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432 Novos Dominios da Historia SOARES, Luiz Carlo. A guera capitalist permanente. In: SOARES, Luiz Carlos; SILVA,4 Francisco Carlos Teincira da. Reflexes sobre a guerra. Rio de Janeiro, FAPER) ~ Editors 7 Letras, 2010, SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: exravidao e cidadania na formagio do exci, Rig de Janeiro: Paz Terra, 1990. SUN TZU. A arte da guerra. Porto Alegre: L&:PM, 2000. WRIGHT, Quincy A guerra Rio de Janciro: Biblioteca do Exércio, 2008. ZEA, Leopoldo. El descubrimiento de la Améticsg ia. In (Org). El descubrimienss de América y su impacto em la bitéria. México: Fondo de Galeura Eeonémica, 1991 ae Capitulo 7 Historia e cultura material! fa universalizacién de la hist Marcle Rede Enure a istériae a cultura material as relagbes oscilaram da precatiedade &rejigso «0 divércio é antigo, profundo e dificil de superar, € a constatagao tem a0 menos um duplo sentido. Em geral, os histriadotes desprezaram ou falharam em considerar adequadamente as artculagbes entre a vida social ea materalidade,e, apesar de sua grande diversidade, ramente as teorias acerca da experiéneia histérica reconheceram a importincia da dimensio material da existéncia humana, Em segundo lugar, a historiografa foi timida ou totalmente inapta em incorporat as fontes materiais 20 seu proceso de geragio de conhecimento, De bergo € por vocagao sedimentada, optou por privlegiar as fontes escrtas de toda espécie, | conferindo & cultura material, no melhor dos casos, um papel ilustraivo ou de corrobora- a0, Além diss, vale acrescentar que, no sentido inverso, a situagio no melhor, visto que, ‘em muitos dominios ~ na arqueologia ¢ na histéria da arte, também na antropologia ¢ nos | estudas da techotogia, entre outros ~ as andisescentradas na cultura material debeugaram- se excessva ou exclusivamente sobre 0s atributos fisicos dos objetos, suas caracterstcas | eeenicas ou plésticas, marginalizando dimensées fundamentais caras & abordagem histo- riogriica, como o contexto social ¢ a dindmica temporal, Os resultados foram, por vezes, muito precisos quanto a formas ¢ estilos, matérias ¢ cécnicas, tipologias e seriagées, mas frequememente decepcionantes para se entender historicamente a sociedades. s problemas situam-se, assim, canto no nivel ontoldgico da considerasio sobre « natureza das sociedades, como no nivel epstemolagico das condigdes de construgdo de um saber histérico sobre elas. Ambas as deficiéncias esto intimament ligadas, ¢ enfent-las implica um esforgo duplo: a teconsideragio das nogées acerca da materialidade do social «igualmente, a proposisio de abordagens que permitam a definitiva integracio da cultura material na operacio heurisica da historiograi 7 Gomtaria de reconhecer minha enorme divide com Ulpiane Bezerre de Meneses, pioneio dos etudos de cultura materiel entre nos. em seus ensinamentos, suas orlentacbes de letra «suas préprias rele: 134 over bominios da Historia ELSEVIER [Nas cigncias humanas, muitas foram as tentaivas que, com maior ou menor sucesso, procuraram mobilza as realidades fis (dos artefatos as pasagens; dos corpos as esrutu- ras urbanas) para a produgio de conhecimento, Significativamente, os principais esforgos, deram-se 4 margem da historiografia, e essas tajetérias mitiplas, em que é possvelreco- ‘nhecerlinhagens evalusivas, rupturas € contribuigGes mais ou menos avulsas, sero objeto de nossa primeita parte; em seguida, trataremos de reflex sobre as possibilidades de uma abordagem apts a resgatar da penumbra a incontorndvel materialidade em que se lasteia 3 organizagio das sociedades;¢, por fim, apontaremos algumas condig6es necesstias a0 uso da cultura material como Fonte histérica A cultura material nas ciéncias humanas: abordagens ¢ tendéncias Sem desconsiderar os precedentes que indicam um interesse pontual ou preparam 0 {erteno para 0 que viria em seguida (cf. Schnapp, 1993), pode-se dizer que o século XIX viu emergir uma nogio mais formalizada de cultura material, entendida como um amplo ‘segmento de realidades fisicas definidas por sua insergio na atividade humana. Desde logo, portanto, a naroreza cultural da agao do homem impunhsa-se como eritério funda~ imental, que serva, inclusive, para distinguir, no infinito campo das cosas materais, os elementos a serem considerados propriamente parte da experincia social ¢, consequen- temente, foco da atengao do estudioso. Do ponto de vista deste, a cultura material era, principalmente, toda sorte de matéria processada pelo homem ¢ que Ihe podia fornecer informagio sabre a evolugao cultural, ¢ foi esse o esp 1 que marcov as primeira def- nigdes de arefaco na arqueslagis ou na antropologia. Do mesmo mado, 2 énfase na apli- cago da técnica sobre a matériaforneceu as bases para aabordayem evolutiva que fez da narrativa da trajetéria das sociedades uma sucessio ascendente de estigios teenol6gicos, tendo como exemplo precoce ¢ representativo o modelo das és idades~ Pedra, Bronze € Ferro ~ formulado por volta de 1850. Poe sua prépri ituasio hist6rica, o século XIX foi marcado pot uma agucada sensi bilidade com relagio aos ingsedientes materiais da t éria social (o que foi vido, igual ‘mente, para a vida bioligica da espécie, como mostram os primeisee passos da teoria da evolugio, com Darwin ¢ outros). Por um lado, a Revolugéo Industral confrontou parte da Europa com um inédito volume de bens, caracterizados por serem produtos mercantis, ¢ levarem consigo as marcas de um fabuloso process tecnoligico, por circularem em wm ‘mercado em consolidasio interna ¢ expanss0 em escala mundial, por serem parte de um cireuito de descarte, substinigio + superacio pela inovagio nunca antes conhecido em tal velocidade, por representarem, enfim, a materalzacao de um idea de proggessosocialmen- te valorizado. E dificil pensar as primeiras seflexdes sobre esse novo mundo, inclusive as de Marx, sem o impacto, ¢ eventualmente o mal estar, gerado pelo espeticulo de produgio, cireulagio e consumo que © homem oitocentista tinha diance dos olhos. Por outro lado, = | eolonizasio pbs os europeus em continuo contato com populagées disantes, sobretudo “Facanas asitias eda Oceania. A ancropologia emergent, que acompanhou de pero «fer parte do proceso de expansi, cube 9

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