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i Renato Lessa | Agonia, Aposta e Ceticismo Ensaios de Filosofia Politica Belo Horizonte Editora UFMG wea Copyright © 2008 by Eaieors UFMIG ‘Exe live ou pune del io pode rer reprociiée pr qualquer mio sem auorinago ests do Bacoe esse Lessa, Recaro “Agoni, spose ceticsmo:enais de flsoia pole Renaro esis, ~ Belo Horizonee : Editors UEMG (Cotes Origen) 160p, ISBN: 85.7081-5881 1. Filesofia politi 2, Ceticimmo - Flosofia I. Tito cp: cu: ich calorific ciahorads pla COQC- Crntral de Conroe de Quiade da exlogactoda bless Uiveniia da UEMG LUNIVERSIDADE FEDERAL, Para Fivio, --Poi con ateo di spirito cocente «eat speme, che in pare misana dove rm mi rid, Dante Alighieri (Def, Violeta che in oma ‘Amore) fragt de Testor: Ara Maria de Morset Revisfo © Noronliagto: Masia do Carmo ne nibezo | 128 - cow, APOSTA € CETICISHO atraso tipico de uma sociedade que contésa dimensbes “avancadas”. ‘Se por um lado nfo dispornos da rica histéria norte-americana de experimentos de reforma ¢ controle da corrupsio, jf conhecemos, ‘por outro, problemas derivados do excessivo controle, da inclinagio pelo escandalo ¢ do cinismo societstio.** ‘Mas, nfo nos iludamos. # alta a probabilidade de que no Brasil tenha primazia o paradigma do fundarmentalismo ético, a gerar tanto santos quanto instituigGes fracas. Ao fim ¢ a0 cabo, o que se poderé obrer com isso? Um dos efeitos desse “potlatch da pureza” pode ser simplesmente a fadiga ética e 0 cinismo.** Em uma palavra, a atitude ratural de que nada pode ser diferente do que é, Se esse julzo sobre o ficuro nio se verificar, o que espero, estaremos, ainda assim, diante do maior dos cnigmas. A corrupgio é, afinal, incognoscivel. Dela s6 ‘conbecemos seus atos incompletas ¢ fracassados. Os bem-sucedidos fazem parce de um segredo bem guaardado ¢ avaro em sinais de suspeita. (Os etticos sabem que néo se pode conhecer aquilo que nfo se mostra. Capitulo V Por que rir da filosofia politica,ou a ciéncia politica como téchne Eu tenho, agora, a satsfagio de passara palavra para mim mesmo. Mais do que isso, eu gostaria, na verdade ¢ de uma forma um poco bizarra, de agradecer a mim mesmo por ter me convidado para essa mesa, em fungio do que owvi dos trés colegas que me precederam. Hii, com certeza, muito que accescentar a0 que por eles foi dito. O problema ¢ que eu talvez nfo tenha meios de fazé-lo. F j4 que meus limites so implacéveis comigo, quero comegar adorando um outro Angulo de ataque que, creio, converge para nossa conversa aqui nesta manha. Comegar com uma pequena ¢ paroquial estérias curta, mas que nos ajucla'a esclarecer o sentido intelectual e politico do que pretendo apresentar aqui hoje. Hi. um tempo—nio muito remoto —em uma avaliagéo de um conceituado programa de pés-graduacio em ciéncia politica do Brasil, que resultou em um parecer elogioso {tudo acabou tendo um final feliz), o(a) avaliador(a) deixou escapar o seguinte comentitio: trata-se de um bom programa de ciéncia politica, o que h4 que registrar € uma preoenpante preseaga excessina de temas de filosofia politica. Pano répido. (O que pretendo aqui fazer € devolver 20 riso colético dos que riem da filosofia politica um outro tipo de tiso, que incide sobre a vetusta postulacio de uma distingio funda ¢ de, no limite, wma incomunica- bilidade entre uma reflexdo de corte filoséfico ¢ normativo ¢ 0 trabalho, a meu juzo fundamental, que se realiza na dimensdo empirica 130 - AGOWIA, APOSTA & ceriisMe da disciplina, Se minha exposigéo for minimamente bem-sucedida, pretendo deixar claro que todos perdemos com essa dstinglo. Ela é obscura, obscurantista, ¢ nfo faz justiga a essas duas drcas de trabalho, que sto fiandamentais para a cor da nossa disciplina. Uma da sentido & ourra, Uma nao pode existir sem a outra. Eu gostaria de comecar a construit esse argumento, mencionando ‘umn episdio intelectual muito antigo. E aqui vai uma répida digressio m esse € um dos vicios de quem, como eu, se ocupa profis- sionalmente da filosofia politica: falar sempre dos antiges, posto que a dimensio do tempo, quando se trata de filosofia politica, nioéa do ‘tempo newtoniano, tempo linear. Na verdade, evocando a visio do romintico alemao Adam Miiller, seria mais apropriado falar de conespacialidade do que de reag6es temporais de anterioridade. Sendo assim, comeso minha reflexio filando de um colega contemporinco — 01 conespacial —, que viveu no século XVI, Encontrei-o pela ira vez ernuma ocasifo, quando li, por: i ~~ cuja vor jd no mais posso es iveo do historiador da filosofia lo Platio ea arte de seu tempo. Ali um esteta italiano de nome Gregério Comanini: que existe, ‘no é molecagem borgiana, estd 4 no livea do Maxime Schuh. cesteta ialiano, natural da cidade de -punda, terceira linha, talvez. Com cetteza nfo foi um dos notdveis do Renascimento italiano, mas escreveu um livro curioso, chamado 1! Figina, no final do sécalo XVT, em 1591 para ser mais preciso. No livro, Comanini retrabalha a distingio feita por Plato no didlogo Sofia (dat a referéncia a ele no livro de Pietre Maxime-Schulh), entre 0 que seria a boa mimesis ¢-a 2nd. mimesis. Entec a boa imitucio — isto & a que lida com temas nobres, relevantes, que pertencem ao mundo inteligivel — ¢ a que lida com objetos mutantes, inconfidveis, posto’ que presentes na vida comum ¢ habitantes do mundo sensivel. Gregério Comanini, adotando «ssa divisio de Plato, prope um distingao muito mais dura; extrava- gante, na avaliagio de Pierre-Maxime Schuhl. Capitulo V = 131 Com efeito, Comanini como um neoplatdnico hard lines propos uma distingao radicalizada entre duas formas de imitagéo do mundo de representagio dirfamos nés em uma aproximacso que nos ¢ contemporinea, Uma dessas formas ele a chamou de imitacdo eicstica, ou imiragfo assemelhadora. A outra reservou aalcunha de imicagio wéstica, imiraco que wata de coisas aparcotes. A dlstingao simples- iene replica os termos propostos por Platio. Mas, Comanini tequali- i a imitagio sicdstiea ou assemelhadora imita coisas a imitagio fimtdstien ou aparente imita coins que no sistem. Isso me encantou profundamente; isso me perdeu: « posibil- dade de imitar coisas que nfo existe. E, usna vez cativo dessa miragem, Em primeiro lugar, ¢ ances de rudd: que imitagio ¢ essa, do que se trata, que exercicio mimético € esse? objetes considerndes, e néo o excrcicio técnico da observagio, Quando Gio incide sobre objetos nobres, reais, imporantes, € uma i tig jets de conhecimento. S30 objetas de sensagio € de o| mee a distingao apresentada por essa leitura neoplaténica século XVI demonstra admiravelmente a importincia de eros geniais. Sendo assim, cabe a pergunta: como é que um erro de interpretagio —se € quesse pode falar em ecro de interpretacio, varios colocar sob suspeita essa expressio — ou a pritica de interpretagSes heterodoxas ‘cexquisitas — acho que assim a coisa ralver fique melhor —, pode. ser fecunda, pode ser féztil? O pponto bisico que deve seresaltar aqui é ode que esa imitasio, ral como apresentada por essa Jeitura de segunda mio de Platio, incide sobre objetos que nfo existem. Talvez uma ripida digressio, neste momento, se imponha. Platio se afasta da ortodoxia eledtica ¢ 132 ~ acowma, APOSTA € CETICISNS no supée, por exemplo, que a ordem do aparente se confunde com ogne nio existe, com o nio-ser, A aparéncia existe. Platio, portanto, nfo refuta a existéncia do aparente. © problema € que existéncia deste é uma axisténcia de segnnia ordem. O que o comentador esté a dizer — € 20 que nado indica, a acrescentar — € que € possivel a imitagio de coisas nfo-existences. Portanto, trata-se dc uma postulagso ‘de wma outra natureza, com forte sabor eleata: quem crra, efra porque {mica coisas ndo-existenres. Mas, para nds que nio estamos negativa- ‘mente preocupados com o erro, 0 que importa a atividade de imitar coisas indo-cxistentes. Trata-se, na verdade, nao de insitapdo, mas de _fibulagdo. O eaprego do verbo imitar aqui talvez.seja um empréstimo ‘de um vocabulério ainda muito mimézico para nomear © universo desmnedido da fabulagio. © problema que agora se impoe é o de saber que imitagio ¢ essa, £0 de esclarecer, entre outras coisas, 0 seguinte: como é que posso discriminar e decidir a respeito de imitacées diferentes. Qual é a melhor imitaggo de uma coisa que nao cxiste? Temos um belo tema, que acho que rep6e na nossa discussio 0 ponto tocado por Renato Janine a respeito de — teaduzindo nos termos da minha inguagem privada — uma certa incomensurabilidade existente entre sistemas de representagio do mundo e de sistemas filos6ficos, todos cles molta benine trovatti, todos eles plenos de sentido, Nao obstante, do ponto de vista de uma teotia da verdade rigorosa cles no podem estar Todos certos ao mesmo tempo. Isso é inaceitével do ponto de vista de ‘uma teoria da verdade que exija uma correspondéncia absoluta entre 0 cenunciado ¢ uma coisa exterior, pré-existente ¢ pré-nacrativa. Temos, porvanto, mais esse problema: como discriminar, como escolher entre imitagdes de coisas que nao existem. ‘Mas ew acho que. segunda pergunta provocada por essa distingio pés-renascentista de Comannini talvez.seja mais interessante: © que io essas coisas ndo-cxistentes afinal de contas? aqui na discussio. Mas acho que é possivel que 16s nos beneficiemos desse erro de interpretagio €, por essa via, tentar encontrar alguns Capitulo v = 133 episédios dai adescobrir o que. ‘que, despeito dessa inexisténcia, 0 insitadas por algumas pessoas. ‘Seres que recothem fragmentos ¢ descrever essas coisas no-existentes, transformando isso em equnciados ou até mesmo em formas de vida. ‘Para ficar era uma referéncia ainda mais longinqua do que a que fiz anteriormente, 0 episédio que agora me ocorre foi protagonizado por meu amigo Gérgias de Leontini, o sofista Gérgias. De modo mais preciso, refiro-me & sua definigio do estado de encantamento retérica ¢ 4 propria idéia de persuasio. As passagens sio longas, cu iio vou Ié-las (tendo falado em encantamenio retéri capaz, de produzir terror, piedade, fazer jorr nostalgia etc, etc. As palavras utilizadas por Gorgias le alterago de percepsio provacados pelo encantament« So estados extraordindrios que, ao fim ¢ 20 cabo, acabam senda dissolvidos pela volta 3 experiéncia ordindria. Tudo reflui para a a ordindria que, por sua vez, €constitulda por um encanta- anterior, 86 que esse ctistalizado e rotinizado, Nao precisamos ter medo da regressio infinita nese caso. © ponto a destacar aqui é que, na reflexio de Gorgias, a prom empirien da sua teoria €o evento de Helena, que teria sido raprada on teria fugido — isso af, como voots sabem € controverso.. raptada ou se ela fugiu... n6s jamais saberemos isso. Mas analisanclo esse evento de Helena, Gorgias args quase que i wtrangue partent, considecando diversas possibilidades, ¢ a desculpa ¢ a absolve. Sé. varias hipéteses: se ela fagin em fungio da vontade divina, se cla fiagiu pela forga, se ela fagin pela paixo, se ela fagin pela persuast ‘qualquer um cesses casos, ela nfo tem culpa por terse transportado par ‘outro lado, £ de se notar a equivaléncia concedida a persuasio com 134 - Acoma, APOSTA § CETIGSMO relagéo as outras forgas, sabidamende sobre-humanas ou desumanas: a paix, 08 deuses ea forga. Peithé, a persuasio, € tio potente quanto 2s demais energias indicadas. Mas a evidéncia emptrica — paca usar esse vorubuttio -encontrada, ela indica o qué? Uma situacéo ‘extraordindria, limite; como que o reconhecimento de que estados absoluros de encantamento pottico € ret6rico nfo so ordindrios ¢/ ros. Esse exemplo —a fiuga/rapto de Helena —é dramético dificilmente pode ser usado como um icone de toda a petsuasio ordindria que opera na vida social, ag tno’, port, com um problems ¢ podemos recompor 0 qu ipal dessa apresentagio. Como associar os atributos dessa construgao tet6rica de de vida como cotadas da capacidade de permanéncia. Como que se plantam ¢ permanecem, Qu seja, supor que, uma vez las, as coisas ndio-existentes passam a vigorar de modo pleno ¢, por algum estratagema, delas rio se pode mais retornar: uma viagem sem volta, © verbo imitar aqui ja nao serve para mais nada, jé nfo tem amenor utilidade. Iniitar coisas ndo-existentes significa inventar. Inventar coisas nao-cxistentes ¢ imaginé-las possiveis € a marca peculiar de duas modalidacs precisas de ficgio: a praticada pelos loucos e a estabelecida pelos filésofos politicos. Entramas, agora, no domfnio da fiegio que nos interessa: 0 da invencfo intelectual de ‘soos sociais passives, ‘Mas, © que contém esses mundos sociais possivels? Antes de tudo, apresentam postulagbes acerca de extenstes ontoldgiens: oque 60 mundo social?; como ele se consticui?; quais s40 as repularidades ‘causais que ncle operam?; hd, 20 menos, alguma regularidade causal nese mundo? Mas, ndo se trata apenas de descrever uma ontologia imagindria — mundos dotados de principes, de direitos naturais, de Capitulo v - 135, seces que deliram, temem ¢ matam etc... As inveng6es intelectuais ria da filosofia politica ainda, diferentes prosenstes cogmits € apreensivel pelo ‘conhecimento humano?; os agentes sociais que habitam esse mundo conhecem as suas dimensées bisicas, ou as jgnoram, sendo vitimas cestipidas de planos de vida, tragados por escrucures inintencionais? ‘A histéria do pensamento politico contém indmeras decisées diferenciadas com relacio a todas essas questéecs. A eles, tal como eu disse:na abertura dessa mesa, se somam porlagées a repeito da naires Iumana, Postalagdes que, tal como as pretensbes ci proposigées de oxclem ontol6gica, 0 inverifcéveis,jé que | que vio se fundat os mecanismos de verificagio. Ndo ha mecanismo de vetificacio prévio & produgzo dessas pretens6es. Dafa idéia bisica de que enunciados filoséticos sio indemonstréveis, Mas iso, eu sei, esté fora do alcance do metoxtoto~ As corolitios de ordem prétien, que dize ig iga, padirdes de racionalidade prética, dimensbes morais, éticas 1 Além, € evidente, das formas ¢ estratégias narrativas que esses modelos de mundo apresentam. Em outras palavras, a atividade de invengio de mundos sociais possfveis, praticada 20 longo da histéia da filosofia politica ocidental, nfo se limita a estabelecer proposigoes de natureza estritamente politica, Nosso habito, tardio recente, de rentalizaggo do conhecimenco é que nos induzit.a extraic to da reflexio dos nossos clissicos as “aplicagoes” ow jmplicages® pollticas. Definir © universo da filosofia politica como habitado por inventores de mundos sociais possiveis tem como implicagio rir da Joucura de supor que a variedade de respostas ali contidas deriva de ‘uma observacio positiva sobre o mundo exterior. Tara-se da supasigio ‘de que 0s modelos produzides resultam da perscrutagio de um mundo ‘empiricamente construido, exterior & observagio, € que a enorme diversidade cle modelos de interpretagio derivaria apenas de diferengas 136 ~ AGONIA, APOSTA E CETIAISHO ‘quanto & pericia analitica e & acuidade metodotdgica. Outro ponto ‘que acho fundamental incorporar é a idéia de que so muitos os desenhos de mundos sociais poss{veis. Cada um deles instivuia dimensées peopsas: formas de reafidade, escalas de relevancia, ssternas de verificagio e candnicas de trabalho cientifico, ‘AmencZo, talvez um pouco bizatra, a esse pensador secundario do século XVI¢a seu erro genial de mau intérprete de Placio, ganha dignidade se nés nos dermos conta do que acontece no Ambito da filosofia politica, da teoria social e do pensamento humano em geral, a partic dos séculos XV e XVI. Uma espécie de dig bang, de explosio de varias maneiras de representar a vida se apresenta € se ‘emancipa de formas mais controladas de representacio da vida. Eu ‘nfo estou comprando aqui nenhuma idéia répida ¢ débil de que a dade Média foi algo ascemethado a uma idade das trevas; de que todos pensavam da mesma forma etc... Estou, tio-somente, reconhe- condo o fato de que, pelo menos a partir de um certo momento, que pluralidade: difecenciados daquilo que acontece. ‘Oquesustento é que trata-se de possulagies diforencindas da gue deve econtecer, de como a sociedad deve ser ¢ dos prinlpos dessa recnfiguraio. Tss0 nos conduz a0 reconhecimento da dimensio de fertilidade ¢ de antecipacéo que a filosofia politica encerra, com relagéo ao que pocticamente poderfamos chamar de realidade empirica ou histérica ‘Essa anrecipagio ow fertlizagio diz respeito & disseminaggo de formas possiveis de vida. Nessa dispersio de formas possiveis de vida, nessa construgio de mrltiplos mundos sociais poss{veis, a tradigao filos6fica do ceticismo teve nm papel findamental. it do século XV e até o século XVI, o ceticismo retirado tincia original grega e picrOnica, ereinscrito na filosofia ocidental sob a forma de uma méquina de guerra a desafiar 0 dogmatismo ¢ seus enunciados téticos, infernizon a vida de varios Capitulo V - 137 apresentou-se ao mundo como 0 eampr 7 i teria fundado com esse empreedimento parte consi- losofia moderna. postulagSes dogmiticas, ajudou a fe itando: novas respostas dogméticas, novas tentativas de ‘papel muito interessante. E hoje possui enorme util i due permie considerar a variedade de fabulacGes a respeito de rmundos sociais possives, aqui refer, nfo estabelecendo como item compul- fo a deci | deve ‘a miragem da adequago com relacio 20 mundo exterior. O eeticismo, portanto, nos faz reconhecer a dinphonta existente quando csses ‘modelos de mundo se tocam. Diaphoni que se radicaliza ¢ estend, cada vez que um novo enunciado se apresenta como portador da solugio pata as querelas protagonizadas por seus antecessozes. Falo, pois, de seu conflito, de sua diferenga e, no seu limite, de sua diferenga indecidivel. Bsta é a idéia geega of le dinphonta, As Fabulagbes a respeico de mundos sociais pos iferem entce si: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, quantos enfim? Esses personagens deflagradores de mundos possiveis diferem cenure si edivergem, ainda, a respeito da existéncia de uma drea exterior de validagio discrepincias. Daf uma cecta indecidibilidade filséfica quanto a validade desses discursos. O que resulta dai? 138 - Acoma, arosTa = cenicsHo Suspensio do juizo dante dessa busca de validade? Desistic de tudo ¢ aceitar 0 velho e delicioso convite de Melina Mercouri, em Nunca aos domingos, a0 fim de suas narratives de tragecias gregas? Nio evoraa forma, pura de gto patios wae filosofia politica. A flosofia politica de algura maneira —e a caberia um grante esforco de histcria das idéias, de investigacio empirica muito séri , — decantou em cendrios sociais reais, El expectativas, de padrées de demanda, maneiras de ver 0 mundo ete... Bla decantow no chamado rmundo real, na vide ordindcia, que, repito, é 0 hygar da dociséo hurmana a vespeito daguilo gue no plano da filesofa: nos parece ser indecidlvel. Na medida em que os paradigmas decantam, cles transformam a todos nés cm personagens lum tanto esquizofrénicos: de manbi liberais, de tarde socialistas, de noite conservadores, eventualmente bébados todos, depois. Hi vdrias possibilidades: cles. decantam em nds, seus pequenos tradutores € operadores, de maneiraindisciplinada, de uma manciratéo selvagem que talvez fizesse com que os seus autores tremessem (e, porque 10, remessem-nos) em seus aimulos, a acusar-nos de inconsisténcia, de contradigées performdticas ¢ coisas do género. Pois bem, a filosofa politica decanta na vida ondindria e decanta na disciplina que hoje nés praticamos, Decanta na ciéncia politica. E ‘com isso cu gostatia de fechar aqui o meu argumento, com os termos ‘empregados por Comanini. Hoje, nds imitaros coisas existentes. A agenda da ciéncia politica trata da imitagio de coisas existentes; coisas existentes que foram postas no mundo por imitadores de coi niio-existentes. Acho que isso a junta as uas pontas da nossa tradi, Talver isso chame a atengéo para o obscurantismo dessa absurda. Criangas hoje, que esto no bergfcio na maternidade de (Caxamin, nascem come portadoras de direitos naturais. So admitidas Capitulo V - 139, ‘por nosso mundo como seres cobertos por um padrio de equivaléncia moral que hd trés séculos eram apostasintelectuais incectas, invengées bizarras de alguns pensadores. No que todas exsas invengGes decanter na vida social, A vida social é misteriosa, ea tem os seus rituais internos de vatidacio. Bu

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