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MECANICA DOS MATERIAIS Edigdes da FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN Manuais Universitarios No prosseguimento dos fins gerais que 2 oricntam, foi a Fundacao levada 2 inte: na producio de livros portugueses, cinando € editando obras diversas € diverso carécter - cientifico, técnic artistico, histérieo, Pretende agora, de um plano amplo € sistemitico, atingir aqueles sectores onde seja mais flagrante a necessidade de amparo ou de incentive Nesta primeira fase do plano estabelecide ensourse no ensino superior: estudantes ue mio encon im livros adequados e de prego acessivel, professores que por vezes deparam com dificuldades para publicar as sus ligBes ou os seus trabalhos de inves tigacdo, A uns e outros oferece a Fundacio facilidades que possibilitem a eficiéncta cad aiot desse escalio fundamental ¢ nossa cultura. Originals e traducdes, mestres portugueses ¢ estrangeiros, vio fig nesta colece0, que se procurou rodear dos maiorcs cuidados ¢ exigéncias técnicas Proximas publicagoes: © Universo da Industria Petrolifera, 2." edicaio Revista e Actual ~ Jorge Salgado Gomes ~ Fernando Barata Alves Textos Classicos Préximas publicacées © Livro das Origens. 0 Text Teoligico da Pedra de Chabab Cultura Portuguesa Préximas publicacdes: Obras Completas de Eduardo Loureng Tv0b MECANICA DOS MATERIAS Carlos Augusto Gomes de Moura Branco Nasceu em 1948. Licenciouse em Enge nharia Mecinica no Instituto Superior Técnico em 1971 € doutorouse Engenharia Mecanica em 1976 no Amperial College for Science and Teebnology da Universidade de \dres, com uma tese no dominio da fractura e fadiga dos mate rials metdlicos. Prestou provas ptiblicas rt professor extraordinirio em 1980 >i Professor Catedritico da Universidade Jo Minho de 1982 a 1987, onde regew as disciplinas do grupo de Mecinica dos Materials © Mecanica Aplica de Engenharia Métalomecanica ¢ Engenha de Producio. Professor Catedritico do Instituto Supe Flor Técnico da Universidade Técnica de Isboa desde 1987 onde rege as disciplinas Je Orgios de Miquinas e Comportamento Mecinico dos Materiais da licenciatura em Engenharia Mecinica €, desde 1996/97, Professor convidado da Universidade da Beira Interior. Tem vasta bibliografia publi cada em revistas e actas de conferéncias geiras da especialidade. investigador do ICEMS (Instituto de Ciencia e Engenharia de Matcriais ¢ Superficies), do 1ST ¢ do IDMEC (Instituto Je Engenharia Mecdnica), onde coordena irios projectos de investigagio, E mem- cionais € estrangeir ides Cientificas Tem prestado actividades de consultorta © apoto téenico a diversas empresas € instituigdes nacio- ais. £ responsivel pela Divisio de Fractura da Sociedade Portugues de Materiais MECANICA DOS MATERIAIS CARLOS A.G. DE MOURA BRANCO MECANICA DOS MATERIAIS 5° edigdo FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN Servico de Educacao e Bolsas Reservados todas os direitos de harmonia com a lei Edigdo de FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN Servigo de Educagao e Bolsas 2011 PREFACIO Satida-se com muita satisfagéo a publicagdo do presente livro sobre Mecé- nica dos Materiais. A literatura técnica portuguesa é extremamente pobre ¢, por isso, 0 seu aparecimento seria jd motivo de regozijo. Acresce, porém, 0 modo como trata os diferentes assuntos, pelo que a sua utilidade quer para alunos de cursos de licenciatura e de mestrado, quer para engenheiros confrontados com problemas de concepgdo e cdlculo em projectos de nivel jd avangado, é indiscutivel. Com efeito nao é muito vulgar, mesmo na literatura estrangeira da espe- cialidade, aparecerem reunidos num mesmo livro os aspectos bdsicos da meca- nica dos materiais, as aplicagdes concretas de cdlculo de resisténcia, os ensaios a que os materiais so submetidos para determinacdo das suas propriedades mecd- nicas e, por fim e ndo menos importante, os conceitos fundamentais do compor- tamento mecanico dos materiais. Nao é hoje possivel conceber estruturas e mdquinas sem o conhecimento da sua fiabilidade, e esse conhecimento comeca na determinac@o da aptidéo dos materiais e dos elementos estruturais para suportarem os tipos de solicitagdo, as condigées de funcionamento e o meio ambiente a que estéo submetidos; estes aspectos, aos quais se tem de somar a inevitdvel influéncia dos defeitos introdue zidos pelos processos de fabrico, condicionam e limitam a capacidade e a dura- do das estruturas e das mdquinas, em suma, a seguranca tanto sob o aspecto humano, como sob o aspecto econdmico, que a umas e outras se exige para poderem ser utilizadas. Luciano de Oliveira Faria ¢ Prof. Catedrdtico do Instituto Superior Técnico A minha mulher, meus pais e meus filhos Jogo Pedro, Diogo Miguel e Carlota AGRADECIMENTOS O autor exprime os seus agradecimentos a varias pessoas e instituigdes que tornaram possivel a realizagao deste trabalho, designadamente: Universidade do Minho e Instituto Superior Técnico. Prof. José Carlos Fernandes Teixeira da UM, que fez a resolugao de grande parte dos problemas propostos e exemplos. Pedro Gomes de Matos, Fernando Gomes de Araiijo e Jorge Fernandes, que executaram eficientemente os desenhos e diagramas dos Capitulos Jal2. Maria Isabel Pinheiro Goncalves e Maria Julieta da Cruz Pereira, pelo excelente trabalho de dactilografia do original. Prof. Edgar Luis Caramelo Gomes do IST/DEM, pela colaboragdo no trabalho de preparagao da 3." para a 4.* edicao deste livro. B ABREVIATURAS AGARD — Advisory group for aerospace research and development (NATO) AISI — American Iron and Steel Institute ASME — American Society of Mechanical Engineers ASTM — American Society for Testing and Materials BS — British Standards COD — Crack opening displacement DIN — Deutsche Institute Norm (Alemanha) I Mech. E. — Institution of Mechanical Engineers (Reino Unido) TIW — International Institute of Welding MFLE — Mecénica da Fractura linear elstica MFEP — Mecanica da Fractura elastoplistica NEL — National Engineering Laboratory (Reino Unido) NP — Normas portuguesas REAE — Regulamento de estruturas de ago para edificios (Portugal) SAE — Society of Automotive Engineers (E.U.A.) STP — Special Technical Publications (ASTM) WI — Welding Institute (Reino Unido) ust — “Microstrain” = 10” (medida de extensiio) LISTA DE SIMBOLOS PRINCIPAIS ‘A — direa da seogdo transversal B — espessura C — fiexibilidade ou complactncia; constante D — constante E — méduio de elasticidade longitudinal F — forga concentrada; fiabilidade G — médulo de elasticidade transversal; forca de avango da fenda; velocidade de liber- tagdo de energia I — momento de inércia; produto de inércia J. — integral de contorno da Mecanica da Fractura elastopldstica; invariantes das tensdes K — factor de intensidade de tensGes da Mecdnica da Fractura linear eldstica; constante de rigidez K, — factor de sensibilidade axial do extensémetro eléctrico 4 K,, — resiliéncia ao entalhe em estado plano de extensio Ky — valor limiar de K para a propagacao de fendas de fadiga Kjcsy ~~ valor limiar de K em corrosio sob tensio K, — factor elastico estatico de concentracao de tenses K, — factor de redugio de resisténcia a fadiga (factor dindmico de concentragao de tensdes) M,M, — momento flector M, — momento de torgao N — carga axial; mimero de ciclos de aplicagdo da carga N, — niimero de ciclos de rotura NN; — numero de ciclos de iniciagdo da fenda N, — mimero de ciclos de propagagao da fenda P’— forca aplicada; poténcia Q — resultante de carga distribuida; energia de activagao do processo de fluéncia R — reacgdo em apoio; resistencia & fissuraco; razKo de tensdes S — tensio resultante; vector densidade de energia de deformacdo T — esforgo transverso; temperatura U — energia de deformagio U, — densidade de energia de deformagao (energia/unidade de volume) V'— volume W. — peso especifico; médulo de resisténcia 4 flexio; energia de deformacdo X — reacgiio desconhecida num apoio Y — factor geométrico adimensional da Mecanica da Fractura linear eldstica Z, — varidvel normalizada a — distancia; comprimento da fenda — comprimento inicial da fenda ou defeito comprimento critico ou de rotura da fenda — comprimento final da fenda ou defeito — largura da seocdo; distancia largura da fenda constante; didmetro da seo¢to espessura; excentricidade frequéncia de aplicagao das cargas aceletag&io da gravidade; constante — altura da seogo — constante de rigidez; constante; relagio entre raios 1 — yao; comprimento da pega [m,n] — cosenos directores em relagdo a um sistema de eixos ortogonal, x,y.z m — expoente n — coeficiente de seguranga; expoente de encruamento — pressdo interna; parametro de encurvadura; trabalho de deformagdo plastica — redugio de area; factor de sensibilidade ao entalhe; esforgo de corte — aio exterior da seogdo; coeficiente — perimetro da secgo — espessura; tempo — deslocamento v — deslocamento; coordenada vertical; velocidade linear w — densidade de carga; largura ou altura; deslocamento Rom moO aoe E ES | poets 15 [x).z] — sistema de coordenadas ortogonais = — flecha: espessura A — extensio volumétrica ou variagio de volume 9 — fungao de tensio; angulo Q — tensor das rotagdes a — cocficiente de dilatagdo linear; Angulo @ — Angulo; constante Y — Angulo; distorsao; peso especifico; tensio superficial 3 — deslocamento linear; flecha; deslocamento da abertura da 3,, — flecha ou deslocamento admissivel 8, — Simbolo de Kronecker — extensio linear ou nominal E).8€, — extensdes principais eq — extensdo média ¢| — extensio de fractura e, — extensio uniforme e, — extensio de desvio = — extensio verdadeira Ac, — amplitude de extensao elastica Ac, — amplitude de extensio plastica ‘Ac, — amplitude de extenso total 6 — Angulo de rotagao [1.6] — sistema de coordenadas polares 2) — momento estatico % — coeficiente de Lamé; esbelteza a — coeficiente de atrito v — cveficiente de Poisson — raio de curvatura; raio; raio de giragiio 5 — tenséo normal ),04.0, — tens6es principais 4, — tensio admissive! 9, — tensio de cedéncia a 0.2% — tensdo limite de fadiga basica ou intrinseca — tensio média ou hidrostatica ¢, — tensor das tensdes o, — resistencia traceaio G — tenséo verdadeira 9, — tensdes de desvio 6,154 — tenséio radial e tangencial + — tensdo de corte — tensio de corte de cedéncia — tensio de corte de rotura (médulo de rotura) — coeficiente de redugaio — velocidade de rotagio ae INTRODUGAO OBJECTIVOS E INTERESSE DO LIVRO ‘A Mecinica dos Materiais é uma area do conhecimento que estuda 0 com- portamento € a resposta dos materiais aos esforgos aplicados. A necessidade de con- ceber estruturas e componentes sujeitos a esforcos mecinicos motivou, desde tempos remotos, 0 estudo da Mecfnica dos Materiais. Sem entrar em detalhes de evolugio histérica, citam-se a titulo de exemplo as experiéncias de Hooke no século XVII sobre 0 comportamento eldstico de barras prismaticas de onde surgiu 0 enunciado da sua lei, € os estudos de Euler no século XVIII sobre a encurvadura de colunas. Contudo, como aliés também sucedeu com outras Ciéncias de Engenharia, foi no chamado periodo da revolugdo industrial que se realizaram os mais importantes avan- os cientificos na Mecdnica dos Materiais, cuja evolugdio tem alids prosseguido até aos nossos dias. Com efeito, a construg&o das primeiras mAquinas colocou aos enge- nheiros da época problemas de dimensionamento e comportamento de materiais nunca dantes imaginados, Para dar resposta a esses problemas, a investigacZo nos dominios da mecd- nica dos meios continuos e da andlise de tensdes e deformagées em pegas lineares € curvas conheceu um grande desenvolvimento com os trabalhos de, entre outros inves~ tigadores, Cauchy, Lamé, Navier, Poisson e Mohr. Numa fase posterior, assinalam-se 08 avangos verificados nos estudos nos dominios das teorias da elasticidade e plasti- cidade, nomeadamente com os trabalhos de Von-Mises, Airy, Prandtl, Nadai, alguns deles j4 nos fins do século XIX, prineipios do século XX. No campo da fadiga ¢ fractura dos materiais, ha a referir os trabalhos pionciros de Wohler e Griffith, Acom- panhando o progresso verificado em outros dominios cientificos, a Mecanica dos Materiais também impulsionou o seu desenvolvimento durante os periodos correspon- dentes ds duas guerras mundiais, devido & motivagdo introduzida pelas necessidades do esforgo militar envolvido nestes conflitos, Neste contexto, importa referir os estudos (1) Ver olivro de S. Timoshenko, History of Strength of Materials, Fd. Van Nostrand, N-Y., 1953 18 de andlise estrutural nos chamados perfis ou elementos “finos” utilizados na industria aerondutica, a introdugdo da fotoelasticidade nos estudos de concentragéo de tensdes € os grandes progressos verificados no dominio da fadiga mercé do esforgo desen- volvido por equipas de investigagao ligadas a industria militar, aerondutica e automével. A descoberta, ja em pleno século XX, do extensémetro eléctrico e o desen- volvimento verificado na fotoelasticidade tornaram possivel comprovar os resultados obtidos nos estudos tedricos da teoria da elasticidade ¢ da anilise de tensdes ¢ defor- mages. Pouco mais de cinco décadas se passaram desde o aparecimento do primeiro extensdmetro eléctrico, 0 que n&o obsta a que se tenha verificado uma impressio- nante expansdo da sua utilizagdo com um niimero cada vez mais crescente de apli- cagées. A utilizagao generalizada da andlise experimental de tensdes e, em particular, da extensometria eléctrica permite determinar directamente as tensGes nas estruturas € componentes funcionando, assim, como complemento da anilise teérica. Por outro lado, os progressos da electrénica e dos servocomandos permitiram a construgaio de equipamento de ensaio de materiais ¢ estruturas que podem reproduvir fielmente em laboratério o tipo de solicitagdes que estas encontram em servigo. Estas técnicas de ensaio permitem determinar a distribuigéo de tensdes na peca € analisar 0 compor- tamento do material perante os esforgos aplicados. O desenvolvimento dos computadores no século XX tornou acessivel a solu- do por métodos numéricos de problemas de elasticidade e plasticidade que. até es altura, conheciam relativamente poucas solugdes para os modelos mateméticos cor respondentes. Ffectivamente, os métodos das diferencas finitas e, em particular, 0 método dos elementos finitos permitem o célculo das distribuigdes de tensdes e deformagoes em estruturas e componentes de forma complexa, ¢ sujeitos também a solicitagdes complexas. Actualmente ¢ bastante significativa a investigagéo no campo da Meca- nica dos Materiais em que se recorre especificamente ao método dos elementos fini- tos. So de salientar as recentes aplicagdes deste método a fenémenos de fadiga, fluén- cia € viscoelasticidade. Tradicionalmente, a disciplina de Mecdnica dos Materiais faz parte integrante dos planos curriculares de todos os cursos de Engenharia Mecanica e Engenharia de Produgdo (Production Engineering nas universidades anglo-saxénicas). Uma tendén- cia moderna no ensino destas matérias em universidades estrangeiras de reconhecido prestigio ¢, especialmente, nestes cursos é no sentido da integragéo da andlise de ten- sdes e deformagées com os estudos de comportamento mecanico dos materiais e ensaios tecnoldgicos. Deste modo o ensino fortemente apoiado na experimentagio € no “estudo de casos” em que os estudantes tomam parte integrante em ambos os aspectos. A participagdo dos estudantes na experimentag&o € no “estudo de casos” é reconhecida como motivagdo a investigagio, além de permitir uma familiarizagdo dos estudantes com as matérias ensinadas nas aulas tedricas ¢ uma percepgao das limita~ gGes dos diferentes métodos ¢ técnicas de ensaio. 19 As matérias neste livro esto essencialmente perspectivadas para cursos uni- versitarios de Engenharia Mecdnica e Engenharia de Produgdo Mecdnica ou Meta- lomecdnica. Contudo, muitos dos assuntos focados enquadram-se também perfeitamente em planos curriculares de Engenharia Civil. A énfase acentuada de Engenharia Mecd- nica é dada nas aplicagdes ¢ nos exemplos resolvidos € propostos, que dizem quase exclusivamente respeito a problemas de interesse pratico nas areas de construgio mecdnica, construgo metélica, processos de conformagdo e controlo de qualidade mecdnico. A designagao de Mecanica dos Materiais aparece, assim, a traduzir melhor as matérias versadas do que a designagao tradicional de “Resisténcia dos Materiais”, hoje quase totalmente em desuso no ensino universitario estrangeiro. Contudo, nao é 86 o estudante de Engenharia Mecdnica, Civil ou de Produc&o Mecanica das univer- sidades ¢ institutos superiores que ir encontrar nesta obra um auxiliar valioso para 9 estudo da Mecanica dos Materiais. Este livro foi também estruturado para o pro- fissional de engenharia, que jd trabalha na industria metalomecanica e de construgio mecdnica. Este tem agora ao seu dispor uma obra actualizada sobre este assunto, em lingua portuguesa, que constitui um auxiliar Util na resolugdo de problemas de projecto mecanico, incluindo aspectos de concepedo, dimensionamento e seleceo de materiais muito frequentes na pratica industrial. Ndo se trata, porém, de um manual de engenharia, embora se tenham incluido em alguns capitulos muitas referéncias de que se recomenda uma consulta posterior. Em termos pedagégicos, a experiéncia do autor j4 demonstrou que possivel ministrar em condigées satisfatérias a matéria constante deste livro em trés semestres lectivos de treze semanas, com uma escolaridade de cinco horas semanais divididas em duas horas de aulas tedricas ou de sintese e trés horas de aulas praticas ou de demonstrago experimental. A preparagdo prévia para esta disciplina deverd incluir cAlculo integral e diferencial, equagées diferenciais ordinarias, célculo matricial mecénica dos corpos rigidos. Na mecdnica dos corpos rfgidos, os estudantes deverio ja ter aprendido perfeitamente as seguintes matérias: equilibrio de sistemas de forgas no plano espaco, ligagdes de sistemas de corpos rigidos entre si e ao exterior, andlise de estruturas isostéticas ¢ geometria das massas. Antes de referir propriamente quais os assuntos que serio abordados neste livro, interessa fazer uma definigdo clara ¢ precisa dos objectivos a atingir com uma disciplina de Mecénica dos Materiais na perspectiva de um curso de Engenharia Mecdnica ou Engenharia de Produgdo. As matérias versadas na disciplina de Mecanica dos Materiais devem ser entendidas como sendo 0 suporte necessdrio nao s6 para disciplinas de projecto mecanico, mas também para algumas tecnologias de fabrico (conformacao, corte de arranque de apara, projecto de ferramentas e dispositivos, etc.). A disciplina de Mecanica dos Materiais funciona assim como uma disciplina “chameira”, evitando que se tenham de ministrar conceitos bésicos e metodologias gerais em disciplinas que devem ser exclusivamente de aplicagao. Dentro desta pers- 20 pectiva actualizada do ensino da Mecanica dos Materiais, ¢ ao contrario do que se verifica em curriculos de disciplinas de Mecdnica dos Materiais ou de Resisténcia de Matcriais em varias universidades portuguesas, esta disciplina, tal como € aqui con- siderada, ndo se devera centrar exclusivamente no ensino dos métodos analiticos de anilise de tensées e deformagSes em componentes ¢ estruturas, O objectivo funda- mental deverd consistir em tentar concentrar numa iinica disciplina 0 ensino dos prin- cipios basicos da mecdnica dos meios continuos, elasticidade e plasticidade, a andlise elementar de tensdes e deformagdes e o estudo essencialmente fenomenolégico do comportamento mecAnico dos materiais. Entende-se, que ao definir esta metodologia, se torna possivel que disciplinas posteriores sejam exclusivamente dedicadas a aplica- ges no projecto mecdnico e tecnologias de fabrico. Pretende-se, por conseguinte, apresentar nesta obra um tratamento unificado destas matérias, perspectivando-o desde 0 inicio para a abordagem to extensa quanto possivel das aplicagdes. Para a realizagio destes objectivos em tempo limitado os aspectos tedricos ¢ formalistas das matérias sio reduzidos um pouco em favor do desenvolvimento conceptual apoiado na experimentacdo. Outro aspecto considerado suficientemente importante para ser referido relaciona-se com a inclusdo nesta disci- plina de uma parte significativa dedicada ao estudo do comportamento mecanico dos materiais e dos respectivos ensaios tecnolégicos. em detrimento de um maior desen- yolvimento no estudo dos métodos analiticos da andlise de tensdes e deformagoes. A opsdo, assim feita, traduz a preocupagao de acentuar uma maior formagio no campo da tecnologia da produciio. Os objectivos gerais duma disciplina de Mecanica dos Materiais, que estio contidos neste livro, podem pois ser resumidos nos seguintes termos: — conhecimento dos principios bésicos da mecdnica dos meios continuos; — conhecimento dos principios basicos da teoria da elasticidade linear, — compreensiio e capacidade de aplicacio dos prineipios basicos da andlise elementar de tenses e deformagdes em pecas lineares e curvas; — compreensio e capacidade de aplicagdo dos principios bisicos da teoria da plasticidade; — conhecimento teérico e experimental do comportamento mecanico dos materiais metalicos e dos principais ensaios tecnol6gicos; — conhecimento e capacidade de utilizagio das técnicas mais importantes da anélise experimental de tensdes; — conhecimento ¢ capacidade de utilizagio dos equipamentos mais impor- tantes utilizados no ensaio de materiais € processos tecnolégicos; 21 compreensio das limitagdes actuais, quer teéricas quer experimentais, do estudo da Mecdnica dos Materiais. Existem poucas obras publicadas na literatura estrangeira que apresentem um tratamento simultaneamente 140 geral e detalhado da Mecanica dos Materiais como © que se apresenta nesta obra. O material existente € muito diverso e quase sempre cobre apenas um ou dois dos aspectos referidos anteriormente. Prevé-se que este livro Possa cobrir essa lacuna, contribuindo para uma divulgacao actualizada e correcta nesta importante area cientifica, Espera-se também que o tratamento global ¢ unifi- cado da Mecénica dos Materiais, que se apresenta neste livro, estimule uma modifica- Gao nesse sentido dos cursos de Mecanica dos Materiais, presentemente, em vigor em muitas universidades portuguesas. ENQUADRAMENTO E GRAU DE APROFUNDAMENTO DAS MATERIAS De acordo com as consideragdes expostas anteriormente, foi possivel estrutu- rar as matérias constantes neste livro em quatro médulos a seguir indicados: Mecanica dos meios continuos e equagées da elasticidade linear ‘Anilise de tensGes e deformagées na tracgio, compressio, flexdio e torso no dominio elastico ‘Teoria da elasticidade ¢ tcoria da plasticidade Estudo do comportamento mecdnico dos materiais metalicos (ensaios mecanicos, fractura, fadiga e fluéncia) O livro apresenta quinze capitulos, cuja distribuigao pelos médulos indicados éa seguinte: 1° Médulo — Capitulo | 2° Médulo — Capitulos 2a 8 3° Médulo — Capitulos 9, 10¢ 11 4° Médulo — Capitulos 12a 15 Ja ¢ tradicional o inicio de cursos de Mecanica dos Materiais pela mecanica dos meios continuos, seguindo-se o desenvolvimento das teorias da elasticidade ¢ plasti cidade. Preferiu-se, no entanto, aqui intercalar a anilise elementar de tensdes e defor- mages em pecas lineares ¢ curvas,com 0 objectivo de cedo habituar o estudante a identificar as solicitagdes existentes na pega e saber estabelecer e resolver as equagdes de dimensionamento apropriadas. Pensa-se, assim, facilitar a compreensfo das aplica- gdes da teoria da elasticidade e plasticidade. depois de se terem adquirido os conhe- cimentos basicos em analise elementar de tensdes ¢ de deformagies. O comportamento mecanico dos materiais metalicos € no ambito desta obra perspectivado sob 0 ponto de vista fenomenoldgico, considerando-se fundamentalmente ‘os aspectos de projecto, seleccdo de materiais e controlo de qualidade. Estudam-se, assim, essencialmente a influéncia das varidveis externas, o estabelecimento de leis de comportamento ¢ a obtengdo de dados para utilizagdo em equagdes de dimensiona- mento. Consideram-se fora do Ambito deste livro os estudos de caracter essencial- mente metaliirgico sobre a influéncia da microestrutura nas propriedades mecdnicas, assim como 0 estudo do comportamento mecdnico dos materiais polimeros. E conveniente tecer algumas consideragées acerca do aprofundamento das matérias incluidas e a justificagdo da nfo inclusiio de alguns assuntos do dominio da Mecdnica dos Materiais. Assim, no Capitulo |, no se aborda a teoria das grandes deformagies elasti- cas de maior interesse no estudo dos materiais viscoeldsticos, A linguagem tensorial é simplificada para facilitar a percepgfio fisica da matéria e reduzir a complexidade matematica. No Capitulo 2, seleccionaram-se os exemplos de maior interesse na pra- tica industrial. Os Capitulos 3, 4 € 5 apresentam o enquadramento tradicional de um curso introdutério em anilise de tensGes e deformagées, tendo-se preferido, no entanto a sequéncia: Tenses na pega linear — Tensdes na pega curva — Deformagées na pega linear. No Capitulo 6, a torgio de pegas de secgo nfo circular ¢ abordada superfi- cialmente ¢,no Capitulo 7, nao se estuda a estabilidade de estruturas reticuladas ¢ faz-se apenas uma pequena introdugdo a teoria das vigas-colunas. No Capitulo 8a analise hiperstatica de estruturas é tratada a nivel introdutério ¢ a teoria das placas ¢ cascas nao € abordada, Nos Capitulos 9, 10 ¢ 11, seleccionaram-se os exemplos de aplicagio em fun- do dos seu interesse pratico e das necessidades em disciplinas subsequentes. Por esse motivo, no Capitulo 9, inclui-se uma componente elevada de problemas de elasticidade em coordenadas polares. No Capitulo II (Introduc&o a teoria da plasticidade), ndo 23 foi adoptada, de modo geral, a linguagem tensorial para facilitar 0 tratamento con- ceptual. Os iltimos quatro capitulos (capitulos 12 a 15) tratam do estudo essencial- mente fenomenoldgico do comportamento mecinico dos materiais. O Capitulo 14, sobre fadiga, mereceu um maior desenvolvimento, devido 4 grande importancia deste fenémeno em érgaos de maquinas ¢ estruturas de engenharia mecanica. No Capitulo 13, sobre fractura, apresentam-se os conceitos basicos e aplicagdes da Mecénica da Fractura, disciplina recente, ainda em fase de desenvolvimento mas j4 com grandes potencialidades ¢ muitas areas de aplicagio. O Capitulo 15, sobre fluéncia € relaxa- do de tensdes, apresenta apenas uma introdugio ao assunto, referindo as equacdes constitutivas ¢ de dimensionamento mais importantes, Em todos os capitulos, apresenta-se no fim uma lista bibliografica apenas com ‘obras gerais ou livros de texto, com excepedio dos Capitulos 13 ¢ 14 em que, para além de obras gerais. existe uma bibliografia mais extensa referindo resultados dos trabalhos de investigagio considerados mais importantes, publicados em livros e arti- gos de revistas cientificas especializadas e que merecem um estudo posterior. Entendeu- Se ser esta a metodologia mais correcta devido ao cardcter mais descritivo, mais aprofundado e de desenvolvimento mais recente das mateérias versadas naqueles dois capitulos. ‘Algumas referencias surgem em nota de pé de pagina, indicando a provenién- cia de dedugdes de equagdes, formulas e resultados, cujo desenvolvimento no texto estaria para além dos objectives do livro. Citam-sc também as normas ¢ os regula- mentos gerais de célculo mais importantes e. sempre que possivel. apresentam-se tabe- las com propriedades dos materiais. Para facilitar a compreensio da matéria teorica © dar uma percepgio fisica aos resultados, incluem-se em todos os capitulos varios exemplos de aplicacdo resol- vidos na integra e cuja escolha obedeceu a critérios de interesse pedagdgico ¢ pré- tico. No fim de cada capitulo, apresenta-se uma lista de problemas com grau de difi- culdade variavel de que se aconselha a resolucdo. A 4? edigdo deste livro é basicamente a 3. edigdo, em que foram intro- duzidas correcgdes de pormenor. Uma disciplina de Mecdnica dos Materiais deve ter uma componente signifi- cativa de aulas experimentais ou de demonstragio experimental em que os alunos devem tomar parte activa nas experiéncias. A componente experimental facilita sobre- maneira a compreensio das matérias tedricas, cria no estudante sensibilidade aos resul- tados ¢ familiariza-o com problemas que, mais tarde, podera vir a ter na sua activi- dade profissional, Sem entrar em detalhes sobre planeamento e implementagdo de aulas experimentais de Mecdnica dos Materiais", refere-se um conjunto de equipa- (1) Branco. C. M., Programa da disciplina de Mecinica dos Materiais, provas para concurso de Professor ‘extraordinario, Universidade do Minho, Margo de 1980, 24 mentos ¢ montagens minimamente necessérios, designadamente: () equipamento de extensometria, fotoelasticidade e transdutores de deslo- camento para experiéncias de flexo, tracglo € torgo em pegas lineares e curvas; (i) montagens para as experiéncias referidas em (i); (iii) maquina de ensaios de tracgdo-compressfio com extensémetros ¢ amar- ras apropriadas; (iv) maquina de ensaios de dureza; (v) maquinas de ensaios de fadiga (flexdo rotativa ¢/ ou flexfo alternada). Antes de entrar na exposigfo da matéria constante dos quinze capitulos do livro, entendeu-se ser conveniente definir previamente um conjunto de conceitos fun- damentais e gerais. CONCEITOS BASICOS DE MECANICA DOS MATERIAIS Na Mecénica dos Materiais procuram-se obter relagdes entre forgas internas, deformagio ¢ esforgos exteriores aplicados no corpo. Como método geral de andlise considera-se que 0 corpo esté em equilibrio. As equagées do equilibrio estético sto aplicadas as forgas que se exercem numa parte do corpo, para se obter uma relagéo entre os esforgos exteriores que actuam no corpo, as forgas internas que resistem & acgio dos esforgos externos. Como as equagdes de equilibrio devem ser expressas em fungdo das forcas exteriores ao corpo, € necessério transformar as forgas internas resistentes em forgas exteriores, o que se consegue fazendo passar um plano pelo ponto a considerar. A parte do corpo que fica de um dos lados do plano é retirada e substituida pelas forgas que exerceu na secgio cortada da parte do corpo que per- maneceu. Dado que as forgas que se exercem no corpo livre o mantém em equili- brio, podem-se aplicar as equagdes de equilibrio. {As forgas internas resistentes ‘so definidas pela fensdo segundo uma determi- nada Area, coneeito que seré definido em mais pormenor no capitulo seguinte. Essa tensdo é tal que a forga interna é 0 integral da tensio vezes a drea diferencial em que esta actua. Para calcular este integral € necesséio conhecer a distribuigo da tensfo no plano de corte. Essa distribuigdo obtém-se observando ¢ medindo a distri- buigio da deformagio no corpo, uma vez que a tensio nfo pode ser medida fisica- mente. Porém, como a tensio é proporcional 4 deformagdo, para as pequenas defor- mages mais vulgarmente encontradas, na pratica, a obtengio da distribuigio de defor- 25 mages da a distribuigéo de tenses. A equacao da tensio é entdo substituida nas equagdes de equilibrio que so resolvidas em ordem a tensio em fungdo das cargas ¢ dimensées da pega. Esta metodologia ser utilizada na andlise elementar de tensdes considerada nos Capitulos 2 a 8. Os métodos de analise ¢ as equagSes que sero aqui consideradas sio validos apenas para materiais continuos, homogéneos € isdtropos. Um material continuo & aquele que ndo contém cavidades ou descontinuidades de qualquer tipo. Um mate- rial diz-se homogéneo se as suas propriedades so idénticas em todos os pontos. Um material € considerado isdtropo em relagio a uma dada propriedade, quando essa propriedade nao varia com a direco4o ou orientagdo. Uma propriedade que varia com a orientagdo em relagio a um dado sistema de cixos diz-se anisoirdpica. A importincia destes conceitos serd analisada em mais pormenor no Capitulo 1 A experiéncia demonstra que todos os sdlidos se deformam quando submeti- dos a csforgos externos. Sabe-se também que, até certas cargas limites, 0 corpo recu- pera as suas dimens6es iniciais quando a carga é retirada. O fendmeno de recupera- 0 das dimensées iniciais de um corpo deformado apés a retirada da carga designa- “se por comportamento eldstico. A carga limite, para além da qual o material deixa de se comportar elasticamente, é 0 limite eldstico. Se o limite elastico for ultrapas- sado, 0 corpo fica permanentemente deformado apés a retirada da carga e diz-se que sofreu uma deformagdo plastica, apresemtando um comportamento pldstico. Em muitos materiais, desde que a carga nao exceda o limite eldstico, a defor- mago € proporcional a carga. Esta relagio é a lei de Hooke, que requer uma rela- fo linear entre a carga € a deformagao. Isso nao significa necessariamente que todos os materiais elasticos tenham uma relagdo linear entre a tens&o ¢ a extensdo. A bor- racha é um exemplo de um material com uma relagdo nao linear entre a tensio ea extensdo que ainda satisfaz a definigao de um material clastico. As deformagées elisticas nos metais sio muito pequenas ¢ requerem instru- mentos muito sensiveis para a sua medida. Os instrumentos ultra-sensiveis mostra- ram que os limites elésticos dos metais sio muito menores que os valores normal- mente obtidos nos ensaios dos materiais. A medida que os instrumentos de medida se tornam mais sensiveis, o limite elastico baixa e, portanto, para muitos metais existe apenas uma gama muito reduzida de cargas em que a lei de Hooke se pode aplicar com rigor. Trata-se, no entanto, de um problema com interesse académico apenas porque a lei de Hooke para efeitos praticos continua a ser uma relagdo valida no projecto, largamente utilizada devido A sua simplicidade matematica. PROPRIEDADES MECANICAS DOS MATERIAIS; COMPORTAMENTO DUCTIL E FRAGIL ‘As mais importantes propriedades mecdnicas dos materiais obtém-se no ensaio de tracgdo. Neste ensaio, submete-se um provete do material a uma carga axial continua- mente crescente até se dar a fractura'”, Registam-se, durante 0 ensaio, a carga e 0 aumento de comprimento de um determinado comprimento de deformagio no provete € obtém- -se 0 diagrama do ensaio de tracgfio que, de um modo geral, ter& uma das configu- rages indicadas na figura 1! (a) e (b). Neste diagrama, representa-se a tensdo média em fungéo da extensdo nominal, . Estes conceitos sero desenvolvidos no capi- tulo seguinte, mas para j4 € suficiente referir que a tens4o média, neste caso. € a forca aplicada P a dividir pela rea inicial, A,. da secg&o transversal do provete. € a extensio nominal é a variacio de comprimento sofrida pelo provete a dividir por um comprimento de deformacdo inicialmente definido (fig. 11), Portanto, a tensio média ¢ a extensfo nominal sero dadas pelas equagtes (Ila,b) em que /, € 0 comprimento de deformagdo inicialmente definido no provete,e | ¢ 0 comprimento instanténeo que vai aumentando continuamente durante o ensaio. E facil ver que a tensdo média tem dimensées de uma forga/unidade de area, ¢ a exten- so nominal, sendo o quociente de dois comprimentos, é adimensional. © diagrama do ensaio de tracc4o permite obter propriedades do material de importancia fundamental para 0 projecto mecnico. Assim, todos os materiais meta- licos apresentam uma regidio linear inicial na curva tens4o-extensio (fig. 11) em que ‘© comportamento elastico ¢ obedecido e traduzido pela lei de Hooke. A regiao OA € a regitio eldstica (fig. Ila,b), e em termos macroseépicos pode- -se dizer que qualquer carregamento ¢ descarregamento do material verificado nessa regidio nfo altera as dimensées do provete. O ponto A é 0 limite eldstico que se define como a maior tensfio que 0 material pode suportar sem sofrer uma extensao permanente quando a carga for retirada, A determinagdo do limite elastico é bas- tante dificil e demorada e depende da sensibilidade do instrumento de leitura. Por esse motivo substitui-se muitas vezes esta quantidade pelo limite de proporcionalidade, definido pelo ponto A [fig. II (@)] que ¢ a tensio para a qual a curva tens%o-extensio se desvia da relacdo linear. A inclinacdo da curva tensdo-extensdo nessa regiéo € 0 médulo de elasticidade E (fig. 11). Continuando a carregar o material para além do ponto A’ verifica-se, no caso da figura II (a), que a curva se desvia acentuadamente da linearidade, Entra-se no dominio plastico do material e, se este for descarregado em qualquer ponto da curva nessa regio [por exemplo, no ponto B da figura II (a)], sofre um aumento de (1) © ensaio de tracgao seré estudado em pormenor no Capirulo 12. Aoud - Rotura ot Fig. 11 — Diagrama do ensaio de traccdo: (a/ Material dictil; bj Material frégil (a) (b) 27 28 comprimento permanente definido pela extensdio 0B", Se a extensio OB' for igual a 0,002 = 0.2%, a tensdo correspondente ao ponto B denomina-se tensdo de cedéncia, Gc, Que para efeitos préticos caracteriza o inicio da deformagdo plastica, segundo os critérios mais em vigor nas normas de ensaio de materiais. A tensdo de cedéncia é a tensfio que produz uma pequena quantidade de deformagdo permanente (0.2%) © & utilizada para definir a tensio admissivel do material como se vera mais adiante, a partir do Capitulo 2 Na curva representada na figura I! (a), a deformago plastica prossegue para além do ponto A’ a carga crescente, atingindo-se um ponto C em que a carga atinge um valor maximo, A tensao correspondente a esse ponto é a resisiéncia 4 traccdo do material, cg, que é a maior tensio que o material pode suportar antes da rotura. A partir do ponto C.a carga decresce dando-se, finalmente, a rotura no ponto D. Todos estes aspectos sero caracterizados com mais detalhe no Capitulo 12, no estudo do ensaio de trace%o (12.2), O diagrama do ensaio de uracgéo da figura I] (a) é caracteristico de materiais como 0 cobre, ago macio e aluminio. Sao materiais que rompem com uma defor- magiio plastica aprecidvel (entre 20 a 50%). Todos os materiais que permitem gran- des deformagées plasticas antes da rotura tém comportamento diictil. Sao. portanto, materiais que podem ser facilmente trabalhados ou conformados sem se dar a rotura, Por outro lado, no diagrama da figura II (b), a rotura verifica-se logo que se atingiu © limite elastic (ponto A) ou apés se ter atingido uma pequena deformagao plastica (ponto A). Este diagrama ¢ caracteristico de materiais como agos ¢ outras ligas de alta resisténcia e ferros fundidos. Os materiais que fracturam sem deformagdo plas- tica ou com uma pequena quantidade de deformagio plistica antes da rotura tém comportamento frdgil. A regio elastica € normalmente muito mais pequena que a plastica. Nos materiais com uma tensdio de cedéncia elevada, esta regido poderd atin- gir valores de extensio da ordem de 0,008 = 0.8%, valores muito inferiores as exten- sOes plastica de um material duictil que podem atingir 50% na rotura. O comportamento fragil e diictil nao é intrinseco do material, mas depende de varidveis externas, Assim, um mesmo material pode ter comportamento dictil ou fragil, dependendo de varidveis externas. Por exemplo, as baixas temperaturas, os estados triaxiais de tensdo ¢ as elevadas velocidades de deformagao siio factores que contribuem de maneira acentuada para o comportamento frdgil. Por outro lado, as temperaturas elevadas € a compressao hidrostatica favorecem a ductilidade. Num material frégil, a fractura dé-se subitamente porque a tensdo de cedéncia a resisténcia a tracgGo tém valores proximos, 0 que ndo sucede no material diictil. (1) Considers-se que 0 descarregamento do material ¢ linear elistico segundo wma recta paralela& regido clistica inicial 29 A figura 12 mostra as curvas tensfic-extensio de virios materiais metdlicos numa gama de extensdes desde 0 até 0,018 (1,8%). Os materiais representados so os seguintes: 1 — Ago de liga Cr-Ni tratado termicamente 2 — Ago de liga c/ Ni tratado termicamente 3. — Ago ao carbono ¢/ 0,62% tratado termicamente 4 — Ago ao carbono ¢/ 0,62% nio tratado 5 — Ago ao carbono ¢/ 0.32% 6 — Liga de aluminio de alta resisténcia 7 — Ago ao carbono ¢/ 0.11% 8 — Liga ductil de aluminio Esta sequéncia apresenta estes materiais por ordem decrescente de resisténcia (resistencia a tracgo e tensdo de cedéncia) e ordem crescente de ductilidade. A par- tir das curvas representadas, podem-se determinar os parametros do material referi- dos na figura Il. Assim, 0 material | (ago de liga de alta resisténcia) é 0 timico material dos representados que tem um comportamento reconhecidamente fragil com um alongamento de rotura de cerca de 0,7%, cmbora apresentando uma tensio de cedéncia € resisténcia a tracgfio bastante elevadas. O ago 2 também pode ser consi- derado um material fragil, pois teré um alongamento de rotura no muito superior a 2%. Os restantes materiais so dicteis, sendo os agos mais resistentes que o alu- minio duictil. O médulo de elasticidade do ago também é superior ao do aluminio"” (cerca de trés vezes), 0 que torna estes materiais mais deformaveis que 0 ago (para obter a mesma extenso elastica num provete de aluminio basta aplicar uma carga cerca de trés vezes menor que no ago), Na tabela Il, apresentam-se propriedades mecdnicas aproximadas dos materiais mais vulgarmente utilizados na industria. O indice que esta representado na ultima coluna desta tabela ¢ 0 indice resisténcia/peso, razo entre a resisténcia a tracgo ¢ a densidade do material. Trata-se de um indice com grande interesse para 0 projecto pois a escolha adequada de um material para uma dada aplicagéo deve ser feita compatibilizando um elevado indice resisténcia/peso com um baixo custo unitario, 0 que presentemente ainda nfo € possivel (0s materiais com maior indice resisténcia/ {peso sio ainda os mais caros). (1) No capitulo seguinte, apresenta-se uma tabela com os valores das constantes elisticas dos materiais com maior inte= resse (Tabela I) 30 (MPa) Tensdo 1300 1200 1100 1000 900) 800 700 600} 500 400 300 200 100 Modulo de elasticidade do Al.= 7x10°MPa 9 Q002 0004 0,006 0008 OpI0 OPI2 O014 aNIG 0018 Extensdo Fig. 12 -Curvas tensao-extensao de varios materiais metélicos. Tabela I! — Propriedades aproximadas de alguns materiais 31 Resisténcia Indice sae Benes | PE | ode | ssn, so (MPa) 10) Ferrosos Ferro fundido cinzento 110-207 o-t 7.21 1,526- 2.871 Ferro fundido maleavel 276-345 1-20 721 3,828 - 4,785 Aco vazado 242-324 0-1 7,80 3,063 - 4,101 Ago de construgao. 276-2070 | 1.5-30 7,70 3,583 - 26,538 Nao ferrosos Aluminio e ligas 83-500 2-35 264 3,144- 18,939 Cobre 345-689 5-50 891 3,872- 7,733 Magnésio 83-345 9-15 1,75 4,743- 19,714 ‘Niquel 414-1103 | 15-40 8,73 4,742- 12,635 Chumbo 18-23 -40 | 1131 0,159- 0,203 Titanio 552-1034 na 452 12,212- 22,876 Zinco 48-90 2-10 714 0,672-1,261 Nao metdlicos Acetal 70 15-75 1,38 5,07 ABS 28-49 ne 1,03 272-475 PMMA 49-77 2-10 114 4,3-6,75 Teflon 14-31,5 | 200-400 | 2,12 0,66 - 1.48 Nylon (tipo 6) 49-84 25-300 | 111 4,41-7,75 Policarbonato 56-63 60-100 | 1,17 4,79-5,38 Polietileno (baixa ductilidade) 7-14 90-800 | 0,896 0,781-1,56 Polipropileno (transhicido) 28-38,5 | 200-700 | 0,896 315-43 Poliestireno (ABS) 14-63 10-140 | 1,06 1,32-5,94 Poliéster 210-490 > 1,49-2,12 141-231 Carboneto de silicio (SiC) - os 3,04 a ‘Carboneto de tungsténio (WC) 910 > 14,9 611 BIBLIOGRAFIA Branco, C. M., “Programa da disciplina de Mecénica dos Materiais, provas para um concurso de Professor extraordindrio”, Universidade do Minho, Margo 1980. Branco, C. M., “Trabalhos experimentais da disciplina de Mecinica dos Materiais”. Universidade do Minho, Engenharia, 1980/81 © 81/82. Cranpatt, S. H. Dat. N. C. (Ed.), “An Introduction to the Mechanics of Solids”. Edigao McGraw-Hill Book Company, E.U.A., 1982 Dieter, G. E., “Mechanical Metallurgy”. Edigho MeGraw-Hil) Book Company, E.U.A., 1976. 33 CAPITULO 4 MECANICA DOS MEIOS CONTINUOS E LEIS DA ELASTICIDADE LINEAR 4.4, INTRODUCAO O objectivo principal deste capitulo é o estudo das relagGes matematicas que descrevem as teorias da tensio e da extensio num ponto e as relagdes entre estas grandezas para um sélido cujo comportamento é linear eldstico. Trata-se de concei- tos fundamentais em que se baseia toda a Mecdnica dos Materiais que compreende, como se sabe, a andlise das tensdes, deformagdes € deslocamentos em pecas ¢ estru- turas, as teorias da elasticidade ¢ plasticidade e as leis e fendmenos principais do comportamento mecanico dos materiais no dominio elAstico e plistico € sujeitos a diversos tipos de solicitag6es. A Mecanica dos meios continuos estuda, independentemente do comportamento mecdnico, as tensdes e extensdes em qualquer sdlido continuo quer este seja elistico, plastico ou um fluido viscoso. Na Mec4nica dos meios continuos nao intervém, por- tanto, as leis do comportamento mecanico do material que, por assim dizer, tradu- zem a “resposta” do material As solicitagdes aplicadas. O primeiro conceito a intro- duzir neste capitulo seré o de tens no ponto e a respectiva teoria do estado de tensdo, seguindo-se a teoria do estado de deformacdo infinitesimal. Depois da Mec4- nica dos meios continuos seguem-se as relagdes tens&o-extenséio, também chamadas equagdes constitutivas porque dependem do comportamento do material. Os mate- riais, que sero aqui considerados, sdo materiais com elasticidade linear, homogéneos e isétropos que constituem a grande maioria dos materiais utilizados na industria. Esto, portanto, fora do Ambito deste estudo os materiais anisotrépicos e bem assim todos os materiais com elasticidade no linear, os materiais capazes de suportar gran- des deformagées antes da rotura e os materiais que apresentam comportamento vis- coelastico (ex.: borracha, madeira, polimeros ducteis, termolaminados, ete.). 34 4.2 TEORIA DO ESTADO DE TENSAO NO PONTO. 41.2.4 Conceito de tensGo no ponto: A nogio intuitiva de tensio ¢ a de uma forca/unidade de area. Quando a peca tem seccdo transversal constante, a tensdo pode-se considerar uniformemente distribuida ao longo da seceao transversal. Contudo, no caso geral, os sélidos nao tém secgdo transversal constante e quando solicitados por um determinado sistema de forgas deformam-se, criando-se tensées internas que, no caso mais geral, variarao de ponto para ponto ¢ com a orientagao dos planos que passam por esse ponto. Ao contrério das forcas, das extensdes e dos deslocamentos, que sio grandezas fisicas mensuraveis, a tensZo no é€ fisicamente mensuravel. Trata-se, portanto, dum conceito matematico, embora de grande importancia porque o conhecimento da distribuigio de tensées permite avaliar se a peca pode resistir satisfatoriamente aos esforcos apli- cados. Em termos simplistas, pode-se dizer que 0 conceito de tenséo num ponto con- siste em definir para cada ponto dum sélido em equilibrio um vector denominado tensfio. que representa a forca que actuaria num dado elemento infinitesimal de area existente nesse ponto a dividir por essa mesma drea infinitesimal. O estudo que serd feito neste capitulo diz apenas respeito 4 variagéo da tensdo no ponto com os dife- rentes planos que passam por esse ponto. A variag&o das tensées de ponto para ponto serd estudada nos capitulos subsequentes para diferentes tipos ¢ modos de soli- citagdo ¢ diferentes geometrias de pegas ¢ estruturas. No sélido em equilibrio de forcas representado na figura 1.1 € sob a acco de um conjunto de forgas exteriores P,, P:, ... P, verifica-se que.em geral.a fora nao estard uniformemente distribuida ao longo da secedo transversal ab apresentada na figura 1.1 a) € que pertence ao plano x. Para obter a tensio num ponto 0 qual- quer no plano 7, a parte | do sélido é retirada e, pelo principio de accéio e reaccao, essa tens&o pode ser substituida pelo sistema de forgas externas em ab que mante- nham cada ponto na parte 2 do sélido na mesma posicdo anterior 4 remogiio da parte I [fig. 1.1 by]. Sendo AA o elemento de area existente no ponto 0¢ AF a forga interna resultante do equilibrio de forgas criado nessa area, a tensdo no ele- mento de area, considerado sera my eA g-45 LI AA (LI) A tenso S & portanto, um vector que tem a mesma direcg4o sentido de AF con- siderado constante no elemento de area ¢ que representa no elemento de drea AA a intensidade da reacgdo do material da parte esquerda do plano x sobre a sua parte 35 dircita, Se a area AA for reduzida continuamente para zero, 0 valor limite da razio AF/AA éa tensio no ponto 0 no plano x do sdlido 2, ou seja, Seii AF S=t 1,2) AA-0 OA a A tensio estard na direegdio da forga resultante F, que esté geralmente inclinada em relagdo a AA. Obtinha-se a mesma tens4o no ponto 0 do plano =.se o diagrama de corpo livre fosse construido retirando a parte 2 do sélido. Contudo, a tenséo seria diferente para qualquer outro plano que passe pelo ponto 0, como € 0 caso do plano ® [fig. 1.1 b)}. Fig. 1.1 Conceito de tens&o num ponto dum sélido, Para haver equilibrio de forcas em qualquer plano da pega, € necessério que as tensdes que se desenvolvem nesse plano na direcgdo da forca aplicada sejam tais que se verifique a equaco seguinte Fe Jot (3) em que A é a drea do plano considerado e S as tens6es em cada ponto do plano na direcefio da forca F. A equacdo 1.3 significa que numa dada secefio a forca sera o integral da distribuico de tensdes nessa seccdo, desde que F e S coincidam em direcgao e sentido, A estrutura molecular dos materiais torna dificil a interpretagio exacta do conceito de tensio num ponto, porque, em rigor, o material no pode ser conside- rado localmente como um meio continuo ¢, ainda por cima, homogéneo ¢ isétropo. Tudo depende das dimensdes globais que se considerarem na andlise de tensoes. E evidente que numa pega ou mesmo numa estrutura,cujas dimensdes globais so mui- tos bilides de vezes superiores a distancia interatomica, terd uma influencia desprezé- vel no comportamento mecénico o facto de existirem regides microscépicas onde se verificam lacunas ou existem cristais que apresentam anisotropia de propriedades. As diferentes caracteristicas locais da anisotropia dos cristais podem produzir estatistica- mente um meio continuo, homogéneo e isétropo nas dimensdes globais em estudo. Portanto, desde que numa regido suficientemente extensa em relagdo as dimensdes totais em estudo o material se comporte como homogéneo e isétropo, pode-se apli- car nessa regifio a Mecénica dos meios continuos e, consequentemente, as teorias da elasticidade ¢ plasticidade. Nestas condigdes, pode-se definir tensio num ponto. Na prtica, as condigdes de homogeneidade ¢ isotropia so verificadas na grande maic- ria dos agos de construgo. Contudo, as ligas de aluminio nfo sfo isétropas, assim como 0s materiais compostos (contraplacados, termolaminados) ¢ certos tipos de polimeros. 1.2.2 Tipos de tensdo e notagGo das tenses num elemento tridimensional A definigio de tensio dada na secgfo anterior implica que, no elemento de drea dA,a tensfo esteja na direcgio da forga resultante F que,no caso mais geral estaré inclinada em relagéo a dA. Ndo se torna, no entanto, pratico utilizar uma tenso que faz um determinado Angulo com a rea em que actua. Neste caso, a ten- sio total S pode ser decomposta em duas componentes, uma tensio normal, 6, que actua perpendicularmente a dA,e uma tensio de corte, t, que existe no plano ab (ig. 1.2). 37 Fig. 1.2 — Decomposic&o da tensdo total nas suas componentes no plano. Para se tornar este ponto mais claro, considere-se a figura 1.2 em que a forga F faz um Angulo 6 com a normal N ao plano x com drea A. Por outro lado, o plano que contém a normal e F intersecta o plano 7 segundo uma linha tracejada que faz um Angulo » com o ¢ixo dos yy (Linha OC na figura 1.2), A tensdo normal é dada por = + cos6 14) o = Ecos (4) A tensfio de corte no plano actua segundo a linha OC e o seu valor FE send 15) is = ea (5) Esta tensio de corte pode ser decomposta em componentes paralelas as direcgdes xe y existentes no plano e vem direcgdio x os —Fsen8 sen p (1.6) F direccfo y Fi sen 0056 (7) 38 Conchui-se, portanto, que num plano qualquer podera haver uma tensio normal ¢ duas tensGes de corte. No caso mais geral tridimensional, a tensio resultante $ no ponto A repre- sentado na figura 1.3 pode ser decomposta nas tensdes que actuam nas faces do elemento de volume representado na figura 1.3” e que esta orientado segundo um sistema de eixos ortogonal [Oxyz]. Estas tensées estdio representadas por um con- junto de dois indices,em que o primeiro indice indica a direcgéo da normal ao plano em que actua a tensio,€ 0 segundo indica o eixo segundo o qual a tensfo se exerce. Assim, por exemplo, a tensio que actua perpendicularmente as faces DCGH ¢ ABFE sera indicada por a,, (tensio segundo o eixo dos x actuando numa face perpendicu- lar ao mesmo eixo). Além das tensdes directas, actuam também tenses de corte sobre os respectivos planos com duas componentes em cada plano, como ja se veri- ficou. Nesta notacdo, a tensdo de corte x, € a tensio na direcgdo Y actuando num plano perpendicular ao eixo dos xx. Fig. 1.3 — Representaco das tensées e respectiva notacdo num elemento tridimensional. (1) Dado que 0 elemento esté em equitforio, nas faces opostas &s representadas, as tensOes tém sinal contrério ao das indicadas. NSo se representam as tensBes om todas as faces para nfo dificular # interpretagie da figura 39 elemento representado na figura tem lados com dimensdes infinitesimais dx, dy, dz, encontrando-se 0 elemento em equilibrio de tensdes. Este elemento repre- senta 0 estado de tensdes no ponto A, considerando que se despreza a variagdio das tensdes ao longo das suas faces. No entanto, para haver equilibrio nio pode haver rotagdo e portanto os momentos de todas as forgas devem anular-se. Considerando assim a rotacdo do elemento em relagdo ao eixo dos 22 € cal- culando os momentos em relagdo a esse eixo, vem. (2 dy dz % ~6,, dy dz =) +(s, dx dz Ss, axa: ) 2 2 2 2 + (+, dy dz dx ~ 5, dy dz dx ) + (4 dy ar vay de) + +(s.dpdeZ ~+,, ay ax 2) (18) To Te Calculando de maneira andloga os momentos em relagio ao eixo dos yy e xx, vinha, respectivamente, t,, = 1,, € t,, =. Portanto, no caso tridimensional, obtém-se seis pardmetros independentes de tensdo: trés tensGes normais e trés tensdes de corte. 4.2.3 Tens6es num plano obliquo Como jé foi referido, as tensdes num ponto variam com a orientagdo dos diferentes planos que passam por esse ponto. Interessa, portanto, estabelecer as equa- ges que relacionam as tensdes segundo um sistema de eixos ortogonal [Oxyz] com as tensdes num plano oblique (fig. 1.4). Considerando 0 plano ABC representado na figura 1.4, pretende-se determi- nar a tensio normal e de corte nesse plano obliquo em fungo das tens6es actuantes segundo o sistema [Oxyz] e nas faces ACO, ABO ¢ COB pertencentes ao elemento definidor do estado de tensio no ponto O. Encontrando-se em equilibrio 0 elemento cibico representado na figura 1.3, 0 tetraedro cortado nesse elemento estara também em equilibrio, © plano ABC tem uma normal ON cujos co-senos directores so , m € n, sendo / = cos a, m = cos 8 en = cos y, em que x, B ey so Angulos que a normal ON faz com os eixos x, ye z. x Fig. 1.4 — Representagao de um plano obliquo e das tensdes segundo o sistema de coorde- nadas [Oxyz]. Fig. 1.5 — Tensio resukante S, tenso normal « @ tens8o de corte + num plano oblique. 41 Devido as solicitagdes existentes no sélido, existird uma tensio resultante S no plano ABC (fig. 1.5). A tenséo S ndo sera, em geral, perpendicular ao plano ABC e podera ser decomposta numa componente normal + ¢ numa tangencial ao plano, + Pode-se, portanto, escrever que Sagi ts* (1.9) a terd, evidentemente, os mesmos co-senos directores que N. Decompondo $ segundo 05 trés eixos coordenados, vern S=Si+s+s (1.10) Considerando a equagaio de equilibrio de forgas no eixo dos xx e sendo dA a area do plano ABC, vem S, dA =o, (Al) +7,, @Am) +t, (An) (Lt em que dA/, dAm e dAn sfo as areas das faces OBC, OAC ¢ OAB, respectiva- mente, Do mesmo modo, o equilibrio de forcas nos eixos dos yy e zz daria S=t,/+0,m+r,n (L12) S.=tal+t,mtogn ‘As componentes 6 e + podem-se exprimir em fungio de S,, S, € S,. Assim, projec- tando S,, S, e S, na direcgo de N, vem: odA= (SJ+Sm+Sn) dA (1.13) Substituindo as equagées (1.11) e (1.12) na equacdo (1.13) ¢ sabendo que t,, = tx, Te = Te € T= Ty, VE o=0,/'+6,m'+o,n° + 2r,Jm + 2r,,mn + 2r,.nf (1.14) A tensio de corte + sera w= Si + S}+ S3-07 (1.15) 42 As equagdes (1.14), (1.15) ¢ (1.9) silo as equagdes que permitem determinar S. Deve-se salientar que a tensio S niio representa o estado de tensio no ponto, mas sim a tens&o resultante no plano obliquo ABC. 4.2.4 Ditecgdo da tensGo de corte num plano obliquo Os co-senos directores da tenso de corte t so aqui designados por 4, m, € n,, Pode-se, portanto, escrever que =$1+S,m,+ Sn, (1.16 a) B+ m+ = (1.16 b) i+ mm, + nn, =0 (1.160) A equagio (1.16 a) corresponde a projecgio de S,, S, e S, na direcgio de +, ea equagao (1.16 c) significa que a normal ao plano € perpendicular a tenséo de corte. A resolugao do sistema de equacées (1.16) permite determinar os valores de /,, m, € n,. Existe um outro processo mais expedito para a obtengo de , m, € n,, consi- derando o equilibrio de forcas. As componentes das forgas t ¢ 6 no cixo dos xx deve igualar S,, a componente resultante no eixo dos xx. Ent&o, vird -ls+S, a+ th=S, + h= (1.17 a) Do mesmo modo, 0 equilibrio de forgas no eixo dos yy e dos zz dé m = tS (7b) oe mts. (76) 4.2.5 Planos principais e tensdes principais em trés dimensdes. CAlculo das tensdes principals num ponto £ sempre possivel escolher um sistema de trés cixos perpendiculares para os quais as tensdes de corte, actuando nos planos perpendiculares a esses eixos, so nulas, Quer dizer que, considerando um sistema de cixos [oxyz] ¢ as seis componentes da tensio, haverd sempre planos nos quais sé existem tensdes normais. Essas direcgGes (cixos) chamam-se direcgdes principais ¢ as respectivas tensdes normais serdo as tensdes principais, actuando perpendicularmente aos respectivos pla~ nos que se chamam planos principais. 43 Considere-se novamente a figura 1.5, mas agora com o plano ABC a rodar até encontrar 0 plano em que t = 0 ou S =a. A tensfo resultante € S = a, e este valor de o ser uma tenséo principal, e 0 plano ABC é um plano principal porque 1 = 0. Neste caso, S,, S,€ S, serdio dadas pelas equagées S,-ol = S,=om - S,-om=0 (1.18) on S,-on =0 Para este caso > = = (119) ‘Substituindo as equagSes (1.11) ¢ (1.12) em (1.18), vem 1o,,-6)+mr,,+7,,=0 (1.20) ity +m (o,-o)+n (1.20 b) Iz, +mt,+n(¢,-6) =0 (1.20 ¢) Com as equagdes (1.20 a, b, ©) podem-se determinar os valores de /, m en para o plano em que r = 0 ou, entdo, eliminando /, me n, calcular o valor ou valores de que satisfazem essas relagdes. Eliminando /, m en, vem P=, + Oy FO.) Ot (Our Gy + Oy Cn $6,064 —T3 —Th— TH) Gn: Oy On + 2 Fy Ty Tae — ex Te — Fy Te — Fn Te) = O (1.21) A equagio 1.21 € uma equag&o ciibica com trés raizes ¢,, 0; € 3, em que por con- venglo a, > 6, > a5. Os co-senos directores obtém-se substituindo nas equagées (1.20 a, b, c) os valores de @ por 0, 3€ 0, 6, (I,, m,, n,) —co-senos directores de , em relagio a [oxyz] 9; (hh, M,, n,) —co-senos directores de «, em relagéo a [oxyz] 6, (lh, my, n,) —co-senos directores de o, em relagio a [oxyz] 44 Das equages (1.20 a) e (1.20 b) vem (1.22) Procedendo da mesma forma com as equagées (1.20 b) € (1.20 c) € multiplicando (1.20 b) por s,, ¢ (1.20 ¢) por (6,, |) € subtraindo para climinar m, vem ——_ (1.23) ny Das equagdes (1.22) € (1.23) resulta 4 - m, _ ny 01+6,,6,—4,,0,—6..6, ity ttn Tet Oe Tete Oy Tait (1.24) A relagio + mi +n? = 1 determina, por fim, os valores de /,, m, € n,, Proce- dendo da mesma forma para 9, ¢ 0, determinavam-se 0s outros co-senos directores. Outro processo para calcular as tensdes principais consiste em definir plano principal como aquele em que a tenso normal tem um valor estacionério (maximo ‘ou minimo). Assim, a equagio (1.14) pode ser derivada, por exemplo, em ordem a / €m, porque 0 outro co-seno director é obtido a partir da relagiio 7+ m? + n?= 1. Depois dos célculos efectuados, obtém-se = 6 = constante que ¢ condiglo para que t = 0. Obtiveram-se assim trés tensdes, ¢,, 0, € ¢5, que so perpendiculares aos planos onde actuam, planos esses onde as tensdes de corte so nulas. E possivel, portanto, rodar © elemento de volume no sistema [oxyz] para o sistema [123] com as tenses calcu- ladas pela equagio (1.21) ¢ 0s co-senos directores dos novos eixos coordenados cal- culados com a equagio (1.24). 4.2.6 Estados duplos de tensGo Num grande niimero de problemas, uma das tensdes principais ¢ 0 respectivo eixo so conhecidos ¢, por isso, interessa determinar os outros dois eixos principais ¢ respectivas tensdes, ou determinar a tenso numa das facetas pertencentes 20 feixe 4s z = Fig. 1.6 — Corpo sujeito a um estado duplo de tens8o no plano [oxyz] e com uma tenséo principal segundo o eixo dos zz que tem por cixo o eixo principal de tens&o conhecido. Este aspecto € particular- mente importante nos casos em que a dimenso do corpo segundo a direcg&o prin- cipal conhecida € muito menor do que as restantes dimensdes do corpo, como acon- tece, por exemplo, em chapas, placas ou tubos com espessura muito reduzida. Nestes casos costuma-se considerar que as tensdes ndo variam ao longo da espessura, bas- tando para isso saber o estado de tensdo num plano qualquer perpendicular & direc- do da espessura. A figura 1.6 representa esquematicamente um corpo de espessura fina, em que se considera que a tens&o principal, segundo 0 eixo dos zz, ou é nula ou tem um valor conhecido. Sendo assim, o problema consiste em determinar as ten- ses numa faceta inclinada em relagao aos eixos dos xx ¢ yy € cuja normal é sem- pre perpendicular ao eixo dos zz (fig. 1.6). O estado de tensdo sera entdo definido por ¢,,, o,., 5 € Ty apenas, j que =, =. = 0ea,, ou é igual a zero ou a um valor conhecido, a5. A tensdo resul- tante num dado ponto situado num plano qualquer paralelo ao: plano [oxy] e numa faceta cuja normal faz Angulo « com 0 eixo dos xx ¢ B com o eixo dos yy (fig. 1.6) pode ser obtida a partir das equagGes tridimensionais, dadas na secc&o anterior, fazendo 7, = 1,. = 0 também n = 0, uma vez que a faceta € sempre perpendicular ao eixo dos zz. Deste modo, a equagio (1.14) simplifica-se e vem: o=o,,P +o, m’+ 27, Im=o,, cos’ +6, sen’ + 27,, cosa sena (1.25) 46 Sendo cos’ = (1 + cos 2a)/2; sen’a = (1 — cos 2a)/2 ¢ sen 2x = 2 sena cosa, substituindo na equacdo (1.25), vem: S48, oa + : cos 2a +4, sen 20 (1.26) Para a tensdo de corte + vem: t Si+S}-6? = (6,1 +2,m)' + (6,m + 75/)'— (oul? + 5,1 + 2r,/m)? (1.27) Substituindo / = cos « ¢ m = cos 6 = sen « na equacdo anterior, vem, depois de simplificar += 5% sen 2a —t,, 00820 (1.28) As equagées (1.26) ¢ (1.28) d&o, portanto, os valores da tensfo normal e tan- gencial, numa faceta cuja normal faz um Angulo a com o eixo dos xx ¢ 8 com o cixo dos yy conhecendo as tensdes normais c,,, 6,, € a tenso de corte r,, segundo o mesmo sistema de eixos. A figura 1.7 esquematiza com mais pormenor a faceta defi- nida na figura 1.6 € existente no plano [oxy]. Sendo S a tensdo resultante na faceta AB do ponto O, o seu valor pode ser obtido em fungao de a,,, 6,,, t,,, /¢ m pela equacaio Sadr (1.29) Fig. 1.7 — Tensdes num plano obliquo para um estado duplo de tensoes 47 em que « é dado pela equagio (1.26) e x pela equago (1.28). A determinagdo das outras duas tensdes principais para o estado duplo de tensées serd feita na seccio 13.42, 1.2.7 Tens6es num plano obliquo em fungdo das tensdes principais Se 0 sistema de eixos coordenados escolhido coincidir com as direcgSes prin- cipais da tensdo, interessara agora determinar as tensdes num plano obliquo qualquer em fung&o das tensées principais supostas conhecidas. Trata-se, assim, dum problema inverso do que foi considerado na secgSo 1.2.5. A figura 1.8 representa um elemento em que as faces estdo orientadas paralelamente As direcgdes das tensdes principais. Pretende-se calcular as tensdes S, o ¢ + num plano obliquo ABC, cuja normal tem co-senos directores J, me n em relagéo aos eixos coordenados principais ¢,, 6: € 6) que esto fixos no espago nas direcgdes x, y © z, respectivamente, As equagdes (1.11) € (1.12) dio S=o,n uma vez que 3 Oa = Os e Fy ST =T,, = 0. Entiio S=H$+S+ Fao ltim+or (1.30) Fig. 1.8 — Elemento com as faces orientadas segundo as tensées principais 48 A equagdo (1. 14) transformou-se em o=o,P+o,m+on (31a) =S-P =o P+ajm'+ojn'-6,P+o,m+anry= = (6-6) P m+ (,-0,) mn’ + (6-6, PP (1.31b) Deste modo, as equagées (1.30) e (1.31a,b) permitem calcular a tenséo resultante € as tensdes normais ¢ de corte num plano obliquo em fung&o das tensdes principais. 41.2.8 Invariantes das tensdes A equacéo cibica das tensdes principais (equagao 1.21) pode-se escrever na seguinte forma o-Jo+J,o-J,=0 (1:32) em que J =On + Oy + On J 0, + Fy, 8 Fe (1.33) Sy = 0 Gy G2 + 2 y Te Foe Estas trés quantidades (J,, J, € J,) designam-se por invariantes das tensdes, porque sdo independentes do sistema ortogonal de eixos escolhido, o que significa que para um dado estado de tensio num ponto os eixos coordenados podem ser escolhidos de qualquer modo sem alterar 0 valor dos refetidos invariantes. Portanto, para o primeiro invariante (J,) pode-se escrever a seguinte relagdo valida para trés sistemas de coordenadas [xyz], [abe] ¢ [ 123]. Co a a ee (1.34) A equagiio (1.34) pode ser demonstrada considerando os dois sistemas de cixos [xyz] e [abc] em que (/, m, n), (/’, m’, n’) € (/", m’, n’) s&io os co-senos directores dos eixos [a,b.¢,] em relagao a [x,y,z] respectivamente (fig. 1.9). As equagées de transformagio sero 0, =6,P +6, m'+o,n' +2, im+2t, in +2, mn Ow = Ou! +54 m+ Ou = ul? +6, m+. O novo invariante sera Sp Ou t Ow t+ Ge = 64 (PF +17 +1) +6, (m2 + m?+ m4) +... + 2 ty (im + I'm! +2"'m") +. = Oye + Oy + Oe visto que 7 +/+ (= Ijm'+ m?+ m= int n?tn= Le im + Tm’ + I"m" =0, mn+ m‘n’'+m"n"=0 @€ nts +/"D 49 (1.35) (1.36) Demonstra-se, igualmente, que as outras duas quantidades J, ¢ J, sio também inva- riantes, Como as respectivas demonstragdes sfo excessivamente morosas, nao serao aqui incluidas. ‘a (m,n) Fig. 1.9 — Dois sistemas de eixos coordenados [xyz] e [abe] 50 E mais facil demonstrar o sighificado fisico dos invariantes, uma vez que as componentes da tenso, qualquer que seja a orientagio escolhida para os eixos coor- denados, representam a solugdo, de acordo com esses eixos, de um dado estado de tenso que existe no ponto considerado. Como existe um sé sistema de tensdes € um sé sistema de eixos principais correspondendo a um dado estado de tensio, os coeficientes dos termos da equacio (1.32) para determinar aquelas tens6es principais devem ser constantes ¢ independentes do sistema de eixos escolhido, Qualquer com- binago dos trés invariantes ser também invariante na transformagdo de coordenadas. 1.2.9 Tensdes desviadoras ou de desvio Como se vera mais adiante, no estudo da Teoria da Plasticidade, é conveniente decompor as componentes da tens%io em dois termos, sendo um deles a chamada tens&o hidrostatica ou tensAo média o,, dada pela equacdo at Oy +9, 3 (1.37), ‘Trata-se duma tensfio que tem o mesmo valor em todas as direcges do elemento e que provoca variagio de volume. Admitindo que a deformagio plistica se processa com conservagio de volume o,,, tera de ser nulo, ¢ os termos das tensdes responsé- veis pela deformagio plistica sero as componentes das tensdes totais menos a ten- so média, ou seja o.=6, 1 2 1 =s,-16,+0,+¢,)= 26,-16,+6,) 1.38) 3 f J= = & 7 Gv t Gd) (1.38) Da mesma forma se obteriam o’,,, 6'., Ta» Tx © Ty. Estas tensdes constituem 0 sis tema desviador das tensdes € sio as tensdes de desvio. O primeiro invariante deste novo sistema é nulo, como se demonstra a seguir THO tO t's = Cre + Oy + Fz) —3 Fm (1.39) A deformasio plistica definida pelos critérios de cedéncia sendo processada a volume constante implica que a tens4o hidrostatica nao contribui para essa defor- mag#o. A deformagio plistica deverA ser também independente das direcgdes dos eixos escolhidos para definir o sistema porque o material & considerado isotrépico, (1) Os critétios de cedéncia serao dads no capitulo sobre plasticidade (Capitulo 11). Considers-se para jé que deformagio plistica se provessa a volume constante, 51 Portanto, devera ser uma fungiio dos invariantes J’ ¢ J', dos sistemas das tensdes de desvio, podendo ser definida pela relagtio F (J, J) = 0 ou, com uma forma mais simples, F (J;) = 0. A fungio F (J) = 0 poderd ter a forma A.+A,Jh+ A, Ji +. (1.40) A fungéo mais simples serd gis. (4) = a = constante (al Em fungéio do estado de tensGo inicial (total), demonstra-se que o invariante J; é dado pela equagio: T= & [O.- 0+ (0.9 + (0-9 + Gr) + 6h + 6, ] (1.42) Em funcdo das tensdes principais pode-se escrever 6a =(,-9,) + (@:-0) +(.-o) (1.43) Para o estado uniaxial de tensio o,=o, ; ¢;=0,=0 e, portanto, 6a = 20? donde 208= (6-0 + (2-2)? + (0-2, (1.44) em que o, é a tensio de cedéncia A tracgZo ou a compressio. A equagio (1.44) constitui a expresso analitica do critério de plasticidade de Von-Mises, que sera estu- dado em mais detalhe no capitulo referente 4 Teoria da Plasticidade. 1.2.10 Valores limites das tensées de corte A equagio (1.15) permite determinar a tens&o de corte + num plano obliquo. Substituindo na equago (1.15) os valores de S e ¢ dados pelas equacdes (1.30) € (1.3la), o valor de t foi obtido na equag&o (1.31b) considerando como eixos coor- denados os eixos principais. A equagio (1.31b) era vsoil’+ojm +ajn-(6,/+0,m'+o, nF (1.31b) 32 Introduzindo agora a relagio /? + m?+n? = 1 na equagio anterior ¢ simplificando, pode-se exprimir essa equac&o em fungao de o,, 03, 03, /¢ m, Vira entdo v= P (o}-0)) + m’ (63-03) + o}—[F (6, —c,) + m’ (o,-0,) +a,]” (1.45) No caso geral, para calcular os valores estaciondrios (maximo e minimo) de + a par- tir da equagio (1.45) corresponde a fazer Or BE oe ! EL ie 1 ar 22 =0 (14a) © 2722 =0 (1.460) Das equagdes (1.45) e (1.46) vem Qe = 21 ¢}-03) -2[F @,-0,) + m* @,-3) + 45] x YG, -0) =0 (47) Das equagies (1.45) e (1.466) vem Qs = 2m (i-0)-2[F @,-) +m.) +a] 2m(,-o)=0 (1.48) Estas duas equagGes (1.47 € 1.48) devem ser verificadas simultaneamente, ¢ como no caso mais geral a, 7.0, #4, as solugdes obtidas so: a) = O para verificar a equagao (1.47), Ento, da equagio (1.48) vem 2m (}—o)) —4 m’ (, —9,)' —4m ©, —6,) 0, =0 ou 2m (;—0,) [(¢;-9)- 2m’ (e,-0,)] =0 como 2m (6, ~c,) #0, ent&o (¢,-9,) (1-2m) =0, I=0-n=et e como I= 0 — n= 5 b) m=O para verificar a equagio (1.48). Ent&o, da equagio (1.47) ven 21 (6, -«,) [o,-0,-2P (a, -0)]=0 © que da como solugio # = 33 A tnica possibilidade que falta analisar é n = 0. Substituindo este valor na equagio (1.31), vem v=o P+oim'-(,?+o,my (1.49) como m’= 1-7, vem PU-P)@,-6) Por conseguinte, ae BE = 210A @,-03' +P 2) (6-0) =0 iooehene L istoé, 1-7-2 =0 Fem=5 Obtém-se, assim, trés solugdes a seguir referidas e msn = (1.50a) m=0 e Par =+ (1.500) n=0 ¢ F =m=t (1.50) Portanto os valores estacionarios das tensdes de corte ocorrem em planos, cada um dos quais é perpendicular a um dos planos principais (i. e., um.co-seno é zero) ¢ fazem v2 um Angulo de 45° (= m= n= “2 = are cos 45° com os outras dois eixos principals. Os valores estaciondrios da tensio de corte + podem ser obtidos substituindo estes valores dos co-senos directores na equagio (1.31b), 0 que dé Para n=0 ret Se (L.5la) m=0 t=t (.51b) P=0 rst (L5lc) o\-9; Sendo a, >o, >o;, 0 valor maximo da tenso de corte sera € verifica-se nos planos cuja normal faz angulos de 45° com os eixos principais I ¢ 3. 54 1.2.44 Tensdo de corte octaedral Designa-se por tensfio de corte octaedral a tenso de corte que se verifica nos planos octaedrais, cuja normal faz Angulos iguais com os trés cixos coordenados. Por- tanto, 0s co-senos directores da normal serio f=m=n=N3 3 € a respectiva tensdo normal octaedral ¢ dada pela equagdo 3, +0;+6, Om = 0,2 +0, m+ on Fi = tensHo hidrostatica (1.52) Conclui-se, assim, que a tensio normal octaedral coincide com a tensio hidrostatica. A partir da tenséo normal octaedral pode-se calcular a tensdo de corte octaedral pela equacio: ( 1 +O, +6, y 3 Gaul = Si + Si + Si - Gu)? =o P+ om? +o, n° Simplificando, ven wa Ton = : [(.-20'+ @-a9'+ @,-2)'] (1.53) Portanto, os planos que fazem Angulos iguais com os eixos principais ttm uma ten so normal igual a tenso hidrostatica ¢,. Este facto foi aproveitado por certos auto- res para definir critérios de plasticidade baseados na tensio de corte octaedral. 1.242 Valores das tensdes nommais nos planos de m&xima tensGo de corte Da expresso da tensdo normal ¢ num plano obliquo, podem-se calcular as tenses normais nos planos em que a tensfo de corte é maxima, Por exemplo, para 0 plano de tensfio de corte maxima entre «, ¢ 6, vem In =m, = are cos 45° = 22 n=O A tensio normal correspondente sera +o, 2 Gy = 0; Lig + Oy Miz + 65 Ny = (54a) 55 Para os outros dois planos de tensio de corte maxima as respectivas tensdes nor- mais seriam obtidas de forma andloga e dadas pelas equagées: ato ato on =e Srey (1.54 b,c) A tabela apresentada a seguir indica os valores dos co-senos directores, das tenses de corte € das respectivas tensdes normais para os planos ja referidos. ‘Co-senos directores Tensfo de corte TensSo normal n=0;l=m=X2 ator 2 ato, 2 a,+a; 2 4.243 Tensdo de corte em qualquer plano em fungdo das tensdes de corte méximas Demonstrou-se na equagdo (1.31b) que +7=(,-0)' ? m’+ @,-)' mn? + 6,-6)' nF (1.31b) Designando as tensées de corte maximas nos planos principais por +,, 1) € 73, Tes- pectivamente, os seus valores so dados pelas equagdes: o-6; o-9 a-o, * ¢ ye 1.55 a,b, 2 2 2 7; 3 (1.55 a,b,c) 1 Portanto, a equagdo que exprime a tensGo de corte + em fung&o de +), t3 € ty serd obtida substituindo as equagées (1.55 a,b,c) na equacdo (1.31b), 0 que dé t= 2[5 Pm +c mn +c Py? (1.56) 36 1.2.14 Tensor das tensdes; notacdo tensorial Verificou-se, na secgdo 1.2.2, que 0 estado de tensfio num ponto fica comple- tamente determinado especificando os nove componentes da tensfio nas faces orto- gonais do elemento definidor do estado de tensdo no ponto, Como se sabe, um vec- tor sé tem trés componentes e, portanto,a tens%io nfo pode ser definida por um vector. As quantidades fisicas que se transformam com os cixos coordenados na maneira definida pela equacdo (1.14) designam-se por tensores de segunda ordem. A tensfo, extensdo € muitas outras quantidades fisicas sAo tensores de segunda ordem. Como a tensdo é um tensor de segunda ordem, as componentes do tensor das tensdes sio Cr Su Te Te a, = ai lon ony ty Oy Ty (137) Sy Oxy Fy Tae Te On Deste modo, a tensfo resultante S num plano obliquo, que foi dada pelas equagdes (1.11) e (1.12), pode ser escrita na forma a eit | a Ss. n obtendo-se os valores anteriores de S,, S, € S, por muliplicagées da matriz a, com © vector coluna dos co-senos directores da normal ao plano. Em notagio tensorial, equagdo anterior vird S=a,4 (1.59) em que os indices i, j =x, y, z © a, representa, agora, vector coluna dos co-senos directores cujas componentes so / = a,, m =a, ¢ n = a,, co-senos directores em telagdo aos eixos dos xx, yy € zz, respectivamente. Um dos simbolos mais importantes da notagéo tensorial € 0 chamado sim- bolo de Kronecker 8,. 3, toma os seguintes valores 6 quando i=j sendoi,j= 8,=0 quandoi#j 37 Utilizando este simbolo, & possivel, por exemplo, escrever de forma muito mais con- densada a soma dos elementos da diagonal principal da matriz. (1.57) representada Por a, 3, =9,8, (1.60) Deste modo, «; igual ao primeiro invariante do tensor das tenses, J, 6, =I, Soy ton ton =O t Oy t On (1.61) ‘A multiplicagio de um tensor ou de produtos de tensores por 8, reduz de dois a ordem do tensor, como se comprova pela equagio (1.61),em que o resultado final obtido é um escalar (tensor de ordem zero). A equacdo que permite determinar as tensdes principais num ponto pode ser escrita em linguagem tensorial na forma @% - 2 8) ay = 0 (1.62) em que o, é a tensfio normal e a, sfio os co-senos directores da tenso normal, Desen- volvendo a equacdo (1.62), obtém-se as trés equacdes (1.18), uma vez que a,, = |, a, = m, ete, e 8, = 0 quando i # j, Para que a equagdo (1,62) tenha uma solugio no trivial para a,, € preciso que o determinante dos coeficientes se anule,resultando em a) = |@-3) yt (1.63) Te O.-o) Te Te TH (.-9)) © que da a equagdo cubica (1.21). Os coeficientes desta equagio, em notagao tenso- rial, séio J=o, ard = b= Fu ona. 0n) = $04, 5, 0,-3.0); 04 +010; 0n) Verifica-se que a linguagem tensorial permite uma escrita simplificada, Deixa-se ao cuidado do leitor a demonstragdo da igualdade entre os coeficientes desta equacéo € os da equagio (1.21). cAlculo dos valores das tensdes principais num ponto ¢ a determinago da orientac&o dessas tensées (direceSes principais) tm uma importancia pratica grande, pois as tenses principais representam os valores maximos e minimos da tensdo. Se as tensdes de corte forem nulas, é facil identificar os planos principais, pois estes serdio os planos normais As tinicas tensées existentes que scro, portanto, tensdes principais. Considerando um sistema de eixos ortogonal [oxyz] no ponto havera nesse caso apenas tensdes normais ¢.,, 4,, € ¢.,,bastando apenas designar estas tensdes por 0, 6; € ; utilizando a convengéo «6, > a; > 53. No caso de haver tenses de corte, a determinagio das tensdes principais no ¢ imediata, sendo necessdrio resolver a equa- do cubica (1.21) como se exemplifica a seguir. Exemplo 1.1 Num determinado ponto de um material,o estado de tenso é caracterizado pelo seguinte tensor das tensdes num sistema de eixos [ 0xy7] =[80 25. 15] [MPa] 25 60 0 Is 0 0 a) identificar as tensdes segundo o sistema de eixos [ oxyz] ) calcular as tensdes principais no ponto ¢ a sua orientacdo em relacdo ao sistema de eixos Coxyz] ©) calcular a tenso de corte maxima ¢ a respectiva tenso normal 4) calcular @ tenso resultante, tenstio normal ¢ de corte num plano cuja normal faz um Angulo de 30° com a direoco principal | € 80° com a direccéo 2 Resolugio a) Como se verificou em 1.2.14 (equagdo 1.57), as componentes do tensor das tens6es sero, neste caso, 3, = 80 MPa ; 6,, = @ MPa: 3, Tyq = 25 MP2 5 tq = te = IS MPa st, =, b) As tensdes principais so calculadas resolvendo @ equagéo cubica (1.21) ou (1.32). Substituindo nesta equacao as componentes do tensor das tensées indicadas na alinea anterior, vem o-orthoe-h=0 @) 59 em que J. =Oyt0y 40, 140 Sn = Sex Byp + Oy Ou 30 x 60 + 80 x 0 + 60 x 0-25? - 15° — 4 eg Gap Ty Tia 0 = 3950 Vy Hg Gy ap + 2 yy Ty Cag — Ong The — Ty Thy — Fey TH = BOX OX O42 1S X 25% 0-80 x 0 60 x 15*-0 x 25 = ~ 13500 Substituindo os valores destes invariantes na equagio (a), dé 3-14.07 + 39500 + 13500=0 (b) cuja solugdo & 0, = 98.51 MPa; ¢, = 44,57 MPa e a; = — 3,08 MPa,que so as tenses prin- cipais no ponto. A tensio a, é assim a maior das tens6es no ponto ¢ a tensdo ¢; a minima. Os co-senos directores das direcgées principais podem ser calculados resolvendo o deter- minante IJ-ella=o © em que ¢, representa uma das tensdes principais a, o, ou o3,¢ a, € 0 vector coluna dos co-senos directores da direcgdo principal respectiva, Assim, para a direcedo principal | ¢ subs- tituindo na equago (c) 4, = 0 = 98,51, ver o sistema de equagées 18,514, + 25 a,+ 1Sa;=0 38,51 a; 98,51 a, Resolvendo este sistema, vem a, = 0,83; a; = 0,54 € ay = 0,13, co-senos directores da direcgio principal 1. Procedendo de maneira andloga para as outras direcgdes principais, obtinha-se a= 052 direcgdo principal 2 | a,=—0.84 ay= 0,17 direcgdo principal 3 | = 0.98 ©) A tensao de corte maxima € dada muito simplesmente pela equagao (1.516). Substituindo os valores numéricos, vem 60 A tensio normal para esta tensio de corte obtém-se com a equagio da tabela incluida em 1.2.12, Substituindo valores, d4 a= AS ean MPa 4) Para se caleularem as tenses num plano obliquo ¢ necessério determinar primeiramente os co-senos directores | m en da normal ao plano em relagio aos eixos coordenados. Neste caso, 0s ngulos sio: = Weomocixol = [= cos 2 = 0.866 B = 8? comoeixo2 + m=cosB=0,174 n= (I-P—m)'?= 0,469 = y= 62° ‘As equagdes (1.30) ¢ (1.31 a,b) permitem calcular as tensdes num plano obliquo em fungio das tenses principais. Portanto, para a tensio resultante (equagéo 1.30) vem S= 7 P +03 m’ + on?! = (OBST? x 0,866 + 44,57 x 0,174 + - 3,08) x 0,469)!? = = 85,67 MPa A tensfio normal seré a, [?-+@; m’ + a;n? = 74,55 MPa © a tensio de corte vem 2 =[(e,—o9' Pm? + (e,-0)7 Pn? + (025) mi? ] 42,23 MPa 0 4.3 REPRESENTACAO GRAFICA DE ESTADOS DE TENSAO 4.3.1 Casos tridimensionals. Circulo de Mohr Demonstrou-se que num determinado ponto de um sélido e num plano obliquo qualquer, a tenso de corte ¢ a tenso normal eram dadas pelas equagdes (1.31 a,b). Estas equagdes podem ser utilizadas para fazer a representagio gréfica de estados de tenso através de um circulo designado por circulo de Mohr. Tal representaco faci- lita a determinagdo das tens6es principais e constitui um poderoso auxiliar na visua- lizago dos estados de tenso no ponto. Eliminando os co-senos directores m ¢ n das equagdes (1.31) através da rela- odo n? = 1 =m’, a equagao (1.31b) da (© -2) (@-9;) + +? =P (@—a) @-9,) 61 completando os quadrados, vem phos p =a [2-2] sear e-ore-oy+(2) cosa [-- stay +2 en @, a) @,-a) + (ty (1.656) [« = ate)’ +3? = 0? © —0) @-0) + (527 (1.650) Portanto, num diagrama de tensdes em que as tensées normais so representadas em abcissas € as tensGes de corte em ordenadas, a equagio (1.6Sa) representa a equagio dum circulo simétrico em relagdo a abcissa com centro a uma distancia aad da origem e com raio g, dado pela equagio ee cay egy e(meceyy a=+[P@-o) -0)+ ({ | (1.66) O raio g, € representado por C,D na figura 1.10. Quando + = 0, a= SE to, (1.67) Assim, 0 ponto representativo das tensdes (ponto D) move-se no circulo de ‘ . +6 raio p, a partir do centro C, = 21% Sendo a = 90° (I = 0), a variagio dos Angulos 8 e y diz respeito apenas as condigdes de tenséo plana no plano definido por a; e «. Para | = 0 a cquagio (1.65a) vern [o- (2 ] +e =(52) (1.68) A equagio (1.68) é a equagio dum cfrculo de centro em C, (fig. 1.10), mas com raio p) = ast. Quando + = 0, a equagdo (1.68) vem marcado no eixo das tensdes normais (fig. 1.10). _ to 4 =o ~ 2 2 = 0, ua, O circulo para /= 0 corta o eixo das abcissas nos pontos 6, € «, (fig. 1.10). (so) Fig. 1.10 — Construcdo justificativa do tragado do circulo de Mohr (Geos Fig. 1.11 — Construco justificativa do tracado do circulo de Mohr 63 Fazendo agora o Angulo y constante, n ¢ também constante ¢ pode-se aplicar a equagéio (1.65c), © que, mediante uma analise semelhante A do caso anterior, permite ato, concluir que a equaslo (1.65) representa um circulo de eentro no ponto C, = == e raio p; (fig. 1.11) =[" @.-2) @-0)+ Ce] "= GE, na figura 1.11, Quando n = 0, o circulo tem raio € passa nos pontos a, € a, abcissas para t = 0 ig. 1.11). Finalmente, quando m é constante, obtém-se 0 circulo de centro C, = 21% € raio p, = C.F (fig. 11). Quando m = 0, 0 centro € 0 ponto C, € 0 raio é as. Estas conclusdes foram obtidas através da equagio (1.65b). Demonstrou-se, assim, que todos os estados de tens&o esto representados nos trés circulos tracados na figura LIL. Na anilise feita considerou-se de cada vez um dos co-senos directores como constante € os outros dois com valores arbitrdrios, o que significa que os estados de tensfo so planos. No entanto, para um plano obliquo qualquer no espaco definido pelos scus co-senos directores /, m e n, os trés raios C,D, C,F e CE intersectam-se num ponto comum Q cujas coordenadas so os valores da tensio normal « ¢ da tensfio de corte + para esse plano, Portanto, no caso tridimensional, o circulo de Mohr transforma-se num plano de tenso limitado pelos trés circulos limites repre- sentados por (1), (2) e (3) na figura I.11. 1.3.2 Demenstragdo de que todos os estados de tensdo o, + ficam dentro do plano de tensdes A demonstragio consiste em provar que, para um dado plano obliquo com um determinado estado de tensdo, 0 ponto representativo da tensfio ¢, t no circulo de Mohr fica na area compreendida entre os trés circulos limites (1), (2) € (3) (fig. 1.11). Verificou-se que as tenses em qualquer plano com co-senos directores |, m-e n eram dadas pelas trés equagdes (1.65 a,b,c). Considerando a figura 1.12, prova-se que 0 ponto represcntativo da tenso Q fica sempre dentro da 4rea compreendida pelos 64 circulos, 0 que significa que a distncia QM = + deve ser menor que MN e maior que MP. A linha QM pode, em alternativa, cortar 0 circulo C,, 0 que consiste em provar que CQCR ; e CQ>CP Ora, (C,Q¥ = (CM + (MQ) = [< -(62)] +2 (1.69) Da equacdo (1.656) vem. (CQ) = m? (@, — 4) (0, - 0) + ease (1.70) Como (¢, - «) (@, ~ 2.) < 0, devido convengéo de sinais, e como m? é necessa- Fiamente positivo, o primeiro termo do lado direito é sempre negativo. Por outro lado, nei ee fess & sempre positive, de modo que (C,Q) < a Assim, C,Q & sempre o,-9; menor que + que quer dizer que é menor que C.N, € todas as condigées de tensAo ficam dentro do circulo(2) representado na figura 1.12 Fig. 1.12 — Demonstrag8o de que todos os estados de tensiio ficam dentro da érea repre- sentada a tracejado 65 Falta agora demonstrar que C,Q > C,R + C,Q é dado pela equacio ato\]?,, (C,Q? = (C\M¥ + (MQyY = [« oy (24%)] tr (7) Da equagao (.65a) vem (C.Q? =P ©, -«) (e;-9) + ect (1.72) Como (6, ~ ¢,) <0 ¢ (6 - a) <0, o primeiro termo do lado dircito € positivo € cQ> SS, ‘© que significa que todos os estados de tensio ¢, 7 ficam fora do circulo 82-93 () porque € 0 raio desse circulo, Procedendo igualmente para C,Q, prova-se que Q fica fora do circulo (3) € por conseguinte o ponto Q, definidor dum determi- nado estado de tensio o, t, s6 poderé estar dentro da Arca traccjada indicada na figura 1.12. 4.3.3 Construgao do estado de tensGo no dlagrama de tensées do circulo de Mohr So dadas as direcgdes da normal a um plano obliquo (a, 8, y), em que se pretende determinar a tensio normal o € a tensio de corte +, sendo conhecidas tam- bém as tensées principais o,, 6, € o, no ponto. Para tragar o circulo de Mohr, procede-se do seguinte modo: 1 — Tragam-se os circulos de Mohr com o: +; _ G83 centro em C, = = e raio Z . Gy centro em C;= e€ raio Si+o, 61-5; centro em C, = € Taio 2 (fig. 1.13) 2— Marea-se o Angulo « = arccos/ na vertical do ponto 0 € traga-se a linha @, Q, Q, cortando os cfrculos de centro em C, € C;, nos pontos Q, € Qs, respec tivamente, 3 — Com centro em C,, traga-se 0 arco Q, Q, de raio C, Q,. 4 — Marea-se 0 Angulo y = arccosn na vertical do ponto a, € traca-se a linha 6, S, S, para cortar os circulos C, e C, nos pontos S; € S,, respectivamente. 5 — Com centro em Cy raio C, S, traga-se 0 arco S; S, 6 — A intersec¢do dos arcos S,S, e Q,Q; no ponto Q da o ponto de tensio pretendido com coordenadas ¢ e 7, Marcando agora o Angulo 8 a partir da verti- cal que passar em ¢ ¢ com centro em C;, traga-se 0 arco T,T, que, se a construgio geomeétrica estiver certa, passard pelo ponto Q. Fig. 1.13 — Construgo de um estado de tenséo no diagrama de tensdes do circulo de Mohr. 6 1.34 Casos particulares de estados de tensGo 1.3.4.1 ESTADO PLANO DE TENSAO Para este caso particular, parte-se da hipétese de que z,, = 1. = 0, pretendendo- -se determinar os estados de tensdo em planos paralelos ao plano [oxy] (fig. 1.6). Os trés circulos de Mohr reduzem-se a um a que corresponde n = 0 ¢ que passa por 9, € 9; (fig. 1.13), considerando que a tensio principal conhecida ¢ ¢;. No estado plano de tensdes, a tensio o é dada pela equacio (1.26) ¢ a tens&o de corte pela equagdo (1.28), Se o sistema de eixos [oxy] for um sistema de eixos principais, entio, +, = Oe as equagdes (1.26) e (1.28) transformam-se em ata, | o~0, Sree. c= cos 2x. (1.73 a) (1.73 b) Estas equagdes podem ser utilizadas para determinar a tensio normal ¢ de corte numa faceta que faz um Angulo « com 0 cixo I, Neste caso, o Angulo 2a medido a partir do centro do circulo (fig. 1.14) e 0 ponto Q (G, £), representativo do estado de tensio, est4 na intersecgo da circunferéncia com o raio definidor deste Angulo duplo. Em alternativa, o Angulo a pode ser marcado a partir da vertical que passa pelo ponto A. Fig. 1.14 — Circulo de Mohr para o estado plano ue tensao no plano[012]. 68 1.3.4.2. DETERMINACAO DAS TENSOES PRINCIPAIS NO ESTADO DUPLO DE TENSAO Sendo conhecidas as tensées ¢,,, 64, € T,, segundo um sistema de eixos [oxy] qualquer, é possivel determinar as tens6es principais o, € o, € as orientagdes das direc- Ges principais. A outra tensdo principal sera c,, na direccdo perpendicular ao plano [oxy], que podera ser nula, Com essa finalidade,considere-se eiemento plano representado na figura 1.15, em que 0 estado de tenso segundo o sistema de eixos [oxy] € definido pelas ten- sOes 6,,, 6,, € T,, Por definig&o,as direcedes principais so as direcodes perpendicu- lares As facetas em que a tens&io de corte é nula e em que, portanto, sO se exercem: tensdes normais que s&o as tensées principais. Deste modo, fazendo t = 0 na equa- do (1.28), calculam-se os Angulos correspondentes as direegdes principais sen 2a —t,, cos 2a (1.74) 2a (175) Cw Como tan 2a = tan (© + 22),a equagéo (1.75) tem duas raizes a, € a; = a; +n x/2 que definem duas direcedes perpendiculares entre si que sAo as direcodes principais 1 © 2 indicadas na figura 1.15, Substituindo estes valores de cos 2a e sen 2a na equa- eo (1.26), obtém-se as tensdes principais maxima e minima no ponto, dadas pelas equaces: men eee)” 0179 As direcgdes em que a tensio de corte é méxima so obtidas derivando a equago (1.28) e igualando a zero o resultado. 2 <6, -c,,) cos 2a-2r,, sen 2a =0 da tan Jee = Se (177) z. O valor da tensfo de corte maxima ¢ obtido substituindo a equagao (1.77) na equa- io (1.28) [(452) +3] " (1.78) Ti Fig. 1.15 — Direccdes principais num estado duplo de tensio. As tensées principais podem também ser obtidas anulando o determinante da equagio (1.62), considerando agora 0 tensor das tensdes para o estado duplo de ten- ses, ou seja, Cu-) Te Tt, @y,-5) 0 (1.79) 0 0 @x-0,) Resolvendo em ordem a tltima linha (ou coluna) o determinante anterior, vem =0 ..-9,) x |@n-9) te Ty. (6,,-5,) (1.80) que admite as solugdes o,, 93 = 6, = 6,, 0 que significa que uma das tenses principais ¢ a tensdo o,, perpendicular ao plano, sendo a outra solugio @x-2) t, | =0 Ty Cu-G) (1.81) 70 isto € Gx —4;) 6 —6,)—t1, = 0 x C, O,+6, Cn—8,\) - ta tette + [(s282) +0] oui, (= tattoo s co-senos directores das direcgdes principais seriam deduzidos substituindo sucessivamente os valores a, € a; dados pela equago (1.76) na equago (1.63) € con- siderando que / + m* = 1. A solugao do sistema para a tensdo principal «, seria EE nn (1.82) Cura) +t resultado que coincide com a equago (1.75). De modo andlogo se obtinha a solu- sdo para a tensdo a, Note-se que as equagies (1.75) e (1.82) definem as direcgdes principais a menos do sinal, havendo em geral duas solugdes matematicas, [; = 1, € I =m =|, para o cixo Ie I = I, ¢ /) = x — 1, para 0 eixo 2. Contudo, na pratica esta ambiguidade é desfeita porque a tensdo principal mAxima o, ficard orientada entre a direcc3o da maior das tensées normais dadas (6,, ou o,,) ¢ a diagonal de corte que faz um Angulo de 45°com ,, € 3,,. As tenses principais e as suas direcgdes podem ser, também determinadas grafi- camente usando 0 circulo de Mohr. Na construg&o gréfica,¢ utilizada uma conven- do que define a tensio de corte como positiva se fizer rodar o elemento no sentido dos ponteiros do reldgio, ou vice-versa (fig. 1.15). Sendo dados ¢,., dy, € Ty, @ equa- so (1.76) representa a equagéo de um circulo no diagrama de tensdes (a, 7), j4 refe~ rido,¢ equivale as equagdes paramétricas (1.73 a,b). A equagao do circulo sera (o - Sah) ea (5%) on, (183) Oy +3, io [ (82282) 4 27” com centro em S82 @ rain [(Se=2n) + = Supondo que ¢,, > 6,,, & possivel representar os pontos A e B no diagrama de ten- sdes 6, + (fig. 1.15), em que o ponto A tem coordenadas (a,,, +,,) € 0 ponto B Gxt, (Gx, T). O circulo de Mohr passa pelos pontos A ¢ Be tem centro em “—" ¢ a sua intersecedio com 0 cixo dos determina os valores das tensdes principais, ¢,.¢ 0. As correspondents direcedes principais esto também marcadas na figura 1.15, em que © eixo x estd desfasado do Angulo a em relagdo ao ¢ixo 1 no sentido contrario ao dos pontciros do relégio,e 0 cixo y esté desfasado do mesmo Angulo em relagio ao 1 cixo 2. O Angulo « pode entéo ser marcado no elemento de tensdes com o sentido indicado na figura 1.15, definindo-se deste modo no elemento os eixos 1 e 2. A determinagio das tensdes principais em estados planos ou duplos de tenso tem grande importéncia no estudo da flexo e torgio, como se veré adiante nos Capitulos 3, 6, 10 ¢ 14. O exemplo seguinte ilustra essa determinago. Exemplo 1.2 Num determinado ponto de um material, as tensdes segundo um sistema de eixos plano [oxy] sio as seguintes: = 60 MPa ; 6,=-20MPa e +,,=40 MPa. a) Calcular as tenses principais e respectiva orientago em relag&o ao sistema de eixos [oxy], considerando 0 estado plano de tensdes ¢ o estado triplo de tensGes (no espago). b) Calcular a tenso de corte maxima ¢ respectiva tenso normal. ©) Caleular a tensio de corte octaedral e a tensio normal octaedral. Resolver o problema por via analitica e grifica (circulo de Mohr) Resolugio a) A equacio (1.76) da as tenses principais no estado plano de tenso (n = 0 ¢ a5 = 0). Substi- tuindo valores, ver =] 0,42 wa I toy +[(% 9) +s] _ 0-0 [(& 2 2 2 2 16.57 MPa, 4, = ~ 36,57 MPa Estas sfio as duas tinicas tensdes principais existentes. No espao haveria a considerar a direc- Gao principal 2 (n # 0) perpendicular ao plano [oxy] onde existem as outras tensdes princi- pais. Portanto, o estado de tenséo seria, de acordo com a convencio das tenses principais, 0, = 7657 MPa ; ¢;=0 © o;=~36,57 MPa A orientagéo das tensées principais no plano [ 1,3] ou [x, y] pode ser obtida com a equagdo (1.75), Substituindo valores, vem a6 tan 2a = 2 1 de = aS a = 25" Cu Fy 2 A direcgo principal | faz um angulo de 22,5° com 0 cixo dos xx no sentido da rotacéo dos ponteiros do relégio. A direcsdo principal 3 fara, portanto, um angulo de 90° com a direesfo 1 no mesmo sentido € a direcedo principal 2 é perpendicular ao plano definido pelas direcgies, principais |e 3, b) A tensao de corte maxima ty. & como se sabe, dada pela equacio eae = E88 _ 1657+ 3657 _ 56 57 Pa a 2 ~ A respectiva tensfio normal € +05 = 20 MPa ©) As equagdes (1.52) e (1.53) dio as tensSes octaedrais (normal € de corte). Substituindo valores, vem ae Base ee Z Exoie Vemer Mea Fig. 1.16 — Exemplo 1.2: Solugio gréfice pelo cfrculo de Mohr. B ‘A solugdo gréfica deste problema ¢ 0 circulo de Mohr representado na figura seguinte (fig. 1.16). Utilizou-se a convengao de considerar tensOes de corte positivas,as que fazem rodar 0 clemento no sentido dos ponteiros do relégio ¢ vice-versa. O ponto A com coordenadas (C.,. Tx) € © ponto B com coordenadas (a,,, +,,) definem, respectivamente, o estado de tenso nas facetas perpendiculares ao cixo dos xx ¢ yy. Estes pontos foram marcados usando a escala indicada na figura 1.16 (lem = 13 MPa). Aplicando a construgéo grafica descrita na figura L15, obtémvse 0 circulo de Mohr a passar por o, ¢ 03 que define os estados de tensio no plano [1, 3]. No espago hi ainda a considerar 0s circulos que passam por a; © @; ¢ a; € 03 respectivamente, em que a, = 0. Verifica-se que os valores de 01, 03, Tmiz, © 9, lidos no circulo coincidem, dentro da aproximago do método gréfico, com 0s valores analiticos obtidos nas alineas anteriores. A tensio octaedral no espaco obtém-se marcando nos pontos extremos do circulo o angulo ‘54° 44° correspondente aos co-senos directores dos planos octaedrais (! = m =n = V/3/3). Apli- cando,em seguida,a construséo do estado de tensiio exposta em 1.3.3 (fig. 1.13) obtém-se o ponto T cujas coordenadas $80 65a € Tox. 1.3.4.3 OUTROS CASOS PARTICULARES A figura 1.17 representa, com 0 auxilio dos circulos de Mohr, um conjunto de casos particulares de estados de tensio que pela sua importancia ¢ significado convém referir, Assim, na figura 1.17 a) est4 representado um estado uniaxial de trac- so (6, > 0 ¢ a, = a, = 0),¢ na figura 1.17 b) um estado uniaxial de compressiio (, <0 € a, = 6, = 0), Em ambos os casos, os trés circulos de Mohr reduzem-se a um circulo em cuja circunferéncia fica sempre localizado qualquer estado de tenso. Nas figuras 1.17 c) a 0, representam-se estados duplos ou triplos de tensio que apre- sentam certas peculiaridades. Por exemplo, quando se aplica uma tens&o de tracgio o; perpendicularmente a uma tens&o de tracofo a; ja existente (fig. 1.17 ©), verifica-se uma reduc&o na tensiio de corte em dois dos trés conjuntos de planos nos quais as tensdes de corte maximas se exercem. Contudo, a tensfio de corte maxima no & inferior ao valor que teria para tracefo uniaxial, embora esse facto nfo fosse detec- tado usando apenas o circulo de Mohr bidimensional. Aplicando uma tensfio de trac- 0 na terceira direcg4o principal (fig. 1.17 d), reduz-se de forma considerdvel a ten- so de corte maxima. No caso limite da tensdo hidrostatica, 0 circulo de Mohr reduz- “se a um ponto, ndo havendo tensdes de corte nesse ponto. Quando o estado de tensio tem duas tensdes principais iguais, diz-se cilindrico,¢ os trés circulos de Mohr reduzem-se a um, como se exemplifica na figura 1.17 e) em que o circulo passa pela tensio 0; € por o, = ¢;. No entanto, a figura 1.17) indica que a tensfo de corte maxima aumenta,quando se aplicam tensdes de compresstio nas direogGes perpendi- culares a tens de traccio. Conclui-se, assim, que os estados triaxiais de tracgdio reduzem as tensées de corte maximas (fig. 1.17), 0 que provoca uma redugSo na ductilidade do metal Porque a deformacdo plastica € produzida por tensdes de corte. Por outro lado, no 74 (ty Fig. 1.17 — Circulos de Mohr tridimensionais para varios estados de tensio. caso da figura 1.17 f),e devido ao aumento da tens&o de corte maxima, verifica-se um aumento de ductilidade no material, facto que é aproveitado em certos processos de conformagio, criando tensdes laterais de compressio nas areas de contacto entre ‘© material ¢ a ferramenta. 75 1.4 TEORIA DO ESTADO DE DEFORMACAO INFINITESIMAL 1.AA Definigdes Quando um s6lido esta sujeito a um sistema de forgas, os seus pontos viio-se deslocar de uma determinada quantidade. Considerando um ponto de um corpo com coordenadas x, y, z, diz-se que este ponto sofre um deslocamento d com coordena- das d (u, v, w),em que u v ¢ w representam as coordenadas do vector desloca- mento segundo os cixos dos xx, yy © zz, respectivamente, se apés a transformacéo as suas coordenadas passarem a ser (x + u, y + v, z+ w). Um corpo desloca-se sem deformagdo, se a distancia entre quaisquer dos seus pontos se mantém inalterada. Assim, se P (x,, Ys. 2.) € Q (x, 9 2) So dois pontos quaisquer do corpo que apés © deslocamento tomam as posigées P(x, + Uy, Jot Vor m+ we Qt » + v, 2 + Ww), respectivamente; se 0 corpo nfo sofreu deformagio terd de verificar- se a igualdade @&— xP + - yy + @ — 2) = (e+ ux, ~ uP tt vy. - vi + + (2+ w—z,—w,)? (1.84) Considerando 0s pontos muito préximos, pode-se escrever x-x,=dx (1.85) u-wedu , (1.86) Donde resulta du (2 dx + du) + dv (2 dy + dv) + dw (dz + dw) =0 (1.87) Se as componentes do deslocamento forem muito pequenas em relagio a distancia entre 0s pontos considerados, podem-se desprezar os infinitésimos de segunda ordem du2, dv? ¢ dw. Contudo, na teoria das grandes deformagées j4 nfo é possivel des- prezar essas quantidades, uma vez que os quadrados dos deslocamentos seriam quanti- dades grandes. Portanto, a equagio (1.87) vird dudx + dvdy + dwdz =0 (1.88) Esta equacdo representa a condicéio de movimento dum corpo como corpo rigido (Gélido indeformavel). Esse movimento é, em geral, composto duma translagdo duma rotagdo. Na mecdnica dos corpos deformaveis s6 interessa estudar a rotagio ¢, 6 mais do que esta, a “deformacao’, isto é, 0 deslocamento relativo dos seus pontos. A deformagao tem, em geral, duas componentes, uma linear que indica a variagio telativa da distancia entre dois pontos vizinhos,e outra angular que indica a variagao do Angulo entre duas linhas que ligam 0 ponto em causa a dois outros pontos vizinhos, A deformacio linear pode constituir um alongamento ou um encurtamento (alongamento negativo). A deformagio angular ¢ designada por distorgdo ¢ represen- tada pela letra y. 4.4.2 Tensor das extensdes. Significado fisico das suas Componentes A figura 1.18 representa de forma esquemética um corpo deformavel sujeito a um sistema de foreas. Um elemento infinitesimal de volume dxdydz desse corpo, apés a aplicacdo das forgas P, (i = 1, 2, 3, 4) (fig. 1.18),sofre um deslocamento ¢ uma deformacdo representadas na figura 1.18. Sejam P (x, y, 2) € Q (x + dx, y + dy, z + dz) dois pontos em vértices opostos do elemento em causa e ainda outros vértices vizinhos de P, L (x + dx, y, z); M (x, y + dy, z)e N(x y, z+ dz), que apés a deformacdo passaram para as posigdes P’, Q, L’, etc. Fig. 1.18 — Deformacio e deslocamento de um elemento de volume dum corpo sujeito a um sistema de forcas. 1 Seja @ (u,v, w) 0 deslocamento de P (f = P - P),e T (, v', w') 0 des- locamento de Q(d’ = Q -Q). Vira, entio, 7 Ou Be ou av d (et du v+dy, +a =( + Bax + Bt dys Me ds v+ Mare (u+ du, v+ dv, w+dw)=(u Ix iy + Oe da, v av + By dy + as oe .) (1.89) Itoé, P(xtuytyz+y) © Q[etdx+u+du), (+ dy+v+ dv), (e+ det w+ dw)) Esta € a expresso geral das coordenadas de um ponto Q’ qualquer prove- niente da deformagio de um segmento PQ. Em particular, vird para L’ que proveio do segmento PL orientado segundo x L [Qe + dx + a+ du), (y + v + dv), (2+ w+ dw)] ou seja, U [oer ae sus Be dy), G+ y+ Oe oe dx), (@ + w+ OH an] e de modo andlogo para M'e N’. Por definigdo, a extensdo linear na direcgao do eixo dos xx & variagao da dimensiot dx _ [(L'-P’)-(L-P)], dx dx fa = (segundo x apenas) Verifica-se que a extensio linear ou simplesmente extensio nfo tem dimensées. Na maior parte dos materiais metélicos, as extensdes lineares no dominio eldstico so muito pequenas (< 0,005 ou 0,59%), 0 que valida esta teoria das pequenas deformagdes. (ax+ 2 Ou xy Bu dy, Bugz) dy ay az au ye (1.90) dx ax Se e, for constante com x a extensio diz-se homogénea. * Quinto dy =d2=0-QSL 8 (a) (b) Fig. 1.19 — Representacio geométrica da extensSo linear @ da rotago de um elemento, 9 De modo andlogo, as outras extensdes lineares apenas segundo py e zz virflo, respecti- vamente , e e,=-o¥ (1.90) Por simplificagio admite-se que 0 ponto P nao se desloca. Entao, as trés extensdes acima definidas (equagio 1.90) correspondem, respectivamente, as trés situagdes seguintes interpretadas geometricamente na figura 1.19 a), b). 1 situagio (fig. 1.19 a) _ extenso do elemento PL para PL’, dy = dz=0 2. situagio (fig. 1.19 a) __ extensio do elemento PM para PM’, dz = dx = 0 3. situagdo (fig. 1.19 a) extensio do elemento PN para PN’, dx = dy =0 ‘Uma quarta situaciio corresponderé a uma rotacio do segmento PL em torno de PN (fig. 1.19 b), cujo Angulo de rotagio ¢ dado pela equagdo TL” Angulo de io = gu rotagd ou seja, ov ae e,, = 2E__ (91) De modo andlogo, a rotagdo do segmento PM em torno de PL é e, =2e y e do segmento PN em torno de PM é n= Se " As restantes componentes serio: 6, = 24, rotagdo do segmento PM em torno de PN ‘ay fy = 2, rotago do segmento PN em torno de PL. iz eq = 2, rotago do segmento PL. em torno de PM Ox 80 Fig. 1.20 — Rotacéio como corpo rigido da face dxdy do elemento em torno de PN. Uma décima situagio seria ainda a rotagio, como corpo rigido, da face dxdy em tomo de PN, como se exemplifica na figura 1.20. Segundo a condigao de rotagdo como corpo rigido, vem dudx + dvdy =0 (1.92) Como wow 24 av = -M=— av=L- ‘ss du= MM = Ze dy de au av au av dy taint — 2 193 By Bde + Bi dedy = 0 — ox ww ‘As equagées (1.92) e (1.93) correspondem a serem iguais os Angulos « ¢ a’ represen- tados na figura 1.20. Considerando as outras duas rotagées independentes das faces do elemento, obtinha-se de forma andloga, por permutagio circular, aw. aw au BY oes ae ay ax az 81 Dum modo geral, a condigdo de rotagéio dada pela equagdo (1.93) no se verificaré porque acompanhando a rotacdo havera uma deformagio por distorco, De acordo com a figura 1.20, uma distorpdo pura corresponderia ao caso de | @ | = | a’ | mas em que o ponto L passa para L", isto é, ov ax cal op Interessa, portanto, separar a parte distorcional da deformagéio da parte rotacional, uma vez que s6 a primeira é que provoca mudanca de forma. Para o caso do des- locamento angular relativo dos segmentos PL e PM, essa separacdo é feita utilizando as grandezas a A (av, du! fu Fete) = 5( orto (1.95) ee 20s a (1.96) havendo relagdes andlogas para os restantes segmentos representados na figura 1.19. Quando fore, =0, seré av __ au ax ay ¢ haverd apenas rotagdo como corpo rigido, sendo o Angulo de rotagio Ou. ve a ax Quando for Q,, = 0, entfio & = & € haveré deformacio pura do segmento sem x y rotagdo que se designa também deformagio homogénea. ‘A deformagio pura de um segmento é, nto, caracterizada por um alonga- Mento ou encurtamento linear entre os seus pontos extremos e por uma distorgio angular. A figura 1.21 a) representa um segmento PQ no espago cujo comprimento € ds © que sofreu um deslocamento para PQ. Se for d (u, v, w),0 deslocamento 82 (b) Fig. 1.21 — Deformaco pura de um segmento PQ. 83 do ponto P, 0 deslocamento do ponte Q sera & (u + du, v + dv, w + dw). As componentes do vector incremento de deslocamento sero, em geral, du = 24_ gy. Ou gy, Ou gy x ay 3 32 ov. av av d=“ d+ @& dz 1.97 a,b, Gy et By, OP op Carano aw. ow ow dw = dx+" dy+ a Sigs GEE Tay ET pe Se o segmento tem apenas deformacdo pura (linear e distorcional), ento , gu yaw gy tw tu @ ox ° a a ex Oz Interessa agora quantificar a parte distorcional. Considerando, por exemplo, dois seg- mentos perpendiculares entre si antes da deformagdo (PL ¢ PM na figura 1.20), a variagio do angulo que formam entre si (distoreo) sera av, du ‘gy = 2 Yo = OO = OT ay Portanto, as componentes da distorgdo serdio 1 (av ge) 2 ete S97 Gx |) Gy J ee eed ( 4 BH) te "= Fax 7 By ay 2 1(aw , dv \_ aw _ y, =—( — + —) = — = 1.98) mae * 9) ay 2 (128) _1(/ aw, a&v\_ aw _ yw =a + a ee et A = az ax/~ az (2 _1( du, aw) aw _ Ye 2a * ex) ox 72 As componentes do vector incremento de deslocamento, no caso da deforma- do pura, sordo: dhs = ey, dx + by, dy + 6, dz dv =e, dxte, dy+eq dz (1.99) div = tg det by dy + Oy dz e, portanto, a equagio = (1.100) representa o tensor das deformagdes puras (extensdes linear ¢ angular), que € simé- trico porque €,, = Ey» En = Ey € & = &,. Comparando as equagdes (1.99) com as equagées (1.11) ¢ (1.12),conclui-se que o tensor das deformagdes puras é formalmente idéntico ao tensor das tensdes em que o vector tensio S (S,, S,, S,) ¢ substituido pelo vector incremento de deslocamento dd dividido pelo comprimento do segmento ds, a dd (du, dv, dw) ds ds Se o segmento se deforma apenas na sua propria direcedo (fig. 1.21 b), a sua deformagio sera o incremento de comprimento dd = (Q-P) -(Q-P)=eds (L101) onde ¢ € 0 incremento de deslocamento por unidade de comprimento do segmento (Q - P), isto é, ¢ & a extensio (linear) sofrida pelo segmento. As componentes do vector incremento de comprimento sero: du = (€ ds) cos « = edx dv =(¢ ds) cos =edy (1.102) dw = (¢ ds) cosy =edz em que a, B € y so Angulos que o segmento faz com os eixos coordenados. Neste caso, as equagdes (1.99) tomam a forma 85 edx =e,,dxte,,dy+e,,dz edy=e,dx+ ... (1.103) edz=e,.dx+ ... dividindo ambos os membros desta equagio por ds e transpondo termos, vem ..—£) cosa +e,, cosB +e,, cosy =0 Ey COS & + (€,—€) COs +e, cosy =0 (1.104) €,,008 a +£,, C088 + (¢,,-€) cosy = 4143 Extensdes e direc¢Ges principals de extensao A resolugo do sistema de equagdes (1.104) permite determinar as direcgSes dos co-senos directores (cos a, cos 8 ¢ cos y) dos segmentos que sofrem apenas defor- magées lineares sem sofrer distorgao. Essas direcpdes sfio as direcgées principais das extensdes € as correspondentes extensées so as extensdes principais. Como se sabe, para que o sistema de equagdes (1.104) seja nulo € necessério que Egnt Sy e. | =0 fy Ey by (1.105) & &: Ear e ‘ou, em notagao condensada, | ¢;-8,¢ | =0. A equagio (1.105) ¢ do terceiro grau em ¢ e é formalmente idéntica & equa- so (1.63) relativa & determinagao das tensdes principais. Sendo o material homogé- neo e isétropo, as direcgdes principais da tensfo caincidem com as da extensfo. Verifica-se, deste modo, uma identidade formal entre o tensor das extensdes € 0 das tensées, 0 que permite escrever para as extensdes equagdes iguais &s anterior- mente dadas para as tensdes ¢ resolver pelas mesmas férmulas e processos, quer no espago, quer no plano, os mesmos problemas. A equivaléncia que é necessério estabelecer consiste em fazer corresponder As tenses normais as extensdes lineares € As tensées de carte metade do valor das distorgdes (y/2). 86 144 Deformacao volumétrica e deformagao de desvio. De um modo geral, a deformagao de um sélido envolve uma combinagio de variagdes de volume ¢ de forma, tornando-se assim importante saber qual a contri- buigo, num dado estado de deformagdo, da variagio de volume ¢ da variagio de forma. De uma forma andloga a considerada no estudo das tensdes num ponto,é possivel decompor o tensor das extensdes em duas parcelas responsdveis, respectiva- mente, pelas variagSes de volume e de forma. A extensdo volumétrica ou dilatacio é a variagdo de volume por unidade de volume que € definida considerando um para- lelepipedo rectangular com lados dx, dy € dz. O volume do paralelepipedo, depois de deformado, € (I + ¢,,) dx (I + ¢,) dy (I + ¢,) dz, uma vez que s6 as extensdes normais € que causam variagao de volume. A extens%o volumétrica A é dada pela equagio Vv. = (l+e,.) (I+¢,) (I+ ¢,) dadydz —dadydz = ve dxdydz =(I+e,) (1+e,)(I+e,)-1 4 onde V; ¢ V, so 0 volume final inicial do elemento. Para pequenas deformagdes, 0s produtos das extensdes podem ser desprezados, 0 que d4 Axe, te, ten (1.106) Portanto, para pequenas deformagées,a extensio volumétrica é igual ao primeiro inva- riante do tensor das extensdes A = ¢,, + &,, + &, = €, + €; + &,. De modo andlogo ao das tensées, pode-se definir uma extensdo média ou hidrostdtica c,, dada pela equagio Sete, tt, Ew 4 3 3 3 En (1.107) Portanto, as componentes do tensor das extensdes responsiveis pelas variagdes de forma serio 87 O tensor e%, € 0 tensor das extensdes de desvio e,portanto,o tensor das extensdes totais seré a soma de e’, com a extensio hidrostatica, o que da siseiten=(q-4a)+4 3, (1.109) Por exemplo, quando ¢, forem as extensdes principais (i = j), as extensdes de desvio SerdO £4, = €) — En, Oy = Ex — Ep, Ey = Sy — En. Estas extensdes representam alon- gamentos ou encurtamentos, segundo os eixos principais, que alteram a forma do corpo a volume constante. 1.4.5 Estados duplos de deformagao. Circulo de Mohr para as extensées Se as cargas aplicadas na superficie de um corpo forem distribuidas e nor- mais a essa superficie, € natural admitir que nfo s6 uma das tenses principais seja normal a superficie do corpo, mas também que uma das extensées principais scia normal dita superficie, estando por isso as outras duas extensdes princi num plano tangente & superficie do corpo, passando pelo ponto considerado. Haveria, assim, uma completa analogia formal entre o estado duplo de tensfio e 0 estado duplo de Fig. 1.22 — Circulo de Mohr das extensdes. 88 extensfo, incluindo a representagiio de Mohr. Tomando para eixo dos zz 0 eixo de , suposto normal A superficie, o tensor das extensées seria dado por: a= je, % 0 2 we 0 (1.110) 2 00 8 Sendo dadas as extens6es ¢,., €,, € Yx = Y,» a8 extensdes principais e respectivas direcgdes podem ser calculadas analiticamente pelas equagbes (1.104) ou graficamente pelo circulo de Mohr que é em tudo andlogo ao circulo de Mohr das tensées (fig. 1.22), em que no eixo das abcissas se marcam as extensdes lineares ¢ no eixo das ordena- das os valores de y/2. O Angulo 2a (fig. 1.22) da, como se sabe, a direcgiio da exten- sdo principal e, em relag&o ao eixo dos xx. 446 Roseta de extensdes; solucdo gréfica Existem varios processos experimentais de medir as extensdes A superficie de um corpo. O processo mais utilizado é sem diivida o do extensémetro eléctrico cujos fundamentos tedricos ¢ praticos sero brevemente referidos na seopio 1.7, No entanto, ‘© extensémetro eléctrico apenas permite medir extensGes lineares, no sendo possivel experimentalmente medir as distorgées. Portanto, num estado duplo de deformagéo para determinar as extensdes principais ¢ as suas direcgdes medem-se experimental- mente as extensées lineares segundo trés direccdes concorrentes num ponto,¢ por via analitica ou gréfica é possivel calcular as extensdes principais ¢ suas direcgdes. Os extensémetros que permitem medir as extensdes lineares segundo trés direcgdes deno- minam-se extensdmetros roseta, e existem varias configuragdes possiveis para estes extensémetros. Sejam, entdo, dadas as extensdes e,, ¢, € €., sendo e, > ©, >e,, € os dngulos a eB que fazem entre si (fig. 1.23). Pretende-se calcular as extensdes principais ¢, ¢ €, € © Angulo @ que uma delas (por exemplo, ¢,) forma com uma das extensdes dadas (por exemplo, ¢,). Analiticamente e através das equagdes de transformacio j4 dadas, é possivel escrever €, =, cos’@ + €, sen?® & =, cos’ @ +a) +e, sen? @+a) (LU) €, =e, cos @ +a +B) +e, sen’ @+a+B) 89 & Fig. 1.23 — Representacio esquemética de uma roseta de extensies. Este € um sistema de trés equagdes lineares em e, € ¢, a duas incégnitas, Para ser compativel terd de ser nulo o determinante €, cos’ sen’ 6 & cos! @ +) sen’ @ +a) (Ld e, cos’ @+a+f) sen? @ +a +8) donde se obtinha 0 valor de 8 que, substituldo no sistema de equagdes (1.11), per- mite obter os valores de ¢, ¢ e;. No caso particular de x = 45° ex +8 = 90". as equagées (1.111) dio 1 a= $e +e)+ 5-6) cos 20 B= Fe +e)+ fe -e)sen 20 6. =P +6)- F-«) 605 20 em que e, >e, >e, © >, + e/2 Resolvendo este sistema de equagdes, vem eaterar 2 [e-e+e-e]” e=tere- we [lee + eer] para qualquer ¢,>e, ¢ €, +e)/2 8 -& Outro proceso de resolver este problema & graficamente através do circulo de Mohr. A construgo gréfica ¢ explicada a seguir com auxilio da figura 1.24, sendo conhecidos os valores das extensdes lineares ¢,, ¢ € €, obtidos com os extensémetros a, bec, respectivamente (fig. 1.24), ¢ os Angulos « f. Pretende-se determinar ¢,, €, € 0 Angulo 8 (fig. 1.24). O procedimento a seguir é: 1. Tragar um eixo qualquer x’x e trés linhas verticais aa, bb ¢ cc corres- 2 a (1) As finhas extensémetro. sémeteo a. pondentes as extensdes ¢,,€,€.. ” A partir dum ponto qualquer da linha bb (extensémetro médio), tragar a linha DA que faz um Angulo « com bb e intersecta aa no ponto A. De mancira semelhante, tragar a linha DC intersectanto cc no ponto C. Construir um circulo que passe pelos pontos A, Ce D e com centro em O, ponto determinado pela intersecgdo das perpendiculares ao ponto médio das cordas CD e AD. . Os pontos A, De C no cireulo dio os valores de ¢ e y/2 para os trés extensémetros. . As extensdes principais sio a intersecso do circulo com o eixo horizon tal de e que passa pelo ponto O. O Angulo de ¢, com e, é metade do Angulo COP no circulo de Mohr (COP = 26). Ha seis circulos possiveis que dependem dos valores relativos das defor- magGes ¢ a que correspondem: BE >a >a 5 & Pe >A: Pere 1 rE rE >> € & >a >e ‘As extensdes principais sero ento e,, ¢,, podendo e, ser igual a zero ou a qualquer valor conhecido, mas sempre na direcgiio perpendicular ao plano onde os extensémetros esto colados (plano de ¢, ¢ ¢,). Conhecidas as extensdes principais, podem-se calcular as tensdes principais empregando as relagdes tensio-extensio. que representam os eixos dos extensdmetros so tragadat no ponto D com a mesma orientaglo que tém no Neste caso, a linha DC representa o extensémetro ¢, a linha DB o extensémetro 6 € a linka DA 0 exten- oO Fig. 1.24 — Cireulo de Mohr para a determinacdo das extensdes principais com extenséme- tros roseta. 4.5 RELACOES TENSAO-EXTENSAO PARA MATERIAIS COM ELASTICIDADE LINEAR Nas secg6es anteriores analisou-se a teoria do estado de tensio no ponte ea correspondente teoria do estado de deformagdo infinitesimal. No entanto, quando se aplica a um corpo um determinado sistema de forcas, este vai sofrer extensées ¢, deslocamentos u, € tensdes o,, em todos os seus pontos, sendo portanto necessério saber como se relacionam as tenses com as extensdes. O objectivo principal das teorias relativas ao comportamento dos materiais deformaveis consiste,ento,em esta- belecer as relagdes entre as tensdes o,, € ¢,, geradas num corpo de forma geométrica inicial conhecida, quando Ihe € aplicado um dado sistema de forgas. Estas relagdes so as relac6es constitutivas do material ou relagdes tensfio-extensfio que no caso mais geral dos materiais elasticos terao a forma «, = 0) (113) 92 em que @ sera uma fung&o crescente ¢ continua, A fungdo mais simples ¢ que mais se aplica aos materiais metdlicos € uma fungo linear entre as forgas e os desloca- mentos, 0 mesmo é dizer entre as tensdes o, € as extensdes ¢;. Esse € 0 caso da clasticidade linear cujas relagSes tensfio-extenso, na forma geral, ser’io ey = Choy (114) em que Cj so as trinta € seis constantes que relacionam as seis extensées com as seis tensdes no ponto, Desenvolvendo a equagéo (1.114), vem x = Cu tat Cu dy + Cy dat Cut + City + Cote Sy = Cy Oar + Cn Fy + Cy Oat Cateye + Crs tee t Cot en= (1.115) Co One + Cea Gy + Cos Oe + Cou Fay + Cis Tae + Cg Ter rT em que 0s coeficientes C,, so, como é evidente, caracteristicos do material que cons- titui 0 corpo c o seu significado tira-se das equagées (1.115). ABA - de freaks. generalizada para materiais com elasticidade linear, picos Para estabelecer a lei de Hooke generalizada nas condigées referidas, & neces- sdrio analisar os valores dos coeficientes da equagéo anterior. Assim, C,, sera o alon- gamento que sofre um provete de comprimento unitério feito do material em causa, quando submetido apenas a uma unidade de tenso, por exemplo, o, = 1 (Gig. 1.25). A constante C,, serd, portanto,um coeficiente de elasticidade cujo inverso & 0 mddulo de elasticidade longitudinal ou médulo de Young do material ¢, 1 == 1.116) a ane Sendo 0 material isétropo e homogéneo, o médulo E seré o mesmo quando medido em qualquer direcgo e, portanto, vem 93 Fig. 1.25 — Extensa linear provocada por tensdes normais. (1.117), © que resultaria de tensdes a, = Por outro lado, 0 provete sujeito apenas a tensfo ¢,, = | no sofrerd distor- $40, porque as tensdes normais provocam apenas extensées lineares,e portanto, Cu = Cy = Cu = 0. E como esta conclusto é valida para qualquer outra direcg&o G,, = | ou, = 1), segue-se que também Cy = Co = Ca = Ca = Co = Co = 0. Reciprocamente, aplicando uma tensdo tangencial ,, = 1 (ou t,, out, = 1), ndo se produzem extensdes lineares, porque nestes materiais as tensdes de corte provocam apenas distorgo no elemento como se exemplifica na figura 1.26. Sero, portanto, nulos os coeficientes Cy = Cys = Cy = Cu = Crs = Cy = Cu = Cy = Cy = 0. Por outro lado, as tensdes de corte x, produzirao distorgdes y,, proporcionais a essas o4 tensdes de corte e em que o coeficiente de proporcionalidade é G, 0 mddulo de elas- ticidade transversal. Portanto, Cu = Cs = Oe = 3 porque y = 22 € Cy = Cy = Cu = Cu = Cu = Cy = 0. Assim, as equagées (1.115), para materiais com elasticidade linear, homogéneos e isétropos, reduzem-se a: Pout Crs, + Cdn =Cyout bo, + Con fae 2 = Crt + Cn9,+ Loy (1.118) x gj ye Fig. 1.26 — Distore&o num elemento provocada por tensdes de corte. (1) Signitica, por exemplo. que-y<, € apenas proporcional ar, € as restantes tenses de corte ndo influenciam © valor dey r- LOEO, Cay = Cos = 02 95 Falta agora analisar o significado fisico dos coeficientes Cy, ¢ Cy. Cy, sera a extensiio ¢,, que se verifica na direceo yy, quando a tenséo o,, = 1 é aplicada na direcedo xx e todas as outras tensdes so nulas (6; = 0, i, j # x). Verifica-se, efecti- vamente,que em todos os materiais eldsticos que sofrem um alongamento e,, na direc do xx, proveniente da tens&o o,, € s6 dessa, se dé um encurtamento e,, ¢ €,, nas direcgdes que Ihe sio perpendiculares (fig. 1.27). E o chamado efeito de Poisson. O cociente (LH9) € urna constante eldstica do material e designa-se por coeficiente de Poisson. Entio, CaS, ou seja, Cy (1.120) ze e também Cy, =— = Tratando-se de um material isétropo, seré ainda y C= Q=-f (L121) as equagées (1.118) tomam finalmente a forma fn = $e, e5,) by = - Gut Fn) on &, = = -F.+,) (1.122) gu z. que constituem as equagées da /ei de Hooke generalizada para um material com Fig. 1.27 — Efeito de Poisson num barra prismética sujeita a tensdes normais. elasticidade linear, homogéneo ¢ isétropo. As equagdes (1.122) podem-se escrever na forma matricial e vem. e=[H]o em que H éa chamada matriz de flexibilidade do cubo unitdrio dada por WE -v/E -/E 0 0 0 H=| (1.123) -v/E WE -vE 0 0 0 -vE -vE WE 0 0 0 o 0 0 YGo o 0 0 0 0 VG Oo 7 1.5.2 Constantes elésticas mals importantes A tabela 1.1 apresenta valores das constantes eldsticas atras definidas"” para 05 materiais com maior utilizagio na indiistria. Outra constante eléstica importante ¢ 0 mddulo volumétrico de elasticidade K, que é a raziio entre a pressiio hidrostética e a dilatagdo produzida por essa pressiio (1.124) ‘onde (—p) € a pressdio hidrostatica e 8 a compressibilidade. Fazendo transformagies algébricas nas equagdes da lei de Hooke generalizada (equagées 1,122), € possivel derivar algumas relag6es tteis entre as constantes eldsticas, nomeadamente E E =—E— irs ; k=—E_ 1.126) Za+y 2) 3(1-29) (189 E=—K_ ; g= il-aKk ete, etc. 1+3K/G 20+) A lei de Hooke generalizada pode ser escrita em notacdo tensorial na forma AE a, - Fond; 127) Por exemplo, se i= j = x, vem ltv E Ou — ¥ 6. +4,,+4,) (D= t [ou -v 6, + +.)} Sei=xej=), vem = te . lty 2° &E tw E uO = (1) © comportamento dos materia face & deformagio depend, como ¢ evidenie, dos valores das suas constantes clést- cas. Eva influéncia sed discutida em eapitules posterior. 98. Tabela 1.1 Valores das constantes elasticas 4 temperatura ambiente para materiais isétropos Material Médulo de elasticidade, E Médulo transversal, G Coeficiente steel (MPa) (MPa) de Poisson, y Aluminio e ligas | ¢ 93, 17,98 10° | 2,59 10'-2,7x 10° | 0,32-0,34 de aluminio Lato 1,02 101,11 10° | 3,71 x 10'-4,2x 10" | 0,33-0,36 Cobre 1,19 10° = 1,26 x 10° | 4,06 x 10'- 4,69 10" | 0,33 -0,36 Ferro fundido | 9,1 x 10 1,47 10° | 3,64x 10'-5,74x 10 | 0,21-0,30 Ago ao carbono 1,96 x 10° — 2,24 x 10° | 7,59 x 10°—8,21 x 10* 0,26 — 0,29 ede baixa liga Ago inox (18-8) | 1,96 10° - 2,07 x 10° 7,31 x 10° 0,30 Titénio 1,06 x 10° - 1,15 x 10° 4,14x 10! 0,31 -0,34 Tungsténio 4,0 x 10° 1,57 10° 0,27 Vidro 4,97 x 107,94 x 10° | 2,62 103,24 10" | 0,21 -0,27 PMMA 2,41 x 10? 3,45 x 10° 1,04 10° 0,35 Polietileno | 1,38 x 1 -3,8x 10° 1,17X 108 0,45 Borracha 0,76 - 4,14 0,345 - 1,38 0,50 1.5.3 Cdlculo das tensdes a partir das extensdes eldésticas As equagées (1.122) podem ser resolvidas em ordem as extensdes elasticas, per- mitindo assim o calculo das tensdes a partir das extensdes. Deste modo, somando as trés primeiras equagSes (1.122), vem E Ou + Oy + On = TE Cat ey ten) (1.128) Como ¢,, = 1t¥ 6,,-% ©,.+5,,+0,), vem : F Cnt On teu o,, = Ee, + —E___ ©, +6, +6.) (1.129) T+v (+¥) (1-29) ou em notagio tensorial =-—E_ —vE___ =TH ©" Geyaea a ano vE A constante elastica = éa constante de Lamé, e como (itv) (1-29) A =e, +6, +€,,,8 equacdo (1.130), depois de expandida, da Oy =2Ge, + rd Oy =2Gey Hdd o, =2Ge,+0A (1.131) te =GYy te = Gn t, =Gy,, As equagdes (1.131) sfo as equacées da lei de Hooke generalizada em func&o das extensdes. As tensdes de desvio podem ser relacionadas com as extensdes de desvio atra- vés da equagdo o, = Ee, = 2G¢, (1.132) lt+v que resulta da equagio (1.131) porque A = 0. Assim, a relacdo entre a tensiio hidros- tatica e a extenstio média serd a, ty = 3 Key (1.133) -2v Para o estado plano de tensdes (0, = 0), as equagées que relacionam as ten- sdes com as extensdes serio obtidas resolvendo simultaneamente duas das equagées (1.122) e fazendo uma das tens6es igual a zero, o que da: E = €,+ve) (1.134 a,b) o> +e) 100 estado plano de tensdes verifica-se, por cxemplo, numa placa fina carregada no plano da chapa (fig. L6) ou num tubo de parede fina sujeito a pressdo interna quando nio ha nenhuma tensio perpendicular a uma superficie livre. Outro caso particular importante € 0 estado plano de extensdes (¢; = 0) que ocorre num corpo,quando uma dimens&o é muito maior que as outras duas, como sucede numa placa bastante espessa, num tirante longo ou num cilindro com as extre- midades encastradas. Neste caso, deverd sempre existir qualquer tipo de constrangi- mento fisico para impedir a extens&io numa direcgiio, de modo que aad [=-v@+9] 2 = aa bao) (1.1346) Portanto, no estado plano de extensGes desenvolve-se uma tensdo na direogo e,, cujo valor é dado por esta equagio. Substituindo este valor nas equagdes (1.122), 08 valo- res das extensées e, ¢ ¢, sero 1 ast [a =v) o,—0 (19) | = t [ae v(lesjai] (1.135) e 4=0 As equagées (.131) podem ser escritas em linguagem matricial na forma fo} =8 fe} _—Ea-y) (+y 0-29) com — (1.136) coop ocop—> eoco- p> oowooo owocoo mwoocoo sendo A = 7 e Ba cy ¢ Amati § chama-se matris rides do cubo = -¥ unitdrio ¢ € evidentemente a matriz inversa de H. Deste modo, [6)=[H"] (1.137) 101 © exemplo seguinte mostra como se calculam as tensées principais num ponto a partir das extensdes medidas num extensémetro roseta. Exemplo 1.3 ‘Numa roseta equiangular colada A superficie duma placa de ago de grande espessura medi- ram-st as seguintes extensGes: €, = 1300 x 10° (1300 ust."), ¢, = 1100 ust. € ¢. = 565 ust. Caloular as tenses principais © respectivas orientagies em relagao ao eixo do extensometro a (fig. 1.28). Considerar E = 2,07 x 10° MPa, G = 7,7x 10" MPa ev = 0.29. Fig. 1.28 — Exemplo 1.3: Roseta equiangular para calculo de tensdes principais Resolugio Para determinar as tensdes principais & necessério caleular em primeiro, ugar, as extensdes principais e respectivas direogées. Estas determinam-se utilizando simplesmente a construgio gré- fica da roseta de extens6metros descrita em 1.46 ¢ representada na figura 1.24, Neste exemplo, €, > ey > e¢ € 0 resultado obtido foie, = 1430 st. ; e = $43 ust, © O = 25°, Angulo de e, com 0 cixo do extensémetro 2 no sentido dos pontciros do relégio. As tensdes principais terdo ‘as mesmas direcpdes que as extensGes principais e obtém-se a partir das equagées da lei de Hooke generalizada-para o estado plano de extensbes (¢; = 0 € 0) * 0) caracteristico de uma placa ‘espessa, Assim, considerando as equagées (1.131) ¢ (1.134 c), vem o,=2Ge+ 7 Giteted=2Ge +00 (i+ 5 Gite tea 2Gn4ns @ y (1) “Ust” 6 2 abreviatura da palavra inglesa micrusiran que indica uma eviensfo igual a 10"° que, como se viu. nfo tem unidades, 102 Acconstante de Lamé & ) = —029% 207% 10° _ _ 1 1985 10° MPa (1 + 0,29) (1-2 0,29) Substituindo nas equagSes (a) ¢ entrando com os valores de E, Ge v vem 2X 7,7 x 10* x 1430 x 10% + 1,108 x 10° (1430 + 543 + 0) x 10% 2x 7,7 x 10° x 543 x 10% + 1,108 x 10° (1430 + 543 + 0) x 10% 21491 MPa q, 438,83 MPa 302,23 MPa % Estes so os valores das tensdes principais em estado plano de extensfo, Se a placa nfo fosse espessa, era valido 0 estado plano de tensdes (; = 0). Como os extensémetros sé fazem leituras no plano, vinha também e, = 0. As equagles (1.134 a,b) permi- tem ento calcular as tenses principais, Substituindo valores, vem 5 ite) = ROTATE (1430+ 0.29 x 543) x 10° = 358,78 MPa (6; + ve) = AOL (543 + 0,29 x 1430) x 10 = 216,45 MPa a-v) (1 0,29") As tensSes principais sto inferiores ag calculadas considerando um estado plano de extensio. Portanto, quando se calculam tensdes principais a partir de extensGes medidas com extenséme- tros eléctricos, é fundamental verificar se a dimensio da pega na direc¢lo perpendicular ao plano onde os extensémetros esto colados ¢ suficientemente grande para poder provocar um estado plano de extensées. Em caso afirmativo, devem-se usar as equagées do estado plano de exten- 360s, pois o emprego das equagdes do estado plano de tensdes poderd conduzir tenses de valores inferiores aos reais, o que niio é admissivel. 4.6 ENERGIA DE DEFORMACAO A cnergia eléstica de deformac&o, U, é a energia gasta pela acco das forcas externas na deformacdo de um corpo eldstico, Fundamentalmente, todo o trabalho realizado durante a deformagéo eldstica é armazenado como energia elastica e esta energia € recuperada na libertagéo das forgas aplicadas. Energia ou trabalho ¢ igual a uma forca multiplicada pela distancia em que esta actua. Na deformagio de um corpo eléstico,a fora e a deformag&o aumentam linearmente a partir de valores ini ciais nulos e, portanto, a energia média ¢ igual a metade do seu produto, quantidade representada pela drea tracejada da figura 1.29, que traduz a variagio da forca apli- cada P com 0 deslocamento 8 produzido por essa mesma forga na direcgfio da forca. De acordo com a definic&o anterior de energia e considerando um ciibo cle- mentar de lado dx sujeito apenas a uma tensio de tracgfo segundo o eixo dos xx (estado unidimensional de tens&o), a energia elastica de deformagio do cubo sera dada pela equagio 103 aust FPAB= FG, A) Gud) =4 66.) (A dx) (1.138) onde A é a rea das faces do cubo e d3 é 0 deslocamento do lado dx (fig. 1.29). Esta quantidade elementar de energia est indicada na figura 1.29 pela area som- breada. A integrag&o da equagéo (1.138) permite calcular a energia de deformacdo de tracgo ou compressio num corpo elastico submetido a um estado unidimensio- nal de tensfo. A energia por unidade de volume, U,, ou densidade da energia de deforma- Go, poderd ser obtida dividindo a equagio anterior pelo volume do cubo, Adx, 0 que dé (1.139) aplicando a lei de Hooke. De maneira andloga, a densidade de energia de deforma- do para um elemento sujeito a um estado unidireccional de corte puro sera (1.140) Fig. 1.29 — Energia elfstica de deformacao num diagrama P, 5. 104 em que y,, é a distorgio provocada no elemento apenas pela tensio de corte te =Gyy. Por sobreposic&o pode-se obter a densidade de energia de deformagéo para uma distribuiggo de tensdes geral tridimensional. Note-se que as extensdes laterais que acompanham a deformagio na direcgo da tensdo aplicada ndo entram nos ter- mos energéticos porque nao produzem trabalho. ‘A equaco geral sera: vu, Fata t Oy + outa t Ta tet tate ete (4p ou em notagio tensorial Gey (1.142) a Substituindo as equagies da lei de Hooke generalizada na equagio (I. 141), vern U, ¥ 2.403403) -E Cu, +0, On Ou 0) + apeh tht) (1.143) em fungdo das tensées ¢ das constantes eldsticas ou FIG Leh +e 4+ TCU ty yD (1.144) em fungdo das extensées e das constantes elisticas. Desta andlise verifica-se que a derivada de U, em ordem a qualquer compo- nente da extens&o da a correspondente tens4o. Por exemplo, Bana +266, (1.145) Da mesma maneira, 0U,/80,, = €.,. Através do célculo da energia de deformagéo elastica € possivel calcular tenses e extensdes e, ainda, forcas ¢ deslocamentos, o que constitui uma ferramenta poderosa da andlise estrutural que seré desenvolvida poste- riormente no capitulo referente aos métodos energéticos. Exemplo 1.4 O provete representado na figura 1.30 tem colado numa das suas faces laterais um exten- sometro roseta de 45° ¢ est submetido a um ensaio de tracedo em que a forga ¢ aplicada segundo © cixo dos zz como se indica na figura. As leituras obtidas nos dois extens6metros da roseta a € so, respectivamente, ¢, =e, = 1050 yst. Considerar as seguintes questdes: 105 ) Qual a leitura esperada no extensémetro ¢, considerando 0 coeficiente de Poisson v = 0,337 Justificar. ) Caloular as tensdes principais, sabendo que o material da peca é aluminio com médulo de elasticidade E = 7,1 x 10* MPa. ©) Verificar se a solicitagio aplicada esta dentro da validade do dominio eldstico para um mate- rial com tensAo de cedéncia igual a 240 MPa. 4) Calcular a variagfo de volume sofrida pelo provete. ©) Calcular a tensio normal e de corte numa faceta cuja normal é OA. ) Calcular a extensio linear ¢ a distoredo para o segmento OA representado na figura 1.30. 12) Supondo que 0 ponto central (origem dos eixos) niio se desloca, determinar a posi¢io apés a deformagio do segmento AB = 20 mm representado na figura 1.30 (b) cujo ponto médio dista 60 mm da origem do sistema de eixos, Tx=O (50,50,100) (a) z O30, Fig. 1.30 — Exemplo 1.4: (a) Peca com um extensémetro roseta submetida a uma tensio o,,. {b) Vectores de posi¢o do segmento AB. (c) Geometria da deformactio do seg- mento AB. 106 Resolugio A geometria do provete com secedo transversal constante permite concluir que as tensGes so constantes de ponto para ponto, O estado de tensio no varia ao longo das faces do pro- vete, embora varie com a direc¢lio, como se sabe, 4) Na direcefio do extensémetro c,as tensées normal ¢ de corte sero nulas porque a Gnica ten- so principal existente na pega € a tensio 0, = a4, que se exerce nas faces superior ¢ inferior. Logo, as tensdes nas direcgées perpendiculares ao cixo dos 22 terdo de ser nulas, Devido ao feito de Poisson, hi uma contracgio transversal na direcelio ¢ causada pela tensio a... Por- tanto, a extensio no extensémetro c sera a extensio principal ¢; = ¢, =e se sve @ em que ¢; € a extensdo segundo a dircegéo principal | causada pela tensio o.. (fig. 1.30 a). Para calcular ¢, pode-se utilizar o circulo de Mohr das extensdes considerando 0 valor das extensdes e, € ¢, cuja direegdo € a 45° com o extensémetro c € direceao principal 1. O circulo de Mohr respectivo é 0 representado na figura 1.31, donde se retira, considerando a equacdo (a) ~ 1050 ust, Analiticamente podia-se com v = 0,33, ¢ obter a solugao resolvendo o sistema de equagées (1.111) b) A tensio principal a, calcula-se utilizando a equagao da lei de Hooke, Substituindo, vem 6, = Ee, = 223,65 MPa ‘As outras tenses principais so nulas (0; = 0; = 0). ©) A tensdo calculada na alfnea anterior € inferior & tensio de cedéneia de 240 MPa, pelo que a solicitagao aplicada esti dentro do dominio de validade da aproximago eléstica. d) A variagdo unitaria de volume ou dilatagio A é dada pela equaglo (1.106) que, neste caso, vera A =e, +e; +e) = (3X 1050-2. 0,33 (3.x 1050)) ust = 1071 x 10°* = 0,107% A variagéio real de volume do provete (V; — V.) seré Vi- Vy = AV, = LOI x 10° (100 x 200 x 100) = 2142mm? ) Para caleular a tenstio normal a, ¢ a tensfo de corte +, na faceta cuja normal ¢ OA é neces- sério calcular, como se sabe, 0s co-senos directores da normal. Considerando a figura 1.30 com a notacio ja dada, vem 1= cose 50 408 ~ a=659° Narre el * 107 Fig. 1.31 — Exemplo 1.4: Cireulo de Mohr para a roseta de extensémetros da figura anterior. 100 + 50? + 50° 1-@+7)~m=0408 — 6 = 65," = 0816 ~ y= 35,9 Substituindo nas equagées (1.31 a,b) que dio as tenses num plano oblique em fungéo das tensées principais, vem 6,=0,0'= 1489MPa ¢€ +, =ofn?m?+oin?/? ~ +, = 105,3 MPa 1) A extensio linear 4 ¢ a distorgio y, do segmento OA determinam-se ulilizando equagSes andlogas as equagdes (1.31 a,b) fazendo corresponder ao ~¢ €a T —y/2 Assim, vem 1m? +e, m+ e,/? = 3 x 1050 x 0,816 — 0,33 x 3 x 1050 (0,408? + 0,408) = 175t ust WY =e, —e)' m+ 2) m P+ @,-2)' nF Ya = 3945 x 10 108 8) As novas coordenadas do ponto A,apés a deformacio, so definidas pelo deslocamento dese ponto que softeu uma extensio ¢ uma distorgio calculadas na alinea anterior. Assim, 0 ponto AA deslocou-se segundo a direcgéo OA de uma quantidade igual a (AD, =, OA 214mm € rodou em torno do centro O de um Angulo y, = arctg 3945 x 10° = 0,226° h) Os pontos A ¢ B do segmento AB (fig. 1.30 b) vio ocupar novas posigdes A’ ¢ BY definidas pelos vectores de posigio ui e u% (fig. 1.30 c). Nesses pontos, a extensio linear ¢ a distorgéo so, respectivamente, €4, €p, Ya € Ya que serdo calculadas considerando a deformacao homo- génea (proporcional em relagéo a origem dos cixos). Os co-senos directores so os dos vecto- res que unem estes pontos com o ponto central O, o que da, antes da deformacio: finns reg —l0sen 45°_ 10 sen 45° = 0,994 | (60+ Weos 45%) n= 0,105 8 ['" = cos (arg gist) 0,991 n= 0,132 Considerando as equagées da alinca f}, pode-se calcular €4, €8, Ya Te ey Se; + ey = 3x 1050 X 0,105? —0,33 x 3150 x 0,994? = - 992,33 ust. (ra/2) =) —e))? 2? = (0,33 x 3150 — 3150}? 0,994 x 0,105? —-y.4 = 874,5 x 10° p= - 966 ust. yy = 1096x 10° Os vectores de posigdo dos pontos A’ ¢ Bt terdio méduilos OA — Tae, = [(60 + 10 cos 45° + (10 sen 45"? (1 — 992,33 x 10%) = 67,376 mm OBey = [(60 — 10 cos 45°F + (10 sen 45)7]"? (1-966 x 10) = $3,348 mm Os angulos destes vectores com 0 eixo dos 22 serdo iguais ao Angulo inicial menos a distorgdo (ra. 0070), a, = are cos 0,105 —are tg 874,5 x 10 = 83,923" arc cos 0,132 + arc tg 1096 x 10 = 82,478° A distancia AB, apés a deformagdo, pode ser agora calculada trigonometricamente conside- rando a geometria da deformagao definida na figura 1.30 (c). Nessa figura vem 2) +2, =U) 005 04 + Up 008 9 = 14,116 mm 109 2) = uk sen ay — Up sen ay = 14,108 mm my sen [are 'g | Devido a deformacdo, o segmento AB encurtou de 20 para 19,957 mm. XB = = 19,957 mm Exemplo LS Num determinado ponto de um material, o tensor das tenses em relagio ao sistema de eixos oxyz] € definido pela seguinte matriz s=[2 12 15] [MPa] 2 Bw oO 3 0 0 2) Calcular as extensdes principais e a sua orientagdo em relagio ao sistema de eixos [oxyz] (E=207x 10° MPa e v=0,3). b) Caracterizar o sistema das tensdes ¢ extensdes de desvio em relago ao sistema de eixos [oxyz]. ©) Calcular a energia de deformacdo unitéria, Resolugio a) Sendo dado o tensor das tensdes, as extensdes principais ¢), ¢; €, calculam-se a partir das tenses principais. Neste exemplo, a equac&o das tensGes principais é o-J,o7+J,0-J,=0 @ em que J, = 20+ 18+0=38 J, = 20x 18 + 200+ 18x 0-12 = 15% Jy = 20 18 0+ 2x 15x 12x 0-20 0-18 x 15° 0x 1? = 4050 A equagiio (a) fica 0° —38.67—9a + 4050= 0 10 A solugio € 4,94 MPa ; o,= 1241 MPa e¢ o)=~9,35 MPa Considerando a lei de Hooke generalizada em fungdo das tensdes principais, podem-se calcular agora as extensdes principais L 1 oe ==[s,-v @, + = 94 — 0,3 (12.41 -9.35)] = 164 ust. = (0; + 9,)] wee (34 (14 SN] st. 1 I = = [e-v @ + 6)) = ——_[12.41 - 03 (34,94-9,35)] = plerv e+e) Taree t 10,3 (34,94 - 9,35)] = 22,9 ust. 1 2.07 10° [- 9,35 -0.3 (34,94 + 12.41)] =— 114 ust. AS ditecgtes principais das extensdes coincidem com as ditecgées principais das tensdes, Procedendo de um modo anélogo ao do exemplo 1.1 determinam-se 0s co-senos directores. ‘A seguir indicam-se os sistemas de equacdes obtidos para as trés diteegbes principais Direcedo principal 1 ~1494a, + 2a, 15a 12a, - 1694a,=0 1$a,-3494a,=0 A solugio deste sistema € a, = 0,77 : a= 0.55 © a)=0,33 Direcedo principal 2 7,59, + 12a, + 15a, =0 12a, +5,59a,=0 15a,-1241a,=0 A solugio € a, = 0,38 ; a= Direcedo principal 3 29,35) + 12a, + 15a, 12a, +2735; = 15a, +9,35a,=0 Asolugio €a,=~0,51 ; a,=0.225 e a,=082 iW b) Para definir o sistema das tensdes de desvio & necessério calcular primeiramente a tensio hidros- tatica oq, que é dada pela equacdo (1.37). Substituindo valores, vem o.=Dthtn _ 38 . 3 3 12,6(@ MPa Portanto, o sistema das tensdes de desvio, considerando a equagio (1.38), ser Cs te | =[3@ KB 15 {MPa] ty Cy-Ga) te 2 $39) 0 Te Th, @x-am)| | 1S 0 = 12,6 (6) istema das extensdes de desvio determina-se a partir das tensdes de desvio conside- rando a Ici de Hooke generalizada, Calculam-se, em primeiro lugar, as extens6es totais Flow -¥ 6, +o.) = + [29-03 (18 + 0]] = 70.5 ust 2,07 x 10° I % ey =Y (xy + 6,)] = —— [18 -0,3 (20 + 0)] = 58 ust y Tx 1 1 1 1 fe, -v @.. +5,)] = —-_03 (+ 18)] =- 55,1 pst glen -¥ Gu + 5,)] apie Es ws 2 ISL ust (consideror G e ‘7,96 x 10* MPa) 2. use G= = 7, 7.96% 10° x 21+») at 15 = 188 796x108 (O tensor das extensées em relagio ao sistema de eixos [ oxyz] ser co 10,5 151 188 [pst] 1st 58 0 188 0-551 Pode-se, agora, calcular as extensdes de desvio utilizando a equagSo (1.108), para 0 que é preciso calcular a extensiio média ¢,, dada pela equagio (1.107) Eatin $6, fg = TEER = 24.46 (0) st 112, O tensor das extensdes de desvio seré j= nen) Yor Ya = 46,03 151 188 | [ust] Ya Grn Yn 151 33,53 0 Ys Ye €a-Ea) 188 0 —79,56 ©) A equagio (1.141) di a energia de deformagio unitéria em fungio das tensBes ¢ extensées, Substituindo os valores numéricos, ver. t Us =F Cru bea + Ope yy F Bae See + Bay Yor t Fay Yor + Fae = Fox m5+ 18 x 58+ 0 (- 55,1) + 12 151+ 15x 188+ 0x 0) x 10° = 3,543 x 10? MPa 4.7 FUNDAMENTOS DE EXTENSOMETRIA ELECTRICA 4.7.4 Introdu¢ao No projecto de uma estrutura ou de um elemento estrutural as tensdes, os deslocamentos € as extensGes podem ser calculados com maior ou menor preciso utilizando 0s métodos analiticos que sero desenvolvidos em capitulos posteriores. No entanto, em muitos casos priticos conveniente medir experimentalmente as exten- sdes nos componentes ou estruturas. Assim, a utilizagio de métodos experimentais para anilise de tensdes nos corpos elasticos recomenda-se na a) avaliagdo e projecto de estruturas e componentes de forma complexa, para as quais as solugdes analiticas ou numéricas podem nao fornecer resulta- dos suficientemente exactos; b) avaliagdo da influéncia das descontinuidades geométricas existentes nas pecas € consequente optimizagao da sua forma,com vista a reduzir um fendémeno que se designa por concentragio de tensdes ¢ que sera estudado em mais pormenor num capitulo especifico (capitulo 10); c) determinagdo “in situ” ou em servico dos espectros de carga ou de tensio desenvolvidos nos elementos estruturais para comparag&o com os espectros de carga ou de tensdo assumidos no project analitico. Este aspecto é par- ticularmente importante no caso de solicitagdes dinamicas que provocam fadiga,e constitui aspecto imprescindivel no desenvolvimento de protétipos na industria automével, acronautica, ferroviaria ¢ outras. 113 Sio varios os métodos existentes para andlise experimental de tensées, embora quase todos 6 fornegam resultados precisos dentro do dominio eléstico, o que alias corresponde na prética A regido de tensdes utilizada na grande maioria dos casos. Entre as técnicas e métodos mais utilizados ha a referir a fotoclasticidade, vernizes frdgeis (“brittle laquer”), franjas de Moiré e extensometria eléctrica. Este ultimo método, devido a sua simplicidade, baixo custo, preciso de resultados ¢ campo de aplicagdo (permite utilizaglo directa na propria estrutura ou pega), € de longe o mais utilizado na indistria © na investigagao e serd, portanto, sobre ele que se referiro os aspectos mais fundamentais, sem ter a pretensfo de desenvolver o assunto em pormenor, 0 que no estaria no Ambito dum curso introdutério. Pretende-se apenas abordar os fundamentos mais importantes da extensometria eléctrica, focando principalmente os aspectos de seleccdo e utilizagio de extensémetros e referindo de forma sintética as aplicagdes mais importantes ¢ o tipo de instrumentago mais utilizada. Para um maior desenvolvimento deste assunto,é conveniente consultar a bibliografia especializada refe- rida no fim do capitulo. 1.7.2 Principio de ftuncionamento e constugdo do extensémetro eléctico E conhecido 0 facto elementar de que quando um fio metilico se deforma a sua resist&ncia eléctrica varia. S6 em 1938 ¢ que este principio foi utilizado como processo de medida das deformagées & superficie de uma pega, Desde essa altura 0 extensémetro eléctrico tornou-se a técnica mais importante e mais usada na andlise experimental de tenses. O extensémetro eléctrico € utilizado ndo sé em pequenos -B- yy Fig. 1.32 — Extensémetros eléctricos. 14 componentes, mas também na determinagdio de deformagdes em grandes estruturas, devido ao facto de as suas leituras serem faceis de registar ¢ analisar. Os extenséme~ tros eléctricos primitivos consistiam num fio metalico fino (aproximadamente 0,025 mm de didmetro) dobrado em forma de grelha e colado a um revestimento fino de papel. Esta unidade completa € em seguida colada na superficie do corpo na regio em que se pretende medir a deformaco. Posteriormente este tipo de extensémetro foi desenvolvido para o extensémetro do tipo folha, em que a rede de fio,em vez de ser colada, ¢é obtida por impressio numa folha metilica extremamente fina, Mais recen- temente apareceram ainda os extensémetros do tipo semicondutor. A figura 1.32 mostra exemplos de extensémetros do tipo “grelha”, do tipo “folha” e semicondutores. Como se referiu, um condutor metalico, quando deformado, altera a sua resis- téncia eléctrica. Um método simples de medir a variag&o de resisténcia é por inter- médio de uma ponte de Wheatstone (fig, 1.33), na qual os quatro bragos da ponte contém resisténcias, uma das quais ¢ sempre o extensdmetro activo. A montagem dos extensémetros na ponte pode ser feita fundamentalmente por trés processos: a montagem em 1/4 de ponte, em que se utiliza apenas um extensémetro activo, a montagem em 1/2 ponte, com dois extensémetros activos, ¢ a montagem em ponte inteira, com quatro extensémetros actives. No caso das montagens em 1/2 ponte € ponte inteira, a sensibilidade dos extensdmetros pode ser, respectivamente, duas ou quatro vezes maior do que na montegem em 1/4 de ponte. uma fonte de tensdo fornece a forca electromoitriz e um galvanémetro detecta adiferenga de potencialentre dois pontos extremos. Fig. 1.33 — Ponte de Wheatstone utilizada com extensémetros eléctricos. us A deformagdo na pega provoca a deformado do extensémetro e a consequente variagdo de resisténcia ¢ detectada e medida ng ponte de Wheatstone. Uma relagac proporcional entre a deformagio ¢ a variagdo de resisténcia permite que a deforma cho seja medida, 1.7.3 Tamanho e forma dos extensémetros Existem presentemente muitos fabricantes de extensémetros elgctricos,e gtia aqui impossivel fornecer detalhes sobre todos eles. Contudo, tem interesse apreciir a gama de extensémetros disponiveis, versando .os aspectos de resisténcia e corent’ eléctrica, dimensdes, material da fio, compensagio de temperatura, humidade, co gem, etc. Para 0 fio do extensémetro tém sido usados varios metais, sendo,o mais JoPU- lar uma liga de cobre ¢ niquel com composic&o mais ou menos equilibrada. Outra liga de grande utilizagio é a de niquel, crémio e ferro com outros elervntos em menor quantidade. Nos extensémetros do tipo semicondutor © condutoré normal- mente silicio. A resisténcia dos extensémetros varia normalmente entre 120 e 64 9, embora em certos tipos especiais possa ir até 10000 Q. A intensidade de cattente eléctrica tem valores compreendidos entre 20 ¢ 40 mA. O comprimento lineardo enrolamento pode variar de extensémetro para extensémetro. Os limites mais aormalmente usa- dos so entre 100 ¢ 0,5 mm. Em zonas da pega em que se preva uma distribuigio de deformagics relativamente homogénea devem usar-se extensfmetros com compri- mento linear de enrolamento entre 10 ¢ 25 mm. Nas zonas deconcentraco de ten- slo ou sempre que se pretende um valor de extensdo numa ‘ea especifica,os exten- sémetros devem ter comprimentos lineares de enrplamento menores que 2 mm. Em qualquer dos casos, 0 valor da deformagio obtida é semps a “média” das deforma- g6es nos pontos situados na area do enrolamento. Quanta‘ menor for a 4rea coberta pelo cnrolamento, mais o valor da extensdo obtida se eproxima da situagio tedrica da extensdo num ponto. Um extensémetro eléctrico s6 mede extensies nj direcgdo longitudinal do enro- lamento. Nos casos em que as direcgdes das extensdes sejam conhecidas basta colar 08 extensémetros segundo essas direcgdes. Quando se desconhecem as direcgdes das deformagées num ponto da superficie é necessario ter trés extensémetros colados, de forma que os prolongamentos dos enrolamentos convirjam no ponto em que se pre- tende medir a deformag&o. Este tipo de extensémetro € 0 extensémetro do tipo roseta, que pode assumir varias configuragdes, conforme se representa na figura 1.34. As rosetas so geralmente de 45° ou 60° (fig. 1.34. Existem, ainda,os extensémetros em T que permitem medir as extensdes longitudinais ¢ transversais, Basta colar o exten- s6metro principal na direccdo longitudinal ¢ 0 outro extensémetro perpendicular a este medira as extensdes transversais (fig, 1.34). b) v Fig. 1.34 — Extensémetros eléctricos do tipo roseta e em T para medicdo de extensdes trans- versais. 4.7.4 Sensivrilidade axial do extensémetro ‘A equa ¢4o que rege o principio de funcionamento do extensémetro ¢ a bem conhecida equag io (1.146) em que R é a resisténcia de um condutor, de resistividade p, ¢ /¢ A so 0 compri- mento ¢ a drea da secg4o transversal do condutor. A equagao (1.146) indica que se © condutor variar de cornprimento devido & deformac&o, 0 que também implica varia- ho de area, a resisténcia varia. Contudo, a experiéncia mostrou que a variagao de resisténcia nfo € simplesmente uma fung&o da variagdéo de geometria do condutor. Parece que a resistividade varia proporcionalmente a deformagao. Considerando todos os factores da equago (1.146) como varidveis ¢ derivando, vem aR = -PAdl+ /Adp pda (1.147) x dR _ pAd/+lAdp-bdA _ di , dp _ dA R ‘Agel 7 pA CH) Dividindo por di/! vem ARIK _ 1 dele _ MA (1.149) di/i did Adi 7 volume do condutor é V = Al. Portanto, dV = Adi + IdA (1.150) Pode-se demonstrar, a partir das equagées da lei de Hooke generalizada (seccdo 1.5), que WW =c(-29 (isp Portanto, tL (1-20) Al= Adl+ MA (1.152) AL MA. —-2v (1.153) e @R/R _ 1, dole. MUR = 1+ Ble 4 2y (1.154) O factor dR/R if denomina-se sensibilidade axial ou factor do extensémetro ¢ representa-se por K,, isto ¢, K=1+ ee 2v (1.155) Sendo AL =e,a equasto (1.154) dé 1 aR x (1.156) Portanto, o factor do extensémetro, K, ¢ o factor de proporcionalidade que relaciona a extensfo com a variago unitdria de resisténcia no extensémetro. Essa variag&o de resist@ncia € convertida numa variag&o de voltagem que é detectada no aparelho de leitura incluido na ponte de Wheatstone do circuito. A lei de Ohm permite relacio- 118 nar a voltagem, a resisténcia e a intensidade de corrente. Usando, por exemplo, uma diferenga de potencial nos terminais do extensémetro de I volt, a variagdo de poten- cial a detectar seria AV = ARI = AR ut em que a intensidade de corrente é constante. Como AR = Ke.vem AV=Ke (1.157) Como os valores de e sio normalmente muito pequenos (menores que 10° x 10°)", as variagdes de voltagem obtidas sdo também muito pequenas (da ordem dos mili- volis), 0 que exige galvanémetros de grande sensibilidade. s fabricantes de extensémetros indicam um factor do extensémetro que na maior parte dos extensémetros com fio metilico pode variar entre 2 ¢ 3,5. No entanto, 0s extensémetros semicondutores apresentam factores que andam a volta de 100, 0 que os torna extremamente sensiveis e, portanto, particularmente indicados para medi- ¢es de grande preciso 41.75 Sensibilidade transversal A disposigio dos enrolamentos nos varios tipos de extensémetros mostra que uma pequena parte do enrolamento esté orientado perpendicularmente ao eixo do extensometro. Este enrolamento reage as deformagdes perpendiculares & direcgo do extensémetro € provoca uma sensibilidade transversal cujo factor € K,. A razio K,/K, 6 de cerca de 2%. A calibragdo do fabricante é levada a cabo num campo uniaxial de tensdes, de modo que, se o extensémetro for usado em servigo também num estado uniaxial de tensdes, a sensibilidade transversal pode ser desprezada. Se 0 extens6metro estiver num campo de tensdes bidimensional, as leituras serdo afectadas pela deformagao trans- versal, devendo-se aplicar uma correcgio para se obter a deformag&o verdadeira ao longo do eixo do extensémetro. Sendo K,/K, = n, demonstra-se que as deformagées verdadeiras em duas direc- odes perpendiculares em fungdo das deformagées medidas nessas direcgSes S40 MO @j—ne) = nel) (1.158) l-n 1-n (1) As extensdes na dominio elistica. por serem muito peyuenas (< 0,005 geralmente), exprimemse em miltiplos de 10", quantidade que € designada por “microstrain” (ust). 119 em que ¢, € €, so as deformagies verdadeiras axiais e e; e e; so as deformagées aparentes devido a variagdo de resistencia. A sensibilidade transversal do extensémetro de folha ¢ quase nula devido a resisténcia muito baixa das suas extremidades. 41.7.6 Compensacdo de temperatura e humidade As variagdes na temperatura ambiente afectam as leituras de um extensome- tro devido fundamentalmente a dois factores. Uma variagdo de temperatura causa uma variagZo na resistencia de um condutor e, para além disso, devido aos diferen- tes coeficientes de expansdo térmica entre 0 extensémetro € a peca, provoca-se uma deformacao aparente no extensémetro durante a variagao de temperatura. Estes efei- tos néo podem ser desprezados, mesmo que a variagio de temperatura seja apenas de alguns graus centigrados. Uma solugo que pode ser utilizada para eliminar este efeito consiste em lizar um extensémetro “passivo”. Trata-se de um extensémetro que tem a mesma resisténcia ¢ sensibilidade que o extensémetro activo existente na pega. Esté colado numa pega de metal do mesmo tipo daquele que est a ser ensaiado, no sotre defor- magio e essa pega é colocada perto do extensémetro activo. O extensémetro passive forma um dos bragos da ponte de Wheatstone, de modo que qualquer variagZo de resistencia do extensémetro activo causada por variagao de temperatura também surge no passivo ¢ esta compensagio nfo altera o balango da ponte. Existem, no entanto, extensémetros que realizam a compensagdo de temperatura sem recorrer ao uso de extensémetros passivos, o que oferece vantagens dbvias em termos de custo e redu- do de tempo de preparagio das montagens. Estes extensémetros sio denominados autocompensadores, sendo a compensagéo de temperatura realizada através de um fio condutor de um metal andlogo ao do material onde o extensémetro esta colade © que esta ligado entre os dois terminais de saida do extensémetro. ‘A humidade € outro factor que pode afectar seriamente o desempenho do extens6metro, A corrosio electroquimica do filamento faz aumentar a resisténcia, ¢ a ligagdo A terra do extensémetro no se tora efectiva. A impermeabilizagio do exten- sémetro depois da fixagéo pode ser conseguida cobrindo-o com substancias tais como cera de petrosene ou um composto chamado Digel. Esta operagio consegue efecti- vamente proteger 0 extensémetro da humidade. 1.7.7 Métodos de fixagdo A operagao de colagem do extens6metro superficie da pega € bastante directa. mas requer cautela e paciéncia para se obterem resultados de confianca. O factor mais importante é assegurar que o extensémetro esté homogeneamente colado ao 120 longo de toda a superficie metélica, Primeiramente, € necessério garantir que a super- ficie de colagem esteja livre de poeiras, nfo oleosa e muito ligeiramente rugosa para assegurar a aderéncia da cola. Depois de limpar levemente as costas do extenséme- tro e aplicar um fina camada de cola na superficie metalica, 0 extensémetro € colo- cado na posigéo de colagem aplicando-se uma pressio homogénea e firme para remo- ver os excessos de cola e bolhas de ar. Os fabricantes de extensémetros recomendam 08 produtos de limpeza que devem ser utilizados ¢ indicam valores para a pressdo de colagem. As colas que se utilizam so fundamentalmente de dois tipos: nitrocelu- lose e de secagem répida. As colas do tipo nitrocelulose secam temperatura ambiente em um ou dois dias, embora este periodo possa ser reduzido por aquecimento no forno a temperaturas entre 55 e 70 °C. Mais recentemente apareceram as colas de fixagio rapida com endurecedor ¢ adesivo,e que permitem uma secagem em trés a quatro horas ou em menos de uma hora com aquecimento na estufa entre 50 a 80°C Depois de colado e verificada a ligacdo A terra, o extensémetro esta pronto a ser ligado ao circuito da ponte. 4.7.8 Circuitos eléctricos para deformagées estéticas © circuito da ponte de Wheatstone foi representado na figura 1.33. Conside- rando a lei de Kirchoff, no caso da passagem de corrente num circuito, ¢ a lei de Ohm, obtém-se uma diferenga de potencial nula através de AB quando se verificar a relagdo Ru. By (1.159) R Ry Sendo R, a resisténcia do extensémetro passivo designada por Ry¢ R, a resis- téncia do extensémetro activo designada por R,, verifica-se que uma variagio em R, causada pela deformagio requer uma alterag&io em R, para equilibrar a ponte, Este modo de usar a ponte de Wheatstone € conhecido como 0 método de anulacdo. Na pratica, uma variagéo em R, ndo se obtém usando uma resisténcia varid- vel devido ao facto de as variagées da resisténcia de contacto serem da mesma ordem de grandeza que a variagio em R,. A figura 1.35 apresenta um circuito tipico de ponte para a medigio de deformagées estaticas. S, ¢ S, estilo ligados aos pontos extremos A eB. S, serve para obter o balango inicial da ponte antes de a pega se deformar. S; esté calibrado ¢,em vez de variar Rj, permite equilibrar a ponte sem variar a resistencia de contacto. Em equipamento comercial, S, esté ligado a uma escala a partir da qual se pode ler a variagao percentual de resisténcia. 121 Rare RysRe Fig. 1.35 — Ponte de Wheatstone com extensémetros activo @ passive para medigdes estéticas. Uma anilise das condig6es de resisténcia da ponte sera descrita a seguir. Depois de equilibrar inicialmente a ponte com S,, R, passa a Ri, R, a Ri, etc. e, portanto, R_ R Ld RR (1.160) Reequilibrando a ponte depois da deformagao usando S,, vem R R+AR WAS, 7 RAs, ia Substituindo o valor de Rj da equag&o (1.160), vem BR = Risk OR (,, AR ie -AS) Ri+AS, Rit AS, RK + AS) AR, Pa Ret O80 1 4 BR 1.163) RRS) RK suey A simplificagao dé AR, 1.164) RX (1.164) 122 €.a deformagSo é dada por AR AS, (R+ Ri) KR BR Rds) A figura 1.36 mostra uma ponte estatica de extensometria utilizada numa mon- tagem didactica, para medio de extensdes numa barra de secoo rectangular num ‘ensaio de flexdo em trés pontos. Nos equipamentos comerciais de extensometria, a extensfio lida directamente por via analdgica ou digital, depois de se introduzir no aparelho o valor do factor do extensémetro fornecido pelo fabricante. Fig. 1.36 — Ponte estatica de extensometria utilizada num ensaio de flexao em trés Pontos. 4.7.9 Disposicdo de extensémetros 1.7.9.1. DEFORMAGAO DIRECTA (TRACGAO OU COMPRESSAO) A figura 1.37 representa uma montagem de extensOmetros para medigaio das extensdes axiais de tracc%o ¢ compressfio numa barra. Os pontos R, Qe P na figura 1.37 a) esto indicados no esquema eléctrico da figura 1.37 b). 123 a) Fig. 1.37 — Montagem de extensémetros para medigo de extensdes de tracg8o © compressao. Os dois extensémetros actives (A, € A;) colados nas faces opostas do provete esto ligados em série para formar um brago da ponte. Os dois extensémetros passi- vos (D, ¢ D,) estfio colados noutra peca do metal, ligados da mesma maneira para formar o segundo braco. No caso de haver flexdio, as componentes de tracco e compressio da deformagdo de flexdo fardo com que as respectivas variag6es de resis- téncia se anulem, deixando apenas a variag&o de resisténcia causada pela deformaco directa de tracc4o ou compressiio. 1.7.9.2 LEXAO ETORCAO Apesar de ainda nao se ter definido 0 que so solicitages de flexdo ¢ torco, as figuras 1.38 € 1.39 sio clucidativas acerca deste tipo de solicitagdes. A presenca de deformagio directa durante a mediglo de deformagies de flex4o pode ser inconve- niente. Este fenémeno pode ser evitado utilizando dois extensémetros colados nas faces opostas do provete como estd esquematicamente representado na figura 1.38. 124 Cada extensémetro constitui um brago da ponte e actua como passivo em relagdo ao outro (montagem em 1/2 ponte). Assim, ambos os bragos so activos, 0 que duplica a sensibilidade da ponte a flex4o, enquanto que elimina a deformacio directa". Fig. 1.38 — Montagem de extensémetros para solicitagbes de flexéo. Uma barra cilindrica sujeita 4 torgio com um momento de torgao T, repre- sentado na figura 1.39, tem as direcodes da deformacio principal a 45° com o eixo longitudinal da barra”. Embora o bindrio T possa ser medido com um ou dois exten- sémetros colocados nas direcgdes apropriadas na barra, a possibilidade de flexdio ou deformagéio axial que afecta as leituras pode ser eliminada usando quatro extensd- metros (fig. 1.39) em ponte inteira. Neste caso, os extensémetros constituem os qua- tro bracos da ponte, actuam como passivos uns em relacio aos outros e produzem um sinal que é quatro vezes mais sensivel do que apenas com um extens6metro. (1) 0 valor da extensio lide na ponte € o dobro do valor real em cada extensémetro. 0 que torma o sistema mais sensivel (2) No capitulo 6. referente ao entudo da torcao, sed fita esta demonstracto, 125 Fig. 1.39 — Montagem de extensémetros para solicitagdes de torcao. 4.740 Calibragao de extensémetros. Células de carga © factor do extensémetro fornecido pelo fabricante tem uma preciso de cerca de 1%, Contudo, para certas aplicagdes de maior rigor € importante verificar a pre- cistio deste valor realizando um ensaio de calibracdo. Este ensaio pode ser de tracgao ‘ou compressio se 0 médulo de elasticidade do material for conhecido com rigor. Outra técnica de calibrag&o utiliza o ensaio de flexio em que a flecha (deslocamento vertical da pega) medida experimentalmente pode ser calculada em fungdo da exten- sfio superficial, permitindo a comparagdo deste valor com a leitura dos extensémetros. Uma célula de carga é uma peca de forma cilindrica ou de secgfo rectangu- lar 4 qual sfo colados extensémetros eléctricos ¢ que ¢ utilizada, fundamentalmente, para leitura de forgas ou medigées de pesos. A figura 1.40 apresenta uma célula de carga cilindrica para solicitagdes de tracgdo (fig. 1.40 a) e uma de seccfio rectangular que trabalha a flexio (fig. 1.40 b), As células foram construidas em ago e com ele- vada precisio dimensional para garantir rigorosa axialidade nas cargas aplicadas. Os extensémetros utilizadas so extensémetros comerciais de resisténcia elevada e de boa qualidade. A célula cilindrica mede forgas até 200 KN em tracgdo e compressio e a de flexdo trabalha até 50 N apenas. 126 Fig. 1.40 — Células de carga utilizadas para medig&o de forgas em maquinas de ensaio de materiais. Quando se aplica uma solicitagio a uma célula de carga, as extensdes desenvolvidas sio medidas por intermédio dos extens6metros eléctricos e registadas numa ponte estética. Mediante uma curva de calibragio previamente obtida numa maquina de ensaios que foi rigorosamente calibrada com um anel de prova", podem-se estabelecer as relagdes entre a extensio medida na célula com a forga que est a ser aplicada e com a voltagem de saida dos extensémetros, Esta iltima medida é normalmente feita com voltimetros de elevada precistio. Para leitura de forgas pequenas (menores que 2000 kg) utilizam-se células de carga solicitadas & flexdo porque, para a mesma forga aplicada, as extensdes de flexdio sio muito maiores que as de tracgfo ou compressiio, 0 que obviamente permite sensibilidades maiores e, consequentemente, maior precistio de leitura para cargas pequenas. Para forgas maiores a célula de carga (1) Um ancl dé prova ou ancl de calibragio € um anel de ago especial que, 20 ser solicitado por uma carga de ‘comptessio aplicada em dois pontos diametralmente opostos, se deforma. O deslocamento vertical entre esses Pontos e normalmente medido com um comparador € relacionado com a forga aplicada através de uma curva ide calibragio obvida previamente para o anel em causa numa instituigdo oficial de pesos ¢ medidas. 127 de tracgao ou compressio € suficientemente sensivel. Em qualquer dos casos, devem utilizar-se extensémetros em ponte inteira com compensagao transversal (entensémetros em T) para, destes modo, se aumentar a sensibilidade das leituras. Uma célula de carga tem de ser construida com padrées de qualidade muito elevados. Os principais aspectos a ter em conta no projecto e construgio de uma célula de carga so: — material de elevada resist€ncia com boa estabilidade térmica ¢ dimensional — extensdmetros de boa qualidade — precisio e boa qualidade de colagem — alinhamento rigoroso dos extensémetros — sistemas adequados de fixacdo, aplicagio de cargas e protecgao As células de carga so utilizadas nfo s6 como instrumento de leitura de for- as em méquinas de ensaio de materiais como também nas modernas balancas ¢ basculas electrénicas de pesagem, substituindo com grande vantagem e com maior precisdo os sistemas convencionais de pesagem mecdnica com alavancas. As basculas € balangas electrénicas podem medir pesos desde alguns gramas até dezenas de tone- ladas com aplicagdes que vao desde as balancas de supermercado até as basculas para pesagem de camides e outros veieulos de carga, O peso e até 0 custo do pro- duto s4o normalmente lidos directamente num registo digital obtido através de um amplificador de conversio acoplado & ponte de extensometria. 4.7.44 Medigao de deformacées dinamicas Numa grande percentagem de casos, os 6rgios de mdquinas ¢ componentes estruturais esto sujeitos a cargas dinimicas, isto é, cargas que variam com o tempo. Os extensémetros eléctricos podem ser utilizados directamente nos elementos estrutu- rais para medir extensdes dindmicas. Os principios descritos anteriormente também se aplicam no caso das deformages dindmicas, com a diferenga de que um galva- németro no é um instrumento de leitura adequado para detectar um potencial flu- tuante numa ponte de Wheatstone. O galvanémetro é,entdo, substituido por um regis- tador de caneta ou osciloscépio que possuem suficiente capacidade de resposta para registar flutuagdes da extensdo, até varios milhares de hertz'”, No entanto, a sensibili- dade necessaria para a medigdo € tal que a diferenga de potencial na ponte ¢ muito (1) Oertz € uma unidade de frequéncia igual a | ciclo/segundo, 128 baixa para estimular o osciloscépio ou registador, sendo portanto necessario intro- duzir um ou mais estadios de amplificagdo no circuito. Nao se pretende fazer aqui uma discussiio detalhada dos circuitos electrénicos empregues na medigo de extensdes-dindmicas, E de referir apenas que existem dois tipos de sistema, um com corrente continua ¢ 0 outro com corrente alternada. O sis- tema de corrente continua, representado na figura 1.41, emprega um amplificador de corrente continua e pode ser usado para medir deformagées dinamicas de baixa fre- quéncia, Para mediges em alta frequéncia,é mais vulgar utilizar 0 circuito de cor- rente alternada representado na figura 1.42. A bateria do circuito de corrente conti- nua & substituida por um oscilador com frequéncia fixa ¢ saida estvel. £ possivel agora usar um amplificador de corrente alternada e a imagem no osciloscépio apa- rece como uma onda com frequéncia determinada pelo oscilador e modulada pelo sinal proveniente do extensémetro. A figura 1.43 apresenta um exemplo dos sinais obtidos num osciloscépio com um extensémetro roseta (trés canais) aplicado na estrutura de um veiculo de trans- porte em servigo, Fig. 1.41 — Esquema do circuito eléctrico para uma ponte dinamica de corrente continua, 129 Osciloscépio Fig. 1.43 — Ecran de PC (extengdes vs. Tempo) numa ponte dindmica de extensometria (exemplo). 130 BIBLIOGRAFIA Bentiam, PPL © Warnock, F. W., “Mechanics of Solids and Structures”, Bdigio Pitman paper- ‘backs, London, 1983 Datty, J. W., “Experimental Stress Analysis”, Bdiglio McGraw-Hill, New York, 1968. Diere, G E., "Mechanical Metallurgy", Edigiio McGraw-Hill, New York, 1976. Foro, Sir H. © Auexanver, J. M., “Advanced Mechanics of Materials", Vol. |. Bdigo Chichester Ellis Horwood, England, 1981. HALL, I. H., “Deformation of Solids”, Edigo Nelson, London, 1968 Houster, G. S., “Experimental Stress Analysis”, Edigho Cambridge University Press, Cambridge, 1967. 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Calcule as tensdes normais, resultante ¢ de corte num plano cujos co-senos directores so / = 0,732 ¢ m = 0,521 com os eixos I ¢ 2, respecti- vamente. Resolva o problema analitica c graficamente. O estado de tensio num ponto € definido pelas seguintes componentes: 0, = 3,72; = 7.84, ¢,, = 14.89: 7, = 68: 7, = 32 (MPa). Calcule o valor da tensfo resultante, tenséo normal ¢ de corte num plano que faz angulos x = 48° ¢ 8 = 71° com 08 eixos dos xex € yy, respectivamente © estado de tenso num ponto € dado por ¢,, = 2.6 T= Ty. =0 © .,= 10,21 (MPa) iG, = 14,32 0,. = 17,28: 1a) Calcule as tensdes principais «,.9, ¢6;. b) Caloule +). t, € 7; (méximos locais das tensdes de corte), ©) Represente graficamente os cireulos de Mohr correspondentes a este estado de tensdes. @) Calcule os invariantes das tensées. ©) Calcule a tenstio normal octaedral ¢ a tensdo de corte octaedral. 4) Defina as matrizes das tensdes hidrostatica ¢ de desvio. O estado de tenséo num ponto ¢ definido pelas seguintes tensdes o,, 8.4, 5, = 156.8; 6. = 548.8, t,, = 39.2, ,, = 221,75; t., = 443.5 (MPa). Calcule as tensdes principais ©, 3; € 6, € OS Co-senos directores das direcgdes principais em relagio ao sistema de eixos [oxy2] Num dado estado de tensio,a tens&o tangencial maxima ¢ de 294 MPa e na faceta onde ela se verifica nao ha tensio normal. Sabendo que se trata de um estado triplo ou triaxial de tensdes. determine os valores das tensdes principais e a posigéo, em relagio a estas, das outras duas facetas paralelas aos planos considerados onde se verificam maxi- mos locais na tenséo tangencial, sabendo que uma das tensdes principais é nula Considere um corpo no espago submetido a um conjunto de forcas que provocam num ponto A um estado de tensio tal que as tensdes principais so 0, = 78.4; 6) =, = 49 (MPa). Na figura P.1.7 esti répresentadas no ponto A as facetas de um paralelepipedo elementar paralelas & direcgo principal (3) que é perpendicular ao plano da figura 132 a) Calcule as tensdes normal 6, € tangencial t, numa faceta paralela & direcydo (3) € cuja normal 11, faz um Angulo 2, = 50° com a direcg%o principal (1) no sentido con- trdrio ao do movimento dos ponteiros do religio. b) Calcule as componentes do tensor de tensdes em relagio a 3 eixos cartesianos x, y, z © dos xx contendo 7, ¢ o dos zz coincidente com a direceo principal (3) (perpendi- cular ao plano da figura). ©) Calcule 0 valor da tensio maxima de corte que se gera neste caso (0, = 784; 6) = = 6, = 49 (MPa) e compare com o valor da mesma tensio de corte maxima que se geraria se 6, = 78.4; 0; = 49 (MPa) ¢ a, = 0. Identifique as facetas em que se geram essas tensdes em cada caso. Comente os resultados obtidos. Fig. P17 P. 1.8 Represente graficamente a variagio das tensdes normais ¢ de corte com o Angulo 6 para © elemento representado na figura P.1.8, em que ,, = 160; 6,, = 20€ t., = 20 (MPa). Considere 6 a variar de 0 a 180° com incrementos de 10°, Fig. P.1.8 133 P. 1.9 Um estado plano de tensdes num ponto ¢ definido pelas tensdes o,, = 120; 4,, = 0€ Tq, = 70 (MPa). Calcule as tensdes principais ,, 6, € a tensfo de corte ta4,. Desenhe 0 elemento orientado segundo as tensdes principais, Resolva o problema pelos métodos ana~ litico e grafico, P. 1.10 Uma barra est a ser solicitada por uma tensio de 40 MPa na direcgio xx € uma ten- ‘so de compressfio de 20 MPa na direcc&o yy. a) Calcule a tensio de corte maxima ¢ a correspondente tenso normal, 'b) Calcule as tens6es octaedrais (normal ¢ de corte). ©) Qual é4 tensiio de corte quando a tensio normal correspondente ¢ zero? P. 1.11 Uma barra de secgdo transversal constante esti submetida a uma tensiio axial de 10 MPa, Sendo 8 o Angulo entre o cixe transversal ¢ um plano obliquo ao eixo longitudi- nal, represente graficamente a tensio normal e a de corte nesse plano obliquo cujo angulo de inclinagao 6 pode variar de 0 a 90°, P. 1.12 Dado 0 tensor das extensdes num.ponto de um sélido cujas componentes so: we = —16X 10 e,, = 56 10%; y, 8X IOS Y= Le = = 45,25 x 10% y,, = 2, = 95 * 10% determine os valores ¢ as orientagdes das cextensdes principais nesse ponto. P. 1.13 Num ponto & superficie de uma peca, numa roseta de extensdmetros (60°), figura P.1.13, mediram-se as seguintes extensBes: €; = 460 < 10% eq = 200 10% 2, = 160 x 10% Determine as extensdes principais ¢ as respectivas orientages (angulo 8). Fig. P.1.13 P. 1.14 As extensées medidas a superficie de uma pega com um extensémetro roseta ( = B = 45) forneceram os seguintes resultados: ¢, = 100 x I 400 10, Determine a) As extensdes principais ¢ a sua orientagéo em relagio ao extensometro a. b) A distorgfo angular maxima, 134 P, 1.15 Numa roseta de extensémetros colados numa placa de ago, como mostra a figura P. 1.15, mediram-se as seguintes extensdes nas direcgSes indicadas: e, =e) + 1250 Cust.) = + 500 (a) Nox Fig. P.1.15 a) Determine as direogées principais das extensdes (que coincidem com as direccées prin- Cipais das tensdes) b) Se 0 médulo de elasticidade do aco for E = 2,07 x 10° MPa, ¢ 0 coeficiente de Pois- son v = 0,25, calcule os valores das tensdes principais 4). o, no ago e a extensio principal ¢,, (Suponha a; normal a figura e de valor nulo.) ) Determine o tensor das extensdes para o sistema de eixos [oxyz] (zz coincidente com ‘a direcgo de a, €2,) indicado na figura. P. 1.16 © paralelepipedo de aco representado na figura P.1.16 esta a ser solicitado por uma ten- slo c.. = 20 MPa ¢a,, =~ I8 MPa, Sabendo que E = 2,07 x 10° MPa cv = 0.33, determine a) Os invariantes da estado de extensao existente, b) A variagdo do comprimento total da peca ¢ a variagdio de volume. ©) Supondo que o ponto central (origem dos eixos) nao se desloca, calcule a nova posi- do (deslocamento € rotag&o) do segmento AB = 2 mm otientado segundo o eixo dos xx, ¢ distando 5. cm do ponto 0 apés a aplicagao do sistema de tensdes indicado. d) Caleule a distorgda segundo uma direcg4o que faz um Angulo de 60° com o cixo dos xx, 50. Fig.P.1.16 P. 117 No ensaio de tracgio de um provete de lato de 2m x 2cm de secgdo recta verifica-se ‘que 0 vector tensdo tem o médulo de 11,76 MPa, nas facetas inclinadas a 30° com 0 plano horizontal (fig P. 1.17) a) Represente com rigor a posigdo do vector tensfo nas facctas em causa, b) Calcule as componentes do tensor das tensGes para o sistema de eixos [oxyz] da figura P.1.17, c) Determine a variagéo do comprimento total da pega. d) Determine a variagao do lado na seoedo transversal. ©) Determine a variagdo do volume da pega. £) Determine o tensor das extensOes para o sistema de eixos [oxy2]. 2) Determine a distorgio do pequeno paralelepipedo representado na figura P.1.17 apre- sentado em escala grande antes ¢ depois de distorcido. Considere apenas as faces que estdo representadas € so paralelas ao eixo dos yy. h) Indique a orientago do pequeno paralelepipedo de faces paralelas ao eixo dos yy que teria distoredo maxima e mostre que no hd outro paralelepipedo com maior distorgo. ji) Supondo que o ponto central (origem dos eixos) ndo se desloca, calcule a posigio (deslocamento e rotagio) do pequeno segmento AB = 2 mm frontal inclinado a 45°, sobre a horizontal, durante a deformagio, cujo ponto médio dista 10 em do ponto 0 (fig, P17),

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