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Com essas caractersticas o ensaio pode ser acusado de arte, mas ainda
segundo o autor o ensaio se diferencia da arte e Lukcs no percebeu isto
quando escreveu uma carta a Leo Popper que serviu de introduo ao livro A
alma e as formas, definindo o ensaio como uma forma artstica.
A mxima positivista diz que os escritos cientficos no podem falar sobre
arte de forma artstica, no entanto o autor pergunta: como pode se falar de algo
esttico de forma no esttica e no cair na vulgaridade intelectual desviando-
se do assunto? E ainda diz que para o purismo cientfico qualquer instinto
expressivo presente na exposio ameaaria o objeto que se poderia aflorar
com a eliminao do sujeito.
O autor fala inda que o esprito cientfico teria uma alergia as formas e
que a reflexo sobre as coisas do esprito torna-se privilgio dos desprovidos
de esprito.
No entanto este rancor contra a forma ensaio teria uma razo de ser, pois
os ensaios ruins costumam ser confundidos com o estilo de folhetins que os
inimigos da forma ensastica costumam confundir com o ensaio e que a
liberdade espiritual perde a liberdade acatando a necessidade da clientela.
Adorno fala em seu texto sobre a desmitologizao oriunda da
objetivao do mundo que acaba por causar a separao entre a cincia e a
arte e que faz desaparecer uma intuio intelectual, e que o ideal positivista
pressupe que todo conhecimento e arte pode se tornar cincia.
O modo como o ensaio se apropria dos conceitos seria, antes, comparvel ao
comportamento de algum que, em terra estrangeira, obrigado a falar a lngua do
pas, em vez de ficar balbuciando a partir das regras que se aprendem na escola. Essa
pessoa vai ler sem dicionrio. Quando tiver visto trinta vezes a mesma palavra, em
contextos sempre diferentes, estar mais segura de seu sentido do que se tivesse
consultado o verbete com a lista de significados, geralmente estreita demais para dar
conta das alteraes de sentido em cada contexto e vaga demais em relao s
nuances inalterveis que o contexto funda em cada caso. verdade que esse modo de
aprendizado permanece exposto ao erro, e o mesmo ocorre com o ensaio enquanto
forma; o preo de sua afinidade com a experincia intelectual mais aberta aquela
falta de segurana que a norma do pensamento estabelecido teme como a prpria
morte. (Adorno, 2003)