemos, fez o pirão. Quando
este ficou pronto, tirou-o da panela, distribui-o pelos pratos de Pepeka
e de Kalumbonjambonja. Depois tomou o conduto e deu a cada um
deles um dos seus dois olhos misturados no molho e nas iguarias, ao
mesmo tempo que dizia:

- Wabenge, wabenge, wandunge, wandunge. Wabenge o velela


iso liabe (Tradução: “Quem tem juízo é sempre acautelado; quem não
tiver juízo comerá os seus olhos” – é um apotegma dos Bailundos).

Kakumbonjambonja e Pepeka compreenderam de imediato o


significado daquele apotegma, e assim fizeram tudo para poupar os
seus olhos.

No fim da ceia, a velha pediu para que lhe devolvessem os


olhos. Pegou neles, lavou-os com um certo líquido e voltou a pô-los nos
respectivos lugares, os quais assentaram tão bem que era difícil
pensar que haviam sido cozidos.

Passaram aí a noite e no dia seguinte prosseguiram a viagem.

20
Pepeka já na sua terra de origem, resolveu sem consultar
21
Kalumbonjambonja, extrair a parte carnal do menino para que ficasse
apenas a parte espiritual, pois só assim o poderia deixar com os seus
pais quando regressasse para a aldeia do marido. No entanto ela
disse ao marido que o menino estava doente. Caminharam uma
distância até se encontrarem com uma prima de Pepeka. Esta queria
que Pepeka levasse o menino na forma de alma do outro mundo, para
os avós. Para isto Pepeka pediu ao marido que fosse à procura de
lonchas (frutos silvestres) enquanto conversava com a prima.

Kalumbonjambonja foi até à árvore que produz lonchas onde viu


dois homens sentados num dos ramos da árvore e a comerem dos
seus frutos; um deles tinha o coração de fora e o outro uma raiz
atravessada no pescoço. Kalumbonjambonja disse-lhes que a sua
mulher o mandara colher lonchas pois tinha o filho doente. Um dos
homens tirou três lonchas e deu-lhas, dizendo que uma era para a
mulher, outra para o filho e a outra para ele. Ao voltar,
Kalumbonjambonja viu que a prima de Pepeka já se havia retirado e
Pepeka disse ao seu marido que a criança havia morrido, indicando-
lhe o seu cadáver com o dedo. Ele então estava prestes a chorar, mas
a esposa repreendeu-o dizendo que naquela terra era proibido chorar.
O que ele não sabia era que a parte espiritual da criança tinha sido
levada pela prima, e que apenas tinha restado a parte carnal. Não
havendo mais nada a fazer, abandonaram aí o pequeno cadáver e
continuaram a viagem.

Depois de terem caminhado uma certa distância, chegaram ao


quimbo de Pepeka. Estava muita gente à espera, onde foram
recebidos com alegria. Alguns tratavam Kalumbonjambonja por tio,
outros por cunhado, ainda outros por pai, conforme o costume dos
bailundos.

Ele, convencido que estava a ser bem recebido, decidiu contar


aos presentes a que havia passado na viagem, dizendo:

- Nós viajamos bem e dormimos pelo caminho. Infelizmente o


nosso filho, que fora o motivo desta nossa deslocação até vós, pois
queríamos mostrá-lo aos avós, morreu quando estávamos perto daqui.

21
De repente, criou-se grande agitação e as pessoas começaram a
22
dispersar ao mesmo tempo que gritavam:

- Aqui não existe a morte. Dêem-lhe uma dedada no olho. E,


novamente, voltavam a gritar repetindo a ameaça.

Toda a gente acabou por retirar-se incluindo Pepeka.

Ao anoitecer apareceu uma pessoa, era uma velha que disse a


Kalumbonjambonja o seguinte:

- Certamente tu não me conheces. Eu sou a trisavó do teu pai.


Quando vim para esta terra o teu pai ainda não tinha nascido. Fiquei
muito admirada quando te vi aqui, pois nunca pensei que alguém de
carne e osso como tu pudesse chegar a este mundo. Mas lamento
bastante que Pepeka, a tua mulher, não te tenha instruído como te
deves portar aqui. A palavra morte pronunciada por ti causou, como
viste, muito pânico, pois aqui não existe a morte, e o povo estava
convencido que tu a trouxeste. Aconselho-te a ser mais prudente e
cauteloso enquanto viveres aqui, pois eles querem extrair-te a tua
alma para que fiques por cá definitivamente, o que eu não posso
permitir. Para que possas sair daqui são e salvo evita comer da
comida que eles comem. Trouxe-te, por isso, este ekende (espécie de
broa de milho) que te servirá de sustento durante todo o tempo que
aqui permaneceres. Evita, de igual modo, beber água daqui, e por isso
também te trouxe esta cabacinha com Chissangua (bebida feita de
farinha de milho mas não alcoólica). Se provares a comida e a água
desta terra, jamais sairás daqui.

Assim que a velha se retirou, apareceu de imediato uma


rapariga que com medo, certamente por kalumbonjambonja ter
pronunciado a palavra morte, pousou o balaio de comida no chão e
saiu a correr. Ele ficou só, durante dias, a alimentar-se do ekende e da
Chissangua. Nem sequer Pepeka aparecia.

Numa noite apareceu-lhe de novo a trisavó que lhe disse:

- Amanhã serás submetido a uma prova. Se falhares serás


morto, a tua alma ficará entre nós para sempre, o que eu não quero.
Trarão muitos cães, todos iguais e da mesma cor, e te pedirão para
que indiques o cão de nome Huvi. Toma este caniço oco que tem uma

22
mosca dentro. Quando te pedirem para indicares o referido cão, abre o
23
caniço, solta a mosca, e presta atenção a ela; o cão em que ela pousar
será o tal huvi.

No dia seguinte toda a população da aldeia aglomerou-se em


frente da cubata onde estava alojado Kalumbonjambonja.

Depois o soba disse:

- Tu, Kalumbonjanbonja, foste atrevido ao vires à terra das


pessoas sem carne e osso. Bom! Nós até gostamos de ti e não
queremos que daqui saias. Vamos, por isso mesmo, submeter-te a
uma prova; se não conseguires desvendar o enigma, que te vamos
apresentar, faremos com que a tua alma se separe do teu corpo e
este será queimado, e a tua alma far-nos-á companhia. Portanto,
trouxemos-te estes cães e tu vais indicar o que se chama Huvi.

Kalumbonjambonja soltou a mosca, olhou com muita atenção


até ela pousar num dos cães e então disse:

- O cão huvi é este. – Apontando o cão em que pousara a mosca.

Mas o povo mostrou-se descontente e sem mais nada a dizer


foram-se retirando.

O pobre Kalum (vamos chamar-lhe assim a partir de agora) viu-


se outra vez abandonado, até pela sua própria esposa.

Durante estes dias de solidão, apareceu-lhe novamente a sua


trisavó que lhe disse o seguinte:

- Amanhã vão apresentar-te mais um enigma. Se o conseguires


desvendar tal como fizeste no primeiro, irão despachar-te para a tua
terra, juntamente com Pepeka, a tua esposa.

No dia seguinte, pois, todo o povo do quimbo aglomerou-se à


volta da cubata de Kalum.

Tal como da primeira vez, o soba lhe disse:

- Vamos apresentar-te mais um enigma, e se o conseguires


desvendar como fizeste no primeiro, poderás ir, juntamente com a tua

23
mulher para a terra de onde vieste, cujas pessoas são de carne e osso.
24
Sobe nesta bananeira e corta o cacho das bananas.

Kalum lá subiu como lhe ordenara. Quando estava perto do


cacho o soba disse-lhe:

- É inadmissível que pessoas de carne e osso venham aqui para


espiarem o nosso modo de vida. Nós não permitimos isso, e como tal
não deixaremos que aqueles que aqui venham voltem para a sua terra
de origem. Bananeira! – Ordenou o Soba com muita raiva.

- Cresce ainda mais e mais!

Mediante as ordens do soba, a bananeira começou a subir


vertiginosamente para o céu, levando consigo Kalum para o alto, que
ao ver o perigo gritou:

- Se eu vim aqui foi porque a mulher com quem eu casei me


trouxe. Se casei com ela foi porque ela me aceitou. Além disso, eu
confirmo que nunca comi nem bebi nada da vossa terra.

A bananeira achou que Kalum tinha razão e logo decresceu,


também vertiginosamente. Logo que Kalum pousou os pés no chão,
pegou numa faca e cortou o cacho das bananas.

Nesse instante apareceu Pepeka com a sua bagagem e


puseram-se a caminho. Optaram por seguir por caminhos mais curtos
e em pouco tempo estavam na sua casa, retomando as suas
actividades. Toda a população do quimbo veio cumprimentá-los.
Voltaram à sua vida normal.

Depois de um ano passado, Pepeka concebeu de novo um outro


bebé do mesmo sexo. Como da primeira vez, era necessário voltar à
terra de Pepeka a fim de receber o porco, como ordenava o costume.

Desta vez Pepeka resolveu deixar o marido e ir com o seu


cunhado chamado Tandala. Prepararam a viagem, e no dia marcado
meteram-se a caminho, rumando para o outro mundo.

Kalum pensando nas peripécias pelas quais havia passado


quando estava na terra de Pepeka, e sabendo que o quanto o seu
irmão Tandala era desmazelado, ficou muito preocupado, pois eram
poucas as hipóteses de ele regressar.

24
Pepeka e o cunhado caminharam quase todo o dia até
25
chegarem à já conhecida toca de toupeira. Ela então disse-lhe que o
caminho continuava naquele buraco. Tandala, intrigado, perguntou
como é que eles iriam passar por aquele pequeno orifício. Pepeka,
como anteriormente, fez um pequeno sortilégio e lá conseguiram
entrar. Tandala ficou boquiaberto ao ver tudo aquilo. Andaram quase
todo o dia até chegarem à choupana onde Kalum se havia com a sua
esposa, e encontraram a mesma velha, com a diferença de que desta
vez já não tinha furúnculos para serem rebentados.

Quando chegou o momento para prepararem a ceia, a velha


voltou a dizer que só tinha fuba e que não tinha conduto para
acompanhar o pirão. Assim, voltou a pedir os olhos de cada um. Ela
levantou-se e tirou os olhos a Pepeka e ao cunhado Tandala. Lavou-os
bem e meteu-os numa panelinha, temperando-os com sal. Quando o
pirão estava pronto para ser comido, destribuiu-o pelas visitas bem
assim como o conduto. A cada uma delas foram dados os seus
próprios olhos. Depois a velha voltou a citar o mesmo apotegma:

- Wabenge, wabenge, wandungue, wandungue, wanbenge o


velela iso liabe.

Infelizmente Tandala não compreendeu o apotegma, e quando


tomou o pirão com o seu respectivo conduto a primeira coisa que fez
foi tomar um dos seus olhos e mete-lo na boca seguido do segundo.

No fim do jantar a velha pediu novamente os olhos para os


colocar nos seus lugares, mas só Pepeka os entregou, pois Tandala
disse que havia os seus, o que entristeceu sobremaneira a velha.

Tiveram de procurar uma alcateia para irem roubar um cabrito


num quimbo da terra de Kalum. Os lobos lá foram e em pouco tempo
trouxeram o cabrito. A velha tirou-lhes então os olhos e os colocou em
Tandala, mas estes olhos não enxergavam muito bem.

Depois de tudo isto ter acontecido, os dois puseram-se de novo a


caminho. Tiveram encontro com a mesma prima de Pepeka. A prima
voltou a tomar o menino de Pepeka, levando-o para um sítio
desconhecido para lhe separar o basar (vide na Bíblia de Jerusalém,
na Carta aos Romanos [Comunidade Messiânica de Roma - Bavel] 7:5,
24 as notas de rodapé “p” e “a”) da parte espiritual (pneuma)xii, e

25
Tandala nem se apercebeu disto. Ao chegarem ao quimbo de Pepeka
26
foram recebidos como da primeira vez. Tandala não pronunciou
qualquer palavra que pudesse provocar pânico como o havia feito
Kalum.

Depois de muito conversarem, trouxeram um prato cheio de


comida e Tandala, sem consultar ninguém, pôs-se logo a comer.

Quando a sua trisavó apareceu para lhe dar instruções, ele já


tinha comido e bebido. Como tal, ficaram prisioneiros, ele e a sua
cunhada.

Alguns dias passados, foram apresentados a Tandala os


mesmos enigmas postos a Kalum.

Tandala não foi capaz de indicar o cão chamado Huvi, mas


indicou outro. Passados outros dias mandaram-lhe também subir a
uma bananeira para cortar o cacho das bananas, e quando ele estava
perto de o fazer, o soba voltou a falar:

- Não é lícito que os indivíduos de carne e osso venham a esta


terra e comam e bebam connosco.

E prosseguiu:

- Bananeira! – Ordenou o soba, cresce mais e deixa-o cair.

A bananeira logo começou a crescer vertiginosamente, o que fez


com que as suas raízes se desprendessem do solo, deixando Tandala
cair em terra e acabando por morrer. Pegaram no seu corpo e o
queimaram. A sua alma ficou a pertencer ao grupo das outras almas.

Kalum esperou durante muito tempo pelo seu irmão, bem como
pela sua esposa Pepeka; como eles nunca mais chegaram, decidiu
arranjar outra mulher.

Na aldeia de Kalum havia uma jovem muito bonitaxiii a quem


pediu para que se casasse com ele. Aconteceu, porém, que também
havia na mesma aldeia um homem de muito destaque que tinha as
mesmas pretensões. Este, quando teve conhecimento das intenções
de Kalum, ficou irritado e, movido pelo ciúme, quis matá-lo. Para o
concretizar, fingiu-se ser seu amigo. Como era muito rico, resolveu
fazer um grande banquete, convidando muitas pessoas entra elas

26
também a Kalum, o seu rival, para o qual preparou um quarto onde
27
este iria pernoitar.

No fim do banquete os convidados foram distribuídos pelos


quartos indo Kalum também para o seu, onde havia uma cama
colocada em cima de alguns paus falsos, tapados com terra e por
cima de uma cova profunda. Quando ele subiu para a cama, os paus
falsos cederam, a cama caiu, levando Kalum para o buraco. Depois o
anfitrião e os seus capangas foram em busca de água, que fervia em
grandes caldeirões, e lançaram-na para dentro da cova com o intuito
de o matar.

Por sua vez, Kalum entrou numa cova de toupeira que por lá
havia, e encontrou-se de novo na terra de Pepeka.

Os facínoras, depois de terem despejado muita água escaldante,


espantados viram que Kalum não se encontrava lá, onde esperavam
encontrá-lo morto.

Entretanto, Kalum percorreu todos os lugares, na terra de


Pepeka, para ver se a encontrava bem como a seu irmão. Apenas
conseguiu encontrar-se com a sua trisavó, que lhe deu o sustento.

Depois de muitos dias sempre encontrou Tandala, que se


cumprimentaram, e cada um deu explicações ao outro do que lhes
havia acontecido. Tandala já não podia sair daquela terra, pois não
tinha mais corpo carnal.

Tandala conduziu o seu irmão a uma toca de toupeira por onde


este saiu para a sua casa. Viu que estava tal como a havia deixado,
pintada de branco. No entanto o seu rival que o queria matar, quando
soube que ele tinha chegado ficou muito admirado. Mas Kalum
procurou sempre uma oportunidade para se vingar.

Um dia viu o seu rival a trabalhar na sua lavra no sopé duma


montanha. Subiu no topo dessa montanha e pôs-se a urinar. A urina
era tanta que formou uma grande torrente, que arrastou pedregulhos,
árvores e tudo mais o que encontrasse, e um desses pedregulhos,
arrastado pela urina, foi de encontro ao seu rival que acabou por
morrer num precipício, e mergulhado em urina quente.

27
28

i
Bailundo é uma cidade e município da província do Huambo, em Angola, localizada em pleno
planalto central. Tem 7 065 km² e cerca de 56 mil habitantes. É limitado a Norte pelos municípios de
Waku Kungo e Andulo, a Este pelos municípios de Mungo, Cunhinga e Chinguar, a Sul pelos municípios
de Catchiungo, Tchicala Tcholoanga e Huambo, e a Oeste pelos municípios de Ekunha, Londuimbale e
Cassongue. É constituído pelas comunas de Bailundo, Lunge, Luvemba, Bimbe e Hengue.

À região do Bailundo foi dado o nome do primeiro soberano, que vindo do norte, fundou e reinou
durante muitos anos naquilo que foi o maior, mais poderoso e influente reino da colónia
portuguesa. Todos os outros reinos o olhavam com o maior respeito e admiração. A embala (casa
grande), sede do Soma (monarca) situava-se na localidade hoje designada de Bailundo. O Reino do
Bailundo foi sucessivamente atacado pelas tropas portuguesas durante séculos, tendo os mais
conhecidos suseranos que ali reinaram, resistido às confrontações militares até ao ano de 1.896 AD,
altura em que o jovem capitão Justino Teixeira da Silva, transferido do Bié, onde fora também
responsabilizado pela morte prematura do Capitão-mor Silva Porto, acabou por derrotar o Rei
Numa II que acabara de suceder a Ekwikwi, e ali se instalou. A vila veio a ser denominada de
Teixeira da Silva, tendo retomado o nome anterior de Bailundo após a independência nacional em
1.975 AD. Durante a guerra civil dos anos 90 esteve aqui instalado o quartel-general da UNITA.
Fonte: http://janeladeguilhotina.blogspot.com/2009/04/bailundo-e-uma-cidade-e-municipio-da.html

ii
NB: Esta estória ou legenda singular do folclore tradicional (ou da mente criativa do escritor ancião,
o leitor investigue) reflecte uma visão redutora e heterossexual da realidade. O escritor africano e
mestiço é um cristão conservador não inclusivo.
iii
Varoa (influência semita e cristã), “homem feminino”.
iv
Zambiampungu, Nzamé, Zamby e outras centenas de designações, sempre com os radicais “Zam”
(nas línguas antigas representa o Sol. Por ex: Sabeísmo, palavra persa surgida da raiz “ZAAB”,
significando Deus, divindade, de onde provém todo o saber) representando o Deus supremo. Fonte:
http://acervoayom.blogspot.com/2009/10/pambu-njila-2003.html

Atenção à nota 5:
v
A palavra hebraica “ohlam/óhlam” significa um “tempo indefinido, muito incerto e que este tempo
indefinido, mesmo sendo traduzido por “eterno” ou “perpétuo”, pode ter um término”. Os melhores
léxicos (não estou a pensar nos dicionários de “fundo de quintal”, mas em dicionários técnicos de
hebraico – Inglês, da autoria de eruditos académicos) definem “Óhlam” como “um período de tempo
indefinido, de longa duração que pode ser perpétuo, mas não necessariamente”.
vi
“Vox populi Vox Dei”: “a voz do povo é a voz de D-us” (a voz da maioria é a verdadeira, não se deve
subestimar a opinião pública – o clero inculto - dominante e fundamentalista).

Termo Inglês a Guardar:


vii
“Scholar”, experto.
viii
http://www.revista.sobrenatural.org/Especial_01_Biblia_Proibida/Default.html
http://www.igreja-lusitana.org/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=80

28
29
Secção Paixão Utópica:
ix
http://www.emeurgencia.com/2010/05/por-uma-vida-apaixonada.html
Secção “SlideShare” e Complicações:
x
http://www.slideshare.net/renaapborges/a-famlia-crist
http://www.robertexto.com/archivo3/complicacoes.htm
xi
http://www.dicio.com.br/lavra/
xii
Não se trata dum cristão o menino de Pepeka. Esta separação não poderá dar-se num crente. O
cristão embora aguarde a libertação escatológica (Carta aos Romanos 8:23), no tocante ao seu corpo, já
hoje está libertado, em princípio (ou realmente, se for um predestinado reformado ou católico marista
montfortino ou o evangelical/católico antinomiano inclusivo), da “carne”. Pela sua união à morte de
YAOHÚSHUA hol-MEHUSHKHÁY (6:4.6, “verso 4, a nossa natureza pecadora [basar] foi enterrada com
ha-MEHUSHKHÁY, pelo baptismo [para os que pregam o baptismo] / pregada com ele no poste [para
os que rejeitam o baptismo], verso 6 [atenção: mas o acto baptismal é mais preciso e democrático que
o evento do madeiro para ilustrar a materialização duma transformação transubstancial invisível ao
“olho” humano comum, um santo poderá ver essa transubstancialidade, uma evidência intuitiva ao
crente ecuménico comum, uma certeza subjectiva não demonstrável, ao contrário do sacramento da
Eucaristia católico, que ao longo da sua história foi evidenciado por inúmeros milagres
testemunhados por todos os católicos], e quando YÁOHU UL e YÁOHU ABí, com o seu divino poder, O
trouxe de novo à vida, também nos foi concedida uma vida nova para desfrutar”; 8:3), é desde agora
habitado pelo “versos 9-11, RÚKHA (1ª Carta aos Coríntios 6:19), se é que o RÚKHA-YÁOHU vive em
vocês (i.e., só os Eleitos Reformados Calvinistas e os Cristãos Antinomianos Inclusivos
[http://conviteavalsa.spaces.live.com/blog/cns!E8A44CA42D8320A0!2330.entry] ou os Eleitos católicos
trinitários-maristas montfortinos têm esta certeza). E se alguém não tem na sua vida o RÚKHA de hol-
MEHUSHKHÁY, não é de maneira nenhuma um Yaohúshuahee. E se ha-MEHUSHKHÁY vive em vocês,
embora o vosso corpo esteja morto para o pecado, o vosso espírito vive porque hol-MEHUSHKHÁY vos
perdoou. E se o RÚKHA-YÁOHU, que levantou YAOHÚSHUA hol-MEHUSHKHÁY da morte, vive na vossa
vida, ele vivificará o vosso corpo mortal pela acção desse mesmo RÚKHA hol-HODSHÚA que vive em
12-13
vocês. Assim… não há razão para satisfazerem a vossa velha natureza pecadora (a prima pagã de
Pepeka, se Pepeka e o menino fossem crentes) fazendo o que ela (a prima pagã) vos pede. Porque se
continuarem a segui-la, morrerão; mas se, pelo poder do RÚKHA, a rejeitarem [uma certeza que emana
da doutrina teológica protestante ou católica trinitária marista montfortina denominada como
“regeneração monergística”, para mais vid. o sítio monergista do Professor Doutor John Hendryx:
http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/john_sinergista_arminiano.htm], então já a hão-de
viver [vide tb., o sítio http://www.pastoralis.com.br/pastoralis/html/modules/rmdp/down.php?id=163].
14 15-17
Porque todos os filhos de YÁOHU UL deixam-se conduzir pelo RÚKHA-YÁOHU. Por isso (aviso aos
cristãos sinergistas como o Apóstolo [vd., 1 Coríntios 2:3] e não aos monergistas interdenominacionais)
não devem ser como os escravos medrosos e servis, mas devem comportar-se como verdadeiros filhos
de YÁOHU UL, recebidos no seio da sua família e chamando-lhe realmente querido YÁOHU ABí. Porque
o seu Santo RÚKHA é testemunha, no nosso entendimento, de que somos filhos de YÁOHU UL. E sendo
que somos os seus filhos, havemos de participar dos seus tesouros, pois que tudo o que YÁOHU UL dá
ao seu ha-BOR YAOHÚSHUA pertence-nos também“. O cristão predestinado monergista fica assim
formado e escudado, seguro-imune, para uma vida nova de justiça e santidade e que glorifica a D-us. Os
sinergistas paulinos vivem e “desenvolvem a sua salvação com temor e tremor” (Filipenses 2:12,
também da Bíblia cristã).

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Data do info sobre textos concernentes à beleza, infra: 15 de Julho de 2.010 AD: 30

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