O livro de Sílvio Elia analisa a língua portuguesa em países lusófonos, categorizando-a de acordo com seis traços sociolinguísticos. Ele divide as comunidades lusófonas em cinco grupos - Lusitânia Antiga, Nova, Novíssima, Perdida e Dispersa - com base na presença ou ausência desses traços.
Original Description:
Resumo do livro A Língua Portuguesa no Mundo de Silvio Elia.
O livro de Sílvio Elia analisa a língua portuguesa em países lusófonos, categorizando-a de acordo com seis traços sociolinguísticos. Ele divide as comunidades lusófonas em cinco grupos - Lusitânia Antiga, Nova, Novíssima, Perdida e Dispersa - com base na presença ou ausência desses traços.
O livro de Sílvio Elia analisa a língua portuguesa em países lusófonos, categorizando-a de acordo com seis traços sociolinguísticos. Ele divide as comunidades lusófonas em cinco grupos - Lusitânia Antiga, Nova, Novíssima, Perdida e Dispersa - com base na presença ou ausência desses traços.
A Lngua Portuguesa no Mundo, de Slvio Elia, tem por objetivo apresentar um
breve panorama da formao lingustica de pases lusfonos e a por meio de uma anlise scio-histrica da lngua falada nestes pases e avaliar uma perspectiva do futuro desta lngua em cada um deles e no mundo. Tal debate apresentado desde a introduo e desenvolvido em duas seces, a saber: A lngua portuguesa no mundo e Perspectivas. Cada seo organiza-se a partir dos primeiros momentos da lngua portuguesa seja j na sua forma continuada do Latim, seja no percurso deste at o portugus moderno. A Introduo do livro explica trs conceitos fundamentais: Lngua (estrutura ou instituio); comunidade lingustica e dialeto. O autor enfatiza a importncia da sociolingustica na reconceituao de lngua a partir de seu uso efetivo: a fala. Ao faz-lo, critica o imanentismo estruturalista e defende a ideia de que o dinamismo histrico-social da lngua o reflexo do homem que a utiliza. Mesmo reconhecendo o carter estrutural da lngua, o autor salienta que a lngua, enquanto objeto de estudo sociolingustico, constitui uma unidade passvel de variedade tendo, assim, carter institucional (Halliday, 1972) pela possibilidade de variao em relao ao usurio (dialeto) e ao uso feito por ele (registro) de forma mais abrangente a unificao desta relao resulta em diferentes dialetos> subdialetos>idioletos cujo linguajar modifica-se no tempo, no espao e no grupo, a unidade variante coletiva e formar as bases das comunidades lingusticas. Nessa introduo, Elia estabelece a conceituao dos trs elementos bsicos dos estudos sociolingustico: comunidade lingustica, dialeto e lngua. A noo de comunidade lingustica, segundo Elia, foi se construindo ao longo da prpria construo dos estudos sociolingusticos (Blomfield, 1933; Fishman, 1972; Gumperz, Wardhaugh 1986; Labov, 19; Hymes, 1972). Dentre as conceituaes feitas por estes tericos, o autor a conclui como todo agrupamento dotado de um cdigo verbal comum que, podendo no ser exclusivo, a todos se impe, por meio de normas que funcionam como fora de coeso e solidariedade social. (p.10). Os outros dois conceitos se fazem pela distino entre eles, a partir da fala. Dialeto trata dos falares diferenciados (desde os gregos era tido como conversao, maneira de falar; entre os romanos havia a diferenciao pela variao diafsica; na Idade Mdia, o conceito era tratado a partir da variao diamsica), moderna e popularmente so tratados como forma corrompida da lngua culta e linguisticamente so evolues independentes de uma mesma lngua (p.12), ou seja, so estruturalmente semelhantes lngua e institucionalmente dotados de uma funo histrico-social. Quanto ao conceito de Lngua Slvio afirma tratar-se de instrumento de expresso da vontade soberana dos Estados nacionalmente organizados e por isso gozam de maior prestgio social cumulativo de patrimnio cultural. Sendo assim, a lngua abriga em seu mago diferentes dialetos que identificam as comunidades lingusticas representativas em uma nao. A primeira seco da obra de Silvio Elia, a partir das noes tratadas acima, busca categorizar a Lngua Portuguesa a partir seis traos sociolingusticos: lngua-bero, lngua materna, lngua nacional, lngua oficial, lngua-padro e lngua de cultura. Conforme a ausncia dos traos, a anlise apontou cinco faces para as comunidades lingusticas, as quais ele nomeou de Lusitnias: Antiga (Portugal, Madeira e Aores) origem; Nova (Brasil) adotada; Novssima (Angola, Moambique, Guin-Bissau, Cabo Verde e So Tom e Prncipe) oficial; Perdida (regies da sia e da Oceania) substituda; e, Dispersa (imigrantes lusfonos) - resistente. Como lngua-bero, o autor definiu aquelas comunidades fonte de todos os falares do portugus, apontou nesta categoria o Portugus europeu, a lngua falada em Portugal, Madeira e Aores. As comunidades que no se enquadram neste trao recebem o trao variante de lngua transplantada, ou seja, no surgiu na comunidade, mas foi imposta pelo colonizador portugus, o caso do Brasil. Para a categoria lngua materna, foram usadas como base a lngua falada nos lares de pases lusfonos desde o nascimento de seus falantes, a qual pode ser registrada na comunidade da Lusitnia Antiga e Lusitnia Nova. O autor salienta que no Brasil a coexistncia de lnguas indgenas, africanas ou de comunidades imigrantes (alemes, italianas e japonesas principalmente), mesmo com relevante influncia no lxico e na fonmica, ocasionou um processo de aculturao e substituio gradual pelo portugus. Os pases em que a Lngua Portuguesa concorre nos lares com outras lnguas nativas, ocorrendo nestes casos o plurilinguismo, passa-se a verificar o trao veicular, o que se detecta na Lusitnia Novssima. Para a categoria lngua nacional, deve-se considerar, segundo o autor, a ausncia de contrastes em toda a extenso do territrio, bem como o fato de ser praticada em todo o territrio nacional, o que ocorre nos pases da Lusitnia Antiga e Nova. Nas demais Lusitnias a Lngua Portuguesa concorre com o bilinguismo, trilinguismo ou plurilinguismo das lnguas nativas, bem como a interferncia das lnguas do dominador econmico, devido falta da insero de tradio portuguesa em seus aspectos culturais, visto que no foram colonizadas por eles. Nestes pases, a lngua sobrevive em lares ou entre as pessoas mais idosas, por razes histrico-afetivas. Em relao ao trao de lngua oficial, dever-se fazer referncia imposio de uma lngua por fora de leis ou decretos na escritura de atos e documentos pblicos. Em Portugal D. Dinis se encarregou dessa assinatura; no Brasil, registra-se a Marqus de Pombal e Lei do Diretrio (1757) tal feito. J entre os pases da Lusitnia Novssima o autor aponta: em Angola, a assinatura data de 1975 com o intuito de amenizar conflitos polticos e econmicos da nova nao; em Moambique, 1975 por razes pragmticas, tambm foi a data do decreto que tornava a lngua portuguesa o idioma oficial, as razes; em Guin-Bissau, mesmo concorrendo com o crioulo da Guin, prevalece na representao escrita de lngua; j em Cabo Verde, mantm-se como oficial desde a sua independncia por seu domnio na escrita, visto que a Lngua cabo-verdiana ainda tem caractersticas marcadamente crioulas; por fim, tambm esse trao observado em So Tom e Prncipe desde 1975, sendo a lngua exclusiva da escolarizao. Este trao no observado nas Lusitnias perdidas e dispersas. Naquelas, por vrios motivos histricos, econmicos e militares, as antigas colnias portuguesas na sia e na ndia receberam outros povos que efetivamente as colonizaram e instituram suas lnguas como oficiais. Nas Lusitnias Dispersas, dada a condio imigrante do falante de portugus, sem direitos polticos, econmicos ou sociais em equiparao aos nativos quase impossvel uma dominao dos poucos grupos em relao a toda uma nao. O trao lngua padro considera aquela reconhecida pelo Estado ensinada nas escolas e ouvida nas comunicaes oficiais e usada nos escritos didticos, literrios, cientficos, miditicos e oficiais. Ao ser referncia de norma, por ter sido disciplinada e sistematizada por gramticos de autoridade passa a ser o padro lingustico praticado por pessoas cultas. Tais traos encontram-se na Lusitnia Antiga, na Nova e na Novssima. Nesta ltima, por ser a lngua da escolarizao se sobrepe aos crioulos, ainda grafas na maioria dos pases. Nas Lusitnias Perdidas e nas Dispersas este trao no observado. Naquelas, o portugus est em franco declnio, perdeu espao nas escolas para o universalismo do ingls (Goa) ou chins (Macau) e para a vitalidade de falares locais (Timor). Nestas, as Dispersas, os imigrantes, em sua maioria, saem de forma aleatria por este mundo j colonizado e com caractersticas identitrias que se constroem a partir da lngua, assim, precisam aprender a nova lngua e passar a usar o portugus entre os seus semelhantes. Por fim, o trao de lngua de cultura, para Elia, identifica os falantes da lngua portuguesa, independente da localidade. Alm disso, pode referir-se a nica lngua pela qual a escolarizao do povo torna-se possvel, o caso de Angola, ou pode ser a nica apta transmisso do saber cientfico como em Moambique. Ao abranger o patrimnio literrio acumulado e possibilitar o compartilhamento desse patrimnio entre falantes de outras localidades, o trao que observado em todas as lusitnias. Na segunda seo do livro, Perspectivas, Silvio Elia apresenta um histrico da evoluo do Latim ao Portugus, salientando a importncia da lngua como identitria de polticas de Estado e cultura. Este histrico tem incio na Idade Antiga com os Romanos, os quais tinham a lngua como companheira do imprio, uma percepo universalista de poltica; os romanos, cuja viso pag de mundo corporificava a voz por meio da palavra, ao privilegiar a retrica e a oralidade, tambm definiam a lngua escrita como uma representao o mais prxima possvel da oralidade. Na Idade Mdia, o imperialismo religioso do cristianismo, tem a cultura como enriquecedora da alma humana, mas esta precisa ser regrada e comedida; neste perodo a palavra expressava o pensamento o qual ia se refugiar no manuscrito; neste perodo, a lngua latina a lngua dos sbios e dos saberes. Durante o Renascimento, o homem o centro, e o saber chega a ele por seu prprio intermdio, o texto impresso revoluciona a cultura no mundo e religioso encolhem a expanso da lngua latina e suas filhas; a escrita em diferentes lnguas individualiza as naes. Na atualidade, vive-se o perodo do ecumenismo em que o social e o pessoal interagem na construo de novos saberes e culturas, no bastando mais ler preciso ver. Slvio compara o falante e a forma como trabalha seu ato comunicativo e propagar sua cultura ao longo das eras: com legionrios (propagou a cultura pela terra em suas guerras de conquista); com cavaleiros (tambm por terra em suas Cruzadas em busca do Sagrado); com argonautas (pelos mares nunca antes navegados em seus descobrimentos); e, com astronautas (pelos ares, com os satlites que levam o vdeo aos lugares mais longnquos). Neste cenrio, as mudanas na lngua tornam-se mais evidentes e dinmicas. Segundo Slvio, a lngua inglesa vem mantendo uma hegemonia, mas aspectos culturais, polticos e econmicos, por mais que possuam bases universalizantes, tambm as possuem em carter individualizante. Por esta razo a lngua portuguesa, mesmo em constante contato com outras lnguas, tem se enriquecido e se fortalecido desde o Renascimento (poca de seu surgimento), porque culturalmente expressiva, apresenta representantes renomados ao longo das Eras; politicamente, embora ainda com atuao incipiente, conseguem as naes lusfonas agregar foras significativas para respaldar prestgio lngua; e, economicamente so naes relativamente novas e em expanso, com exceo de Portugal, no entanto, ainda h muito a se descobrir enquanto potencial industrial, comercial, artstico e tecnolgico. Um ltimo tema abordado pelo autor faz referncia ao recente Acordo Ortogrfico. Segundo ele, por se tratar de uma conveno no haveria implicaes na estrutura interna da lngua. Portanto, ele no consegue ver obstculos instransponveis em sua implantao, visto que no mexer na pronuncia ou no lxico da lngua.