Professional Documents
Culture Documents
no falam sozinhos. Diniz relata seu espanto e da equi- esto presos h mais de 30 anos. So pessoas vivendo
pe de pesquisa com os dados. Ela apresenta ao leitor uma situao inaceitvel, que independe da represen-
o que ele encontrar ao longo das quase quatrocentas tao sobre o nmero total de indivduos. Elas vivem
pginas da obra: tambm se espera o espanto daquele h mais tempo entre muros que fora deles. Para a au-
que l, e o espanto pode mobilizar aes. Nas primei- tora, essas pessoas esquecidas e annimas esperam do
ras pginas do livro conhecemos o perfil da populao Estado uma ao imediata.
asilada nos estabelecimentos de custdia e tratamen- Diniz expressa sua expectativa: [...] que os dados
to psiquitrico brasileiros: homens negros, pobres, de sejam capazes de mobilizar os leitores deste livro para a
baixa escolaridade e com insero perifrica no merca- grave infrao de direitos humanos em curso na socie-
do de trabalho. A maioria das infraes cometidas foi dade brasileira (p. 17). H um desafio nas engrenagens
contra seus familiares ou pessoas prximas. As mulhe- do Estado para o tratamento do louco infrator. Os da-
res representam a minoria da populao internada (7% dos de que 47% das internaes em estabelecimentos
dos indivduos), uma minoria ainda mais silenciada de custdia e tratamento psiquitrico no se justificam
nesse universo de annimos (p. 16). por critrios legais e psiquitricos e de que existem
Alicerada nos dados, Diniz mostra que as con- pessoas internadas h mais de trs dcadas sem que
quistas do movimento de reforma psiquitrica e a o Estado promova condies de tratamento para que
ampla reviso da legislao sobre o cuidado e ateno elas ganhem a liberdade levantam a pergunta: o que
da loucura no incluram todos os indivduos em sofri- est acontecendo aqui? Assim como a autora, tenho a
mento mental. O tratamento do louco infrator perma- expectativa de que o leitor se mobilize com o que des-
nece sob a lgica do asilamento e da apartao social, cobrir em cada pgina do livro.
uma sequestrao justificada, sobretudo, pela pericu-
losidade. Os nmeros impressionam: dos 2.956 indiv- Luciana Stoimenoff Brito
Universidade de Braslia, Braslia, Brasil.
duos internados em medida de segurana nos estabe-
Anis Instituto de Biotica, Direitos Humanos e Gnero,
lecimentos de custdia e tratamento psiquitrico, 217 Braslia, Brasil.
esto asilados h mais de 15 anos. Nesse universo, nove l.brito@anis.org.br