Clifford Geertz foi um antropólogo americano que desenvolveu a antropologia interpretativa, rejeitando abordagens estruturalistas e defendendo que a compreensão das culturas deve partir de casos concretos. Ele via a cultura como um conjunto de significados compartilhados e a etnografia como uma "descrição densa" para interpretar esses significados. A obra de Geertz lançou novas bases para o saber antropológico, enfatizando uma abordagem microscópica e a perspectiva dos nativos.
Clifford Geertz foi um antropólogo americano que desenvolveu a antropologia interpretativa, rejeitando abordagens estruturalistas e defendendo que a compreensão das culturas deve partir de casos concretos. Ele via a cultura como um conjunto de significados compartilhados e a etnografia como uma "descrição densa" para interpretar esses significados. A obra de Geertz lançou novas bases para o saber antropológico, enfatizando uma abordagem microscópica e a perspectiva dos nativos.
Clifford Geertz foi um antropólogo americano que desenvolveu a antropologia interpretativa, rejeitando abordagens estruturalistas e defendendo que a compreensão das culturas deve partir de casos concretos. Ele via a cultura como um conjunto de significados compartilhados e a etnografia como uma "descrição densa" para interpretar esses significados. A obra de Geertz lançou novas bases para o saber antropológico, enfatizando uma abordagem microscópica e a perspectiva dos nativos.
Uma Descrio Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura
Por Diogo Monteiro
Clifford Geertz (1926-2006) foi um antroplogo estadunidense professor
da Universidade de Princeton, em Nova Jersey. o fundador da Antropologia Hermenutica ou Interpretativa, que floresceu a partir dos anos 1950, representando um divisor de guas na teoria antropolgica contempornea. A epistemologia de Geertz se desenvolveu como um contraponto ao modelo estrutural Levi-straussiano. Para o estruturalismo, o conhecimento deveria originar-se da elaborao de conceitos abstratos que explicariam, de modo homogneo, os diversos contextos empricos observados pelo analista. J o vis interpretativo, propagado por Geertz, baseava-se na ideia de que a compreenso dos fenmenos sociais deveria partir dos casos concretos - da empiria - atravs dos quais a elaborao de teorias amplas seria possvel. Estudioso dos temas sobre religio, Geertz realizou pesquisas de campo na Indonsia e no Marrocos. Dentre as suas obras publicadas, destacamos: Islam Observed (1968), A Interpretao das Culturas (1973), Negara. The theatre-state in Bali (1980), O Saber Local (1983), Obras e vidas (1988), After the fact(1995) e Nova Luz Sobre a Antropologia (2000). Em Uma Descrio Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura - primeiro captulo da obra A Interpretao das Culturas - Geertz se prope, em termos gerais, lanar novas bases para a constituio do saber antropolgico. Neste sentido, o autor trata da especificidade da cultura como objeto de anlise da antropologia, da sua natureza enquanto conceito antropolgico e das peculiaridades do fazer etnogrfico. O autor inicia suas reflexes questionando a validade da aplicao universal de conceitos cientficos para a explicao de diversos fenmenos. Ao combater a versatilidade do uso destes conceitos, afirmando que eles no so passveis de explicar tudo o que humano, Geertz defende o emprego limitado do conceito de cultura para a rea da Antropologia, tornando-o mais especializado e teoricamente mais poderoso (GEERTZ, 1978, p. 14). No intuito de superar o uso corrente do conceito de cultura estrutural- funcionalista, visto como aquele todo complexo, que inclui os comportamentos universais das sociedades humanas, Geertz observa na cultura o seu carter semitico. Como Max Weber, Geertz acredita que o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu e, a cultura, seria essas teias e a sua anlise. Em suma, ela no seria uma cincia experimental em busca de leis, mas uma cincia interpretativa procura do significado (GEERTZ, 1978, p.15). Geertz indica que para compreender a cincia antropolgica no suficiente debruar-se sobre os seus resultados, suas teorias ou inteirar-se do que os seus entusiastas falam sobre ela. Para isso, necessrio observar o que os seus praticantes fazem: a etnografia, um esforo elaborado para uma descrio densa, cujo objeto seria a anlise da hierarquia estratificada de estruturas significantes, em termos das quais, segundo o exemplo extrado de Gilbert Ryle, os tiques nervosos, as piscadelas, as falsas piscadelas, as imitaes, os ensaios das imitaes so percebidos e interpretados. (GEERTZ, 1978, p. 17). Ao observar a cultura como um texto, Geertz sugere que fazer a etnografia como tentar ler no sentido de construir uma leitura de um manuscrito estranho, desbotado, cheio de emendas suspeitas e comentrios tendenciosos, escrito no com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitrios de comportamento modelado (GEERTZ, 1978, p. 20). Geertz polemiza acerca do carter objetivo ou subjetivo da cultura. Ao combater as proposies da etnocincia antropologia cognitiva/psicolgica que percebe a cultura como uma manifestao subjetiva da mente humana, o autor enfatiza a sua essncia pblica, afirmando que os significados dos comportamentos so compartilhados pelos indivduos que convivem em determinados contextos. A etnografia, segundo Geertz, tem como fim situar o pesquisador entre os nativos, sem que para isso ele tenha a pretenso de tornar-se um deles. O que se pretende conversar com eles, alargar o universo do discurso humano. Neste particular, a cultura se desvencilharia da sua tendncia hegemnica e abriria espao para a audincia das vozes dos nativos, possibilitando a compreenso dos significados das suas condutas atravs dos seus pontos de vista particulares. Deste modo, Geertz nos orienta a tratar as descries etnogrficas como construes de construes dos nativos, encaradas em termos das interpretaes s quais pessoas de uma denominao particular submetem suas experincias. Assim, os textos antropolgicos seriam interpretaes de segunda e de terceira mo somente o nativo faz interpretao de primeira mo so fices, algo construdo, modelado, no que sejam falsas, no-factuais ou apenas experimentos de pensamento (GEERTZ, 1978, p. 25-26). A descrio densa, para Geertz, possui quatro caractersticas principais: interpretativa, interpreta o fluxo do discurso social, fixa-o em suportes pesquisveis com o intuito de salv-lo da extino e microscpica. Para esta ltima propriedade, o autor estabelece que por meio da anlise emprica extensiva de contextos circunscritos - de assuntos extremamente pequenos-, a Antropologia acessa grandes temas e realiza anlises mais abstratas. Os antroplogos no estudam as aldeias [...] eles estudam nas aldeias. (GEERTZ, 1978, p. 32). Geertz observa a Antropologia Interpretativa como um conhecimento cientfico no-cumulativo, em perptua construo, cujos resultados so frequentemente contestveis. Segundo o autor, o progresso da cincia no se d atravs do consenso relacionado s pesquisas anteriores, mas por meio do debate e contestao das inferncias estabelecidas. Apesar disso, o autor constata que o grau de validade de dado referencial terico depender do seu maior ou menor poder de explicao para os novos problemas analisados. Portanto, os pressupostos tericos de Geertz colaboraram para a renovao da cincia antropolgica contempornea. Alvo de apreciaes que a rotulavam como perspectiva acrtica ela obscurecia as mazelas vivenciadas pelos grupos nativos e da acusao de promover racismo s avessas a valorizao da cultura alheia como critrio para o julgamento pessimista da sociedade ocidental a antropologia de Geertz revelou, na realidade, os meios possveis para a superao da tendncia etnocntrica que ainda vigorava na prtica antropolgica. Desta forma, Uma Descrio Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura, ao apresentar uma escrita complexa, eivada de termos cientficos, aprofundando debates epistemolgicos acerca da natureza da prtica etnogrfica, ser lido com grande proveito por estudantes e professores universitrios das reas da Antropologia, Sociologia, Histria e demais interessados em aprofundar seus conhecimentos acerca das teorias antropolgicas contemporneas.
Referncia bibliogrfica
GEERTZ, Clifford. Uma Descrio Densa: Por uma Teoria Interpretativa da
Cultura. In:_____. A interpretao das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. Cap. 1, p. 13-41.