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Copyright © by Autonio Barras de Castro ¢ Francisco Eduardo Pires de Souza, 1985 CIP ~ Brasil. Catslogagao-na-forte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, BJ 35e Bed Castro, Antonio Barros de ‘A econonsia brasileira ent marcha foreada J Antonio Barros de Castro, Francisco Pices ‘dc Souza. — &# Eaigno Sto Paulo : Paz e Terra, 2004, Apinice. Bibliografe, 2. Politica econdmiea — Brasil, 2, oonomia— Bal. Sov2a, Francisco Pauarde Pires — colab.f, Ttulo, 85-0963 5 cpp 338.981 Cpu ~338.98(81) EDETORA PAZ B TERRA S.A, ua do Triunfo, 177 Santa Bfigénia, S20 Paulo, S? — CEP 01212-010 ‘Tel (011) 3337-8399 E-mail vendas@pazeterra.com.br Home Page: www: pazeterra,com, br 2008 Impresso no Brasil Printed fu Brazil Indice AFeSEIAGEO sno 7 1 Ajustamento x Transformagao, A Economia Brasileira de 1974.2 1984 u Introdugao san ree menk 1B 1 Sumari discussao da politica de ajustamento ... 7 2 Aestratégia de 74 ... 7 3 Vicissitudes do It delfinato . 49 4 Aeconomia em mutagio: reflexde 5 Apéndice I. = 85 ‘Apéndice Ha 89 I Metamorioses do endividamento externo ... 9 1A sabedoria convencional .. 101 2 Umm balango retrospectivo da divida externa brasileira... 119 3. A divida externa na segunda metade dos anos 1980 143 4 Acperacio de uma economia compelida transferiz recursos reais ao exterivr seen TOL Apéndice I. 181 Apéndice Tl... 185 Bibliografia wh IIL No limiar do crescimento: problemas e pseudoproblemas ... Introdugao Divida externa sn 2 3 4 Déficit publ Taxa de juros Inflagao .. 197 199 201 209 215 221 Apresentagao ‘Nos iltimos onze anos a economia brasileira foi duas-veres posta em xeque. Primeiramente, em 1974, quando as suas necessidades de petr6leo, matérias-primas e maquinas, se revelaram muito além de sua capacidade de importar. Mais uma vez, em 1981, nos dois anos subse- aqiientes, quando em meio a transtornos de toda ordem e através de sucessivas contracoes, a economia parecia caminhar para © colapso. Frente a esta sucessio de reveses ¢, em particular, em meio @ crise quese estence de 1981 a 1984, duas tendéncias vieram a se afit~ ‘mar. Unta,afineda com a maré montante do neoliberalismo, pregava a regeneragio da economia através de politicas de austeridade ¢ da ‘mplantaggo de uma auténtica ecoriomia demercado, isenta de inter feréncias do Estado, aberta & competicéo internacional e guiada por presos livremente estabelecidos. A segunda, abrigando posigées bas tante heterogéneas, via nas sucessivas crises a comprovagdo de outros tantos fracassos, Em 1974, 0 milagre delfiniano havia se revelado fal- so. A crise dos anos 1980, por sua ver, desfez os sonhos de Brasil- poténcia, colacando o pais diante do desemprego em massa ¢ da hi- patese do sucateamento da sua indlistria. Desta perspectiva deco xem o repiidio as experiéncias de politica econmica levadas a efeito no pats nos thimos anos €, como propostas, a retomada do eresci- mento ea expansiio do gasto social. ‘Sem forgas para impor (em sua plenitude) a primeira solugao, 0 regime autoritario, em seus derradeiros anos, limitou-se a aplicar a0 7 pais duras politicas de contengao, 0 advento da Nova Repiiblica trouxe consigo uma sensagao de pds-guerra. A reconquista da democracia correspooderia a reconstrusao da economia, Restaria no entanto sa- ber: por que caminhos? Inicialmente prevaleceua primeira opgao, temperada pot um auténtico desejo de retomada do gasto social. Exs. fins de agosto, po- rém, esta tendéncia perde terreno ea Nova Repblica parece resolver a sua crise de identidade, optando pela segunda tendéncia. ‘Tendo o que precede como pano de fundo, podemos apresentar a tese central deste livro, Em resposta a crise que eclode em 1974, a economia brasileira fj levada a ingressar num longo periode de “marcha forcada’. De jo ela se traduz, basicamente, na sustentagao de taxas de investi- mento excepcionalmente elevadss, ndo obstante as dificuldades trozidas pela crise, Mais adiante,e i entéo em pleno periodo recessivo, (8 resultados da marcha forgada comecam a surgit sob a forma de uma (surpreendente) melhoria n Balango de Pagamentos — atri- buida, em regra, ¢ equivocadamente, & politica econémica dos anos 1986. A sctomada do crescimento, sob 0 impacto dinamizador do saldo comercial, seria o proxinno ofeito das mudangas direta c indire- tamente proinovides pela marche forgada, Suas consequéncias conti- nuavam pois se impondo, mesmo quando indesejadas pelos gestores da politica econdmica, A mais imediata decorréncia desta interpretagio é a rejeigao do diagndstico e das propostas que caracterizam a primeira posigio. A inddstria deste pats, em cuja construsao o Estado teve um papel deci- sivo, longe de ineficiente e artificial, € uma estrutura integrada, crescentemente competitivase que comeca a dar provas de criatividade tecnolégica, Face 4 segunda corrente (que, insistimos, compreende osisdes bastante diversas), contrariamente, o nosso posicionamento ndo é simples. Compartithamos, sem diivida, o repadio a terapia identificada com o FMI, 2 énfase no ctescimento,e 0 destague a0 gas to social. Estamos porém convencidos de que a reesteuturagie da eco- nomia, ao detonar o crescimento ¢via sald comercial), encontrou uma realidade dotada de grande potencial de expansio. As grandes empresas encontravam-se saneadas, os mercados estao vidos de ex- 8 pansio e 2 capacidade empresarial foi retemperada pela experiencia aulquirida no mercado extezno, Nao se trata, pois, de colocar em mar- ‘cha uma economia depauperada por sucessivas crises. Trata-se de sal~ larsobre um poire ea: veloz arrancada, tentando apanhar as rédeas e guiar a corrida, ; Admitido o anterior, segue-se a necessidade da recuperagio de uma visto de longo prazo. Quando mais no seja, porque 0 cresci- mento, ainda quando espontaneamente deflagrado, requer investi- yentos criteriosamente planejados (em muitos casos sob a égide do stado e de suas empresas) paraa remogao dos pontas de estrangula- mento por ele mesmo engendrados. : : ‘Quanto a obsticulos iais come a deficit publico, a taxa de juros «a inflacao, nao tendo impedio, como se supsoha, a xetorada, te- rio o sei tratamento necessariamente redefinido — faclitado — pelo crescimento.’A restricao 8 capacidade de importar pelo servigo da divida, por sua vez, foi compensada — ou mais precisamente ce- movida — pelas transformagoes que vieram a conciliar o crescimen- tocom a obtencio de grandes saldos, Neste sentido, a busca de novos empréstimos externos (sob qualquer forma ou pretexto) tornou-se de ha muito uma atitude extempordnes, reveladora do desconheci- thento das mudangas atravessadas pela economia brasileira, ¢ das possibilidades dai advindas. © que precede parece sugerir que a sensacdo de pés-guerra @ que anterigrmente nos referimos, vélida no que toca & reordenagio politica, € um equivoco no que se refere a economia. £ bem verdade gue a moderna estrutura economica de que o pais disp0e, comple- tou-se em meio A queda dos salarios, ao creseimento do desermprego, € 3 ocupagio das ras e pracas pela mais chocante misérie.* Seria no entanto um grave erro avaliar o potencial das forgas produtivas que ai esti pelo lamentavel quadro econémico-social em que elas vie- ram @ emergis. Os resultados da mutaso ocorrida na economia ape nas comegam a despontar, Influir sobre 0 ritmo e « forma do cresci- ‘mento, deverd pois converter-se, daqui por diante, num grande & conflituoso objetivo de politica econdmica. "Yea see propéltoy a Parte deste vohuae * as relagdes entre o endividarento eernoe a ucessivas rises atravessadas pla economia de 1974 até 0 presente s20 eaminadas na Pare. I AJUSTAMENTO X TRANSFORMACAO, A ECONOMIA BRASILEIRA pE 1974 A 1984* Antonio Barros de Castro ste trabalho tem por origem uma discussie com Dragoslay Avtantovic sobre a especificidade da experitncia brasileira de ajustamento extemo, Durante 0 seu desenvolvimento foi de grande importincia, a permanente troca de ideias com Francisco Eduardo Pires ce Souza. Meus agradecimnentos, também para Jilio Mourao e Claudio Tangeti, com quem conferi, numerosas vezes,algumas das hipsteses aqui apre- sentadas, Em sua versio preliminar, este trabalho tinhs para titulo “Ajustamento x Adaptagio Estrutural: a Experiéncia Brasileira’, mimeo., rea/ur, texto para diseussdo 1.49, ju- nhode 1984, Introdugao As relagdes da economia brasileira com o exterior sofreram, no. curto periodo de dois anos — 1983 ¢ 1984—uma dristica mudanga, Sumariamente, ¢ como se pode observar na Tabela 1, estes cambios poderiam ser assien caracterizados: ~- 0 défcit de transagdes correntes, que havia se tornado imen- 80 e virtualmente insustentavel, foi drasticamente eliminados —o galopante crescimento da divids foi praticamente detidos — as reservas, que haviam se ewvaido em, 1982 (e se tornaram negativas em 1983) foram parciaimente reconstituidas. Aobtengdo destes resultados se deve, de forma imediata, a0 fato de que 0 comércio de mercadorias passa, n0 periodo de um relative equilibrio, a uma situacio na qual o valor das exportagdes constitui quase o dobro cio valor das importagbes. Muito se discutir4, daqui por diante, acerca do significado e dos determinantes destas mudangas. O presente trabalho preten- de questionar a interpretacao amplamente difundida (enire de- fensores e criticos das prescrigdes do Fat) de que elas sao o resul- tado da politica de “ajustamento” ensaiada em 1981, ¢ posta efeti- vamente em prética desde fins de 1982. Actedita, pelo contri que as referidas mudancas nao resaltam das politicas (monetarie, fiscal, de salérios e cdmbio) a que foi recentemente submetida a ‘economia, Sua explicagio deve ser buscada em outro periodo, € B ‘TARELA T (US$ MILHOES) 1982 1983 1984 Balanga Comercial 780 6470 13.068 Balange Transagdes Correntes!"” 14.758 =6.142. 654 Divida Liquids 721 87.069 87.887 Reservas Internacionais Liquidas 2.880 3,296, 409 (2) Besluive lucrosreimestios. ONTE: Banco Gente do Beal, Pritam Exordinico, itis nd menos. em outra acepgao da politica econémica — no que toca a objeti- vos ¢ instrumentos. Creio, em suma, que as mudangas anterior ‘mente assinaladas tém por base a opgao feita em 1974, no sentido de nao deter e sim, vigorosamente, redirecionar a expansio em curso na economia, Esta opgdo, daqui por diante referida como “esiratégia de 74, possibilitow a continuidade do crescimento — com novos rumos e menor velocidade — por mais seis anos. Ao terminar, abruptamente, ens 1981, 0 longo e intenso periodo de crescimento, datado de mesdos de 1967, 2 economia brasileira, com escalas e estruturas profundamente alteradas — e colhendo os frutos da safra de projetos integrantes da estratégia de 74 —, evcontrava-se em plena mutagéo. Emergia, em sintese, uma nova estruture, cujas selagbes com 0 exterior diferem enormemente do anteriormente estabelecido ¢ explicam, no fundamental, as mu- dancas epontadas, ‘Tendo em seu cerne a proposi¢ao que acabamos de sumariar, © texto que se segue trata de examinar 0 ocorride na economia brasileira, no critico periodo que se estende de 1974 a 1984. E facil ver que as discuss6es que ai se travam no séo de interesse mera- mente académico, Concretamente, se forem corretas as id¢ias aqui defendidas, o pais tem hoje, diante de si, um horizonte de possibi- lidades inuito mais amplo do que comumente se supde. Assim, 0 que se refere & divida externa, o pagamento integral das juros nao seria tio problematico como usualmente se presume, enquanto 4 saltando para a outra ponta do arco de possibilidades — a mora- toria seria uma opgdo patentemente vidvel, No tocante & retoma- da do crescimente, por out70 lado, @ esirutura econdmica que teinerge das recentes transformacdes permitiria a definigto de ca- ininhos até aqui nao trithados, seja no que se refere 2 insergio do pais na economia internacional, sejz ab que toca A extensio aos icabalhadores dos fratos da industrializacio. 15 Sumiria discussao da politica de ajustamento Para os que susteotam que a répida mudanga das contas exter~ nas observada no biénio 1983-84 resulta da politica econdmica leva- daa efeito no perfodo, a guinada que o governo anuncia & nacido em 25 de outubro de 1982 constitui um marco, O texto entao aprovado pelo Conselho Monetirio Nacional afirma ser imprescindivel aban- donara “estratégia de ajuste gradual” do Balanco de Pagamentos,em beneficio de um processo mais répido de combate wo déficit.' Mais precisamente o texto oficial faz saber que objetivo fundamental da politica econdmica passa a ser “reduzir drasticamente o déticit em conta corrente do Balango de Pagamentos”, Esta mudanga teria se tor- nado um imperative, em decorréncia da decisio, por parte des ban- os internacionais, de restringir oferta de fundosao Brasil, bem como a numerosos outros tomadores. Em tiltima anélise, 9 ajustamento- cobrado ao pais permitiria aos bancos internacionais reduzir “a par- ticipagao relativa dos empréstimos ao Brasil, nos (seus) portfolios...” Aconsecugao do objetivo mais imediato—dréstica reducio do déficit de transagbes correntes — ficava a cargo da Balanga Comer- cial, que através de violenta inflexao, salaria de uma posigio de rele- tivo equilforio, para um supersvit de US$ 6bithies,jé no ano entrante, "Tauega do Docusmento “Progranacio do Seto Exteeno pa 1983" Fla de ‘Paulo, 26/IN 982 v Através deste caminko, o déficit de transacdes correntes haveria de cair dos USS 14 bilhoes, previsios para 1982, para USS 6,9 bilhdes em 1983 ¢ US$ 5 bilhdes em 1984, Seria assim compatibilizada a neces dade de obtengao de “dinheico novo", com a disponibilidade de re- cursos financeiros no mercado internacional Apontado o caminho para a imediata redugio das necessidades de“dinheiro novo", o documento reconhece que nao ha muito 0 que esperar das exporlaydes, “cuja expansdo estd em grande parte condi cionada a evolug%o da conjuntura internacional” Assim sendo, “o superdvit comercial em 1983 sera assegurado muito mais pela con- tengao das importagdes (limitadas ao maximo de US$ 17 bilhdes) do que pelo comportamento esperado das exportagoes”... Quanto aos, mecanismos pelos quais as importagbes seria reduzidas, nada € dito, sendo apenas assinalado em que propors30 os setores piiblico e pri- vaco terao reduzides as suas compras no exterior, O documento & ainda mais parcimonioso no que se refere as demais politicas. Acres- centa apenas, a esse respeito, que “a exemplo do que vers ocorrendo nos tltimos dois anos, dar-se~a continuidade ao conjunto de politi- cas fiscal e monetaria, que deverao contribuit para a sensivel desa- celeragao do processo infacionério, tendo impacto adicional positi- vo, ainda que de forma indireta, sobre as contas externas, através da redugio do excesso de demanda apregada®. “Por outro lado” —acres- centa o documento —“seré mantido o realismo nas politicas de taxa de juros, corve¢ao monetiia e, especielmente, na politica cambial”, Quanto ao mais, evita-se falar no que ocorreria com o nivel geral de atividades. Pouco apés, no entanto, o documento do staff do rx — nitidamente afinado com as diretrizes do cas — iria acenar com “um tetorno ao crescimento econmico em 1984"? fal — *Relatirio do suf para a consulta do Art [¥% 1 de Fevereiro de 1983, publicado ens anexo 3 Expocigao de Ministo de Estado da Fazenda no Senado Federal ‘em 23/3/1983. Cabe talve lembra a este propévito, que no dia seuinte a reehiGo do [2 © Misti da Farenda declarou 3 imprena: “ago vai aver Tecesdo nos rOximes {ois anos, e no podevia ser de outa form, porguc as rast: agora fisades pelo govern para o selor externo sexo boas para'o pas’ ab que acreseoutave: "O que € hom pata 0 Beasl bom paras tabalhacores*rnal do Brit 26/5/1883). Este tipo de deciaragio, shundante & é90c, © que mss parece sevear sobre a pesson do Ministo, que sobre & ‘pedo tomads zo govern et sstematicarente desconsigerate aa longo dest taba ‘ho o qual se interes speras pelusGecisbes que —errada ou carte — pategamn altar signifcativemente 0 curs dos acontecimentos ro s objetivos anunciados pela programagao para 1983, recebi- dos 4 época com a mais completa incredulidade, foram alcangados «lé mesmo ukrapassados — como se pode observar na Tabela 1.Além listo, o retorno Go crescinento em. 1984 completa um quadiro de resultados positives no front “real” (ao qual se contrapOem as severas errotas colhidas no combate 3 inflago) queo Ministro Delfim Netio ivia celebrar em diferentes ocasiées.” Segundo cle, o ajustamento externo praticado no Brasil, em resposta as sucessivas “trombadas” recebidas pelo pais, naa teria, porém, qualquer originalidade. Assim, referindo-se a0 resto da ‘América Latina, diria enfaticw que “e processo de ajuste foi exata- mente o mesmo em todos as outros paises”. Ao que acrescenta, diri- gindo-se aos que pretendam ressaltar 0 papel desempenhado pela contzagao das importagbes, que “no caso brasileiro, em particular, a queda das importagées foi menor do que a dos nossos companhei- 108 mais préximos — companheiros de sacrificios, de sof ‘A moral da histéria salta aos olhos. O Brasil como muitos outros paises — com ou sem petréleo, alguns mesmo da érbita socia — para assimilara sucessio de choques externos que culminow com a rutura financeira de setembra de 1982, teve de adotar um progra- ma convencional de ajustamento. Posto em pritica o programa de estabilizacaa, desenhado pelas autoridades brasileiras e consagrado no acordo com © FMI, a economia, pelo menos no que se refere 20 Balango de Pagamentos, respondeu extravrdinariamente bem. O {to assim alcangado, nao obstante os juros externas médios con- ‘tinuarem excepcionalmente elevados, os capitals de risco nao terem voltado a ingressar no ritmo desejado, ¢ © mercado financeira in- ternacional nio ter se recuperado, permitiria, em breve, 0 retorno do crescimento. O Ultimo ponto merece destaque. J em dezembro de 1983 0 ministro havia declarado que 0 pats voltava a dispor de um espago para crescer, “nfo si porque nés temos capital ¢ mio-de-obra de- sempregada, como porque nés termos uma possibilidade de ampliar = Vide, pen" MudangasEsteaturss da Eecnomia no Governo Figuelredo’ pas ‘ra do Minbtro ne Bacola Superior de Guerra, 13 de jlho de 1984, "© Reenconto da ‘Nacio com o Cresimenta’ A. Delfin Nett, Folia de S Pato, 20/10/1984, "yfdangas Esteuturais:aa Beonomia do Governo Figueiredo” op. cit, 7.23 ¢47. 1s as importagdes do setor privado em 159%”, Postetiormente, congra- tulando-se com 2 retomada em curso no ano de 1984, frisaria que o cio do crescimento “sob lideranga das exportagbes se dava na diregio correta, que nio colide cota 0 equiltbrio extern0"S Actedito haver suficientemente sublinhado os resultados al- cangadlos pela economia brasileira, que podem levar a crer que a politica de ajustamento posta em pritica em 1983 ¢ 1984 foi um ‘sucesso. Para que as mudaneas observadas sejam justificadamente atribufdas politica adotada € preciso, no entanto, ir mais alm. His que indagar que medidas ¢ instramentos foram efetivamente responséveis pela promo¢do do ajustamento, ¢ verificar se a forma em que © ajuste veio a ocorter corresponde ao esperado como re- sultado da agao destas medidas ¢ instrumentos. Isto porque pod: mos testar diante (em maior ou menor grau) de uma mera coinei dencia entre politicas ¢ resultados. Ein tais casos — diversas vezes registrados em economiz —a verdadeira explicagdo reside em ou- tra parte, ea politica supostamente responsavel pelo ocortido ape- nas corrobora — ou até mesmo prejudica — a ago de outros determinantes. ‘Tendo presente a adverténcia anterior, tratemos de especiticar no gue segue as grandes linhas de politica de contento, para, a se- guir, confronté-las com as mudangas que compéem a reviravolta ocor- rida nas contas externas do pais. Estaremos assim, ainda que suma- riamente, testando a suposta responsabilidad das politicas de 1983 ¢ 1984, na obtengao de ajustamento externo, Comecemos pela especificagito das poltticas que integram 0 programa de ajustemento, valendo-nos para tanto de um recente texto de Adroaldo Moura e Silva para quem os “priucipais elemen- tos de instrumentalizagdo” da politica de ajuste podem ser assim *Thansigit: Aprendizado au Convivénca’ spin dezembro de 1983, ¢*Mudan. «8 Batniurss na Ezonemia do Govesne Figueiedop. ct, pa. “Do antor,“Ajuste e Deseqeiltoria: Execicio Prospectivo sobre a Beanomia Brssi= leiea(80784)" Mime, novembro, 1984, 0 No que toca ao controle ¢ redugao do dispéndio interno: — 0 déticit piblico foi combatido, mediante redugio dos gastos de custeio, investimenso e transferéncia, e, por outro lado, aumento da carga tributérias — 0 crédito bancario interno foi violentamente restringido ¢ procurou-se reduazir 0 estoque real da moeda priméria. Residem aqui alguns dos principais determinantes da brutal elevagao da taxa de joros interna, esponsével, por sua vez, pela retragdo na compra de duréveis (inclusive habitacao) nos investimentoss — amudanga da politica salarial, combinada ao desemprego, de~ terminou grande contragio na folha real de salérios urbano-industriais, restvinginda,em consequiéncia, a demanda de bens de consumo. No que se refere & reorientacio do gasto, mediante alteragio bos pregos relativos: —a taxa de cémbio (real) sofreu forte elevagao, o que combina- do com a compressio selarial, xesultou ein violente alta da relagéo cimbio-salérios —o prego (seal) de alguns derivados de petréleo sofreu signifi- cativa elevagdo, havendo também alguma alta (teal) no prego da ener gia elétrica. Encerracia a listagem das frentes de atuagao da politice de ajuste, ‘Adroaldo nao se detém em especificar como elas teriam provocado os resultados abtidos. Hd no seu texto, « esse respeito, {lo-somente! — uma apasta, segundo a qual a mudanga cdmbio-salério € a mais “importante medida de politica econdmiica em resposta a crise externa”) — ea conclasao, de acordo com a qual “a estrutura industrial brasileira demonstrou extraordinaria capacidade de adaptagao aos estimulos de politica econdmica’? 7 idem, op. cit, 7.14, Defim Nett, de sua porte, arma que"Os estltados conse _guidos no comércio exterir foraen consequeneia da afteracao delberada da tax cam bial (Mudangas” vp ct, p.Tl Para cle, no entanto, até mesmo a maxidesvaloriaagae de dezembro de 1979 fi eftcar-£ porém consensual entre os cbservadares do penis, ‘ave 4 inflacio ea politica carbial de 1980 anularam 05 possiveis efeitos positives da maxi de 1979. " t opcit, p.6-A conclusio remeie & sua Tabels 4. Mes o que M encontrames to-somente um zepst de dadoe conzrando 0 fato de que ean 1983 a queds ds in portaydes prevlecetobre aumento das esportayes, enguanto o inveso se vriica em aL Ficam faltando os nexos. A menos que se aceite, com o autor, que ao caminbar “na diregio de suastituir mecanismos tradiciona de reserva de mercado por mecanismos mais propicios a competisao através do cambio real e tarifas adiuaneiras’, eo “substituira genera- lizada inclinagao do passaco de proteger aacummalagao do capital atra- vés de crédito subsidiado e expediontes fiscais, por mecanismos mais impessoais ¢ menos cartorializados”...se esteja promovendo a obien- 0 dos resultados alcancados. Ista, porém, nao parece ser mais do que uma tortuosa profissio de f€ na “mégica” do mercado. E comti- nuamios sem saber como a politica de ajustamento explica o ajusta- menio externo realmente verificado.. Se pretendermos avangar na compreensio de como se deram as transformagdes que culminaram no ajustamento externa aqui ocor- rido, ha que perceber, antes de tudo, que o processo brasiteira de ajs- tamento difere profindamente nao apenas do previsto pelas autor dades, como do ocorride em outros paises. 0 Grifico 1 mostra, em linhas iracejadas,a evolucao das impor- tages e das exportagde's previstas pela Programagao para 1983, ¢,em Jinhas continuas, a evalugaa efetivamente verificada. Vé-se ali que, enquanto as exportagdes tiveram. um comportamento prdxime 20 previsto, as importagdes comportaram-se de forma absolutamente insuspeitada. Vejamos esta questio mais de perto. Ao ter inicio, em 1982, a dristica mudanga observada nas con tas externas, as importacbes brasileiras nao pareciam oferecer espa- 0 para novos cartes. Isto pode serinferido de duas constatagdes. A primeira, de natureza genérica, esté espelhada na Tabela 2, 2 qual nos indica gue — aa contrario de ocorrida nos demais patses ali Imp: (our } do Brasil zed assinalados — 0 coeficiente de importagoes 1984, Ha tambem informasdes a respeito da epetacular expat do coeficiente de sto- abasteciments de petro. A els Adoalde scroferirs, veaiganda“o deamtica proceso ‘de subsituicao de importagoes que estes meron encerran” (p18), Seré que o autor 0 alribuiris de medidas da politica que intgram o programa de austamento? " Voltarmos ao tema, ao comentarwalalhos de B. Bacha e M.C. Tavares, 2 GRAFICO L exportagoes imporiagdes 1982 1985 19s vitu-se significativamente, entre 1974 ¢ 1982, A segunda, mais espe- cifica, informia-nos que nada menos de 78% das importagdes brasi Ieiras em 1982 eran constituidos de Combustiveis « Lubrificantes ¢ Matérias-primas.”” Numa palavra, as importag6es brasileiras encon- travam-se “no osso”, sendo tolice ou mé fé comparar a redugao das importagdes aqui verificada com o ocorrido na Argentinae no Chi- le, ao término do delirio consumista patrocinado pelas respectivas ditaduras militares. Assim também, a galopante clevagio das im- portagécs ocorrida no México e na Venezuela nos anas que prece- dem o colapso financeiro internacional de 1982 criow uma margem. de compressio, inexistente no Brasil, Nao obstante tudo isto, as importacdes brasileiras em dolares de 1982 cairam nada menos de 33% entre 1982 ¢ 1984. E, como para friser ainda mais a diferenca do aqui ocorrido, a expansao industrial de quase 7% registrada em 1984 se fez acompanhar de uma nova queda das imporiasSes...No ‘Mexico, por contraste, uma retomada muito mais modesta seria acompanhada de um salto de 29,6% cas importacées. "© Banco Central do Brasil Bolstn Mens, Sepatat, agosto de 1984, 23 TABELA 2 Importagies To Pas 19731976 1979 1982 [1973 1976 19791982 Brasil 100 156-177-143] 100126150160 BA Joo 139182159 | 100 1021S 4 Japo 100135 8S 168 | 100 10824 RRA 100 130-182 136. | 109 aa Itélia 100123169142 | ton 10913 TFONTE: Fabio Gambiogh “Aiucansento Erergico, Sesto de Imoriagtese Eadividae nent Extern Mineo, n/a, saci de 1985, © paradoxo contido na violenta queda das importagdes brasi- leiras — caracterizadas por manifesta “incompressibilidade” — pode no entanto ser ¢sclarecido,a partir da subdivisio das importagées em dois grupos ‘Nui grupo se encontram os produtos eujas importagdes, a partir de um certo ponto, situado de preferéncia entre 1981 ¢ 1984 —e antes ou depois da maxidesvalorizagao de fevereiro de 1983 — caem em flecha. Para alguns dos produtos integrantes deste grupo, a stibita queda das importagdes é mesmo seguida do inicio das exportagoes. Num segundo grupo de produtos, contrariamente, as importa- ‘hes acompanham o movimento de agregados tais como: 0 nivel ge- ral de atividades (¥1, 0 volume de investimentos (1), ou 0 montante de exportagies (X). Sem prolongar desnecessariamente estas consideragées, iden- tifiquemos de pronto os dois grupos. No primeiro se encontram produtos que foram objeto de grandes programas apoiados pelo 1 PND. Destacadamente, ai se encontram os metais néo-ferrosos, os produtos quimicos, o pape! ¢ a celulose, os fertiizantes e os produ- {os sidentirgicos: as importagdes totais deste conjunto de bens cat- ram 60% entre 1980 e 1983. No 2" grupo, por outro lado, situam-se ‘aqueles produtos que nao foram objeto de grandes programas. In- tegra este grupo, por exemplo, o cervao metaliirgico, cujas impor- "4 tages caema de 3,1 entre 1980 € 1982, para disparar em 1983 (319% de aumento), com 0 surto de exportacdes siclertingicas." ‘Voltemo-nos agora para as exportacbes. No ano de 1984, como ¢ bem sabido, o aumento das exporta- 0es contribuiu mais que a retragdo das importagses para a for- magae do colossal superdvit comercial de USS 13 bilhdes. Colabo- raram para este avango 2 excepcional expanséo do mercado nor- te-americano, 0 inicio da recuperacto latino-americana e africa- na (apds 0 colapso de 1982), entrada em carga de alguns grandes projetos oriundos de meados dos anos 1970 ¢, claro, os estimulos derivados da politica cambial, A ordem dos fatores aqui aponta- os nao pretende negar que a mudanga da relacao salério-cambio tenba contribuido pata 0 avango das exportagies. O efeito-preco pode mesmo haver predominaée na explicagio do crescimento das exportacdes de cerros produtos, no ano de 3984, O que sim pretendo frisar € que qualquer afirmativa neste terreno deve ter em conta a complexidade da fungao exportacio. Além disto, con- vvém ter presente que a forte reducio dos subsidios crediticios as exportages aa longo de 1984, aliada 3 progressiva eliminagao do erédito-prémio (até abril de 1985), ea valorizacao do délar freate as demais moedas, operaram como fatores adversos av exporta- dor brasileiro. Tidos em conta estes fatores, percebe-se, slits, que a mudangs! da referida relagao foi em parte compensada pela per- da de outras vantagens. Por titimo, mas net por isto mestas importante, hé que adver- tir que 1982 nao deve ser tomado coma base para aavaliagao do com- portamento das exportages. Naquele ano verificou-se, por motivos ‘excepcionais e bem conhecidos, a tnica retrasao registrada nas e- portacdes brasileiras nos Ghtimos 18 anos.” Face a esta anomalia, 0 "Da andlse mas ins dos dadospermitra creo, deseacar do 2* grupo un ou ‘1 conju de pradutos onde teria acozrdo intense substiuigao de inyportsstes em resposta ao rigdo controle das iesportagSes etabelecdo em fins de 1982. Mesmo aqui, ‘pore, asubstituigho guiou-se, antes ela seguranca aferecid palo suprimenainters0, ‘que pela mudanga de pregs vlativos em decorréncia da desvalerizacaa cambial Referndo-se 0 ito dvia A. Delim Netto, em novernbeo de 1982: “Qualquar quesejae nosso esforgo, qualquer que se) nossa xa de chibi, podemot até ter olhos azuis, que a Argeotina no compe’ Vejarse "Brasd, 2: A Grande Lua para Manter 0 Espaco para Cesc’ Palestra na Escola de Guerza Naval, 15/9/1982 p. 24 25 crescimento repistrado em 1983 e _984 contém um elemento “corre- tivo’, de recuperacao da tendéncia de longo prazo.”* As consideragdes acima conduzem-nos a resultados que po- dem ser assim resumidos. Enquanto as exportagdes encontram-se em 1984 (@ sob 2 influancia de miltiplos fatores) de volta a sua aha de tendéncia, as compras externas de alguns dos produtos de menor peso na nossa pauta de im2ortagdes sofreram, recentemen- te, uma drastica mudanga de rota. Esta guinada, em grandg-medida sesponsdvel pelo surgimento de enormes saldos comerciais e pela superagao do déficit em transagdes correntes, nao pode ser explicada, pela politica de ajustamento levaéa a efeito em 1983 ¢ 1984. Longe disto, para entendé-la temos de remontar a traumética experiencia ‘em que se viu o pafs metido, no aro de 1974, ¢8 respostaa ela dada pelo gaverno brasileiro. Quanto acs foxes expicatvos dest tendéncia, vide José Tavares de Arabijo Js ‘Tenoleg, Cncorrbnca e Mudanga EararlsA Reperici Brera Recee 8, 18S, paB-52 28 A estratégia de 74 A sabedoria convencional e suas alternativas (O transtorno das contas externas verificado no ano de 1974 sur- iu como resultado do crescimento explosiva do valor das importa- ‘Ges. Ein decorréncia deste tiltime fenémeno—e nao obstante 2 vi- gorosa expansio das exportaces — o pats incorrew naquele ano etn descomunal deficit comercial, que em délares de 1984 atingiu a cifra de US$ 9,9 bilhoes. Ovaltoso déficit de mercadorias registrado em 1974 encerrava, sem diivida, um componente especulativo, responsavel, em grande medida, por um acréscimo do dispéndio com matérias-primas supe- rior a elevacao do gasto com petréleo (Tabela 3). Mesmo descontado este componente, era no entanto flagrante o surgimento de um de- sarranjo de grande magnitude nas contas externas. Frente 2 este problema, que poderia fazer 0 governo brasileito? A sabedoria econémiica convencional tem em conta duas posstveis respostas: financiamente ou ajustamento." ‘A escolha do financiamento significa que as autoridades prefe- rem evitar as dificuldades e sacrificios que hé de enfrentar-se, para "Benjani Cohen, La Onponizacién del Dino en ol Mino, México, Fondo de (Culkura Beondimica, 1984, 1.36 eseguints. “7 TABELA 3 Importacdes fem USS milhies) Importagao de: 1972 1973 1974 Bens de Consumo 463 720 973 Matérias-Primas 1.565 2.560 5.588 Combustiveis e Lubriticantes 469 769) 2.962 Bens de Capital 1.734 2442 aug Importagies totais, 4.232 6.192 12641 Exporta;des totais 3.991 6.199) 2351 PONTE: Banco Centrl de Bes, Molten Mensa, sparta de agora de 194, que a economia se adapte as novas circunstincias. Evidentemente, a condicao necessaria para que se verifique o “financiamento” é a dis- ponibilidade de recursos no mercado internacional. A opsao pelo ajus- tamento, ao contririo, implica o engajamento da politica economia umn processo de adaptagzo da economia ao nove quadto. Caso o financiamento seja solucdo escolhida, fica implicito que a ctise étomada como algo passageito, x0 requerendo umaredocacéo de recursos no interior da economia. A brecha entre oferta ¢ deman- da de divisas é pois, neste caso, concebida como “Temporal ¢ no repetitiva’s® ndo havendo porque enfrentar os custos deajuste, Se o ajustamento for o caminho escolhido, as politicas fiscal € monetiria serio utilizadas, para desaquecer a economia e, com isto, reforsar a reagio antomatica do mercado. Além disto, a variagao dos pregos relativos (e, em particular, aalterago da taxa de cémbio) po- deri ser utilizada, para intensificar os sinais ce mercado e, com isto, incitar 0 reajustamento da economia, através da mudanga na com- posigao do gasto. Em 1974 1975, uma quantidade de paises langou-se ao reajus- tamento de suas economias, mediante politicas de desaquecimento, acompanhadas da elevaao gradual — ou, mesmo “desregulacdo” — dos pregos dos derivados de petrdleo, Entre eles, com destaque, os 14, a Holanda, a Alemanha ¢— com menor firmeza — alguns pat- ses subdesenvolvides como 0 México. idem, pa. 28 (© governe brasileiro, porém (segundo interpretagao amplamente difundida), recusoue caminho do ajustamento, reiterou sua opgio, alada de meados dos anos 1960, pelo crescimento-com-endivida- wento, De acorco com Langoni, “Estava implicita, na estraiégia de ranciar 0 desequilibrio, a hipétese acerca do carater transitério do choque do petréleo”" A escolha era sem divida atraente. Nao ape- nas por evitar sacrificios (ou pela menos adié-los}, coma porque os bancos privados internacionais, que passaram a reciclas (e multip car) os vultosos fandos procedentes da OP=?, brigavam por empresiar 1 paises de razodvel grau de desenvolvimento, e bom desempenho ‘encomendando a posteriori, segundo Langoni, os estudos inadlos @ “justificar 0 que j4 havia sido feito em ma- recent econdmicos de \éria de empréstimos” (O desfecho da estéria — ainda segundo a visio dominante—é por demais conhecido. Tendo se recusado & autocontengio de 1974 1978, uma detradeira vez, da segunda metade de 19792 fins de 1980, 6 pais teria de pagar, nos mais recentes anos, 0 prego de um ajuste tardio e desnecessariamente penoso. E teria de ouvir um certo mora- lista bissexto falar de cigarras e formigas... (O fato de que o governo brasileiro negou-se a frear o crescimen- to da economia ¢ indubitavel. Também é verdade que para cobrir a diferenga entre 0 dispéndio interno (consumo + investimento) & produgao nacional, na conjuntura imediatamente pés-choque, o pais foi levado a tomar vultosos empréstimos, Finalmente, é ainds verda- deiro que, na pescepcio de algumas autaridades, a politica de “capta- ‘gio de poupanga externa’, visando a sustentagdo do crescimento ace- lerado, caracteristica do periodo anterior (1968-73), havia sido con- ficmada (e supostamente aperfeicoada) pelo governo empossado em 1974. Em tal caso, o novo goxerno teria endossado a opgao anterior WEG. Langoni, A Crise da Desenvolvimento. Una Esbattgin para o Funwva, Rio de Janeiro, Jose Olyrepio, 1985, p15 e118. idem, p., "jase, propésito, o"O Banco Centra eo Sstems Ficaneeto Nacional’ pales- lea proferide na Escola Superior de Guat em 01/9/1977, por Paulo Perit Liva 29 pelo crescimento com endividamento, acreditando que, mantidas certas precangbes, a divida néo comprometeria o ctescimento, sendo ‘© ajustamento dispenssvel." A opgiio realizada em 1974 foi, porém, outra, Compreendé-la é condigio para que se entenda, nao apenas aquele momento hist6zi- 60, como 0 que hoje se passa na economia — e as perspectivas de crescimento que se abrem para o pais. & 0 que tentaremos mostrar daqui por diente. As opses de 74 O governo empossado em 1974 amunciou, através de seu Plano Nacional de Desenvolvimento (11 PND), que “o Brasil se empenhara” (..) em “cobrir a area de fronteira entre 0 subdesenvolvimento e 0 desenvolvimento” Este primeiro e grande objetivo englobaria ages nos “seguintes principais campos de atuacao”: —“Consotidasao de uma economia moderna, mediante a im- plantagao de novos setores, a ctiagdo e adaptagao de tecnologias”; —“Ajustamento as novas realidades da economia mundial”; —“Nova etapa no esforgo de Integragao Nacional”; —"Estratégia de Desenvolvimento Social, orientado no sentito de: 1) garantir a todas as classes e, em particular, as classes média ¢ trabsthadora, substanciais aumentos de renda real; 2) eliminar, no menor prazo, os focos de pobreza absoluta’... (idem, p.26 e 27). 39). No que toca a problematica social, porque “o governo nao aceita a colocagio de esperar que o crescimento econdmico, por si resalva 0 problema da distribuigao de renda”...(#, p61). Quanto ao que de- nomina “Ajustamento 45 novas realidades da economia mundial, " Uina discussio de politica de endividamene, «do papel da poupancs externa, antes depois de 1974, ¢fita por Francisco Eduardo Pites de Souza na segunda parte deste lize, Projto dot Plano Nacional de Pesenvelinyent0, 1975-78, Bra, etembre é= 1974, p7. 30 eclara o 11 Np que “A principal preocupagio é adaptat-se, do pomto dle vista da estrutura econdmica”(..} mediante® a mudanga da énfa~ se relativa enue 0s setores econdmicos”.. (i, p-19). © programa de 74 concebe 0 Brasil como um pais em processo dle desenvolvimento. A crise mundial e, em patticular,“a crise de ener- gia (que) afeta os fundamentos da sociedade industrial moderna’ (i p.18, parantesis acrescentado}, 0 teria atingido em meio a este pro- “no esforco de meior sintonia com a economia mundial’ (ih, p16), Bace as novas circunstincias, que surgem como condicio- nites do processo de desenvolvimento, impde-se uma corregao de rota, Na crise, afirma o plano,“quem mais se arrisca a perder sdo os paises subdesenvolvidos importadores de yetrsleo” (ib. ste objetivo maior empreste a0 pro- .grama um sentido de continuidade — que pode também ser percebi- do no fato de que algunas das deficiencias a serem agora combatidas ja haviam sido enteriormente detectadas. Mais precisimnente, segun- do Velloso, a crise do petrslew apenas tornou o programa de 74 im- perioso e inadivel.” © anterior deixa claro que a resposta brasileira ao brutal desequilibrio externo que se manifesta em 1974 surge, na perspectiva los navos governantes, como aquilo que se deverd fazer frente as no vas condiges imperantes na economia caundial, para assegurar a tran- sigdo a0 estigio superior do desenvolvimento, As responsabilidades da politica econbmica e, em particular, do planejamento, sesiam enot- "Jodo Paulo ces Reis Veloso, drt A Sofusa Pein, Abril, 1977, pA17-Ob- serve-sea proposite ue a necesidade de um programa espeifico de ria expansto da Capacidede predariva de nsumos sic hava eletivaments sido realgada por Veloso erm jalh de 1973 [anse, pois do 1° chogue de pete6leo}. O préprio M.H. Simonsen visive mente menos lenifiado, de ini, pelo menos, com anova etratiya (weit a Texpeito ‘nus entrevista rarest Vist, ial "Por que Nao Haverd Mudaneas” em 25/2/1974), ‘iia a delaras “Ainda que no tivsseocorrido acs do pero, a pact de 1974 wrk noe que msl proridades de desenvolvimento condo, dando maar énfase& pes iqusa de eeussos tris, agricultura ed indGstia de basen “Aspectos Arusis da Con- Junta Brasileira’ Facola ce Comsandoe Estado-Maior da Aeroasutics, 241971976. ar mes. Tanto mais que, relegada as reagdes do mercado, a economia niio parecia tender a reagir & crise com novos avangos. Esta impor= tante questo (mais adiante retomada), chegow a ser explicitada por ‘Velloso, para quem: “se vocé quiser atuar inteiramente através do sis- tema de mercado, nas condigées atuais da economia brasileira” (..) “ndo vai ter 0 setor privado atuando em siderurgia, em fertilizantes, em petroquitmica, em metais nao-ferrosos etc”. Ao que acrescenta,"“a maneira de fazer com que o setor privado opere nesses setotes é atra- vés do governo, f tendo incertivo fiscal ou financeiro, ou os dois’. Em seu cerne, a questao reside, pois, em como fazer que os recursos cexistentes sejam “aplicacios nos setores que hoje sao vitais para o de- senvolvimento econ6mico do Brasil ¢ para resolver 0 déficit da ba- langa de comércio”. E 2 resposta apresentada pelo governo ¢ inequi- voca: “Pata fazer funcionar setores pesados de rentabilidade direta baixa e de prazo de maturagaa longo, voce precisa de incentivos go- vernamentais” A solugio proposta pelo novo governo era, sem diivida, extre- mamente ousada. E isto por diversas razdes. Primeiramente, porque o crescimento da economia brasileira vinha sendo liderado, desde osanos 1950 e, particularmente, ao lon- g0 do ultimo surto de crescinento (1967-1973), pelos duriveis de consumo. Agora, porém, declara o novo governo, pela voz de seu Ministro da Indastria e do Comércio, que “algumas atividades indus- triais, como a industria automobilistica, por exemplo, deixerdo de merccer atengao prioritéria. (..) Nao é hora de estimular 0 cresci- mento de uma grande faixa de inchistrias produtoras de bens de con- sumo duriveis”? Em tais condigdes, e dada a proeminéncia atribui- a expansiio de ramos intermedirios, percebe-se que a nova politi- ca propunha, de fato, 2 reorientagdo do processo de crescimento, Além disto, porque a dese ada mudanga de rata, que ndo pode- ria ocorter sem um grande esforgo de investimento, teria inicio em meio a um mundo em recessio ¢, mais que isto, com a economia interna tendendo, presumivelrmente, & reversao ciclica sntevists do Ministo do Plangamento revista Visto, er 19 de abil de 1976 inteevista revists Ena, outebro de 1974, citedo em Caelos Teva, "A Estrté- glade Desenvolvimento 1974-1976, Sono e Frncasio Tes apresentacs i Peculdade de Economia ¢ Administragio a UE, Rio, 1978, p.190. Py Some-se ao que precede uma questo bastante concteta € nao »sdelicadaza metalurgia ea petroquimica, metecedaras de grande aque no bloco de setores privilegiados pelo PND, sfo atividades juyticularmente energético-intensivas. Em outras palavras, ¢ despei- (oda (reconhecida) gravidade do problema energético, as opgdes fei- asem 1974 implicavam a intensificasao do consume de energia. Desta forma, nao obstante visasse equacionar os problemas energéticos de longo prazo, o plano trazia embutido o seu agravamento a curto € medio prazos.* inalmente, a nova politica escolhia superar a atrofia dos setores rodutores de instumos basicas ede bens de capital. Ocorre, porém, que 1v atraso relative destes setores constitue o proprio estigma, no plano industrial, cdo subdesenvolvimento.” Neste sentido, reiteramos, 0 1 PND se propunha superar, conjuntamente, a crise ¢ 0 subdesenvolvimento... {endo presente o até aqui apresentado, estamos em condigdes de comentar alguns aspectos bastante controvertidas da nova politic Tnicialmente, indaguemo-nos sobre a natureza da opsa0 brasi- leica: financiamento ou ajustamenio? Segundo muitos, ao evitar 0 “ajustamento” e recorrer a empréstimas externos, © pais teria esco- Ihido o financiamento e, com ele, adiado a solugao ce seus proble~ ‘mas, Parece-me, no entanto, que longe de evitar problemas, a opgilo Lsrasileira foi no sentido de atacé-os pela raiz, Tratava-se, como assi- nrala mais uma vez Velloso, de buscar uma “solugdo duradoura, e iio apenas transit6ria, para a crise do petréleo”* Em suma, face & au- ™ 0 nd admite que, no rocamt a“proverinernamente sus fentes de energi’ vs resultados levato“pelo menos uma déends feando cinds na dependéncia da quese veobe fetivanvente «desea, secon investments em explora clo pedo. *P Renando Fajr: La indstriliccon Tuncnde Aercn Latin, México, ‘alos Nev agen, 1983, Capital 1 5. R R Velloso, "Balango Prelimingr do rx0", Exposigao perante 6 Conselho de Desenvolvimento Economie, 20 de derembro de 1978, comeggto de que a mum dd se encontrava imerso mama crise ampla ¢ duredoura, era particularmente presente fis posigdes do Ministeo Severo Gomes ea, a espe, sta Conferénc Nacional de Comézcio © Indstis,prferida na Escola Superior de Guerra, agosto de 1974 3 téncica reconversio da base energetica e& reestruturacao do apatelho produtivo, promovidos a partir de 1974 pelo governe brasileiro, tor- na-se verdadeiramente incompreensivel a afirmagéo de Langoni de que “Estava implicita na estratégia”(...)0"‘carater transit6rio do cho- que de petréleo”2” A resposta brasileira, acredito, no pode ser reduzida a qual- quer ios termos da dicotomia convencional. Optou-se aqui por uma auténtica transformagao: da economia e do seu relacionamento com, exterior, Frente a esta opgao,o “financiamento’, propriamente dito, nada mais seria que a escolha ca passividade, enquanto o ajustamento convencional equivaleria & mera climatizacao da economia. Acrescente-se, por fim, que enguanto gajustamento convencio- nal recorte em maior ou menor medida as politicas do manejo do gosto interne (nivel e composi¢ao),a soluedo aqui adotada agia dire- tae preferencialmente sobre a formacio de capital. Quanto as polit cas fiscal, crediticia e de comércio exterior, atuando ad hoc e no mais das vezes em regime de excegao, tratavam de fomentar, desimpedir ou provocar decisdes relevantes para a reorientagdo do pracesso de crescimento, ou para 0 reequilibrio do Balanco de Pagamentos. A propria politica inflacionatia, recortendo de preferéncia ao controle de pregos —e 6 excepcionalmente as restricdes monetérias globais#" procurava manter sob controle o nivel de pregos, sem prejudicar o andamento das transformagées. A estratégia de 74 e sua racionalidade econdémica Até este ponto a escolha feita pelo governo brasileiro em 1974 {foi refetida, unicaznente, a0 seu fundamento ostensivor a determina- ‘40 por parte dos governantes de levar adiante — em meio & crise — © processo de desenvolvimento. O prosseguimento da expansito sur- » Segundo o autor, "Era comum Aquels épocs 2 visto de que seria impostvel sus ‘enla, por um perlado longo de cerspe, 0 nova rive de pregos da petsslen em teninos 1wols” Fs afitmativa parece revelar wind completa ineampreensto por parte de Langoni sia eatatéga de 74, (Consultee, a propsisito, 0 0 PD, p.12-20,) Eom fato,n0 enteto, ‘que M, Friedman (entre outros) anusciou paralbreve— em junta de 1974 —a setorae sdoprees dopetrseo para um veloc préxime do nivel préoutubco 1973.Milloa Friedman, ‘There’ no Such Thing as a Free Lune" Chicago, 1975, p.307-8, hfario Henrique Simonsen evista Visi, 1914/1976, oy ‘ge, assim, como uma “necessidade” entaizada nz vontade politica e «que chega & esfera das dacisdes econd micas como um imperative, Se sssim 6, trata-se, como ja foi dito, de uma cege oprdo pelo “eresci- mento-a-qualquer-custo”. ‘Tentarei. mosirar, no que se segue, que, longe disto, ¢ escolha feita em 1974 contém uma alta dose de racionalidade econdmica, Ao pretendo, porém, colocar a racionalidade econémica no hugar da vontade politica, como fundamento da opgao. Isto seria equivo- cado € mistificador. £ evidente, numa palavra, 0 primado da vonta- de politica nas decisoes tomadas a partir de 1974, Encontrava-se em curso, em 1974 — recém-iniciados, a meio caminho, ov em fase de conciusdo— um volume sem precedentes de investimentos, decididos a partie do galopante crescimento do mer- cado interno, ocorride nos anos anteriores. Bste conjunto de iavest mentos — doravante referida come “sata do milagre” — definido tna suposigao de que o crescimento acelerado haveria de prosseguit,e ‘na ignorincia do choque do petréleo e suas conseqiiéncias, achava- se, no primeiro semesize de 1974, em maior on menor medida (nin. guém poderia saber ao certo), posto em xeque. O mercado e a prd- pria politica econémica deveriam dai por diante mostrar em que medida aquela safra de investimentos corresponderia — ou frustra- ria — &s expectativas que Ihes deram origem. Assinalado o anterior, velamos a situagao por um outro Angulo, A drastica deterioragae dos termos de intercambio ocorrida em, 1974 deixava a economia em situacao verdadeiramente critica, Aqui- lo que acconomia tinha 2 oferecer eo mundo no mais seria capaz de comprar 0 indispensdvel ao seu funcionamente, e, claro, ao set cya estava a registrar as dimensdes do desastre. Em iiltima andlise, esta- 3 yam sendo questionados # estrutura produtiva, 2 insergao no comér- cio internacional e o préprio estilo de crescimento da economia, mais, as decisdes necessdrias & correydo das insuficiencias reconheci- damente existentes na estrutura produtiva exigiam a preservagao de uma conjuntura razoavelmente estimulante — o que contra-indica- va, em principio, sohug6es que implicassem recessio. ‘ejamos agora como padem se liga - Eun tal caso, estaria também irremediavelmente com Prometido o estado de animo dos capitalistas, tornando-se pratica- mente anpossivel obter a sua adesia ao lancamento de uma nova safra de investimentos. Em outras palavras, a sorte da safra do mila- gre determinaria a possibilidadecle uma resposta “positiva”™ critica situagaio a que fora levada a economia, Contrariamente, se antes de ser detonada a reversio conjuntural, tivesse inicio 0 Jangamento de un novo bloco de investimentos — a “safra de 74” — seria factivel ev:tar o desencadeamento de um pro- cesso cunnulativa de retragio e, possivelmente, o esfriamento do esta- do de animo dos capitalistas. Além do mais, preservado um ritmo de expansio da zenda, digamos, razodvel — como resultado da progres- siva entrada em cena dos novos investimentos —, a ampliagao da capacidade produtiva (resuiltante da safra do milagre) poderia, com maior ou menor dificuldade, ser assimilada, ‘Tendo presente as consideragdes anteriores, percede-se que, A capes € de Veloso, que atcpa alguns doe pontos ay eventados no captulo"A Opin Rantini i Bran Sota Positif Sump, 36 ‘Ao que precede cabe acrescentar umas poucas consideracOes, para que possamos encerrar esta reflexaio sobre o 11 PND. O governo empenhou-se a fundo em obter o concurse dos capi- luis privados, Segundo Velloso, “para que o empresirio, principal- tente nacional, se engajasse em grandes projetos de investimento ‘on dreas pesadas” (..) a “solugdo foi orientar todo o sistema de in- intivos do governo para esses setores, considerados da mais alta pri- bridadl, jogar toda a constelagao de instrumentos do BNDE nesse es- forgo, e, até utilizar mecanismos excepcionais”.. © Isto, porém, ndo era o bastante, Em diversos casos, além do setimulo de estimulos e favores, as empresas tinham que ser direta- mente pressionadas, Assim, por exemplo, na area dos agos nao-pla- 195, “quando o Consider levou ao cor a lista de projetos, vimos que cssa lista era incapaz de dar auto-suficiéncia ao Brasil. Entao, até por proposta minha, o Consider teve de voltar as empresas para pergua- i por que elas ndo executavam projetos maiores. Também no caso «lo aluminio, “estamos voltando a conversar com o Exmirio, com a Alcoa, com a Alcan para ver se elas no vao além das expans6es jé programadas. E assim, em muitos setores, nés estamos tendo qiue con- vocar (sic) as empresas para viabilizar alguns projetos. B 0 caso do papel e-celulose”? © governo contava, além disto, para o cumprimento de algu- nas de suas principais metas, com as empresas de sua proprieda- dle. A este respeito, alias, ha um vasto siléncio no 11 PND (bem como, em regra, nos demais documentos oficiais). No enta: © | BR Vellaso, Bras: A Solueto Fost, op, cit, p12. J BR Vellaso entrevista a Visto, 19/4/1976, Carlos Leet," Enratgia de Desenvolvimento 1974-1978, Sone feacanio® op e296. ED E isto num duplo sentido: por sua fungao estratégica e pelo fato de que, de suas encomendas, derivavam numerosos projetos leva~ (como veremos mais adiante), ndo obstante o explteito repadi da estratégia de 74, pela politica econdmica que comega a se im- plantar em fins de 1979, E que a estas alturas (1979/80} a econo- mia jd se encontrava manifestamente gravida das mudangas per- seguidas desde 1974: seria un disparate impedir a conclusio das transformacoes. Dificilmente se poderia evitar, nas primeiros anos de aplicacao do plano, que a superposigao de ondas de investimento determinasse tum ritmo de expansto da renda, superior ao desejével, ou mesmo tolerdvel, tendo em vista a evolueao do déficit de Transagoes Corren- tes, Este tipo de transgresséo verificou-se nitidamente em 1976, pro- vocando decidida reagio das autoridades, ¢ imediata queda do ritmo de crescimento industrial. Muitos acreditaram estar diante da espe- rada reversio ciclica da economia. A firme sustentagao das opgdes de 1974 pelo governo asseguraria, contudo, o prosseguimento do crese mento — cada ver mais fundado nos grandes programas setoriais que davam corpo & nova politica (© que acaba de ser dite sugere que nao seria fécil prever ou controlar a taxa de crescimento da economia, ano a ano. Neste sen- tido algumas previsdes conticas nom pNo nao tem verdadeiramente base, Procurando justificar as (exageradas) taxas ali mencionadas, * Os investimentosaprovados ple cov cveram um pico em 4876, assotadlo a ms cigasaplcagtes'na area metaldgica el por diane Jeclinaram rapidamente, Ox dese bbolsos dou porém, sustentaram un elevada patamar de 197521978 indicando que nn sua eaera de apicages, pelo meno, no se veriioan rea na tomada de recursos perainvestimentos. Domingos de Gouvels Rds. “Empresis Nao Finsncetas.no Bras Bloc Daenpenio no Pods 15-82 ms Ro dene 98min, as 03. 38 ‘0 Ministro do Planejamento apresentaris dois tipos de explicagac. Lima delas — de que se trata de um “Plano sem metas quantitati- vas” — nao parece ir além de uma tentativa de evasao.”* A outra, contudo, deve sez setiamente considerada, Segundo esta tltima, “Se, em agosto de 1974, se tivesse estabelecido para 1975 uma meta de expansio do #18 de, digamos, 4 a 6%, 0 desdnimo teria sido total. E essa taxa de crescimento mais baixa teria ocorrido, nao em 1975, mas jé em 1974" fechando estes comentarios, assinalemos que 0 11 PND, em de- corréncia da prépria missdo que se propde, é concebido como um programa de médio ¢ longo prazos. Certos resultados sio (no mais dlas vezes, equivocadamente) esperados para os prdximos 2a 3 anos, as, no que se refere a desenvolver internamente “fontes basicas de cnergia’, admite-se corajosamente que “uma estratégia nesse sentide levard pelo menos uma década’.. {11 PND, p-19 ¢ 74). E de destacar-se, a este propésito, que a intermindvel sucesso de atritos que caracterizou o relacionamento do Estado com a ini- Gtiva privada no periodo 1974/78 nio impediu que o programa definido em 1974 fosse preservado ¢, em certas dreas, até mesmo reforgado. Entre os fatores de resistencia destacam-se, claro, os in= tcresses diretamente beneficiados pelos projetos. Mas isto segura- mente ndo é tudo, ¢ entre as razdes da sustentagao da rota inicial- mente tragada no parece haver faltado a firme determinagao das antoridades governamentais, Assim, por exemplo, em meados de 1976, sob uma tempestade de criticas, as principais opgées foram confirmadas, ¢ © governo publicou um documento, cuja sentenga~ chave diz:“O governo pensa e vai fazet 0 que estd no 11 PND, aprova- do pelo Congresse Nacional’. LPR Wells Atwalidade do 0,0. * Tien, No proprie 1 eupapreservarao do czescimento aceleredo"é ass defend Als, sob slepagto de que "nm recuo pode signibiear violentotranmatism9”.10°ND, pal. ‘jgto Para a Empress Privads Nacional, Governa ea Economia ce Mescado’, Presidéncia ds Republica, 23/6/1976. 39 Nao obstante preservados, os programas integrantes do it PND sofreram airasos que postergaram o atingimento de diversas metas, Ja em 1978 se admitia que alguns objetivos estavam sendo alcangados (por exemplo em siderurgia e celulose), mas, para o conjunto dos insumastésicas, a auto-suficigncia s6 seria atingida em 1981/82. Com mais razio na area da energia, onde as rnudangas de estrucuta soo caracteristicamente lentas (sendo ainda, no caso do petr6ieo, sotorie amente sujeitas @ azares), os maiozes resultados passavam a ser espe- rados para a primeira metade dos anos 1980, De fato, enquanto reforma da estrutura prodativa, ¢ mudanga da insereao do pafs no mercado mundial, o programa s6 seria realizado nos prineiros anos daetual dlécacla —quando, ali, se revearia mais neces- sitio que mumea, © que trataremos de mostrat snais adiante. Antes, po- én, caberia deter-se sobre algumas das criticas feitas 4s opgdes de 1974, A propésito de criticas Nao me referitei aquias criticas procedentes daqueles que créem quea politica de 1974 consistia no adiantento de problemas, ou, como ja se disse, numa “evasdo ao ajustamento”” Os que assim pensam esto de acordo com o Ministzo Delfim Netto, para quem teria sido possivel promover 0 ajustamenta (vale dizer, o ajustamento conven- cional) em 1974.*Mas — indaga 0 ministro—em 1974 alguém ima- ginava o que iia acontecer em 19792” fo mais, a estratégia de 74 supunha, justamente, que 0 mundo in- gressava numa fase de turbuléncia, sendo necessério enfrenté-la com tama redugio da “dependéncia externas A onda de distirbios que tem inicio em 1979 viria pois validar o diagnéstico feito em 1974 "Tua Rabo dca vate arate Micocnonia Mined i: B-day Foran Gata eat 98 Toe bd de Seip snd einer eh ryan err dpa de 074 ¢ el eect ons dimer meen do Ene ‘Epon Snen = esa ts pen amp tno ‘ohne detoportecomseaoo naoonens datacom {uml und demesne Gots can 105007, 40 ‘slatizante’, declara o jornal O Estado de S.Paulo, numa séce de re- porlagens intitulada “Os Caminhos da Estatizaglo"" estaria agora “se egtendendo a setores que pertenciam ao setar privado” (op. cit. p.7 L).Os setores apontados si0 0 siderdrgico (produtos nao-plenos), levtilizantes, exploragdo mineral, polpa de celulose, petroquimica, industria de hase —at€ aqui, destaques do uPND—, acometcializagao dle certos produtos agricolas, as éteas crediticiae financeira. Trata-se, lerta o jornal, de um “processo sutil que um dia poderé obrigar-nos ‘a reconhecer que a economia brasileira ¢ uma economia socialista” (idem, op. cit, p.71 & 78). Deacordo com arevista Visdo, engaiada na mesma campanha,o Jendmeno em foco seria “o grande paradoxo do movimento revolu- cionstio de 1964: a estatizagio da economia tem sido processada por governos convictamente privatistas’” Diante deste problema, decla- ta Henry Maksoud, “precisamos dar ao debate politico um conteiido ideolégico e econdmico muito forte”.“E preciso despertar 0 governo para essa realidade. preciso conclamar nossas Forgas Armadas, 05 homens de negécio, todos 0s que se interessam pelo futuro da na- <0". Galery, p.152)- “Nesta primeira fase da cammpanha (aquela propriamente referi- «ia ao 1px) prevalece um tom de demtincia, sendo, inclusive, bastan- Ic freqiiente apontar como responsiveis pelo avango da estatizagio aqueles “ideologicamente engajados na tese marxista-leninista’, que longe de terem desaparecido lograram éxito em “infiltrar-se mo cha- mado segundo escalio do aparelxo estatal”* “Nao discutitei aqui estas alegagdes — que seriam reeditadas, com sutileza, nos anos subsequentes, m "Série 11 reportagens publicadas por O Budo deS, Paulo de feveretoamargo {ac L975, Da rechos equi citados foram selecionados por Charles Frstes Pessana cm sua “se te Mestad, "O Estado e Eeoncmia no Brasil campanha contra a estatizagio 1974 2 pest, 1981, TON. isn, 19/0876, 27. Eiusorial de O stado de S Pola, §13/1975, de aconde com Charles Freitas sans, op tit, p90. No mest ton ¥e-se"O Gigantsmg 4s Empress do Este- tio" de Eugenio Gudin, © qual alerta pare as ag6cs sobreptiias dos *melancisg in Pescara, op cit, p.215. 41 te da critica situacao com que se de- ronlava 2 economia em 1974, governo que acabava de ser empos- sado negou-se a delegar ao mercado a condacio das decisoes econd- micas. Isto posta, havia que lancar em campo todas as forgas e instru. ‘mentos direta ou indiretamente comandados pelo Estado. Havia, em Particular, que reforgar a capacidade dos poderes piiblicos de direcionar recursos, Assim, por exemplo, a transferencia de fundos como 0 Ptse 0 PAsEP para o controle do NDE visava assegurar que eles viessem a financiar investimentos (e nao o consumo de duriveis) e, sais, que as éreas de aplicacao fossem aquelas "vitais para 0 dese volvimento econémico do Brasil e para resolver o deficit do balanco de comércia’#* ‘Nao é facil imaginar o que teria ocorrido com a economia bra- sileira, caso a acomodasao & crise houvesse sido entregue as teacdes do mercado. A resposta encontrada pelos paises deseavalvidos, para Pagar a conta do petz6leo, foi uma grande expansio das vendas de méquinas, equipamentos e armas, para os paises do Terceiro Mun- do e,em particular, para a ove." Estes foram de fato os tinicos mer. cedos (fora 0 do petréteo) que se revelarain capazes de engendrar Vultosos recursos adicionais no perfodo pés-1974, Inttil acrescen. tan tal tipo de resposta requer o desenvolvimento prévio das refer. das indtstrias e isto, por sua vez, supée um elevado grau de capacitacao tecnolégica— estando pois, a época, fora do alcance da economia brasileira, Nao creio, em suma, que existisse, para o Bra- sil solugao capaz de evitar o endividamento externo e o redirecio- stemento forcado dos inyestimentos, Resta no entanto indagar se foram corretamente escolhicas ax Prioridades e, concretamente, se nao teria sido melhor confiar no ti. ocinio dos empresirios privados. Pelo que conhesn das pressoes € SILER ellos euzevistaa Fike 1914/1976, “ Consute-sa esse cespeito,Feriando Fsjnzylben La iedusttalcac6 Tuovc de America Latina op. ct, p3?-64 2 creio que ndo. ifta- uigestoes feitas & época por interesses privados, creio que Inde corosidade, goer abaixo, sob a forma de escalas de priorida- «yas recomendagaes feitas a0 governo por um grupo de empresé- tips ¢ alguns ministros de Estado em outubro de 1976." PRIORIDADES DE GOVERNO Segundo Ministros Prospecgio de Petréleo Exponsto os Siderurgia ‘Transportes Urbanos Saneamento Basico Ferrovia do Ago Telecomunicagses 1u Polo Pewwoquimico \w Polo Petroguitico Programa Rodovisrio Drograsna Rodoviario Programa Nuclear Telecormunicagdes Iaipu Segundo Empresarios Husipa Tarrovia do-Ago Ixpansio de Siderurgia rospecgao de Petréleo Programa Nuclear wcamento Basico insportes Urbanos Como se vé, nas respostas dos empresirios, a Prospecgto de ie cleo surge como quarta priridade, abaixo mesmo da Ferovis do Ago (Dy 2 qual conferida a segunda prioridade, s6 superada por Nsipa. Quant ao Programa Nuclear, surge logo ap6s a Prospecrto se Perle, e aia dos Transpores Urban.» Ae esposts dos inistros, come seria de se esperar, conferem com as opsdes do go~ verno, gue seriam, als, logo a seguir reafirmadas. (s despropésitos contides na listagem anterior dispensam co- Imentros lgualmente disparatads seria, por exemplo, eas pro- ppostas eatitudes de representantes das montadorasno pos-1974. eo {re elas destaguemos: introdugio do motor a diesel para cartes 412 expres crgemtes at Resta nome, 810/976, Fra condos 12 emp res a met Serio Bove CEC, obs Caf coro Can nk ies & nasi tus Cal "se ni Deen 9 7 Sonia Fah cs IS ‘A Ferrovia do Aco e, em especial, o Acordo Nucla, it exam entdo objeto de cevrada cia porpaie etic eis 4 passeio; resistencia em cessar a produgdo de veiculos de seis ilindross resisténcia a0 motor a dlcools previsdes, como # do St. j. Sanchez da GM do Brasil, de um mercado interno de dois milhdes de veiculos em 1985 ete: Volto-me agora para um outro género de cri 1 laf referda tse de Carlos Lana, On Trento Lessa nio cré que o 11 PND pretenda dar uma resposta a crise externa, Para ele “o 11 pp faz da ‘crise do petréleo’ (a qual o autor sempre se refete entre aspas) a justficativa para a proclamagéo serena ¢ nao traumitica do projeto de potencia nascida no inte- rior do aparetho do Estado” (op. cit., p.115, paréntesis acrescenta- 208). O proprio “equilibrio das contas externas seria um objetivo ‘itica” (idem, p.115). Para Lessa, enfim, “o diagnéstico explicito (vale dizer, a crise do petréteo etc.) é apenas a pones da iesberg”.. ib, p.53, paréntesis acrescentado), havendo que partir em busca do nio dito: 56 assim poderemos entender este documento que “anuncia a Sociedade o destino, os encargos ¢ as benesses dos anos vindoutos gue o Estado-Principe consultando suas raz6es houve ‘por bein proclamar” (ib, p.2). © nosso autor vé, em suma, no episodio 11 PND, um caso extre- mo de descolamento do Estado de suas bases de sustentagio.“O pr brio fortalecimento do capital nacional, repetidamente enfatizado no ¥Nb, seria apenas o primeiro momento de uma Estratégia queaponta aNasio-Poitncia (i, p.23). Masscomora mera vooreio ae Princ. Ps, nao importa quio poderosa seja, nao se sustenta em si mesina {i p.208),“a nosso juizo,em algum momento, ao longo de 1976, a Bstratégia foi submersa’...“0 11 px transformou-se ein letra motte’, ainda que, “2o nivel apologético das declaragéies oficiais continue vi gente” (ib, p.83). Osis epee hui gtmediacm enor ad ‘ago comecaram cedo e sesgravaram rapidamente. Seguriclo a revista Yidode 0 S74 (p66) os Ulan Sur praidene taveamage tee elena ae toad tdbetaloene ninco generate sas einige shine 749% Sonos east pce oak “ Meu entendimento do u xb é, como vimos, diferente. Trata. se de um plano cujas propostas centrais encontram-se profunda- mente marcadas pela consciéncia de que 0 mundo se encon:rava mergulhado em grave crise, que tornou patente a vulnerabilidade da economia brasileira.:*Mas 9 plano encontra-se também impreg- nado da decisio de levar a termo o processo de desenvolvimento econdmico. E é sob este prisma que a tese de Lessa — despida de cxageros — tem suia dose de razao, Hé, no plano, uma manifesta vontade politica, e um grande desencontro com os “interesses”. O projeto de industrializago nacional, que teve como primeito grande marco a batalha pela moderna siderurgia, €alf ostensivamente as- sumido, Tal projeto, ora adotado, ora deixado de lado, por sucessi- ‘yas administracdes, tem profundas raizes em segmentos da buro- ceracia civil e das Forgas Armadas, conta com 0 apoio intermitente de parcela da burguesia nativa e chegou, mesmo, no episédio da Iuta pelo petréleo,a desfrutar deapoio popular, Jamais deixou, po- xém, de trazer em si a marca de uma determinacao politice que busca sobrepor-se ao chamado jogo das forgas de mercado. Por isto mesino, cabe advertir, a caracterizagao feita por Lessa, segundo a qual a estratégia de 74 coloca “o Estado como sujeito e a sociedade come objeto’," é enganosa. Hi aqui um deslize através do qual a sociedad vem a ser identificada com. o mercado, O Estado surge na esteatégla de 74, inegavelmente como sujeito — mas o objeto & antes que nada, a economia, ou se s¢ quiser, o mercado, O equivo- co seguramente provém de que naquele momento 0 Rstado tam- bém era — ostensivamente — 0 sujeito no plano politico. E, aqui sim, 0 objeto era a sociedade, Mas, a ep, enquanto estratégia de superago da crise e consofidasao dos interesses de longo prazo de cconomia brasileira, que rejeita ¢ redirecione os impulses proce- dentes do mercado, poderia haver sido adotado através dos mais limpidos processos democréticos. Em outras palaveas, a perversa0 © Esta comstotago, jd amteriormentesssinalada, encomtra-se fortemente presente tno pronuincairenta que se segue primeira reuniso ministeriatem 19 de mstgo de 197% ‘Nida maisenfiice, declcszia Severo Gomes meses apés!"Naverdade, parece extinguit- se um period na vide de humenidade, inicado no pés-gucre”,, Conferéncia a 80, 20801874. * Cortes Less, op. ct, BAB. 'A Estralégia do Desenvolvinento 1974-1976, Sonho e Fracasio', 45 politica reside nos métodos através des quais o.u pwo foi definido e implementado, Isto posto, admita-se que as democtacias européi as, frente a reconstrucao do pés-guerra, tomaram também deci s6es que potico ou nada tinham a ver com as interesses capitalistas de curto prazo— e exigiam grande presenga e intensa atuacao do Estado sobre a economia. Por outro lado, convém nao esquecer, o regime seria autoritérie, com ou sem il PND... Aliis; na América Latina, as ditaduras tn revelado maior afinidade com o liberalis- sno econdinico ¢ as atividades primério-exportadoras, que com o planejamento ea industrializagao.™ Finalizanda, discordo de que o 1 PND tenha, na prética, morrido em 1976, sobrevivendo apenas na retérica oficial. A es- tratégia de 1974 abortou a reversao ciclica que se anunciava quan- do da posse do nove governo ¢ permitiu a sustentagio de uma elevada taxa de ctescimento até o final da década de 1970, Além isto, por haver deslanchado transformagies, que se revelaram irteversiveis, sua influencia projetou-se sobre 0 governo instalado ‘em marco de 1979, Espero haver deixado claro que, segundo penso, o que hé de condenavel no periodo em faco nao decorre das diretrizes econd= nicas estabelecidas em 1974, ¢ sim do regime politico vigente. £ claro, no entanto, que as taras do regime caritaminaram, em maior ou menor medida, tudo © que ocorreu no periodo, No que se refe- te a0 plano propriamente dito, o 1 PND cumpriu toda a sna con- turbada trajet6ria, como um produto de gabinete, incapar de ob. ‘er 0 apoio (¢ muito menos a mobilizacao) de uma sociedade, que 40 participow de sua elaboragdo e nao tinha como controlar a sua execugio, Esta falta de respalido politico ¢ perticipagdo social deve ter custada muito. B isto nao apenas pela razao trivial de que qualquer plano ow politica ganha em vigor quando discutide e ‘Vejase a propésito as criticas — no nossa entender pracadentes — de Jost Sere 4 Guilherme © Dongel! em “Ties Tews Equivocad RelativasaQigucio ere Indust lieagdo€ Regimes Aucoriizios: in David Colfer (ong) Novo Atiritarisme na Amica Latina Rio de faneit, Piz e Tere, 1982, 45 aceito pela sociedade, mas, concretamente, pela caréncia de apoio frente a interesses menores ou mesmo escusos que ameagavam mutilar a estratégia, Acrescente-se a isto 0 fato de que a corrupgio © a impunidade, téo caracteristicas do ambiente fechado das dita~ curas, impuseram severas esteagos a consecugao de diversas me- tas, Nada disto, porém, impediu que — a um custo seguramente superior a0 necessénio— a trensformagao da estrutura produtive almngjada pelo 1 PND tenha, em grande medida, se realizado. O ue fracassou foi a chamade “estratégia social’, de acordo com a ‘qual seria necessério “realizer politicas redistributivas enquanto o bato cresce™* = Vejaseadiane,segdo “O Gantho de Diviens decortente dos Geandes Beogcamat Seton p86. 60. Sy eND pl. a Vicissitudes do IT Delfinato Introdugio No ano de 1977, como reflexo do rigido controle das import- ces (parte integrante da estratégia adotada), da queda do ritmo de crescimento da economia e da evolugao excepcionalmente favorivel dos termos de intercmbio— que saltam de um indice 76 em 1975, para 100 em 1977 —, foi momentanearmente atingida uma situagao dle equilibrio das transagdes cometciais. Dois anos apés com os pri cipais programas e projetos oriumdos do ii PND ainda em plese anda- ‘mento, pais foi acangado pelo segundo choque do petréleo, A nova alta, que fariao valor das importagoes de combustiveis liquidos saltar do patamar de US$ 4 bilhdes, para valores proximos a USS 10 bilhoes centre 1980 ¢ 1982, se seguiriam a exploso dos juros — principal fa- tor determinante do salto da conta de juros liquidos pagos a0 exte- rior, de USS 2,7 bilhdes em 1978, para US$ 9,2 bilhoes jé em 1981 — ¢, ela associada, a derrocada dos presos de importantes produtos primarios exportados pelo pats. Outras adversidades, como é bem sabido, viriam a se somar: a Tonga recessao dos paises industrialian~ dos ¢ o colapso do sistema internacional de crédito privado. ‘A brutal queda da capacidade de importar — que de um indice 236 alcangado em 1978 cai, jd em 1979, para o valor 161°> — reque- indice com bape 100, em 1970, caleulado partir de dads do Banco Cen 4 sia, mais waza ve2, uma resposta por parte do pais, A escolha coeren- te com 0 PND deveria combinar, no nosso entender, uma revisao, face as novas circunstincias, dos programas ¢ projetos definidos em 1974, actescida de medidas extraordinaxias do tipo: racionainento do consumo de combustiveis; controle das importagées, por empre- sas (medida que veio a ser adotada em 1980, ap6s a queima das re- servas do pais); programa de emergéncia de substituigao de impor- ‘tagdes; , claro, fomento redobrado as exportagdes. A esta corregao intensificacio do processo de ajuste deveria ainda ser acrescentada uma politica industrial e tecnolégica impondo normas ¢ especili- cand limites para o consumo de energia em setores tais com: vei- culos automotores, eletradomésticos, construcao civil etc. Teriacom. isto (praticamente) inicio uma politica mais “fina” de adaptagio a era da energia cara, atuando-se agora, ainda que tardiamente, sobre processos e produtos Mais que uma estratégia alternativa, esta politica representaria tum derradeiro esforco (e sacrificio) visando abreviar o caminho em dizegao as tansformagbes visadas pelo it pwn. Afinal, as novas difi culdades —aj incluida a recessto mundial de 1980 ¢ 1982, € 0 colap- So do mercado financeiro internacional —vinham comprovas a vali- dade do cmpenho assumido no sentido da internalizagao das fontes de energia, dos insumos estraiégicos, e dos bens de capital. £ fundamental ressaltar ainda que desta feita — em 1979 — uma politica de contengao do crescimento teria resultados penosos, ‘mas, sem duivida, nem sequer compariveis as desastrosas conseqién-

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