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UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos

Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Difusos e Coletivos

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO AMBIENTAL

Disciplina: Tutela Processual Ambiental

Professor: Doutor Celso Antonio Pacheco Fiorillo

Mestrando: Vinicius Vargas Lage

Santos - São Paulo

2008
SUMÁRIO

1. CONCEITO
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
3. PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DE CABIMENTO
3.1. DIREITO LÍQUIDO E CERTO
3.2. ATO ILEGAL OU PRATICADO COM ABUSO DE PODER (ATO COATOR)
4.DIFERENÇA ENTRE MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL E
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
5. LEGITIMAÇÃO
5.1 ATIVA
5.2 QUANTO OS PARTIDOS POLÍTICOS
6. MEDIDA LIMINAR
7.MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO AMBIENTAL
8. OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO COMPARADO AO
OBJETO DA AÇÃO POPULAR E DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA
8.1. AÇÃO POPULAR
8.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
8.3. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
8.4. NÃO CABE MANDADO DE SEGURANÇA:
8.5. LEIS E DECRETOS:
8.6. LEIS E DECRETOS DE EFEITOS CONCRETOS SÃO AQUELES QUE
TRAZEM EM SI MESMOS O RESULTADO ESPECÍFICO PRETENDIDO:
8.7. DELIBERAÇÕES LEGISLATIVAS
8.8. COISA JULGADA
8.9. DECISÕES JUDICIAIS
8.1.0 CABIMENTO
9. BIBLIOGRAFIA
10.ANEXOS
1. CONCEITO

Como abordado pelo Professor Fiorillo, o mandado de segurança coletivo

ambiental protege os interesses difusos, como o próprio nome do instrumento

emprega, tratam-se da proteção de direitos coletivos, os direitos ambientais

traduzem-se, em última análise, no próprio direito à vida com qualidade.

Discorda o Mestre Fiorillo quanto à origem do mandado de segurança

coletivo, com relação à origem no instrumento da class action for damages do

direito norte-americano, mas possui no tocante à ação civil pública. Vale ressaltar

a opinião do Professor Nelson Nery Junior, no que tange a origem do nosso

mandado de segurança (gênero das formas de impetração individual e coletiva,

portanto, raiz destas):1

“Quer com a evolução das ‘seguranças reais’ do direito reinol, ou

com o tratamento dado pela doutrina mais antiga à ‘posse dos

direitos pessoais’, o fato é que o mandado de segurança tem

mesmo origem no antigo direito luso-brasileiro, havendo

recebido, contudo, influência do judicio de amparo do direito

mexicano e dos writs do direito anglo-saxão”2

1
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, São Paulo: Saraiva,
2008.
2
Nelson Nery Junior, Princípios, cit., p.93.
A exemplo do mandado de segurança individual é instituto processual de

caráter constitucional, posto à disposição dos partidos políticos (com

Representação no Congresso Nacional) e aos órgãos sindicais e entidades de

classe ou associação (legalmente constituída e em funcionamento há um ano)

para proteção de direito líquido e certo (comprovado de plano), não amparado por

habeas corpus e habeas data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de

autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

Esse conceito extraímos da observação e leitura dos artigos 1º da Lei

1533/51 e do artigo 5º incisos LXIX e LXX da Constituição da República

Federativa do Brasil.

Assim dispõe o artigo 5º da nossa Constituição Federal:

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger

direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou

habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou

abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa

jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXX – o Mandado de Segurança Coletivo pode ser

impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso

Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou

associação legalmente constituída e em

funcionamento há pelo menos um ano, em defesa

dos interesses de seus membros ou associados.

A lei 1533/51 dispõe:

“Conceder-se-á mandado de segurança para proteger

direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus,

sempre que, ilegalmente ou com abuso do poder, alguém

sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte

de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem

as funções que exerça”.

Parágrafo 1º - Consideram-se autoridades, para os efeitos

desta Lei, os representantes ou administradores das

entidades autárquicas e das pessoas naturais ou jurídicas

com funções delegadas do poder público, somente no que

entender com essas funções (redação dada pela Lei n.º

9259/96).
Trata-se o mandado do segurança de ação civil de rito sumario especial

que se destina a afastar a lesão de direito subjetivo individual ou coletivo, por meio

de ordem corretiva ou preventiva de ilegalidade ou abuso de poder dirigida a

autoridade pública ou a quem fizer suas vezes.

O mandado de segurança, como acima descrito, artigo 5º, incisos LXIX e

LXX da CF, é garantia constitucional fundamental, é instrumento perene do Direito

brasileiro, clausula pétrea ou imodificável, sendo induvidoso que qualquer emenda

tendente a aboli-lo não poderá ser deliberada.

Sendo ação civil de rito especial, o mandado de segurança é regido

primariamente pelo Lei 1.533/51 e subsidiariamente pelo Código de Processo

Civil, naquilo em que não haja confronto com a norma especial ou com essência

jurídica do instrumento.

Como procedimento, o mandado de segurança tem por característica

principal a celeridade, cujo artigo 17 da referida Lei preceitua que “os processos

de mandado de segurança terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo

habeas corpus, e que na instancia superior deverão ser levados a julgamento na

primeira sessão que se seguir a data em que, feita a distribuição, forem conclusos

ao relator”.
No mandado de segurança coletivo não se aplica a previsão do art. 6º do

Código de Processo Civil, segundo o qual “ninguém poderá pleitear, em nome

próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”, ao contrário, aceita-se que

coletividades atuem em nome próprio, defendendo direitos de seus membros ou

associados.

Citamos o conceito de José Cretella Júnior, onde:

"Mandado de segurança ‘coletivo’ é ação de rito especial que

determinadas entidades, enumeradas expressamente na

Constituição, podem ajuizar para defesa, não de direitos próprios,

inerentes a essas entidades, mas de direito líquido e certo de

seus membros, ou associados, ocorrendo, no caso, o instituto da

substituição processual."3

Entretanto, no tocante ao habeas corpus e o habeas data, ao contrário ao

que ocorre na propositura destes, em relação às quais o postulante faz jus ao

beneficio da imunidade quanto a taxa judiciária, artigo 5º, inciso LXXVII, da CF, a

impetração do mandado de segurança se sujeita ao referida tributo.

Em divergência doutrinária, alguns autores entendem que o postulante do

mandado de segurança da mesma forma faz jus ao benefício da imunidade à taxa

3
JÚNIOR, José Cretella. Do Mandado de Segurança Coletivo. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense,
1991. p. 8.
judiciária. Levando-se em consideração ser garantia similar aos aludidos remédios

e ato necessário ao exercício de cidadania.

No entanto, tal divergência doutrinaria é repelida pela jurisprudência,

que autoriza a incidência de custas judiciais nas ações de mandado de segurança,

somente as quais terão sua inexigibilidade afastada nos casos de isenção, a

critério do legislador da entidade tributante ou de miserabilidade do impetrante.

Sendo esta ultima, ser outra hipótese de imunidade quanto a taxa judiciária,

prevista no artigo 5º, inciso LXXIV, da CF.

Quando da Justiça Federal, o mandado de segurança há de ser

enquadrado na tabela de custas estabelecida pela Lei 9.289/96, como uma das

ações cíveis em geral em geral a que se refere a alínea a.

Ou seja, sendo a taxa correlata cobrada na base de 1% sobre o valor da

causa, tendo como limites mínimo e Maximo as quantias equivalentes a dez Ufirs

e a 1.800 Ufirs.

É de se ressaltar que a petição inicial do mandado de segurança deve,

necessariamente, indicar o valor da causa por tratar-se de ação cível. Portanto,

submetida a regramento do Código de Processo Civil, no que dispõe o artigo 258

do referido Códex Processual.


“a toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha

conteúdo econômico imediato”.

Assim, alem de servir de base para quantificação da taxa judiciária, o

valor da causa também será parâmetro para calculo do valor da multa prevista no

artigo 14, inciso V e parágrafo único, do CPC, por eventual ato atentatório ao

exercício da jurisdição no curso do processo.

Daí sua importância no mandado de segurança.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O Mandado de Segurança Coletivo é instituto novo no ordenamento

jurídico nacional. Criado na Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, que é seu fundamento normativo, encontrando-se no artigo 5º, inciso LXX.

Como criação recente no ordenamento jurídico, lembramos que o remédio

adequado era o habeas corpus, surgindo o mandado de segurança apenas na

Constituição de 1934, mais devido os conceitos da época o mandado de

segurança estava condicionado a existência prévia de um direito.

Ocorre que na Constituição de 1937, o instrumento foi retirado,

diminuindo sensivelmente as garantias e direitos individuais, permanecendo no

campo infraconstitucional. Com a ruptura jurídica e proclamação da Constituição

de 1946, o instrumento retornou ao status de norma constitucional, portanto,

ampliando o rol de direitos individuais.

A Constituição de 1967 manteve o instrumento na órbita constitucional,

alterando a disposição, trazendo uma importante novidade, ou seja,

acrescentando a expressão “individual”.

Como bem salienta o Prof. Fiorillo, o texto de 1969 que retirou a

expressão “individual”, permitiu a tutela dos direitos que ultrapassavam a órbita do

indivíduo, permitindo assim a tutela dos direitos metaindividuais.


3. PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DE CABIMENTO

3.1. DIREITO LÍQUIDO E CERTO


Segundo Hely Lopes Merelles, direito líquido e certo é o que se apresenta

“manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no

momento de sua impetração. 4

Noutros termos, passível de proteção mediante mandado de segurança

será o direito escorado em fatos evidenciados de plano, mediante prova pré-

constituída, uma vez que o rito especial da Lei 1.533/51 não comporta dilação

probatória.

Á luz do regramento jurisprudencial:

“A ação de pedir segurança tem rito especialíssimo, de índole

documental, exigindo prova pré-constituída dos fatos articulados

na peça vestibular, não admitindo a dilação probatória. A petição

inicial deve indicar com clareza e precisão o ato da autoridade

que macula o direito do impetrante. O mandado de segurança é

remedium juris para proteção de direito líquido e certo, resultando,

porém, de fato comprovado de plano, devendo o pedido vir

estribado em fatos incontroversos, claros e precisos, já que, no

procedimento do mandamus, é inadmissível a dilação

probatória.”5

4
MEIRELLES, Lopes Hely. Mandado de Segurança, Ação Popular. Ação Civil Pública, Mandado de
Injunção, “habeas Data”, Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade e
Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
5
STJ, ROMS 9623/MS, 1ª Turma, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJ 22/03/99, pg. 54.
“se os fatos estão comprovados, não pode o juiz deixar de

examinar a questão de fundo sob a assertiva de ser complexa a

questão de direito”.6

No mesmo sentido é o enunciado da Sumula 625 do STF, de cujo teor

extrai-se que controvérsia sobre matéria de Direito não impede concessão de

mandado de segurança. Todavia, os casos para cuja solução a pericia judicial seja

imprescindível, não podem ser admitidos em sede de mandamental. Vejamos:

“(...) na via processual constitucional do mandado de segurança, e

a liquidez e a certeza do direito devem vir demonstradas initio litis.

In casu, não há como analisar a ilegalidade da referida avaliação,

de modo a justificar o pedido de sua dispensa. Tal exame deve

ser feito através de pericia. Para tanto, é necessário dilação

probatória, possível somente na via ordinária, a qual fica

ressalvada nesta oportunidade. Ausência de liquidez e certeza a

amparar a pretensão”.7

Insta salientar que, constatada a inexistência de direito líquido e certo,

condição constitucional da ação, “o caso será de carência da ação a ensejar a

extinção do processo sem a apreciação do mérito – ainda que o julgador afirma

estar denegando a segurança -, o que não impedira a impetração pelo rito

ordinário ou ate mesmo de novo mandado de segurança, instruído com novas

6
STJ, 220174/CE, 1ª Turma, Rel. Min, Garcia Vieira, DJ 11/10/99, pg. 53.
7
STJ, ROMS 14079/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 13/10/03, pg. 382.
provas, se o prazo de 120 dias (art. 18) ainda estiver em curso. Mesmo para os

autores que vêem o direito líquido e certo não como condição específica da ação

de mandado de segurança, mas como pressuposto processual objetivo

(adequação do procedimento) – caso de Leonardo Greco -, o efeito de sua

inexistência seria o mesmo: apenas invalidar a busca do direito através do writ,

substituindo o direito à jurisdição sobre o litígio, ainda que por outra via”.8

3.2. ATO ILEGAL OU PRATICADO COM ABUSO DE PODER (ATO

COATOR)

É o que revela ato ou omissão de autoridade pública. Um ato praticado ou

omitido por pessoa investida de parcela do Poder Público, eivado de ilegalidade

ou abuso de poder.

Trata-se de sempre que houver vicio no que diz respeito aos requisitos de

validade d ato administrativo. Ou seja, competência, forma, finalidade, motivo e

objetivo.

Conforme esclarece a Doutrinadora Professora Maria Sylvia Zanella di

Pietro:

“na realidade, trata-se dos chamados atos materiais da

Administração, que não se expressam por ato administrativo

propriamente dito, mas que manifestam uma vontade e produzem


8
LOPES, Mauro Luis Rocha, Mandado de Segurança: Doutrina e Jurisprudência, Legislação, 2ª Ed., Impetus,
2007.
efeitos jurídicos no caso em concreto. É o que ocorre quando a

administração apreende mercadorias, quando sinaliza as vias

públicas, quando fecha, por meio de cartazes ou faixas,

determinadas ruas ou praias, executam uma obra etc. ainda que

não haja um ato escrito para ser impugnado, a simples execução

daqueles atos materiais pode causar lesão ou ameaça de lesão e

abrir ensejo à impetração de mandado de segurança”.9

4. DIFERENÇA ENTRE MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL E

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

O que distingue o Mandado de Segurança Individual do Mandado de

Segurança Coletivo é a legitimação, que não confere ao Mandado de Segurança

Coletivo autonomia, caracterizando-se como espécie do Mandado de Segurança

Individual, conforme nos ensina Francisco Antonio de Oliveira.

A grande parte da doutrina entende que são dois os pontos cruciais

distintos entre o mandado de segurança individual e o coletivo, a saber:

a) a legitimação ativa;

b) o objeto da tutela.

9
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di, Mandado do Segurança. Editora Del Rey.
Cabe salientar que o Mandado de Segurança Coletivo implica os mesmos

pressupostos do mandado individual, observada a diferença no que tange a

legitimação ativa e quanto ao objeto.

Portanto, verifica-se pela leitura do dispositivo constitucional que o

Mandado de Segurança Coletivo tem por legitimação ativa partido político com

representação no Congresso Nacional e organização sindical, entidade de classe

ou associação legalmente constituída.

Quanto ao objeto, o Mandado de Segurança Coletivo tem a finalidade de

corrigir ato ou omissão de autoridade, desde que ilegal e ofensivo de direito

coletivo, líquido e certo.

Entende-se por direito coletivo aquele que afeta todo um agrupamento de

pessoas, unificadas por uma situação fática assemelhada, assim como definidas

por um traço jurídico, que permite apartá-las e isolá-las enquanto grupo, ou seja, o

interesse global de uma categoria.


5. LEGITIMAÇÃO

5.1 ATIVA

A legitimação ativa do mandado de segurança conforme prevê a

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 cabe:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente

constituída;

A Constituição apenas fez menção a partido político com representação

no Congresso Nacional, a partir de um membro, ou seja, um deputado ou senador.

A norma constitucional não estabeleceu os limites de atuação e portanto, há

discussão doutrinária de que os partidos políticos devem defender apenas em prol

de seus membros, direitos coletivos e individuais homogêneos ou poderão atuar

para a proteção dos direitos difusos.

Para os professores José Afonso da Silva, Lucia Valle Figueiredo e

outros, os partidos políticos podem atuar para a proteção dos direitos difusos, pois

conforme nos ensina o Prof. José Afonso da Silva, “ Os partidos políticos podem

defender direito subjetivo individual de seus membros e também interesses

legítimos, difusos ou coletivos”.

Também pode impetrar Mandado de Segurança Coletivo a organização

sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em

funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus

membros ou associados.
A discussão que o tema trazia com relação a autorização prevista no

artigo 5º, inciso XXI da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

porém atualmente essa discussão está superada, conforme decisões do Supremo

Tribunal Federal, que entende ser desnecessária tal autorização, pois a entidade

age como autêntica substituta dos interesses dos seus membros ou filiados.

O Prof. Celso Antonio Pacheco Fiorillo, entende que o rol não é taxativo

do artigo 5º, inciso LXX da Constituição Federal e a luz desse entendimento

também ao Ministério Público impetrar Mandado de Segurança Coletivo, uma vez

que conforme previsão constitucional estabelecida no artigo 129, inciso III, cabe

ao Ministério Público a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente

e de outros interesses difusos e coletivos.

5.2. QUANTO AOS PARTIDOS POLÍTICOS

A Constituição Federal apenas faz menção a partido político com

representação no Congresso Nacional, a partir de um membro, ou seja, um

deputado ou senador.

A norma constitucional não estabeleceu os limites de atuação:

a) deverão defender, apenas em prol de seus membros, direitos

coletivos e individuais homogêneos?

b) Poderão atuar para a proteção dos direitos difusos?


Quanto aos Doutrinadores que entendem sobre a defesa dos partidos

políticos temos:

José Afonso da Silva – os partidos políticos podem defender direito

subjetivo individual de seus membros e também os interesses legítimos, difusos

ou coletivos;

Lúcia Valle Figueiredo – tudo o que se refere aos direitos humanos

fundamentais, à autenticidade do sistema representativo pode ser defendido pelos

partidos políticos;

Ernane Fidélis dos Santos – sempre que houver ofensa ou ameaça a

direitos individuais, atingindo, no geral, a coletividade, o partido político poderá

impetrar o MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO;

Ada Pellegrini Grinover – os partidos políticos estão legitimados para a

defesa de todo e qualquer direito, seja eleitoral defendendo interesses

institucionais (legitimação ordinária) ou não defendendo o meio ambiente, o

consumidor etc (legitimação extraordinária – substituto processual), além da tutela

dos direitos coletivos e individuais homogêneos dos filiados do partido

(representação processual).
Celso Agrícola Barbi – os partidos políticos, desde que tenham

representação no CN, podem requerer Mandado de Segurança Coletivo para

proteger quaisquer interesses difusos ou direitos subjetivos de pessoas.

Quanto aos Doutrinadores que não entendem sobre a defesa dos partidos

políticos temos:

Calmon de Passos – a legitimação dos partidos só poderá ocorrer com a

aquiescência das entidades representativas dos indivíduos a que se vinculam os

interesses em jogo. Somente na inexistência dessa entidades é que os partidos

políticos poderiam impetrar MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO (age

supletivamente);

Quanto aos Doutrinadores que possuem uma posição intermediária,

podemos citar:

Barbosa Moreira – os partidos políticos são legitimados em duas

hipóteses:
a) quando se trata de direitos de seus filiados (na práticas quase não

será usado, porque os filiados são poucos – a maior parte da

população vota mas não se filia);

b) quando as pessoas interessadas forem destinatárias de pontos do

programa partidário.

Athos Gusmão Carneiro – considera legitimados os partidos se os

direitos questionados forem aqueles sob direta e imediata tutela constitucional,

acima de considerações pertinentes a classes, profissões, etc. Como exemplo,

seria o direito à liberdade de culto, de pensamento.

Alexandre de Moraes - amparado pelo voto vencido do Min. Jesus Costa

Lima, STJ – 1ª Seção – Mandado de Segurança n° 197/DF, defende a legitimação

ampla, onde o partido político pode proteger quaisquer interesses coletivos ou

difusos ligados à sociedade, afirmado que:

"se todo poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos da

Constituição (CF, art. 1°, parágrafo único), sendo indispensável

para o exercício da capacidade eleitoral passiva (elegibilidade), o

alistamento eleitoral (CF, art. 14, § 3°, III), a razão de existência

dos partidos políticos é a própria subsistência do Estado

Democrático de Direito e da preservação dos direitos e garantias


fundamentais (CF, art. 1°, V – consagra o pluralismo político

como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil).

Nesta esteira de raciocínio, o legislador constituinte pretende

fortalecê-los concedendo-lhes legitimação para o mandado de

segurança coletivo, para a defesa da própria sociedade contra

atos ilegais ou abusivos por parte da autoridade pública."10

Calmon de Passos - discordando da opinião de Alexandre de Moraes,

prescreve que:

"A legitimação sem fronteiras que seja reconhecida aos partidos

políticos significará o caos, além de transferir para o âmbito do

Judiciário (arena inadequada) a luta política que deve ser levada

a cabo em outro campo." 11

O mesmo autor aponta para a seguinte peculiar solução, onde os partidos

políticos só poderiam defender seus filiados e também exercer uma função

subsidiária em relação às entidades representativas, em suas palavras:

"Os partidos não poderão atuar se a entidade constituída para

certo interesse coletivo em determinada unidade administrativa

ou política do país não atuou, porque não lhe é dado expressar

10
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 166.

11
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de
Injunção e "Habeas Data": constituição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 1989. p. 21.
essa vontade coletiva, que já dispõe de órgão legitimado para

isso, mas poderá defender esse mesmo interesse em

determinada unidade administrativa ou política do país na qual

inexiste entidade representativa desse interesse. Ele supre a

deficiência da organização e mobilização política local, mas não

pode se sobrepor à vontade social já organizada em condições

de se manifestar legitimamente na esfera jurídica da organização

estatal."12

José Afonso da Silva, após fazer uma análise das várias fases da

elaboração do dispositivo constitucional ora em exame, entende que os partidos

políticos só podem defender direito subjetivo individual de seus membros.

No mesmo sentido Hely Lopes Meirelles aponta que: "O partido político só

pode impetrar mandado de segurança coletivo para a defesa de seus próprios

filiados, em questões políticas, quando autorizado pela lei e pelo estatuto".

Para essa questão o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento que

parece ser o mais razoável para solucionar tal problema:

12
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de
Injunção e "Habeas Data": constituição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 1989. p.
23/24.
"Quando a Constituição autoriza um partido político a impetrar

mandado de segurança coletivo, só pode ser no sentido de

defender os seus filiados e em questões políticas, ainda assim

quando autorizado por lei ou pelo estatuto. Impossibilidade de dar

a um partido político legitimidade para vir a juízo defender 50

milhões de aposentados, que não são, em sua totalidade, filiados

ao partido, e que não autorizam o mesmo a impetrar mandado de

segurança em nome deles."

Argumento dos que negam a legitimidade dos partidos políticos para a

defesa de interesses difusos:

Se não for assim:

a) os partidos políticos vão sair requerendo mandado de segurança a

esmo;

b) haverá tumulto no Poder Judiciário sufocados por milhares de

demandas dos partidos políticos;

c) haverá impetração do Mandado de Segurança Coletivo por

interesses eleitorais
Verifica-se, que na prática não vem acontecendo essas situações; agora

se eventualmente algum partido político agir destes forma caberá ao Poder

Judiciário coibir, indeferindo o Mandado de Segurança Coletivo. Sobre esta

questão assevera Celso Agrícola Barbi que “a verdade é que os partidos políticos,

quando são oposição, procuram explorar as falhas que o governo comete e, ao

explorar as falhas, vão proteger muitos interesses difusos e direitos subjetivos”.

Argumento dos que sustentam a legitimidade dos partidos políticos para a

defesa de interesses difusos explicado por Heraldo Garcia Vitta in”

Mandado de Segurança”. São Paulo. Ed. Jurídica Brasileira Ltda., 2000,

p.65 sustenta que:

Os partidos políticos têm legitimidade para a proteção de direitos coletivos

de seus membros e, sobretudo, para a proteção dos direitos difusos da sociedade.

1 - Argumenta que a CF não restringiu o alcance como o fez com relação

à organização sindical, entidade de classe ou associação, as quais podem

impetrar o Mandado de Segurança Coletivo apenas em defesa dos interesses

(direitos, porque em juízo não se protegem interesses e sim direitos) de seus

membros e associados.

2 - Também devemos interpretar o texto constitucional segundo a sua

maior eficácia jurídica e social.


3 - Para o autor o CDC (que diga-se de passagem posterior à CF) ao

definir os direitos coletivos optou por distinguir os coletivos, difusos e individuais

homogêneos. A CF ao expressar direitos coletivos quer alcançar direitos coletivos,

difuso e individuais homogêneos.

4 - Portanto, o Mandado de Segurança Coletivo, em face da interpretação

ampla que se adota, poderá ser impetrado pelo partido político, com

representação no CN, para a proteção de direitos individuais homogêneos, de

direitos coletivos (apenas dos membros do partido impetrante) e de direitos

difusos.

E conclui:

Restringir o alcance dos partidos políticos, os quais têm importante função

democrática, seria desarrazoado, por conta do ordenamento jurídico nacional que

pauta:

a) pela soberania;

b) cidadania;

c) dignidade da pessoa humana;

d) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo

político.
QUANTO AS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS, ENTIDADES DE CLASSE OU

ASSOCIAÇÕES (art. 5º, LXX, b, CF)

a) organização sindical = sindicatos, federações, confederações

sindicais;

b) entidade de classe = OAB, CREA, as que defendem prerrogativas

de classe)

c) associações = de profissionais, econômica

Ao contrário dos partidos políticos, a impetração referida na alínea ‘b’

protege apenas os ‘direitos coletivos’ da entidade impetrante, não os direitos

difusos ou os direitos homogêneos (Heraldo Garcia Vitta).

Trata-se de norma expressa na CF restritiva de atuação das entidades a

que se reporta, senão vejamos:

RESTRIÇÕES ALÍNEA ‘B’:

O legislador constituinte distinguiu o partido político, conferindo-lhe

competência alargada (segundo a maioria), o mesmo não ocorrendo com as

entidades mencionadas na alínea ‘b’.

Alínea ‘b’, inc. LXX do art. 5º da CF “organização sindical, entidade de

classe ou associação 1) legalmente constituída e em funcionamento (logo não

basta constituição, deve a associação estar funcionando, atuando) 2) há pelo


menos um ano (período mínimo), em defesa dos 3) interesses de seus membros

ou associados (estamos em face da representação processual e, por isso mesmo,

há necessidade de autorização dos integrantes – representados – para que a

entidade – representante – possa agir em juízo)

Para Lúcia Valle Figueiredo, embora o texto constitucional a ela não se

refira, há outra limitação: 4) o Mandado de Segurança Coletivo poderá ser

impetrado apenas se houver compatibilidade entre o objeto da ação e a finalidade

essencial da entidade . (pertinência temática)

A finalidade da existência destes entes é justamente a proteção dos

direitos e interesses de seus membros, no que se refere a um vínculo que os une

– há comunhão de vontades, de interesses que os ligam.

Se a OAB impetrar Mandado de Segurança Coletivo objetivando discutir a

incidência ou o cálculo de imposto sobre os serviços da advocacia a legitimação

ativa estará presente; se pretender discutir a incidência do IPTU nos imóveis dos

advogados não.

“Os precedentes jurisprudenciais desta Eg. Corte vêm decidindo

pela legitimidade ativo ad causam dos sindicatos para impetrar

mandado de segurança coletivo, em nome de seus filiados, sendo


desnecessária a autorização expressa ou a relação nominal dos

substituídos”.13

Para Vitta a finalidade da existência desses entes reside na proteção dos

direitos e interesses de seus membros, no que se refere ao vínculo que os une –

há comunhão de vontades, de interesses que os ligam (benemerência profissional

etc). Assim, a proteção jurídica, no caso, cingir-se-á ao fim existencial delas.

Quanto ao prazo de um ano refere-se apenas as associações, conforme

deflui da leitura do texto.

DIVERGÊNCIA quanto aos direitos protegidos por meio de Mandado de

Segurança Coletivo, bem como quanto a autorização expressa dos

associados:

Heraldo Garcia Vitta: a impetração será restrita aos direitos coletivos

dos membros desta entidade, desde que o objeto da ação corresponda à suas

finalidades básicas, sendo desnecessária a autorização ou aquiescência dos

componentes destas mesmas entidades.

Luiz Alberto Gurgel de Faria: é possível a promoção do mandamus

coletivo pelos sindicatos, entidades de classe e associações em proteção aos

interesses difusos, além dos coletivos.

13
STJ, REsp 72028/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Peçanha Martins, DJ 08/0399, pg. 183.
Ada Pellegrini Grinover: “a única interpretação harmoniosa da alínea ‘b’

do inc. LXX do art. 5º da CF/88, em sintonia com o disposto quanto aos sindicatos

e às entidades associativas, é que, para estes, as normas específicas cuidam de

interesses coletivos da categoria, ou individuais de seus membros (arts. 5º, XXI e

8º, III da CF/88) enquanto a via potenciada do Mandado de Segurança Coletivo

não encontra restrições.

Art. 5º, XXI CF “as entidades associativas, quando expressamente

autorizadas, tem legitimidade para representar seus filiados judicial

ou extrajudicialmente”.

Art. 8º, III CF “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses

coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões

judiciais ou administrativas”.

Celso Agrícola Barbi: o Mandado de Segurança Coletivo não se presta à

defesa de direito individual de um ou de alguns filiados de partido político, de

sindicato ou de associação, mas sim da categoria, ou seja, da totalidade de seus

filiados, que tenham um direito ou uma prerrogativa a defender em juizo (direitos

coletivos). Também não há necessidade de nomear os associados (ex. juiz de MG

que determinou que a associação desse nome por nome dos associados que

seriam beneficiados).
Situação interessante e liberal colocada pelo articulista é de todos os

associados (os que eram associados antes do ajuizamento da ação; os que se

associaram no curso da ação) deverão ser beneficiados pelo Mandado de

Segurança Coletivo, já que o tribunal já decidiu que houve ato ilegal e que havia

direito lesado. Para que obrigar o cidadão a requerer outro mandado? Com a

limitação do encerramento do processo.

Hely Lopes Meirelles: (direitos coletivos) somente cabe Mandado de

Segurança Coletivo quando existe direito líquido e certo dos associados e no

interesse dos mesmos é que a entidade, como substituto processual, poderá

impetrar a segurança, não se admitindo, pois, a utilização do Mandado de

Segurança Coletivo para defesa de interesses difusos, que deverão ser protegidos

pela ação civil pública. Não é necessária a autorização expressa em assembléia,

bastando que a entidade impetrante se enquadre, por sua natureza e seus

estatutos, como um dos legitimados pela alínea “b” do inciso LXX do art. 5º da CF.

No que se refere aos Tribunais, estes têm entendido que o direito alegado

deve ter vínculo com o objetivo da entidade impetrante, ou com a atividade de

seus associados, mas não exige que este direito seja peculiar e próprio daquela

classe. A exemplo temos que mesmo em matéria fiscal é admissível a impetração

coletiva se o direito líquido e certo for relativo ao não pagamento de um imposto

intimamente ligado à atividade dos associados da impetrante (STF)


Para o STJ o Mandado de Segurança Coletivo não é via adequada para o

sindicato pleitear a tutela de interesse que não seja da categoria, de grupo ou de

pessoas a ele filiadas. Exemplificando, temos que a OAB tem legitimidade para

impetrar Mandado de Segurança Coletivo contra ato de efeitos concretos afetando

o exercício da advocacia e suas prerrogativas, mas não contra atos estranhos à

profissão.

O partido político só pode impetrar Mandado de Segurança Coletivo para

defesa de seus próprios filiados em questões políticas, quando autorizado pela lei

e pelo estatuto, não sendo possível pleitear, a exemplo os direitos da classe dos

aposentados em geral (STJ). Para o STF o Estado-membro não tem legitimidade

ativa porque não consta da relação dos legitimados aos quais se refere o texto

constitucional.

“A exemplo dos sindicatos e associações, também, os partidos

políticos só podem impetrar o mandado de segurança em

assuntos em assuntos integrantes de seus fins sociais em nome

de filiados seus, quando devidamente autorizados pela lei ou por

seus estatutos. Não pode ele vir a juízo defender direito subjetivos

de cidadãos a ele não filiados ou interesses difusos e sim direito

de natureza política como, por exemplo, os previstos nos artigos

14 a 16 da Constituição Federal”. 14
14
STJ, EDMS 197/DF, 1ª Seção, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 15/10/90, pg. 11.182.
O Professor Celso Antonio Pacheco Fiorillo, entende que o rol do artigo

5º, inciso LXX da Constituição Federal não é taxativo e a luz desse entendimento

também cabe ao Ministério Público impetrar mandado de segurança coletivo, uma

vez que conforme previsão constitucional estabelecida no artigo 129, inciso III,

cabe ao Ministério Público a proteção do patrimônio público e social, do meio

ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

A lei 9494/97 prevê que a sentença prolatada em ação coletiva proposta

por associação abrangerá apenas os substituídos que tenham domicílio no âmbito

da competência territorial do órgão prolator. E no § único há determinação de que

a inicial deverá vir instruída com a ata da assembléia e relação nominal dos seus

associados e endereços.

6. MEDIDA LIMINAR

A medida liminar é uma providência cautelar destinada a preservar a

possibilidade de satisfação, pela sentença, do direito do impetrante. Visa a impedir


que o retardamento da decisão final venha a torná-la inócua, em razão da

irreparabilidade do dano sofrido.

A liminar não envolve prejulgamento do mérito e é uma decisão

autônoma, não ficando o magistrado vinculado a decisão.

A lei 8437/92, em seu artigo 2º tratou do tema Mandado de Segurança

Coletivo prevendo que liminar será concedida, quando cabível, somente após a

audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que se

pronunciará em 72h.

7. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO AMBIENTAL

Transcrevemos os comentários do Professor Dr. Celso Antônio Pacheco

Fiorillo, sobre o mandado de segurança coletivo ambiental, conforme segue:


“Temos que, em sede de mandado de segurança coletivo

ambiental, quando se alude à expressão "proteção de direito

líquido e certo", não se está, obviamente, aludindo à existência,

de plano, de direito líquido e certo, mas, sim, fazendo menção à

existência de um momento sumário de cognição do juiz, qual seja,

o da possibilidade de concessão de liminar” 15.

Ainda:

“...quando confrontado com o instituto da ação civil pública, torna-

se obsoleto o mandado de segurança, já que, apenas por uma

medida cautelar, cuja sumariedade é bem mais superficial que a

liminar de segurança (já que calcada apenas no fumus boni juris =

plausibilidade do direito alegado e periculum in mora) e, portanto,

mais "fácil" se torna o caminho de proteção do meio ambiente.

Também se vê a precariedade do mandado de segurança coletivo

em face da ACP, no próprio aspecto da restrição da legitimidade

passiva existente naquele instituto, conforme foi salientado

acima"16.

15
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco & Marcelo Abelha Rodrigues, Manual de Direito Ambiental e
Legislação Aplicável, São Paulo, Editora Max Limonad, 1997, 577 páginas;

16
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco & Marcelo Abelha Rodrigues, Manual de Direito Ambiental e
Legislação Aplicável, São Paulo, Editora Max Limonad, 1997, página 212;
Os ensinamentos do Professor Fiorillo demonstram que o mandado de

segurança coletivo ambiental, quando comparado com a ação civil pública, torna-

se obsoleto, fazendo com que a prestação jurisdicional, que visa proteger o meio

ambiente seja mais eficaz.

O mandado de segurança coletivo previsto no art. 5º, LXX, da

Constituição Federal não é utilizado somente para a proteção de interesses

metaindividuais ou transindividuais, mas também para outros interesses

relacionados à qualidade de vida (interesses difusos) e aos interesses do meio

ambiente.

O mandado de segurança coletivo é o mesmo remédio processual

constitucional que já se configurava no mandado de segurança tradicional (Lei nº

1.533/51), porém adquire legitimidade para que os interesses coletivos fossem

tutelados pelos legitimados para fazê-lo, ou seja, aqueles dispostos no art.82 do

Código de Defesa do Consumidor, e visa tutelar os interesses de caráter difuso,

tendo como conseqüência a legitimação ativa para a defesa desses interesses,

expressa no art. 5º, incisos LXIX e LXX, da Constituição Federal.

Analisando-se a finalidade do mandado de segurança coletivo

constitucional e a função institucional do Ministério Público, observa-se a

viabilidade processual no inciso LXX do art. 5º da Constitucional Federal,

diferenciando-se apenas quanto a sua legitimação, ou seja, a impetração para


defesa dos interesses coletivos ligase exclusivamente à legitimação ativa para a

causa.

Assim, os legitimados do inciso LXX não são os únicos para a impetração

do mandado de segurança coletivo; o rol elencado no permissivo não é taxativo,

em sede constitucional, e, muito menos, em sede infraconstitucional, como se

verifica no art. 82 do Código de Defesa do Consumidor.

Esclarece Celso Fiorillo que “nos moldes estabelecidos pela Constituição

Federal de 1988 e pela Lei n. 6.938/81, constatamos que o meio ambiente

ecologicamente equilibrado é um direito líquido e certo. Todavia, ao exercemos o

direito de ação de mandado de segurança ambiental, a realização desses dois

requisitos – liquidez e certeza – estará adstrita à demonstração de que a violação

do direito impede o desfrute de um meio ambiente sadio e equilibrado, a contento

do que prevê a Constituição. Verificada aludida situação, presentes estarão a

liquidez e a certeza do direito pleiteado em sede de mandado de segurança.”17

O mandado de segurança coletivo tem como finalidade a correção de ato

ou omissão de autoridade, desde que ilegal e ofensivo de direito coletivo, líquido e

certo. Ou seja, é instrumento processual constitucional destinado a tutelar

interesses coletivos, sendo espécie do gênero mandado de segurança.

17
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, São Paulo: Saraiva,
2008.
Condiciona-se aos mesmos pressupostos constitucionais específicos do

cabimento do mandado de segurança individual.

a) Ato administrativo específico (regra);

b) Leis e decretos concretos, deliberações legislativas (exceção);

c) Decisões judiciais, quando não caiba recurso capaz de impedir a

lesão ao direito subjetivo do impetrante (exceção)

“Os princípios básicos que regem o mandado de segurança

individual informam e condicionam, no plano jurídico-processual, a

utilização do writ mandamental coletivo. Atos em tese acham-se

pré-excluídos do âmbito de atuação e incidência do mandado de

segurança, aplicando-se, em conseqüência, às reações

mandamentais do caráter coletivo, a Súmula 266/STF”.18

“A ação de mandado de segurança – ainda que se trate do writ

coletivo, que se submetem às mesmas exigências e aos mesmos

princípios básicos inerentes ao mandamus individual – não

admite, em função de sua própria natureza, qualquer dilação

probatória. É da essência do processo de mandado de segurança

a característica de somente admitir prova literal pré-constituída,

ressalvadas as situações excepcionais previstas em lei (Lei

1.533.51, art. 6º e seu parágrafo único)”.19

18
STF, MS 21615/RJ, Pleno, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 13/03/98, pg. 4.
19
STF, MS 21098/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 27/03/92, pg. 3.802.
O mandado de segurança coletivo é o mesmo remédio processual

constitucional que já se configurava no mandado de segurança tradicional (Lei nº

1.533/51), porém adquire legitimidade para que os interesses coletivos fossem

tutelados pelos legitimados para fazê-lo, ou seja, aqueles dispostos no art.82 do

Código de Defesa do Consumidor, e visa tutelar os interesses de caráter difuso,

tendo como conseqüência a legitimação ativa para a defesa desses interesses,

expressa no art. 5º, incisos LXIX e LXX, da Constituição Federal. Analisando-se a

finalidade do mandado de segurança coletivo constitucional e a função

institucional do Ministério Público, observa-se a viabilidade processual no inciso

LXX do art. 5º da Constitucional Federal, diferenciando-se apenas quanto a sua

legitimação, ou seja, a impetração para defesa dos interesses coletivos ligasse

exclusivamente à legitimação ativa para a causa. Assim, os legitimados do inciso

LXX não são os únicos para a impetração do mandado de segurança coletivo; o

rol elencado no permissivo não é taxativo, em sede constitucional, e, muito menos,

em sede infraconstitucional, como se verifica no art. 82 do Código de Defesa do

Consumidor.

Na verdade, a peculiaridade do Mandado de Segurança Coletivo reside na

ampliação da legitimidade ativa para impetrar o writ, com reflexos no objetivo da

ação.

Presta-se esse instrumento à defesa de interesses coletivos e individuais

homogêneos, pertencentes aos membros uma coletividade ou categoria


representada por partido político, por organização sindical, por entidade de classe

ou por associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um

ano (CF 5º, LXX, ‘a’ e ‘b’).

No Mandado de Segurança Coletivo postular-se-á direito de uma categoria

ou classe, não de pessoas ou grupo, embora essas estejam filiadas a uma

entidade constituída para agregar pessoas com o mesmo objetivo profissional ou

social. A entidade que impetrar mandado de segurança deverá fazê-lo em nome

próprio, mas em defesa de todos os seus membros que tenham um direito ou uma

prerrogativa a defender juridicamente.

8. OBJETO DO MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO COMPARADO

AO OBJETO DA AÇÃO POPULAR E DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

8.1. AÇÃO POPULAR

Objeto:

– ato ilegal e lesivo ao patrimônio público;

– a moralidade administrativa;

– meio ambiente
8.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Objeto: reprimir ou impedir danos

- meio ambiente;

- consumidor;

- patrimônio;

- cultura;

- crianças e adolescentes;

- pessoas portadoras de deficiência física;

- bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico

- infrações da ordem econômica (investidores lesados no mercado de valores

mobiliários, ordem econômica, livre concorrência);

- qualquer outro interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo

8.3. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

Objeto: correção de ato ou omissão de autoridade, desde que ilegal e ofensivo de

direito coletivo, líquido e certo.

- Ato administrativo específico (regra);

- Leis e decretos concretos, deliberações legislativas (exceção);


- Decisões judiciais, quando não caiba recurso capaz de impedir a lesão ao

direito subjetivo do impetrante (exceção)

8.4. NÃO CABE MANDADO DE SEGURANÇA:

- lei em tese (atos normativos);

- coisa julgada;

- atos interna corporis de órgãos colegiados;

- atos políticos (atos de altas autoridades praticados com fundamento

constitucional)

8.5. LEIS E DECRETOS:

As leis e decretos gerais, enquanto normas abstratas, são insusceptíveis

de lesar direitos, salvo quando proibitivos, pela óbvia razão de que não lesa, por si

só, qualquer direito individual;

Necessária se torna a conversão da norma abstrata em ato concreto para

expor-se à impetração, mas nada impede, que na sua execução venha a ser

declarada inconstitucional pela via do Mandamus (somente a lei e decretos de

efeitos concretos tornam-se passíveis de mandado de segurança, desde sua

publicação, por equivalentes a atos administrativos nos seus resultados

imediatos).
8.6. LEIS E DECRETOS DE EFEITOS CONCRETOS SÃO AQUELES QUE

TRAZEM EM SI MESMOS O RESULTADO ESPECÍFICO PRETENDIDO:

- leis que aprovam planos de urbanização;

- as que fixam limites territoriais;

- as que criam municípios ou desmembram distritos;

- as que concedem isenções fiscais;

- as que proíbem atividades ou condutas individuais;

- os decretos que desapropriam bens,

- os decretos que fixam tarifas;

- os decretos que fazem nomeações;

Estas leis e decretos nada tem de normativos – são atos de efeitos

concretos, revestindo a forma imprópria de lei ou decreto por exigência

administrativas. Não contém mandamentos genéricos; atuam concreta e

imediatamente como qualquer ato administrativo de efeitos individuais e

específicos, razão pela qual se expõem ao ataque pelo mandado de segurança.

Em geral as leis decretos e demais atos proibitivos são sempre de efeitos

concretos, pois atuam direta e imediatamente sobre seus destinatários.


8.7. DELIBERAÇÕES LEGISLATIVAS

Por deliberações legislativas atacáveis por Mandado de Segurança

entendem-se as decisões do Plenário ou da Mesa ofensivas de direito individual

ou coletivo de terceiros, dos membros da corporação, das comissões, ou da

própria mesa, no uso de suas atribuições de prerrogativas institucionais

(inobservância da CF, da lei em geral e do regimento interno em especial).

8.8. COISA JULGADA

A coisa julgada só é invalidável por ação rescisória

8.9. DECISÕES JUDICIAIS

Para fins de MS são os atos jurisdicionais praticados em qualquer

processo civil, criminal, trabalhista etc., desde que não haja recurso, ou que haja

recurso com efeito apenas devolutivo, ou seja, este sem efeito suspensivo (desde

que a decisão ou a diligência não possa ser sustada por recurso processual capaz

de impedir a lesão, nem permita a intervenção correcional eficaz do órgão

disciplinar da magistratura, contra ela cabe a segurança.


8.1.0 CABIMENTO

Regra:

- contra ato de qualquer autoridade

Exceção:

- ato de qualquer autoridade que comporte recurso administrativo com efeito

suspensivo (independente de caução)

- contra decisão ou despacho judicial para o qual caiba recurso ou possa ser

corrigido via correição

- contra ato disciplinar, a menos que praticado por autoridade incompetente ou

com inobservância de formalidade essencial

- ato de dirigente de estabelecimento particular (escolas, bancos autorizados e


fiscalizados pelo governo) no interesse da instituição; se o diretor de uma

escola particular negar matrícula cabe o Mandado de S egurança.

9. BIBLIOGRAFIA
ALVES, Alberto Monteiro. Mandado de Segurança Coletivo. Jus Navigandi,

Teresina, n. 16. Disponível em:http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=851>.

Acesso em: 09 nov.2008.

BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Constitucional, São Paulo, Editora

Saraiva, 1997.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, São

Paulo, Editora Saraiva, 2008.

JÚNIOR, José Cretella. Do Mandado de Segurança Coletivo. 2ª edição, Rio de

Janeiro, Editora Forense, 1991.

RABELLO, Jacobina, Revista Consultor Jurídico, 13 de outubro de 2005, São

Paulo.

SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 16ª edição, São

Paulo, Editora Malheiros, 1998.

SIRVINSKAS, Luís Paulo, Manual de Direito Ambiental, 6ª edição, São Paulo,

Editora Saraiva, 2008.

LOPES, Mauro Luis Rocha, Mandado de Segurança: Doutrina, Jurisprudência,

Legislação – 2ª Edição, Niterói, Editora Impetus.


ANEXOS

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