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TU ÉS O CRISTO

– Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo: confessar assim a divindade de Cristo.

– Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem.

– Cristo: Caminho, Verdade e Vida.

I. JESUS ENCONTRA-SE em Cesareia de Filipe, nos confins do território


judeu. Subitamente, pergunta aos seus discípulos: Quem dizem os homens
que é o Filho do homem?1 Os Apóstolos referem-lhe as opiniões que
corriam: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que é
Jeremias ou algum dos profetas. Muitos dos que ouviam a pregação de Jesus
tinham-no em alta conta, mas não sabiam quem Ele era na realidade. O Mestre
fixa agora os olhos nos Apóstolos e pergunta-lhes em tom amável: E vós,
quem dizeis que eu sou? Parece exigir dos seus, dos que o seguem mais de
perto, uma confissão de fé clara e sem paliativos; eles não devem limitar-se a
seguir uma opinião pública superficial e cambiante: devem conhecer e
proclamar Aquele por quem deixaram tudo para viver uma vida nova.

Pedro responde categoricamente: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. É


uma afirmação clara da divindade de Jesus, como o confirmam as palavras que
o Senhor pronuncia a seguir: Bem- aventurado és, Simão, filho de João, porque
não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas meu Pai que está nos
céus. Pedro deve ter ficado profundamente comovido com as palavras do
Mestre.

Também hoje há opiniões discordantes e erróneas a respeito de Jesus, pois


é grande a ignorância acerca da sua Pessoa e missão. Apesar de vinte séculos
de pregação e de apostolado da Igreja, muitas mentes não descobriram a
verdadeira identidade de Jesus, que vive no meio de nós e nos pergunta: E
vós, quem dizeis que eu sou? Nós, ajudados pela graça de Deus, que nunca
falta, temos de proclamar com firmeza, com a firmeza sobrenatural da fé: Tu és
o meu Deus e o meu Rei, perfeito Deus e Homem perfeito, “centro do cosmos e
da história”2, centro da minha vida e razão de ser de todas as minhas obras.

Nos duros momentos da Paixão, quando Jesus estiver prestes a consumar a


sua missão na terra, o Sumo Sacerdote perguntar-lhe-á: És tu o Messias, o
Filho de Deus bendito? E Jesus declarará: Eu o sou. E vereis o Filho do
homem sentado à direita do poder de Deus, e vir sobre as nuvens do céu3.

Nessa resposta, o Senhor não só dá testemunho de ser o Messias


esperado, mas esclarece a transcendência divina do seu messianismo, ao
aplicar a si próprio a profecia do Filho do Homem do profeta Daniel4. Serve-se
das expressões mais fortes de todas as passagens bíblicas para declarar a
divindade da sua Pessoa. Então condenam-no como blasfemo.

Só a luz da fé sobrenatural nos permite saber que Jesus Cristo é


infinitamente superior a qualquer criatura: Ele é o “Filho único de Deus, nascido
do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas
as coisas foram feitas; e que por nós, homens, e para a nossa salvação desceu
dos céus, e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez
homem...”5 Saiu do Pai6, mas continua em plena comunhão com Ele, porque
tem a mesma natureza divina. Será Ele quem, junto com o Pai, enviará o
Espírito Santo7, pois tem e possui como próprio tudo o que é do Pai8.

Apresenta-se como supremo Legislador: Ouvistes o que foi dito aos


antigos... Mas eu vos digo...9 Na Antiga Lei, dizia-se: Assim falou Javé, mas
Jesus não fala nem ordena em nome de ninguém: Eu vos digo... É em seu
próprio nome que proclama um ensinamento divino e estabelece uns preceitos
que se prendem com o que há de mais essencial no homem. Exerce o poder
de perdoar os pecados, qualquer pecado10, um poder que, como todos os
judeus sabiam, é próprio e exclusivo de Deus. E não só absolve pessoalmente,
mas dá o poder das chaves – o poder de governar e de perdoar – a Pedro e
aos demais Apóstolos, bem como aos seus sucessores11. Promete
apresentar-se no fim do mundo como único juiz dos vivos e dos mortos 12.
Nunca houve ninguém que se arrogasse tais prerrogativas.

Jesus exigiu – exige – dos seus discípulos uma fé inquebrantável na sua


Pessoa, uma fé que chegue ao ponto de fazê-los tomar a Cruz sobre os seus
ombros:Quem não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim13; a atitude
que nos pede em relação ao seu Pai celestial, exige-a também em relação a si
mesmo: uma fé sem fissuras, um amor sem medida14.

Nós, que queremos segui-lo muito de perto, dizemos-lhe com Pedro, quando
estamos diante do Sacrário: Senhor, Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Verdadeiramente, “quem encontra Jesus encontra um bom tesouro, aquele que
com efeito é bom acima de todo o bem. E quem perde Jesus perde muito, e
mais que o mundo inteiro. Aquele que vive sem Jesus é paupérrimo, e
riquíssimo quem com Ele vive”15. Não o deixemos nunca; fortaleçamos o nosso
amor com muitos actos de fé, com a audácia em dar a conhecer em qualquer
ambiente a nossa fé e o nosso amor por Cristo vivo.

II. DEPOIS DE TANTO TEMPO, Jesus continua a ser para muitos, que ainda
não possuem o dom sobrenatural da fé ou vivem acomodados na tibieza, uma
figura evanescente, não concreta. Nós também podíamos responder hoje a
Jesus como os Apóstolos lhe responderam naquele dia em Cesareia de Filipe:
uns dizem que foste um homem de grandes ideais, outros... Verdadeiramente,
continuam a ser actuais as palavras de João Batista: No meio de vós está
quem vós não conheceis16.

Somente o dom divino da fé nos permite proclamar, unidos ao Magistério da


Igreja: “Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Filho de Deus. Ele é o
Verbo eterno, nascido do Pai antes de todos os séculos e consubstancial ao
Pai...”17 Cremos que em Jesus Cristo existem duas naturezas: uma divina e
outra humana, diferentes e inseparáveis, e uma única Pessoa, a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, que é não criada e eterna, que se encarnou
por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria.

Jesus é também Homem perfeito. Nasce na maior indigência, aclamado


pelos anjos do céu; passa fome e sede; cansa-se e às vezes tem de reclinar-se
sobre uma pedra ou sentar-se à beira de um poço; sente-se tão esgotado que
dorme enquanto navega com uns pescadores; chora junto do sepulcro do
amigo Lázaro; tem medo e pavor da morte, antes de sofrer os ultrajes da
crucifixão.

E essa Santíssima Humanidade de Jesus, igual à nossa menos no pecado,


fez-se caminho para o Pai. Ele vive hoje – Por que procurais entre os mortos
aquele que vive?18 – e continua a ser o mesmo. “Iesus Christus heri et hodie;
ipse et in saecula (Hebr XIII, 8). Quanto gosto de recordá-lo: Jesus Cristo, o
mesmo que foi ontem para os Apóstolos e para as multidões que o
procuravam, vive hoje para nós e viverá pelos séculos. Somos nós, os homens,
quem às vezes não consegue descobrir o seu rosto, perenemente actual,
porque olhamos com olhos cansados ou turvos”19; com um olhar pouco
penetrante porque nos falta amor.

III. A VIDA CRISTÃ consiste em amar a Cristo, em imitá-lo, em servi-lo... E o


coração tem um lugar importante nesse seguimento. De tal maneira é assim
que, quando por tibieza ou por uma oculta soberba se descura a piedade, o
trato de amizade com Jesus, torna-se impossível continuar a seguir o Senhor.
Seguir Cristo de perto é ser seu amigo, é ter a experiência viva de que Ele é o
único amigo que nunca falha, que nunca atraiçoa nem desilude.

Santo Agostinho, depois de inúmeras tentativas vãs de seguir o Senhor,


conta-nos qual foi um dos elementos-chave do seu longo processo de
conversão: “Andava à procura da força idónea para gozar de Vós e não a
encontrava, até que abracei o Mediador entre Deus e os homens: o Homem
Cristo Jesus, que é sobre todas as coisas bendito pelos séculos, que nos
chama e nos diz: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6)”20. Amar o
Homem Cristo Jesus!

Jesus Cristo é o único Caminho. Ninguém pode ir ao Pai a não ser por Ele 21.
Só por Ele, com Ele e n’Ele podemos alcançar o nosso destino sobrenatural. A
Igreja no-lo recorda todos os dias na Santa Missa: Por Ele, com Ele e n’Ele, a
Ti, Deus Pai Todo- Poderoso, toda a honra e toda a glória, na unidade do
Espírito Santo... Unicamente por meio de Cristo, seu Filho muito amado, é que
o Pai aceita o nosso amor e a nossa homenagem.

Cristo é também a Verdade. A verdade absoluta e total, Sabedoria não


criada, que se nos revela na sua Santíssima Humanidade. Sem Cristo, a nossa
vida é uma grande mentira. Com Ele, tem a segurança de quem sabe que não
pode deixar de acertar.

E é a nossa Vida. O Antigo Testamento narra que Moisés, por indicação de


Deus, ergueu o braço e feriu a rocha por duas vezes, e brotou água tão
abundante que todo o povo sedento pôde beber22. Aquela água era figura da
Vida que brota abundantemente de Cristo e que saltará até a vida eterna 23. É a
água da graça, da vida sobrenatural, que brota de Cristo, especialmente
através dos sacramentos. Toda a graça que possuímos, a de toda a
humanidade caída e reparada, é graça de Deus através de Cristo. Esta graça
é-nos comunicada de muitas maneiras; mas o seu manancial é único: o próprio
Cristo, a sua Santíssima Humanidade unida à Pessoa do Verbo, a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade.

Quando o Senhor nos perguntar na intimidade do nosso coração: “E tu,


quem dizes que Eu sou?”, saibamos responder-lhe com a fé de Pedro: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo, o Caminho, a Verdade e a Vida..., Aquele sem o
qual a minha vida está completamente perdida.

(1) Mt 16, 13-23; (2) João Paulo II, Enc. Redemptor hominis, 4-III-1979, 1; (3) Mc 14, 61-62; (4)
cfr. Dan 7, 13-14; (5) Missal Romano, Credo Niceno- Constantinopolitano; (6) cfr. Jo 8, 42; (7)
cfr. Jo 15, 26; (8) cfr. Jo 16, 11-15; (9) Mt 5, 21-48; (10) cfr. Mt 11, 28; (11) cfr. Mt 18, 18; (12)
cfr. Mc 15, 62; (13) Mt 18, 32; (14) cfr. K. Adam, Jesus Cristo, pág. 15-16; (15) T.
Kempis, Imitação de Cristo, II, 8, 2; (16) Jo 1, 26; (17) Paulo VI, Credo do povo de Deus,
30-VI-1968; (18) cfr. Lc 24, 5; (19) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 127; (20) Santo
Agostinho, Confissões, 7, 18; (21) cfr. Jo 14, 6; (22) Num 20, 1-13; cfr. Primeira leitura da Missa
da quinta-feira da décima oitava semana do TC, ano I; (23) cfr. Jo 4, 14; 7, 38.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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