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O PAPEL DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO PLANEJAMENTO

GOVERNAMENTAL

LUÍS C. L. ZEREDO1, MARCOS F. CARVALHO2

1
Departamento de Ciência da Informação e Documentação (CID), Universidade de Brasília (UnB)
Campus Universitário Darcy Ribeiro, CEP 70910-900, Brasília, DF, Brasil
Diretor Vice-Presidente da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva
e-mail: lzeredo@bb.com.br
2
Banco do Brasil S.A., Unidade de Tecnologia, Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência
Competitiva, Brasília, DF, Brasil
e-mail: mfurtado@bb.com.br

Para a maior competitividade do Brasil, seria recomendável investir na utilização de processos estruturados de geração de
inteligência aliados à nova forma gerencial adotada pelo governo, que já vem obtendo resultados, com o foco dado pelo
governo Fernando Henrique Cardoso à produção de planos e projetos integrados em função da solução de determinado
problema. A competente percepção de movimentos da concorrência internacional trará resultados para o governo Lula.
Afinal, o acompanhamento puro e simples das notícias de jornais se mostra ineficaz, porque os investimentos colocados em
desenvolvimento de novas tecnologias costumam levar anos até que sejam trazidos seus resultados e depois divulgados na
imprensa. Conhecer movimentos da concorrência poupa o governo de alguns insucessos, ou pelo menos os tomadores de
decisão na esfera governamental não serão surpreendidos de estarem sendo surpreendidos, dado o conhecimento prévio de
dados e fatos do ambiente externo concorrencial. A conjuntura de rápidas mudanças, o processo de globalização e
organização em blocos econômicos por que passam as nações trazem a necessidade de que o planejamento governamental, ou
o planejamento no nível macro, incorpore processos de inteligência competitiva aos processos de planejamento tradicionais.
Com essas mudanças no ambiente externo, as alianças estratégicas e parcerias ganharam papel fundamental para o
desenvolvimento e a competitividade das empresas nos vários mercados e indústrias.

Palavras-chave: inteligência competitiva, macroplanejamento, planejamento governamental.

WORKSHOP BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E GESTÃO DO CONHECIMENTO, 3., 2002, SÃO PAULO. ANAIS.
CONGRESSO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, 1., 2002, SÃO PAULO. ANAIS. xxxx
THE ROLE OF COMPETITIVE INTELLIGENCE ON GOVERNMENTAL PLANNING. To improve its chances and
gain more competitiveness, it is recommended that Brazil places more investments on the utilization of structured process
generating intelligence together with the novel way to manage governmental agencies. That is actually achieving notable
results, as the Fernando Henrique Cardoso government placed more focus on the production of integrated plans and projects
as a solution to a particular problem. The competent perception of international competitor movements is going to bring
results for the Lula government. Actually, the plain and simple follow up of happenings on newspapers looks ineffective,
since investments allocated on the development of new technologies used to take years before its results are brought to the
public and broadcasted in the press. Knowing competitor’s movements save the government of some failures, or at least our
decision makers at the public sector won’t be surprised for being surprised., as they have previous knowledge of data and
facts on competitor external environment. The rapid changes that companies and governments face today, the globalization
process, and the development of economic blocks, all that factors inherent of modern times are generating the need that
governmental planning, or the planning at a macro level, adopt competitive intelligence process on traditional planning
process. As changes in the external environment come into place, strategic alliances and partnerships gain fundamental role
on the development and competitiveness of brazilian public and private sector companies, both on the variety of markets and
industries.

Keywords: competitive intelligence, planning at a macro level, governmental planning

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CONGRESSO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, 1., 2002, SÃO PAULO. ANAIS. xxxx
INTRODUÇÃO
A conjuntura de rápidas mudanças, o processo de globalização e organização em
blocos econômicos por que passam as nações trazem a necessidade de que o planejamento
governamental, ou o planejamento no nível macro, incorpore processos de inteligência
competitiva aos processos de planejamento tradicionais. Com essas mudanças no ambiente
externo, as alianças estratégicas e parcerias ganharam papel fundamental para o
desenvolvimento e a competitividade das empresas nos vários mercados e indústrias.
Muitos artigos têm aparecido em jornais e revistas abordando vazamento de
informações consideradas sensíveis ou valiosas para as organizações, podendo gerar prejuízos
ou lucros exorbitantes em função do conhecimento indevidamente privilegiado de poucos
(Damiani, M e Leobet, D., 2002). Além disso, espionagem econômica, estudos de indícios e
evidências de movimentos da concorrência, ou a detecção de sinais fracos que possam
antecipar movimentos de competidores, todos esses podem contribuir para a melhoria da
posição competitiva da empresa. O processo de inteligência competitiva inclui não somente a
produção do conhecimento que passa despercebido pelos decisores, chamados comumente
como pontos cegos (Zajac, E J. e Bazerman, M. H. 1991), como também a proteção de
conhecimento sensível, que ganhou fama mundial com a Lei de Proteção de Dados (Data
Protection Act 1998), agora conhecido como padrão de segurança da informação a que as
organizações devem compatibilizar-se (ISO17799), desenvolvido a partir do padrão de
segurança de informação do governo britânico: BS7799.
Maior complexidade ao estudo sobre o fluxo de informações em empresas e governo
resultou do estabelecimento da Lei de Liberdade de Informações (Freedom of Information Act
– FOIA) nos Estados Unidos, e que vem sendo base de Leis semelhantes em outros países, a
exemplo do que ocorreu com a Lei de Proteção de Dados iniciada na Inglaterra. Afinal, onde
se situa o fio da navalha entre o que deve ser protegido e o que deve ser disponibilizado?
Assim, inteligência competitiva e contra-inteligência mostram-se atividades
complementares e procuram fornecer bases bem fundamentadas de informações sobre a qual
possam ser tomadas decisões frente ao mercado competitivo e repleto de alternativas
possíveis de ações que devem ser conduzidas para posicionar melhor as empresas. Esse
gerenciamento adquire maior complexidade se entendermos o ambiente competitivo numa
perspectiva de campo para negociações de parcerias estratégicas, algumas dessas parcerias
firmadas com fornecedores que atendem empresas concorrentes (Hammer, 2001). A visão de
ambiente concorrencial fica mais rica e complexa com essa perspectiva.

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Acompanhar o ambiente concorrencial através de atividade estruturada de inteligência
corporativa consiste em identificar necessidades de inteligência, coleta, análise e
disseminação do conhecimento oportunamente e para a autoridade competente. Somente
dessa forma pode-se esperar que o Brasil conquiste uma posição de destaque na economia
mundial.

PROCESSO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA


Inteligência competitiva é o processo de monitoramento da concorrência, composto de
fases de coleta e busca de informações, análise e disseminação de documentos de inteligência
(Miller, 2002).
As notícias que servem normalmente como arcabouço para tomada de decisões, ou
início de algum estudo de mercado, se baseiam em acontecimentos no mínimo relacionados a
eventos do dia anterior. Esses eventos do dia anterior, por sua vez, baseiam-se em estudos e
desenvolvimentos de processos que foram iniciados há semanas, ou mesmo meses, se
envolverem estudos de laboratório etc. Dessa forma, basear-se apenas em notícias de jornal
não atende às necessidades de executivos antenados com o mundo concorrencial atual.
Essa descoberta de fatos e dados a respeito do que acontece no mercado, na indústria
da qual a empresa participa, principalmente com antecipação de acontecimentos via análises
prospectivas, possibilita que decisões equivocadas possam ser evitadas. Isso aconteceu, por
exemplo, com a Monsanto, ao identificar que não necessitaria de investir US$84 milhões,
como sugerido pelo setor de marketing, para preservar a participação de 65% que tinham no
mercado de adoçantes (Gazeta Mercantil, 2-3/11/1996).
A partir da descoberta desses dados e fatos, geralmente organizados de forma
coerente, para produzir informações sobre o ambiente concorrencial, os profissionais de
inteligência identificam as necessidades de inteligência dos principais responsáveis pelas
decisões em toda a empresa, sejam eles: pessoas, comitês, órgãos de assessoria. Para atender
essas necessidades de inteligência, coletam-se informações sobre fatos e dados relativos ao
ambiente externo da empresa. Essas informações são obtidas em fontes abertas (cerca de
80%), e fontes pagas ou não divulgadas (as restantes 20%). Antes da análise, esse conjunto de
matéria-prima para o trabalho do analista de inteligência sofre triagem quanto à relevância,
pertinência e confiabilidade em função das necessidades identificadas.
Dando continuidade ao processo de inteligência, os analistas analisam, sintetizam as
informações, que serão depois apresentadas de forma lógica e coerente em documento de
inteligência, ou relatório de inteligência. Esse produto da atividade de inteligência competitiva
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será então disseminado aos tomadores de decisão. Dessa forma temos um ciclo, como
proposto por Miller (2002) da seguinte forma:
identificação de necessidades de inteligência;
coleta de informações (fatos do ambiente externo, em fontes impressas,
eletrônicas e orais);
análise e sintetização das informações;
disseminação da inteligência resultante aos responsáveis pelas decisões.

PROCESSO DE PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL


As organizações (em seu sentido lato) não trabalham com base na improvisação. Suas
ações são planejadas antecipadamente. O planejamento é a função administrativa que
determina antecipadamente quais são os objetivos que devem ser atingidos e como se deve
fazer para alcançá-los. Trata-se, pois, de um modelo teórico para ação futura.
Segundo Matus (1993), planejamento pode ser definido como "cálculo situacional
sistemático que relaciona o presente com o futuro e o conhecimento com a ação".
Quatro etapas principais compõem o planejamento:
1. estabelecimento dos objetivos a alcançar;
2. tomada de decisões a respeito das ações futuras;
3. elaboração de planos: e
4. ação.
O planejamento, portanto, começa com a determinação dos objetivos e posteriormente
detalha os planos necessários para atingi-los da melhor forma possível. Planejar é definir os
objetivos e escolher antecipadamente o melhor curso de ação para alcançá-los. O
planejamento define onde se pretende chegar, o que deve ser feito, quando, como e em que
seqüência.
De acordo com seu grau de amplitude, o planejamento pode ser categorizado em três
níveis distintos: o planejamento estratégico, o tático e o operacional.
O planejamento estratégico é o planejamento mais amplo e abrangente da organização.
Projetado a longo prazo, tem seus efeitos e conseqüências estendidos a vários anos pela
frente, além de envolver a organização como um todo, abrangendo todos os seus recursos e
áreas de atividade, e preocupar-se em atingir os objetivos a nível mais abrangente. É definido
pela cúpula da organização e corresponde ao plano maior ao qual todos os demais estão
subordinados.

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O planejamento tático, por seu turno, é projetado a médio prazo, geralmente para o
exercício anual. Envolve segmentos da organização, abrangendo seus recursos específicos, e é
definido por cada segmento da organização.
O planejamento operacional é o planejamento feito para cada tarefa ou atividade.
Geralmente é projetado para o curto prazo, e envolve cada tarefa ou atividade isoladamente,
preocupando-se com o alcance de metas específicas.
Alguns detalhes devem ser observados no processo de planejamento. Inicialmente, é
fundamental para o sucesso do plano que o objetivo planejado seja eficaz, coerente e possível,
sob o risco de os planos não saírem nem ao menos do papel. Aliás, uma das causas do
insucesso de muitos dos planos governamentais adotados no Brasil, como se verá adiante, foi
justamente a falta de rigor técnico na definição dos objetivos.
Objetivos possíveis, coerentes e eficazes não bastam. O planejamento deve definir os
meios suficientes, necessários, potentes e eficazes, além de coerentes entre si, para a
consecução dos objetivos propostos. É justamente nesse ponto que reside o cerne do sucesso
ou não da implementação do planejamento proposto.
Um outro aspecto que merece destaque é que o planejamento deve considerar os
terceiros envolvidos no processo. Isso porque a implementação dos planos propostos vai
depender diretamente das pessoas envolvidas em sua execução, em todos os níveis. O
planejamento deve prever, na medida do possível, os efeitos dessa inter-relação. Esse é um
dos pontos fracos do planejamento na área governamental, pois quanto maior o número de
atores envolvidos no processo, mais difícil se torna a previsão das ações reativas ao plano.
Quem estará apoiando, quem estará indiferente, ou resistente ao plano?
Em suma, para obter êxito o planejamento deve incluir tanto o "deve ser", quanto o
"pode ser" e o "fazer".
Planejamento Governamental é um "método coerente e compreensivo de formação e
implementação de diretrizes, através de um controle central de vastas redes de órgãos e
instituições interdependentes, viabilizados por conhecimentos científicos e metodológicos"
(LOPES, 1990).
Podemos identificar, ainda segundo Lopes e a partir da análise dos modelos de
adotados por diferentes países, três espécies principais de planejamento governamental, quais
sejam:
1. o modelo socialista soviético, onde o planejamento permeia todo o sistema
econômico, utilizando-se de minuciosa explicitação de todo o processo produtivo (trata-se de

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um modelo relativamente em desuso, após o colapso dos regimes socialistas, à exceção da
China e Cuba, que assim mesmo fazem concessões à economia de mercado);
2. o modelo adotado pelos países de terceiro mundo, que adota o planejamento como
processo ideal nos esforços de industrialização rápida, com o objetivo de aumentar a renda
per capita. Neste rol se incluem os planos brasileiros até a década de 70;
3. o modelo utilizado nos países de economia de mercado, que utiliza o planejamento
indicativo onde, ao invés da substituição do mercado e mecanismo de formação de preços,
busca-se garantir maior eficiência do setor econômico através da redução do nível de
incerteza.
O planejamento no âmbito governamental pode ainda ser classificado em:
nacional: define metas e diretrizes para o país;
regional: limitado a determinadas regiões do país que tenham certas
peculiaridades econômicas e sociais;
urbano: circunscrito ao ambiente da cidade e preocupado com aspectos ligados
ao crescimento da mesma; e
setorial: ligados a determinados setores, tais como educação, transportes,
energia, etc.
No caso brasileiro, por se tratar de uma federação, observa-se ainda o planejamento de
âmbito estadual, que inclusive pode ser dividido por micro-regiões dentro do estado.
Cabe nesse ponto ressaltar que o planejamento governamental deve prever três
aspectos políticos que influenciam diretamente a implementação dos planos: o poder, a
cooperação e a coordenação. A estrutura do poder, quando não prevista na formulação,
simplesmente inviabiliza a execução do planejamento.
O Estado brasileiro não tem mais as condições econômicas e políticas necessárias para
investir diretamente na economia, tal qual no período que vai da década de 30 à década de 70,
e onde se fazia necessária a existência do planejamento nos moldes tradicionais.
Não se trata de catalogar a ação do Estado naquele momento como certa ou errada:
trata-se de um momento histórico diferente. Como bem assinala Octavio Ianni (1979), o
desenvolvimento industrial brasileiro no período 1930-1970 não foi resultado do jogo
espontâneo e automático das forças produtivas de mercado. Ao contrário, algumas dentre as
principais manifestações do desenvolvimento econômico brasileiro resultaram da ação direta
do Estado.
Uma alternativa poderia ser o resgate e a valorização do papel do Estado na
formulação e na condução das políticas públicas. Não mais na condição de empresário ou de
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construtor, mas sim na condição de regulador da ação privada e indicador do desenvolvimento
e compensador dos prejuízos sociais. Ou seja, como sinalizador de diretrizes, e intenções de
promover fluxos de investimentos, que podem ser organizados por eixos de desenvolvimento
econômico.
Em tal perspectiva de Estado, não cabe mais o uso do antigo planejamento tradicional.
Faz-se necessária uma nova metodologia, que corresponda às novas funções a serem
desempenhadas pelo setor público. Esse novo modelo pode ser denominado de planejamento
indicativo, ou seja, o planejamento governamental como indutor da ação privada.
No Plano Plurianual 2000-2003 (Ministério do Planejamento, 2000), em seqüência à
experiência do Brasil em Ação, todas as atividades e projetos executados pelo governo foram
estruturados em programas voltados para o atendimento dos problemas da sociedade. Nessa
nova visão, os orçamentos foram organizados segundo os problemas que visavam solucionar,
em vez de em tabelas rígidas, organizadas por funções do governo – saúde, educação,
transporte, cultura, entre outras – desdobrados em programas, subprogramas, projetos e
atividades padronizadas, sem relação com o problema específico a ser resolvido.
Assim, e como o governo federal não vinha sendo mais capaz de financiar,
isoladamente, todos os investimentos estratégicos para o desenvolvimento, surgiu a
necessidade de parcerias entre governo federal, estados, municípios, organismos
internacionais, organizações não-governamentais e empresas privadas para viabilização dos
programas.
Com essa nova perspectiva, parece decisiva a utilização de processos de IC no
planejamento governamental.

VANTAGENS DA IC PARA O MACROPLANEJAMENTO


O tratamento de informações de mercado e a geração de recomendações para os
tomadores de decisão nas organizações compreendem o centro da atividade de inteligência
competitiva. Além das considerações de proteção do conhecimento sensível, a inteligência
competitiva procura identificar oportunidades de mercado, fatores portadores de futuro e
sinais de advertência antecipados, para atuação pró-ativa no tratamento de questões inerentes
à indústria em que se situa a empresa, ou em direção a qual o governo pretende atuar.
A IC enfoca a análise do ambiente competitivo em que se insere o sistema que será
contemplado com a ação governamental, seja traçando diretrizes, relacionando participantes,
alocando recursos, indicando áreas de atuação de empresas do setor privado na alavancagem
dessas ações de governo.
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Tanto por carência de recursos para investimento, quanto como resultado de limitações
de capacitação e especialização, o governo precisa contar com as empresas privadas na
implementação das ações de governo.
As mudanças no ambiente externo processam-se rapidamente e fora do controle direto
de instituições, sejam governamentais, sejam privadas, sejam mesmo organizações não-
governamentais (ONGs). Assim, torna-se imprescindível a inclusão de processos de IC para
antecipar eventos e permitir uma melhor avaliação desse ambiente, de forma que seja
administrada a incerteza em relação a investimentos e retornos no curto, médio e longo prazo.
Essa antecipação permitirá inclusive a maior aceitação pela população de eventuais sacrifícios
que precisarão ser assumidos de sua parte para que seja alcançado o bem estar social
embutido no plano do governo.
Essa crise de cooperação com iniciativas do governo pode ser notada, por exemplo,
quando são necessárias reformas econômicas e previdenciárias, onde o esforço envolve
sacrifícios tanto da classe e das instituições dominantes, quanto das classes e instituições que
desenvolvem atividades produtivas, mas que têm menor poder de articulação política.

INTEGRANDO MACROPLANEJAMENTO E IC
Considerando a formação de blocos econômicos e a tendência de parcerias
internacionais entre países através de acordos bilaterais de comércio, parece claro que há
necessidade urgente de integrar processos de inteligência competitiva ao macroplanejamento.
Essa integração permitirá ao país articular o fortalecimento de empresas nacionais, com
resgate e manutenção da cultura e vantagens competitivas nacionais.
Dessa forma, a produção nacional deverá transferir-se de áreas onde o valor agregado
é inferior para setores de mercado com maior rentabilidade. Afinal, atualmente planejamento
sem consideração de tendências de mercado, e sem monitoramento da concorrência, aponta
para a continuidade da não defesa de interesses nacionais nas negociações internacionais nos
vários conselhos e foruns de desenvolvimento mundial.
Projetos desenvolvidos e implementados durante o governo do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, podem ganhar novas roupagens tendo em vista as prioridades
estabelecidas no novo governo do presidente Lula. Por exemplo, o que antes seria visto como
projeto de inclusão digital, com reflexos na educação em localidades remotas e desprovidas
de professores qualificados, agora pode ser considerado como projeto na área da geração de
conhecimento, emprego e renda, dentro das políticas locais, como estabelecido para o
Programa Fome Zero: carro-chefe entre as prioridades do governo atual.
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Qualquer novo projeto, que não possa ser entendido como relevante, ou mesmo
essencial para as políticas estruturais, as políticas específicas, ou as políticas locais, do
Programa Fome Zero tende a ser preterido em favor dos que assim o forem. Trata-se de
enxergar com o adequado senso de oportunidade a possibilidade de participação em
determinado eixo de desenvolvimento econômico.
De idêntica forma, os esforços de entrada em novos mercados econômicos, com
disputas entre empresas de países diferentes, como EMBRAER (Brasil) e BOMBARDIER
(Canadá), passam por um entendimento do que a Organização Mundial de Comércio (OMC)
reconheça, ou aceite como práticas aceitáveis e politicamente corretas: 1) as possibilidades de
investimento, 2) formação de preços, e 3) outros critérios, na regulamentação do mercado de
produção na indústria aeronáutica.
Entre as atribuições do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, responsável
pelo Sistema de Planejamento Nacional, não constam explicitamente funções inerentes ao
processo de inteligência competitiva. Não é feita referência à observação do ambiente externo
do país, bem como quaisquer impactos advindos de ações de países, ou blocos econômicos,
onde o Brasil não esteja inserido.
São as seguintes as atribuições do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão:
participação na formulação do planejamento estratégico nacional;
avaliação dos impactos sócio-econômicos das políticas e programas do
Governo Federal e elaboração de estudos especiais para a reformulação de
políticas;
realização de estudos e pesquisas para acompanhamento da conjuntura sócio-
econômica e gestão dos sistemas cartográficos e estatísticos nacionais;
elaboração, acompanhamento e avaliação do plano plurianual de investimentos
e dos orçamentos anuais;
viabilização de novas fontes de recursos para os planos de governo;
formulação de diretrizes, coordenação das negociações, acompanhamento e
avaliação dos financiamentos externos de projetos públicos com organismos
multilaterais e agências governamentais;
coordenação e gestão dos sistemas de planejamento e de orçamento federal, de
pessoal civil, de organização e modernização administrativa, de administração
de recursos da informação e informática e de serviços gerais;
formulação de diretrizes e controle da gestão das empresas estatais;
acompanhamento do desempenho fiscal do setor público;
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administração patrimonial; e
política e diretrizes para modernização do Estado.
Os reflexos dessa ausência de visão de IC aparecem com a pouca ingerência do país
em políticas regionais e a difícil articulação com parceiros comerciais no Mercado Comum da
América do Sul (MERCOSUL) para beneficiar as empresas nacionais e, conseqüentemente,
os resultados na balança comercial. Isso apesar do Brasil ser o país mais forte
economicamente na América do Sul.
Ação isolada pode ser observada a partir do site do Ministério das Relações Exteriores
(MRE) - http://www.mre.gov.br), onde o CGECon tem entre seus objetivos a livre divulgação
de estudos e informações, subsídio ao fortalecimento da competitividade brasileira no cenário
internacional e implementação de gestão e metodologias para o tratamento estratégico de
dados. Apesar de estar sendo desenvolvida no âmbito do MRE, ainda representa um processo
muito insipiente de implementação de atividades de IC no planejamento governamental.
De fato, o Centro de Gestão Estratégica do Conhecimento em Ciência e Tecnologia
(CGECon) vem sendo implementado desde meados de 2001, por meio de postos nas
embaixadas brasileiras, sites na internet e listas virtuais de discussão. Brasileiros residentes no
exterior, com livre trânsito em organizações e entidades de pesquisa, são encarregados de
coletar as informações, que ficam disponibilizadas livremente no site do CGECon
(www.cgecon.mre.gov.br), criando um ambiente democrático para a divulgação da inovação e
do conhecimento.
Essa rede encontra-se formada por 22 postos presentes nos principais centros mundiais
de pesquisa e tecnologia, onde dados e informações a respeito de inovações do conhecimento
são manejados por especialistas para, em seguida, serem comunicados em ambiente virtual.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Para construir-se um Brasil mais competitivo é necessário gerir adequadamente
informação e conhecimento. A integração de processos de IC no macroplanejamento
permitirá que o planejamento governamental seja mais coerente com os movimentos de
mercado, nacional e internacional, articulando interesses diferentes para evitar grande impacto
de rejeições a iniciativas do poder público, além de agregar esforços e motivação dos atores
envolvidos, impactantes e impactados pelas ações indicadas nos planos governamentais.
Os reflexos esperados vão desde o maior empenho e aceitação da população em
programas e projetos iniciados pelo governo, até o reconhecimento de maior transparência dos
objetivos e resultados almejados com os planos governamentais.
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Em um mundo onde o uso de espionagem industrial apresenta-se como ação em franco
crescimento (Nolan e Quinn, em Miller 2002), países que não observarem princípios básicos
de proteção ao conhecimento crítico ou sensível, bem como a implementação de rotinas de
segurança de informação, estarão correndo riscos de perderem competitividade, com a
conseqüente perda de força política e econômica no cenário globalizado e interconectado
atual.
Para enfrentar as ações de inteligência competitiva de países concorrentes, suas
organizações dos setores público, privado, ou mesmo no terceiro setor, a implementação de
funções de inteligência e segurança serão cruciais.
Entre os fatores estimuladores da concorrência podem ser listados: a velocidade dos
processos de negócios, a sobrecarga de informações, o crescimento global do processo
competitivo com a entrada de novos participantes, a agressividade da concorrência, a
turbulência do ambiente tecnológico em franca transformação, a formação de blocos como
União Européia (UE), Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), e
Mercosul.
Porque um serviço de informações por si só não resolveria a carência de um trabalho
estruturado de inteligência? A interpretação de necessidades de inteligência dos tomadores de
decisões em uma organização envolve a interpretação dos mapas mentais dessas pessoas,
técnicas de entrevistas diferenciadas das comumente realizadas em programas de
recrutamento e seleção. Além disso, coleta de dados, análise e disseminação são específicos
da função inteligência.
Os analistas especialmente capacitados promovem a coleta de dados e fatos do
ambiente externo, com uma abordagem que inclui a avaliação da fidedignidade da fonte, a
ligação entre eventos em andamento, textos não-estruturados e dados estruturados em bases
corporativas. A relevância do material e o cruzamento de variadas fontes completam os
cuidados que precedem o trabalho analítico.
Para completar o processo estruturado de inteligência organizacional há necessidade
de cuidados quanto à agilidade e foco da divulgação do relatório, com o sigilo que se fizer
necessário, e quanto à autoridade competente para a eficácia da tomada de decisão.
Entre os principais limitadores para o reconhecimento dos trabalhos concretos de uma
unidade de inteligência competitiva, e dos benefícios da integração de processos de IC em
processos de planejamento governamental, pode ser listada a dificuldade de mensuração de
resultados. Isso decorre da dificuldade de relacionar retornos de antecipação de ações dos
concorrentes, e da identificação de fatores não percebidos pelos tomadores de decisão, já que
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raramente os créditos de inteligência produzida pelos analistas são divulgados após a
utilização dos documentos de inteligência disseminados.
Para a maior competitividade do Brasil, seria recomendável investir na utilização de
processos estruturados de geração de inteligência aliados à nova forma gerencial adotada pelo
governo, que já vem obtendo resultados, com o foco dado pelo governo Fernando Henrique
Cardoso à produção de planos e projetos integrados em função da solução de determinado
problema.
A competente percepção de movimentos da concorrência internacional trará resultados
para o governo Lula. Afinal, o acompanhamento puro e simples das notícias de jornais se
mostra ineficaz, porque os investimentos colocados em desenvolvimento de novas tecnologias
costumam levar anos até que sejam trazidos seus resultados e depois divulgados na imprensa.
Conhecer movimentos da concorrência poupa o governo de alguns insucessos, ou pelo menos
nossos decisores não serão surpreendidos de estarem sendo surpreendidos, dado o
conhecimento prévio de dados e fatos do ambiente externo concorrencial.

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NOTAS E REFERÊNCIAS

BRITISH STANDARDS PUBLISHING LIMITED (BSPL) (2003) ISO17799. Disponível no


site http://bsonline.techindex.co.uk.

DAMIANI, M e LEOBET, D. (2002) O PAÍS DOS VAZAMENTOS: suspeitas de


informações privilegiadas em operações com Banco do Brasil e BR abrem crise no governo,
em ISTOÉ Dinheiro, edição 307, 24 de abril de 2002, disponível no web site (URL):
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/243/economia/243_pais_vazamentos.htm.

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