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Adoração e Educação Teológica

Por Roberto Alves de Souza


Pastor y líder bautista brasileiro

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário
que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” . ( João 4.23,24)

O tema proposto para esta ocasião será desenvolvido a partir da seguinte pergunta: Que
contribuição a educação teológica pode dar para a formação de “verdadeiros adoradores”?

Dois pressupostos básicos se relacionam a esta questão. O primeiro tem a ver com a
importância da educação teológica para a vida das igrejas. É comum ouvir-se a afirmação de
que “tudo começa nos seminários”. Isto é, o que acontece nas igrejas e, por extensão, no
grupo denominacional como um todo, resulta, em grande parte, da formação recebida nos
seminários. A propósito, não é sem razão que a palavra “seminário” deriva-se de uma raiz
que significa “semente”. O seminário é um lugar em que sementes são lançadas. Os frutos
dessa sementeira vão desabrochar nos ministérios que os egressos realizam nas igrejas.

Mesmo que não se queira ir tão longe nessa generalização de que “tudo começa no
seminário”, não se pode negar o papel das instituições de educação ministerial como
formadoras de opinião.

O segundo pressuposto tem a ver com o lugar da adoração como parte da missão global da
igreja.

Aqui as opiniões variam. Existem aqueles que admitem ser a evangelização a missão principal
da igreja. Ela existe para pregar a boa nova, para fazer missões. É a tarefa querygmática
da igreja. A base bíblica tem sido, entre outros, o texto da Grande Comissão, em Mateus
28.19,20. Mas como se sabe, o interessante é que o “Ide” que aparece de modo geral nas
versões desse texto, não é um imperativo na língua original do Novo Testamento. O
imperativo é, sim, “fazei discípulos”.

Talvez, por este motivo, outros vão optar pela tarefa docente ou didática. A missão da
igreja é ensinar. E quando ela o faz com propriedade, os crentes tornam-se aptos e
amadurecidos para a vida cristã, inclusive para a evangelização. (Discurso de paraninfo da
turma de 1982, do STBSB: “Precisa-se de pastores educadores”).

Em alguns círculos tem prevalecido a idéia de que a igreja vive para adorar a Deus. Esta é a
sua missão fundamental. Assim como o homem foi criado com o fim de glorificar a Deus,
também a igreja. Quando a igreja prioriza o culto, a adoração, ela cria as condições para o
desempenho das outras facetas da sua missão. Esta parece ser uma tendência muito forte
em nossos dias.

Ocorre que, em nosso segundo pressuposto, fala-se em missão global da igreja, também
designada como missão integral ou missão holística da igreja. A adoração seria parte dessa
missão abrangente.

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Dentro dessa visão, não se privilegia um ou outro dos ministérios da igreja. Ela precisa
evangelizar, ensinar, adorar, exercer a beneficência ou serviço, e também exercitar a
koinonia, ou comunhão. Se um desses aspectos falhar, a missão da igreja como um todo fica
comprometida. A igreja não pode só adorar sem cumprir a sua tarefa querigmática. Ela não
pode só evangelizar e se descurar da beneficência. O ensino deve associar-se à ação
evangelizadora, a fim de que se promova o amadurecimento dos crentes. Como poderia uma
igreja onde não haja o espírito de comunhão, unir-se para a obra missionária ou para o
perfeito louvor e adoração?

Nossa tese, portanto, fundamenta-se nestes pressupostos. A educação teológica (ou


ministerial) é importante para a formação de liderança que conduza as igrejas no
cumprimento de sua missão integral. A adoração é parte integrante da missão global da
igreja, devendo, portanto, ser contemplada nos programas de formação de liderança que
conduza os crentes à condição de verdadeiros adoradores.
Daí, a pergunta inicial: “Que contribuição a educação teológica pode dar para a formação de
verdadeiros adoradores?”

I. Visão bíblica de adoração

Uma primeira resposta a esta pergunta seria que os seminários devem passar aos
educandos um visão bíblica de adoração. Se é verdade que Deus está à procura de
“verdadeiros adoradores” (João 4.23), segue-se que nem sempre o que se chama de culto ou
adoração merece receber essas designações.

O estudo histórico e teológico da adoração do ponto de vista bíblico, com a precaução


metodológica de que a revelação divina é progressiva, deve abranger todo o escopo da
Palavra de Deus, desde o tempo de Enos, filho de Sete, quando “os homens começam a
invocar o nome do Senhor”, até a visão de João no Apocalipse, segundo a qual os remidos, no
Monte Sião (Gn) e com o Cordeiro, “tocavam as suas harpas e cantavam um cântico novo
diante do trono” (Ap 14. 1-3).

A lição que deve prevalecer desse levantamento do material bíblico, é a de que Deus espera
sinceridade da parte do adorador. Deus está à procura daqueles que o adorem “em espírito
e em verdade” (João 4.23).

Isto tem a ver com postura íntima do adorador. No Antigo Testamento, o Salmista já
preconizava: “Louvar-te-ei com retidão de coração” (Sl 119.7).

Citando o profeta Isaías, Jesus repreendeu alguns escribas e fariseus do seu tempo, por
causa da ênfase que eles davam os aspectos exteriores da adoração: “Este povo honra-me
com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim; mas em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens”(Mc 7.6,7). A propósito, esta passagem demonstra
que ensino e adoração fazem parte de um mesmo todo. O ensino deturpado e deturpante
produz um tipo de adoração inaceitável a Deus.

Os seminários precisam transmitir uma visão bíblica de adoração, formando ministros que
liderem cultos que agradem a Deus, porque celebrados com sinceridade de coração.

II. Os modelos de adoração

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Outra iniciativa da educação teológica, em seu esforço de contribuir para a formação de
“verdadeiros adoradores”, tem a ver com os modelos de adoração.

Pode ser que exista, em alguns contextos, a preocupação de fixar um único e inflexível
modelo litúrgico. Essa preocupação pode até estar sendo refletida em congressos de
identidade denominacional.

As casas de ensino ministerial devem proporcionar a informação sobre os vários modelos de


culto, preparando os educandos não apenas no aspecto informativo, mas também no
formativo, isto é, habilitando-os para uma atuação nos variados contextos ministeriais.

Em seu livro Adoração Bíblica,, o Dr. Russel Shedd, após elencar seus diferentes
“Expressões de Adoração”, chama a atenção para “A Significância da Forma
Contextualizada”. Assim se expressa aquele autor: “Tanto igrejas locais como denominações
inteiras variam muito nas suas maneiras de oferecer culto a Deus”(p.12). E ainda: “Não se
trata de modos certos ou errados em si mesmos, mas que todos busquem descobrir como
agradar ao Pai Eterno e ainda ouvir a Sua voz com espírito atencioso”(p.12).

O Congresso que ora se realiza caminha nesta direção, com base no fato de que o mais
importante na adoração é o espírito de adorador e não a forma como ele adora. As
experiências que aqui vivenciaremos, ao sermos expostos a várias formas litúrgicas, bem
poderiam ser adaptadas como experimentos para as salas de aula. A síntese a ser
elaborada, das três formas de culto, devem nos habilitar para a utilização dos elementos
positivos que encontramos em cada uma delas.

III. A formação específica da liderança musical

Quando pensamos na pergunta: “Que contribuição a educação teológica pode dar para a
formação de verdadeiros adoradores”, uma palavra precisa ser dita quanto à formação
específica nas escolas de música dos nossos seminários, sem que haja aqui a pretensão de
esgotar o assunto. Nessa área específica, os seminários devem preocupar-se em preparar
líderes que tenham, entre outras, as seguintes características:

1. Visão cúltica Embora a música seja uma arte, esta não deve ser a preocupação
principal com a música na igreja. Isto não significa dizer que os aspectos técnicos e
estéticos devam ser desprezados. Estes são importantes e desejáveis, porque para Deus
devemos oferecer sempre o melhor. No entanto, o que deve prevalecer é o espírito de culto
a Deus.

2. Visão conjunta O ministério da música é um entre os vários ministérios da igreja. Não


é mais importante que os outros. Tem o seu lugar de destaque, até mesmo porque,
diferentemente do que ocorre com outros ministérios, é um dos que mais aparecem e
encantam. A música, quando bem executada, é agradável aos ouvidos e ao coração. Quando
isso acontece, o retorno em termos de apreciação e elogios é inevitável. Como conseqüência,
o orgulho pode tornar-se incontrolável.

3. Visão participativa Um resultado da visão conjunta deve ser a visão participativa. Os


líderes de música e seus liderados devem ser preparados para integrar-se nos demais
programas que a igreja oferece para o seu crescimento espiritual. Não são poucos os

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pastores e igrejas que têm se ressentido da ausência do “pessoal da música” nas atividades
de ensino, evangelismo, oração e outras.

4. Visão equilibrada Os ministros e líderes do programa musical nas igrejas devem ser
orientados quanto à dosagem ideal da música na ordem de culto. Esta observação está
relacionada com o que já foi falado há pouco, nas referências feitas à Visão conjunta. A
dosagem desequilibrada gera, freqüentemente, algumas distorções.
Uma delas é o conceito de culto “animado” ou “espiritual”. Ele é uma coisa e outra quando se
canta muito. Ele é desanimado ou sem fervor quando se canta pouco. Tudo isto sem que se
leve em conta outros elementos do culto que também contribuem para a sua animação e
fervor, como, por exemplo, uma mensagem bíblica poderosa.

5. Visão técnica O que temos em mente ao usar a expressão “Visão técnica”, é a


capacidade que o líder musical deve ter para lidar com a seleção da música para o culto.
Isso tem a ver com o porquê e o para quê deste ou daquele hino, desta e ou daquela
participação. É imprescindível que o ministro de música entenda o valor funcional da música.
Ela não é um fim em si mesma, mas um meio para se chegar a um determinado ponto e se
obter um determinado resultado.

Olhando esta questão pelo lado negativo, a música no culto não deve ter, por exemplo a
finalidade de esquentar o ambiente. Tampouco deve ser ela usada para atiçar as emoções.
Pelo lado positivo, a música deve servir para glorificar a Deus, edificar os crentes,
evangelizar os perdidos, consolar os que sofrem etc, conforme delineado no opúsculo
Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, elaborado pela Associação
dos Músicos Batistas do Brasil:

“A música deve harmonizar-se com o espírito do culto, para que haja unidade de expressão
e de experiência. É necessário que a música, nova ou antiga, nacional ou de outras origens,
tenha o conteúdo necessário às várias partes do culto, conduzindo de forma adequada os
fiéis para esses momentos.... A música exerce funções diferentes através de uma
experiência de culto verdadeiro: louvor e exaltação ao Deus trino; edificação dos crentes,
promovendo o crescimento espiritual; evangelização de visitantes ou famílias não-crentes;
anúncio da mensagem de Deus; conforto no sofrimento; cuidado pastoral, levando os fiéis a
andar nos caminhos de Deus” (p.9).

Os seminários precisam esforçar-se para preparar ministros de música que desenvolvam


estas visões e as implantem nos ministérios que realizam nas igrejas: cúltica, conjunta,
participativa, equilibrada e técnica.

IV. A metodologia transdisciplinar

A contribuição da educação teológica para a formação de verdadeiros adoradores estende-


se, também, aos educandos nas escolas de teologia, educação e outras, que não estão
adquirindo habilitação específica na área de música sacra.

Recomenda-se que os seminários adotem uma postura transdisciplinar que possibilite ao


estudante de música receber embasamento bíblico-teológico em sua formação, e, ao mesmo
tempo, assegure aos demais estudantes a condição de receber uma carga básica de
disciplinas da área musical.

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Voltamos aqui ao pressuposto da missão global da igreja e da diversidade de ministérios no
corpo de Cristo. Voltamos, também, à necessidade de uma Visão conjunta, segundo a qual
todos os ministérios são igualmente importantes.

Se é verdade que “tudo começa no seminário”, é lá que os vários ministérios precisam


aprender a trabalhar em conjunto.

A falta dessa transdisciplinaridade tem sido a responsável pela falta de diálogo, muitas
vezes, entre pastores e ministros de música. Esta problemática foi adequadamente
identificada pelo professor Dr. Alcingstone Cunha, nas Conferências Musicais realizadas no
Seminário do Sul, em maio de 1997. No capítulo em que aborda o tema das dificuldades na
formulação de uma filosofia de música sacra, o prof. Alcingstone observa que “A Teologia
por si só não tem condições de determinar se uma certa composição é melhor do que a
outra”.

Esta limitação aponta para a necessidade de trabalho conjunto entre teólogos e músicos.
Aponta, também, para uma ação preventiva, por meio de um currículo transdisciplinar.
Reservamos para esta parte a menção de alguns benefícios que poderão resultar dessa
cooperação:

1. Redefinição do conceito de música sacra; 2. Desmistificação quanto ao uso de


instrumentos; 3. Controle da exploração autoral.

Conclusão Aí estão sugestões de contribuições que a educação teológica pode dar para a
formação de verdadeiros adoradores.

Que Deus abençoe os seminários, pastores e líderes de música, a fim de que, trabalhando
em conjunto, promovam cultos que agradem a Deus e glorifiquem o seu nome.

PRIMER CONGRESO LATINOAMERICANO BAUTISTA DE ADORACIÓN

http://www.casabautista.org/dialog/dialog/congres1.htm

Ponencias Para reaccionar o expresar sus sugerencias, por favor, escríbanos a jpoe@casabautista.org

Primer Congreso Latinoamericano Bautista de Adoración


Primera Iglesia Bautista de Niterói, RJ, Brasil
15 al 18 de marzo de 2000

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