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ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL C5T
1.----,-- !
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTiÇA
GABINETE DA PRESIDÊNCIA
00180525
11111111" 1111111111 "111111
Ref.: REsp n° 956388 - UF: MS - Reg: 2007/0098994-2
Ass.: Informação (presta)
Atenciosamente,
066.258.0005/2009
Tribunal de Justiça de J:lato Grosso do Sul
00".2'"
j J ~
Órgão Especial
C5T
Processo Administrativo Disciplinar - N. 066.158.0005/2009 .
Relator - Exmo. Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte.
Requerente - Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul.
Requerida - M.E.W. (Advs. Drs. Sebastião Rolon Neto - OABIMS n° 7.689 e
Jorge Augusto Bertin - OAB/MS nO7.550).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes do Órgão
Especial do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos e das notas
taquigráficas, à unanimidade, aplicar a pena de aposentadoria compulsória à requerida, nos
tennos do voto do relator. Declararam suspeição o 5° e 14° vogais. Ausente justificadamente o 4°
vogaL
~
Des;..~rlVíigueI Abss Duarte - Relator
~~~ c1f;91
066.158.0005/2009
RELATÓRIO
O Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte
O Corregedor-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul; DE'S.
JOSUÉ DE OLIVEIRA, por meio da Portaria n° 001/2009, de 04 de fevereiro de 2009,
instaurou Sindicância com vistas à apuração de denúncias de irregularidades fonnuladas em face
da Juíza de Direito da Vara Única da Comarca de Anaurilândia, DR3 MARGARIDA
ELISABETH WEILER.
Os considerandos da referida Portaria resumem os fatos que autorizaram a
medida administrativa tomada, a saber:
"a) consiclerando haver chegado ao conhecimento deste órgão informações
acerca de possivel desvio de Conduta da magistrada MARGARIDA
ELISABETH WEILER, a quem se imputa agir em conluio tom LUIZ
EDUARDO AURICCHJO BOTTURA, no sentido de obterem vantagem ilici/a
em face de terceiros, bem como de constrangê.los por meio de processos
judiciais;
b)considerando a existência de reclamação administrativa veiculada
perante esta Corregedoria-Gera/de Justiça, ddndoconta dos fatos tratados
pela imprensa;
c) considerando que estes fatos _ensejaram grande reperCllS~iit:J_1Jgçfº!1ªl,_
--------- ------coiijbnifriie eitraiàá -âésiacCidddiji,iãOrios-inaios decomunicação; seguidas
de severas maniftstações das secciotlqis da ()rdem dos Advogados do Brasil,
páulista e sul.,mato.grossense;
d) consiclerando os indícios de que o patrocínio eJe LUIZ EDUARDO
A URICCHJO BOITURA foi exercido pelo advogado EDUARDO GARCIA
DA SILVEIRA NETO, com quem a magistrada alegadamente mantém
relação afetiva more lIXorio;
e) considerando que referida mágistrâda teria proferido diversas decisões
favoráveis a LUIZ EDUARDO AURlCCHIO BOTTURA; posteriorment~
cassadas em grau de recurso, por manifesto desacordo com o Direito;
j) consideraneJo ofato de a Seção Criminal do Tribunal de Justiça do Estado
de Mato Grosso do Sul (er comunicado a Corregedoria, rio sentido de que a
magistrada, no bojo de um inqu#rito policial em que figurava como
querelante JOSE EDUARDO AURlCCHIO BOTTU'RA, lieterminou a
expedição de cartasprecat6riclspdta busca e apreensão de coisas;
g) _considerando que estes faros constituem claros indicias de que a citada
juíza se vale do cargo para a prática de lI'regularidades;
h) considerando que por ariterioresdesvlo$ de conduta a magistrada joi
apenada pelo Tribunal de Justiça com remoção compulsória, após regular
procedimento administrativo, e foi recentemente condenada em ação de
improbidade perante o Juízo da Comarca de Caarapó, [e} pelos mesmos
fatos está sendo processada criminalmente;
i) considerando que a perpetuação da situação narrada sem a adoção de
providênCias urgenteS enseja ampla repercussão negativa no meio juridico e
prejuízo à prestcrção jurisdicional na Comarca de Anaurilândia, causando
desgaste à imagem do Poder Judiciário e, por isso, maljerindo o interesse
público;
j) considerando a premente necessidade de investigar e apurar a verdade
sobre mencionados fatos,
RESOLVE:
Instaurar sindicância em face de lvlARGARlDA EL1SABETH WElLER, Juíza
de Direito da Comarca de Anaurilândia, para apuração de seu envolvimento
e eventual associação com LUIZ EDUARDO AURICCHIO BOTTURA para
obtenção de vantagens ilícitas por meio do ajuizamento de ações Judiciais
(ar/. 169, V, do RITJMS). "(F. 02-05).
Instaurada a Sindicância referida, sob o nO 2009.960073-4 (Ped. Provo
066.152.0021/2009), o Corregedor-Geral da Justiça encaminhou, com as devidas justificativas,
solicitação ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura, Des. ELPÍDIO HELVÉCIO
CHAVES MARTINS, no sentido de propor ao Órgão Especial o afastamento preventivo da
referida magistrada, o que foi acolhido, por unanimidade, pelo Colegiado, em 11 de fevereiro de
2009, nos autos 066.152.0009/2009, efetivado no dia 13 de fevereiro de 2009 e prorrogado, na
forma legal.
O mencionado afastamento foi absorvido pela pena disciplinar de
DISPONIBILIDADE, decisão essa transitada em julgado, que lhe foi aplicada, em 2 de
dezembro de 2009, nos autos do PAD n° 066.158.0003/2009, em vista do cometimento de
inúmeras infrações funcionais, tais como a indicação à nomeação de seu companheiro, o
advogado EDUARDO GARCIA DA SILVElRA NETO, para o cargo de Juiz Leigo do Juizado
Especial da Comarca de Anaurilândia; permissão para que a Conciliadora do Juizado Especial,
LÓIDE STÁBILE LIMA, presidisse audiências em que seu esposo, o advogado NAPOLEÃO
PEREIRA DE LIMA, representava o interesse de uma das partes; locomoção a outra Unidade da
Federação, sem o conhecimento do Tribunal de Justiça, acompanhada de advogado, Delegado e
um Agente de Polícia, para diligência de prisão de seu ex-companheiro; e reunião dos servidores
do fórum de Anaurilândia, para exibir cenas da filmagem da referida prisão, circunstâncias que
geraram apreensão entre os "servidores da comarca ante a hipótese da Df" MARGARIDA
reassumir as funções, uma vez que suas atitudes revelam a ()stentação de poder e rigor
desmedido" (f. 211), "em menosprezo à toga e escancarando o intuito intimidatório dos
funcionários subordinados ( ..), não aceitando outra atitude senão a obediência" destes (f. 218).
Na fase de Sindicância, foi realizada inspeção na Comarca de Anaurilândia,
sob a presidência do ExmO Sr. Des. JOSUÉ DE OLIVEIRA, Corregedor~Gera1 de Justiça,
coadjuvado pelos Juízes Auxiliares da Corregedoria-Geral de Justiça, Drs. RUY BARBOSA
FLORENCE e FÁBIO POSSIK SALAMENE, onde se coligiram diversos documentos e
promoveram-se as oitivas de cerca de 28 (vinte e oito) pessoas, entre servidores do Poder
Judiciário, policiais, Juízes de Direito, advogados, particulares e o prefeito do Município, tendo
sido confirmadas, à exaustão, as suspeitas de irregularidades praticadas pela magistrada, a qual,
em DEFESA PRÉVIA, negou os fatos, requerendo o arquivamento do pedido de instauração de
processo disciplinar (f. 2.394-2.402).
Em sessão de 17 de junho de 2009, o Tribunal Pleno acolheu, por votação
unânime, nos autos de Pedido de Providências n. 066.152.0021/2009, o pedido de instauração do
presente processo administrativo disciplinar contra a requerida, acórdão que recebeu a seguinte
ementa:
"EMENTA - PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS - MAGISTRADO - INDÍCIOS
DA PRÁTICA DE ATOS OUE BENEFICIAM DETERMINADO AUTOR DE
GRANDE NÚMERO DE ÃÇÕES - OFENSA AO CÓDIGO DE ÉTICA DA
MAGISTRATURA - APURAÇÃO NECESSÁRIA.
Havendo indícios sobre cometimento de abuso de poder e de falta de
serenidade em atos praticados por magistrado, impõe-se a instauraçc70 de
procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos. JJ (F.
2.414).
O Processo Administrativo Disciplinar, registrado sob o nO
066.158.0005/2009, coube a mim por distribuição, tendo sido determinada a citação da
magistrada, que recebeu cópia do referido acórdão.
As mencionadas conduta,; incompatíveis, delineadas no acórdão do Tribunal
Pleno desta Corte, que autorizou a abertura do presente Processo Administrativo Disciplinar (f.
x.J...,M,S . c:'!l
n. : .,i1.,g;::;;>
06ô.158.0005/2009
..)
2.414..,2.421), referem-se à associação da magistrada com o engenheiro LUIZ EDUARDO
AURICCHIO BOTTURA, deduzidas a partir dos seguintes fatos:
a) participação da juíza no engendramento de ações propostas por LUIZ
EDUARDO AURICCHIO BOTTURA, bem como seu concurso no sentido de permitir, ao autor
das deman(ja$, vantagens patrimonia,is ilícitas;
b) a magistrada e seu convivente, o advogado EDUARDO GARCIA DA
SILVEIRA NETO, precedentemente ao ajuizamento das centenas de demandas por LUIZ
EQUARÚO AUR.ICCHIO BOTTURA, mantiveram concerto como autor des~as ações;
c) apurou-se que, depois de ajuizadas as ações, a Dra. MARGARIDA
dispensava tratamento diferenciado ao autor e aos processos com ele relacionados, inclusive
exigindo prioridade, bem assim que seu cOmpanheiro (o advogadO EDUARDO GARCIA)
lançava despachos em processos de competência da magistrada, para que ela símplesmente
assiI1asse, ~em prejuízo de eventualmente executar materialmente as determinações judiciais,
mediante utilização de senhastlSllrpadas da escrivã LOSÂNIALOPES DA SILVEIRA FARIA e
do escrevente GILBERTO JOSÉ DOS SANTOS, ambos sujeitos ao poderhieriírqwco da juíza;
d) a magistrada.proferiu dec,isões absurdas, poris$o im~iatamente cassadas
em..segunda instância. tais como ..0 arbitramento. de pensão alimentíCia em favor do Sr.
BOTTURA, no valor deR$ 100;000,00 (cem mil reais) mensais, a serem pagos Pêlo seu eX-
sogro, SI. ADALBERTO BUENONÊITO, em ação cautelar deair+Jhlmento de bens (autos n.
- ..JL~;ºZ,ººZ47.9-2), intentada em 6.1L2007,sob.opatrocímo-d{}.aGvoga<Ío-EDUAROO.-eAR€Ik
DA SILVEIRA NETO, inscrito na OAB-SP sob o n. 205.194~ fatos que demonstram que a
magistrad~ valendo-se do seu cargo, procurou obter vantagem ilícita a seu favor ou .deterCéito~
e) nessa mesma demanda, além do pensionamento, amagístrada, sob o
singelo fundamento de constituírem ''medidas necessáti~ à instI:uçãodo' felto'\ deferiu a
e.xpedjç~o.dos ofícios que implicam na quêbrá de si'gilofiscal, bancário, telefônico e telemático
dos requeridos, a despeito dettatar-!;ie de cautelar de arrolamento de lJens;
f) verificou-se, também, que o~. oocios expedido~pela magistrada
especificaram bens não descritos no processo, dehOtando que aquelapqssqí(3. <;o~ecimento de;
fatos hão constantes nos autos, .possive1mente.por manter relação de pr04!midade com o Sr.
BOTTURA; . ., .
g) a. magistrada, em violação à lei processual; lançou despacl1Qs e decisões
quandoincompetente para fazê:'lo; ,. .... .. ..
h} a parcialidade da magistrada ficou ainda mai~~vi4~Ilt~,à D;l~~idaem que,
ao pro;€bri:lhªd~~isão, tecdeuc:logiosgratuitos a LUIZ EdDUARD?IAURICCHIdO~O::rUd~.' tall's .1
como ..' :t1 . autismo aca. ênucÓ tloal,ltor' €'de seu grane poteficla ~tnpreen. edpr .e O .. lSC1PU o
[BOTTURA] superou o mestre [ex-sogro, parte na ação]"; . . . ' '. , . . '. .
1) LUIZ EDUARDO ÀURICCHIOBOT'fURA, como dito, conUivacom o
favoreçimento da magistrada. Por i~so, além de tentar obter proveito econômico, passou a atacar
pessoas ligadas aos seus ádversários ou àqueles que se.antepuseram às suas pretensões~ mediante
o ajuizamento de centenas de ações cíveis e criminais; conforme se verifica em consulta ao SAl
- Serviço de Automação do Poder Judiciário de MS, só em Ánaurilândia, LUIZ EDUARDO
BOTTUR.A. ajuizou 87 (oitenta e sete) queixas-crimes, sendo a grande maioria proposta em face
de advogados de seus .adversários, em decorrência de manifestaçÕés processuais, algumas destas
ocorridas em processo que tramitavam em Outros estados; em todos esses casos, a magistrada.
dizendo que as queixas estavam formalmente em ordem, designou audiência nos termos do art.
520 do cpp e, eventualmente, admoestando os advogados de que a imunidade do art 142 do
Código Penal não era absoluta e que a excludente só poderia ser verificada após a instrução do
feito, .caso a queixa fosse recebida; com isso, Obviamente antecipava b recebimento da ação
penal e instruiria o processo, caso não houvesse reconciliação entre. as partes; .i$50 fatalmente
permitiria que a persecuçâo criminal desenvolvida por EDUARDO BOTTURA servisse de
instruInento de vingança ou mesmo a qualquer outro sentimento incompatível com os preceitos
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066.158.0005/2~
que devem reger uma relação processual; reforça essa conclusão o fato de que, com o
afastamento da magistrada, as queixas-crimes iniciadas por LUIZ EDUARDO BOTTURA foram
sumariamente rejeitadas pelo Juiz ROBSON CELESTE CANDELORIO, tão logo fora
designado para responder pela comarca de Anaurilàndia.
Ao oferecer DEFESA, a f. 2.449 a 2.460, â acusada alegou, em
PRELIMINAR, a impossibilidade de se investigar suas decisões, porque:
a) todos os indícios levantados seriam fruto de sua atividade jurisdicional, não
podendo, a teor do art. 41 da LOMAN, ser julgada por suas decisões; e
b) todas as decisões teriam sido imparciais e motivadas, tendo julgado
conforme seu livre convencimento, estando os atos judiciais sujeitos a recurso.
Olvidando o conteúdo do acórdão, acrescentou que a ementa seria vaga, pois
não mencionou nenhuma acusação de forma objetiva, conforme impõe o ~ 4° do art. 7° da
Resolução n. 30 do CNJ.
No tocante ao MÉRITO, a requerida refutou todas as acusações, apresentando
as seguintes justificativas, que se louvariam nas declarações das testemunhas ouvidas no PAD
066.158.0003/2009, no qual foi aplicada a pena de DISPONIBILIDADE, transitada em julgado,
submetidas ao crivo do contraditório, e nos documentos juntados, inclusive relatórios de
correições teal izad as pela Corregedoria-Geral de Justiça deste Estado, bem assim declarações
firmadas por membros da comunidade jurídica de AnªuriIândia, que atestariam a sua integridade,
lisura e eficiência enquanto esteve à frente da referida comarca:
1) os empreendimentos do Sr. BOTTURA na pequena cidade de Anaurilândia
foram noticiados pela imprensa local quando de sua chegada, sendo esta a fonte da magistrada e
de seu companheiro (convivente), Sr. EDUARDO GARCIA DA SILVEIRA NETO, advogado
especializado em direito eletrônico, que tão somente foi procurado pelo Sr. BOTTURA quando
este já se encontrava instalado em Anaurilàndia;
2) o Dr. EDUARDO GARCIA advogou para o Sr. BOTTURA em tão
somente uma ação judicial e em um pedido de abertura de inquérito policial, tendo depois
renunciado às mesmas ainda em 2008;
3) jamais a defendente e seu companheiro tiveram conhecimento ou contato
com EDUARDO BOTTURA, antes de este chegar a Anaurilândia, sendo caluniosa a alegação de
que eles "mantiveram concerto com o autor dessas ações";
4) não deu preferência ao autor das demandas, EDUARDO BOTTURA. visto
que sempre tratou a todos, partes e advogados, sem qualquer privilégio e com muita
transparência, sempre na presença de testemunhas;
5) não houve usurpação de senha por parte do advogado EDUARDO
GARCIA, uma vez que os servidores apenas solicitavam ajuda do Dr. EDUARDO, juiz leigo na
comarca, para auxiliá-los com o manejo das ferramentas do SAl - Sistema de Automação do
Judiciário de Mato Grosso do Sul;
6) não se pode imaginar o motivo que levou o Sr. BOTTURA a escolher a
Comarca de Anaurilândia como local de residência, mas também não se pode afirmar, como fez
a Con'egedoria, em seu relatório, de forma precipitada e sem provas, de que o referido senhor
escolheu o MuniCípio por força de uma suposta aproximação da magistrada;
7) a maior prova de que a magistrada I1ãotem interesse algum nas inúmeras
ações promovidas pelo Sr. BOTTURA é que, desde agosto de 2008, de fonna espontânea, se deu
por impedida em todos os processos onde ele fosse parte, e, desde março de 2009, está afastada
de suas funções por determinação deste Tribunal, porém, mesmo assim o Sr. BOTTURA
continua residindo e demandando intensamente na Comarca de Anaurilândia e nesta Corte, onde
tem centenas de feitos em tramitação;
8) não há no inquérito administrativo sequer um único indício de
favorecimento da magistrada ao Sr. BOTTURA ou de que tenha se favorecido ou beneficiado a
terceiros, em virtude de suas decisões, que foram devidamente motivadas.
TJ-M$ "')~
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VOTO
o Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte (Relator)
Versam os presentes autos sobre o Processo Administrativo Disciplinar
instaurado em face da Juiza de Direito da Vara Única da Comarca de Anaurilândia, Df
MARGARIDA ELISABETH WEILER, pela prática de atos em sua função judicante que, em
tese, atentam contra o Estatuto da Magistratura e, consequentemente, contra o Código de Ética
do Magistrado.
A sindicância foi instaurada, por força do art. 169, V, do Regimento Interno
desta Corte, com o escopo de investigar a referida magistrada, afim de se apurar o seu
envolvimento e eventual associação com o Sr. LUIZ EDUARDO AURICCHIO BOTTURA, no
sentido de obterem vantagens ilícitas em face de terceiros, bem como constrangê-los por meio de
ptocessos judiciais.
O objeto principal do suposto conluio estaria centralizado no interesse
prioritário do Sr. BOITURA em buscar, obstinadamente, os seus eventuais direitos, calcados em
bilionário contencioso jurídico estabelecido a partir da separação judicial de sua esposa, Sr
PATRíClA BUENO NETTO BOITURA, e de sua suposta participação na sociedade das
empresas de seu sogro, Sr. ADALBERTO BUENO NETTO, empresário bem-sucedido do ramo
da Construção Civil, com domicílio na cidade de São Paulo.
Saliente-se que o perfil do Sr. BOTTURA, traçado por ele mesmo, é o de um
jovem empresário da internet com inteligência acima da média, polêmico, obstinado, destemido
e empreendedor, que não mede sacrifícios para atingir seus objetivos, o qual, de acordo com
entrevista dada por seu ex-sogro, à Revista Eletrônica "Isto É Dinheiro", utilizaria da seguinte
estratégia:
"É impressionante o seu modus operandi. Ele se aproxima, ganha a
confiança das pessoas e, então, essa relação invariavelmente termina num
litígio judicial. " (F. 08). Sublinhei.
Além disso, consta em notícia veiculada no portal eletrônico da TV Morena o
seguinte:
"Segundo a Polícia, Bottura tem mais de 900 processos judiciais tramitando
t:ontra ele, por crimes como estelionato, contra a honra, extorsão, uso de
documento/a/so, coação, denúncia caluniosa ejalsidade ideológica.
Ele é considerado um dos maiores golpistas da Internet. Juntas, as empresas
que abriu para venda de produtos pela rede tem mais reclamações do que as
empresas de telefonia. Somente em Tocantins, onde agiu durante cinco meses
em 2006, obteve com seus golpes aproximadamente R$ 18 milhões. " (F. 23).
Destaquei.
De fato, é surpreendente a vocação do Sr. BOTTURA para se envolver em
processos judiciais. Só no Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Anaurilândia,
"apurou-se que foram apresentadas mais de 800 (oitocentas) petições" (f. 208), constando que,
neste Tribunal de Justiça, já chegaram a tramitar cerca de mil ações pertinentes ao referido
TJ-MS'l J!,b?:>
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senhor, em grande parte delas despontando como autor de queixas-crimes por calúnia, diíàmação
e injúria, bem como exceções de suspeição contra advogados e magistrados. A título de exemplo,
apenas eu fui relator de mais de 100 (cem) queixas-crimes, com base em apenas um fato, que ele
ajuizou contra único magistrado.
, Ao depor como testemunha, nestes autos, o Sr.B,OTTURA jé;lctoU"'sc,
enfaticamente, de ser "autor de mais de tem mil ações no Brasil" (f 2.737).
Cotejando-se os antecedentes da requerida, descritos no relatório, comeste
lacônico perfil do Sr. BOTTURA, pode-se deduzir~ pela afmidadeentreambos, quenãa são
infundadas as suspeitas que recaem sobre a conduta da magistrada.
Durante o transcorrer da Sindicância restaram confirmadas, à saciedade, as
suspeitas de irregularidades praticadas pela magistrada, que culminou com a instauração do
preSente Processo Administrativo Disciplinar, autorizado, à unanimidade, pelo Tribunal Pleno
desta Corte, em 17 de junho de 2009 (acórdão de £2.414-2.421).
Feita esta breve introdução; convém esclarecer ql1C as PRELIMINARES
levantadas pela requeridé;l, devido, ao entrelaçamento coma questão de fundo, conforrtle
estabeleçidono despacho de f. 2.$64, deverão ser analisadasjtihtamentecom o mérito.
Nos tel'lTlOSdOarl 7°, ~4°, da Resolução nO30, do Conselho Nacional de
Justiça - CNJ, a imputação dos fatos e O teor da acusação serão delimitados noacórdâoque
determinou a instauração do processo administrativo; a saber:
_0_ .. ,"~_"_~ __ , ,,____ _ ._._ ., __ , 'iA'1,"t-.-,---7~.,.__ .. ',_.. ."" ' _.
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(. ..)
f 4° [)eterminada a instauração do processo, o respectivo acórdão [não
apenas a ementa, como (ifirmado na defesa) conterá a imputação dos jatos e
a delimitação do teor da acusação. Observação e destaque meus.
j, .
Na hipótese, o fato central delimitador qaacusação, cQntídonoacórdãoe
atribuído como infração disciplinar, é o seguinte: .. .
,Pal1jcipaçã9 da magistrada no engendmmcnto das ações propostas por
LUIZ EDUARDO AlJRICCHIO BOTTURA, bem como seu con~uJ"Só DÓ sentido de
permitir ao autor das demandas '\'antagtms patrimoniais ilícitas .
.Esta imputação constitui a essência do Processo Administrativo, a quaIse
projeta nos itens seguintes, que são desdobramentos do anterior, nos quais ,serão dissecados, um
a um, OS. atos praticados pela requerida, concluindo-se se eles São ou nãoptocedentes e até que
ponto podem ser interpretados como fªtos materializadorcs da.infração, admiriistrâtiva prefalada:
a) A magistrada e seu convivente, o advogado EDUARDO GARCIA DA
SILVEIRA NETO, precedentemente ao ajuizamento das centenas de. demandas por LUIZ
E.DUARDO AURICCHIO BOTTURA, mantiveram concêttocom o autor dessas ações.
As provas dos autosdemonsttam que, defato,no segundo semestre do ano de.
2007, o advogado EDUARDO GARCIA DA SILVEIRA NETO, que mantinha telac,ionamento
estreito com a JuÍZa MARGARIDA, estabeleceu contato prévio com LUIZ EDUARDO
AURICCHIOBOTTURA.
Abro. um parênteses, para elucidar. que, .no corpo do acórdão do PAD n.
066.158.0003/2009,julgadoem 2.12.2009, já transitado em julgado, em que a requerida recebeu,
por unanimidade, a pena de DISPONIBILlPAI)E,com vencimentos proporcioriais ao tempo de
serviço, constou:
"O advogado EDUARDO GARCIA DA SILVEIRA NETOjoi indicado pela
magistrada, para o cargo de Juiz Leigo, em 29 de setembro de 200ó(lls.
689) e. segundo o conjunto probatório queçonsta nos autos, desde }6 de
novembrode2005, havia relaçqoafttiva entre ele e a magistrada. É o qt,ese
depreende da mensagem eletrônica remetida pela requeridq ao advogaclo
nomeado. Transcrevo o teor (fls. 930):
TJ-Ms
FL. :
066.158.0005/2009
OC3238
...!!.I!J}-!,._ hora. marcada só fora do expediente!!!
'Querido, leia esta n9Ji~{C!.
!'5rsrs. As 'horas extras' são muito agradáveis, como só podem ser entre
adultos bem resolvidos. E discretos. Este meu e-maU nunca foi violado. é
seguro. Bjs... '."
Portanto, é inegável que, na época dos fatos, a magistrada tinha sim
conV1VenCla afetiva more uxorio com o Sr. EDUARDO SILVEIRA, o qual, inicialmente,
advogou para o Sr. BOTTURA, obtendo liminar na Medida Cautelar de Arrolamento de Bens n°
022.07.002479-2, de alimentos provisionais, no valor de R$ 100,000,00 (cem mil reais), bem
assim o deferimento da expedição de oficios para quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e
telemático do empresário ADALBERTO BUENO NETO (sogro) e de PATRÍCIA BUENO
NETTO BOTTURA (esposa).
Considerando, porém, as circunstâncias e os fatos ocorridos até então, b.astava
um simples "relacionamento familiar", de amizade íntima, entre o advogado EDUARDO
SILVEIRA e a Dr''lMARGARIDA, o que foi admitido por esta em seu interrogatório (f. 2.6l4v),
para se acolher a plausibiIidade das dúvidas levantadas quanto à lisura da magistrada nas
decisões proferidas nas causas de interesse de BOTTURA, sobretudo na medida cautelar
referida.
Na defesa escrita, a requerida procurou descaracterizar as evidências de um
concerto ou enten4imentq prévio, dizendo que tomou conhecimento dos projetos de BOTTURA
para Anaurilândia pela imprensa (f. 2.456-2.457), mas, em seu interrogatório, admitiu que
BOTTURA procurou pelo advogado EDUARDO SILVEIRA e que ambos (BOTTURA e
SILVEIRA) chegaram a residir no mesmo hotel, em Anaurilândia. A requerida foi mais além:
afIrmou que, "antes dele [BOTTURA] entrar com as ações em Juizo ", recebeu-o em seu
gabinete, ressalvando, entretanto, que a iniciativa partira do visitante, o qual anunciou o que faria
(f. 2.614).
A testemunha LÍGIA PENTEADO TESARI SANTOS (servidora da Comarca
de Anaurilândia) confirmou, em suas declarações, que a D(I MARGARIDA tomou
conhecimento da ida de BOTTURA para Anaurilândia por meio do advogado EDUARDO
GARCIA. Na sequência, a magistrada repassou esta informação aos servidores (f. 2.675).
Embora a requerida negue a existência de um esquema ilícito com os
envolvidos, dando a entender que tenha sido enganada pelo Sr. BOTTURA, dizendo-se "vítima"
deste (í~ 2.619), os indícios conoboram a assertiva de que, previamente, estes protagonistas
mantiveram contato, tanto que a magistrada anunciava a muitas pessoas que iria chegar em
Anaurilândia um empresário do ramo da Internet, que geraria vários empregos na cidade e o
consequente aumento do número de processos, o que chegou a causar uma certa apreensão nos
servidores (f. 42 e 2.613).
A testemunha, Dr' DANIELA COSTA DA SILVA (Promotora de Justiça),
também confirmou, em SUasdeclarações, que a magistrada, Dra. MARGARIDA, comentara em
sala de audiências, no foro de Anaurilândia, que um grande empresário da Internet se instalaria
na cidade e iria fomentar a economia local, no caso, o Sr. BOTTURA, o que de fàto veio a
acontecer, "e mais uns meses depois (...) ele começou a dar esses problemas lá na cidade" (f.
2.683). Esses comentários da requerida, segundo a Promotora de Justiça, foram feitos "antes de
ele [BOTfURA] chegar na cidade" (f. 2.683).
A testemunha, Sr. LEONEL DA SILVA, igualmente confirmou as
declarações prestadas na Sindicância de que foi o Sr. EDUARDO SILVEIRA, pessoa do
relacionamento da juíza MARGARIDA, quem trOtl.-'(eo Sr. BOTTURA para residir em
Anaurilândia (f. 2.714-2.715).
A testemunha e servidora LOSÂNIA LOPES, da mesma fonna, corroborou
as declarações prestadas na Sindicância, acrescentando que a Juíza anul1ciou aos servidores a
mudança de BOTTURA para Anaurilândia, antes de ele se apresentar em tal cidade (f. 2.717-
2.718).
~~~ ;;.zb.é5
06õ.15B.OOOS/2009
C5T
Ocorrências, do Juizado Especial], pertine11tes aos'--m-te-re-sses
do Sr, BOTTURA, e que os
documentos deveriam ir para ela (MARGARIDA) primeiro (f 2685).
Já o servidor de Anaurilândia, Sr. IDONIR DELFINO VENÂNCIO,
igualmente confirmou as declarações prestadas na Sindicância de que "o B01TURA foi
apresentado. por EDUARDO GARCL4. no final de 2007. Que certa feita, TÂNIA [servidora]
trouxe B01TURA até a presença da DrnMARGARIDA. a pellido desta. Que, após o entrevero
entre BOTTURA e os servidores. a Drn lvL4RGARIDAfez uma reunião no Tribunal do Júri e
pediu que BOTTURA fosse hem tl'atado. Que BOTTURA tentou entrar na festa dos servidores
do Fórum. quando já tinha sido apresentado por EDUARDO SILVEIRA'; (f. 2.709 e 2.711).
Realcei.
A servidora LOSÂNIA igualmente afirmou que a Juíza MARGARIDA
"acompanhava de perto as ações que ele [EDUARDO BOTTURA] entrava" (f. 2.723) e "que.
desde quando o BOTTURA veio para Anaurilândia em novembro de 2007, o fórum deu quase
que exclusiva prioriâade aos processos dele, inclusive para dar cumprimento às decisões da
juíza NJARGARIDA nos referidos processos; tal fato só parou com a declaração da suspeição
dajuíza nos processos do BOTTURA; que ajuíza Margarida exigia prioridade nos processos do
BOTTURA, especialmente no cumprimento das liminares que ela cO.~tumavadar a ele " (f. 42).
De outro lado, não é plausível a justificativa de que a reunião realizada pela
magistrada, logo após o desentendimento do Sr. BOTTURA com servidores, tinha caráter
meramenteadministrf}tivo, visando à boa condução dos trabalhos no foro, porque extrapolava a
normalidade da conduta de um juiz, que deve primar pela imparcialidade.
Sendo assim, não procede a tese da defesa de que a requerida dispensava
tratamento isonômico a todas as partes.
c) A magistrada permitiu que seu companheiro (o advogado EDUARDO
GARCIA) lançasse despachos em processos [de interesse do Sr. BOrrURA] decompetênd~l
da primeira, para que esta simplesmente assinasse.
Esta informação foi prestada pela servidora LOSÂNIA, na fase de
sindicância, em 12 de fevereiro de 2009 (f. 41-43), contudo, depois retificou a declaração em 16
de fevereiro de 2009, após uma ligação recebida da magistrada, sob o argumento de "que não
pode afirmar, com certeza, que o Dl'. EDUARDO GARCIA DA SILVEIRA NETO despachava
processos da competência da Dr" MARGARIDA, mas que o advogado despachava processos em
seu gabinete, não sabendo a declarante informar com absoluta certeza a situação anteriormente
mencionada, porque o Dr. EDUARDO era juiz leigo e tinha sob sua responsabilidade processos
de competência do juizado especial; que de fato recebeu um telefonema da Dra. l\1ARGAR/DA
após o afastamento preventivo imposto pelo Tribunal, mas essa reNficação nada tem a ver com
tal telefonema" (f. 79-80).
Como não houve confinuação desse fato por outras testemunhas, na tàse de
instrução, afasta-se tal imputação.
d) A magistrada permitiu que o seu companheiro executasse
materialmente as determinações judiciais, mediante utilização de senhas da escrivã
LOSÂNIA .LOPES DA SILVEIRA FARIA e do escrevente GILBERTO JOSÉ DOS
SANTOS, ambos sujeitos ao poder hierárquico da juíza.
Esta imputação, como as demais; são gravíssimas e ligam os eventos com a
presença e a ação do Sr. BOTTURA na Comarca de Anaurilândia, na época dos fatos. Embora a
defesa negue a infração, alegando que o advogado EDUARDO SILVEIRA se limitava a dar
orientações aos servidores do Fórum quanto à utilização do SAJ, na verdade, essa acusação foi
confirmada pela servidora LOSÀNIA LOPES, ao asseverar que o funcionário GILBERTO
colocava a senha e o advogado fazia o oficio (f. 2.722).
Na fase de sindicância, o próprio servidor GILBERTO JOSÉ DOS SANTOS
mencionara estes fatos, relativamente ao processo de arrolamento do interesse do Sr. BOrrURA
(f. 82), sendo que, ainda na fase de sindicância, a servidora LOSÂNIA afirmou (f. 80) que "teve
t'.,
TJ-MS '?
FL.; :;.9P,
066.158.0005/2009
\.)
cOflhecimentoatravés do funcionário GILBERTO que EDUARDO SiLVEIRA lhe pediu a
inserção da senl1.a(to SAJ para qU(?,abrindo o sistema, pudesse expedir oficios e memdados,
i
utilizando-se de seu 'login e que estes expedientes se referem ao inquérito policial ou uin
arr61dmentoc:autelar de bens [de interesse do Sr. BOTTURA); que também fOi expedido um
ofiCio mediante utilização da senha da declarante, certamente num intervaLo do expediente" (f.
80). Sublinhei. '.
Ora, estando como estavam os referidos servidores sob o poder hierárquico da
ma~istradà, a. qual tinha intenso relacionamento pessoal e profissional como advogado
EDUARDO SILVEIRA, é razoável concluir que os subordinados se sentissem mais Ou .menos
constrangidos a cumprir tais exigências, como se elas partissem da própria autoridade judicial.
Posto isso, admite.,se o cometimento de infração grave por parte da requerida,
que permitiu a ingerência de terceiro ,na.realiZação de tarefas decompetêndados servidores do
Fórum, colocando em. risco a lIsura dos trabal1lOse a indepenclêllc~ada presidente dos processos,
tal boino aconteceu com o Sr. BOTTURA, que pretendia ditar 'o teor de certidões de seu
interesse.
e) .Pro1açâ(), 'pela .magistrada, de decisões absurdas, com abuso de
autoJ;'itlade,em ações de interesse do Sr. BOTTURA, que eram subsequentemente cassadas
ems~l1dà instância, bem'~s!!imdet~rminação de 'expedição de ofíêios,queimpUcavam na
quebra"desigilo fiscal, bancário, telefônico e telemá~co 'do.sreque~idQs,'c()m~specificaç~º
-------de-bettS'-'não-deSl:ritosmr--process-o,--denlJtand(nllTe-ll.IU.ª~aipossuia conllecimentoae
ta.is fatQspor .mallter pró~imidade tom orderidoSr. BOTTl1RA.
De fato, a quantidade de decisões tetatolÓgiê8$, prQfeti<hlspela magistrada,
sempre etn favor do Sr. BOTrURA; foi significativa,basta.ndo mencionar o aibitrarnertto de
pensãoaHtnentícia, no valor de. R$ 100.000;00 (cem roil reais) mensais, em face do ex-sogro
daquele, Sr. ADALBERTO BUENO NETTO, em açaocautelar (autos n. 022.07.002479-2),
intentada sob o patrocínio do advogado EDUARDO SILVEIRA, bem assim a expedição de
oficiçs, .que .i~p1icavam na quebra não apenas do sigilo tlscal,mas também 1)aquebra de sigiio
bancário, .telefônico e telemático dos requeridos, a despeito de tratar-se d~ ação cautelar de
arrólafnênto dê bens. . .'
As ilegalidades cometidas pelá magistrada ao proferir tais despachos e
decisões restarám bem delineadaS por ocasIão do julgam~nio do Maild<lgô de" Segurança n.
2008.Q01761-4 pela Seção Criminal desta EgrégiaCortel cujarela~pi1a cqupe ao Des.
GILBJ3RTO DA SILVA CASTRO, a saber: '. ... -
i) extrapolou~e muito,' o que seria admissível e razoável. c.ometendoaI,usos
ao detenninar a realização de diligências violentas e c'Únsttangedoras'baseada, em declarações
unilaterais da suposta vítima, sem dar oportunidade aos possíveis suspeitos de se explicarem;
ii) nesse mandamus, além de se conceder a ordem no sel1tido de cassar as
decisões da juíza, levantou-se a fundada suspeita de haver LUIZ EDUARDO BOTTURA, sob
conveniência pessoa], eleito o foro de Anautilândia para atuar nas suasdemand~, seja como
autor 011 ré~ depois de peregrinar em outras regipesdo país e até do eXterior;. .
iii) nã<>se sabe a que título LUIZ BOTTtJRA esmaforandoem Anaurilândia.
A$ suas empresas,conf.orme as ihform~ções do apenso, não têm registro eRi Mato Gtosso do Sul;
Iv) a Revista "Isto É Dinheiro", na edição 544,$ob o título '.Empreend~dor de
Processos", referindo-se a LUIZ BOTTURA, dá notícia que a sua empresaWB1CPropaganda e
Publicidade é investigada pela 4;1 Delegacia de Meios Eletrônicos, do Departamento de
Investigaçõ~s sohre o Crime Organizado de SP, sob suspeita que a companhia fora criada para
dar golpes na web, bem como que as empresas Easy Buy e Net Cobranças, que tinham
BOTTURA como sócio; passaram a ser investigadas por crimes contra o consumidor. A mesma
reportagem noticia que no Procon foram quase 300 reclamações de consumidores,' só em 2006, e
que o Ministério Público do Tocantins entrou com uma ação civil pública. contra a Ea$y Buy, no
mesmo ano;
-J 'J!J-MS
EL. :
OC3240 066.~58.000512009
'J!J;...MS
EL. :
066.158,0005/2009
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FL. :
066.158.0005/2009
mera simp(ltia ou afinidade como autor das ações (Sr. BOITURA), configurada grave violação
dasfunçôes, do ponto de vista ético, colocando em xeque, de igual forma, a legitimidade do
exerçício da função judicial e comprometendo a credibilidade daclllSse. .
Entretanto, os atos praticados pela requerida foram suficientes para causar
prejuízos graves ao çonceito da magistratura, repercutindo negativamente na sociedade, não
somente perante os seus subordinados, os servidores públicos, bem comO perante os
jurisdicionados e a comunidade jurídica em geral.
Sem' dúvida que tais condutas configuraram abuso de poder e faltli de
serenidade no cumprimento de seus deveres, com grave violação dos preceitos éticos da classe,
confonne se ded!1Zda ementa e do acórdão do Pedido de ProvidênciáS n. 066.152.0021/2009,
que originou a instauração do procêssoadministrativo di,sciplinlit (f: 2A14,.2.421)~no qual são'
esmÍuçadosos fatos concretos que materializam as infraçqes c()metidas p~la reqllenda,
Esta imputação constituiu a essência do Processo Adll)inistt(;ltivo, desdobrada
nos seguiI;ltes fatos: .
- A magistrada e seu ~onvivente,o advogado EDUARDO GARCIA DA
W't'.'.
- .. J SI~ VEIRA NETO, prcj;:edc.ntemel.lteaoajuiZam~ntodas centenas de demandas por LUIZ
EDUARDO' AURICCHIO nOTTURA, mantiveram concerto com Q aut()r dess~s ações,
tanto que a primeira pro'pagon no foro que seria ajuizado grande número de ações pelo
últimº. ' ,
...--'---'--'-----..;.--D~pois'-1Je-ajuizadasas- "-açÕes,-a---,.equerida passou' 'a~-"dispen'Sar
tratamento diferenciado ao ~utor nOTTURA e a()sprocessos ê9mel~ relacionados,
inélnsive reunindo os servidores, orientando,.ospara" que tratassem bem o referido
jurisdid9nado.
- A magistrada permitiu que o seu compa'nheiro,advogado na comarca,
preenchesse ofícios de interesse de pelo menos um dos .processos do~r. BOTTURA,
mediante utilização de senhas cedidas pela escrivã LOSÂNIA LOPE]S DA SILVEIRA
FARIA e pelo escrevente GILBERTO JOSÉ DOS' SANTOS, ambos .sujeitos ao poder
hierárquico <lajuiza. . . .
-A requerida proferiu decisões absurdas, com abuso d~a1:ltoridade,em
ações de interesse<Jo Sr. llOTTURA, que eram subsequentementecassadasem segunda
instância, 'bem assim detenninoua expediçi.tode ofícios,quc implic~ya.mn'aquebra de
sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático dos reqlleritIos,'com e$Pe,c,t;.~á.çªlldebell$ não
des.critos no processo, denotando que a magistrada posslli~.CO~JtecirÍ1e ••tl}de tais fatos
possiv~lmeÍlte por maliter proxi111idadecom o referi4oSr. BÚTTU:RA. "
.- A magistrada, ao proferir decisão~ teceu elogios gratu.itos ao Sr.
BOTTURA, em detrimento da parte ex adversa, demonstrando COItI isso parCialidade em
sua dec.isão.
- Os indícios, nos autos, apontam para a conclusão de que LUIZ
EDUARDO AURICCHIO nOTTURA escolheu o foro da Comarca de Anallrilândia para
propor suas demandas, com o conhecimentoclJ fàvorecimento da magistrada.
Como vi~to, as condutas da magistrada, aCima descritas, além do Código de
Ética da Magistratura, violararntambém os dispOSitivoslegais que çont~mplarnos deveres dos
magistrados, insertos no Estatuto da Magistratura (Lei Corriplementarn. 35/79), especialmente
os previstof) no art. 35, I e vm deste último:
"Art. 35. São deveres do magistrado:
I - cumprire fazer cumprir. com independência, serenidade e exatidão, as
disposições legais e atos de (?ficio;
(..)
VIIl- manter conduta irrepreensivel na vida pi!blica e particular".
De acordo Com a Resolução n° 30 do CNJ, que repete norma prevista no art.
42 da Lei Orgânica da Magistratura. dispondo sobre a unijormizaçãode
TJ-MS
n. :
066.158.0005/2009
C5-r _"
normas relativas ao pt-ocedi1Tfêif{õadministrativo disciplinar aplicável aos
magistrados, aspenas aplicáveis são as seguintes:
"Art. 10 São penas disciplinares aplicáveis aos magistrados da Justiça
Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça Eleitoral, da Justiça Militar, qa
Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios:
l-advertência:
11- censura;
lJI - remoção compulsória;
IV - disponibilidade.:
V - aposentadoria compulsória;
VI - demissão. "
A mesma Resolução estatui em seu art. 5°:
"Art. 50. O magistrado será aposentado compulsoriamente; por interesse
público, quando:
I - mostrar-se manifestamente negligente no cumprimento de seus deveres;
II - proceder de forma incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de
suas funções;
111 - demonstrar escassa ou i;lS1!ficiente capacidade de trabalho, ou
apre,semar proceder funcional incompalÍvel com o bom desempenho das
atividades do Poder Judiciário. "
Por tudo que se analisou nestes autos, não há dúvidas de que o interesse
público restou violado.
Ainda que se admitisse a aplicação de uma pena mais branda, como a de
remoção compulsória, o que não é o caso, esta seria ineficaz, porque já foi aplicada
anteriormente à magistrada, sem resultado prático, além do que estaria prejudicada pela
aplicação da pena de disponibilidade ocorrida em outro processo administrativo, já transitado em
julgado (066.158.0003/2009).
Esclareço, ainda, que há notícias, no mandado de segurança impetrado pela
requerida, processo n. 2010.006623-6, de que ela requereu aposentadoria, mas o pedido foi
indeferido em virtude do impedimento previsto nó ~ 4° do art. 293 da Lei 1.511/94 (CODJ) e no
S 5° do art. 10 da Resolução n. 30 do CNJ, pelo fato de que está respondendo a processo
ádministrativo disciplinar.
Sendo assim, considerando a gravidade dos fatos apurados em relação à
conduta da requerida, que responde a diversos outros processos de natureza civil, administrativa
e penal, bem assim considerando seus antecedentes, conforme demonstrado pela farta
documentação dos autos e dos anexos, que compõem 19 (dezenove) volumes, com mais de 4.000
(quatro mil) páginas, tenho que a pena que atende aos requisitos da razoabilidade ou
proporcionalidade, é a de aposentadoria compulsória, uma vez que a demissão., conforme
previsto no art. 95, I, parte final, da CF, depende de sentença judicial transitada em julgado.
Em vista do exposto, com .fulcro 110 art. l°, inciso V, e art. 5°, inciso n, ambos
da Resolução n. 30, do Conselho Nacional de Justiça, acolho a representação e aplico à
magistrada MARGARIDA ELISABETH WEILER a pena de aposelzfadoria compulsória, por
interesse público, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.
Deixo de determinar a remessa de cópias do processo ao Ministério Público,
porque já existe denúncia em relação aos fatos constantes neste procedimento administrativo
disciplinar.
Comunique-se o Ministério Público e o Conselho Superior da Magistratura.
'J/J-MS ~ ..
FeL. ;;b.
066.158.0005/2009
DECISÃO
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:
O ÓRGÃO ESPECIAL, À UNANIMIDADE, APLICOU A PENA DE
APOSENTADORIA COMPULSÓRIA À REQUERIDA, NOS TERMOS DO VOTO DO
RELATOR. DECLARARAM SUSPEIÇÃO O 5° E 14° VOGAIS. AUSENTE
JUSTIFICADAMENTE 04° VOGAL.
CONCLUSÃO
P
(em 13 vol. e 3 apenso(s»
. t.