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WILEY
BENT FORMBY, Ph.D.
APAGUE A LUZ!
Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial
e reduza o estresse
Editora Campus
2000
Apague a luz!
Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e
reduza o estresse
Bent Formby e T. S. Wiley
Auto-Ajuda 377 páginas
T. S. Wiley
SUMÁRIO
Introdução 13
PARTE 1, 21
SEGREDOS E MENTIRAS
UM 23
Queremos acreditar: a igreja dos falsos deuses
DOIS 41
No escuro: Um evento no nível da extinção
PARTE II 59
NÃO ESTAMOS SOZINHOS
TRÊS 61
Uma autópsia da terra:
O meio ambiente controla a genética da obesidade
QUATRO 83
No gelo: A evolução, a biofísica e o escuro
PARTE III 97
A VERDADE ESTÁ AQUI
CINCO 99
Negue tudo:
O sono controla o apetite e, portanto, a obesidade, o diabetes e a
hipertensão
SEIS 121
Tudo está dentro da sua cabeça:
Não dormir e comer açúcar demais v]ao levar você à loucura
Sete 145
O melhor lugar para esconder uma mentira é entre duas verdades:
O que faz parar o maior relógio de seu corpo
OITO 169
Dez segundos para a autodestruição:
No esquema evolutivo, o câncer é simplesmente o novo “você”
PARTE IV 193
SÓ OS PARANÓICOS SOBREVIVEM
NOVE 195
Controle dos danos:
O método rítmico de comer para evitar a extinção
DEZ 235
Tenha medo, muito medo:
Somos uma espécie em perigo
GLOSSÁRIO 245
NOTAS 267
ÍNDICE 369
Não estamos aqui preocupados com esperanças e medos, apenas
com a verdade, até onde nossa razão nos permite descobri-la. Já
forneci provas, ao máximo de minha capacidade...
- Charles Darwin
A descendência do homem
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INTRODUÇÃO
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nome que pode pegar... Talvez assim a perda do sono atraia
alguma atenção. De alguma maneira, a idéia de relacionar a perda
do sono a ser credor ou devedor de alguma coisa – igual a dinheiro
– atribua ao assunto maior importância. O dinheiro sempre fala alto
– e essa dívida de sono que você está contraindo tem um custo
anual direto, para a nação, de 15,9 bilhões de dólares, e um custo
indireto de mais de 100 bilhões de dólares, em horas perdidas de
trabalho e acidentes. Mas nós dizemos que o custo é, na verdade,
bem maior.
É o custo da sua vida.
Dormir depois que o despertador toca, cochilar no teclado do
computador ou derramar o café na mesa de trabalho, não são os
principais desastres para quem dorme pouco: a morte é a pior
conseqüência.
E, quando falamos de morte não estamos falando de acidentes de
automóvel.
Como a nação, estamos doentes porque não dormimos. Estamos
gordos e diabéticos porque não dormimos. Estamos morrendo de
câncer ou do coração porque não dormimos. Uma avalanche de
artigos científicos escritos e revisados por colegas nossos dão
suporte à nossa conclusão de que, quando não dormimos em
sincronia com a variação sazonal da exposição à luz, alteramos
definitivamente um equilíbrio da natureza que foi programado em
nossa fisiologia desde o Primeiro Dia. O relógio cósmico está
embutido na fisiologia de cada ser vivo.
A história que estamos prestes a contar é tão óbvia e, no entanto
tão fantástica, que você não acreditaria, se não fosse verdade. Há
mais coisas na história da perda de sono do que qualquer um de
nós esperaria, porque até agora ninguém foi capaz de enxergar o
quadro completo.
Nós enxergamos – e vamos mostrá-lo a você.
Em Apague a luz, provamos que a obesidade e os principais
assassinos relacionados a ela – doenças cardíacas, diabetes e
câncer – são causados por noites curtas, por trabalhar durante
horas ridiculamente longas, por, literalmente, queimar a vela nas
duas pontas – e pela eletricidade, que nos permite fazer tudo isso.
A causa, com toda a certeza, não é comer gordura demais ou a
falta de exercício.
Pesquisamos o crescimento da obesidade e das chamadas
doenças relacionadas a esse aumento de peso durante dois anos e
meio. Nossas conclusões são suportadas por mais de uma década
de pesquisa feita no National Institutes of Health (NIH), em
Washington, e em mais de
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outras fontes científicas. A nova abordagem em relação à doença
pode ser humilde e desconcertante, mas é o preço da verdade.
Então ouça.
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tínhamos hobbies, jogávamos beisebol, montávamos miniaturas de
navios, éramos membros de clubes e líderes de escoteiros. Hoje,
embora o número de horas que dedicamos ao trabalho e ao lazer
seja aproximadamente o mesmo, a proporção mudou
consideravelmente. Nos últimos trinta anos, desde 1970,
encontramos novas paixões para acrescentar às antigas: fazer
exercícios, ir ao médico, agüentar um tráfego cada vez mais
ensandecedor, assistir a 150 canais e a filmes de verdade na TV a
cabo, além dos mais recentes bandidos: e-mail e eBay. Não admira
que não sobra tempo para dormir ou cuidar das crianças.
Então, por que os guardiões da nossa saúde não prestam
atenção ao estresse e à falta de sono antes de colocarem a culpa
na comida? Vai adivinhar. E quando resolveram examinar a dieta
dos americanos e dar conselhos, fizeram tudo ao contrário.
Disseram à população para comer açúcar e evitar gorduras.
Ao revelar como seu corpo evoluiu junto com o planeta e tudo o
mais que nele existe, e ao explicar como esse corpo utiliza o
alimento para provocar o sono e lidar com o estresse, podemos
dizer exatamente o que acontece – à sua mente, ao seu corpo e ao
planeta – quando você come. Agora vamos lhe mostrar a luz.
A ciência do ritmo circadiano explica tudo. Todos os mistérios
podem ser desvendados. Neste livro, examinamos as evidências
científicas através das lentes da biologia evolutiva e da biofísica.
Os mapas moleculares nos mostram o caminho de casa e nos
contam de novo o que sempre soubemos. O sono controla o
apetite, e o apetite e o estresse controlam a reprodução. Dormir,
comer e fazer amor controlam o envelhecimento.
Os hormônios melatonina e a prolactina são atores fundamentais
em nossa conexão mente-corpo-planeta. Eles se comunicam com o
sistema imunológico e com o sistema de metabolização de energia,
em relação aos ciclos de luz-e-escuridão. A insulina e a prolactina
orquestram a química cerebral que governa a serotonina e a
dopamina no cérebro, para controlar nosso comportamento e
estado de espírito. Serotonina e dopamina controlam o
comportamento em relação à comida e ao sexo. Resultado: pouco
sono faz você ficar gordo, faminto, impotente, hipertenso,
canceroso, e com o coração doente.
A energia solar é a catalizadora de todo tipo de vida. A quantidade
de luz que age sobre você informa os “controles” do seu “sistema”
sobre a rotação e a órbita do planeta em que vivemos. Esse
posicionamento global ajuda nossos sentidos a ficarem de olho no
estoque de alimentos.
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É essa comunicação cósmica que nos diz, desde o início dos
tempos, quando comer, o que comer e quando reproduzir, para
maximizar a comida disponível. Nós e todos os outros organismos
neste planeta evoluímos com o giro do planeta – dentro e fora da
luz do sol.
O fato de você estar lendo isto significa que o sistema teve
sucesso.
O fato de você querer ler isto mostra que o sistema está
desmoronando.
A maioria das pessoas está absolutamente cansada de controlar o
peso e preocupar-se com o coração. Estamos prestes a lhe dizer
como parar.
Poderíamos ter dado a este livro o título de Perca peso enquanto
você dorme, mas nos pareceu demasiado vulgar. Quase o
chamamos de Mantido no escuro, depois que descobrimos
exatamente onde eram conduzidos os estudos que provavam nossa
premissa: em Washington. E ninguém menos do que o National
Institutes of Health confirma que é um “dado” científico dizer que os
ciclos de luz-e-escuridão:
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Se o NIH realizou a maior parte dos estudos que fornecem as
provas de que a depressão, a obesidade, as doenças do coração e
o câncer podem ser prevenidos, em grande parte dos casos, se as
pessoas simplesmente dormirem mais e apagarem as luzes, por
que eles nos mantiveram no escuro até agora? Por que continuar a
insistir que dietas ricas em carboidratos e exercício vão nos curar?
Será que eles estão realmente tentando nos matar?
A verdade é sempre mais estranha que a ficção. Os cientistas da
MacArthur Mind/Body Foundation, da Universidade de Chicago, da
NASA, do National Institutes of Health e do National Institutes of
Mental Health, esses últimos em Washington, vêm estudando
biofísica ao longo da última década. Isso significa que os mais
importantes pensadores científicos dos Estados Unidos estão
pesquisando a mesma ciência que nós pesquisamos para este livro.
Enquanto você lê, também eles estão provando que nos
reproduzimos e nos alimentamos sazonalmente, que temos um
metabolismo fartura-fome, que desenvolvemos diabetes, doenças
cardíacas, câncer e depressões graves se dormirmos menos de
nove horas e meia por noite durante pelo menos sete meses no
ano.
Quando perguntamos ao Dr. Thomas Wehr, o chefe do
departamento que estuda os ritmos sazonais e circadianos no NIH
em Washington, se ele achava que a população tinha o direito de
saber que com menos de nove horas e meia de sono por noite – ou
seja, no escuro – as pessoas a) nunca serão capazes de deixar de
comer açúcar, fumar e beber álcool; e b) com grande margem de
certeza desenvolverão uma das seguintes condições: diabetes,
doenças cardíacas, câncer, infertilidade, doença mental e/ou
envelhecimento precoce, ele respondeu:”Bem, sim, ela tem o direito
de saber. E deve ser informada; mas isso não vai mudar nada.
Ninguém vai apagar mesmo as luzes...”
Talvez não.
Afinal, a luz é sedutora. Quanto mais tempo ficamos acordados,
mais aprendemos. É por isso que os americanos são os melhores e
os mais brilhantes – e também os mais doentes do mundo.
Mas ainda acreditamos que algo pode acontecer.
Afinal, quando os números divulgados pelas autoridades disseram
aos americanos, no final da década de 1960, que era melhor
encontrarem tempo para fazer exercícios ou então morreriam, eles
passaram a fazer exercícios. E quando nos disseram para cortar a
gordura de nossa dieta porque senão morreríamos, todas as
fábricas de alimentos se prepararam para isso. Quando a medicina
declarou que os remédios para
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diminuir o colesterol seriam a nossa salvação, enquanto ficávamos
cada vez mais doentes. A gente botou as pílulas para dentro como
se fossem balas de chocolate. É claro que muita gente ganhou
dinheiro com o movimento do condicionamento físico, com os
alimentos de baixo teor de gordura e com os remédios. Mas a única
pessoa que vai se beneficiar com o sono é você mesmo.
O que está em jogo, aqui, é se queremos ou não ir mais cedo
para a cama e trabalhar menos horas por dia. Com os
minimercados 24 horas, 250 canais de televisão e a internet para
surfar a noite toda, reverter nosso ritmo exigiriam um esforço
hercúleo. Sabemos disso, mas estamos prestes a fazer da volta ao
tempo dos dinossauros uma escolha pessoal, não federal.
Acreditamos que a população merece, de nosso governo, o acesso
aos fatos e a uma consultoria nutricional mais precisa.
Nós pagamos por isso.
Todos os americanos sabem que Washington é pródiga em
segredos, mas é um pouco difícil de engolir que, ao mesmo tempo
que o Departamento Federal de Medicina nos diz para ingerir uma
dieta pobre em gordura e 58% de carboidratos para curar
obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer, o NIH, que fica
do outro lado da rua, está provando que o consumo excessivo de
carboidratos, provocado pela privação do sono, figura entre as
causas dessas mesmas doenças.
Por que vimos sendo mantidos na ignorância, quando eles
sempre souberam da verdade?
PARTE I
SEGREDOS
E MENTIRAS
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UM
QUEREMOS ACREDITAR:
A igreja dos falsos deuses
Em algum momento do passado, os cientistas descobriram que o
tempo flui mais vagarosamente quanto mais longe estivermos do
centro da Terra. O efeito é minúsculo, mas pode ser medido com
instrumentos extremamente sensíveis. Uma vez conhecido o
fenômeno, algumas pessoas, ansiosas por permanecer jovens,
mudaram-se para as montanhas.
Agora, todas as casas estão construídas em Dom, no Matterhorn,
Monte Rosa e outras elevações. É impossível vender casas em
qualquer outro lugar... Pilotis... Pessoas ansiosas por viver mais
construíram suas casas nos pilotis mais altos... Elas celebram sua
juventude e caminham nuas em suas varandas...
Com o tempo, as pessoas esqueceram a razão por que o mais
alto é melhor.
Mesmo assim, continuam a ensinar a seus filhos a evitarem
deliberadamente outras crianças que vivem em elevações menores.
Elas até se convenceram de que o ar rarefeito é bom para seus
corpos e, seguindo essa lógica, adotaram dietas parcimoniosas e
recusam tudo que não seja o alimento mais leve. No final, o povo
se tornou fino como o ar, ossudo e velho antes da hora.
– Alan Lightman,
Os sonhos de Einstein
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A trama engrossa quando dois cientistas fora-da-lei o
descongelam ilegalmente para tirar vantagem do fato de que ele é
uma não entidade numérica – e, como tal, pode ajudá-los a
derrubar o regime fascista que controla os Estados Unidos em
2173. Há uma conversa em que eles discutem o progresso do
paciente:
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nutritivas. Na década de 1970, as saladas e barras nutritivas
certamente seriam classificadas como “comida saudável” para os
“maníacos da saúde”. Todos se sentiam muito confortáveis com o
fato de que havia os “maníacos da saúde” e o resto de nós.
Atualmente, se você não cuida da sua saúde, é considerado um
imbecil.
Hoje em dia tudo é rotulado “de baixo teor de gordura”, “sem
gordura”, “99% livre de gordura” ou “com 30% menos de gordura”,
na tentativa de se qualificar um “alimento saudável”. Até mesmo os
sucos de frutas e as massas secas são vendidas como “sem
gordura” porque somos todos imbecis. Seu médico e os doutores
que aparecem na mídia, todos dizem – mesmo depois que os livros
Protein Power do Dr. Atkins, já provaram o contrário – que você não
consegue carboidratos de alta qualidade para perder peso a menos
que consuma:
O MÓDULO DE DEUS
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lobos temporais do cérebro, que emite repetidamente fagulhas de
atividade elétrica quando a pessoa pensa em Deus ou tem qualquer
sentimento relativo à espiritualidade. Nós, cientistas, conhecemos
isso através das tomografias de monges, freiras e esquizofrênicos,
quando “falam com Deus”. Quase na frente desses lobos temporais
está a amigdala, um órgão de formato amendoado que imbui os
eventos de intensa emoção e de sensação de significado.
Devido à forma como os lobos temporais são estruturados e
sensorialmente conectados com a amigdala, eles são as regiões
mais eletricamente sensíveis do cérebro. O Dr. Persinger tem
conhecimento pessoal sobre isto porque ele criou um elmo com
molas de fios de aço colocadas logo acima das orelhas (lembra
Woody Allen em O Dorminhoco?). Ao passar uma corrente elétrica
cuidadosamente controlada através dessas molas, o médico cria
um campo magnético pulsante que imita os padrões transmissores
de energia dos neurônios nos lobos temporais. Isso gera uma
experiência espiritual mística completa, com uma saudável dose de
paz. Os cobaias do Dr. Persinger relatam um “efeito opiáceo, com
uma queda substancial da ansiedade e uma elevada sensação de
bem-estar, semelhante aos relatos de iluminação”.
Enquanto o Dr. Persinger caprichava em sua melhor
caracterização de cientista louco, Vilayanur Ramachandran, Ph.D.,
diretor do Laboratório do Cérebro e da Percepção da Universidade
da Califórnia, em San Diego, entrava em contato com o céu. O Dr.
Ramachandran anunciou, em 1998, que havia descoberto o
“módulo de Deus”. Este “módulo” está localizado no cérebro, numa
área dentro dos lobos temporais, que se torna eletricamente ativada
quando uma pessoa pensa em Deus ou em espiritualidade, ou
relembra uma experiência “mística”. Olha, isso me parece familiar.
Sabemos também que o estresse, a tristeza e principalmente a
falta de oxigênio estimulam fortes descargas elétricas na mesma
área, vizinha ao módulo de Deus. Como a falta de oxigênio
desencadeia estas explosões neurais, alguns cientistas acreditam
que esse mecanismo pode ser o responsável pelas várias
experiências de euforia e tranqüilidade próximas da morte. Também
a apnéia do sono, em pessoas com lobos temporais
descontrolados, pode significar que elas ouvem alguém chamar seu
nome quando adormecem, ou que têm uma “experiência fora do
corpo”, como a sensação de estar voando, durante o sono.
Podemos dizer também que a hiperventilação resultante do
exercício, junto com o estilo de vida Yuppie-urbano de baixo teor de
gordura,
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aciona o módulo de Deus. É por isso que o barato do corredor é
uma experiência tão religiosa.
Seu cérebro pensa que você está morrendo. Mas você só está
sem fôlego.
Receamos que você esteja sem tempo também.
A verdade é que todo esse exercício está fazendo mais do que lhe
dar um barato. Está exacerbando a queima de seus receptores de
cortisol. Correr é uma resposta de medo. No mundo real, significa
algo está querendo te pegar; pelo menos é o que seu corpo e seu
cérebro pensam. Se você correr por tempo suficiente, todos os seus
sistemas acreditarão que você vai conseguir ultrapassar aquele
predador. A química cerebral que acompanha as corridas longas
evolui para tornar mais agradável a saída deste mundo. Isso
significa que a falta de oxigênio, sozinha, vai acionar aquela parte
do cérebro que nos leva para o céu ou, neste mundo, nos dá uma
razão para continuar correndo. O mecanismo da química cerebral
que o faz ver Deus enquanto fica sem oxigênio evolui a partir das
respostas programadas – respostas a impulsos ambientais que não
mais existem, respostas que, num passado remoto, podem ter salvo
sua vida ou tornado a morte agradável.
Pois agora essas respostas o estão matando.
VIDA SAUDÁVEL?
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II teria servido, em outro tempo e lugar, para manter aquecidos os
órgãos internos e ser utilizada como energia durante o período
normal de fome (o inverno). A ingestão cada vez maior de
carboidratos (açúcar) sempre acaba numa produção maior de
colesterol também, porque os carboidratos baixam a temperatura de
congelamento da membrana celular. No mundo real, você nunca
teria acesso a uma tal quantidade de açúcar, a menos que fosse
verão antes do inverno. Mas você não vive no mundo real.
Da próxima vez que seu médico disser que seu colesterol está
alto demais e que você deve cortar gorduras e fazer mais exercício,
diga-lhe que ele está errado. Diga-lhe que você não está doente,
que só vai hibernar – e que não quer congelar. Talvez ele ache
graça.
Você, por outro lado, deveria estar chorando pois tem um grande
problema.
Todos os sistemas que evoluíram para mantê-lo vivo, e que o
mantiveram até este ponto, estão berrando: “A fome está
chegando!!!”
Quando você se exercita dia e noite para driblar o ganho de peso
que seu corpo e sua mente desejam, você aciona sua “resposta de
estresse”. E a mensagem que você envia a esses sistemas é: “Ai,
meu Deus, a fome está chegando e tem um tigre atrás de mim!”
Acredite, isso não é solução.
Na realidade, o exercício pode muito bem ser o último prego de
nossos caixões coletivos. A resposta de estresse ancenada quando
você corre para salvar sua vida naquela esteira eleva seus níveis de
cortisol. Se você faz isso de vez em quando – digamos, a cada dez
dias, a resposta episódica natural do cortisol vai manter seu
coração e cérebro saudáveis. Mas se você faz exercício feito um
maníaco mais de uma vez por semana, os altos níveis de cortisol
resultantes de todo o exercício crônico na verdade imitam o
estresse da época da procriação, quando as longas horas de luz e a
competição (principalmente para os machos) mantinham o cortisol
em picos anuais. A competição sexual é a situação mais
estressante possível na natureza, depois da morte. O período da
procriação seria um fracasso sem uma base de gordura para
sustentar uma gravidez durante o inverno. Assim sendo, não é por
acaso que a compulsão por carboidratos, para gerar gordura,
coincide com os altos níveis de cortisol e de hormônios sexuais. É
preciso ter pão no forno em agosto ou setembro para a maioria dos
mamíferos, para que o bebê possa nascer em abril ou maio, na
primavera, quando o alimento é abundante.
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Agora você está na academia de ginástica, é novembro e o
horário é um momento qualquer entre seis e meia e nove e meia da
noite; pelo menos dez watts de luzes florescentes estão acesos,
intensificados pelos espelhos que brilham diretamente em seus
olhos e sobre a pele de seu corpo superexposto. Você levante
pesos, corre e caminha numa esteira ou trilha, e se for realmente
suicida, está num StairMaster ou girando.
Saiba que, para seu corpo e sua mente – que evoluíram, ao longo
de milênios, para reconhecer os sinais da Natureza – você está
numa luta, uma disputa mortal, igualzinho aos gnus que golpeiam
com os chifres, que você vê no Discovery. Você está lutando por um
ovo, pela imortalidade ou apenas por uma chance no próximo
round. Essa luta parece razoável para seu corpo porque as luzes à
noite (a luminosidade da sala de ginástica) significa que estamos no
auge do verão, e que você deve se acasalar ou vai se tornar
violento. É por isso que o cortisol fica elevado durante o dia: para
fornecer glicose aos músculos para correr ou fugir, e para mantê-lo
calmo para os processos de tomada de decisão – no caso,
acasalar-se. É por isso que, quando somos constantemente
banhados por luzes inesgotáveis, sentimo-nos todos tão nervosos
(leia-se: paranóicos, agressivos, histéricos, apressadíssimos), até
mesmo quem não se exercita, até nos desligarmos de tudo.
Nesse estado crônico, você não está apenas mantendo alto o
nível de açúcar no sangue, o que sobrecarrega o sistema de
resposta da insulina com os efeitos mobilizadores do açúcar no
sangue do cortisol; na verdade, também está se tornando resistente
à insulina enquanto se exercita.
Esse fato significa que o exercício pode engordar.
Enquanto você faz exercícios feito um maníaco e vive numa dieta
de baixo teor de gordura, ganha peso até se cheirar um biscoito.
Além disso, de quebra, desperdiça hormônios sexuais, causa
câncer e provoca supressão do seu sistema imunológico. O cortisol
alto crônico também altera sua percepção do tempo e fez com que
você viva constantemente correndo. É essa percepção alterada do
tempo que provoca o período de divagação tarde da noite, antes de
ir para a cama, quando você fica acordado sob a impressão de que
deve haver algo a ser feito, ou de que você não concluiu seu
trabalho. Aí você enche mais de açúcar, porque não dormiu – e sua
insulina vai à estratosfera. Sabemos que só esse comportamento já
o torna gordo e doente.
Acredite, a culpa não é da falta de exercício, da carne ou da
manteiga.
Nem da gordura, de jeito nenhum.
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De verdade, gente.
Se a ingestão de gordura saturada causasse obesidade, já
estaríamos lá na frente, no sentido de reduzir a obesidade
nutricionalmente. Todos nós teríamos a aparência de supermodelos.
Estamos comendo menos gordura e nos exercitando mais do que
nunca, mas não lembramos em nada os supermodelos.
Na verdade, estamos horríveis.
Estamos mais gordos e doentes do que nunca, em toda a história
do nosso país. E o problema não é apenas a nossa aparência
terrível: nossos planos de erradicar doenças cardíacas, câncer e
diabetes foi para o brejo. O americano mediano na verdade ganhou,
em média, quatro quilos de peso desde o início da uerra do baixo
teor de gordura” contra a obesidade.
O pressuposto que cultivamos com carinho durante trinta anos era
que perder peso cortando gorduras e fazendo exercícios levaria a
uma redução importante nas ocorrências de doenças
cardiovasculares, sem mencionar o diabetes e o câncer.
Mas não foi o que aconteceu.
E quando não aconteceu, a medicina disse que os cientistas
disseram que a gente não tinha cortado gordura suficiente. E que,
se diminuíssemos o teor de gordura de todos os alimentos
processados, se reduzíssemos o consumo de carne vermelha e
criássemos imitações de gordura com o Olean, a marca do olestra,
a maré finalmente se reverteria. Hoje, todos esses milagres e metas
já se concretizaram, a gente se exercita dia e noite – e, no entanto,
muitos de nós já tentaram, pelo menos uma vez durante os últimos
anos, virar vegans.* Todos os dias os apresentadores de televisão,
os documentários, novos âncoras e programas de culinária nos
dizem que a vida de baixo teor de gordura funciona. E você jamais
saberá que não funciona, a menos que dê uma olhada nas
estatísticas e no crescimento das vendas de remédios para dieta.
Esses números mostram um quadro totalmente diferente.
Dizer que o cenário não é tão róseo, no mínimo, uma brincadeira
de mau gosto. Estudos recentes mostraram que perdemos mais de
________________ ___
*Vegans: vegetariano radical, que não consome qualquer produto de origem animal, nem
mesmo laticínios. (N.T.)
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um milhão de vidas, só de doenças cardíacas. O grande rumor,
entre os estatísticos, é que as mortes por doenças cardiovasculares
têm sido omitidas indiscriminadamente. De alguma forma, embora o
número de mortes por doenças cardíacas tenha caído, o verdadeiro
número de ataques cardíacos subiu bastante.
Isto significa que alguém está manipulando os números.
Significa, também que as pessoas continuam tendo tantos
ataques cardíacos e doenças cardiovasculares quanto sempre
tiveram; no entanto, procedimentos como cirurgias, angiogramas,
uma droga que dissolve coágulos chamada t-PA, 911 e angioplastia
as têm salvo, por enquanto, e com isso o índice de mortes tem
caído. Isso para falar só em morte cardiovascular; outros 60 milhões
de pessoas (isso é 25% da popoulação norte-americana) vão
acabar morrendo de doenças cardíacas, tendo em vista seu perfil
de risco.
Alguns desses “riscos” são cigarro, idade, gênero, pressão alta,
elevadas taxas de colesterol, diabetes, estresse e, logicamente, a
obesidade, o pesadelo médico de quase todo o mundo (em nossa
sociedade), o terror não é a pogreza, as doenças cardíacas ou
sequer os crimes violentos; a idéia assustadora de que, um dia, a
pessoa pode simplesmente acordar de manhã e constatar que está
realmente gorda).
Muito bem, agora acorde e sinta o cheiro do milk-shake dietético.
O homem mediano, nos Estados Unidos, não é magro. Tem 23%
de gordura corporal, enquanto a mulher mediana tem 32%. Esses
números tornam o cidadão médio 53% mais gordo do que o ideal
saudável, e a cidadã média pelo menos 50% mais gorda. Em 1961,
a obesidade atingia, historicamente – ou pelo menos assim se
pensava – 20% de toda a população. Em 1995, o Centers for
Disease Control and Prevention nos revelou que o número de
americanos gravemente obesos havia aumentado 30%, somente
durante a década de 1980. lembre-se da academia de ginástica.
Nos vinte anos anteriores, essa mesma estatística de obesidade
permaneceu inalterada, em um quarto da população. E este é
exatamente o mesmo período de vinte anos em que se desenvolveu
o grosso da pesquisa nutricional que hoje seguimos. Esse intervalo
de vinte anos assistiu também ao fim da comida de verdade, da
semana de trabalho de quarenta horas e das férias de suas
semanas, assim como ao advento da TV a cabo, dos telefones
celulares, do correio de voz e do e-mail.
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JÁ PENSOU NISSO?
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cinco, ou talvez sete horas a mais de luz, num período de 24 horas,
dia sim dia também, durante sete meses por ano, completamente
fora de estação. Isso entra ano e sai ano, década após década –
até a mãe ter câncer de mama e a filha ter acne e ser gorda demais
para estar na capa da Vogue. E o Júnior, com apenas 1.70 m de
altura, ainda por cima ter asma. Se o nosso pai imaginário estiver
presente, terá artérias obstruídas, pressão alta e excesso de açúcar
no sangue.
Como tudo isso acontece é um completo mistério para a ciência
médica.
A desastrosa derrocada na saúde do povo americano corresponde
ao aumento das atividades noturnas estimuladas pela luz e ao
consumo de carboidratos que as acompanha. Considere apenas o
aumento do peso médio de jovens adultos e adolescentes ao longo
dos últimos quinze a vinte anos. Na média, esse peso aumentou,
previsivelmente, mais de 5 quilos. O percentual de adolescentes
obesos estava em 15% na década de 1970, e subiu para 21% na
década de 1990. agora, está acima de 30%.
Um recente artigo de primeira página do New York Times citou a
televisão como a causa do aumento da obesidade entre os jovens.
O artigo se baseava apenas na premissa “preguiça”, alegando falta
de atividade física exercício). A causa é a televisão, sim, – mas não
da forma que eles pensam. Grande parte dos jovens de hoje
nasceram num mundo de baixo teor de gordura/exercícios pesados.
Mais de um terço deles se autodeclaram vegetarianos, ciclistas,
montanhistas e patinadores. E há aproximadamente 12,5 milhões
de jovens como esses hoje nos Estados Unidos. E quando se
pergunta a esses jovens adultos por que são vegetarianos, a maior
parte diz que é por causa da saúde; o resto só acha que é legal.
Eles não tem idéia do que estão fazendo a si mesmos.
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com relação ao fracasso da dieta de baixoi teor de gordura em curar
doenças ou salvar vidas. Sua resposta fraca e inconsistente:
“Desde o início isso era apenas uma hipótese” – não demonstrou
vergonha alguma.
Essa “hipótese” custou mais vidas do que as duas guerras
mundiais e o conflito do Vietnã juntos. Basta verificar as estatísticas
da American Câncer Society e da American Heart Association nas
últimas três décadas. Em 1999, a previsão era de que, só de
câncer, 1.257.800 pessoas iriam morrer.
Se preferir uma projeção de futuro, consulte os números
misteriosos da American Diabetes Association sobre a crescente
população de diabéticos Tipo II. Agora, os pesquisadores estão em
busca de explicações genéticas para a obesidade porque, se temos
certeza de alguma coisa, essa certeza é de que a obesidade é o
começo do fim. A obesidade é a precursora do diabetes adulto. Não
é coincidência o fato de que, até o final do ano 2000, haverá mais
de 25 milhões de diabéticos Tipo II. É cerca de 98% de toda a
população diabética. Se todos os 25 milhões se tornarem
diabéticos, com certeza uma grande parcela deles terá doenças
cardíacas e pressão alta – duas condições que levam ao derrame.
Essas complicações são as que mais matam os diabéticos.
Há anos que se prevê que a redução da gordura na dieta reduziria
também o câncer; só que as estatísticas nos mostram uma
crescente incidência de câncer de colo, associada a uma queda na
incidência de morte. Isso significa que o câncer de colo está
aumentando, mas as pessoas estão morrendo menos disso. Isso
não quer dizer cura; no caso do câncer de mama e de próstata,
podemos ver aumento na incidência e também nas mortes. Esses
dados sobre câncer de mama, próstata e colo são os que, com toda
certeza, deveriam ter apresentado queda, dadas as mudanças que
os americanos fizeram na dieta dos últimos quinze anos. Em vez de
reconhecer a dieta de baixo teor de gordura, a pesquisa médica nos
deu Mevacor, Provachol, Proscar – e agora Tamoxifen e Raloxifene.
A medicina admite que a “melhora” nas estatísticas de câncer é
conseqüência do diagnóstico precoce, não do tratamento ou da
prevenção. Mas o diagnóstico procece aumenta apenas o período
de conhecimento – a vitima só fica sabendo antes que vai sofrer e
morrer. Na verdade, não muda a data da morte. O diagnóstico
procece nunca salva vidas; com maior freqüência, apenas as
prolonga por tempo suficiente para confundir os números. E todos
esses números provam que estamos no caminho ERRADO.
Concordamos que a intervenção da dieta com certeza
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pode reverter o curso da doença. Cortar carboidratos pode curar a
obesidade e grande parte do diabetes, mas não as doenças
cardíacas, e com certeza nem todos os tipos de câncer. O final
dessa história é a EXTINÇÃO.
A comida é parte dessa equação, está bem, mas não é a
resposta. A resposta está no ritmo circadiano e na evolução.
A resposta está em comer, dormir e reproduzir-se em sincronia
com a órbita do planeta, ou acabar como os dinossauros. As longas
horas de luz artificial que confundem seu ancestral sistema
regulador de energia também destroem o revestimento de seu
coração, e portanto o colesterol em excesso pode obstruir o fluxo
sangüíneo. Ao longo do curso da evolução, seu subconsciente foi
condicionado e ajustado para acreditar a agir da seguinte maneira
quando as luzes ficam acesas por um período muito longo: “Coma
carboidratos agora, ou morra mais tarde.” Da mesma forma, ao
longo do curso da evolução, seu subconsciente foi condicionado e
ajustado para acreditar e agir da seguinte maneira quando as luzes
ficam acesas por um período muito longo: “Acasale-se ou morra.”
Esse instinto que responde à luz tem sido a base de nosso
metabolismo fartura-ou-fome e, em última análise, de nossa
sobrevivência, durante pelo menos 3 milhões de anos. Todos os
efeitos da exposição crônica à luz e o consumo de carboidratos que
acompanha essa exposição, em outro tempo e lugar, ter-nos-iam
preparado para o pior: para a falta de comida e para os dias mais
frios, curtos e escuros, em que há menos sol.
Nós sempre “nos fartamos” para agüentar a “fome” que
certamente viria – até agora. Infelizmente, a verdade em nosso
tempo é que ingerimos carboidratos hoje e morremos mais
depressa. Nosso corpo traduz como “verão” as intermináveis horas
de luz artificial. Como ele sabe, instintivamente, que o verão vem
antes do inverno, e que o inverno significa falta de comida,
começamos a desejar carboidratos, para acumular gordura para um
período em que o alimento é escasso e deveríamos estar
hibernando. Esta é a fórmula:
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Essa escassez é acompanhada de:
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realmente a culpada. A história nos ensina que todas as doenças da
civilização surgiram com força total depois da Revolução Industrial,
quando a eletricidade tornou real a disponibilidade da luz artificial
ilimitada e barata. Foi a lâmpada elétrica que transformou a noite
em dia. A curva do desempenho de preços da lâmpada elétrica é
semelhante à curva do desempenho de preços de um computador
portátil. Uma lâmpada de 100 watts custa 33 centavos de dólar em
qualquer supermercado; em 1883, a mesma quantidade de luz
custaria ao consumidor US$1.445. Os especialistas concluíram que
as máquinas usurparam nosso bem-estar físico; na verdade, foram
os alimentos processados, refinados e adoçados que entraram pela
primeira vez na nossa vida (ao mesmo tempo que as luzes
estenderam o nosso dia e mudaram nosso apetite) que provocaram
todo esse processo. Embora o instrumento da destruição possa ser
a alimentação, a causa da morte é algo bem mais insidioso.
A CAUSA DA MORTE
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enorme força de trabalho. As luzes geravam empregos para pagar
por elas. No final da década de 1920, as caras máquinas instaladas
nas fábricas já haviam começado a funcionar junto com os
ponteiros do relógio. De repente, estavam rodando durante as 24
horas do dia, enquanto, apenas uma década antes, a energia
proveniente do gás era cara demais para ser usada durante a noite
inteira. Antes da eletricidade, as fábricas só funcionavam durante
dez horas. Essa segunda Revolução Industrial remapeou o
panorama econômico.
O trabalho noturno trouxe mais dinheiro de várias maneiras. Não
apenas forrou os bolsos dos donos das fábricas; gerou também
mais empregos e dinheiro para uma subclasse econômica de novos
imigrantes. O mais importante, porém, é que o trabalho noturno
trouxe com ele uma economia de serviço. Essa economia fez
proliferarem transportes, restaurantes e mercados 24 horas,
quadras de tênis e jogos de beisebol noturnos, pontos de jogo e por
aí vai. A eletricidade alimentou o telefone, que é a base de nossa
atual capacidade de comunicação de ficção científica, e que
permitiu que os pequenos mercados se tornassem globais. Existe
até uma nova pérola de terminologia, na língua inglesa, para este
fenômeno, graças à Internet: 24 por 7. Foi um golpe de sorte
ridiculamente terrível, num século que de outra forma seria bem
interessante, o fato de que, exatamente ao mesmo tempo que o
açúcar começou a ser usado para preservar e embalar “comida”
industrializada, nós tivéssemos a oportunidade de ficar acordados a
noite toda para comê-lo.
É claro que, naquela época, não havia muitos alimentos
industrializados no mercado; porém os que existiam utilizavam
xarope de milho altamente refinado (em máquinas industriais) para
evitar perda de umidade e aumentar a vida de prateleiras de
produtos. Muitos alimentos industrializados ainda usam o mesmo
conservante. Até os pãezinhos de aveia adoçados com mel, feitos
com grãos integrais e de baixos teores de gordura, bem
embaladinhos, que você encontra próximo às caixas registradoras
dos minimercados, são preservados com açúcar. É altamente
esclarecedor observar, neste ponto, que a incidência de diabetes
Tipo II caiu tremendamente durante as duas guerras mundiais,
época em que o açúcar era racionado.
O INSTRUMENTO DA MORTE
A RESSURREIÇÃO DA VERDADE
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DOIS
No escuro:
Um evento no nível de extinção
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girinos. Na Austrália, quatro – nem uma, nem duas, nem três: quatro
– espécies desapareceram das florestas de Queensland. Na ilha
havaiana de Kauai, um tipo de rã que antes abundava na região
simplesmente não existe mais. Os nativos disseram aos
pesquisadores que todos os sapos tinham “ido embora” um dia.
Essas criaturas, agora ausentes, viviam em delicado equilíbrio entre
água e terra, ar e luz.
Assim como nós.
É uma perspectiva apavorante compreender que, no final, o nosso
desaparecimento – assim como o dos anfíbios – vai ocorrer, mais
provavelmente, como um colapso geral e inespecífico, e não por
causa de um asteróide cadente ou um holocausto nuclear.
Sabemos que já começou. Nós, os seres humanos vivos de hoje,
estamos disparando rumo à extinção.
O LIVRO DOS MORTOS
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parecer. Nossa primeira investida no terreno do controle celestial –
o fogo – transformou aqueles, dentre nós, que tinham condições de
ser transformados. O domínio e o uso do fogo foi a primeira
descoberta que aumentou nossos dias e encurtou nossas noites.
Noites mais curtas significam menos melatonina. Menos
melatonina significa mais estrogênio e testosterona, mais
cortisol – e, é claro, mais insulina. Aqueles de nós que
conseguiram se adaptar a uma vida com menos sono, mais
carboidratos e o aumento da fertilidade que isso trouxe,
sobreviveram. Os que não conseguiram se adaptar morreram,
incapazes de sobreviver ao novo ambiente.
O maior réquiem de morte que se seguiu foi a maciça extinção
humana que acreditamos deva ter ocorrido bem no limiar do
advento da agricultura. Como qualquer outro animal, nós nascemos
para caçar à luz do dia – seja à cata de frutas e peixes no verão ou
de porcos selvagens e cascas no inverno – e para descansar no
escuro. Cultivar grãos perto dos locais onde vivíamos mudou tudo
isso. Embora o suprimento de energia fornecida por carboidratos o
ano inteiro tenha nos ajudado a ser mais populosos do que
qualquer coisa viva, exceto os micróbios, este novo milagre – a
agricultura – também nos proporcionou a primeira praga auto-
infligida. A mudança relativamente súbita na concentração e no
tempo de ingestão da nova alimentação à base de carboidratos
acabou com muitos de nós ao perturbar o equilíbrio de nossa
nutrição, que era 90% proteína e, de repente, passou a ser 80%
carboidratos (ou seja, açúcar).
Em todo o período prévio da vida humana, ainda que os
carboidratos estivessem disponíveis nos meses que vão da
primavera ao final do outono, nós nunca os desejamos
intensamente até as horas de luz do dia mudarem, ou seja, quando
março virava abril e quando abril virava maio. Por volta de junho e
julho, nossas noites duravam apenas sete ou oito horas, em
comparação com o auge do inverno, quando a escuridão duvara
pelo menos treze horas por dia.
A agricultura significava que, de repente, passávamos a viver com
uma quantidade de carboidratos (açúcar) cada vez maior, até por
um período superior a um ano inteiro, devido à nossa habilidade de
controlar os períodos de crescimento das lavouras. Depois de
atravessar centenas de milênios e algumas Idades do Gelo sem
comer açúcar fora da estação, a rapidez (em termos evolutivos)
com que ele chegou causou o mesmo tipo de morte que estamos
testemunhando atualmente.
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Nosso colapso geral e inespecífico mais recente começou com a
chegada da eletricidade. Nossa primeira manobra inocente foi
carregar as brasas incandescentes que sobrevam da queda dos
raios. Aquele “fogo” tinha possibilidades reais. Em seguida, demos
um jeito de aprender a reanimar as brasas que haviam esfriado. E
assim vivemos por talvez um milhão e meio de anos; depois, em
menos de uns ínfimos oitenta anos, resolvemos morar com os
deuses.
Dessa vez, a gente fez melhor: aprendemos a recriar o raio que nos
trouxe a mágica das brasas ardentes. Passamos a deter o tesouro
do deus Thor. O controle sobre a energia primal do raio nos deu as
chaves do reino; agora vamos pagar por isso.
Desde meados do século XVIII até o final do século XIX, europeus
como Michael Faraday, Alesandro Volta e alguns outros dispersos
pelo mundo perseguiram o magnetismo até que a natureza, sob a
forma de elétrons, perfilou-se e bateu continência. Agora, oito mil
anos depois do início da agricultura, nós, os arrependidos
sobreviventes dessa última grande ameaça da humanidade,
enfrentamos um novo tipo de extinção: a luz artificial, a nós
proporcionada por Thomas Alva Edison, o Homem do Milênio,
segundo a revista Look.
Em 1831, Michael Faraday criou o gerador elétrico. Edison viu o
aparelho na Exposição de Filadélfia e, assim diz a história, foi
inspirado – tão inspirado que veio a se tornar o Bill Gates do século
que então se iniciava. A lâmpada elétrica, o fonógrafo, partes do
telefone e seus fios e ainda o projetor de cinema – tudo saiu da
mente desse único homem.
Em 1877, ele tomou dinheiro emprestado com J. P. Morgan e lhe
prometeu uma lâmpada elétrica. A equipe inglesa de Sawyer e
Mann estava bem próxima de produzir a sua, e Edison queria
derrotá-los. Por volta de 1878, ele ainda não tinha uma lâmpada
que funcionasse. Um ano depois ele havia perdido sua família e seu
dinheiro, e nada de lâmpada. Naquele ponto, porém, ele ainda
enxergava.
Sob a mira de um revólver, por assim dizer, ele trabalhou 24 horas
por dia durante três semanas inteiras, com apenas uma muda de
roupa e uma equipe de quinze homens. Fumava vinte cigarros por
dia, bebia sem parar e não dormia um minuto sequer. Durante
aproximadamente quinhentas horas, com apenas um ou outro
cochilo de vinte minutos
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aqui ou acolá, Edison examinava filamentos incandescentes em
tubos no vácuo, tentando descobrir um que pudesse ser
confiavelmente religado.
Ele tentou de tudo, desde platina a bambu, passando até por linha
de costura assada (cujas fibras, ao serem queimadas, produziam
carbono). Queimou filamento por filamento, até que um deles ficou
aceso durante treze horas. Depois, meio cego, ele finalmente foi
dormir, graças ao uísque e a uma quantidade razoável de morfina.
Na manhã seguinte, ele convocou uma coletiva de imprensa e
anunciou uma demonstração. Três mil pessoas foram a Menlo Park,
em New Jersey. Edison havia espalhado fios e uma centena de
lâmpadas por toda a pequena cidade. Durante a demonstração, ele
prometeu encher Nova York de luzes dentro de um ano; só isso já
fez dele uma “personalidade”. Embora não tenha cumprido a
promessa, dois anos e 3,22 Km de fios mais tarde, cerca de
quatrocentos metros de Pearl Street, no centro de Nova Yoirk,
ganharam 2.323 lâmpadas que funcionavam. Sua busca
enlouquecida pelo filamento perfeito lhe custou sua família, pelos
menos metade de sua visão e uma parcela ainda maior de sua
saúde. Desde aquele período, ele nunca mais consegiu dormir, de
dia ou de noite, sem morfina. Mas ganhou a briga.
E sua conquista reconstruiu o mundo, em termos permanentes.
Em apenas dois curtos anos, que culminaram em uma noite muito
clara, tudo mudou para sempre. Nossa forma de comer, dormir,
viver e morrer nunca mais foi a mesma. Embora isso não sirva de
muito consolo, aqueles anos também mudaram o próprio Edison.
Ele se associou aos ingleses, em 1900, para fundar a General
Electric, e perdeu uma amarga batalha AC/DC para a
Westinghouse. Embora tenha morrido só um pouco doido, tinha
entre seus amigos íntimos homens como Henry Ford e Harvey S.
Firestone. Afinal, os carros precisavam de pneus e de faróis.
BEM-VINDOS AO PARADOXO
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passaram a vida inteira comendo bacon, ovos e manteiga. A mídia,
que segue a atual sabedoria médica do baixo teor de gordura,
considera isso um paradoxo. Nós não.
Para nós, existe uma correlação entre esses exemplos de menos
doença e vida mais longa e o fato de a eletricidade ter chegado
mais tarde. O REA (Rural Electrification Administration), que foi
fundado em 1935, foi criado porque menos de onze fazendas, num
universo de cem, possuíam eletricidade naquela época. Em 1950,
trinta das cem tinham luz, mas só no finalzinho da década de 1970
é que 99% delas possuíam rede elétrica e luz. O REA ainda é uma
organização viável e ativa, que leva rede elétrica e luzes que ficam
acesas 24 horas por dia aos territórios americanos e a Porto Rico,
para que todos possamos morrer juntos.
O clima, o suprimento de alimentos e a competição sexual
serviram para nos adaptar, a nós e a outras espécies, ao ambiente
e ao tempo em que vivemos. Somente na última metade do último
milhão de anos, mais ou menos, é que nós, humanos, decidimos
tomar a nosso cargo a tarefa de criar os meios para nossa extinção,
e para a extinção de incontáveis outras espécies. A eletricidade não
só nos trouxe luz infindável, renovável e barata; deu-nos também os
meios de controlar tudo na natureza, tanto plantas como animais.
Iluminar o escuro significava que podíamos ter tratores com faróis e
microscópios com luzes internas, e que podíamos controlar outras
espécies com estímulos e cercas elétricas.
EX-PLICAÇÕES
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jornais, é claro, confundem o público ao divulgar, prematuramente,
qualquer esperança de salvação, por menor que seja: Angiostatin,
Endostatin, Tamoxifen, Raloxifene, Mevacor, Provachol, Zyban,
Allegra, Valtrex (“tem a ver com a supressão”) – e, é claro, os
primos-irmãos do Fen-Phen, Meridia e Orlistat. Para aqueles de nós
que estão cansados ou ligados demais para sacudir a poeira, tem o
Tylenol PM – e finalmente o Viagra. Enquanto isso, você, sua
família e os amigos ficam cada vez mais doentes.
Nossa intenção é lhe contar o que tudo isso significa. Nos
próximos capítulos, vamos lhe dar uma idéia geral do que existe
além da linha mutante que define os limites de seu conhecimento. O
mundo é muito mais estranho do que pensamos. A física
newtoniana é apenas a ponta do iceberg. Há um universo quântico
lá fora, especialmente quando se trata da sua saúde. Os aspectos
incompreensíveis dos mapas cósmicos, seu comportamento, sua
sorte sob a forma de seus genes, e a doença, tudo isso está
conectado em níveis cada vez mais elevados de interatividade,
onde tudo se junta para formar um noto tipo de sentido – que
significa muito mais do que você jamais imaginou.
Nada acontece em contradição com a natureza, somente em
contradição com aquilo que sabemos sobre a natureza.
A mecânica quântica é um exemplo perfeito. A física newtoniana
nunca poderia acomodar a luz. Maçãs em queda, a conseqüente
velocidade, até algum tipo de puxa-empurra sob a forma de
gravidade, talvez, mas jamais a essência quântica da luz, a luz do
sol vem em pacotes de energia, a que chamamos fótons. Esses
pacotes de energia luminosa, também chamados de quanta, são ao
mesmo tempo uma partícula e uma onda. Imagine uma bola de luz
que quiçá e, à medida que quiçá, solta uma trilha de luz. Essa bola
quicante de luz – o fóton – também é uma onda de energia. A onda
de luz que fica pode ser calor, luminosidade ou energia vibratória,
dependendo do ritmo das quicadas. A luz, a temperatura e a
gravidade controlam todo o metabolismo de energia e a reprodução,
no nível molecular, em cada canto desta terra. Conseqüentemente,
controla sua saúde e sua própria existência.
Na edição de 5 de junho de 1998 da revista Science, Jay Dunlap,
do departamento de bioquímica da Escola de Medicina de
Dartmouth, admitiu abertamente:
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organismos, a aurora significa comida, predação e
mudanças em todas as variáveis geográficas que
acompanham o sol: calor, ventos e assim por diante.
Quando o sol nasce, é um acontecimento – e a maior parte
das coisas vivas tem seus dias contados a partir de um
relógio interno que é sincronizado por senhas externas.
Devido a essa pressão evolutiva comum e ancestral, os
relógios circadianos devem ter evoluído muito cedo, e os
elementos comuns tendem a estar presentes ao longo de
toda a árvore evolutiva, de cima abaixo. Uma série de
artigos que apareceram esta semana nas publicações
Science, Cell e Proceedings of the National Academy os
Sciences revelam um padrão interessante na “mecânica”
dos osciladores circadianos dos seres vivos, desde os
fungos até os mamíferos – e isso nos dá uma visão mais
aproximada da forma como as engrenagens dentro do
relógio fazem funcionar o sistema circadiano de
realimentação e retorno.
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então um pedaço do céu por toda parte, dentro de você. A energia
da luz e os carboidratos (açúcar) que você come mantêm até a
bactéria simbiótica que vive nas profundezas de seu ser crescendo.
E, como recompensa por ser um bom hospedeiro, elas o mantém
crescendo também.
Nós e todos os outros seres vivos da Terra somos verdadeiros
seres da luz.
Para dar algum sentido às “doenças” como obesidade, diabetes,
doenças cardíacas e câncer, tudo o que você precisa entender são
suas conexões fisiológicas com a Terra, o sol e o céu. A menos que
um micróbio, vírus, toxina ou tigre peguem você de jeito, todos os
outros “estados de doença” podem ser explicados pela identificação
da função que aquela “doença” específica pode ter tido na cadeia
evolutiva, e pela localização do estímulo cultural moderno que
desencadeou a resposta fisiológica ancestral. Nós, como
pesquisadores, fizemos isso com a obesidade e o diabetes, em
relação à variação sazonal no estoque de alimentos e na duração
do dia. Fizemos isso com doenças mentais, infertilidade e perda de
sono. Ao examinarmos a alimentação, o sono e a reprodução,
descobrimos que o câncer e as doenças do coração também têm
uma explicação biofísica. Estamos prontos a apostar que tudo o
mais também pode ser explicado.
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ambiente alterado, por sua vez, muda o organismo – que, de novo,
altera o já alterado ambiente, que certamente transforma ainda mais
o organismo, e assim sucessivamente.
Aceitando essa premissa como a regra fundamental da via, vamos
ao Mundo das Margaridas, onde as únicas formas de vida que
existem são margaridas pretas e brancas. No início desse nosso
hipotético Mundo das Margaridas, quando está escuro e frio, uma
margarida preta possui vantagem seletiva, pois consegue absorver
toda e qualquer luz solar disponível, por menor que seja. Em outras
palavras, como ela tem calor suficiente para se reproduzir, pode
espalhar a característica da cor preta. As margaridas brancas não
conseguem bons resultados porque não conseguem absorver calor
suficiente para florescer e se reproduzir.
Temos aqui uma dose de darwinismo puro: é a proliferação da
característica da cor preta (ou seja, o crescimento de mais
margaridas pretas) que aumenta a temperatura do mundo o
suficiente para que as margaridas brancas possam começar a
florescer. Quando as margaridas brancas se multiplicam, o mundo
começa a esfriar de novo, e aí as margaridas pretas florescem
novamente.
Aqui, o princípio importante de Darwin é que, quando as
margaridas brancas começam a tomar conta do mundo, é sinal de
que a temperatura do planeta já chegou ao ponto em que o fato de
ser preta não confere mais uma vantagem seletiva ao outro tipo de
margarida. No Mundo das Margaridas original, a alteração do meio
ambiente que resulta da proliferação de uma característica
específica acaba por reduzir a vantagem daquela mesma
característica. Em outras palavras, a vida se auto-regula. Todos têm
uma chance.
Embora esse argumento possa parecer muito restrito à questão
do controle do clima, seus princípios se aplicam a qualquer variável
ambiental que possa afetar o crescimento. E qualquer pressão
seletiva que pode afetar a liberação de hormônios afeta o
crescimento.
Agora, você está começando a perceber aonde queremos chegar.
Essa auto-regulagem é uma propriedade do sistema da vida
como um todo,intrinsecamente atrelado ao seu ambiente. Além do
mais, a evolução dos organismos e de seu ambiente são tão
intimamente ligadas que ambos formam um único processo
individual. Plantas, pessoas, animais, rochas e céu, tudo é uma
coisa só, um organismo físico gigante que depende tanto da energia
solar como do alívio do sol.
O calor do sol, que as margaridas absorvem, sempre aumenta.
Isso provoca movimento no ar, o que sempre significa vento. O
vento
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provoca ondas no oceano. As microalgas presentes na água que
bate podem viajar até alturas que chegam a 4,6 mil metros,
enquanto os sulfitos que elas contêm recolhem o vapor d’água
presente nos pontos quentes das margaridas pretas e formam
nuvens. Isso significa que as nuvens possuem vida. Enquanto as
algas se reproduzem nas nuvens, a 4,6 mil metros de altura, elas
produzem calor, que provoca chuva. A chuva esfria o planeta ao
mesmo tempo, para que todo o processo recomece.
E onde é que nós nos encaixamos, nesse sistema de vida
aspirante, suspirante e multiorgânico?
A maioria de nós perambula pelo mundo se esquecendo que é
parte dele; a verdade, porém, é que nós vivemos no Mundo das
Margaridas. Quando você caminha pelo jardim ou no parque,
enquanto suas pernas roçam as plantas, as plantas enviam umas
às outras moléculas de comunicação – os feromônios que avisam
que você está vindo. Quando as plantas que estão à sua frente
recebem essa mensagem molecular das plantas que você acabou
de saltar, passam por uma alteração bioquímica: tornam-se
túrgidas. Essa rigidez é um mecanismo de autodefesa, que as
protege de quaisquer danos que você possa causar. Para as
plantas, o sacrifício de algumas em favor da maioria sigfnifica uma
chance na luta para serem a maioria.
Os princípios darwinianos da seleção natural e das características
favoráveis são uma combinação ainda mais poderosa quando você
os expressa assim: os tipos de vida que deixam o maior número de
descendentes acabam por dominar o seu ambiente. Aí, realmente,
passa a ser um caso de “ter cuidado com o que você deseja”,
porque, ao espalhar as características que lhe deu o predomínio,
você automaticamente garante que aquela característica se tornará
a menos valiosa. Nunca se esqueça das margaridas pretas, e de
que as mudanças que um organismo provoca no ambiente podem
ser favoráveis ou desfavoráveis ao crescimento.
É precisamente o que está nos acontecendo agora.
Quando descobrimos as utilizados do fogo e o levamos para
dentro das cavernas, o excesso de luz durante a noite suprimiu
nossa melatonina. A falta de melatonina, que normalmente
suprimiria os hormônios sexuais como o estrogênio e a
testosterona, aumentou a fertilidade daqueles que foram
suficientemente espertos para dominar o fogo. Nossas
características nos tornaram, então, naturalmente escolhidos, pois,
com o aumento da fertilidade, deixamos mais descendentes.
Pág 52
No entanto, quando esses descendentes descobriram a
eletricidade e todo mundo passou a poder deixar as luzes acesas o
tempo inteiro, a mesmíssima característica que nos tornou os
sobreviventes líderes – nossa capacidade de controlar o ambiente –
“mudou de novo a temperatura do ambiente”, por assim dizer.
Ao levar as coisas longe demais, ao transformar a noite em dia,
cruzamos a fronteira. E alteramos novamente, de maneira
fundamental, os requisitos para a homeostase. No passado, os
hormônios extras – insulina, estrogênio e testosterona –, que
permitiam que nos reproduzíssemos durante o período de
escuridão, ampliaram nosso potencial reprodutivo ao nos conseguir
“dias” a mais, que os outros animais não tinham. Com isso, todos os
nossos hormônios sexuais em excesso não são suprimidos pela
melatonina normalmente controlada pelo planeta, porque as luzes
estão sempre acesas. Os hormônios sexuais fornecidos pelo fogo
aceso, que nos tornaram capazes de procriar o ano inteiro, agora
provocam o crescimento desordenado do câncer. Mais uma vez,
estamos ameaçando o equilíbrio. Exatamente como no Mundo das
Margaridas, a característica que nos deu condições de deixar mais
descendentes – maior fertilidade em função da não supressão da
melatonina pela luz – agora auto-regula nossa população através
do câncer.
A natureza odeia coisas boas em excesso.
O mesmo princípio se mantém quando analisamos o advento da
agricultura. Aqueles que foram espertos o suficiente para gerar um
estoque de plantas (carboidratos) o ano inteiro e conservá-los para
a época da fome (o inverno) foram recompensados com mais filhos.
No início, também, a dieta com maior quantidade de carboidratos,
que aumentou nossa insulina, aumentou também as chances de
termos gordura corporal para o inverno. No entanto, à medida que a
característica de se manter gordo o ano todo se espalhou, a
quantidade de insulina que precisávamos por apenas três ou quatro
meses no ano passou a causar novos problemas, com a obesidade
seguida de diabetes. Toda vez que um organismo conquista um
diferencial, o ritmo natural da vida – um passo à frente, dois para
trás – segura esse diferencial. Isso tem a ver com equilíbrio.
A vida dança. Nunca fica parada.
VOZES ALIENÍGENAS
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padrão de explosão de neurotransmissores dentro de sua
consciência, que vem sendo afiado há milênios. Essa voz é o
“instinto”.
O sono é um instinto.
Quando você está cansado, seu instinto é dormir.
Por que você luta contra isso?
Se você for bem-sucedido demais, a natureza vai lhe roubar seus
descendentes de qualquer jeito.
Todo mundo sabe a verdade. E a gente sabe num nível tão
profundo que, em toda nossa “arte” humana, desde o desenho
animado mais primário, as plantas e os animais cantam e dançam,
e as nuvens sorriem. Não os estamos antropormofizando; estamos
simplesmente relembrando como as coisas eram. Pense nas
margaridas em O Mágico de Oz, cantando: “Saia do escuro e venha
para a luz”. É absolutamente assustador como o “plano do jogo” é
intrinsecamente tecido nas malhas de nosso tipo de vida. Tão
estranho é o conceito, tão completa a amnésia de nossa espécie,
que lhe oferecemos uma pequena homilia:
Se você não dormir a noite inteira, talvez consiga terminar o
trabalho.
Se você não dormir por uma semana inteira, não apenas o seu
trabalho vai sofrer: você pode morrer.
HOMENS DE BRANCO
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definidas através de seus sintomas. Mas esse método é tudo que
eles têm.
É por isso que Mevacor, Provachol, Tamoxifen, Raloxifene,
Meridia e o grande Fen-Phen ressuscitado, ao lado do Prozac,
encabeçam a lista dos mais vendidos. Esses “remédios” obliteram
os sintomas de um mal maior, mais insidioso e mais invasivo, que
ainda precisa ser identificado pelas pessoas e pelos profissionais
que cuidam da sua saúde. A sabedoria médica atualmente aceita
não passa de um festival de imprecisões misturadas, para encobrir
o fato de que eles não têm sequer uma pista da verdadeira razão
pela qual estamos todos morrendo. A única esperança que os
médicos e pacientes têm é que os pesquisadores inventem uma
nova droga ou terapia genética.
MOSTREM O DINHEIRO
SONO DE FÉ
PARTE II
NÃO ESTAMOS
SOZINHOS
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TRÊS
Uma autópsia da Terra:
O meio ambiente controla a genética
da obesidade
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rotação de nosso planeta, até onde nossas mentes e corpos podem
registrá-lo. Virtualmente, interrompemos a órbita do nosso planeta
em torno do Sol, assim como interrompemos sua rotação.
Abolimos o inverno.
Agora apenas nós, em toda a galáxia e no universo, ficamos em
pé.
O inverno, ou qualquer período de frio, é algo muito importante na
evolução. A adversidade (neste caso, o frio) é um dos principais
agentes motivadores. Pense na forma como você lida pessoalmente
com a sensação de frio: você faz tudo o que estiver a seu alcance
para se aquecer. Seu carro quebra na neve, você encontra logo um
lugar para esperar o socorro, bola um plano para consertá-lo e a
lembrança do incidente permanece dentro de você, mudando para
sempre o seu comportamento. Os vencedores, em qualquer loteria
evolucionista, são os que resolvem problemas. Se todas essas
mudanças ocorreram dentro de você por causa de um
inconveniente isolado – o fato de seu transporte/abrigo ter quebrado
na neve – imagine o que milênios de gelo e neve fizeram à nossa
espécie, em termos intelectuais.
Tudo o que evoluiu em nossa fisiologia e em nosso intelecto é,
literalmente, direcionado para luz e escuridão, quente e frio. Assim
como o conteúdo mineral de nossos ossos, idêntico à poeira de
estrelas, é testemunho de nossa origem extraterrestre, as células
fotoperiódicas em nosso sangue nos ligam ao Sol e à Lua. Somos
sempre, a cada minuto de cada dia em nossa existência terrena,
uma parte integral disso tudo. Até mesmo o propalado “aquecimento
global”, que vivemos estudando, está fora do nosso controle.
Quando o nosso planeta esquenta, o que ocorre a cada dez ou
quinze mil anos, tudo germina e prolifera, até alcançar um
verdadeiro estado febril – e depois, previsivelmente, a febre “se
parte” e o frio entra em cena, para esfriar e exterminar o excesso de
vida. Pense nesta grande virada do pêndulo como um botão
cósmico que liga tudo outra vez, para que a dança comece de novo.
No último século, após sobreviver a muitas, muitas idades do
gelo, começamos a viver num planeta com múltiplos “sóis”, como os
personagens da história de Isaac Asimov. Em vez da escuridão do
eclipse à tarde, que os levou à loucura, no entanto, nós criamos a
manhã à meia-noite. E pode acreditar isto está nos levando à
loucura. Todas as formas de vida precisam adormecer para poder
sobreviver à escuridão e ao frio, ou perderão a capacidade de
planejar e adaptar-se. Os estudos da hibernação provam que a
aprendizagem e a retentividade melhoram nos animais que têm
permissão de encontrar algum alívio da vida.
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Durante longos períodos de frio, nossos ancestraiss dormiam aqui
e ali durante semanas seguidas de cada vez, em cavernas escuras,
desacelerando as funções metabólicas para economizar energia,
quando o alimento era escasso. Este sistema espelhou, ao longo de
toda uma revolução em torno do Sol, o mesmo plano de jogo que
utilizamos a cada rotação para dentro e para fora do sistema solar.
Falando em termos de “padrões”, o dia e a noite são “versões
reduzidas” do verão e do inverno. Ao longo dos milênios, passamos
por períodos de hibernação e gestação que sempre terminavam na
primavera, quando o alimento era fresco e abundante. Nosso
primeiro encontro com o “controle da energia” ou, mais
precisamente, com o fogo, mudou tudo isso para sempre. A luz que
vinha do fogo era suficiente para criar o verão em nossos ovários o
ano inteiro. A partir do instante em que todos esses hormônios
sexuais abundantes para a reprodução nos mantiveram acordados
o inverno inteiro, por suprimirem a melatonina, nós deixamos a
família da Terra – para nunca mais voltar.
O SALTO QUÂNTICO
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Biofísica, portanto. A energia da luz solar – como os fótons, o calor
(temperatura) que os fótons produzem e a gravidade
eletromagnética a que estamos sujeitos – controla cada milímetro
do metabolismo de energia e da reprodução, no nível molecular,
aqui na Terra. A luz, não importa a forma que tome – seja ela uma
partícula ou uma onda – provoca reações bioquímicas maciças em
cascata em todas as formas de vida, exceto à noite, quando todas
as coisas descansam da luz.
O grande problema de cancelar a noite e o inverno está numa
questão de dualidade: yin e yang, para cima e para baixo, aqui e lá,
esquerda e direita. O dia precisa da noite para existir. A primeira
parte de toda equação só existe por causa da existência da
segunda parte. No universo, a simetria é tudo que existe.
Verão/inverno, primavera/outono, luz/escuridão, branco/negro,
quente/frio, homem/mulher, mortos e vivos – todos têm um ao outro
para agradecer por sua existência. Os físicos quânticos de
vanguarda acreditam que o Universo é feito de energia, em padrões
que obedecem a uma “ordem de simetria”. Faz sentido para nós. A
teoria quântica líder atualmente é até chamada de supersimetria. Se
a supersimetria é uma lei quântica cósmica, pode apostar que é
uma lei biológica também.
Toda espécie de vida, tal como a conhecemos, baseia-se nos
princípios da biologia, que, por sua vez, baseiam-se nos princípios
da bioquímica. Em qualquer reação química, a forma como as
moléculas se ligam às outras moléculas, ou a forma como as
células distribuem a polaridade dentro e fora de todas as reações
químicas, continua a ser regida pelas regras da atração elétrica. As
reações de atração e de polarização, que são a marca registrada da
bioquímica, são definidas pelos princípios da física que utilizam.
Tudo o que estamos mostrando, em nossas teorias sobre o
metabolismo da energia, é que, nessa hierarquia, o sol é o gerador
de toda a vida e energia básicas. O sol é o principal controlador de
todo tipo de vida, simplesmente por causa da estrutura da matéria.
Existem dois ramos principais da física: a newtoniana e a quântica.
A física newtoniana se concentra nos mecanismos – a maçã em
queda sempre atinge Newton na cabeça, e se você fechar o punho
e socar alguma coisa, existe uma equação para mensurar a força
do soco.
A física quântica tem mais chances de explicar o QI e a telepatia.
A diferença teórica entre as previsões mecânicas da física
newtoniana e as previsões da mecânica quântica é que as mesmas
condições experimentais podem levar a vários resultados finais
diferentes num mundo quântico – mas nunca num mundo
newtoniano.
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A imprevisibilidade da vida, além do domínio da mecânica
newtoniana, é explicada pela teoria das cordas. Trata-se de uma
noção romântica, porém não totalmente infundada. Segundo ela, a
música da vida é, na verdade, uma função de um universo
formado por cordas, todas elas vibrando.
De acordo com a teoria das cordas, toda vida emana da mesma
estrutura fundamental: uma corda esticada. Assim, um número
infinito de resultados são possíveis para qualquer situação, por
causa das diferentes maneiras como a corda fundamental pode
vibrar, da mesma forma que diferentes harmonias estão presentes
no som emitido por uma corda de violão. Como há um número
infinito de vibrações possíveis, é razoável que haja um número
infinito de resultados para o mesmo conjunto de condições iniciais.
A compreensão da supersimetria e da teoria das cordas dá um
novo sentido à idéia de que a vida é um jogo de dados.
A única esperança de possuir uma perna com que ficar de pé
(todos os trocadilhos são intencionais) é uma coisa chamada teoria
do caos. A teoria do caos sustenta que os eventos ou ocorrências
que parecem mais aleatórios ou sem sentido são, na verdade,
bastante previsíveis, se você puder se distanciar deles o suficiente
para observá-los. Sustenta, também, que, ao longo do tempo, tudo
possui um padrão de comportamento genuíno, embora difícil de
discernir. Se partirmos dessa premissa, podemos compreender os
enigmas da doença na medicina. Só precisamos aprender a
melodia para apreciar a música.
Já que somos, parte por parte e até os ossos, apenas uma ínfima
peça do universo, que existe dentro de um sistema de leis como a
do caos e a da simetria, nossa fisiologia e nosso ânimo também
devem ser regidos por elas. Essa dualidade, ou simetria, existe para
nós como equilíbrio.
Em termos harmônicos, somos parte de uma música maior. O tom
em que cantamos é escrito pelos ritmos naturais de nosso
ambiente.
A única maneira de permanecer no jogo ou de continuar estável é
ser capaz de rolar com os golpes. Todos os sistemas que funcionam
hoje para realizar as ações compensatórias constantes, necessárias
à sobrevivência foram desenvolvidos pela “inteligência” adaptativa,
em resposta às pressões ambientais ao longo de milênios.
Nenhuma característica ou
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comportamento é caprichoso. Viver ou continuar vivo é exatamente
como ficar de pé numa prancha sobre um tronco. Só que, nesse
caso, se você perder o equilíbrio, a queda é longa.
E não há sobreviventes lá embaixo.
Nossa viabilidade, como forma de vida, significa que nossa
capacidade de responder às estações do ano, em termos de
comida e reprodução, é tudo que pode nos garantir uma chance de
terminar no topo, no sentido darwiniano. É por isso que nossos
genes possuem interruptores de “ligar e desligar”, controlados pelos
hormônios, que respondem aos sinais ambientais. Estamos em
sintonia fina com a sobrevivência, ao dar respostas evento a
evento, pois o único fato certo na natureza é que as circunstâncias
mudam. Sem esse sistema, não poderíamos variar nosso
comportamento em sincronia com o imediatismo de cada
ocorrência. A vida é uma dança.
Nós escutamos a música e gingamos.
As vibrações vindas do ambiente são captadas pela interface
hormonal que chamamos sistema endócrino. Esse sistema
endócrino age como o software que aciona um computador
orgânico chamado corpo/cérebro. A quantidade de luz
(luminosidade, temperatura e eletricidade) e de gravidade
(magnetismo) á qual você é exposto é o programa que roda o
software. Sob os auspícios deste software hormonal, que aciona os
interruptores dos genes que controlam a máquina nanossegundo
por nanossegundo, você se equilibra na prancha sobre o tronco.
Essa “submáquina humana” inteira é parte integrante da máquina
maior do ambiente, ou biosfera. Todo ser vivente é uma máquina
interativa ou biocomputador, programado para a inteligência
adaptativa. Isso significa que a definição de “vida” é a capacidade
de aprender e mudar em resposta às experiências. Esse sistema
decisório baseado na experiência permite que cada forma de vida
mude em resposta a todas as outras formas de vida, porque os
hormônios controlam seu comportamento e seus genes.
As atitudes que você toma, ao longo de um dia, não são
realmente decorrentes da livre vontade. São, ao contrário, um
produto do “pensamentoware”. Os elementos presentes no
ambiente controlam os processos hormonais em seu corpo, que
programam seu cérebro para controlar seu comportamento. Dessa
forma, um cérebro sem um corpo não possui mente, mas um corpo
sem um ambiente não possui cérebro. A base de gordura flutuante
naquele corpo é, na verdade, uma resposta imunológica que o
protege e o torna viável em todas as estações do ano.
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Seu comportamento em relação às compulsões alimentares e ao
apetite é simplesmente uma resposta imunológica também.
Tudo ao redor com o qual coexistimos se equilibra em tensão
conosco. Imagine duas pessoas, num ginásio, jogando uma pesada
bola para a frente e para trás. Quando duas pessoas jogam cath
com uma bola pesada, elas são mais ou menos empurradas para
trás, por causa do peso. A constante troca de peso faz o jogo andar.
O mesmo acontece com a vida: para a frente e para trás, para a
frente e para trás. Para permanecer no jogo temos uma existência
circunscrita a um pequeno conjunto de opções. Considere essas
opções como sendo um “campo de jogo”. As horas de luz a que
você fica exposto controlam os interruptores genéticos reais de
“ligar e desligar”, a atividade enzimática e, o que é mais importante,
o crescimento de dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em
suas entranhas. Essas “meninas” são a chave da vida, da morte e
do manequim que você usa.
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reproduzimos, geramos mais “condomínios” para elas morarem.
Esse princípio é o motivo pelo qual as mulheres costumam ter
diarréia durante o período menstrual, quando seus níveis hormonais
estão estáveis e os bichinhos estão abandonando o navio
afundado.
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Nossa co-evolução é só um caso de domesticação, de ambas as
partes. Ao longo de milênios de simbiose entre nós e elas, nossos
sistemas imunológicos humanos evoluíram em resposta à
orquestração delas. Elas nos deram um sistema imunológico para
funcionar como um mecanismo autocontrolado e também como
defesa do território delas. Para nós, o sono na verdade é só uma
forma de “diminuir o rebanho”. As colônias de bactérias são
exatamente iguais às criações de gado bem-sucedidas, onde se
atinge a homeostase comendo ou vendendo só o suficiente para
manter o rebanho administrável. Nossa forma de domesticar
bactérias funciona do mesmo jeito. Tanto o rebanho quanto o
rancheiro se beneficiam. A tática evolucionista do sono é só uma
adaptação esperta, que nos permite ter vantagem sobre elas, uma
vez a cada rotação planetária. A desigualdade, em qualquer guerra,
só surge quando um dos lados pára de avançar; assim sendo, sem
sono não há vantagem.
As expressões imunológicas, ou citocinas, que sucedem os altos
níveis de endotoxinas, podem atuar como neurotransmissores e
literalmente derrubar a gente também. Ao torná-lo incosnciente, elas
fecham seus olhos. E olhos fechados significam que aí vem
melatonina – e mais tarde, no meio da noite, prolactina. Ambos os
hormônios intermedeiam a função imunológica através de outras
citocinas, chamadas interleucinas. Em vez de nomes, as
interleucinas possuem números, como IL-1, 2 ou 3, provavelmente
porque existem zilhões delas. Altos níveis de IL-2 são sempre
encontrados nos estados de sono, até mesmo naqueles de
decorrem de doenças. Logo que você adormece, a onda de
melatonina estimula a atividade dos leucócitos, nesse caso voltada
especificamente para responder a patógenos como as bactérias
que vivem dentro de você.
Desnecessário dizer que, seja porque alguém fechou os olhos ou
porque o sol está do outro lado do globo, escuro é escuro; e quanto
mais escuro, melhor para a produção de melatonina. O sono
doentio é mais intenso e mais relacionado ao fenômeno da febre,
através das IL-1 e 6. Você precisa dormir quando está doente, ou
não sobreviverá a um ataque da “outra”. O sono é o momento em
que a melatonina e a prolactina entram em cena para fabricar
leucócitos, células T e células NK (assassinas naturais). Um
intestino “fora de ordem” – ou seja, com pouca quantidade ou com o
tipo errado de bactérias atacando um relógio interno quebrado – é
sinal de um sistema imunológico seriamente danificado.
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Por isso, não dormir de propósito, quando escurece, é o mesmo
que destruir um ecossistema ancestral.
Lembre-se de que a co-evolução significa que devemos dançar,
não pisar nos dedões.
Essas bactérias o mantêm vivo; é claro que por razões próprias,
mas ainda assim é vida. Tudo o que elas querem é um pouco de
açúcar, um pouco de luz e alguns hormônios sexuais, para controlar
seu ambiente interno – que, por sua vez, controla seu ambiente
externo.
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Um grande segredo: a vida é baseada num paradoxo. A
estabilidade de funções necessárias para permanecer vivo só é
possível através da mudança constante em resposta ao ambiente.
Os hormônios produzidos por essas glândulas – seus hormônios
HPA – são, por sua vez, chamados a atuar. Esses hormônios
percorrem toda a escala, desde os esteróides sexuais, como
estrogênio e testosterona, ao cortisol, ao hormônio do crescimento
humano e à leptina, presente em sua base de gordura. Esses
hormônios acionam os interruptores que desligam e ligam
instantaneamente as funções vitais. Os hormônios fazem isso ao se
fixarem a “regiões promotoras” nos filamentos de DNA chamados
genes, e acionarem os interruptores que estimulam a ação
genética.
O fato de o gene produzir ou não sua proteína é função de ser ou
não acionado por um hormônio, fator de crescimento, pelo sol ou
por um impulso elétrico. As proteínas produzidas por esses genes,
quando ligados, encaixam-se em receptores em todas as suas
células – que, por sua vez, enviam as mensagens ao núcleo da
própria célula, para acionar outros interruptores, e assim
sucessivamente. Esses comunicados são efêmeros. Sua rede
hormonal toma decisões em meio segundo, para responder às
pressões ambientais. Se algum desses interruptores enguiçar ligado
ou desligado, a natureza o considera doente demais para fazer
parte do projeto.
É quando seus interruptores enguiçam – ligados ou desligados –
que a doença ocorre. Níveis elevados de qualquer hormônio, se
mantidos por muito tempo, são instintivamente inadaptáveis para
manter seu equilíbrio em cima da prancha, sobre aquele tronco. Na
nossa sinfonia química, qualquer nota hormonal sustentada destrói
a harmonia. Dessa forma, estrogênio elevado, sem progesterona
caçadora para diminuí-lo, causa câncer; e níveis elevados e
crônicos de insulina, entra dia e sai dia, levam às doenças
cardíacas, ao diabetes e ao câncer. Como perdeu o ritmo uma vez,
você está fora do esquema e perde o equilíbrio. Aqui começa a
queda – em desgraça.
ESTRANHAS VIBRAÇÕES
Como acima, embaixo. As mesmas cadeias que atiram elétrons,
quarks e neutrinos em dez diferentes dimensões, que fazem os
átomos, que fazem as moléculas, que fazem os hormônios e
recebem vibrações das ondas
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de luz e da gravidade, tocam a música do cosmos para nossos
corpos, através de nossos receptores hormonais.
Somos como diapasões. Vibramos – literalmente – no impacto
com o ambiente.
As vibrações que conhecemos como verdadeira música provocam
vibrações verdadeiras, que atingem os neurônios no cérebro
através do tímpano e provocam emoção. Em seu livro A Medusa e
o Caramujo, Lewis Thomas disse: “A música é o esforço que
fazemos para explicar a nós mesmos como nosso cérebro funciona.
Ouvimos Bach em transe porque isso significa ouvir uma mente
humana.” Em 1976, Leonard Bernstein tentou aplicar o trabalho de
Noam Chomsky com a linguagem ao seu esforço para encontrar
uma estrutura para a resposta humana à música. Chomsky
descobriu que bebês com apenas quatro meses de idade sempre
preferem músicas com intervalos constantes de ritmo; a natureza
também.
Em seu livro How the mind works, Steven Pinker utilize a
terminologia musical de “prolongamento e redução” para definir a
forma como as melodias são dissecadas. Ele define seu processo
como “o fluxo musical captado ao longo de frases, com a tensão
sendo construída e liberadas em passagens cada vez mais longas
ao longo do curso da peça – e culminando com uma sensação de
repouso ao final... A tensão aumenta à medida que a melodia se
afasta das notas musicais estáveis, em direção às menos estáveis,
e é descarregada quando a melodia retorna às notas estáveis”.
Nas palavras do inesquecível Frank Sinatra: “É a vida.”
Para citar nós mesmos; “É o caos.”
Da mesma forma que a música se satisfaz ao conduzir tensão e
resolução ao longo de intervalos instáveis e estáveis, seu
metabolismo banquete-ou-fome tem a mesma necessidade de
intervalo e ritmo,caso contrário você ficará doente. Seu sistema
imunológico e suas bactérias, num período de 24 horas, têm a
mesma necessidade de tensão e resolução. O mesmo acontece
com sua mente. Em seu aparelho de CD no nível molecular, existe
e tem de existir um ritmo que aumenta e diminui, para medir a sua
rotação no planeta – seja ela a batida de seu coração em 4/4, seu
ritmo circadiano ou seu ciclo menstrual. De outra forma você não
poderia lidar com os ataques. E a chave de tudo é descobrir uma
forma de lidar com os ataques.
Sua consciência e vontade são formadas por interações
complexas entre o ambiente, os hormônios e o comportamento,
todas as quais
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acionadas por cronômetros. Estamos dizendo que essas mesmas
interações existem entre você e o ambiente, e que tudo que os
sistemas circulares de resposta fazem é monitorar e registrar a
melodia. A música pode soar como Wagner ou Pachelbel, mas
precisa ser música, deve parar e continuar, ou então não é
adaptável. E o que não é adaptável, de acordo com nossas
definições anteriores, quase sempre acaba em morte, ainda que
isso aconteça por suas próprias mãos. Quando os esquizofrênicos
ouvem vozes, essas vozes, essas vozes invariavelmente dizem;
“Mate-se.” Como precursor da morte, o comportamento não
adaptável quase sempre significa não reprodutivo, e isso é o que
faz soar um alarme na natureza. Quando você não se reproduz,
você não conta, no grande esquema das coisas aqui na Terra. É por
isso que o câncer, o diabetes tipo II e as doenças cardíacas sempre
acompanham a obesidade, que sempre significa envelhecimento
acelerado, em anos planetários. No mundo real, a vida durava
enquanto durava o potencial reprodutivo. Um período de 25 a 30
anos era suficientemente longo para duplicar o DNA e a cultura.
Agora, vivemos demais e comemos demais para nossos marcos
antiquados.
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aciona os botões e dials que fazem com que o cérebro pareça tão
competente. Todos os elementos do sistema imunológico –
entranhas, pele, gordura, linfa, cérebro e glândulas – reconhecem,
comunicam, memorizam, reagem e até planejam sobreviver às
mudanças na Terra que foram inseridas em nossa programação ao
longo de milênios de experiência. Essas capacidades significam
que o sistema imunológico é tão sensível quanto você acredita que
você próprio seja.
Também faz sentido o fato de 80% do sistema imunológico estar
localizado no intestino, porque o intestino era originalmente o nosso
cérebro. Enquanto deslizávamos nas rochas, antes do “cérebro na
cabeça”, os neurotransmissores que conhecemos hoje, como a
dopamina, a serotonina, e a norepinefrina, além de hormônios como
adrenalina e a insulina, rodaram O Projeto a partir de nosso plexo
solar.
A verdadeira chave para o impressionante poder e controle que o
sistema imunológico possui está na compreensão de que ele é
completamente móvel, assim como o indivíduo livre e pensante que
você acredita ser. O sistema imunológico interno é, pelo menos
igual. Seu sistema imunológico controla seu comportamento ao
controlar a atividade dos neurotransmissores. Todas as células
imunes possuem receptores que lêem tanto os neurotransmissores
quanto os hormônios que controlam o fluxo de energia e os
hormônios sexuais. Da mesma forma, as expressões imunológicas
chamadas citocinas são ativas em suas entranhas, em seu
cérebro, em sua base de gordura e gônadas.
É o sistema imunológico, em estreita cooperação com a pressão
ambiental e bioecosfera, que pode marcar o Dia do Juízo, seja por
falta de defesa ou em função de um ataque completo ao seu corpo.
Se você perde o equilíbrio em relação a outras formas de vida no
cosmos, o sistema imunológico vai reagir para compensar isso.
Muitas vezes, as causas reais daquilo que percebemos como
doença são apenas os mecanismos compensatórios. Quando você
sente a garganta arder, em conseqüência dos padecimentos de
uma infecção viral, a dor que você sente não vem, de forma
alguma, do vírus; em vez disso, é a dor das células agonizantes,
sacrificadas (assassinadas) por seu próprio sistema imunológico. O
mesmo ocorre nas dores do corpo, febre e dor de cabeça. Não é o
patógeno, de jeito nenhum, o que o torna doente. É o sistema
imunológico planetário dentro de você que o torna doente, na
tentativa de livrá-lo de tecido infectado pelo vírus no ponto de
origem, que é a sua garganta ou seu nariz – tudo para restabelecer
a ordem em todas as coisas viventes. Se o vírus chegar até seu
estômago, seu sistema imunoló-
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gico vai sacrificar a parede do estômago para acabar com o vírus.
Aí você vai ter dor de estômago e diarréia, para aumentar seu
sofrimento.
SINTA FRIO
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que você possa armazenar gordura para a hibernação ou a
dormência. Dias longos significam o fim do verão e do alimento
abundante. Os ciclos curtos de sono dos dias longos se traduzem,
hormonalmente, numa necessidade maior de carboidratos, para
armazenar gordura, e desencadeiam uma reação em cascata dos
outros hormônios para fazê-lo dormir. A compulsão por carboidratos
é um precursor do sono ao qual ainda respondemos todas as noites
em que ficamos acordados até tarde. As tendências à hibernação
nos fazem tomar sorvete ou beber uma taça de vinho após um
longo dia. Lembre-se, o lanchinho no meio da noite nunca é um ovo
quente.
Aquele último alimento em que você pensa, que você quer comer
antes de desistir da luz, é sempre qualquer tipo de açúcar que caia
em suas mãos.
A produção de insulina é controlada pelos alimentos que você
ingere, mas o alimento que você quer é controlado pelo seu
sistema imunológico, em resposta à variação sazonal de luz
percebida por ele. Quando seu corpo e cérebro precisam dormir,
para manter a imunidade e a capacidade reprodutiva, a melatonina
e a prolactina precisam fluir. Temos receptores de melatonina até
nos ovários e testículos, que “lêem” os ciclos de luz e escuridão.
A melatonina é um potente antioxidante que, junto com a
prolactina, controla a imunidade enquanto você dorme. Sem o sono,
você se torna indefeso e auto-imune. Seu sistema imunológico
também, como qualquer outro mecanismo de vida, é dotado de uma
dualidade sagrada. As células Th1 e Th2 ficam em pé naquela
prancha, sobre aquele tronco, como as duas metades de uma
função imunológica. Um lado controla a defesa e o outro controla o
ataque, porque aquilo que chamamos de “seu sistema imunológico”
não pertence realmente a você, per se. A verdadeira entidade que
funciona como seu sistema imunológico é uma força sensível,
assustadora, inteligente, que lembra a proverbial figura da Morte, e
que conta seus pontos. Esse policial/porteiro espiritual realmente
existe para equiparar os pontos de tudo que é vivo. Na verdade, é o
sistema imunológico da biosfera, não o seu.
Você só conseguirá ser parte de todo o esquema se jogar de
acordo com as regras.
Isso quer dizer: levante junto com o sol, durma junto com a lua,
coma apenas a sua parte, frutifique-se e multiplique-se. É isso aí. É
para isso que você foi feito, nem mais, nem menos. Na verdade, a
evolução não reservou nada mais do que isso para você.
ARQUIVOS SEXUAIS
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outro mecanismo para que você desacelere. A transmissão funciona
perfeitamente a menos que você mantenha a pressão no acelerador
enquanto mantém o pé no freio.
Tenha em mente essa imagem.
Não somente você está indo a lugar algum como está destruindo
o seu carro. Sistemas circulares de resposta são mecanismos
delicados que lêem um sinal de um sistema no corpo e enviam de
volta para outro. Sistemas circulares de resposta negativa lêem um
sinal e controlam a reação nesse sistema como a transmissão de
um carro ladeira abaixo. Em geral, o sinal enviado em um sistema
circular de resposta negativo será pare, ou pelo menos diminua o
ritmo. Esses sistemas transmitem informações dentro de você e de
todas as outras espécies, e depois dão retorno ao ecossistema
mais amplo. Todos os chatos do Greenpeace estão certos. O
cosmos, o planeta, os pequenos animais e as pessoas estão todos
conectados biologicamente em um grande sistema circular de
resposta, igualzinho ao Mundo das Margaridas.
Se você estivesse no parque de sua cidade de tange, esses
sistemas teriam uma chance de fazer seu trabalho acuradamente.
Estar sentado diante de uma mesa de trabalho ou em uma sala de
reuniões, sob luz fluorescente, usando Calvin Klein muito depois do
cair da noite bagunça totalmente seus sistemas circulares de
resposta. De acordo com um recente estudo da revista Nature, até
sexo demais ou de menos muda o tamanho dos neurônios. Se isso
é verdade, sem dúvida podemos concluir que a quantidade de sono
afeta o apetite e a fertilidade, o que afeta o metabolismo. Todas
essas ações, juntas, são parte integrante do sistema imunológico.
AUTOCONTROLE
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que estamos no final da primavera ou no início do verão. O cheiro
faz suas glândulas salivarem, e você se lembra de ter comido uma
antes. E, como foi uma boa experiência, você toma a decisão de
comer outra. O açúcar atinge a veia porta entre seu fígado e o
estômago, e o pâncreas entra em cena, com uma grande injeção de
insulina. Justo quando o açúcar da fruta está cruzando a barreira
entre o sangue e o cérebro, para mandá-lo à Terra da Alegria,
aquela superinjeção de insulina, ao mesmo tempo, envia o excesso
de açúcar para a armazenagem rápida.
A armazenagem rápida em seu fígado e músculos não tem
condições de receber muita quantidade, porque você comeu aquele
outro tipo de fruta com larvas dentro e aquele arbusto com espinhos
e frutos, há cerca de uma hora. Então, em vez disso, a insulina
converte parte dessa fruta-pão em colesterol, e o resto é mandado
para sua coxa interna para armazenagem de gordura, porque, se
você come fruta-pão e bagos ou qualquer outra fruta, seu sistema
imunológico sabe que o inverno deve estar chegando – e, como
todo sistema imunológico também sabe, isso significa que em
pouco tempo não vai haver mais fruta-pão.
Dessa forma, a insulina e o açúcar armazenado sob a forma de
gordura chegam à sua perna (armazenagem de longo prazo). Você
come muito, e já ganhou uns dez quilos de gordura; por isso, a
leptina de suas células de gordura envia um sinal ao seu cérebro.
Essa leptina aciona um botão em seu cérebro, chamado
neuropeptídeo Y, que controla o apetite por carboidratos. Esse
apetite então se desliga.
Você para de comer, porque já tem energia suficiente, na
armazenagem de curto e de longo prazo, para chegar até o dia
seguinte. Esse é um sistema circular de resposta negativo – ou
seja, um programa autocontrolado que funciona dia a dia.
Existem também sistemas circulares de resposta de autoperpe-
tuação. Esses tendem a funcionar anualmente, ou a cada estação.
Por exemplo, se estamos no final do verão e os dias são longos, e
se você já tem mais de dez quilos de gordura e mais um bom
estoque na armazenagem de curto prazo, a história é muito
diferente. Trata-se de um conto de inverno. Em vez de um sistema
circular de resposta negativo, o positivo vai entrar em ação. Uma
cena adaptativa hormonal e comportamental vai ocorrer, porque
foram apertados os botões ambientais diferentes. Os dias em
setembro estão encurtando e, portanto, em vez de contar apenas
com o “sinal da luz”, a natureza inventou um sistema de bônus para
um dia literalmente chuvoso. O sistema circular de resposta positivo
em seus recém-adquiridos dez quilos significa que você pode
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continuar a engordar, impelido por sua base de gordura em
expansão, até que todos os carboidratos tenham realmente
acabado.
Isso vai enganar a resposta à luz e lhe dar um mês ou dois para
ficar realmente gordo. Só então a comida terá acabado
definitivamente até a próxima primavera, quando o planeta
despertará de novo. Assim sendo, o final do verão é a única época,
na natureza, em que você poderia ter bons estoques e dez quilos a
mais, proporcionados pela maior quantidade de luz e pelas noites
curtas.
A prolactina empurrada para o período do dia pelas noites curtas
suprimiu a leptina e deixou seu apetite por carboidratos (o
neuropeptídeo Y) “ligado”. Isso lhe deu dez quilos para manter a
bola rolando. Depois, a leptina de sua base de gordura assumiu o
controle para criar resistência à leptina.
Esse mecanismo de desativação da leptina serve ao propósito de
evitar que você fique querendo alguma coisa (açúcar) que acabou
há algum tempo e só estará disponível no próximo verão. Seus
receptores de leptina no botão do neuropeptídeo Y ficam inativos
devido à sobrecarga. Sem receptores para decodificar a leptina, é
como se não tivesse nenhuma, e seu apetite por carboidratos fica
permanentemente ligado, até que todos os carboidratos acabem.
Este mecanismo existe porque, na natureza, você nunca
engordaria, a menos que precisasse, porque todo o alimento iria
acabar.
O problema, no mundo em que vivemos, é que o alimento
(açúcar) nunca vai acabar.
Em nosso mundo antinatural, de verão e açúcar infindáveis, esse
“botão de excesso” de leptina fica com defeito. Em nosso mundo,
tudo o que você precisa fazer é ficar dez quilos acima do peso, para
que a leptina que flui de sua base de gordura em expansão faça
com que os receptores de leptina em seu cérebro deixem de
funcionar, criando a resistência à leptina e fazendo com que os
gordos engordem mais, porque as pessoas gordas estão sempre
com fome. Por quê? Porque o seu sistema circular de resposta
negativo está quebrado: seus receptores de leptina se exauriram, e
não há mais controle de sua compulsão por açúcar.
AGENDA OCULTA
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que você ingere. E também controlam o sono junto com a
melatonina e a prolactina. Para os primatas humanos, o alimento
existe num total de três possibilidades: proteína, gordura e
carboidrato.
Os caminhos de proteína, gordura e carboidratos, dentro do
corpo, são todos distintos. E três neurotransmissores muito
diferentes controlam o seu apetite por cada uma das três
substâncias. O controle da ingestão de carboidratos pelo
neurotransmissor NPY (neuropeptídeo Y) em nada se parece com
os controles de seu apetite por proteínas ou por gordura. O
consumo de carboidratos é parte de um metabolismo planetário de
energia, que é o mesmo para todos os organismos que têm
insulina. Os carboidratos são energia que pode ser armazenada, e
eles só podem ser armazenados através da insulina. É por isso que
você não consegue comer gordura e ficar gordo; mas você come
açúcar e fica gordo.
Nenhuma outra substância que você come provoca uma resposta
insulínica. Esses diferentes caminhos do açúcar e da gordura na
dieta são, e sempre foram, ditados pela interação dos hormônios,
em resposta ao ambiente e a seus níveis de estresse.
A insulina está de um lado, na prancha sobre o tronco, e a
epinefrina, o cortisol, o hormônio do crescimento humano e o
glucagon estão do outro lado. O equilíbrio entre os dois lados da
prancha é alcançado quando uma molécula de hormônio se dirige
para um receptor – em geral que lhe seja próprio, porém nem
sempre. Lembre-se de que a sobrevivência reside na comunicação
cruzada. Os hormônios e seus receptores são moléculas isoladas
de pesos diferentes.
“Ligando” é outro termo que designa qualquer molécula que adere
a um receptor – não apenas hormônios, mas também
neuropeptídeos do cérebro e dos intestinos e citocinas do sistema
imunológico. Lembre-se da metáfora do cadeado e da chave. As
moléculas do receptor são grandes e as moléculas do ligando são
pequenas. Ligare vem do latim e significa “aquilo que liga”. (Ligare é
também origem da palavra “religião”. Não se trata de coincidência.)
Os receptores flutuam à superfície, vindos de dentro das células,
como folhas de vitórias-régias com raízes bem compridas. Quando
as folhas das vitórias-régias recebem um chamado para “ir à
superfície” para ter uma interface, as raízes se esticam, para se
conectarem ao núcleo da célula. Um mecanismo chamado
quemotaxe guia a molécula parceira em perspectiva até o encontro
com o receptor, na folha das vitórias-régias. A quemotaxe funciona
igual ao raio trator, do filme Jornada nas Estrelas. Quando a
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molécula de hormônio, neurotransmissor ou expressão imunológica
(citocina) cai na vitória-régia, as “pétalas” respondem.
O receptor muda de forma na presença de um ligando. A molécula
do receptor, na verdade, abraça a chave química do ligando.
Quando isso acontece, o receptor começa a sacudir e tremer, e a
dança – ou mensagem – é transmitida enquanto o receptor e o
ligando vibram e murmuram – literalmente, não figurativamente. Em
Molecules of Emotion, Candace Pert diz que “uma descrição mais
dinâmica desse processo poderia defini-lo como duas vozes – a do
ligando e a do receptor – atingindo a mesma nota”.
Temos aí a música de novo.
Hormônios, neurotransmissores e citocinas são ligandos cuja
mensagem é traduzida pelo efeito de uma molécula cutucando um
receptor, até que a perturbação cria uma mudança que acomoda
tudo. A partir do momento em que o receptor domina a situação e o
“crescendo” acaba, a mensagem da molécula do ligando viaja
através da raiz da vitória-régia, bem abaixo da superfície, para
acionar interruptores no filamento de DNA dentro do núcleo.
Quando você deixa as luzes acesas, você come açúcar; seus
hormônios respondem de forma apropriada aos carboidratos que
você consome, o que finalmente afeta o DNA de todas as células de
seu corpo. É assim que uma espécie consegue se adaptar ao
ambiente e ao alimento disponível. Se a disponibilidade de um dos
três grupos alimentares muda, o animal vai acabar mudando
também. Portanto, se você tentar viver com apenas um dos grupos
alimentares e excluir os outros dois, acontecimentos ruins vão
suceder. Em essência, aqueles de nós que ainda não são capazes
de lidar com a mudança nos ciclos de luz e/ou no estoque de
alimentos vão morrer.
A exposição à luz artificial foi mínima durante a maior parte da
existência da humanidade; uma brasa ardente aqui, uma vela ali.
Dormíamos mais e não tínhamos acesso ao poder calórico do
açúcar e da farinha refinados. Agora, nossa existência de 24 horas
bem acesas, que substituiu a noite pelo dia, diz aos nossos
controles internos que o verão não acaba nunca, e essa mensagem
exige um banquete contínuo.
Então, banqueteamos-nos.
Porque o açúcar não acaba nunca.
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QUATRO
No gelo:
A evolução, a biofísica e o escuro
Sou parte do sol, como minha Eva é parte de mim. Que sou parte
da terra, meus pés o sabem perfeitamente, e meu sangue é parte
do mar.
– D. H. Lawrence
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complexo ou simples refinado; tudo não passa de açúcar, e para
qualquer organismo dotado da mágica molécula de insulina, isso
significa sobrevivência.
Os vermes lhe diriam isso, se possuíssem mente.
Ainda é objeto de debate descobrir o que, exatamente, seria um
carboidrato para o C. elegans, mas sabemos que ele o utilizava
para sobreviver, pois possuía um gene capaz de produzir insulina
quase exatamente igual ao nosso. O que significa que o tataravô de
nossas origens comuns, há centenas de milhões de anos, era
movido pelo mesmo combustível que nós, porque era o que o
planeta tinha para oferecer. A insulina é a razão pela qual o nosso
sangue pode ser usado como combustível por nossas células. Sem
a insulina, nossos tecidos passam fome, e os mecanismos celulares
e mitocondriais se desfazem em pedaços. Se a vida é lux, ficar sem
insulina é a escuridão.
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menos. Essas moléculas de duplo carbono liberadas depois que a
água se dissipa, através das lágrimas, do suor ou da urina, são
gordura corporal. Você pode concentrar muito maior quantidade da
energia dos carboidratos na forma de gordura leve. A quantidade de
gordura que você precisa armazenar, como mamífero, depende do
tempo que você planeja ficar sem comida e de quanto tempo você
precisa para se reproduzir. Isso nos traz de volta a questão da
sobrevivência.
O prolactina é o hormônio da sobrevivência. A maioria de nós
pensa que a prolactina só produz leite humano. Ela realmente faz
isso, mas seu papel mais importante é fazer com que possamos
sobreviver durante a nossa vida, pois ela controla o nosso apetite.
Como recém-nascidos, o primeiro gosto de sobrevivência que
sentimos é doce. Precisamos gerar gordura a partir do açúcar
desde o primeiro dia. O leite de todos os mamíferos tem um teor
astronômico de açúcar. O leite do seio é um fluido corporal rico em
carboidratos, incrementado com um pouco de proteína, para criar
as moléculas necessárias à função imunológica, e uma quantidade
enorme de cadeias de ácido graxo molecular, para produzir
hormônios que vão interagir com o novo ambiente da criança. É a
prolactina da mamãe, que não apenas cria nossa dependência do
sabor doce, tipo “a primeira dose é de graça”, mas cria também
nossa ligação com o sistema imunológico do planeta, ao alimentar
essa dependência. No mesmo nível de importância, a prolactina da
mamãe vai à estratosfera quando ela produz esse leite, porque
prolactina altíssima é sinônimo de um estado de ser auto-imune. A
auto-imunidade significa apenas que o sistema imunológico da
mamãe está trabalhando além da conta, despejando funções
imunológicas no leite do peito, para programar o sistema
imunológico do bebê com toda a memória coletiva que o sistema
imunológico da mamãe, assim como o de sua mãe e o da mãe
desta, vem transmitindo sobre seus ambientes, muito antes que o
bebê sequer tivesse um nome.
Enquanto a insulina nos torna capaz de desviar os golpes
quando lutamos com a natureza, ao armazenar energia do
sol/açúcar para usar mais tarde, a prolactina é quem realmente
controla nosso apetite pelo resto de nossas vidas, ao suprimir a
leptina – que, obviamente, é o botão que aciona o NPY, responsável
por nosso gosto pelos alimentos que podem ser armazenados.
Mesmo com a capacidade de armazenar carboidratos, a
sobrevivência – antes dos hortifruti e dos freezers – dependia
inteiramente da época certa de cada alimento, particularmente
durante a escassez provocada pelas mudanças do clima. Nosso
metabolismo banquete-ou-fome nos dava a dianteira.
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Nossos genes internos sensíveis à luz, movidos pelos céus, na
verdade “cronometram” o tempo necessário para produzir a
melatonina, de modo a dar à prolactina a “previsão do tempo”,
para que essa possa programar nosso apetite em sincronia com o
ciclo de rotação. A conseqüente duração da produção de prolactina,
a partir do relatório da melatonina, vai determinar se será
necessário ou não produzir prolactina no dia seguinte.
No inverno, o “relógio melatonina” faz o “timer da prolactina”
trabalhar um pouco mais à noite, o que, por sua vez, significa que
não secretamos prolactina durante o dia. Isso ocorre porque se a
prolactina for produzida durante o dia, ela não apenas suprimirá a
ação da leptina e deixará à solta o seu desejo por açúcar (numa
época em que não há açúcar disponível), mas também, no glossário
da natureza, significará que homens e mulheres estariam na
“lactação”. Graças, portanto, ao envelhecimento e aos relógios
enguiçados, todos nós, a essa altura, somos muito auto-imunes.
(Este é o efeito colateral de estar fora de ritmo que gera grandes
lucros para os fabricantes de anti-histamínicos).
A produção de leptina a partir de nossa base de gordura é o
“mediador graduado” que informa o NPY quais são nossos níveis de
gordura, e se ele deve ou não ativar nossa compulsão por açúcar. A
premissa é que, se você possui gordura suficiente, a leptina que ela
produz vai desativar o seu apetite por açúcar. Lembre-se dos caras
da fruta-pão. Quando a prolactina do dia suprime de sua base de
gordura, o NPY interpreta isso como “falta de gordura” – e seu
apetite por açúcar permanece ativado durante todo o dia e parte da
noite. Se você não dormir, e a luz (ou sua ausência), que acertaria
seu relógio de melatonina ao longo de todos esses ciclos, nunca
se apagar, você simplesmente continuará a comer açúcar e a
produzir gordura até explodir, porque seu relógio está andando
depressa demais.
Sua mola-mestra está quebrada.
É pessoal, é mais ou menos onde nós estamos agora.
Esse metabolismo banque-ou-fome, embutido no sistema
insulina/carboidrato, facilitava nossa sobrevivência ao armazenar os
carboidratos como gordura. Essa conexão programada com o
ambiente tornou possível a adaptação a um clima completamente
diferente, quando migramos para o norte, além da África. À medida
que seguíamos para lugares de climas cada vez mais frios, com
enormes variações em relação à abundância sazonal, a capacidade
que o nosso
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corpo tinha de marcar os ciclos de luz e escuridão assumia uma
importância ainda maior.
O fato de possuir uma conexão solar que controlava o momento
de direcionar nosso apetite para carboidratos e o nosso despertar
para a reprodução não foi apenas o que nos manteve vivos a cada
dia; na verdade, foi o que nos garantiu a própria vida humana.
Nossa sobrevivência, como espécie, dependia de comer o
suficiente para que pudéssemos nos reproduzir, e de fazer com que
a reprodução coincidisse com a primavera, quando haveria alimento
suficiente para manter vivos a mãe e a prole.
A subida aparição de um sol que nunca se põe está matando
aqueles de nós que evoluem mais lentamente, nos menos de
oitenta anos desde que foi criado – período que não é, pelos
padrões de hoje, sequer a duração completa de uma existência
humana. A ironia é que nós conseguimos usar o fogo durante pelo
menos 45 mil existências humanas somadas.
O trabalho arqueológico de campo desenterrou pontas de lança
de madeira de 300 mil anos atrás que pareciam ter sido
endurecidas pelo fogo; no entanto, levou muito tempo até que o
domesticássemos. Em algum momento dos 230 mil anos seguintes,
nós começamos a “viver” dentro de habitações, não apenas a
buscar abrigo para dormir ou se proteger da inclemência do tempo;
mas não há evidências de que o fogo tenha sido usado para
cozinhar até há uns 70 mil anos atrás. É mais ou menos o mesmo
período em que a arte das cavernas da era Paleolítica começa a
apresentar sinais de desenhos feitos a carvão.
Até aqui – depois do inverno gelado, escuro e sonolento de dias
curtos e de noites longas – o sol sempre voltava, as plantas
cresciam e os bebês nasciam. Os dias espelhavam os anos: a cada
revolução do planeta, da luz para a escuridão, quando o sol
desaparecia, tudo adormecia – até despertar de novo, assim como
o verão sempre se transformava em inverno e depois voltava
novamente. Era um sistema perfeito, até o homem dominar a arte
de transportar o fogo. Já que podíamos levar e finalmente recriar as
conseqüências de relâmpagos e trovões, tudo começou a mudar.
Com a energia portátil, podíamos estender o dia para nosso uso
internamente – à noite. Nenhum outro ser vivente podia fazer
aquilo. Nós, os filhos de Prometeu, distanciamo-nos assim das
outras formas de vida.
Foi essa luz após cair da noite, em bases regulares, o que fez os
ciclos de melatonina encurtarem o suficiente para deixar a
testosterona e o estrogênio virem à tona, que ótimo, o ano inteiro.
Essa mudança
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aparentemente simples apagou os sinais sazonais normais que
indicavam a época da procriação. Nossas estimativa é que paramos
de “hibernar”, ou dormir durante dias ou semanas a cada vez,
também durante a escassez de comida nos climas frios, porque
foram encontrados restos fossilizados de moluscos, crustáceos e
pequenos gamos em cavernas da Idade do Gelo.
Agora, então, vivíamos dentro de habitações, longe do gelo,
relativamente aquecidos e, sem dúvida, incrivelmente entediados.
Esse período produzir a primeira fase da arte das cavernas, talvez
também a arte de contar histórias e a religião. Talvez rezássemos
para ter algo algo que fazer além de desenhos na parede. Em vez
de dormir ou cochilar para reduzir o metabolismo e as necessidades
físicas, e também aumentar as funções imunológicas, ficávamos o
dia inteiro à-toa, sem ter o que fazer, a não ser comer e ficar
deitado. Igualzinho a hoje. Como ocorre com todos os sistemas
circulares de resposta positivos, menos torpor queria dizer mais
tempo acordado – e mais tempo acordado era igual a maior uso do
fogo, e assim por diante. Esse crescimento auto-alimentado do uso
do fogo significava, é claro, ainda mais luz para bagunçar a
capacidade da melatonina de transmitir informações relativas à
rotação e à órbita. Veja você como a evolução simplesmente fica
fora de controle.
Durante todos os períodos antes do atual – não apenas no
período humano ou mesmo no hominídeo/primata –,
desenvolvemos estratégias bem-sucedidas para lidar com as forças
da natureza. De uma vivência marcada por ritmos sazonais
associados à existência de alimento para permitir a reprodução, nós
viemos – assim como todos os outros animais da terra – para um
lugar novo, sozinhos, sem o resto da família.
Uma fez fora do Éden, não havia mais volta.
A luz nos transformaria mais do que sequer ousaríamos imaginar.
A luz, em si, era muito mais sedutora do que qualquer serpente com
um carboidrato. A luz nos deu mais tempo para aprender do que
qualquer outra espécie poderia ter e, em última análise nos deu,
também, a capacidade de nos reproduzirmos mais do que todas as
outras espécies. É claro que teve de haver algumas compensações.
As pessoas começaram a morrer de novas maneiras. Fumaça em
espaços fechados e o aumento dos hormônios sexuais acabaram
logo de cara com muitos de nós.
ESPÉCIE II
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GELO, GELO, BABY
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superfície do gelo, mais sol se reflete para longe da Terra – o que
significa ainda menos sol, mais gelo, e assim por diante...
Esses séculos de Idade do Gelo mudaram mudaram nosso
metabolismo de forma permanente. Durante verões muito curtos e
não terrivelmente quentes, conseguimos carboidratos que mal
foram suficientes para sobreviver. Aqueles que eram mais sensíveis
à luz e tinham maior potencial de armazenagem sobreviveram, e
nós somos os seus descendentes. Agora, essas características são
uma sentença de morte.
Se o homem paleolítico não tivesse ingerido uma dieta em que
predominavam a proteína e a gordura na melhor porção de cada
dia, isso significaria que ele teria de ficar sem alimento durante
milhares de anos a cada vez. Lamento, vegans, mas isso seria
altamente improvável.
Esses milhares de anos marcados por uma violenta ingestão de
proteínas e gorduras provocaram um aumento direto no peso do
cérebro, o que alimentou a expansão neural evolutiva da qual já
falamos. Durante toda a trajetória da humanidade, o homem viveu e
evoluiu com uma dieta composta de 80% a 90% de proteína e de
teor de gordura nela presente, durante pelo menos sete ou oito
meses no ano, e durante o resto do tempo de vegetação colhida
somente na estação. A total ausência de pedras de amolar, pilões e
pás define com clareza o tipo de nutrição da Idade do Gelo. Eles
nunca tiveram alimentos em quantidade suficiente para se darem ao
trabalho de inventar a moagem ou a trituração.
Os esqueletos remanescentes também são testemunho do tipo de
dieta da época. Em 1988, antropólogos da Emory University
compararam os estilos de vida atual e paleolítico no trabalho “The
Paleolithic Prescription”: “Ao estudarmos os esqueletos
remanescentes o último período paleolítico e analisarmos os
atributos de recentes grupos de caçadores-coletores, é possível
desenvolver um perfil anatômico – e até certo ponto bioquímico –
detalhado. Deduzimos a estatura do primeiro ser humano a partir de
um único osso de um dos membros, com uma fórmula que
relaciona a altura total ao tamanho do osso de um membro. Há 30
mil anos, os machos do leste mediterrâneo tinham uma altura média
estimada de 1,77 m, mas os fósseis Leakey-Walker apontam mais
na direção de uma média em torno de 1,88 m”.
Esses povos atingiam alturas maiores que as, ou comparáveis às,
das populações “bem-nutridas” de hoje.
Os antropólogos prosseguem: “Esses esqueletos remanescentes
também refletem força e musculatura; o tamanho das juntas e os
locais
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onde os músculos se encaixam nos ossos indicam a massa
muscular dessas pessoas e a quantidade de força que podiam
exercer. O CrogMagnon médio era sem dúvida tão forte quanto os
atletas femininos e masculinos superiores de hoje em dia. Eles
trabalhavam muito menos horas do que os posteriores agricultores,
mas eram muito mais robustos.”
Mesmo há 50 mil anos, não é possível distinguir o hominídeo
Homo sapiens sapiens de nós, em termos biológicos. Se estivesse
usando chapéu e óculos escuros, não conseguiríamos identificá-lo
numa fila. Em termos culturais e sociais, as mesmas características
que o mantiveram vivo são as que nos mantêm vivos hoje. Criamos
utensílios de pedra, deixamos uma estrutura cultural, aprendemos
técnicas e praticamos soluções, tudo dentro das noções aceitas de
família e estrutura de parentesco. Essas qualidades de vida ainda
são reconhecidas hoje como importantes ao bem-estar mental
funcional. Os antropólogos e especialistas em medicina forense,
que recriam as faces verdadeiras a partir de partes fossilizadas de
mandíbulas e crânios, dizem que as faces do Cro-Magnon eram
completamente modernas.
Embora as pessoas que viveram no período entre 40 mil e 10 mil
anos atrás não tenham alterado o mundo natural à sua volta de
modo a continuar a existir por um milhão de gerações, talvez algum
dia alguma mulher, cansada de montar e desmontar o
acampamento, tenha dito ao marido: “Meu bem, e se a gente
tentasse fazer essa coisa crescer bem pertinho da nossa porta?”
Nesse dia, o mundo mudou para sempre.
Foi só há 10 mil anos realmente curtos, não importa se um milênio
a mais ou a menos, que nós nos tornamos capazes de controlar o
estoque interativo de alimentos fornecidos pela terra que
asseguravam nossa sobrevivência. Até este último século, desde
aquele momento distante, dez milênios atrás – ou seja, durante
nossa existência pré-histórica inteira – só podíamos comer os
carboidratos que pudéssemos roubar e tomar da cornucópia do
planeta. Isso significa que comemos os mesmos tipos de
carboidratos “naturais” durnate os últimos 9.900 anos, nas mesmas
quantidades.
Agora não é mais assim.
Nenhuma outra espécie, em tempo algum, teve acesso ilimitado à
energia de carboidratos sem se preocupar com esforço, estação,
competição e desastres naturais. A agricultura alterou para sempre
o equilíbrio da natureza.
Se antes tínhamos problemas, a partir daí passamos a corre sério
perigo.
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O advento da agricultura, há 10 mil anos, como uma alternativa
viável em relação a caçar e a colher os frutos da natureza, concluiu
efetivamente o período paleolítico e praticamente eliminou o estilo
de vida de caça e colheita no mundo todo. A Revolução Neolítica
trouxe o fim de nossa coexistência com tudo o mais, nos termos da
Terra. A partir daí, todas as interações aconteceriam nos nossos
termos. “Revolução” implica uma derrocada intencional de uma
instituição em favor de outra. Na realidade, a súbita abundância que
se tornou possível quando o estoque de alimentos passou a ser
controlado pelo consumidor também proporcionou calorias em
número suficiente para sustentar os padrões de reprodução em
transformação.
O HOMEM SE FIXA À TERRA
Pág 94
se tornou também o meio para qualquer homem alcançar um
sucesso inimaginável em termos reprodutivos.
A Bíblia nos diz isso.
Começamos também a trabalhar juntos em grupos maiores. Essa
domesticação se estendeu além de nossa pequena esfera humana.
Ao dominarmos as plantas, finalmente dominávamos os animais.
Tudo o que cultivávamos em volta de nossos assentamentos atraía
os animais até nossa porta – e tínhamos duas espécies pelo preço
de uma.
Pela primeira vez, desde que aprendemos a mentir uns para os
outros, comíamos regularmente, ao enganarmos outras espécies
com oferta de comida. Todo o excesso de luz e de aprendizagem
estava desenvolvendo em nós um novo tipo de memória e de
instinto, do qual os outros animais não podiam participar. Esse
pacto com o diabo, que chamamos de agricultura, alimentou uma
enorme explosão populacional. Nós, macacos humanos, não
estávamos mais apenas perturbando uns aos outros; éramos uma
força a ser computada. Havia seres humanos em número suficiente
para “reformar” a Terra de acordo com nossas necessidades e
escravizar a maior parte das outras formas de vida. Isso não se
parecia, de jeito nenhum, com nossa humilde origem de caçadores-
colhedores.
DESDE a.C.
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É por isso que, nos museus, você vê aquelas armaduras
pequeninas e aqueles sapatos vitorianos do tamanho do pé de
Cinderela – e na rua, do lado de fora do museu, encontra nisseis
americanos muito altos, que abandonaram sua dieta
predominantemente baseada em arroz, desde que vieram viver nos
Estados Unidos. Só no último século é que a nossa dieta provocou
um retorno a um potencial fenotípico de dormência recuperado.
Traduzindo: com mais proteína em nossa dieta, quase voltamos ao
nosso tamanho original.
As conseqüências, em termos de doenças, da dieta gerada pela
agricultura só foram mitigadas pelo esforço físico insano necessário
para manter as plantações. A agricultura é um trabalho pesado –
pesado o suficiente para queimar mais de 90% de uma dieta de
carboidratos, se você fizer todo o trabalho pessoalmente – você e
talvez seu touro. O fato é que o dispêndio de calorias necessário
para os fazendeiros puxarem os próprios arados e trabalharem dez
horas por dia explica porque sobrevivemos tão bem, mesmo
comendo a quantidade de pão que comíamos.
A agricultura também acrescentou outra mentalidade à nossa
visão da nutrição: a economia acima da necessidade. A principal
razão para o crescente percentual de carboidratos na dieta foi que
matar os animais simplesmente para comer nos parecia uma visão
curta. Dividir a colheita com eles significava que haveria menos
para nós durante o inverno; por outro lado, se os mantivéssemos
vivos, eles poderiam nos fornecer leite para fazer queijo – e ainda
continuar a produzir filhotes de sua espécie. Começava a se
desenvolver uma espécie de especulação. Não estávamos
enganando apenas duas outras espécies; estávamos enganando a
Mãe Natureza.
A agricultura, assim como o fogo, não só nos isolou de todos os
outros seres viventos; também nos fez ficar muito doentes, mais
uma vez. Logo que os bebês começaram a nascer o ano todo, a
taxa de mortalidade cresceu, mas naquela época isso mal era
notado, em função do grande aumento da população em geral. O
valor da vida foi ficando menor por causa da onipresença do
homem
Mais um Mundo das Margaridas déjà vu.
O ENVELHECIMENTO DA MÁQUINA
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capacidade. Isso impulsionou nossa capacidade de especulação
um pouco mais para cima, e nos levou a conquistar o trovão, depois
as plantas e depois os animais. Tudo começou com o pilão e a pá.
Se partíssemos os grãos em pedaços menores, ele durava mais.
Um pão feito com duas mancheias de grãos podia alimentar mais
de duas pessoas; com o aumento do número de pessoas, muito,
muito mais pessoas passaram a querer muito, muito mais pão.
Esse crescente e contínuo consumo de carboidratos, por pessoas
que estavam programadas para comê-los apenas durante alguns
meses do ano, matou tanta gente naquela época como mata agora.
A verdadeira dizimação começou – e continua para nós, 10 mil anos
depois – quando o homem passou a refinar os carboidratos. Os
grãos moídos e, mais tarde, o suco doce das beterrabas e da cana-
de-açúcar, depois de seco e transformado em pó, eram registrados
pelo nosso sistema insulina/açúcar no sangue como pássaros no
fundo do oceano. Não tínhamos qualquer referência para aquilo;
não fazia sentido. Não havia um lugar, em nossos sistemas, onde
tanta energia, chegando de uma vez só, pudesse caber. Mais e
mais pessoas, com isso, passaram a usar seus casacos de gordura
ao longo da primavera e do verão também.
BRILHANTES IDÉIAS
PARTE III
A VERDADE
ESTÁ AQUI
Pág 99
CINCO
Negue tudo:
O sono controla o apetite e, portanto,
a obesidade, o diabetes e a hipertensão
Pág 100
Veja quantos termos nós inventamos para descrever o estresse
do sucesso – desde as inofensivas “personalidades tipo A” ou
“quem corre atrás” até termos mais disparatados como “um caso de
exaustão” e “fanático pelo sucesso”. Os europeus não chamam uns
aos outros de nomes assim. Nos Estados Unidos, trabalhamos pelo
menos dez horas por dia, tentamos fazer exercício durante algumas
horas por semana – e sofremos. Dean Ornish diz que o amor vai
nos manter juntos e o Dr. Andrew Weil até sugere um “baseado” ou
dois por razões médicas. Nessa cultura, quando somos jovens,
tomamos drogas para relaxar; quando ficamos velhos, tomamos
drogas para sobreviver.
Será que sempre foi assim? Só para os baby-boomers.
Por volta de 1940, os Estados Unidos pós-guerra descreviam
nosso estilo de vida com expressões do tipo “aturar os vizinhos”,
“ascender na escala corporativa” – e o nosso sucesso com frases
do tipo “é o bom e velho trabalho duro”, como se fôssemos as
únicas pessoas do mundo que tentavam realizar alguma coisa. Para
conquistar a liderança mundial, os americanos, em termos
metafóricos, resolveram “virar uma noite” que já dura oitenta anos.
Vivemos em cidades que nunca dormem, num país que se agita
24 horas por dia.
Ocorre que deter a liderança em obesidade, diabetes, doenças
cardíacas e câncer foi só um bônus. É claro que o golfe teve de ser
sacrificado, assim como aqueles piqueniques dominicais com a
família. Nós, americanos, só temos tempo para um hobby realmente
sério na década de 1990: preocuparmo-nos com a morte. Agora,
que manter nossos falhos corações funcionando toma todo e
qualquer tempinho que teríamos depois do trabalho para nossas
esposas ou filhos, uma coisa tão sem importância como dormir é
verdadeiramente inimaginável.
SAIR DO ÉDEN
Pág 101
De acordo com estudos sobre incompetência relacionada ao
trabalho, parece que estamos começando a desmoronar. A
Comissão Nacional de Pesquisa sobre Distúrbios do Sono estimou
que o custo direto anual para os empregadores, como já
mencionamos antes, é da ordem de US$ 15,9 bilhões – e olhe que
eles estão falando apenas de dinheiro. Setenta milhões de
americanos relatam problemas para dormir, mas o que isso
significa?
Em 1982, o Journal of the American Medical Association publicou
os resultados do “Projeto Sono”, conduzido pelo Centro da
Associação de Distúrbios do Sono. O caso relatava o estudo de 5
mil pacientes ao longo de dois anos. O distúrbio mais comum era a
hipersonolência, ou sono excessivo. Quarenta e dois por cento das
pessoas, em 1982, estavam cansadas demais para se manterem
acordadas. Vinte e seis por cento delas não conseguiam dormir ou
continuar dormindo.
O estudo concluiu que a hipersonolência é o resultado da apnéria
do sono. A apnéia do sono é um fenômeno em que a pessoa
esquece de respirar. O fato de esquecer de respirar significa que o
cérebro está cansado demais. Somente aqueles que podem perder
sono sem engordar, ficar doentes ou esquecer de respirar
continuarão a evoluir após o surto de velocidade evolutiva induzida
pela luz artificial. Os descendentes destes serão capazes de
sobreviver sob forte luz durante 24 horas e comer as embalagens
plásticas.
A maioria de nós com certeza não estará entre essas pessoas.
Felizmente para o resto de nós, no entanto, a luz ficou limitada
durante milênios. Embora pudéssemos queimar qualquer coisa que
pegasse fogo, a qualidade da luz produzida variava. E o estoque de
material combustível disponível também controlava as horas e a
qualidade da luz depois do escurecer. A melhor luz vinha da cera de
abelhas e da gordura animal chamada sebo. E nenhuma dessas
duas substâncias era barata.
Mesmo milhares de anos depois que construímos cidades e
países, o mundo, à noite, era escuro como breu. As casas isoladas
possuíam luz fraca após o pôr-do-sol, mas o mundo lá fora ainda
era um vácuo repleto de barulhos assustadores. Viajar era perigoso.
As pessoas nunca se aventuravam a sair depois que escurecia,se
pudessem evitar. E quando o faziam, pagavam alguém para
escoltá-las com uma tocha. Esse velho “esquema de proteção” se
transformou naquilo que conhecemos hoje como a polícia. A nossa
polícia trabalha à noite sob a luz do dia virtualmente recriada; no
entanto, os policiais ainda carregam porretes de madeira.
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Há quanto tempo somos donos da noite?
Evoluímos com um único tipo de iluminação durante 70.600 anos.
Depois, há apenas quatrocentos anos, o tempo de duração da luz
em um ponto fixo mudou substancialmente. Paris se tornou a
primeira cidade do planeta a erguer velas de sebo nas ruas à noite.
A palavra curfew, na língua inglesa, que significa “toque de
recolher”, na verdade é composta por duas palavras francesas,
couvre feu, que significa “cobre-fogo” – ou seja, luzes apagadas,
volte para casa. Até a idéia francesa pegar, o cidadão mediano de
todas as grandes cidades contratava um cicerone com uma tocha
para acompanhá-lo depois de escurecer. Com exceção de Paris, a
iluminação doméstica, em 1600, era exatamente igual ao que havia
sido durante milhares de anos.
Paris manteve o título de Cidade-Luz durante quase duzentos
anos, até que os lampiões de fás foram instalados em algumas
outras cidades em meados de 1800. Era uma iluminação cara e que
provocava sujeita. Ainda que, em termos de qualidade, a luz a gás
fosse sem dúvida mais intensa e mais fácil de usar do que as velas
individuais, não era nada em comparação à luz artificial que
conhecemos hoje. Mesmo assim, os lampiões de fás da era
vitoriana tinham claridade suficiente para iluminar mentes científicas
como as de Faraday e Volta, que nos trouxeram às portas da
extinção.
Pág 103
Você está perdendo o passo.
Todas as coisas vivas precisam ser parto do projeto. Na tela
grande, moléculas chamadas quemóforos estão presentes em
todos os animais, plantas e bactérias. Pense nelas como
transdutoras de energia. Quando atingidas pela luz, as células dos
quemóforos captam a energia e a transmitem. Os fótons da luz
provocam mudanças químicas e elétricas no núcleo de todas as
células. Isso é como um raio em meio ao céu azul. Essa
eletrificação por energia radiante ocorre em todos os lugares dentro
de você. Cada uma de suas células é um relógio que marca
exatamente uma revolução em torno do sol. Toda a maquinaria
molecular que você precisa para acompanhar o ritmo dos cosmos
está dentro de cada célula individual. Cada célula de seu corpo é
um relógio.
Você possui um gene, expresso em cada célula do corpo,
chamado dCLOC – e um outro, chamado dBMAL1. As proteínas
que esses dois genes codificam são fabricadas na célula e se
unem. As proteínas do dCLOCK e do dBMAL1, quando se juntam
agregam-se e acionam os botões de dois outros “genes-relógio”,
chamados “per” e “tim”. Per e tim, uma vez unidos e ativados,
começam a produzir proteínas próprias que, de forma muito
genérica, acumulam-se dentro da célula, apenas flutuando no
citoplasma em volta do núcleo, onde elas se juntam à medida que
as horas do dia passam. Esse é o “tic” do relógio.
Mas é o “tac” que conta. O tac acontece quando as proteínas de
per e tim atingem uma massa crítica que flutua no citoplasma e
entram novamente no núcleo, onde bloqueiam a função dos velhos
conhecidos dClOCK e dBMAL1. E o relógio pára – para ser
acertado novamente. Ao fazer dCLOCK e dBMAL1 pararem, este
sistema circular de resposta negativo autolimita a produção de per e
tim. Num relógio mecânico, a oscilação do pêndulo de um lado para
o outro envolve uma parada muito rápida, antes de o movimento
continuar para o outro lado. Na célula, esse soluço evanescente
dura apenas o tempo necessário para as proteínas de per e tim se
dissiparem no núcleo. Depois começa tudo de novo. Como um
relógio d’água chinês, que pinga de uma tigela para outra; logo que
uma delas fica cheia, esta tomba e derrama o conteúdo na tigela
seguinte.
É claro que, nas células, leva exatamente um dia – ou uma volta
em torno do sol – para que o sistema circular de resposta se
complete.
Esse metrônomo celular se tornou evidente quando os cientistas
encontraram células fotorreceptivas nas pernas da mosca
conhecida como drosófila. Para testar a mesma localização nos
seres humanos, os
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pesquisadores da Universidade de Cornell colocaram um cabo de
fibra ótica atrás do joelho de um participante do estudo. Iluminaram
então uma área de pele menor que o tamanho de uma moeda de 25
centavos. O resto do corpo do participante ficou na mais completa
escuridão. No entanto, essa pequena quantidade de luz afetou a
temperatura do participante e sua produção de melatonina. Imagine
o que o banho de sol, a televisão ligada a noite toda, viagens
aéreas entrando e saindo de aeroportos amplamente iluminados o
tempo inteiro e ficar diante da tela do computador fazem para
confundir os sistemas que sustentam a vida da gente.
Como você não é feito de outra coisa senão relógios em cima de
relógios em cima de outros relógios, se o tempo de duração da luz
muda, é apenas uma questão de tempo até que os interruptores
ancestrais que acionam os milhões de genes que controlam seus
estados físicos e mentais sejam ligados. E você inteiro, em cada
célula do seu corpo, vai fazer tic-tac. Por isso, se você apagar as
luzes às onze e meia da noite e fechar seus olhos para as luzes da
rua que brilham em sua janela, para o brilho verde do videocassete
ou, ironicamente, para seu despertador, não estará enganando uma
de suas células sequer.
A HIPÓTESE DA HIBERNAÇÃO
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depois vão dormir, ou pelo menos ficam um bom tempo sem comer
açúcar. É por isso que só os nossos animais de estimação têm
problemas cardíacos, ficam gordos demais para caminhar e têm
câncer.
Eles vivem com a gente.
No estado hormonal provocado por longas horas de exposição à
luz, a necessidade de consumir carboidratos ou beber álcool para
formar uma base de gordura para o inverno que vai chegar se torna
metabólica e psicologicamente impossível de evitar. Para poder
controlar nosso apetite por carboidratos e perder peso, baixar os
níveis de insulina e ficar sadios e férteis, precisamos dormir mais. É
por isso que os americanos estão comendo até morrer e se
matando uns aos outros.
Eles estão cansados. Mortalmente cansados.
O TERCEIRO OLHO
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comesse, perdia peso, como se a comida “vazasse” através de um
buraco aberto em seu estômago. O relato sobre esse homem diz:
“Ele se tornou uma sombra de si mesmo, em estatura, em força e
na cor, e morreu em 1917.” Isso não é surpresa.
O tratamento mais avançado que havia em 1907 para o diabetes
Tipo I era a dieta de baixa caloria. A premissa que sustentava essa
abordagem era a de que, quanto menos calorias o diabético
ingerisse, mais calorias seriam utilizadas pelo corpo. Não funcionou.
Pacientes já bastante magros em função da doença foram postos
em dietas de quinhentas a mil calorias por dia; com isso, os
diabéticos Tipo I morriam de fome, de qualquer jeito. Além de fazer
mal, o tratamento insultava o doente.
O diabetes, dos Tipos I e II, foi a 28ª causa mais importante de
morte no ano de 1900, a segunda em 1920 e a sétima em 1940. em
1999, era a terceira causa mais comum de morte nos Estados
Unidos. Pode-se argumentar que um aumento crescente da
longevidade em todo o país, devido às cirurgias e ao uso de
antibióticos, resultou numa população que de repente estaria
vivendo o suficiente para desenvolver a doença, ou que a boa vida,
e conseqüentemente os bons hábitos alimentares da Europa e dos
Estados Unidos, tornaram-se mais doces de repente.
O que vemos é que o apetite por açúcar, nos Estados Unidos e na
Europa, aumentou exatamente ao mesmo tempo e exatamente no
mesmo padrão que a disseminação da eletricidade e das luzes
artificiais. Por volta de 1925, todas as principais cidades norte-
americanas tinham eletricidade, e a incidência de diabetes Tipo II
estava perto de quadruplicar.
As estatísticas do parágrafo anterior demonstram uma expansão
assustadoramente rápida do diabetes tipo II – que pulou do 28º
lugar entre as causas de morte em 1900 para o 12º, em 1925. De
1920 a 1940, o aumento foi igualmente impressionante. O único
incidente que pôs um freio nessa “epidemia” foi o racionamento de
açúcar durante a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e na
Europa. Mesmo assim, no último século, o diabetes tipo II cresceu
demais – e, de uma doença relativamente obscura, passou a ser
um dos três maiores assassinos do mundo ocidental. Quando
examinamos os números que dividem o diabetes Tipo I e o diabetes
Tipo II em duas doenças distintas, o contraste fica ainda mais
evidente: os diabéticos Tipo I, dependentes de insulina,
representam apenas cerca de 10% de todos os diabéticos. Isso
significa que os outros 90% caem na categoria que gostamos de
chamar de “vítimas da luz”. Mas isso é agora; vamos ver como era
antes.
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partir dos carboidratos consumidos, completa o mecanismo, ao
travar os vazamentos que ocorreriam quando as moléculas de
gordura que controlam o trânsito de íons e água através das
membranas celulares começassem a congelar como gotas geladas
de carne. As células se tornam, então, à prova de vazamento e
cheias de anticongelante.
Quando os sapos começam a descongelar, os órgãos que se
congelaram por último são aqueles cuja consistência se assemelha
à de um melado, por causa do açúcar, e por isso são os primeiros a
descongelar. O coração começa a bater de verdade, de modo a
bombear o sangue aquecido para descongelar as extremidades.
Dessa forma, nenhuma parte do sapo é privada de oxigênio, em
momento algum. Eles literalmente descongelam de dentro para
fora.
O Dr. Kenneth Storey, pesquisador da Universidade de Carleton,
em Ottawa, diz: “Os sapos começam com a mesma quantidade de
glicose que nós temos, e vão aumentando até ficarem diabéticos”,
exatamente igual as pessoas que nunca saem do modo de
hibernação – ou seja, os diabéticos Tipo II. O consumo constante de
carboidratos só pode significar uma coisa para os controles
ambientais ancestrais: esteja pronto para morrer de fome ou
congelar. É por isto que os diabéticos Tipo II se tornam resistentes à
insulina: para produzir gordura. Uma vez tendo produzido o
suficiente, porém, a etapa seguinte consiste em seus fígados
derramarem mais açúcar na corrente sangüínea do que o pâncreas
e o sistema insulínico conseguem administrar. Toda essa glicose
mantém as células com a consistência de um melado por dentro –
exatamente igual aos sapos da floresta, ainda que 65% do sapo
tenha virado gelo.
TUNGUSKA
Os resultados do congelamento experimental dos órgãos humanos,
para posterior utilização, também sustentam nossa premissa. Em
um dos
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estudos, após seis horas de congelamento, as células do fígado
humano ainda tinham condições de produzir bile, num recipiente de
cultura. Isso significa que estavam efetivamente ressuscitando.
Assim como os sapos e os mamíferos utilizam o açúcar como
anticongelante, o camarão ártico de água salgada utiliza um açúcar
chamado trealose. A trealose foi usada num experimento na
Universidade da Califórnia, em San Diego, conduzidos pelos Drs.
Gillian Beatrie e Alberto Hayek, que, em 1998, preservaram células
pancreáticas beta humanas numa solução de trealose. Em períodos
regulares de alguns meses, Beattie ressuscita algumas dessas
células, para ver se ainda são viáveis. E são. Elas ainda produzem
insulina em tubo de ensaio – e também quando implantadas em
ratos ou em macacos Rhesus. Se as células beta ainda conseguem
produzir insulina mesmo depois de congeladas, então o açúcar no
sangue ainda pode ser distribuído novamente pelos outros órgãos e
membros, depois do grande resfriamento para o grande
congelamento. Lembre-se, essas são células beta humanas.
Nem tanta ficção científica assim, não é mesmo?
O recorde de células congeladas por mais tempo e reanimadas
pertence aos russos. Uma bactéria descoberta na Sibéria, perto de
Tunguska, no final de 1980, foi ressuscitada pelo Dr. David
Gillchinsky, um microbiólogo da Academia Russa de Ciências, em
Moscou. Ele extraiu bactérias congeladas do solo, a 150 pés abaixo
da superfície, em solo permanentemente congelado, cuja
temperatura não era superior a 23ºC há pelo menos 3 milhões de
anos. Em poucas horas após chegarem à superfície, elas já se
dividiam alegremente – porque a vida continua.
Em 1992, a empresa de criogenia BioTime, de Berkeley, na
Califórnia, resfriou um babuíno chamado Daniel a uma temperatura
corporal de 17ºC por 55 minutos. Embora Daniel tenha saído
fisicamente ileso, ninguém, até o momento, examinou em
profundidade as suas faculdades mentais. Sem dúvida, a
experiência deve ter deixado marcas.
Nós sustentamos, simplesmente, que o diabetes Tipo II só ocorre
porque a fase pré-hibernação, de armazenagem de carboidratos, e
a resistência à insulina que se segue nunca terminam realmente em
hibernação. Em vez disso, permanecemos no estado de
acumulação de gordura, resistência à insulina e hipertensão
subclínica, dentro de casa e aquecidos o ano todo. A maior parte
das pessoas que vive nessas condições durante décadas vão
acabar se tornando diabéticos Tipo II, e seus médicos vão pôr a
culpa no envelhecimento.
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fogueira, no final do dia. Por isso, sua reunião noturna não pode
durar muito. Assim que a luz rósea do por-so-dol começa a tomar
conta da paisagem, você começa a ficar realmente sonolento,
porque, enquanto a clara luz “verde” do dia, refletida, interrompe a
produção de melatonina (no ponto pré-óptico de conexão com a
glândula pineal, em seu cérebro) a luz “rósea” do sol que se põe
bloqueia o espectro verde e com isso provoca uma liberação de
melatonina para facilitar sua entrada no estado alterado da noite.
Como esse processo evoluiu com as e não “em resposta às”,
mudanças nos ciclos de luz e escuridão, no clima e no estoque de
alimentos, faz muito sentido que a luz azul e verde do dia refletida e
a luz rósea e amarela do pôr-do-sol despertem respostas hormonais
e de neurotransmissores que possamos identificar como
comportamento normal.
É claro que a medicina ocidental não aceita nossa premissa de
que a interferência dos neuropeptídeos seja a base da conexão
mente-corpo, para ela, o esclarecimento da interação entre nós e os
eventos cosmológicos equivaleria à leitura do horóscopo. No
extremo oposto, a medicina oriental rejeita a perspectiva linear em
favor de uma síntese mais dinâmica e acurada – porém ininteligível
aos olhos dos pesquisadores ocidentais que insistem em dividir e
classificar as partes da fisiologia dos seres vivos, como se
estivessem lidando com um cadáver montado com partes
mecânicas, igual a um carro.
De volta ao ambiente paleolítico, você estaria procurando um
lugar quentinho para descansar, porque a melatonina em elevação
já está fazendo você sentir frio. Embolar todo mundo junto para
esquentar reforça também a comunicação pelos feromônios.
Naqueles dias, você seria literalmente capaz de sentir o cheiro de
um inimigo ou de um amante. O primeiro sono normalmente é o
sono REM, de modo que as premonições, ou “visões” alucinógenas,
dão continuidade ao entretenimento que rolou no início da noite,
enquanto seu cérebro seleciona e rotula as percepções da mente.
O mergulho no sono NREM, ainda mais profundo, enquanto o nível
de melatonina sobe muito, desvia a atividade do cérebro para a
manutenção da imunidade.
Toda atividade reprodutiva diminui à noite. Isso significa que o
acasalamento durante o dia aumenta as chances de uma gravidez.
À noite, os hormônios sexuais esteróides dão lugar ao aumento da
produção de prolactina pela glândula pituitária. Tanto a prolactina
quanto a melatonina são agentes poderosos no processo de
reprodução também, devido ao simples fato de que a melatonina
controla a produção do estrogênio
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e da testosterona, e a prolactina produz leite. A melatonina e a
progesterona são, ambas, controladoras hormonais mestras. Se
uma das duas estiver fora de sincronia, a natureza interpreta como
“acionar o botão vermelho”. Uma falta crônica de melatonina ou de
progesterona, tal como a que ocorre no envelhecimento, informa à
natureza que a pessoa não é mais viável.
Quando você não consegue acompanhar o jogo, a natureza
elimina você.
Por causa da melatonina, qualquer aumento ou diminuição do
período de escuridão desencadeia mudanças fisiológicas e
comportamentais em muitas espécies, através dos hormônios
sexuais – mudanças, por exemplo, na muda, na procriação e na
migração. A distribuição sazonal dos índices de concepção e
nascimento nos seres humanos confirma a teoria de que a função
da melatonina é controlar o período adequado à reprodução,
mesmo atualmente. A receptividade à reprodução, por sua vez,
determina a quantidade e o tempo de hibernação da progesterona
nas mulheres e da deidrostestosterona (DHT) nos homens.
Assim sendo, ir dormir com o pôr-do-sol garante um banho de
corpo inteiro em melatonina, e um rápido aumento da prolactina.
A prolactina não é ativa apenas na produção humana de leite; é
essencial para a lactação em todos os mamíferos. Nos pássaros,
isso se traduz no “comportamento de chocar a ninhada”, ou seja, na
quietude necessária para incubar os ovos. O principal efeito
provocado pela prolactina, em todas as espécies, é a ampliação da
produção das células T e NK (assassinas naturais). Essas são as
primeiras linhas de defesa do câncer. Como não existe câncer
na natureza entre as outras espécies, a não em nossos animais
de estimação, você – ao fazer parte do panteão da vida global –
também NÃO vai ter câncer, se DORMIR quatorze horas por
noite nos períodos de dormência. Mas será que você conseguirá
dormir tanto tempo assim?
Mais ou menos. Em primeiro lugar, as cavernas são escuras e
nossos quartos não. Tentamos dormir com as luzes acesar o tempo
inteiro, se é que chegamos a ir para a cama. E não vivemos apenas
num verão infindável; vivemos também num repasto infindável. Tem
sempre comida, em geral carboidratos; no que tange à luz, é
sempre dia claro. Não só perdemos metade de um ano inteiro com
luzes, aquecimento interno e ar condicionado; perdemos a noite
para os timers digitais que piscam o tempo todo, para as sirenes da
polícia, luzes da rua, letreiros e cartazes luminosos, restaurantes,
hotéis, esportes noturnos, televisão, Internet e
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filmes. Tudo isso era representado pelas histórias contadas em
torno das fogueiras se apagando. O grande problema é que hoje a
fogueira nunca se apaga, porque a televisão está sempre ligada.
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Está estatisticamente provado que 90% ou mais de todos os
bebês nascem entre meia-noite e quatro horas da manhã,
exatamente o período no qual suas mães, na natureza, estariam
num estado meditativo, com níveis elevados de endorfinas
(anestésicos para dor) – igual aos iogues, que são capazes de
caminhar sobre pregos ou carvões em brasa sem sentir nada.
Nesse estado, um parto não assistido seria mais bem tolerado. Era
nesse período de tempo, ao qual não mais temos acesso, que
resolvíamos problemas, reproduzíamo-nos, transcendíamos o
estresse e, muito provavelmente, falávamos com os deuses.
Em testes padronizados de acompanhamento, concebidos para
avaliar o estado de espírito e a fadiga, os voluntários submetidos a
noites de quatorze horas de duração se autodefiniam como mais
felizes, mais cheios de energia e mais acordados durante o dia
seguinte. Mas esses testes tinham o objetivo de revelar apenas os
estados de sonolência debilitantes. A sonolência é apenas um
sistema cognitivo. Quando você está cansado, na verdade está
passando por uma séria briga metabólica entre você e as bactérias
que controlam seus sistemas imunológico e reprodutivo-briga, que
se traduz em aberrações mentais.
As noites curtas, que imitam o verão, significam:
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A reversão que você cria, ao ficar acordado até tarde – o que faz
o nível de insulina e de cortisol permanecer alto à noite, quando
deveria estar baixo –, prossegue durante as horas do dia. O
primeiro sintoma de transbordamento de melatonina é precisar de
despertador para acordar. Quando você tem uma “ressaca” de
melatonina, fica sonolento demais para acordar, embora a luz da
manhã devesse suprimir espontaneamente a melatonina. O
verdadeiro problema é que, sem uma elevação do cortisol, você não
tem dopamina.
Seu nível de cortisol não está suficientemente alto para
administrar o estresse durante o dia, e confunde a percepção do
tempo. Sem o cortisol, para ampliar os efeitos da dopamina, o dia
parece passar depressa demais.
Agora diga que você nunca passou por isso.
Com um nível anormalmente alto de prolactina pela manhã, e sem
dopamina, você fica meio abobado também, com memória fraca e
pouca capacidade de planejar. A mesma cena se repete à tarde. A
prolactina suprime anormalmente a leptina de novo; portanto, por
volta de três da tarde, você têm compulsão por carboidratos – e
fica impaciente e mais abobado ainda.
Isso tudo têm importância?
Qual a diferença quando você sofre uma inundação de
hormônios, desde que isso ocorra?
Infelizmente, o tempo certo é tudo.
Você não consegue produzir melatonina durante o dia, ou com as
luzes acesas. Então, como se explica o fato de você ainda estar
dormindo, com a luz do sol brilhanto? Bem, a fome deveria ser o
seu despertador. Uma das funções evolutivas da melatonina é que
ela amplia o efeito supressor do apetite da leptina, para que
você continue com sono, em vez de perambular a noite toda com
fome. É um mecanismo circular de resposta: a melatonina melhora
o efeito da leptina e a leptina mantém o seu cérebro no estado de
“alimentado”, e assim você continua a dormir e a produzir mais
melatonina.
Infelizmente, para nós, menos sono à noite – e portanto menos
melatonina e menos leptina – faz com que você coma mais, de dia
e de noite. Só o sono que você perde no início da noite já é sufici-
ente para aumentar seu apetite por açúcar e fazer você engordar.
É por isso que dissemos que a perda do sono o torna gordo. Mas,
na verdade, isso é nem da missa a metade. Quando você começa a
comer carboidratos todos os dias, começa também a reter água.
E isso é mau.
O MUNDO DA ÁGUA
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lina para criar “resistência” à insulina em seus músculos. Com isso,
você tem condições de mandar toda a energia para ser armazenada
como gordura, para o longo período de fome que você teria de
enfrentar, caso vivesse no mundo real. Quando isso se repete dia
após dia, semana após semana, década após década, mesmo que
você nunca engorde, seu cortisol fica elevado e você retém os
cinco ou mais quilos de peso em água que você precisa para
hibernar.
Esses cinco quilos de líquido vão gerar mudanças na absorção de
sal e de glicose em seu intestino e na função renal para a
hibernação; na realidade, porém, vão causar o que identificamos
como a hipertensão subclínica que a maioria dos americanos
apresenta atualmente.
Esses estados de ser – consumo de carboidratos, resistência à
insulina, produção de colesterol, retenção de água, hipertensão
subclínica – são, todos eles, preparações para a hibernação que
agravam as doenças cardíacas, porque a função renal controla a
pressão sangüínea através dos hormônios chamados angiotensina I
e II, que atuam junto ao seu coração para determinar o fluxo de
cálcio e íons (ou seja, a força com que seu coração realiza o seu
bombeamento). Essa cascata é outro mecanismo ancestral que se
interpõe no caminho de seu “congelamento virtual”. As alterações
de cálcio que determinam a força do bombeamento do coração
estão em ação para proteger seu cérebro contra a falta de oxigênio
quando você congela, pois derramam cálcio a partir de suas células
para prevenir a hipoxia, ou falta de oxigênio.
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Quando o nível de insulina baixa, seus receptores de insulina se
elevam; com isso o açúcar no sangue também cai, porque seus
músculos vão suá-lo enquanto você se exercita, através dos
receptores de insulina, agora em funcionamento. É dessa forma que
o exercício baixa o açúcar no sangue. Quando seu nível de insulina
está baixo, você não consegue produzir tanto colesterol e esse
número também cai. Aí o médico o declara curado. Mas você não
está curado!
Agora, você tem uma nova doença – e isto porque nunca ocorreu
a eles que você não precisa queimar aquilo que não ingere, para
começo de conversa. Na verdade, correr, saltar ou praticar
StairMaster funciona, para seu corpo – que ainda responde com as
sub-rotinas ancestrais –, como uma “resposta de medo” que eleva
seu cortisol à estratosfera, enquanto você vê Deus. O cortisol alto é
um mobilizador do açúcar no sangue e, portanto, eleva o açúcar em
seu sangue; quando esse açúcar se eleva, a insulina vem logo
atrás. Isso significa que o rebote contínuo provocado só pelo
excesso de exercício pode torná-lo, com o tempo, resistente à
insulina. Veja como funciona:
• Correr, pular, escalar = ser perseguido
• Perseguição = resposta de estresse
• Estresse = liberação de cortisol = mobilização de açúcar no
sangue
• Açúcar no sangue elevado = insulina elevada = resistência à
insulina – armazenamento de gordura e hipertensão
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louco sob luzes brilhantes durante uma hora ou mais, provável-
mente não está surtindo o efeito que você esperava, não é mesmo?
Na verdade, podemos apostara que, ao chegar em casa (e não
vai ser antes das nove e meia ou dez da noite), já estará acordado
há pelo menos dezesseis horas. Você está mais do que cansado –
e as luzes ainda estão acesas. É nesse ponto que sua psique vai
entrar em cena, para tentar salvá-lo de si mesmo e fazê-lo dormir,
quando lhe diz para “procurar um lanchinho”. Agora sua mente
vai guiá-lo até a geladeira atrás de açúcar – ou pior, atrás de um
drinque.
Quando você se vê diante da geladeira como um zumbi, com
aquele sopro de ar frio na cara e sem saber direito como chegou até
lá, saiba que a razão pela qual você chegou até lá está bem na sua
frente.
A mesma luz artificial que ilumina seu caminho até aquela última
fatia de bolo foi quem começou todo o processo – desde a neces-
sidade de se exercitar até a “necessidade” de comer algo doce à
meia-noite.
Você não está com fome; está apenas cansado demais. No em-
tanto, por dentro, seu corpo sabe que o bolo vai elevar seu nível de
insulina, para transformar a serotonina em melatonina e –
finalmente – fazê-lo dormir.
Aja assim durante uns bons dez anos e talvez não consiga mais
se recuperar.
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SEIS
Tudo está dentro
da sua cabeça:
Não dormir e comer açúcar demais
vão levar você à loucura
FARSCAPE
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natureza, se você ficasse acordado tanto tempo assim, já teria de-
vorado metade do planeta, o que seria muito mais do que sua cota.
E, muito provavelmente, você já não seria mais fértil, nadando em
toda aquela insulina. Por isso, não tem sentido você viver. Assim
sendo, a natureza o elimina alterando a sua realidade, para que
você não queira mais viver. Você literalmente enlouquece – e então
você mesmo se elimina.
É o princípio do “menor esforço do hospedeiro”, manifestado na
Mãe Natureza.
A natureza cria esse mecanismo em seu corpo provocando, em
última análise, um estado de espírito bipolar. Com isso, a natureza
dobra as chances de você se suicidar, até que a sua mania chegue
ao ponto de se transformar numa perda completa do controle dos
impulsos. Assim, se você não acabar consigo mesmo no limite do
desespero, durante o estado depressivo, provavelmente fará algum
movimento perigoso e com risco de vida durante a euforia. Em
qualquer dos dois casos a natureza vence.
E não se esqueça do princípio do cortisol: se o sol nunca se põe,
ou se você nunca apaga a luz, seu cortisol nunca baixa. E cortisol
alto só ocorre na natureza quando você precisa dele para fugir de
algum perigo ou lidar com a dor. O cortisol alto foi feito para ser
episódico, não crônico. Na natureza, cortisol alto crônico significa
que você é um perdedor em termos reprodutivos (a melhor razão
para ser eliminado) – e, portanto, um paria social.
Durante a depressão, no entanto, ele trabalha de forma mais
subreptícia. Cortisol elevado crônico alto e insulina elevada crônica,
juntos, colocam sua mente no constante estado de “pânico” do
acasalamento, que ocorre durante o verão. As luzes estão acesas,
a comida (carboidratos) deve ser abundante, porque seu nível de
insulina está elevado – e, naturalmente, por causa da luz e de tanto
exercício, seu cortisol também está elevado para poder competir.
Você acaba de estimular programas e sub-rotinas ancestrais que só
seriam acionados em estados de verdadeiro perigo – como “corra
para salvar sua vida”, ou “seu DNA não vai dar sinal de vida na pró-
xima geração”. Quando seu relógio sazonal de insulina/cortisol está
quebrado, podem ocorrer doenças mentais reais – não apenas
mudanças bruscas de humor, mas esquizofrenia e psicose
maníaco-depressiva real.
Pág 123
sofrenia é simplesmente estar fora de ritmo em relação à luz e à
escuridão. O NIMH concluiu um recente estudo (1996) de cinqüenta
páginas, que analisa os efeitos dos antidepressivos mais
amplamente receitados. O objetivo dessa empreitada de vulto era
compreender exatamente como essas drogas – inibidores seletivos
da reabsorção de serotonina (SSRIs), inibidores da oxidase de
monamina (inibidores MAO) e antidepressivos tricíclicos – agem
sobre a depressão. Parece que sua eficácia reside, toda ela, tão-
somente em sua capacidade de restabelecer os ritmos normais de
sono em cérebros cansados, agitados e fora de sincronia. Quando
você dorme, sente-se melhor e mais saudável. Ora, bolas: sua mãe
já dizia isso...
Este documento é muito importante porque, nele, os
pesquisadores admitem que todas as doenças mentais, desde os
vários tipos de depressão até à esquizofrenia, derivam de um
“sintoma” comum: a disfunção (leia-se perda) de sono. Todas as
drogas que sabidamente atuam de modo positivo sobre a
depressão e suas várias formas dão resultados simplesmente
porque recolocam os ciclos de sono novamente no ritmo.
Parece que eles concluem, assim como nós, que quando você
não consegue dormir, você enlouquece.
E o inverso também é verdade: quando você enlouquece, não
consegue dormir.
Pense nisso como “O Segredo” do NIMH.
Veja, sua mente não é seu cérebro; é o eco que acompanha uma
pulsação por trás das ações bioquímicas e biofísicas, no corpo e no
cérebro. Sua mente é um receptor que amplifica e dá um contexto a
tudo o que ocorre em seu corpo e no ambiente. É como se fosse
um aparelho de televisão para triagem, que recebe sinais de uma
fonte remota (corpo, planeta e outros seres vivos). Quando assis-
timos à televisão, sabemos todos que não há seres pequenininhos
dentro do aparelho. É difícil de compreender, mas isso é verdade
também em relação à cabeça da gente.
Existem forças importantes e nomes capciosos – serotonina,
dopamina, GABA e melatonina – para identificar os volteios do
equipamento, mas a essência ainda é a mesma: o sono controla o
estoque de alimentos e a reprodução, que por sua vez controlam
seu estado mental. Neste capítulo, o que pretendemos é causar o
mesmo impacto que a campanha antidrogas da era Reagan
provocou; só que, aqui, estamos iluminando sua mente confusa e
mostrando que “este é o seu cérebro, com insulina elevada e
nenhuma melatonina”.
Pág 124
Nancy Reagan dizia para você “Simplesmente dizer não”. Nosso
conselho é: “simplesmente diga boa noite”.
A doença mental é a segunda doença mais incapacitante do he-
misfério ocidental, depois das doenças cardíacas. Não existe
coincidência. As palavras mais importantes da última frase são
“hemisfério ocidental”, “doença mental”, e “doenças cardíacas”.
Sabemos de que forma a doença mental e as doenças cardíacas
têm sua causa atrelada à superexposição à luz em nosso
hemistério.
VOZES ALIENÍGENAS II
Pág 125
Para dar ainda mais suporte à nossa teoria, a esquizofrenia foi
recentemente relacionada à hora do nascimento.
Isso trabalha a nosso favor.
Até há pouco tempo se acreditava que a história familiar
(genética) era a melhor base para prever se uma pessoa poderia ou
não desenvolver esquizofrenia; mas agora os especialistas estão
abertos a admitir que influências ambientais, tais como o local e a
estação do ano do nascimento, podem ter uma importância muito
maior do que jamais se imaginou. Um estudo publicado na edição
de 25 de fevereiro de 1999 do New England Journal of Medicine
concluiu que pessoas que nascem no final do inverno,
principalmente nas áreas urbanas, têm um risco muito maior de
desenvolver esquizofrenia do que pessoas com história familiar da
doença. O estudo foi realizado na Dinamarca e cobriu 1,75 milhão
de pessoas, todas nascidas entre 1935 e 1978, e todas filhas de
mães dinamarquesas. Esse período de tempo coincide com o
advento da luz elétrica na Europa e com o aumento da presença de
carboidratos na alimentação o ano inteiro. Acreditamos que é por
isso que as pessoas nascidas em Copenhague, capital da
Dinamarca, tinham 2,4 chances a mais de desenvolver
esquizofrenia do que as nascidas em áreas rurais, onde o escuro à
noite e há uma variedade menor de frutas e verduras importadas
disponível. A alteração do processo evolutivo deve se originar na
arena fetal. Algum fator genético deve ser fortemente afetado pelas
longas horas de exposição à luz durante a gravidez.
Acreditamos que aqueles com maior predisposição genética a
apresentar uma resistência muito baixa à toxicidade da luz (ou
seja, pessoas extremamente intolerantes à luz) provavelmente
seriam, também, reprodutores sazonais que sobraram da época
anterior ao fogo. Com isso, dar à luz durante a estação em que
normalmente deveria ocorrer a hibernação deve ter gerado algum
tipo de ônus em termos evolutivos.
É óbvio que a iluminação durante a gestação, seguida pelo fato
de ter nascido “fora de estação” e depois ser criado num ambiente
urbano (luzes 24 horas por dia o ano todo e um consumo
incessante de carboidratos), é suficiente para empurrar alguns de
nós para a beira da gangorra rumo à resistência à insulina de
origem cerebral, ou diabetes cerebral. Enquanto o resto das
pessoas ficam apenas deprimidas, muito deprimidas ou deprimidas
até os ossos, algumas realmente ultrapassam o limite.
Quando a luz que controla o apetite, que por sua vez controla a
insulina, fica permanentemente acesa, a produção de
neurotransmissores
Pág 126
como a serotonina e a dopamina, que são controlados pela insulina
(o estoque de alimento), tornam-se incontrolavelmente instáveis.
O mesmo acontece com você, a caminho das mais variadas
formas de exaustão.
ZUMBIS
Pág 127
mina e do cortisol. O cortisol é o hormônio do estresse e a
dopamina é o neurotransmissor diurno. A dopamina e a serotonina
são equilibradas e reequilibradas no cérebro de acordo com os
sinais vindos do ambiente. Assim sendo, quando você bagunça sua
dopamina, bagunça também a serotonina. É parte do plano.
Quando o sol eleva sua dopamina, você se torna impulsivo e
faminto. É dia, e dependendo da duração da luz natural, pode ser
verão. A dopamina controla a compulsão por proteína, da mesma
forma que o neuropeptídeo Y controla a ingestão de carboidratos.
Com seu nível de dopamina elevado, a serotonina baixa e você
passa a querer carne. A dopamina lhe dá a vantagem competitiva
necessária para obtê-la e trocá-la por sexo. Para ter libido, a
dopamina precisa estar alta. É por isso que os remédios que
aumentam a serotonina causam impotência.
Pessoas que têm originalmente níveis mais baixos de serotonina
são felizes, porque baixos níveis de serotonina significam níveis
elevados de dopamina, naquela prancha sobre o tronco. Todo
mundo gosta de ter dopamina elevada; é uma experiência que fica
entre ganhar velocidade e estar apaixonado.
A serotonina em grande quantidade é que põe a pessoa pra
baixo.
E se você não fabricar melatonina a partir de sua serotonina,
durante o sono... bem, você já sabe.
CONTROLE DA MENTE
Pág 128
dade de fazer conexões. A recuperação da memória fica enfra-
quecida, porque a serotonina filtra as informações sensoriais. A
dopamina, por outro lado, coloca tudo sob foco definido. As
emoções e os impulsos primitivos que governam o sono, o estado
de espírito, o apetite, o despertar, a dor, a agressividade e até
mesmo o comportamento suicida estão todos sob o comportamento
da serotonina e da dopamina. Os neurotransmissores são mole-
culas semelhantes aos hormônios, em termos de seu mecanismo
de ação, no sentido de que elas têm um alvo (receptor) – e, uma
vez atingido esse alvo, seu comportamento muda.
Embora a serotonina seja muito mais um controlador sazonal do
apetite e do sono, o problema começa, em termos fisiológicos –
pelo menos para o seu coração – quando ela entra em cena sob a
forma de uma resposta de pânico, que só aconteceria quando hou-
vesse muita luz. Os níveis de serotonina sempre acompanham os
níveis de insulina, e há receptores para ela em todos os lugares do
corpo e do cérebro. Você sente os efeitos da serotonina sobre as
células do trato gastrintestinal quando está preocupado, ou com
medo mesmo. Não ocorre apenas o efeito-borboleta (pense no
medo do palco), mas a motilidade das entranhas diminui e se
transforma numa contorção, porque o nosso homem das cavernas
não podia parar para defecar, caso estivesse correndo para salvar a
própria vida, perseguido por um tigre. E é a serotonina que faz com
que suas artérias se fechem, no caso de você não vencer a corrida
contra o tigre ou a briga pelo ovo. Mas tem outro elemento na briga,
que controla o tempo. Se o pânico continuar por um período
suficientemente longo, a superfície de suas plaquetas sangüíneas
vai ficar grudenta, devido à resistência à serotonina, que se segue
ao transbordamento de serotonina, em conseqüência do pânico. Em
seguida, as plaquetas se aglutinam fortemente, para que você são
sangue até morrer. Os sintomas de um nível diurno de serotonina
mais elevado que o normal, que são clássicos em animais vítima de
pânico e também em pessoas deprimidas, são:
Pág 129
O nível elevado de serotonina provoca uma rigidez de compor-
tamento que pode se tornar repetitiva, como acontece com pessoas
com distúrbios obsessivo-compulsivo (DOC), ou virar paralisia, co-
mo ocorre com pessoas severamente deprimidas. Todos os sinto-
mas típicos da serotonina elevada – estômago apertado, coração
descompassado, pressão alta, mãos e pés em concha e o grande
sinal de alerta, que é boca seca – são sintomas de um clássico
ataque de pânico, descritos em qualquer livro de medicina do nosso
mundo.
Diante de um perigo real, a serotonina faria o nosso homem das
cavernas correr mais depressa, respirar mais profundamente e
sangrar menos. Quando um rato é apanhado por um predador
numa área aberta, a serotonina em seu cérebro aumenta e ele
congela, aparentemente paralisado pelo medo; na realidade, esse
comportamento já foi testado pelo tempo, ao longo de eras, para
salvar sua vida. Ao congelar, com os movimentos suspensos, o rato
acredita estar escapando de todos os predadores cuja visão
depende do movimento para detectar objetivos. Muitas pessoas
deprimidas descrevem o próprio estado como “encolhido e
paralisado”. Esses sentimentos são absolutamente verdadeiros,
graças à serotonina elevada.
Quando opera em níveis “normais”, a serotonina mantém o ins-
tinto – em relação a impulsos como comer, fazer sexo e agredir –
controlado o suficiente para garantir a sobrevivência. A única razão
pela qual a cultura pop definiu a serotonina como o neurotrans-
missor “feliz” é o mantra de Rodney King. O mundo em que vivemos
exige um excessivo controle dos impulsos, só para “ir levando”.
Não há espaço para comportamento impulsivo e instintivo num
mundo como o nosso, cheio de gente e que depende das relações
interpessoais. No entanto, no mundo real, de onde a maioria de nós
veio, mas ao qual jamais retornaremos, os níveis baixos de
serotonina são adaptáveis, porque o mundo real é um lugar
ameaçador. Até agora, evoluímos muito bem com baixos níveis de
serotonina durante as horas do dia. Com baixo controle dos
impulsos, você pode se alterar mais depressa e responder mais
rapidamente a uma ameaça. Nenhum de nós estaria aqui para
discutir os méritos de ter serotonina alta ou baixa se não tivéssemos
vindo de um estado de baixa serotonina. Neste mundo, a metade da
humanidade se sente muito mal, pois nós não temos controle sobre
nossos impulsos, e esta vida o exige; e a outra metade está
literalmente paralisada e paranóica, por causa dos carboidratos e
da luz.
Pág 130
Então, para aqueles que se encontram paralisados, a resposta
seria descobrir uma droga que baixasse a serotonina?
Não temos de baixá-la.
A natureza fará isso por você, quer você queira, quer não. Tudo o
que você tem a fazer é permanecer em qualquer estado crônico de
sobrecarga hormonal por tempo suficiente para perder seu ritmo e a
natureza mandar você sossegar. Este processo é chamado
homeostase. Nós já ouvimos falar dele antes.
Como todo sistema na natureza, inclusive a própria evolução, é
um algoritmo repetitivo ou um sistema circular de resposta infinito,
existe a necessidade de uma resposta negativa. Tem que haver um
mecanismo de interrupção para manter o equilíbrio naquela prancha
sob o tronco. No caso do estresse e da serotonina ou do cortisol, se
houvesse excesso de alguma substância boa, o receptor se torna
resistente à ação daquele hormônio ou neurotransmissor. Assim
sendo, o estresse infindável o torna insensível ao cortisol ou à
serotonina. E o único estresse verdadeiro no mundo natural provém
do excesso de acasalamento, de comida ou de ser comido – e, é
claro, de não dormir quando tudo o mais dorme. Perder o sono seria
uma impossibilidade no mundo natural, porque, com tudo escuro
como breu, não há mais nada a fazer – a menos que você estivesse
acalentando um bebê ou de olho naquele predador noturno que deu
cabo do braço de seu amigo Eddie a noite passada.
Vivemos num plano totalmente diferente da existência. Que pena
que nossos corpo e mentes ainda não entraram no ritmo!
Pág 131
• Quando a noite era longa, comíamos açúcar (carboidratos).
• Açúcar elevado era sinônimo de insulina elevada.
• A insulina é necessária para converter a proteína que você
comeu (porque sua dopamina estava alta) em serotonina.
• A serotonina equilibrava a dopamina e baixava durante o
sono.
• O dia seguinte, como todos os dias naquela época, era outro
dia. E começava tudo de novo.
Pág 132
Amor e ódio são, na verdade, sexo e defesa em formas social-
mente aceitáveis. Ambas as atividades exigem uma perda do con-
trole dos impulsos (ausência de serotonina) e uma boa dose de
dopamina. Lembre-se de que a dopamina elevada coloca tudo em
grande destaque. A resistência completa à serotonina significa que
a agressividade, ou a liberação da inibição que resulta da completa
alta da serotonina, será coberta pela “sobrecarga sensorial” da
dopamina em elevação. A insensibilidade resultante é acrescida da
percepção exagerada de todo e qualquer estímulo sensorial, o que
cria na mente humana um estado permanente distorcido,
agressivo e paranóico.
Só esta fórmula – nenhum sono e uma dieta cheia-de-açúcar-o-
tempo-todo – poderia explicar nossa marca registrada de “violência
americana”. Viver numa dieta composta de 90% de carboidratos
não tem apenas o efeito de transmitir o estresse da época de
acasalamento para todo o seu ser e criar a resistência à serotonina
que gera a agressividade. Significa também a exaustão de cortisol
para o cérebro, de forma que não há como lidar com o estresse.
A essa altura, acabamos tendo violência nas ruas, vandalismo,
racismo exacerbado – e as pessoas da próxima geração acabando
umas com as outras. Se todo mundo no país é testemunha dessa
infindável violência três vezes ao dia, na televisão, e é exposta à
violência simulada (os filmes) tarde da noite – quando todos
deveríamos estar dormindo – a situação se agrava ainda mais.
Veja, por exemplo, as crianças que testemunharam o massacre dos
colegas em Littleton, no Colorado, em 1999. Elas nunca mais serão
as mesmas.
Crianças expostas continuamente à violência, geração após
geração, apresentam o mesmo esgotamento do sistema de
resposta ao estresse observado nos veteranos de guerra com
síndrome de choque pós-traumático. Os dispositivos evolutivos
normais que avisam o corpo e a mente do perigo ficam
permanentemente ligados, e a experiência se torna biologia. Será
que as testemunhas de Littleton, no Colorado, vão viver vidas
violentas – e com isso “infectar” seus filhos?
Lembre-se de que a possibilidade de um gene se expressar –
neste caso, o gene responsável pela produção de serotonina – vai
depender inteiramente dos sinais do ambiente, ou do tipo de
experiências que o indivíduo terá, no início da vida, em seu
ambiente doméstico.
O fato de ele viver com pessoas hostis ou violentas, ou de ter
experiências calmas e razoáveis, poderá fazer toda a diferença do
mundo. Essa questão ultrapassa a barreira das espécies, como
pode ser visto num expressivo instantâneo de comportamento
animal, relatando no livro
Pág 133
Inside the Brain, do Dr. Ronald Kotulak, que dá provas claras da
conexão genética-ambiental com a agressão violenta. Nas
salamandras “tigre” do Grand Canyon, podemos observar a versão
da natureza para os nossos Dr. Jekyll e Mr. Hyde:
Pág 134
É por isso que um número cada vez maior de pessoas busca aju-
da médica contra a depressão.
Os antidepressivos atuam nos níveis de serotonina através dos
inibidores seletivos de reabsorção de serotonina (SSRIs). O termo
“reabsorção” se refere à volta da serotonina ao neurônio, após sua
mensagem ter sido enviada. Essas drogas atuam aumentando
ainda mais o nível já anormalmente elevado de serotonina, até um
estado mais absurdamente transbordante. Elas conseguem isso
bloqueando os receptores que reabsorvem (sugam) a serotonina e
a retiram do espaço entre os neurônios, para ser utilizada
novamente. Um inibidor seletivo de serotonina trabalha apenas para
inibir o retorno da serotonina a determinados receptores. A
quantidade real de serotonina que você produz não aumenta; só
que o volume que você têm fica disponível por mais tempo, dando-
lhe uma espécie de “lucro”. Com um nível de serotonina mais
constante, seus receptores buscam e alcançam a homeostase.
Neste estado você apresenta resistência aos receptores de
serotonina, o que silencia esses receptores.
A resistência à serotonina, neste caso, significa que o pânico e a
paranóia físicos e mentais despertados da memória genética
coletiva por um estado crônico de serotonina elevada acabam, ou
pelo menos são neutralizados. Como você não registra mais o nível
elevado da serotonina no nível dos receptores, na realidade virtual,
o perigo passou.
Instala-se aí uma sensação de bem-estar idêntica à percebida se
a serotonina estivesse, na realidade, num nível normal (baixo).
A forma de fazer isso virar realidade é apagar as luzes.
O sono neutraliza os níveis de serotonina porque a melatonina
produzida durante o sono só pode ser fabricada com o uso da
serotonina disponível. É por isso que as pessoas deprimidas
tendem a se automedicar, ou dormindo o tempo todo ou não
dormindo de uma vez. Ambas as opções funcionam exatamente
como os antidepressivos. Ficar sem dormir por 24 horas provoca a
elevação da serotonina a níveis de exaustão antidepressivos,
porque ela nunca se transforma em melatonina. Quando ela sobe
muito, “ultrapassa o limite” e a sobrecarga faz com que os
receptores vão lá embaixo, e – voià! – é exatamente como se a
serotonina estivesse baixa, ou igualzinho a tomar Prozac.
O “sono de fuga” – dormir o dia inteiro e parte da noite – funciona
ainda melhor, porque a serotonina na qual você está mergulhado
vai virar melatonina em cascata, levando-o a um estado de
serotonina normal ou baixa, pelo menos por um tempo. Mas a
maioria de nós não
Pág 135
consegue dormir o dia inteiro, a menos que tenhamos sido
demitidos ou estejamos nos divorciando, de modo que precisamos
de uma “coisinha”, só para sobreviver. Como lamentou Aldous
Huxley, em Admirável mundo novo:
Pág 136
lucros nos Estados Unidos chegaram a US$ 1,37 bilhão. Setenta
por cento das prescrições do Prozac são feitas por clínicos gerais –
os médicos de família. Embora seja razoável imaginar que alguém à
beira de uma doença mental deva consultar um psiquiatra, seu
médico não concorda. Custaria caro demais. Agora, se você se
sente sem ânimo para ir à ginástica por causa de todas as luzes
flamejantes e barras de cereais em sua vida, tudo o que tem a fazer
é pagar aquela consulta anual com seu médico e pedir uma receita
de algo que o levante, já que você está lá. Qualquer clínico geral
resolve.
Em 1996, foram registradas 735 mil prescrições de Prozac para
crianças. (Apesar disso, a Eli Lilly ainda não pode anunciá-lo como
um remédio para crianças, porque a FDA diz que ainda está
estudando essa aplicação). O fato mais sinistro é que a Eli Lilly
desenvolveu uma versão com sabor menta – para potenciais
consumidores que são CRIANÇAS. Isso significa que qualquer
médico tem condições de prescrever Prozac sabor menta para uma
criança, sem sequer a necessidade de uma avaliação psiquiátrica.
O PRIMEIRO É DE GRAÇA
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pode fazer a você. Sem dúvida, o jogo dificilmente vale a pena.
Por que deveria você, por um mero prazer passageiro, arriscar-
se a perder esses magníficos poderes com que foi
aquinhoado?”
“Mas eu abomino a árida rotina da existência. Eu amo a
exaltação mental...”
Pág 138
número e a intensidade dos receptores NMDA, enquanto a GABA
está elevada, o cérebro está “equilibrando” as coisas. O “você-sabe-
o-que” atinge o limite quando você para com o álcool, as drogas ou
o açúcar, e o nível de GABA cai, porque aí o nível de NMDA sobe
pelo menos duas vezes mais do que antes. Como, neste caso, há
duas vezes mais botões de “ligar” do que o normal, o barulho e a
luz ficam ensurdecedores, insuportáveis. Duas vezes mais ativi-
dades sinápticas e elétricas é muita, muita coisa. Você não tem
opção, a não ser voltar para seja lá o que for que provocou o estado
de calma inicial. Agora pode se considerar um viciado. E cada
vez que você tenta voltar, só fica pior. A menos que você esteja
dormindo, porque a melatonina eleva novamente os receptores
GABA para a última “luz apagada”.
No cenário da vida moderna, você está viciado numa taça de
vinho à noite ou num pãozinho de centeio de baixa caloria com
geléia na hora do almoço. Você é sem dúvida um viciado se
consumir todos os três num único dia, todos os dias, todos os anos,
entra ano e sai ano. Graças à insulina proveniente do consumo de
carboidratos e da resposta direta da GABA à insulina, nós, os
viciados em junk-food, temos o mesmo potencial identificado nos
alcoólatras.
Existem algumas pessoas que podem tomar um único drinque
ocasionalmente. Mas a maioria de nós não consegue parar após o
primeiro copo de cerveja ou de Coca-Cola, ou depois da primeira
batata frita ou bolinho de arroz.
É tudo a mesma coisa.
RETIRADA
Considere a cena descrita por J. Madeleine Nash, na edição da
Time de 5 de maio de 1997:
Imagine que você está tomando um gole de uísque. Que está
dando uma tragada num cigarro. Que está fumando um cigarro
de maconha. Que está cheirando um carreirão de cocaína. Ou
tomando uma injeção de heroína. Não entre no mérito da
legalidade ou não dessas drogas; concentre-se, por ora, na
química. No momento em que você toma aquele gole, dá
aquela tragada, fuma aquele cigarro de maconha, cheira
aquele carreirão ou toma aquela injeção, trilhões de moléculas
potentes invadem sua corrente sangüínea e seu cérebro. E,
uma vez lá, desencadeiam uma série de efeitos químicos e
elétricos em cascata – uma espécie
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de reação neurológica em cadeia, que ricocheteia por todo o
crânio e rearranja a realidade interior da mente.
Pág 140
somos atirados num caminho sem volta de autodestruição, em alta
velocidade, quando a AMA e a American Heart Association dizem
para retirarmos a proteína ou a gordura de nossas dietas e viver de
nada a não ser açúcar, com uma dieta de carboidratos e de baixo
teor de gordura.
Quando os alcoólatras bebem, estão ingerindo carboidratos
concentrados e refinados – exatamente como você, quando come
pão, massas ou bolo de chocolate. Quando você bebe, o álcool
normalmente se agrega aos receptores de serotonina e os ativa. Ele
não se liga aos receptores de dopamina, o que explica por que
alguns de nós, quando bebemos, produzimos melatonina e caímos
no sono. Em outras pessoas, a ativação de um receptor provoca
uma liberação de dopamina.
Lembre-se da natureza.
Lembre-se de que, para serem adaptativas, nossas respostas
devem ser capazes de realizar uma infinita variedade de estratégias
de combinação. Em conseqüência, a atividade hormonal, imuno-
lógica e neurotransmissora é, muito parecida com um jogo de
fliperama; você atinge um ponto aqui e uma luz pisca lá na frente.
Quando um receptor é atingido, ele pode provocar a fabricação do
produto de um outro receptor. É uma série de verificações e
equilíbrios, de ações compensatórias que visam restaurar sua
homeostase, não importa o que a vida lhe atire em cima.
As pessoas que respondem ao álcool com uma liberação
anormalmente alta de dopamina se tornam viciadas. Depois do
primeiro drinque, ficam com baixa de serotonina, porque seu
receptor respondeu com dopamina. Baixa serotonina significa, por
exemplo, que colocar a cúpula de um abajur na cabeça pode
parecer uma coisa razoável. A maior parte dos verdadeiros
alcoólatras são completamente desinibidos, porque eles não têm
serotonina para controlar os impulsos. E também são bêbados
maus, porque são agressivos. A cada drinque, a serotonina cai
ainda mais e a dopamina sobe, provocando numa euforia que é
armazenada nos atalhos da memória. Essas são as pessoas que se
lembram da experiência e bebem mais e mais. Essas se tornam
alcoólatras.
Em nosso tempo, só a bebida já é suficientemente difícil de se
administrar, pois já estamos cronicamente exaustos e deprimidos.
Mas vamos imaginar que você seja um recém-chegado na área, em
termos genéticos. A adaptação, como você já sabe, leva tempo. De
que forma você vai ser afetado por uma aceleração na velocidade –
ou na mudança – evolutiva, é algo que vai depender, em larga
medida, do período de tempo em que
Pág 141
seu grupo genético ficou exposto a uma mudança ambiental, como
por exemplo a disponibilidade de carboidratos, e de quanto tempo
os componentes do grupo levaram para se adaptar à escala artificial
de tempo da luz constante. Se você quer realmente saber o que
significa ser um recém-chegado à nossa cultura, tudo o que tem a
fazer é, ironicamente prestar muita atenção ao mais antigo grupo de
americanos conhecido neste continente, ou seja, os americanos
nativos.
Pág 141
A seguir, o autor descreve “os engarrafamentos na estrada de
mão dupla que leva à loja de bebidas mais próxima”. O que? Bem,
pelo menos voltamos ao alcoolismo. Será que ele está insinuando
que essas pessoas estão morrendo de tanto fumar em carros
fechados, enquanto esperam na fila para comprar uma garrafa de
bebida em seu caminho para o hospital, de modo que possam dirigir
bêbadas e bater com o carro, quando o seu diabetes era a grande
questão desde o início? É claro que essas pessoas abrem caminho
para o diabetes bebendo, fumando e comendo. Geneticamente,
porém, são pessoas que não possuem tolerância em relação à
perda de sono e suas conseqüências: compulsão por açúcar e
depressão.
Elas estão vivendo num ambiente alienígena para sua genética
grupal.
O nosso ambiente.
Todas elas apresentam os mesmos sinais que nós de toxicidade
provocada pela luz, aliada a um nível extraordinário de estresse.
obesidade, doenças cardíacas, hipertensão, alcoolismo, suicídio em
conseqüência de depressão e, finalmente, infertilidade – tudo isso
está no futuro delas.
O fumo é o menor dos seus problemas.
MATA DIREITO
Pág 143
No excerto do artigo que transcrevemos a seguir, o Sr.
MataDireito está discutindo o caminho vermelho, uma nova
abordagem para o tratamento do alcoolismo que vem sendo testada
nas reservas indígenas. O Caminho Vermelho é uma referência à
antiga crença, entre as tribos, de que só há duas escolhas para os
povos nativos: o Caminho Negro, que leva ao desespero e à morte,
ou o Caminho Vermelho, que leva à paz e à harmonia.
Esse programa de consciência-cultural-suada, pseudo-doze-
passos, convoca os nativos americanos alcoólatras a “viverem num
Dia Vermelho”. Tarefa nada fácil. Assim como a maioria dos
participantes do programa, o Sr. MataDireito vive num mundo
marcado pelo abandono, pelo vício e pela violência. E pode apostar
que essas experiências se transformam na sua biologia.
Ele começou a beber com a idade de seis anos, quando viu um
homem branco jogar sua mãe de uma janela. Com doze anos,
comprou uma tatuagem que dizia: “Mais cerveja.” Aos 25, estava
desempregado e vivendo num alojamento do governo, enquanto
tentava reavaliar sua curta existência. Em sua entrevista, ele
atribuiu o fracasso de sua tentativa anterior de deixar o álcool aos
métodos de tratamento usados pelo homem branco:
Pág 144
O Sr. MataDireito apenas trocou de lugar no Titanic.
Se ele tiver sorte, algum assistente social bem-intensionado da
clínica indígena próxima ao centro de tratamento de diabéticos vai
lhe conseguir uma receita de Prozac – e quem sabe algum Zyban
para combater o fumo. Quando se descobrir que ele tem doença
coronariana e diabetes aos 36 anos, os médicos vão por a culpa no
cigarro ou na proximidade da loja de bebidas alcoólicas, sem
nunca perceber que uma vida inteira de estresse incompatível e
doze anos de Prozac para aliviar o tormento criaram um “estado de
pânico” de serotonina alta tão insuportável que seu coração está
prestes a parar.
Pág 145
SETE
Melhor lugar para
esconder uma mentira
é entre duas verdades:
O que faz parar o maior relógio
de seu corpo
Nossos batimentos cardíacos nos dão a certeza de que estamos
bem. Temos pavor de pensar que ele possa parar, temos pavor de
pensar que o coração daqueles que amamos possa silenciar. Meu
coração está partido, respondemos, como se ele fosse um bloco de
giz espatifado por um martelo.
– Diane Ackerman,
A Natural History of the Senses
Pág 146
As pessoas gordas simplesmente estão cansadas demais para
viver.
O sono controla o seu apetite por carboidratos, cujo consumo
controla a retenção de líquidos (para modificar sua pressão arterial)
e a produção de insulina (que facilita a produção do colesterol). Se
não há sono, não há controle. E a serotonina se acumula. Quando
você não dorme e come carboidratos todos os dias, meses, anos,
décadas, você fica nadando num estado crônico de serotonina
elevada, porque ela nunca consegue se transformar em melatonina.
É daí que vêm a depressão e os problemas cardíacos.
É sabido que as pessoas tristes têm coração partido, e as
pessoas com o coração partido são realmente tristes.
As pessoas deprimidas têm mais ataques cardíacos, e as pessoas
com doenças cardíacas estão sempre deprimidas. Os cientistas
sabem que a depressão e a doença cardiovascular andam de mãos
dadas.
Só o público é que não tem a menor idéia de que isso acontece.
Pág 146
Pág 147
A serotonina (que se eleva em resposta ao estresse do medo,
quando você come carboidratos) controla a vasoconstricção e a
agregação de plaquetas, por uma razão real, no mundo natural.
Você nunca entraria num estado de pânico, a menos que o que o
estivesse assustando arrancasse sua perna fora ou o atingisse com
um tacape e o fizesse sangrar até morrer. A principal cadeia de
eventos na doença cardiovascular – pressão alta, constricção dos
vasos sangüíneos, aumento dos fatores coagulantes, colesterol alto
e canais de cálcio porosos – espelha todos os sintomas da
síndrome de hibernação prolongada. Todos esses sintomas são
reversíveis com uma quantidade adequada de sono, que eleva a
melatonina e suprime seu apetite por carboidratos.
Para evitar doenças cardíacas, você precisa parar de comer
açúcar durante mais da metade do ano, porque os níveis
anormalmente elevados de serotonina provocados pela insulina na
qual você está nadando não apenas cria um estado maníaco-
depressivo; ela também aciona seu sistema nervoso simpático, que
é o motor quântico primitivo que conecta seu coração e seu
cérebro. Ele controla a resposta “lutar ou fugir” que pode salvá-lo
quando você não consegue se salvar sozinho.
Mais importante ainda: o sistema nervoso simpático corre através
de moléculas chamadas fatores de crescimento nervoso (NGF), em
seu coração, e de seus contrapartes no cérebro, os fatores
neurotróficos derivados do cérebro (BDNF). O BFNF é responsável
pelo crescimento das células cerebrais chamadas neurônios e suas
ramificações, os dentritos. Os centros de energia que alimentam o
crescimento desses neurônios e dentritos são as células de seu
cérebro chamadas glias.
Em pessoas cronicamente deprimidas, os pesquisadores
observam uma perda drástica das células glias. E as células só
morrem quando ficam sem combustível. Acreditamos que esta
morte seja o resultado de resistência lozalizada à insulina no
cérebro, que precede o diabetes cerebral da esquisofrania. As
células gliais normalmente crescem quando alimentadas pelo
açúcar que chega a elas através dos receptores de insulina. No
entanto, graças à resistência à insulina (provocada pela ingestão de
carboidratos durante um período longo demais) atinge o cérebro, as
glias morrem e o BDNF cai. O efeito sobre a consciência é a
depressão. Não importa se é um desequilíbrio de
serotonina/dopamina, de GAQBA/NMDA ou de insulina/cortisol, ou
se é uma falta de BDNF/NGF, porque tudo é a mesma coisa. Todos
os trilhões de sistemas circulares de resposta dos trilhões de
diferentes moléculas em
Pág 148
suas células, com trilhões de nomes diferentes, fazem seu trabalho
simultaneamente, para que você continue se adaptando.
Normalmente, uma das principais funções evolutivas do BDNF
sobre seus neurônios é adaptar-se às mudanças ambientais,
fomentando o crescimento de dentritos, que abrem novos caminhos
para que se possa aprender coisas novas e recordá-las. Essa
capacidade nos permite mudar nosso comportamento para nos
adaptarmos a novas circunstâncias e sobreviver. Sem o BDNF para
reforçar a expansão ao longo dos atalhos de serotonina e de
dopamina e fortalecer as conexões com o hipocampo, nós não
apenas seríamos incapazes de suportar circunstâncias, lembrar ou
aprender: nós morreríamos. Ou a gente se suicidaria ou nosso
coração pararia.
O NGF (fator de crescimento nervoso) no coração realiza as
mesmas tarefas de crescimento nervoso que ajuda o coração a se
lembrar e a suportar dificuldades. Mas a resistência à insulina nos
músculos do coração significa que nenhum açúcar do sangue vai
para as células que fornecem NGF. Quando falta NGF, as conexões
da memória (sinapses) enfraquecem e o coração literalmente
esquece de manter o ritmo. Essa falha afeta a variabilidade dos
batimentos de que você precisa para lidar com as situações
estressantes. Seu coração e sua mente são uma coisa só.
Quando você mantém as luzes acesas para criar um verão
infindável, e tem acesso a um estoque inesgotável de carboidratos,
todos os seus hormônios permanecem também no modo de verão.
Não apenas as nossas mentes, mas também os nossos corações
vivem no “pânico” constante da época do acasalamento
(competindo para conseguir recursos, mudanças hormonais
bruscas de humor e, no final, perda), que costumava coincidir com o
verdadeiro verão. Dessa forma, dia e noite, o ano todo e década
após década, nossos hormônios sexuais ficam em franca atividade
– e nós, prontos para a luta. Esse estado de pico e prontidão é uma
circunstância com a qual só estamos preparados para lidar durante
uns cinco meses, no máximo, dos doze meses do ano.
As mentiras sobre baixo teor de gordura das décadas de 1970,
1980 e 1990 só fizeram exacerbam um enorme problema técnico
evolutivo, ao recomendarem uma dieta com mais carboidratos e
exercícios, que induzem a picos de cortisol e de insulina jamais
vistos em seres humanos. E tem também a psicose de uma
população mentalmente consumida pelo sexo, mas não precisamos
chegar lá. Porque o que é importante você saber, e saber até os
ossos, é que, quando você não dorme, seu coração morre.
É simples assim.
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ARRASTANDO-SE PARA MORRER
O que acontece ao maior relógio de seu corpo quando a luz nunca
se acaba ao pôr-do-sol? Quando o combustível que alimenta seu
coração nunca varia e o pânico percebido em sua mente nunca tem
fim? Tantas coisas que você nem pode imaginar.
E nenhuma delas é boa.
Suas artérias realmente “sentem” o sangue correr através delas.
Os sensores que lêem a força com que seu sangue puxa e
empurra, ao correr através de seu corpo, são chamados células
endoteliais. Essas células vivem à própria maneira. Elas mudam de
forma, movimentam-se e ativam/desativam uma miríade de genes,
em resposta à pressão sangue e à velocidade, aos hormônios e
citocinas que detectam no sangue e aos fótons trazidos ao sangue
pelas células chamadas criptocromos. (As células endoteliais
controlam sozinhas a dinâmica de fluidos do fluxo sangüíneo; ou
seja, elas distribuem as forças para evitar extremos perigosos.)
As células endoteliais também controlam a metabolização dos
ácidos graxos que flutuam em seu sangue. Os ácidos graxos são
aquilo que o médico mede quando o ameaça por causa de seu
colesterol alto. Os exames de sangue que ele pede para avaliar seu
colesterol analisam diferentes componentes cujas siglas são VLDL,
HDL e LDL. Se as LDLs (lipoproteínas de baixa densidade) são
divisões das VLDLs (lipoproteínas de baixíssima densidade) que
foram fabricadas em seu fígado, a partir dos carboidratos que você
comeu e se transformaram em partículas LDL – menores, pesadas
e oxidadas –, tudo isso vai depender exclusivamente de suas
células endoteliais.
O médico lhe diz para não comer antes do exame. Isso é
necessário não porque uma refeição rica em gorduras vai mascarar
os resultados; uma refeição rica em carboidratos é o que o faz. Os
carboidratos se transformam em triglicérideos (gordura corporal),
para insulá-lo e nutri-lo quando não houver mais açúcar disponível
para comer. Os carboidratos também se transformam,
simultaneamente, nesses ácidos graxos (colesterol), para proteger
suas células cardíacas contra vazamentos, caso você congele, e
para nutrir as células musculares de seu coração.
Seu coração possui um metabolismo sazonal da mesma forma
que seu cérebro. O coração do verão funciona com açúcar puro
(glicose) e o coração do inverno funciona com ácidos graxos livres.
Como é sempre
Pág 150
verão em nossos corações, nossas artérias nunca têm chance de
usar todo o colesterol disponível. Além disso, a serotonina continua
a se acumular, o que provoca resistência à serotonina, que por sua
vez provoca pressão alta, no caminho para a formação de coágulos
e – enquanto as luzes estiverem brilhando – cortisol
permanentemente elevado. E você sabe muito bem o que significa
qualquer coisa em estado crônico.
A resistência ao cortisol é uma situação desastrosa.
A produção de cortisol é um mecanismo sempre à disposição de
suportar situações, de lidar com o estresse episódico. A cobertura
de seu coração adora cortisol, em pequenas doses. As células
endoteliais da cobertura de seu coração não podem realizar todas
as suas tarefas sem doses pequenas e administráveis de cortisol.
Doses grandes, no entanto, são sinal de grande perigo para suas
células endoteliais. Doses grandes o dia inteiro, a semana inteira e
o ano inteiro, durante décadas, significam resistência ao cortisol na
certa.
Além de mau humor, impaciência, percepção mascarada do
tempo e pânico generalizado.
Não importa se a gordura que você ingere é saturada ou não-
saturada, se é boa ou ruim; se as células endoteliais da cobertura
de seu coração estiverem mortas, você também está. A cobertura
de cada vaso sangüíneo de seu corpo é fundamental no esquema
maior do órgão sensorial conhecido como coração.
A corrida de seu sangue, o puxa-empurra, é um esforço sobre as
paredes de suas artérias. O esforço sobre uma almofada macia de
cobertura formada por células endoteliais ativa três genes muito
importantes: um que produz óxido nítrico, que controla o
estreitamento de seus vasos sangüíneos, que por sua vez controla
a velocidade e o volume de sua pressão arterial, e dois genes que
inibem a formação de coágulos e suavizam qualquer formação
muscular anormal (formações grumosas). Células endoteliais que
captam turbulência demais ou, no extremo oposto, nenhuma
turbulência, ativam muito pouco esses genes. E isso é mau.
Isso significa que, embora correr o tempo todo numa esteira
produza excesso de turbulência, ficar o tempo todo colado à
televisão ou à tela do computador é ruim do mesmo jeito. Um pouco
de estresse, episodicamente, é bom – da mesma forma que um
pouco de cortisol, episodicamente, mantém o ritmo e prova que
você está vivo.
Excesso de estresse crônico, é claro, para a natureza significa
que você é um perdedor e deve ser eliminado de forma
permanente. Um
Pág 151
pequeno banho de cortisol, porém, faz as células endoteliais muito
felizes; já o excesso vai afogá-las. Como seu cortisol fica alto
enquanto as luzes estiverem acesas, você provavelmente está se
afogando. Por isso, só o fato de manter as luzes acesas até tarde
da noite o ano todo já causa a morte das células endoteliais.
Qualquer elevação na pressão arterial, a partir de seu sistema
nervoso simpático ou em função da pesada ingestão de
carboidratos na estação errada, vai alterar a pressão e, com isso,
criar ainda mais esforço, para matar suas células endoteliais
duplamente. Lembre-se de que os cinco quilos de peso de água
que você carrega enquanto está numa dieta rica em
carboidratos já é um aumento de volume suficiente para responder
pela pressão alta subclínica crônica, observada na maioria dos
homens acima de 35 anos de idade.
Qualquer pressão alta, não importa o quão leve seja, sempre
significa esforço.
O outro assassino importante das células endoteliais da cobertura
do seu coração é o nível cronicamente alto de endotoxina LPS.
Lembre-se de que a endotoxina LPS é o “suor” bacteriano
proveniente dos dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em
suas entranhas, e que, à medida que se eleva, ativa seu sistema
imunológico e a interleucina-2, que faz você dormir e baixa
novamente o número de bactérias. Quando você luta contra o sono,
porém, esse número se eleva e permanece alto.
Isso mata o seu coração.
A maneira mais obscura de matar suas células endoteliais por não
dormir é através da homocisteína elevada. Um homem chamado
Kilmer McCully percebeu, há cerca de trinta anos, que crianças
portadoras de uma doença genética chamada homocisteinúria
sempre morriam de ataques cardíacos por entupimento das artérias
por volta da idade de dez ou onze anos. As crianças portadores de
homocisteinúria são incapazes, geneticamente, de fabricar uma
enzima que metaboliza a homocisteína, para removê-la da corrente
sangüínea. McCully foi esperto o suficiente para concluir que os
altos níveis de homocisteína acumulada deviam estar também
associados à doença coronariana arterial em adultos. E ele estava
certo.
É claro que ninguém o levou a sério, até que os cientistas
descobriram que um aumento de suplementos de ácido fólico
compensava a falta da enzima nos caminhos de eliminação da
homocisteína. E, como surgiu um tratamento, de repente apareceu
também uma doença: deficiência genética de ácido fólico. Minha
nossa!
Pág 152
Uma deficiência genética de ácido fólico generalizada na maior
parte da população masculina que chega à idade madura é algo
virtualmente impossível; então, sabendo que ninguém havia
montado o quebra-cabeça, nós investigamos o caminho da
fabricação e da metabolização da homocisteína. Sem dúvida
nenhuma, a apenas alguns sistemas circulares de resposta e
cascatas atrás, uma enzima que é crucial para metabolizar a
metionina – a precursora da homocisteína – é abatida por um
criptocromo carregado de luz azul. A quantidade de luz do dia a que
você é exposto, agravada pela quantidade de luz artificial, controla
a produção de uma coisa diminuta, aparentemente esotérica, lá em
cima na cascata dos outros hormônios e funções, que pode matar
você.
Então.
As células endoteliais – que forram o seu coração – controlam a
formação de coágulos, o crescimento excessivo, o metabolismo de
gorduras e a pressão arterial. Você pode matar suas células
endoteliais de quatro maneiras:
SEM SAÍDA
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células endoteliais interpretam como sendo um problema de “fluxo”,
simulando pelas protuberâncias grumosas.
As placas de colesterol, por si mesmas, não são responsáveis
pelo terreno acidentado.
O problema é causado pelos “fatores” imunes liberados pelas
próprias células endoteliais, numa tentativa protetora de restaurar a
homeostase e distribuir o fluxo sangüíneo. Um fluxo anormal, na
verdade, desliga os genes protetores e causa pânico entre as
células endoteliais. Após liberarem os fatores imunes que se
fecham, elevando sua pressão arterial por engano, elas começam a
se agachar em torno, estendendo pseudopodos (pezinhos), para
escapar de áreas onde o espaço mudou abruptamente.
A migração dessas células que forram suas artérias leva ao
afinamento da parede arterial. Os claros são preenchidos por
células imunes, chamadas leucócitos, que formam uma casca
suficientemente grudenta para atrair o colesterol que flutua na
corrente sangüínea. Este faz um band-aid de gordura para reforçar
a parede arterial que afinou. A essa altura, você tem placas de
colesterol, crescimento excessivo de tecido muscular macio e
células imunes, produzindo o que se conhece por células de
espuma.
As células de espuma constituem uma “lesão”.
Essa nova bagunça forma um terreno excessivamente
“acidentado” e um fluxo extremamente dificultado, o que
enlouquece ainda mais as suas pobres células endoteliais. Elas
fogem e a parede da artéria afina; e quando seu sistema
imunológico tenta consertá-la, ela vai ficando cada vez mais
acidentada – e aí, claro, as células endoteliais mais uma vez
escapam, e toda a confusão começa de novo. E de novo e de novo.
Você só percebe esse quadro porque não morreu ainda.
Provavelmente você já teve uma forte dor no peito ao se exercitar.
E sem dúvida também está achando cada vez mais difícil combater
a depressão causada por todos os carboidratos que ingeriu e pela
serotonina anormalmente alta que se acumula, porque não tem
para onde ir. Sim, porque quando você nunca apaga as luzes, a
serotonina não tem como se transformar em melatonina. Na
verdade, a luz suprime a enzima que converteria a serotonina em
melatonina. Além de fazer você ficar triste, esses níveis absurdos
de serotonina criam resistência à serotonina nas plaquetas do
sangue, o que as torna mais grudentas que o usual. Isso é
importante, porque é difícil ter um ataque cardíaco sem um coágulo
sangüíneo, e é difícil ter um coágulo sangüíneo sem plaquetas
grudentas.
Pág 154
Você está cansado, ansioso, infeliz, miserável, viciado em açúcar
ou em álcool, talvez dependente de Prozac – e anda por aí com a
cobertura do coração morta, mantida de pé à custa de estacas de
colesterol.
Você tem uma doença cardíaca.
E provavelmente vai morrer... logo.
Qualquer médico que lesse a descrição anterior lhe diria que você
vai ter um ataque cardíaco, e que isso vai acontecer por causa das
placas de colesterol que estão entupindo as suas artérias. Mas isso
não é verdade. Sim, é provável que você tenha um ataque cardíaco,
mas a culpa não é do colesterol. Na verdade, ele é o menor dos
seus problemas. Seu médico, os jornais e a televisão tem mais
chances de matá-lo do que os band-aids de colesterol que você
está usando.
Declaramos isso após ler volumes e volumes de pesquisa de
ponta sobre o fenômeno do “ataque cardíaco”. Doença cardíaca
não é ataque cardíaco. Uma doença cardíaca pode ser qualquer
ponto da escala, desde a doença cardiovascular acompanhada de
pressão arterial elevada e formação de placas de colesterol, até a
cardiomiopatia (músculos cardíacos cansados ou danificados), que
leva à insuficiência cardíaca congestiva, com inúmeras variações
sobre o mesmo tema. Ataque cardíaco é quando seu coração se
estreita em um último e fatal batimento, e não retorna mais.
Se não são as placas de colesterol, e se não são as plaquetas
grudentas, qual é a causa do ataque cardíaco? Para deduzir a
origem real da morte por ataque cardíaco, vamos fazer a pergunta
que fizemos tacitamente em todos os outros capítulos, até agora:
Quando e onde este evento físico que agora observamos poderia
ocorrer na natureza?
A menos que possamos responder a essa pergunta, estamos
usando o “remédio” (leia-se ciência) errado. É uma técnica
imbatível, que sempre nos leva à inegável verdade, ao revelar o
mecanismo natural que foi inadvertidamente confundido pela vida
moderna. Já desmascaramos a obesidade ao examinarmos o
metabolismo banquete-ou-fome. Podemos entender a premissa
metabólica por trás do diabetes tipo II, dentro da lógica da
hibernação. A doença mental pode ser entendida como um
Pág 155
produto do estoque de alimentos e da fadiga, que depende do limite
– ou seja, quanto você pode suportar antes de desmoronar?
Então, mais uma vez e pela primeira vez, em se tratando de
doença coronariana arterial, quando, e sob que circunstâncias, um
ataque cardíaco ocorreria na natureza?
A resposta é: somente num estado de pânico.
Os animais só sofrem ataque cardíaco súbito quando literalmente
morrem de medo. Seus corações são transformados em pedra pelo
próprio mecanismo “lutar ou fugir” de seus corpos. A base da
experiência humana de um ataque cardíaco deve residir nos
mesmos mecanismos.
Analisamos estudos que avaliaram mortes ocorridas durante
terremotos e ataques de mísseis, para procurar evidências que
dessem suporte a essa premissa. Analisamos mortes ocorridas em
1994, durante o terremoto de Northridge, próximo a Los Angeles, e,
em 1991, durante o ataque de mísseis do Iraque sobre Israel. Não
só descobrimos que muitas mortes não foram conseqüência do
trauma, mas que pessoas sem prévios problemas cardíacos, em
muitos casos, morreram realmente de medo.
Na média, houve um aumento de 40% nos ataques cardíacos
ocorridos em ambos os dias mencionados. O terror, em uma pessoa
que em situação normal seria considerada sadia, pode provocar
uma mistura química tão potente que é capaz de induzir um influxo
cataclísmico de cálcio em todas as suas células do coração; isso
faz o coração se contrair tão violentamente que nunca mais
consegue relaxar. O “estado de medo” causado pelos níveis de
serotonina crônica e anormalmente elevados, que já detalhamos
anteriormente, coloca sua mente e seu coração num estado perene
e quase permanente de pânico psicológico.
Num notável ensaio, publicado há mais de quarenta anos na
revista American Anthropology, Walter Bradford Cannon, um
fisiologista da Escola de Medicina de Harvard, descreveu de que
forma, em muitas culturas primitivas, uma maldição lançada por um
mágico ou curandeiro todo-poderoso era suficiente para matar uma
pessoa crente. O coração dessa pessoa literalmente parava.
E se só isso já não é suficiente trágico, a medicina moderna
aumenta o medo, tornando-o palpável. A televisão e os anúncios
impressos nos bombardeiam com novidades do front sobre “a
guerra às doenças cardíacas” – para o caso de você não ter notado
que seu coração estava tentando matá-lo. Somos ensinados a odiar
o nosso
Pág 156
coração. É verdade que os seres humanos sempre foram
obcecados por seu coração na vida, na arte e na literatura. Agora,
estamos obcecados pela saúde do nosso coração. Parecemos estar
presos em relações de interdependência com cardiologistas,
pesquisadores e fisiologistas especializados em exercícios – e
numa luta alimentar mortal contra a sonhada indepenência de
nossos corações.
Graças sobretudo à mídia, e à paranóia americana em geral,
estamos muito mais assustados a cada minuto com relação ao
nosso coração do que em tempo algum da história – nem mesmo
durante a epidemia de gripe de 1914, que matou 20 milhões de
pessoas em todo o mundo. As pessoas, atualmente, estão muito
mais preocupadas com as doenças cardíacas do que o pessoal
daquele época estava com a gripe.
Estamos vivendo tempos verdadeiramente estranhos.
Acrescente-se a esse terror generalizado as duas visitas anuais
ao cardiologista, ou uma ida até à quitanda da esquina, por falar
nisso, para comprar suco “sem gordura”, hambúrgueres de peru
sem gordura e pratos combinados de massa de baixo teor de
gordura, que vão ao freezer e ao fogo, sob luzes fluorescentes cujo
brilho equivale ao de dez mil sóis artificiais.
Não admira que estejamos bebendo algo mais do que suco.
INVASORES ALIENÍGENAS
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Um coração ocluso e entupido de colesterol pode não matá-lo se
seu sistema imunológico tolerar a simbiose com uma ou mais das
formas de vida oportunistas que inevitavelmente vão entrar nas
placas que formam suas artérias. Se você seguir os artigos de
jornais sobre a “nova” teoria, que citam a infecção como a causa da
doença cardíaca, estará familiarizado com os nomes como H.
pylori, vírus CMV, Chlamydia pneumoniae e cáries dentárias. Até
certo ponto, os artigos estão corretos. Um ou mais desses
coabitantes da Terra vão infectar a placa de colesterol que se
formou quando suas células endoteliais o abandonaram.
A H. pylori é também chamada Helicobacter pylori. É uma bactéria
comum, que em geral infecta a maioria de nós durante a infância.
Em pessoas com flora intestinal (bactérias) desequilibrada, a H.
pylori pode causar a produção excessiva de ácido, o que leva a
úlceras. Tagamet e Zantac são duas drogas muito vendidas, que
suprimem a resposta do sistema imunológico a esse infeliz estado
de coisas. Agora, a maioria dos médicos decidiu que uma terapia à
base de antibióticos para matar a Hp, e provavelmente algumas
centenas de outras bactérias inofensivas em seu intestino, é a
melhor forma de lidar com as úlceras estomacais. Afinal, porque
usar uma pistola, se podemos usar uma bomba de hidrogênio?
Sentimos que as conexões entre a doença cardíaca e a Hp são,
na melhor das hipóteses, frágeis. São baseadas em trabalhos sobre
o sangue, que demonstram que um grande número de pessoas
com doença arterial coronariana também apresentam exames
positivos quanto à presença de Hp, e que o tratamento com
antibióticos reduz a incidência de ataques cardíacos. Não é uma
grande conexão. A evidência do citomegalovírus (CMV) como
ferramenta evolutiva é muito mais forte. E a história sobre a
Chlamydia é completamente fascinante. Parece que a Chlamydia
não só infecta como infarta. O ataque cardíaco é chamado pelos
médicos de infarto do miocárdio. Mas não é a Chlamydia, em si,
que causa a inflamação que leva ao ataque cardíaco.
Trata-se de uma história muito mais antiga.
Sempre que um parasita realiza uma invasão, não teria o menor
sentido, para ele, ameaçar a vida do hospedeiro. A Chlamydia
segue essa regra. Os danos que recaem sobre seu hospedeiro
acontecem em função do sistema imunológico humano e da
imitação molecular. Na natureza, um dos truques mais antigos é o
disfarce. Os insetos chamados bichos-pau se parecem,
previsivelmente, com os galhos sobre os quais caminham. A
Chlamydia cria um disfarce ao usar, em sua cobertura externa,
Pág 158
uma proteína que lhe permite penetrar em nosso sistema
imunológico. Infelizmente, a proteína é exatamente igual àquela que
normalmente existe no músculo cardíaco. Se você tem o azar de
possuir um sistema imunológico realmente esperto, que não seja
enganado pela imitação molecular executada pela falsa cobertura
de proteína da Chlamydia, ainda assim estará enterrado até os
joelhos em ironia, porque o próprio sistema imunológico vai eliminá-
lo quando reconhecer o impostor e matar as células cardíacas
infectadas por ele.
Tanto a H. Pylori como a Chlamydia, junto com a endotoxina LPS,
o cortisol alto, a homocisteína e a prerssão alta subclínica, são
condições que poderiam ser eliminadas pelo sono em sincronia
com as estações, porque seu sistema imunológico naturalmente
seguraria a sua ponta do cabo-de-guerra ecológico.
Os vírus, por outro lado, são animais totalmente diferentes,
literalmente.
Vírus não são micróbios ou germes. Vírus são fragmentos de RNA
e de DNA que agem como ferramentas evolutivas. A entrada de
DNA novo num organismo, no nível do genoma, significa, para esse
organismo, simbiose ou morte. Em geral, o vírus que entra confere
algum benefício que contribui para a capacidade geral de
sobrevivência do novo organismo combinado, mas às vezes isso
não acontece. Os vírus são específicos das espécies, e em geral
preferem as espécies que escolhem. Os vírus da herpes, por
exemplo, vive nos primatas, inclusive nós.
A herpes não é capaz de se unir ao nosso DNA, mas também de
ativar e desativar genes que regulam o crescimento, como o P53,
fazendo com que muitos pesquisadores acreditem que o CVM e o
MDV, ambos da família da herpes, estejam implicados no
crescimento desordenados de células musculares macias, que em
última instância contribuem para formar as infames células de
espuma.
Nós não concordamos com isso.
Acreditamos que um vírus da herpes pode, na verdade, salvar sua
vida. Chagamos à nossa teoria através da física, da biologia
evolutiva, da bioquímica e, é claro, da cosmologia. Citamos uma
pesquisa feita por Joseph Zasadzinski, da Universidade da
Califórnia, em Santa Bárbara, que está trabalhando com os
sistemas de distribuição interna das drogas. Ele conseguiu criar
uma membrana celular com apenas uma camada de lipídios.
Aparentemente, tudo o que o RNA, ou mesmo o DNA, precisa para
fazer uma casa é uma casca fosfolipídica.
Pág 159
Dentro de cada uma das bolinhas de fosfolipídios, todas juntinhas,
que estão dentro de nós, está o DNA. Este modelo é o modelo de
todo tipo de vida. No entanto, a única razão pela qual os vírus
residem num submundo ambíguo das coisas inanimadas é que eles
não são realmente seres vivos, até encontrarem uma célula e se
mudarem para dentro dela. Os fragmentos de DNA, assim como os
de CMV ou MDV, podem morar na placa em seu coração.
Correlacionamos este fato com a descoberta de que 92% de todas
as placas examinadas em autópsias de mortes não relacionadas a
problemas do coração possuem presença evidente de proteínas
CMV.
Nós sustentamos que a razão pela qual os cardiologistas
concordam em que uma oclusão de 20% das artérias coronarianas
vai matá-lo com muito maior freqüência que uma oclusão de 80% é
o fato de o vírus se mudar para a placa e utilizar os lipídios
presentes nela para criar uma “célula” onde possa viver e se
reproduzir. Ao fazer isso, o vírus estabiliza a placa e faz com que
ela possa suportar muito mais pressão, além de solidificar o líquido
central, que é perigosamente imuno-reativo.
Isso pode lhe causar arrepios, mas faz sentido em termos
evolutivos.
Encontramos mais evidências no trabalho de H. Kaunitz,
publicado na revista Medical Hypotheses, em 1995. Ele concluiu
que “estudos realizados em pessoas que haviam morrido com
estágios avançados de aterosclerose demonstraram que [elas
tinham] a maior expectativa de vida possível”. Ele percebeu que
havia evidências de que “a natureza inflamatória dos vírus
(particularmente os da família da herpes humana) tinha um efeito
protetor”.
Em outras palavras: aquilo que não o mata, torna-o mais forte.
Pág 161
de danos que poderiam resultar de uma super-reação a qualquer
estimulo, em qualquer freqüência dada. O coração é feito daquilo
que os cientistas chamam de um meio excitável, ou seja, que gera e
conduz eletricidade. As células cardíacas opostamente polarizadas,
dentro e fora de seu coração, sempre apresentam uma distribuição
desigual de íons, dentro e fora de si mesmas. O sistema nervoso
simpático se comunica com os nervos por todo o corpo e cérebro,
ao iniciar ondas de mudança de polaridade dentro e fora da
membrana das células dos neurônios, assim como das células
cardíacas. O derramamento de íons positivos e negativos dentro e
fora, através de portões localizados nas membranas das células
cardíacas, produz uma “corrente” elétrica. As células musculares do
coração são acionadas por uma corrente elétrica que vem em
ondas polarizadas, e que contrai e espreme o sangue através de
duas câmeras de bombeamento adjacentes, os ventrículos direito e
esquerdo. Existe uma colônia especial de células no topo do lado
direito. Essas células “mantêm o ritmo”, eletricamente.
O fluxo elétrico forma uma espiral ao longo do coração inteiro,
desde a base até a ponta, formando um circuito completo da ponta
para a base, da base para a ponta, contrai, da ponta para a base,
da base para a ponta, contrai. É assim que acontece.
DE CORAÇÃO PARTIDO
Pág 162
Se você analisar os registros de uma longa série de batimentos
cardíacos e calcular os tamanhos dos intervalos de um batimento
para outro, parece que eles se distribuem em intervalos mais longos
e mais curtos, de maneira completamente errática e aleatória. Não
errática da forma flutuante com que seu coração responde ao nível
de atividade de seu corpo, e sim de forma genuinamente selvagem,
até mesmo durante o sono. Há acelerações e desacelerações, não
apenas a cada hora, mas também de minuto a minuto. Pesquisas
monitoraram dez voluntários saudáveis e dez pessoas com
insuficiência cardíaca congestiva. À primeira vista, os ritmos
cardíacos pareciam quase os mesmos em ambos os grupos, mas
os ritmos batimento-a-batimento dos corações saudáveis eram, na
verdade, muito diferentes dos corações partidos.
Nos corações saudáveis, uma seqüência de duzentos passos
para cima tende a ser seguida de duzentos passos para baixo, num
eletrocardiograma, isso significa que o período no qual o coração
desacelera será seguido por um período no qual ele acelera – uma
espécie de mecanismo embutido que determina o batimento num
período longo, para que flutue de acordo com um modelo
matemático predeterminado. O coração saudável tem “memória” de
longo prazo. O tempo da próxima batida depende da “história de
batimentos” do passado distante. A doença, ao contrário, é
realmente uma amnésia do coração. Num coração partido, se uma
série de duzentos se torna progressivamente mais lenta, os
duzentos batimentos seguintes têm a mesma probabilidade de
desacelerar ou de acelerar. Ao medir intervalos cada vez mais
longos, os cientistas podem encontrar as informações extras sobre
a “média” escondida nas flutuações.
Essas informações são suficientes para esclarecer as diferenças
rítmicas entre corações saudáveis e doentes. Ao longo dos últimos
vinte anos, os matemáticos e os físicos já compreenderam que o
que parece aleatório na verdade não é nada aleatório: é caótico – e
a imprevisibilidade é uma marca registrada de um sistema caótico.
O caos difere do aleatório no sentido de que o comportamento
caótico sempre decorre de causas simples, subjacentes. A teoria do
caos nos diz isso.
Ritmos irregulares, como as oscilações do El Nino, são exemplos
de variações caóticas, e não de ocorrências aleatórias. Batimentos
cardíacos são altamente caóticos, assim como a atividade cósmica
ou o clima, porque um sistema caótico é mais adaptável. Um
sistema caótico é altamente dinâmico, sempre mudando e
flutuando, para manter a homeostase. Um sistema caótico é sempre
equilibrado num estado incrível-
Pág 163
mente sensível às pequenas influências. Como os livros de
fisiologia usados nas escolas e pelos médicos não têm insights em
relação à origem dessa complexidade, todos nós aprendemos que a
lentidão e a constância fazem o ritmo prosseguir – quando, na
realidade, um coração que flutua muito é que é saudável.
UM CHOQUE
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que nós, humanos, temos feito às qualidades e propriedades do
coração, desde a Antigüidade até o presente, não há dúvida de que
sabemos, e sempre soubemos em nossos corações, que a
essência da personalidade está lá. Mas lembranças? Por que não?
Uma das substâncias-chave no processamento da memória é a
acetilcolina, que é extremamente ativa nos tecidos cardíacos.
Sabemos que as moléculas de acetilcolina têm alguma relação com
a degeneração de pacientes com doença de Alzheimer. Aqui está a
questão da verdadeira matéria-prima das lembranças: eletricidade e
RNA.
Num incrível experimento, conduzido na Universidade da
Califórnia, em Los Angeles, (UCLA) nos idos de 1966 e publicado
na revista Nature, um grupo de cientistas britânicos provaram que
podiam transferir as lembranças de um organismo para outro
apenas com a transferência de RNA. Quatrocentos vermes
minúsculos foram divididos em dois grupos de duzentos cada. Um
grupo de duzentos foi “condicionado” (torturado) para encontrar
glicose ou açúcar pela associação com o estímulo combinado de
luz e choque. Isso significa que, para conseguir alimento, eles
vinham até o final de seu prato de vidro, em função da combinação
luz e choque. A outra metade do grupo foi deixada na mais
completa e alegre ignorância.
Os vermes educados foram “extintos” (assassinados).
Fragmentos de seu RNA foram extraídos e injetados nos felizes
vermes bobos. Com toda certeza, a mesma seqüência de luzes e
choques levou os recém-inoculados ao local, no prato de vidro,
onde estava o alimento.
Um experimento muito simples – que prova tudo o que dizem os
transplantados.
As lembranças são, na verdade, codificadas em cadeias de RNA
nos núcleos de nossas células.
Um único fragmento de RNA como aquele que foi transferido, no
experimento com os vermes, poderia muito bem conter o código de
inúmeras lembranças, em função do fato de que tudo tem a ver com
eletricidade. Há três bilhões de anos, quando as moléculas
orgânicas autotriplicantes se formaram, o RNA foi a primeira. Mais
tarde, a replicação e a aglutinação do RNA se transformou no DNA
conhecido em nosso atual genoma. Em descobertas muito
recentes, publicadas na revista Science em 1997, e informações
ainda mais atuais, publicadas em 1999, os cientistas concluíram
que o nosso DNA, e conseqüentemente o nosso RNA, é um
condutor tão bom quanto uma mola de cobre. Na verdade, genes
inteiros podem enviar sinais elétricos uns aos outros ao
Pág 165
longo dos circuitos de DNA. Catherine Barton e seus colegas no
Instituto de Tecnologia da Califórnia demonstrou que um único
elétron pode atingir um filamento de DNA numa distância suficiente
para influenciar a atividade genética.
Os elétrons fazem isso ao correrem por entre as “nuvens” de
elétrons superpostas das bases de nucleotídeos adjacentes, que
são os tijolos moleculares formadores do DNA e do RNA. Juntas, as
nuvens de elétrons em forma de disco forma, lado a lado, pilhas de
chips de memória em um “computador” que pode transmitir
informações químicas ao longo de grandes distâncias, ligando e
desligando genes para produzir proteínas. Barton concluiu que “não
há limite para as distâncias que os sinais podem percorrer, ao longo
dos ‘cabos’ de DNA”. Essas novidades dão novo sentido à
expressão “o corpo elétrico”. Dão também aos cientistas um ponto
de partida para iniciar uma investigação de conceitos e práticas
orientais, tais como Qi e acupuntura. A eletricidade que fala através
de nosso DNA é prova da “força viva” que os antigos insistiam em
ser a nossa alma. O fato de que o mais poderoso gerador de
eletricidade do corpo é o coração também faz o mais perfeito
sentido.
O “corpo elétrico” é real.
Onde há fumaça elétrica, há fogo. E onde há campos elétricos e
eletromagnéticos, pode haver comunicação, vibração e
magnetismo. Não há dúvida de que tecidos altamente energizados
e polarizados como os músculos cardíacos devem ser capazes de
emitir freqüências de rádio. As ondas de rádio recebidas pelo
coração são utilizadas em certos tratamentos médicos de tecido
muscular degenerado.
Seu coração possui um campo eletromagnético de 5 mil milivolts,
em comparação com o cérebro, que emite apenas 140 milivolts.
Lembre-se de que, quando a Voyager transmitiu sinais de Saturno
para a Terra, utilizou uma bateria de apenas 10 milivolts. Se só
foram necessários 10 milivolts para chegar de Saturno até a Terra,
então, com 5 mil milivolts disponíveis, a comunicação do cérebro
com o coração, ou a comunicação de seu coração com o coração
de outra pessoa, deve ser, na verdade, um no-brainer.
Acreditamos que o coração fala com o cérebro por meio de um
campo eletromagnético e também de reações eletroquímicas, de
um sistema circular de resposta de uma coisa chamada ANP
(peptídeo natriurético atrial). O ANP é a comunicação química entre
o coração e o cérebro através da glândula pineal, onde é produzida
a melatonina.
Pág 166
Pacientes com doença arterial coronariana produzem menos
melatonina durante o sono do que pessoas saudáveis. Então,
permanece a pergunta: pessoas tristes têm coração partido ou o
coração partido realmente mantém a pessoa acordada à noite?
Existem evidências que corroboram esta tese nas estatísticas que
mensuram os níveis noturnos da melatonina na presença de
campos eletromagnéticos de baixa freqüência. A melatonina é
anormalmente baixa em seres humanos e animais expostos a CEM
(campos eletromagnéticos). E já é sabido que melatonina baixa
provoca câncer; já está comprovado, também, que a exposição
excessiva e de longo prazo aos campos eletromagnéticos tem
relação com o aumento de mortes por doenças cardiovasculares,
assim como tumores cerebrais e leucemias, em trabalhadores das
indústrias de aparelhos elétricos.
Então, é hora de colocar a cabeceira de sua cama bem longe do
aquário.
VISÃO REMOTA
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Uma jovem fêmea chamada Ima começou a mergulhar suas
batatas no lago para remover a sujeira. Ela foi observada enquanto
ensinava essa nova idéia a vários outros macacos. Depois de uma
centena deles terem aprendido essa técnica, todos os macacos, em
todas as colônias, em todas as ilhas, sabiam simultaneamente a
técnica de Ima. O mesmo fenômeno foi observado no inverno,
quando outra jovem fêmea mergulhou num dos chuveiros quentes
de origem vulcânica da ilha.
Os macacos vivem a céu aberto o inverno inteiro, quase sempre
com neve cobrindo seus rostos e extremidades, mas nenhum deles
jamais fez qualquer movimento no sentido de se aquecer, além de
se amontoar aos outros macacos para obter calor corporal. Tudo
isso mudou depois que uma centena deles mergulharam nos
chuveiros quentes. Agora todos eles, rotineiramente, banham-se
nos chuveiros quentes durante todo o inverno.
A premissa da não localidade também é conhecida como teorema
de Bell. Esta lei da física quântica diz que os objetos, uma vez
conectados, afetam uns aos outros para sempre, não importa onde
estejam. Acreditamos que as células do coração provavelmente
falam com o cérebro e com o resto do corpo através da não
localidade, também.
Existem também outras descobertas, como o experimento da
esteira. Neste, um grupo de células cardíacas, retiradas de um
corredor através de biópsia, batia cada vez mais rapidamente em
sua placa de petri, enquanto o doador fazia exercícios numa esteira,
do outro lado da cidade, longe do laboratório. Ou um experimento
envolvendo células salivares de dentro das bochechas de cobaias
mais tarde expostas a violência visual, na qual as células nos tubos
de ensaio, guardadas num local que ficava a duas salas do local da
exibição violenta, produziam cada vez mais impulsos elétricos.
Será que esses experimentos não passam de ficção científica
vulgar e sensacionalista, ou a lei quântica da não localidade
realmente é uma prova da ligação quântica nos níveis humano e
animal? Será que é assim que a oração funciona? É claro que, até
agora, não existe prova científica. Mas será que isto significa que
não existe prova?
Pág 168
No romance Contato, de Carl Sagan, uma jovem cientista discute
a noção de “fé” com um líder religioso em ascensão, e insiste em
dizer que não pode compreender sua inabalável crença em Deus,
dado que não existe prova científica da existência de Deus.
Ele responde fazendo a ela uma pergunta muito simples: “Você
amava seu pai?”
Ela vocifera: “Sim, claro que amava.”
Ele então a desafia: “Prove.”
Este diálogo é uma metáfora extremamente acurada da crença
em algo tangível, porém invisível e incapaz de ser provado pela
ciência.
A ciência não é forte na fé em qualquer coisa que não seja ela
própria.
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OITO
– H. G. Wells,
A máquina do tempo
Pág 170
tudo isso, pesadas placas de LDL vão aderir ao seu coração,
porque, a essa altura, você já matou as células que revestem seu
coração de pelo menos três ou quatro maneira diferentes.
E então vem o câncer.
Todo mundo concorda que os maiores assassinos – o câncer de
mama, de colo e de próstata – estão todos fortemente ligados à
obesidade. Não podemos discordar dos fatos.
Mas podemos, sim, discordar da lógica.
A obesidade, de acordo com o conhecimento vigente, reflete uma
dieta rica em gorduras. Mas o consumo de gorduras, sejam elas
saturadas ou insaturadas, não provoca liberação de insulina. Não
há possibilidade de armazenar gordura nas células de gordura, a
menos que a insulina abra os receptores – e isso só acontece se
você comer açúcar. É por essa razão que os diabéticos Tipo I, que
não têm insulina, morrem com aparência emaciada. A obesidade é
apenas um sintoma diferente da mesma síndrome que causa todos
os outros males que afligem o homem moderno.
Falta de sono.
CÉU SOMBRIO
Pág 171
Bem, temos grandes notícias para você: a ciência e a medicina
não entendem mais de câncer do que entendem de obesidade,
diabetes, doenças mentais ou problemas cardíacos.
Imagino que isso seja um choque para você.
Estamos aqui para lhe dizer que essas disfunções não estão em
seus genes – pelo menos, não da forma que você acha que estão.
Você não vai ter câncer porque é uma vítima de mutações
aleatórias à medida que envelhece, ou porque está exposto
diariamente a carcinogênicos comuns. A natureza é bem mais
organizada do que isso. Todo crescimento ou morte celular é
controlado pelas regiões promotoras nos genes. Esses botões
genéticos, que são acionados pelos hormônios, reagem em
resposta a pressões ambientais para que você possa se adaptar
continuamente, minuto a minuto ou milênio a milênio.
Os “genes reguladores” envolvidos no câncer são chamados
oncogenes. Todo o sensacionalismo que aparece de quando em
quando na mídia, em torno de um gene cghamado P53, tem a ver
apenas com esse gene regulador, que é ativo em quase todos os
tipos de câncer. O P53 está presente em todas as células, de todo
mundo. É um dos genes que controlam o crescimento, a morte ou e
estado neutro para recuperação. As pesquisas médicas decidiram
que o responsável pela maior parte dos tipos de câncer deve ser
um gene P53 “com mutação”. As pesquisas sobre o gene P53 em
mutação consomem bilhões de dólares todos os anos, sem
resultado algum, da mesma forma que a pesquisa conhecida como
BRCA I e II (sacou? BR – breast, que é seio em inglês, e CA –
câncer). Os genes BRCA I e II, conhecidos como os genes do
câncer de mama, também são genes reguladores comuns nos
homens, e realmente nada têm a ver com o fato de se possuir
seios.
Os registros dos epidemiologistas examinaram a possível
mutação do BRCA I em populações de descendentes de judeus
asquenazes em Long Island “que procriam internamente” – onde,
em termos estatísticos, o câncer de mama vai à estratosfera. Suas
descobertas foram divulgadas prematuramente, de forma
fragmentada. As recentíssimas notícias, que culparam um gene
pela epidemia de câncer de mama, figuraram em todos os jornais
de alcance nacional. Em função dessa suposta conexão com o
“câncer de mama hereditário”, as mulheres judias no mundo inteiro
correram para fazer testes genéticos. E, logo em seguida, um
grande número dessas mulheres tomaram uma decisão típica do
pânico: por causa de uma pesquisa que acreditaram ser correta,
elas decidiram se automutilar permanentemente.
Pág 172
Ou seja: muitas mulheres fizeram mastectomias profiláticas.
As mulheres vivem tão aterrorizadas em relação ao câncer de
mama, e têm uma fé tão grande na ciência e na medicina, que
centenas delas se automutilaram, acreditando que seu sacrifício
poderia evitar que morressem de câncer.
Como era previsível, pouco mais de um ano depois, os cientistas
começaram a mudar de idéia. E foi apenas uma questão de tempo
até que houvesse uma retratação formal em relação às evidências
apresentadas. No entanto, para aquelas mulheres que agiram sob o
impacto de relatórios confusos, infundados e prematuros, já era
tarde demais para mudar de idéia.
Seus seios já tinham ido embora para sempre.
Veja como elas estavam aterrorizadas.
Alguns estudos associaram três tipos de câncer – de mama, de
colo e de próstata – à obesidade. No entanto, em 1994, um estudo
publicado no Journal of the American Medical Association – admitiu
que não há ligação entre a ingestão de gordura na dieta e o câncer
de mama. Bem nos calcanhares daquela retratação hesitante, o
New England Journal of Medicina “indicou” que, na verdade, o que
afeta o potencial de as mulheres contraírem câncer de mama não é
a quantidade de gordura que comem, e sim o excesso de peso que
elas apresentam. Poderíamos considerar essa uma grande pista, se
os pesquisadores entendessem como a gente engorda.
Mas é um começo. Agora, as autoridades têm condições de
reconhecer a obesidade como um sintoma (e não a causa) de outra
doença. Se existe uma conexão entre a obesidade e o câncer, e a
obesidade é causada diretamente pelos elevados níveis de insulina
que resultam da perda do sono, então a insulina deve estar
implicada no aumento da incidência de câncer. Se as dietas ricas
em carboidratos são responsáveis pelos níveis de insulina
permanentemente elevados, então o advento da luz elétrica e dos
alimentos processados deveria corresponder exatamente ao
aumento da incidência de câncer. E corresponde.
Lá se foi a genética.
O BRILHO
Pág 173
começar com um estudo muito recente, feito pela Universidade
Johns Hopkins, que diz tudo. Os pesquisadores inocularam ratos
com “carcinogênicos químicos conhecidos”, depois de alterar seus
padrões naturais de sono.
O experimento era simples: dar a esses ratinhos valentes “noites
de rato curtas” e “noites de rato longas” e, depois, um a um,
adicionar carcinogênicos aos seus sistemas insuspeitos.
É importante notar que esses carcinogênicos não foram vírus ou
xeno-estrogênios obscuros, mas venenos feitos pelo homem, como
componentes de antiperspirantes.
Os ratos da noite curta começaram a desenvolver tumores com tal
velocidade que os pesquisadores não poderiam dizer qual era a
substância responsável; mas nos ratos de noite longa, nenhum dos
inúmeros carcinogênicos conseguiu provocar câncer.
Até os pesquisadores admiraram que foi a presença de mais
melatonina nos ratos de noite longa que os tornou imunes aos
carcinogênicos.
Os ratos são mamíferos.
Assim como você.
Os cientistas só comentaram que, “estranhamente, os ratos da
noite curta também se tornaram fechados e paranóicos”.
Que coisa...
Para isso, existem duas razões possíveis.
Ou:
(a) Eles sentiram que iriam ter câncer e ficaram realmente pirados.
Ou
A FORÇA DA VERDADE
Pág 176
Mas eles estão mentindo.
Um artigo publicado no Journal of Clinical Oncology, em outubro
de 1998, compilou os resultados de um estudo de 22 anos, que
acompanhou 31.510 mulheres com câncer de mama. Sua
conclusão geral foi que, ao longo de 22 anos examinando doze
diferentes regimes terapêuticos, em diversas combinações, as
terapias de câncer só conseguiram uma “melhora modesta nos
índices de sobrevivência”.
Uma leitura criteriosa do artigo revela a verdade: a “melhora
modesta” representa três meses.
Três meses de sofrimento extra.
Pense nestes números estarrecedores: 31.510 mulheres, doze
diferentes combinações possíveis de terapias, ao longo de 22 anos.
No caso de outras formas de câncer, o resultado poderia ser
diferente?
Não.
Apostamos que, embora você saiba pouco sobre o câncer,
médicos e pesquisadores sabem menos ainda. Eles na verdade não
sabem nos dizer o que é ou de onde veio. Só conhecemos
fragmentos de informações, e não tem um entendimento real da
“entidade” em si, porque eles, em sua maioria, não estão
familiarizados com a vida.
DE VOLTA AO INÍCIO
O fato mais evidente sobre o câncer, e que nunca chega aos artigos
publicados na seção de saúde de seu jornal local, é que os
oncogenes conferem ao tecido canceroso todas as propriedades
irrefreáveis de crescimento típicas do tecido fetal. Todos os genes
reguladores que são reconhecidamente ativos no progresso do
câncer, conhecidos por nomes como P53, P21 e survivin, só são
ativos, além do câncer, no tecido fetal.
Jamais são encontrados em atividade numa criança ou adulto que
não tem câncer.
Isso é muito importante – e uma grande pista.
Pista maior ainda é o fato de que esses genes só são realmente
ativos nas primeiras nove semanas de vida fetal, quando o
complemento dos genes que o feto possui vai certamente
determinar se aquela pessoa será do sexo masculino ou feminino,
embora o feto ainda não seja nem uma coisa nem outra. Num certo
sentido, “o júri ainda está em recesso”. Dependendo das pressões
ambientais que controlam os hormônios que
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o corpo da mãe fabrica durante a gravidez – estrogêneo,
testosterona, cortisol, insulina etc., e sua relação uns com os outros
– a criança será menino, menina ou algo aí pelo meio.
Lembre-se de que o ambiente, através da luz, da comida e do
estresse, aciona os genes para produzirem hormônios, que por sua
vez acionam outros genes – para crescimento, morte ou reparos.
Quando o câncer surge, dá-se um fenômeno de reorganização para
um estado auto-semelhante. O estado auto-semelhante é fetal, no
caso humano, porque nas primeiras semanas não somos fêmeas
nem machos; estamos atravessando os estágios evolutivos do
desenvolvimento. Aquelas belas fotos dos bebês no ventre, feitas
por Lennart Nilsson, mostram-nos estágios do desenvolvimento
humano – quando os fetos se assemelham a peixes embrionários e
também a diversos mamíferos e pássaros. Se, antes da nova
semana de gravidez, mal nos diferenciamos das outras espécies,
que dirá saber se somos um macho ou uma fêmea humanos...
As primeiras semanas de desenvolvimento fetal são um estado
humano “crítico”, caracterizado por uma organização auto-
semelhante num estado neutro, indiferenciado, nem macho e nem
fêmea, observado no desenvolvimento embrionário de todas as
espécies. Entramos novamente num estado crítico quando vivemos
tanto que nossos hormônios sexuais entram em desequilíbrio e nós
comemos demais (carboidratos). Nossos hormônios sexuais, agora
ameaçados, simplesmente transbordam. Todo animal na natureza,
com exceção de nós e de nossos bichinhos de estimação, morre
quando terminam suas tarefas reprodutivas.
Isso porque, quando deixamos de ser o que somos, temos de nos
transformar em outra coisa. A ordem perfeita da física quântica nos
demanda isso.
Porém nós jamais desaparecemos sem reaparecer sob uma outra
forma.
Pág 178
Esse princípio é o âmago da teoria do caos. Seja na biologia
celular, na oncologia, na matemática, nos mercados financeiros ou
na dinâmica dos ecossistemas, dissecar a dinâmica
comportamental subjacente às interações entre os indivíduos que
formam sistemas cooperativos, como grupo de pássaros, colônias
de bactérias ou mesmo células tumorais, é uma metodologia que
nos mostra o que realmente controla os sistemas físicos.
A instalação do caos na verdade é um portal, ou o que os físicos
chamam de transição de fase ou estado crítico. Bem semelhante à
formação de um furação, maré ou terremoto, o surgimento do
câncer é apenas uma manifestação de transformação durante um
estado crítico.
Em seu épico A Metamorfose, Ovídio elucida como, desde o início
da criação até sua própria época, os corpos – estelares, humanos
ou microbiais – foram magicamente transformados, pelo poder dos
deuses, em outros corpos.
Estados críticos são situações em que a matéria ordinária é
transformada em outra coisa muito diferente, por influência do calor
ou da luz. As regras da teoria da universalidade são evidentes na
transformação mágica das substâncias líquidas em sólidas. A água,
quando é transformada em gelo vítreo ou no evanescente vapor da
fumaça, é o exemplo mais conhecido dessa magia. Uma ilustração
mais exótica seria o resfriamento de uma peça comum de estanho
num supercondutor. É parecido com o fenômeno que ocorre quando
o calor desmagnetiza um pedaço de ferro magnético.
Uma peça de ferro é formada por “domínios” microscópicos, cada
um talvez do tamanho de um grão de areia, e cada um deles é em
si um pequeno magneto. Na temperatura ambiente, todos esses
domínios em forma de varetas são alinhados em fila, um do lado do
outro. É a cooperação entre eles que torna o ferro magnético.
Porém, a altas temperaturas, o “barulho” térmico interrompe a
cooperação dos domínios e o ferro se torna não-magnético. À
temperatura de 175ºF, o ferro fica no limite entre magnético e não-
magnético. Alguns dos domínios conseguem ainda ficar unidos,
mas apenas em amontoados localizados, que apontam em
diferentes direções.
Embora isso pareça aleatório, não é.
Se for retirado um pedaço pequeno do magneto nessa altura e
ampliado no microscópio, veremos uma imagem que é uma réplica
exata da peça maior. Este fenômeno é chamado organização auto-
seme-
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lhante, num nível fractal. A auto-semelhança é a propriedade que
define o estado crítico. A água a caminho de virar fumaça, o
estanho a ponto de se tornar supercondutor, e os cristais sob
pressão, enquanto se desmontam e se transformam numa outra
estrutura molecular – todos esses são estados críticos
matematicamente idênticos. Isso significa que átomos, moléculas,
magnetos ou o giro dos elétrons – não importa o que esteja
interagindo – no ponto da mudança de fase, todos os materiais, em
toda parte, são matematicamente idênticos uns aos outros.
Na fase crítica, uma ordem se espalha pelo sistema como um
fungo se espalha num jardim. As partes que compõem esses
sistemas são tão diferentes quanto podem ser, mas seus estados
críticos não podem ser distinguidos uns dos outros. É muito difícil
visualizar a matemática, mas acredite em nós: os nossos também
são.
O câncer é o fenômeno de fase crítica que é o subproduto da
transformação. É a transformação de “ela” em “ela-masculino” e de
“ele” “ele-feminino”, que ocorre na menopausa e na andropausa.
Quando o declínio hormonal ocorre durante a peri-menopausa nas
mulheres, a relação entre estrogênio e testosterona muda até que,
na pós-menopausa, a progesterona é nula e o estrogênio se esgota.
É a testosterona que fica. As mulheres idosas, para todos os fins e
propósitos, são homens por dentro, após a menopausa.
É quando começam a ter câncer.
Os homens, na andropausa, perdem massa muscular à medida
que a testosterona começa a se esgotar, e a glicose não tem para
onde ir, a não ser se expandir em placas de gordura. Essas placas
de gordura fabricam estrona – e, lá pelo final dos cinqüenta ou início
dos sessenta anos, com baixa testosterona e estrogênio elevado,
os homens começam a se transformar em mulheres.
É quando começam a ter câncer.
Essas mudanças de fase, no sentido de uma organização auto-
semelhante, num estado crítico, são sempre ligadas a flutuações de
temperatura (ondas de calor), assim como a água se transforma em
vapor no ponto de ebulição, ou em gelo no ponto de congelamento.
Em nós, a mudança de temperatura provavelmente começa quando
deixamos de dormir à noite ou no inverno. O limiar dessa mudança
de fase pode ser algo tão simples como aquecer as fornalhas
chamadas mitocôndrias, em nossas células, com excesso de
energia proveniente dos carboidratos, energia essa que se
transforma em energia ATP. A oxidação ou taxa de queima para
carboidratos é de 1,0, e de apenas 0,07 para as gorduras. Talvez,,
assim como o
Pág 181
Uma das razões pelas quais a melatonina é famosa por ser um
antioxidante tão glorioso é a sua propriedade de reduzir a
temperatura à noite. É por isso que você sempre precisa de algum
tipo de coberta enquanto dorme. E o que acontece a você, em
termos de câncer, quando fica acordado até muito tarde? Você não
tem melatonina, porque sua noite começa com três a sete horas de
atraso; e, porque seu corpo pensa que é verão, sua insulina se
eleva, o que eleva também o estrogênio.
RUMO AO ESCURO
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corpo todo. Nem todos os hormônios em sua corrente sangüínea
estão “ativos” oi tempo inteiro. Alguns estão ligados a uma molécula
de proteína produzida no fígado. Existe uma proteína que se liga ao
estrogênio, chamada globulina conectora de hormônios sexuais
(SHBG), que conecta o estrogênio à testosterona e torna ambas
disponíveis para se ligarem a pontos receptores no corpo, tais como
o tecido da mama ou da próstata. Este é outro mecanismo
regulador que garante a ação liberadora no momento certo. Vários
estudos mostram claramente que (você adivinhou) altos níveis de
insulina controlam para menos a produção dessa proteína de
controle, e com isso deixam quantidades excessivas de enormes
fatores de crescimento, tais como o estrogênio, em circulação, para
garantir a capacidade de reprodução quando o suprimento de
carboidratos for grande – o que não é uma boa coisa no mundo
moderno.
Em nosso mundo, a sinergia entre insulina e estrogênio estimula a
produção de tumores.
A razão pela qual toda a medicina do mundo ocidental acredita
que o estrogênio, sozinho, causa câncer, está no trabalho de
Charles Brenton Huggins, ganhador do Prêmio Nobel, realizado na
década de 1950 na Universidade de Chicago. Ele provou que os
hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, detêm o
controle da proliferação, e o fez através de um experimento em que
ele removeu todos os órgãos e glândulas produtores de esteróides
em ratos e viu seus tumores diminuírem de tamanho. Esse novo
conhecimento foi de tal forma pioneiro, durante um período em que
as mortes por câncer aumentavam rumo à estratosfera, que a
ciência médica abraçou essa evidência e passou a correr a partir
dela.
O problema é que eles correram para o lado errado.
COLONIZAÇÃO
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seguidas pela invenção de bloqueadores específicos dos receptores
hormonais, como o Tamoxifen, e de bloqueadores de enzimas,
como o Proscar.
Que erro!
A insulina e o estrogênio realmente alimentam crescimento novo.
É assim que deveria ser. Mas o estrogênio, sozinho, causa tanto
câncer quanto o colesterol causa doença coronariana arterial. Só a
insulina pode fabricar receptores de estrogênio, e este, por sua vez,
dá à insulina um segundo acesso – na forma dos IGF-I (fator de
crescimento tipo insulina 1). Crescimento novo, ou neoplasma, é a
forma de vida encontrada num grande número de caroços no seio,
e no BHP, ou hipertrofia benigna da próstata, nos homens. A
palavra-chave, neste caso, é “benigna”.
Neoplasma não é câncer.
Se você remove ou bloqueia a produção de estrogênio e de
testosterona, ocorre uma pequena regressão no crescimento do
tumor, mas a bonança vem sempre seguida de uma tempestade, ou
seja, um virulento período de metástases rápidas, não rastreadas.
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