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O verdadeiro significado do Benefício

Katsuji Saito

TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, EDIÇÃO Nº 503, PÁG. 12, JULHO DE 2010.

Este artigo, de autoria de Katsuji Saito, coordenador do Departamento de Estudo do Budismo


da SGI, foi publicado originalmente no Seikyo Shimbun, nas edições de 6 e 13 de dezembro de
2009. Foram adicionados trechos da explanação realizada por ele no 5º Curso Latino-
Americano de Budismo (CLAB), de 2 a 4 de abril deste ano, no Centro Cultural Dr. Daisaku
Ikeda, em São Paulo. A TC tem a satisfação de levar o presente artigo aos leitores de todo o
Brasil por acreditar que a compreensão do conceito “benefício” é de fundamental importância
para a realização plena da prática budista de cada um.

Katsuji Saito, coordenador do Departamento de Estudo do Budismo da SGI

Nos dias atuais, em que o capitalismo fugiu do controle e o mundo inteiro caiu
simultaneamente em recessão, ninguém pode dizer que desgraças como
miséria, epidemias e guerras são problemas isolados e nada têm a ver com a
sua vida. Acredito que justamente em épocas como esta devemos estudar com
seriedade a visão do Budismo de Nitiren Daishonin sobre o benefício da
transformação do veneno em remédio. O Budismo de Daishonin é o ensino
capaz de libertar as pessoas desta era repleta de maldade, que nos permite
trilhar o seguro caminho da vitória na vida, fazendo arder fortemente a chama
da esperança em nosso coração.

Extinguir o mal e realizar o bem

Consta no Ongui Kuden (Registro dos Ensinos Orais): “Na palavra kudoku, o
caractere ku significa ‘boa sorte’ ou ‘felicidade’. Também diz respeito ao mérito
alcançado por extinguir o mal, enquanto o elemento toku ou doku refere-se à
virtude adquirida por realizar o bem. Portanto, a palavra kudoku quer dizer
atingir o estado de Buda na presente forma”.1

Este trecho elucida o benefício conquistado pelo “mestre da Lei” que abraça o
Sutra de Lótus e o propaga. Esclarece também o verdadeiro significado de
benefício no budismo.

Na época atual, é o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, quem tem revelado a


importância desta passagem e esclarecido que a essência do benefício no
budismo consiste na virtude adquirida por “combater o mal”.

“Extinguir o mal” significa extirpar a “escuridão fundamental”, a fonte de toda


infelicidade.

A “escuridão fundamental” é uma “maldade interna, inerente à própria vida”. É


a ignorância para o fato de que nossa vida incorpora a Lei Mística. Por essa
razão, podemos chamá-la de “ignorância fundamental”.
Essa profunda ignorância acaba se tornando solo fértil para desejos mundanos
como avareza, ira e estupidez, e pode ser manifestada em forma de ações e
atitudes obscuras que levam aos infortúnios e à infelicidade.

A escuridão fundamental é também a força que provoca “dúvida” e


“desconfiança” em relação à Lei Mística.

Ao extinguirmos a escuridão fundamental, a “natureza da Lei” — originalmente


inerente em nossa vida — passa a agir e a se manifestar como grandiosos
benefícios da Lei Mística. Esse é o significado de “realizar o bem”.

Como as influências externas negativas proliferam na maléfica era dos Últimos


Dias da Lei e provocam a manifestação da escuridão fundamental, não é
possível conquistar a felicidade sem que se combata firmemente as maldades
tanto externas como internas.

Apenas a sabedoria pode extinguir a ignorância. A ignorância fundamental,


chamada “escuridão fundamental”, somente pode ser eliminada pela sabedoria
do Buda.

Manifestar a suprema sabedoria por meio da prática da fé

No Budismo de Nitiren Daishonin, vence-se a escuridão fundamental com a fé


resoluta no Gohonzon. Isso porque no Gohonzon está revelada a suprema
sabedoria do Buda. A fonte original dos benefícios do Gohonzon está no ato de
transformar a fé em sabedoria (isshin daie).

“Extinguir o mal e realizar o bem” é o verdadeiro benefício que se manifesta na


vida do “mestre da Lei” — aquele que põe em prática os ensinos do Sutra de
Lótus.

De acordo com o Sutra de Lótus, existem duas conotações para “mestre da


Lei”: “aquele que faz da Lei o seu mestre” e “mestre ou líder que propaga a
Lei”. Em outras palavras, é o devoto que acredita no Sutra de Lótus e, ao
mesmo tempo, o propaga. Portanto, “mestre da Lei” é a pessoa que exercita a
prática individual e a prática altruística (jigyo keta).

Na época atual, ninguém além dos membros da SGI, que exercitam realmente
a prática individual e a prática altruística do Sutra de Lótus, têm condições de
receber os verdadeiros benefícios do budismo.

A transformação do veneno em remédio

“Extinguir o mal e realizar o bem” nada mais é que o benefício da


transformação do veneno em remédio por meio da Lei Mística.
No escrito “O significado de ouvir sobre o veículo do Buda pela primeira vez”,
Nitiren Daishonin afirma: “A palavra ‘veneno’ representa os três caminhos dos
desejos mundanos, do carma e do sofrimento. A palavra ‘remédio’ refere-se
aos três atributos do Buda, ou seja, os corpos do Darma, da sabedoria e da
emancipação. Tient’ai declara: ‘O caractere myo é definido como ‘místico’,
‘maravilhoso’. Diz também: ‘A manifestação dos três mil mundos num único
momento da vida é também místico’. Este é o significado de transformar o
veneno em remédio e de atingir o estado de Buda na presente existência”.2

Nagarjuna, o teórico do Grande Veículo na Índia, explicou o significado de myo


de myoho-rengue-kyo, valendo-se da seguinte parábola: “É semelhante a um
eminente médico que experimenta veneno como se fosse remédio”. Em outras
palavras, myo possibilita que o veneno se transforme em algo totalmente
oposto: em remédio.

Nessa frase, “veneno” se refere aos três caminhos: desejos mundanos, carma
e sofrimento. “Desejos mundanos” são ilusões no reino do coração, provocadas
por sentimentos como avareza, ira, estupidez e arrogância. “Carma” são
pensamentos, palavras e ações embasados nos desejos mundanos e nas
tendências negativas que ficam registradas na vida devido a esses três itens.
“Sofrimento” é o resultado obtido dessa associação entre “desejos mundanos”
e “carma”.

Uma vida que entra no ciclo dos desejos mundanos, carma e sofrimento e se
aprofunda cada vez mais na infelicidade e no mal é comparada a “veneno”.

Em contrapartida, “remédio” refere-se às três virtudes do Buda que são


inerentes à vida do Buda, ou seja, os corpos do Darma, da sabedoria e da
emancipação.

“Corpo do Darma” é a vida eterna que está incorporada no princípio eterno da


verdade. “Sabedoria” constitui a sabedoria da iluminação do Buda e, do ponto
de vista geral, é a sabedoria para viver corretamente no dia a dia.
“Emancipação” é o nível de vida elevado de plena liberdade de um buda, livre
do egoísmo, dos apegos e dos preconceitos.

“Transformação do veneno em remédio” significa que mesmo a vida de um ser


humano comum que vagueia pelos três caminhos — desejos mundanos, carma
e sofrimento — pode ser transformada com a força da Lei Mística numa
condição de vida de felicidade absoluta que incorpora as três virtudes ou os
três corpos do Buda.

Comprovação do poder benéfico da

Lei Mística na própria vida

Além de propagar a Lei Mística, Nitiren Daishonin comprovou e demonstrou


com a própria vida o princípio da “transformação do veneno em remédio” ao
enfrentar e superar todos os tipos de ataques dos três obstáculos e das quatro
maldades, e as perseguições dos três poderosos inimigos, como a
manifestação do Demônio do Sexto Céu. E ele revelou na forma de Gohonzon
essa sua vida que comprovou, de fato, os três mil mundos num único momento
da vida.

“Ter fé no Gohonzon” significa acreditar plenamente na “força da Lei Mística”,


que transforma os três caminhos nas três virtudes. É crer que, por pior que seja
a circunstância pela qual estejamos passando, conseguiremos evidenciar a
força da Lei Mística no coração.

Nitiren Daishonin afirma: “Este é o significado de ouvir sobre o Sutra de Lótus


pela primeira vez. Miao-lo diz: ‘Se uma pessoa tem fé no ensino de que os três
caminhos — desejos mundanos, carma e sofrimento — nada mais são que as
três virtudes — os corpos do Darma, da sabedoria e da emancipação —, então
ela poderá atravessar os dois rios da transmigração e ainda o mundo tríplice’”.3

Os princípios de “sofrimentos de nascimento e morte como mortal comum” e


“sofrimentos de nascimento e morte como bodhisattva” são de difícil
compreensão, mas, resumidamente, representam o sofrimento que os mortais
comuns vivenciam ao longo do nascimento e da morte no mundo real e os
vários tipos de sofrimentos que os bodhisattvas experimentam para salvar as
pessoas. Ou seja, o “benefício da transformação do veneno em remédio”
consiste em superar com serenidade, por meio da sabedoria do Buda, tanto os
sofrimentos de nascimento e morte no mundo real dos mortais comuns, como
os diversos tipos de sofrimento que os bodhisattvas enfrentam para salvar as
pessoas. Isso significa estabelecer uma condição de vida de “revolução
humana”.

Nesse sentido, o verdadeiro “benefício da transformação do veneno em


remédio”, que é a superação das adversidades reais como um ser humano
comum e também dos desafios enfrentados para a concretização do Kossen-
rufu como bodhisattvas de profunda missão, só pode ser manifestado pelos
membros da Soka Gakkai, que têm como base esse modo de vida.

A manifestação da natureza de Buda interna ativa a proteção externa

Vimos que o verdadeiro significado de benefício se encontra na ação de


“extinguir o mal e realizar o bem” e que a Lei Mística é a força capaz de
transformar o veneno em remédio.

Conforme observamos nas frases citadas do Ongui Kuden e do escrito “O


significado de ouvir sobre o veículo do Buda pela primeira vez”, podemos
considerar que “atingir o estado de Buda na presente forma” nada mais é que o
resultado de uma “profunda transformação da vida”. Dizendo de maneira mais
direta, o benefício da prática budista consiste na “revolução humana”.

O princípio budista que mostra a veracidade desse benefício obtido pela


transformação da vida é a “manifestação da natureza de Buda interna ativa a
proteção externa” (naikun guego). De um lado, esse princípio é expresso como
“realizar o bem” ou “a transformação em remédio”; do outro, mostra quão
grandiosa é a “boa sorte que acompanha as mudanças na vida”.

Para falar a respeito desse ponto, gostaria de tomar como base as


explanações do presidente Ikeda sobre o escrito “Os três tipos de tesouro”,
publicadas nas edições de outubro a dezembro de 2009 da revista
Daibyakurengue.

Consta nesta escritura: “O budismo ensina que, quando a natureza de Buda se


manifesta de nosso interior, recebemos a proteção do exterior. Este é um de
seus princípios fundamentais”.4 Ele também cita frases de sutras budistas e do
Buda Sakyamuni como: “Eu o reverencio profundamente”, do 20º capítulo do
Sutra de Lótus, “Bodhisattva Jamais Desprezar”; e “Todos os seres vivos
possuem igualmente a natureza de Buda”, do Sutra do Nirvana.

Esta carta foi endereçada a Shijo Kingo, fiel discípulo de Nitiren Daishonin e
líder dos seguidores em Kamakura. Kingo a recebeu num momento de extrema
dificuldade, quando sua vida corria grande perigo.

Na época, o lorde de Kingo, Ema Mitsutoki, influenciado pelas calúnias de


sacerdotes maléficos e por acusações infundadas dos colegas invejosos do
samurai, ameaçou tomar-lhe o feudo e expulsá-lo caso não abandonasse a fé
no Sutra de Lótus.

Kingo professa a Nitiren Daishonin o juramento de jamais abandonar a fé.


Então, menos de dois meses depois, uma epidemia assolou a região e todos
os maus sacerdotes e colegas caluniadores, um após o outro, caíram
enfermos. Por fim, até o lorde Ema foi infectado, sendo obrigado a pedir ajuda
de Shijo Kingo, que além de samurai, era versado em medicina. Assim surgiu a
oportunidade de Kingo de reconquistar a confiança do lorde.

Nitiren Daishonin ensina que essa mudança de situação é manifestação da


proteção das divindades budistas com base no princípio de que a
“manifestação da natureza de Buda interna ativa a proteção externa”.

“Manifestar a natureza de Buda” (naikun) é fazer com que o estado de Buda


emane de nossa vida. Da mesma forma que, ao queimar o incenso, o aroma
naturalmente impregna a roupa, a natureza de Buda que manifestamos vai se
fixando gradativamente em nossa vida.

“Proteção externa” indica que a natureza de Buda das outras formas de vida é
atraída pela manifestação de nossa natureza de Buda e passa a agir de modo
a nos proteger.

A resoluta fé da unicidade de mestre e discípulo de

Shijo Kingo, que expressou o firme juramento de jamais abandonar a fé, fez
com que a proteção externa se evidenciasse, comprovando o princípio de que
a “manifestação da natureza de Buda interna ativa a proteção externa”.
Intercâmbios de vida em nível universal

A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é a prática que proporciona esse


verdadeiro benefício, ou seja, o princípio da “manifestação da natureza de
Buda interna ativa a proteção externa”. Isso está muito claro no seguinte trecho
do escrito “Como aqueles que aspiram inicialmente ao caminho podem atingir o
estado de Buda por meio do Sutra de Lótus”: “Quando recitamos a Lei Mística,
nossa natureza de Buda é ativada e se manifesta infalivelmente. A natureza de
Buda de Brahma e Shakra é então evocada para nos proteger. Assim, a
natureza de Buda dos budas e bodhisattvas também é ativada, manifestando
imensa alegria”.5

Como essas palavras deixam evidente, o benefício da prática do Daimoku ativa


não apenas nossa natureza de Buda mas também de todas as formas de vida.
Esta é uma descrição de um grandioso drama de inter-relações e intercâmbios
de vida em dimensão universal desencadeado pelo exercício budista.

Uma vez ativada a natureza de Buda, ocorre um intercâmbio entre a nossa vida
e a Lei Mística, a imensurável força do Universo. E essa grandiosa força da Lei
Mística passa a agir sobre nossa vida.

Podemos afirmar que essa é a verdadeira “boa sorte” que conquistamos com a
prática budista.

Na frase citada, destacam-se dois tipos de boa sorte: a “proteção das


divindades celestiais” e a “alegria dos budas e bodhisattvas”.

A “proteção das divindades celestiais” refere-se ao trabalho da Lei Mística.


Essa proteção é manifestada por meio da prática da recitação do Daimoku que
ativa tanto a natureza de Buda inerente em nossa vida como na de outros
seres. Isso porque a natureza de Buda não é algo exclusivo dos seres
humanos. Está incorporada em toda manifestação de vida, por exemplo, no
ambiente natural, social, no país, no Universo.

O Daimoku tem o poder de ativar e manifestar não apenas a natureza de Buda


inerente em nossa vida como também de todas as naturezas de vida a nossa
volta. São as ações dessas naturezas de Buda que protegem as pessoas que
recitam o Nam-myoho-rengue-kyo. Essa é a proteção das divindades celestiais.

Por esse motivo, a proteção das divindades celestiais pode assumir as mais
variadas formas. Às vezes, manifesta-se na ação de pessoas próximas. Em
outras ocasiões, como funções da natureza ou então como fenômenos
inexplicáveis. Todos esses exemplos fazem parte da ação mística da Lei do
Universo ativada pela natureza de Buda.
A conquista da verdadeira autonomia

Qual é então o significado do segundo tipo de boa sorte, a “alegria dos budas e
bodhisattvas”?

Acredito que seja a imensa alegria de consolidarmos o “grande eu”.

Consolidar o “grande eu” significa conquistar a “verdadeira autonomia”. Quando


atingimos essa condição, podemos fazer com que nossa vida aja sempre na
relação de causa e efeito da iluminação independentemente do que aconteça.

O ser humano tende a ser controlado por causas e efeitos da infelicidade que
os arrastam para as causas e os efeitos da impermanência. Contudo, as
pessoas que, por pior que sejam as dificuldades enfrentadas no cotidiano,
conseguem superar tudo com a recitação do Daimoku, estarão sempre fazendo
da relação de causa e efeito da iluminação a base da sua vida.

O benefício fundamental da prática da recitação do Daimoku é tornar a causa e


o efeito da iluminação o centro de nossas ações, o centro de nossa vida.

Sobre os benefícios de abraçar a Lei Mística, de crer no Gohonzon e recitar o


Nam-myoho-rengue-kyo, consta a seguinte frase no escrito “O objeto de
devoção para a observação da mente”: “O Buda Sakyamuni, que atingiu a
iluminação perfeita, é nosso próprio sangue. Suas práticas e consequentes
virtudes são nossos ossos e nossa medula”.6

Quando conseguirmos estabelecer os benefícios da causa e do efeito da


iluminação como a “coluna vertebral” de nosso ser, nossa vida será
exatamente igual a do Buda Sakyamuni que atingiu a iluminação perfeita.

Segundo o escrito “O objeto de devoção para a observação da mente”, as


práticas dos bodhisattvas do Mahayana para atingir a iluminação denominada
“seis paramitas” é extremamente difícil de ser realizada. Consistem em fazer
doações, manter os preceitos, perseverar e resistir, cultivar a assiduidade,
meditar e adquirir a sabedoria. Todos esses paramitas são práticas da Lei
Mística e estão incorporados numa única prática: abraçar a Lei Mística.
Portanto, abraçar a Lei Mística é a essência da prática do bodhisattva. Por isso,
nossa prática da recitação do Daimoku está sempre acompanhada da suprema
alegria como bodhisattvas.

Dessa forma, quando uma pessoa abraça a Lei Mística, ela conquista o
benefício descrito na frase: “Seu corpo e sua mente permeiam a totalidade do
mundo dos fenômenos num único instante”.7 Ou seja, ela atinge a mesma
condição imensurável da vida do Buda — a perfeita compreensão de que “eu
sou o próprio Universo”. Essa é a grande alegria do Buda.
A mais profunda alegria como ser humano se encontra na conquista do
benefício do aprimoramento da vida por meio da prática da recitação do
Daimoku ao abraçar a Lei Mística.

A comprovação do “tesouro do coração”

Em “Os três tipos de tesouro”, Nitiren Daishonin ensina a Shijo Kingo a


importância de um modo de vida que valorize, acima de tudo, o “tesouro do
coração”. Daishonin pede ao discípulo que viva dessa forma, a ponto de ser
louvado e elogiado pelas pessoas. Ele diz: “Viva de forma que as pessoas de
Kamakura venham a louvá-lo dizendo que Nakatsukasa Saburo Saemon-no--jo
[Shijo Kingo] foi brilhante em servir ao seu lorde, ao budismo e a todas as
pessoas. Mais valioso que o tesouro do cofre é o tesouro do corpo, e o tesouro
do coração é o mais valioso de todos. A partir do momento que ler esta carta,
dedique-se em acumular o tesouro do coração!”8

O “tesouro do coração” é a natureza de Buda manifestada por meio da fé. É


também a boa sorte acumulada na vida por meio dessa prática. Porém, não
será possível provar que a manifestação da natureza de Buda e da boa sorte
são o supremo tesouro, se ambas não forem notadas pelas pessoas. O estado
de Buda consegue tocar o coração das outras pessoas somente quando é
evidenciado como um maravilhoso brilho da natureza humana.

Com a frase “todas as pessoas de Kamakura o elogiarão”, Nitiren Daishonin


quis dizer que, se Shijo Kingo conseguisse evidenciar o “tesouro do coração”,
seria capaz de tocar o coração de qualquer pessoa.

Evidenciar o “tesouro do coração” adquirido mediante a fé, como um brilho de


nossa natureza humana para incitar a natureza humana de outras pessoas, é o
próprio princípio fundamental da comprovação do ensinamento budista.

A chave para evidenciar o “tesouro do coração” em forma de “comprovação” é


a prática de reverenciar ou respeitar todas as pessoas, tal como exercitada
pelo Bodhisattva Jamais Desprezar (Fukyo). Esta é justamente a conclusão da
orientação dirigida a Shijo Kingo na carta “Os três tipos de tesouro”. Daishonin
diz: “Qual o significado do profundo respeito do Bodhisattva Jamais Desprezar
pelas pessoas? O propósito do advento neste mundo do Buda Sakyamuni, o
lorde dos ensinos, está em seu comportamento como ser humano”.9

Jamais Desprezar reverenciava todas as pessoas, mesmo as que o


hostilizavam. Ele nunca deixou de realizar a prática de reverenciá-las.

No exato momento em que o Bodhisattva Jamais Desprezar reverenciava a


natureza de Buda de alguém, ele próprio era reverenciado pela natureza de
Buda dessa pessoa.
Consta no Sutra de Lótus que o Bodhisattva Jamais Desprezar, por ter
perseverado até o fim na prática de respeito às pessoas com base na crença
de que todos os seres possuem a natureza de Buda, recebeu os imensuráveis
benefícios da Lei Mística — a transformação do carma, a purificação dos seis
órgãos dos sentidos e a iluminação. Jamais Desprezar extinguiu o mal e criou o
bem. Tudo isso ele comprovou ao longo de sua existência.

O Sutra de Lótus elucida que o Bodhisattva Jamais Desprezar renasceu


posteriormente como Sakyamuni. Isso significa que a ação ou a conduta de
Jamais Desprezar é a causa da verdadeira iluminação no Budismo de
Sakyamuni.

Nitiren Daishonin afirma no escrito “Os três tipos de tesouro” que a prática de
prezar as pessoas do Bodhisattva Jamais Desprezar é o verdadeiro propósito
do advento de Sakyamuni. Isso significa que ensinar a prática desse
bodhisattva é o supremo objetivo dos ensinos de Sakyamuni.

A prática do Bodhisattva Jamais Desprezar nos ensina que não existe outro
caminho além desse para conseguirmos atingir a iluminação.

Se as pessoas estabelecerem firmemente a Lei Mística no coração e


perseverarem na prática para ativar e manifestar a natureza de Buda de si e
dos outros mediante a recitação do Daimoku, independentemente do que
aconteça, a iluminação por toda a eternidade será uma certeza.

Ao suplantar resolutamete a raiz fundamental da insegurança dos seres


humanos, denominada “morte”, é possível conquistar uma grandiosa condição
de vida que considera tanto a vida como a morte como alegria. Esse é o
supremo benefício do budismo.

Temos aqui o propósito fundamental da prática budista: o de estimular a


manifestação da natureza humana em nossa vida e na de outras pessoas.

É por comprovarmos a prática budista por meio de nosso comportamento


(ações como um verdadeiro ser humano) que as virtudes do Buda e a boa
sorte se consolidam em nossa vida.

1. OTT, p. 148; TC, edição nº 480, agosto de 2008, p. 34. 2. WND, v. 2, p. 743 3.
WND, v. 2, p. 744. 4. WND, v. 1, p. 848. 5. WND, v. 1, p. 887. 6. END, v. 5, p. 195. 7.
END, v. 5, p. 197. 8. WND, v. 1, p. 851. 9. WND, v. 1, p. 852.

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