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EDUARDO LOURENCO MITOLOGIA DA SAUDADE Seguido de PORTUGAL COMO DESTINO ROMANTISMO, CAMOES EA SAUDADE* Por itso amamos mals ue nt nenhan ‘Vera Fee, Esplin do ise Vote por fim apa vara sede esperar Hud Alm Gare, Camder Se no foi o Romantismo que inventou Literatura, modificow ‘or completo a sua nog. De reaidade de ordem mais ou menos or ‘mental. stividade destinada x embelera a Vida, ou a servi-the com verossimilhanga de espe, a obra literivia — grande verdad 1 obra lteraria — transmudou-se em visio do mondo, espelho dla aventura da Humanidade em busca de absoluo. René, Hyperion, EL Diablo Mundo, Child Harold sto outras tanas visSes dessa busca. A metamorfose da dei de Literatura, do seu papel e do seu conteddo, ‘0 foi possivel porque o absolut, ou melhor, Deus — que ningusm ‘ousaraimaginar através de uma busca de essécia teria —, perde ‘va sua visiblidade a sua presenga, com referénciaobrigatéria do Jmagindio do homem ocidentl. A Iiteratur, sob a su forma rm tic, €polavra de um Deus jéausent ea resposta a essa mesma a séncia. O autor tomas o deus dasa obra, seit e objeto dela, De Byron a Goethe, como de Rousseau a Chateaubriand, os criadores {que evoluem ness primeira espago privado de referencia explicta& ovis Pas pls ard Clue Gaeskian. 18, ve ‘tanscendénciatomant-se hersis cultuais, A Cultura no sentido r= rio, a que agoniza wos nosss olhos, nase com ees. Camdes, Ta $0, Cervantes, Shakespeare e, pouco a pouco, todos os grandes ddores do passado saem do ser estatuto tradicional, dos grandes ‘homens digns de memva, 8 maneira de Plutarco, para se tomate, também cles, deuses,estrela nas, como mis tarde escreverd Cha les du Bos, de um novo firmamento literiio, Ino habitar 0 dnieo impo digno da fervorosacontemplacio humana Essas ressureigbesndo sto obra do acaso, Como Cristo, ‘ma romntica desceré menos aos infernos do esquecimento que 80s «a incompreensio para resgatare fazer volta vida, sob ums luz di ferente, os autores que encarmam a ieia do genial ov do sublime, ta como o pré-omantismo, inglés sobretudo, a haviaconcebid ¢ 00 ‘mantis aris glorficar.Os que subiro as altares veupando ola ar vago pela auséncia do Deus vivo do aqueles que podem sr re {os como autores romantics, precursresde uma angus xine rofunde, mas também os que iveram wn destino maldito por eas do seu genio, incompatvel com a ordem do manda que os rodeia Em sltima anise. com a reerénciatranscendente em que essa or dom se sustenta, Na reestrutragio que asim se opera da meméria ites edo espago simbico, de que © Romantismo & simultancamemteefeto ‘aus, destinns cama a de Cambor, de Tasso ou de Cervantes alo ‘am-seperfetamente aos eritrios e as exigencias do nove aati Firio. A sua fama como autores exista antes de os tebicos da ov io literiria — de Coleridge aos imiios Schlegel. passando por “Madame de Statl — para elaterem chamado a atengio deta Lu ropa. O que fatava era ums leitura ou uma consideragao do seu des. tino e das suas obras que os subtraisse ao digo da velhaeetrica, ‘mesmo depois de corrgida pla estticapré-romantica, eos deso ass para um espayo suscepsivel de hes alterar a imagem ¢ confah- thes um novo pape. Eso, $60 mewimento geral da Misti, de que ‘© Romantismo & um eo, pda faré-o, A primeira vst, elevara obra de Camées ao estatuto de mito literrio de configuragao romtntica no deina de ser surpeeendente Everdade que o interesse parece centra-se tanto ov mais no destino do poeta guerrero, na sua vids infelizeaventuros, do que na soa obra, Mas a lena bogritica exists deseo seulo xvi sem que t, ss vesse tdo semelhante conseqincia. A obra do grande imitador de ‘Virgilio porecia, em si mesma, mats virada para o passado que para 0 futuro, O eariterclissco, pelo menos na apartacia, Os lusadas, tonsegrado as feitos martimos dos portugueses no século XVI, €& flora que esparge sabre « pequena nagio. pareciam obstar qual ‘quer apropriagio romantica da sua obra, Além do mais, camo camo iano —-colocada sa o sino do nacional eno do “nacionalismo”. tembora a viagem de Vaseo da Gama B India possa ser consierada Sol prisma universal, como ofizeram no século xvi s seus ta-

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