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T. S.

WILEY
BENT FORMBY, Ph.D.

APAGUE A LUZ!
Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial
e reduza o estresse

Editora Campus
2000
Apague a luz!
Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e
reduza o estresse
Bent Formby e T. S. Wiley
Auto-Ajuda 377 páginas

Com base em uma pesquisa minuciosa, colhida no National


Institutes of Health (Instituto Nacional de Saúde), T.S.Wiley e Bent
Formby apresentam descobertas incríveis:os americanos estão
doentes de cansaço. Diabetes, doenças do coração, câncer e
depressão são enfermidades que crescem em nossa população e
estão ligadas à falta de uma boa noite de sono.

Quando não dormimos o suficiente, em sincronia com a exposição


sazonal à luz, estamos alterando um equilíbrio da natureza que foi
programado em nossa fisiologia desde o Primeiro Dia. A obra revela
por que as dietas ricas em carboidratos, recomendadas por muitos
profissionais da saúde, não são apenas ineficazes, mas também
mortais; por que a informação que salva vidas e que pode reverter
tudo é um dos segredos mais bem guardados de nossos dias.

Com o livro, o leitor saberá que:

• perder peso é tão simples quanto uma boa noite de sono

• temos compulsão por carboidratos e açúcar quando ficamos


acordados depois que escurece

• a incidência de diabetes tipo II quadruplicou

• terminaremos como os dinossauros, se não comermos e


dormirmos em sincronia com os movimentos planetários.

T.S.WILEY e BENT FORMBY, Ph.D., são pesquisadores que


trabalharam juntos no Sansum Medical Research Institute em Santa
Barbara, na Califórnia – o centro de pesquisas de ponta sobre
diabetes desde que a insulina foi sintetizada pela primeira vez, lá
mesmo, na década de 1920.
AGRADECIMENTOS

A primeira rodada de agradecimentos vai para nossas famílias, por


sua paciência e apoio. Florence, a esposa de Bent, é uma séria
candidata à canonização, e meu Neil é, e tem sido sempre, o meu
Médici particular. Não sou nada sem ele. Meus filhos, os pobres
negligenciados Jake, Max, Zoe e Ian continuam sendo os melhores
filhos do planeta. Este esforço levou cinco longos anos, no meu
caso, e quase três para o meu colaborador. Durante esse tempo,
nossas famílias agüentaram mais “papo ciência” de manhã, de
tarde e de noite do que qualquer pessoa mereceria. Quase sempre,
o jantar saia tarde e o sofrimento deles era palpável, mas ainda
assim eles nos amam, e por isso somos gratos.
Tenho uma dívida especial com minhas filhas mais velhas, Mara e
Aja, por seus intelectos raros e diferenciados, que serviram para
inspirar e expandir meu próprio intelecto. Mara Roden passou horas
infindáveis em profundo debate, acrescentou inúmeros conceitos
evolucionários e neuroendócrinos, deu apoio incondicional e fez
grande parte da primeira e tediosa parte da editoração. Aja Raden,
consultora criativa, deu o título ao livro, assim como a vários
capítulos, além de criar uma infinidade de subtítulos fortes e
mordazes. Também ela passou muitas horas explicando física,
química e matemática à sua velha mãe.
Wiley Lorente provou que sangue é mais forte que tinta, ao
trabalhar ombro a ombro comigo editando, reorganizando ou
simplesmente sofrendo, durante os cinco anos e as quatorze
versões da obra. E ao meu colaborador, o incrível Dr. Bent Formby,
muito obrigada. Obrigada por entender o que eu queria dizer, antes
de você me dar as palavras para dizê-lo. Obrigada por ser o
professor e mentor mais fantástico do mundo. Obrigada por sua
grande capacidade para crescer e mudar. Sem as suas centenas de
horas de pesquisa, minhas teorias não passariam de “teorias”. Bent,
você é a outra metade do meu cérebro.
Muitos outros colegas também colaboraram com este livro. A Dra.
Julie Taguchi, do Hospital Cottage, em Santa Bárbara; o Dr. Alex
Depaoli, que agora está em Amgen; as Dras. Eve Van Cauter e
Martha McClintock, da Universidade de Chicago; Ernst Mayr, de
Harvard; e Anthony Cincotta, da Ergo Science. Todos eles me
emprestaram seus cérebros mais de uma vez. Não poderia
esquecer, é claro, os grandes cérebros forçados a colaborar no
National Institutes of Health de Washington: o Dr. Thomas Wehr,
su7a pós-doutorada Holly Giessen e a Dra. Ellen Leibenluft.
Minha assistente Chelsey Haskins trabalhou incansavelmente nas
edições e notas. Krista Silva, a gerente de nosso escritório,
compilou a volumosa pesquisa de Bent. Ambas passaram horas
demais na Federal Express ou no e-mail, ou simplesmente “me
agüentando”. Temos também uma dívida de gratidão com todos os
leitores voluntários e cobaias – cujo número é grande demais para
citarmos nominalmente – que acreditaram em nossas teorias e
concordaram em testá-las.
Talvez o mais valoroso de todos os soldados, em nossa cruzada
para trazer de volta a noite, tenha sido Débora Schneider, nossa
agente. Ela identificou e lutou pela verdade anos antes de termos
ao pesquisa para comprovar tudo. Sem seu apoio visionário e
representação talentosa, nunca teríamos somado nossas forças às
do fantástico pessoal da Pocket Books. Minha primeira conversa
com emily Bestler e Jane Cavolina me convenceu de que nenhuma
outra editora daria conta do recado. O entusiasmo e a rara
inteligência de ambas, que se irradiavam pelo telefone a 5 mil
quilômetros de distância, naquele dia, aquecem meu coração até
hoje.
O termo “minha editora” realmente me dá força e energia. Jane
Cavolina se apoderou deste projeto e me convenceu
completamente de que “não estamos sozinhos nesse negócio”. Sua
metáfora para seu artístico trabalho de edição – “faxina” – não lhe
faz justiça. Ela tornou o processo de escrever uma versão após
outra completamente indolor, e transformou o produto final em algo
de que me orgulho profundamente.
Obrigado, Jane.
E por fim, mas não por último em importância, queremos
agradecer a Pam Duevel. Se você tem hoje este livro nas mãos é
graças a ela, Pam, a absurdamente talentosa, ridiculamente criativa
e dedicada líder da equipe de publicidade da Pocket Books,
encarregada de colocar essas informações nas mãos das pessoas
que dela precisam.

T. S. Wiley
SUMÁRIO

Introdução 13

PARTE 1, 21
SEGREDOS E MENTIRAS

UM 23
Queremos acreditar: a igreja dos falsos deuses

DOIS 41
No escuro: Um evento no nível da extinção

PARTE II 59
NÃO ESTAMOS SOZINHOS

TRÊS 61
Uma autópsia da terra:
O meio ambiente controla a genética da obesidade

QUATRO 83
No gelo: A evolução, a biofísica e o escuro

PARTE III 97
A VERDADE ESTÁ AQUI

CINCO 99
Negue tudo:
O sono controla o apetite e, portanto, a obesidade, o diabetes e a
hipertensão

SEIS 121
Tudo está dentro da sua cabeça:
Não dormir e comer açúcar demais v]ao levar você à loucura

Sete 145
O melhor lugar para esconder uma mentira é entre duas verdades:
O que faz parar o maior relógio de seu corpo

OITO 169
Dez segundos para a autodestruição:
No esquema evolutivo, o câncer é simplesmente o novo “você”
PARTE IV 193
SÓ OS PARANÓICOS SOBREVIVEM

NOVE 195
Controle dos danos:
O método rítmico de comer para evitar a extinção

DEZ 235
Tenha medo, muito medo:
Somos uma espécie em perigo

GLOSSÁRIO 245

NOTAS 267

BIBLIOGRAFIA E SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR


363

ÍNDICE 369
Não estamos aqui preocupados com esperanças e medos, apenas
com a verdade, até onde nossa razão nos permite descobri-la. Já
forneci provas, ao máximo de minha capacidade...

- Charles Darwin
A descendência do homem
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INTRODUÇÃO

O tema é notícia em toda parte.


Na revista Life de janeiro de 1998, 70 milhões de americanos
finalmente admitiram que, ocasionalmente, dormimos ao volante,
deixamos a bola cair ou saímos literalmente do ar. Livros como
Power Sleeping e recortes de notícias sobre jet lag estão sempre
aparecendo nos meios de comunicação. A falta de sono é o mais
novo déficit dos Estados Unidos. Este déficit é uma tremenda
cratera que não temos esperança de fechar. Aparentemente,
quando perdemos horas de sono, a sensação é igual a correr a pé
atrás de um trem em movimento. O problema é que, no caso do
sono, realmente não se pode recuperar. Por que não?
Seus hormônios não são tão elásticos assim.
Hormônios e sono? Isso é novidade.
Hormônios como o estrogênio e, ocasionalmente, a testosterona,
são sempre notícia. O DHEA e o hormônio do crescimento humano
até aparecem de vez em quando, mas sempre nas matérias sobre
envelhecimento. O único hormônio ligado ao sono é a boa e velha
melatonina – e todo mundo sabe que pode ser comprada sem
receita médica. Se precisar é fácil conseguir, certo?
Então, por que deixar a falta de sono mantê-lo noites e noites
acordado?
Porque, quando você dorme menos no que deve, a melatonina
não é o único hormônio afetado. Há pelo menos dez hormônios
diferentes, e outros tantos neurotransmissores no cérebro, que
começam a não funcionar direito quando você não dorme o
suficiente. A melatonina é apenas a ponta do iceberg, por assim
dizer. Todas as outras alterações é que modificam o apetite, a
fertilidade e a saúde mental e cardíaca.
Então, porque essa notícia faça parte, separadamente, de cinco
ou seis disciplinas acadêmicas diferentes. Por exemplo, a Dra. Eve
Van Cauter, da Universidade de Chicago, chama de “dívida de
sono” as alterações hormonais que registra em seu laboratório de
estudos do sono. Um

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nome que pode pegar... Talvez assim a perda do sono atraia
alguma atenção. De alguma maneira, a idéia de relacionar a perda
do sono a ser credor ou devedor de alguma coisa – igual a dinheiro
– atribua ao assunto maior importância. O dinheiro sempre fala alto
– e essa dívida de sono que você está contraindo tem um custo
anual direto, para a nação, de 15,9 bilhões de dólares, e um custo
indireto de mais de 100 bilhões de dólares, em horas perdidas de
trabalho e acidentes. Mas nós dizemos que o custo é, na verdade,
bem maior.
É o custo da sua vida.
Dormir depois que o despertador toca, cochilar no teclado do
computador ou derramar o café na mesa de trabalho, não são os
principais desastres para quem dorme pouco: a morte é a pior
conseqüência.
E, quando falamos de morte não estamos falando de acidentes de
automóvel.
Como a nação, estamos doentes porque não dormimos. Estamos
gordos e diabéticos porque não dormimos. Estamos morrendo de
câncer ou do coração porque não dormimos. Uma avalanche de
artigos científicos escritos e revisados por colegas nossos dão
suporte à nossa conclusão de que, quando não dormimos em
sincronia com a variação sazonal da exposição à luz, alteramos
definitivamente um equilíbrio da natureza que foi programado em
nossa fisiologia desde o Primeiro Dia. O relógio cósmico está
embutido na fisiologia de cada ser vivo.
A história que estamos prestes a contar é tão óbvia e, no entanto
tão fantástica, que você não acreditaria, se não fosse verdade. Há
mais coisas na história da perda de sono do que qualquer um de
nós esperaria, porque até agora ninguém foi capaz de enxergar o
quadro completo.
Nós enxergamos – e vamos mostrá-lo a você.
Em Apague a luz, provamos que a obesidade e os principais
assassinos relacionados a ela – doenças cardíacas, diabetes e
câncer – são causados por noites curtas, por trabalhar durante
horas ridiculamente longas, por, literalmente, queimar a vela nas
duas pontas – e pela eletricidade, que nos permite fazer tudo isso.
A causa, com toda a certeza, não é comer gordura demais ou a
falta de exercício.
Pesquisamos o crescimento da obesidade e das chamadas
doenças relacionadas a esse aumento de peso durante dois anos e
meio. Nossas conclusões são suportadas por mais de uma década
de pesquisa feita no National Institutes of Health (NIH), em
Washington, e em mais de

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outras fontes científicas. A nova abordagem em relação à doença
pode ser humilde e desconcertante, mas é o preço da verdade.
Então ouça.

***

Quando o dia mais longo, criado pelos ciclos artificiais de


claridade e escuridão se tornou a norma, há apenas setenta anos –
com o uso indiscriminado das lâmpadas elétricas – obesidade,
diabetes, doenças cardíacas e câncer de repente se tornaram as
causas oficiais de morte nos relatórios dos investigadores públicos.
Desde que essas doenças começaram a aparecer como as
principais causas de morte, por volta de meados do século, os
esforços por parte da ciência e da medicina para explicar o
impressionante aumento de casos nunca examinaram qualquer
outra mudança ambiental gritante, a não ser a dieta. E após todos
esses anos, enquanto os americanos continuam a morrer, todos os
médicos e pesquisadores continuam a insistir no mesmo ponto.
É hora de ver a luz.
A maior mudança pela qual os seres humanos passaram, nos
últimos 10 mil anos, aconteceu há menos de setenta anos. A
eletricidade e o uso indiscriminado da lâmpada elétrica figuram, ao
lado da descoberta do fogo, do advento da agricultura e da
descoberta do tratamento com antibióticos, entre os marcos sem
retorno na história da humanidade.
Em 1910, um adulto ainda dormia de nove a dez horas por noite.
Hoje, esse adulto tem sorte se consegue dormir sete horas por
noite. A maioria de nós não consegue. Esses números significam
quinhentas horas a mais acordados por ano. Na natureza,
dormiríamos 4.370 horas de um possível total de 8.760, ou metade
de nossas vidas. Há oitenta anos, já tínhamos caído para 3.395
horas. Agora, temos sorte de atingir umas parcas 2.255 horas. Se a
natureza conta o nosso tempo, e apostamos que sim, isso significa
que só chegamos a viver a metade do que viveríamos. Talvez
tenhamos dobrado esses números com cirurgias e antibióticos, mas
imagine o quanto mais poderíamos viver se também dormíssemos.
Na década de 1970, os americanos dedicavam 27 horas
semanais ao “lazer”. Na década de 1990, essa média caiu para
quinze horas. E trabalhamos pelo menos 48 horas semanais, em
comparação às 35 que um trabalhador cumpria, em média, na
década de 1970. naquela época

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tínhamos hobbies, jogávamos beisebol, montávamos miniaturas de
navios, éramos membros de clubes e líderes de escoteiros. Hoje,
embora o número de horas que dedicamos ao trabalho e ao lazer
seja aproximadamente o mesmo, a proporção mudou
consideravelmente. Nos últimos trinta anos, desde 1970,
encontramos novas paixões para acrescentar às antigas: fazer
exercícios, ir ao médico, agüentar um tráfego cada vez mais
ensandecedor, assistir a 150 canais e a filmes de verdade na TV a
cabo, além dos mais recentes bandidos: e-mail e eBay. Não admira
que não sobra tempo para dormir ou cuidar das crianças.
Então, por que os guardiões da nossa saúde não prestam
atenção ao estresse e à falta de sono antes de colocarem a culpa
na comida? Vai adivinhar. E quando resolveram examinar a dieta
dos americanos e dar conselhos, fizeram tudo ao contrário.
Disseram à população para comer açúcar e evitar gorduras.
Ao revelar como seu corpo evoluiu junto com o planeta e tudo o
mais que nele existe, e ao explicar como esse corpo utiliza o
alimento para provocar o sono e lidar com o estresse, podemos
dizer exatamente o que acontece – à sua mente, ao seu corpo e ao
planeta – quando você come. Agora vamos lhe mostrar a luz.
A ciência do ritmo circadiano explica tudo. Todos os mistérios
podem ser desvendados. Neste livro, examinamos as evidências
científicas através das lentes da biologia evolutiva e da biofísica.
Os mapas moleculares nos mostram o caminho de casa e nos
contam de novo o que sempre soubemos. O sono controla o
apetite, e o apetite e o estresse controlam a reprodução. Dormir,
comer e fazer amor controlam o envelhecimento.
Os hormônios melatonina e a prolactina são atores fundamentais
em nossa conexão mente-corpo-planeta. Eles se comunicam com o
sistema imunológico e com o sistema de metabolização de energia,
em relação aos ciclos de luz-e-escuridão. A insulina e a prolactina
orquestram a química cerebral que governa a serotonina e a
dopamina no cérebro, para controlar nosso comportamento e
estado de espírito. Serotonina e dopamina controlam o
comportamento em relação à comida e ao sexo. Resultado: pouco
sono faz você ficar gordo, faminto, impotente, hipertenso,
canceroso, e com o coração doente.
A energia solar é a catalizadora de todo tipo de vida. A quantidade
de luz que age sobre você informa os “controles” do seu “sistema”
sobre a rotação e a órbita do planeta em que vivemos. Esse
posicionamento global ajuda nossos sentidos a ficarem de olho no
estoque de alimentos.
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É essa comunicação cósmica que nos diz, desde o início dos
tempos, quando comer, o que comer e quando reproduzir, para
maximizar a comida disponível. Nós e todos os outros organismos
neste planeta evoluímos com o giro do planeta – dentro e fora da
luz do sol.
O fato de você estar lendo isto significa que o sistema teve
sucesso.
O fato de você querer ler isto mostra que o sistema está
desmoronando.
A maioria das pessoas está absolutamente cansada de controlar o
peso e preocupar-se com o coração. Estamos prestes a lhe dizer
como parar.
Poderíamos ter dado a este livro o título de Perca peso enquanto
você dorme, mas nos pareceu demasiado vulgar. Quase o
chamamos de Mantido no escuro, depois que descobrimos
exatamente onde eram conduzidos os estudos que provavam nossa
premissa: em Washington. E ninguém menos do que o National
Institutes of Health confirma que é um “dado” científico dizer que os
ciclos de luz-e-escuridão:

• ligam e desligam a produção de hormônios


• ativam o sistema imunológico
• determinam a liberação diária, particularmente a sazonais,
dos neurotransmissores

Acabamos de dizer que, anos e anos atrás, nós existíamos em


sincronia com todos os ciclos biofísicos e ritmos da natureza. Hoje,
não apenas controlamos o estoque de alimentos, mas também
fazemos retroceder a noite e o tempo. Neste livro dizemos qual é o
preço que estamos pagando por querer brincar de Deus.
Aqui está a conta: a infindável luz artificial com a qual convivemos
é registrada, em nosso relógio interno, igual aos longos dias de
verão, porque a noite nunca cai e o inverno nunca chega. Como
mamíferos, somos teleguiados para armazenar gordura durante a
exposição a dias longos e depois dormir – um pouquinho – ao
menor sinal de fome.
Só que agora não dormimos e também não sentimos fome; pelo
menos, não temos fome de carboidratos. É por isso que estamos
gordos e ficamos cada vez mais gordos. Afinal, é sempre verão!
Enquanto o fogo, com sua luz, estendeu nosso dia o suficiente
para afetar o intelecto e a reprodução, a eletricidade ilimitada pode
simplesmente acabar com a gente.
A menos que o governo faça isso primeiro.

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Se o NIH realizou a maior parte dos estudos que fornecem as
provas de que a depressão, a obesidade, as doenças do coração e
o câncer podem ser prevenidos, em grande parte dos casos, se as
pessoas simplesmente dormirem mais e apagarem as luzes, por
que eles nos mantiveram no escuro até agora? Por que continuar a
insistir que dietas ricas em carboidratos e exercício vão nos curar?
Será que eles estão realmente tentando nos matar?
A verdade é sempre mais estranha que a ficção. Os cientistas da
MacArthur Mind/Body Foundation, da Universidade de Chicago, da
NASA, do National Institutes of Health e do National Institutes of
Mental Health, esses últimos em Washington, vêm estudando
biofísica ao longo da última década. Isso significa que os mais
importantes pensadores científicos dos Estados Unidos estão
pesquisando a mesma ciência que nós pesquisamos para este livro.
Enquanto você lê, também eles estão provando que nos
reproduzimos e nos alimentamos sazonalmente, que temos um
metabolismo fartura-fome, que desenvolvemos diabetes, doenças
cardíacas, câncer e depressões graves se dormirmos menos de
nove horas e meia por noite durante pelo menos sete meses no
ano.
Quando perguntamos ao Dr. Thomas Wehr, o chefe do
departamento que estuda os ritmos sazonais e circadianos no NIH
em Washington, se ele achava que a população tinha o direito de
saber que com menos de nove horas e meia de sono por noite – ou
seja, no escuro – as pessoas a) nunca serão capazes de deixar de
comer açúcar, fumar e beber álcool; e b) com grande margem de
certeza desenvolverão uma das seguintes condições: diabetes,
doenças cardíacas, câncer, infertilidade, doença mental e/ou
envelhecimento precoce, ele respondeu:”Bem, sim, ela tem o direito
de saber. E deve ser informada; mas isso não vai mudar nada.
Ninguém vai apagar mesmo as luzes...”
Talvez não.
Afinal, a luz é sedutora. Quanto mais tempo ficamos acordados,
mais aprendemos. É por isso que os americanos são os melhores e
os mais brilhantes – e também os mais doentes do mundo.
Mas ainda acreditamos que algo pode acontecer.
Afinal, quando os números divulgados pelas autoridades disseram
aos americanos, no final da década de 1960, que era melhor
encontrarem tempo para fazer exercícios ou então morreriam, eles
passaram a fazer exercícios. E quando nos disseram para cortar a
gordura de nossa dieta porque senão morreríamos, todas as
fábricas de alimentos se prepararam para isso. Quando a medicina
declarou que os remédios para

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diminuir o colesterol seriam a nossa salvação, enquanto ficávamos
cada vez mais doentes. A gente botou as pílulas para dentro como
se fossem balas de chocolate. É claro que muita gente ganhou
dinheiro com o movimento do condicionamento físico, com os
alimentos de baixo teor de gordura e com os remédios. Mas a única
pessoa que vai se beneficiar com o sono é você mesmo.
O que está em jogo, aqui, é se queremos ou não ir mais cedo
para a cama e trabalhar menos horas por dia. Com os
minimercados 24 horas, 250 canais de televisão e a internet para
surfar a noite toda, reverter nosso ritmo exigiriam um esforço
hercúleo. Sabemos disso, mas estamos prestes a fazer da volta ao
tempo dos dinossauros uma escolha pessoal, não federal.
Acreditamos que a população merece, de nosso governo, o acesso
aos fatos e a uma consultoria nutricional mais precisa.
Nós pagamos por isso.
Todos os americanos sabem que Washington é pródiga em
segredos, mas é um pouco difícil de engolir que, ao mesmo tempo
que o Departamento Federal de Medicina nos diz para ingerir uma
dieta pobre em gordura e 58% de carboidratos para curar
obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer, o NIH, que fica
do outro lado da rua, está provando que o consumo excessivo de
carboidratos, provocado pela privação do sono, figura entre as
causas dessas mesmas doenças.
Por que vimos sendo mantidos na ignorância, quando eles
sempre souberam da verdade?

PARTE I
SEGREDOS
E MENTIRAS

Pág 23
UM
QUEREMOS ACREDITAR:
A igreja dos falsos deuses
Em algum momento do passado, os cientistas descobriram que o
tempo flui mais vagarosamente quanto mais longe estivermos do
centro da Terra. O efeito é minúsculo, mas pode ser medido com
instrumentos extremamente sensíveis. Uma vez conhecido o
fenômeno, algumas pessoas, ansiosas por permanecer jovens,
mudaram-se para as montanhas.
Agora, todas as casas estão construídas em Dom, no Matterhorn,
Monte Rosa e outras elevações. É impossível vender casas em
qualquer outro lugar... Pilotis... Pessoas ansiosas por viver mais
construíram suas casas nos pilotis mais altos... Elas celebram sua
juventude e caminham nuas em suas varandas...
Com o tempo, as pessoas esqueceram a razão por que o mais
alto é melhor.
Mesmo assim, continuam a ensinar a seus filhos a evitarem
deliberadamente outras crianças que vivem em elevações menores.
Elas até se convenceram de que o ar rarefeito é bom para seus
corpos e, seguindo essa lógica, adotaram dietas parcimoniosas e
recusam tudo que não seja o alimento mais leve. No final, o povo
se tornou fino como o ar, ossudo e velho antes da hora.
– Alan Lightman,
Os sonhos de Einstein

Em O Dorminhoco, clássico de Woody Allen, o personagem Miles


Monroe, dono de uma loja de alimentos naturais e clarinetista, dá
entrada no Saint Vincent’s Hospital em 1977 para um procedimento
de rotina. Tem uma úlcera péptica. Quando acorda, duzentos anos
depois, descobre que morreu – e que uma tia carinhosa o colocou
em suspensão criogênica.

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A trama engrossa quando dois cientistas fora-da-lei o
descongelam ilegalmente para tirar vantagem do fato de que ele é
uma não entidade numérica – e, como tal, pode ajudá-los a
derrubar o regime fascista que controla os Estados Unidos em
2173. Há uma conversa em que eles discutem o progresso do
paciente:

– Ele pediu algo especial?


– No café da manhã, pediu umas coisas chamadas germe de trigo e
mel orgânico.
– Aah, sim, parece que naquele tempo as pessoas pensavam que
essas coisas eram substâncias encantadas, que continham
propriedades capazes de preservar a vida.
– Quer dizer que não havia gordura, churrasco ou cobertura de
chocolate quente?
– Oh, não, essas coisas eram consideradas más para a saúde –
exatamente o oposto do que hoje a gente sabe ser verdade.
– Incrível!

O que é mais enervante a respeito desse pequeno flash de


cinematografia? Que os números do seguro social classificam todo
cidadão em um banco de dados de computador tipo “O Grande
Irmão”, que um regime fascista controla os Estados Unidos ou que
o New England Journal of Medicine divulgou um estudo em 1998
que conclui que a gordura pode, na verdade, proteger contra
doenças cardíacas? Será que a sabedoria nutricional de 1970, na
qual confiamos há décadas, pode estar completamente
equivocada?
O que vem agora? Durma mais ou você terá câncer?
Pode considerar profética esta última afirmação.
Mais tarde, Miles (Woody) vê o personagem vivido por Diane
Keaton acender um cigarro por razões médicas e reclama: “Como
pudemos errar tanto? Todo mundo sabia que gordura e cafeína
eram substâncias tóxicas!” O outro respondeu: “Miles, todo mundo
sabe que as únicas coisas que mantiveram viva a humanidade
foram café, cigarros e carne vermelha!”
De certa forma não parece tão engraçado, agora que pode ser
verdade.
Sem dúvida, café e cigarros parecem manter os franceses vivos.
Eles até têm uma aparência melhor que a nossa. Nessa mesma
cena tragicômica, o germe de trigo é dublê muito velado de nossas
saladas e barras

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nutritivas. Na década de 1970, as saladas e barras nutritivas
certamente seriam classificadas como “comida saudável” para os
“maníacos da saúde”. Todos se sentiam muito confortáveis com o
fato de que havia os “maníacos da saúde” e o resto de nós.
Atualmente, se você não cuida da sua saúde, é considerado um
imbecil.
Hoje em dia tudo é rotulado “de baixo teor de gordura”, “sem
gordura”, “99% livre de gordura” ou “com 30% menos de gordura”,
na tentativa de se qualificar um “alimento saudável”. Até mesmo os
sucos de frutas e as massas secas são vendidas como “sem
gordura” porque somos todos imbecis. Seu médico e os doutores
que aparecem na mídia, todos dizem – mesmo depois que os livros
Protein Power do Dr. Atkins, já provaram o contrário – que você não
consegue carboidratos de alta qualidade para perder peso a menos
que consuma:

• 5 a 7 porções de frutas e verduras por dia, além das


• 5 a 7 porções recomendadas de grãos e pães, além de
• Massas e vinho

Eles nunca contam a Pepsi, a Coca, o mel no chá o xarope de


milho com alto teor de frutose, que aparece como conservante em
quase todos os alimentos processados. Agora vamos imaginar toda
a comida que eles recomendam empilhada sobre a mesa (isto
porque jamais caberia no prato). Não lhe parece muita coisa?
E se todas essas promessas de baixo teor de gordura gerando
vida longa, sem câncer e diabetes, num corpo magro e esbelto,
ativado por um coração forte, limpo e sem hipertensão, fossem
falsas desde o início? E se os carboidratos, e não a gordura fossem
a causa da obesidade, do diabetes e do câncer?

O MÓDULO DE DEUS

A gente acha que o exercício explica por que as pessoas se sentem


tão bem quando estão morrendo. É também a razão pela qual
algumas pessoas conseguem manter regimes de baixo teor de
gordura durante tempo suficiente para se matarem. O que faz uma
pessoa agir assim?
O desejo de ser magra e se sentir bem? De forma alguma.
Michael Persinger, Ph.D., professor de neurociência e psicologia
na Laurentian University, no Canadá, isolou uma área dos
neurônios, nos

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lobos temporais do cérebro, que emite repetidamente fagulhas de
atividade elétrica quando a pessoa pensa em Deus ou tem qualquer
sentimento relativo à espiritualidade. Nós, cientistas, conhecemos
isso através das tomografias de monges, freiras e esquizofrênicos,
quando “falam com Deus”. Quase na frente desses lobos temporais
está a amigdala, um órgão de formato amendoado que imbui os
eventos de intensa emoção e de sensação de significado.
Devido à forma como os lobos temporais são estruturados e
sensorialmente conectados com a amigdala, eles são as regiões
mais eletricamente sensíveis do cérebro. O Dr. Persinger tem
conhecimento pessoal sobre isto porque ele criou um elmo com
molas de fios de aço colocadas logo acima das orelhas (lembra
Woody Allen em O Dorminhoco?). Ao passar uma corrente elétrica
cuidadosamente controlada através dessas molas, o médico cria
um campo magnético pulsante que imita os padrões transmissores
de energia dos neurônios nos lobos temporais. Isso gera uma
experiência espiritual mística completa, com uma saudável dose de
paz. Os cobaias do Dr. Persinger relatam um “efeito opiáceo, com
uma queda substancial da ansiedade e uma elevada sensação de
bem-estar, semelhante aos relatos de iluminação”.
Enquanto o Dr. Persinger caprichava em sua melhor
caracterização de cientista louco, Vilayanur Ramachandran, Ph.D.,
diretor do Laboratório do Cérebro e da Percepção da Universidade
da Califórnia, em San Diego, entrava em contato com o céu. O Dr.
Ramachandran anunciou, em 1998, que havia descoberto o
“módulo de Deus”. Este “módulo” está localizado no cérebro, numa
área dentro dos lobos temporais, que se torna eletricamente ativada
quando uma pessoa pensa em Deus ou em espiritualidade, ou
relembra uma experiência “mística”. Olha, isso me parece familiar.
Sabemos também que o estresse, a tristeza e principalmente a
falta de oxigênio estimulam fortes descargas elétricas na mesma
área, vizinha ao módulo de Deus. Como a falta de oxigênio
desencadeia estas explosões neurais, alguns cientistas acreditam
que esse mecanismo pode ser o responsável pelas várias
experiências de euforia e tranqüilidade próximas da morte. Também
a apnéia do sono, em pessoas com lobos temporais
descontrolados, pode significar que elas ouvem alguém chamar seu
nome quando adormecem, ou que têm uma “experiência fora do
corpo”, como a sensação de estar voando, durante o sono.
Podemos dizer também que a hiperventilação resultante do
exercício, junto com o estilo de vida Yuppie-urbano de baixo teor de
gordura,

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aciona o módulo de Deus. É por isso que o barato do corredor é
uma experiência tão religiosa.
Seu cérebro pensa que você está morrendo. Mas você só está
sem fôlego.
Receamos que você esteja sem tempo também.
A verdade é que todo esse exercício está fazendo mais do que lhe
dar um barato. Está exacerbando a queima de seus receptores de
cortisol. Correr é uma resposta de medo. No mundo real, significa
algo está querendo te pegar; pelo menos é o que seu corpo e seu
cérebro pensam. Se você correr por tempo suficiente, todos os seus
sistemas acreditarão que você vai conseguir ultrapassar aquele
predador. A química cerebral que acompanha as corridas longas
evolui para tornar mais agradável a saída deste mundo. Isso
significa que a falta de oxigênio, sozinha, vai acionar aquela parte
do cérebro que nos leva para o céu ou, neste mundo, nos dá uma
razão para continuar correndo. O mecanismo da química cerebral
que o faz ver Deus enquanto fica sem oxigênio evolui a partir das
respostas programadas – respostas a impulsos ambientais que não
mais existem, respostas que, num passado remoto, podem ter salvo
sua vida ou tornado a morte agradável.
Pois agora essas respostas o estão matando.

VIDA SAUDÁVEL?

Que outros impulsos ambientais estão acionando os mecanismos


ancestrais da sobrevivência? A resposta a essa questão é uma
cena arrepiante, digna de um romance de ficção científica. Ou de
um livro como o nosso.
Trabalhar até tarde, com luzes bem claras após escurecer, assistir
ao programa de David Letterman ou conferir os e-mails tarde da
noite, mesmo que seja por apenas meia hora – tudo isso fica
registrado como se fosse um longo dia de verão, em seus controles
ambientais internos. Isso significa que seu cérebro o forçará a
buscar energia para armazenar, através da ingestão de açúcar. O
açúcar (carboidratos) é o único caminho para a liberação da
insulina; e a função da insulina é armazenar o excesso de
carboidratos como gordura e colesterol, para que você tenha algo
com que viver quando terminar o verão.
A faixa de gordura no abdome, comum nos pacientes cardíacos
resistentes à insulina e com colesterol alto, assim como nos
diabéticos Tipo

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II teria servido, em outro tempo e lugar, para manter aquecidos os
órgãos internos e ser utilizada como energia durante o período
normal de fome (o inverno). A ingestão cada vez maior de
carboidratos (açúcar) sempre acaba numa produção maior de
colesterol também, porque os carboidratos baixam a temperatura de
congelamento da membrana celular. No mundo real, você nunca
teria acesso a uma tal quantidade de açúcar, a menos que fosse
verão antes do inverno. Mas você não vive no mundo real.
Da próxima vez que seu médico disser que seu colesterol está
alto demais e que você deve cortar gorduras e fazer mais exercício,
diga-lhe que ele está errado. Diga-lhe que você não está doente,
que só vai hibernar – e que não quer congelar. Talvez ele ache
graça.
Você, por outro lado, deveria estar chorando pois tem um grande
problema.
Todos os sistemas que evoluíram para mantê-lo vivo, e que o
mantiveram até este ponto, estão berrando: “A fome está
chegando!!!”
Quando você se exercita dia e noite para driblar o ganho de peso
que seu corpo e sua mente desejam, você aciona sua “resposta de
estresse”. E a mensagem que você envia a esses sistemas é: “Ai,
meu Deus, a fome está chegando e tem um tigre atrás de mim!”
Acredite, isso não é solução.
Na realidade, o exercício pode muito bem ser o último prego de
nossos caixões coletivos. A resposta de estresse ancenada quando
você corre para salvar sua vida naquela esteira eleva seus níveis de
cortisol. Se você faz isso de vez em quando – digamos, a cada dez
dias, a resposta episódica natural do cortisol vai manter seu
coração e cérebro saudáveis. Mas se você faz exercício feito um
maníaco mais de uma vez por semana, os altos níveis de cortisol
resultantes de todo o exercício crônico na verdade imitam o
estresse da época da procriação, quando as longas horas de luz e a
competição (principalmente para os machos) mantinham o cortisol
em picos anuais. A competição sexual é a situação mais
estressante possível na natureza, depois da morte. O período da
procriação seria um fracasso sem uma base de gordura para
sustentar uma gravidez durante o inverno. Assim sendo, não é por
acaso que a compulsão por carboidratos, para gerar gordura,
coincide com os altos níveis de cortisol e de hormônios sexuais. É
preciso ter pão no forno em agosto ou setembro para a maioria dos
mamíferos, para que o bebê possa nascer em abril ou maio, na
primavera, quando o alimento é abundante.

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Agora você está na academia de ginástica, é novembro e o
horário é um momento qualquer entre seis e meia e nove e meia da
noite; pelo menos dez watts de luzes florescentes estão acesos,
intensificados pelos espelhos que brilham diretamente em seus
olhos e sobre a pele de seu corpo superexposto. Você levante
pesos, corre e caminha numa esteira ou trilha, e se for realmente
suicida, está num StairMaster ou girando.
Saiba que, para seu corpo e sua mente – que evoluíram, ao longo
de milênios, para reconhecer os sinais da Natureza – você está
numa luta, uma disputa mortal, igualzinho aos gnus que golpeiam
com os chifres, que você vê no Discovery. Você está lutando por um
ovo, pela imortalidade ou apenas por uma chance no próximo
round. Essa luta parece razoável para seu corpo porque as luzes à
noite (a luminosidade da sala de ginástica) significa que estamos no
auge do verão, e que você deve se acasalar ou vai se tornar
violento. É por isso que o cortisol fica elevado durante o dia: para
fornecer glicose aos músculos para correr ou fugir, e para mantê-lo
calmo para os processos de tomada de decisão – no caso,
acasalar-se. É por isso que, quando somos constantemente
banhados por luzes inesgotáveis, sentimo-nos todos tão nervosos
(leia-se: paranóicos, agressivos, histéricos, apressadíssimos), até
mesmo quem não se exercita, até nos desligarmos de tudo.
Nesse estado crônico, você não está apenas mantendo alto o
nível de açúcar no sangue, o que sobrecarrega o sistema de
resposta da insulina com os efeitos mobilizadores do açúcar no
sangue do cortisol; na verdade, também está se tornando resistente
à insulina enquanto se exercita.
Esse fato significa que o exercício pode engordar.
Enquanto você faz exercícios feito um maníaco e vive numa dieta
de baixo teor de gordura, ganha peso até se cheirar um biscoito.
Além disso, de quebra, desperdiça hormônios sexuais, causa
câncer e provoca supressão do seu sistema imunológico. O cortisol
alto crônico também altera sua percepção do tempo e fez com que
você viva constantemente correndo. É essa percepção alterada do
tempo que provoca o período de divagação tarde da noite, antes de
ir para a cama, quando você fica acordado sob a impressão de que
deve haver algo a ser feito, ou de que você não concluiu seu
trabalho. Aí você enche mais de açúcar, porque não dormiu – e sua
insulina vai à estratosfera. Sabemos que só esse comportamento já
o torna gordo e doente.
Acredite, a culpa não é da falta de exercício, da carne ou da
manteiga.
Nem da gordura, de jeito nenhum.

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De verdade, gente.
Se a ingestão de gordura saturada causasse obesidade, já
estaríamos lá na frente, no sentido de reduzir a obesidade
nutricionalmente. Todos nós teríamos a aparência de supermodelos.
Estamos comendo menos gordura e nos exercitando mais do que
nunca, mas não lembramos em nada os supermodelos.
Na verdade, estamos horríveis.
Estamos mais gordos e doentes do que nunca, em toda a história
do nosso país. E o problema não é apenas a nossa aparência
terrível: nossos planos de erradicar doenças cardíacas, câncer e
diabetes foi para o brejo. O americano mediano na verdade ganhou,
em média, quatro quilos de peso desde o início da uerra do baixo
teor de gordura” contra a obesidade.
O pressuposto que cultivamos com carinho durante trinta anos era
que perder peso cortando gorduras e fazendo exercícios levaria a
uma redução importante nas ocorrências de doenças
cardiovasculares, sem mencionar o diabetes e o câncer.
Mas não foi o que aconteceu.
E quando não aconteceu, a medicina disse que os cientistas
disseram que a gente não tinha cortado gordura suficiente. E que,
se diminuíssemos o teor de gordura de todos os alimentos
processados, se reduzíssemos o consumo de carne vermelha e
criássemos imitações de gordura com o Olean, a marca do olestra,
a maré finalmente se reverteria. Hoje, todos esses milagres e metas
já se concretizaram, a gente se exercita dia e noite – e, no entanto,
muitos de nós já tentaram, pelo menos uma vez durante os últimos
anos, virar vegans.* Todos os dias os apresentadores de televisão,
os documentários, novos âncoras e programas de culinária nos
dizem que a vida de baixo teor de gordura funciona. E você jamais
saberá que não funciona, a menos que dê uma olhada nas
estatísticas e no crescimento das vendas de remédios para dieta.
Esses números mostram um quadro totalmente diferente.
Dizer que o cenário não é tão róseo, no mínimo, uma brincadeira
de mau gosto. Estudos recentes mostraram que perdemos mais de

________________ ___
*Vegans: vegetariano radical, que não consome qualquer produto de origem animal, nem
mesmo laticínios. (N.T.)

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um milhão de vidas, só de doenças cardíacas. O grande rumor,
entre os estatísticos, é que as mortes por doenças cardiovasculares
têm sido omitidas indiscriminadamente. De alguma forma, embora o
número de mortes por doenças cardíacas tenha caído, o verdadeiro
número de ataques cardíacos subiu bastante.
Isto significa que alguém está manipulando os números.
Significa, também que as pessoas continuam tendo tantos
ataques cardíacos e doenças cardiovasculares quanto sempre
tiveram; no entanto, procedimentos como cirurgias, angiogramas,
uma droga que dissolve coágulos chamada t-PA, 911 e angioplastia
as têm salvo, por enquanto, e com isso o índice de mortes tem
caído. Isso para falar só em morte cardiovascular; outros 60 milhões
de pessoas (isso é 25% da popoulação norte-americana) vão
acabar morrendo de doenças cardíacas, tendo em vista seu perfil
de risco.
Alguns desses “riscos” são cigarro, idade, gênero, pressão alta,
elevadas taxas de colesterol, diabetes, estresse e, logicamente, a
obesidade, o pesadelo médico de quase todo o mundo (em nossa
sociedade), o terror não é a pogreza, as doenças cardíacas ou
sequer os crimes violentos; a idéia assustadora de que, um dia, a
pessoa pode simplesmente acordar de manhã e constatar que está
realmente gorda).
Muito bem, agora acorde e sinta o cheiro do milk-shake dietético.
O homem mediano, nos Estados Unidos, não é magro. Tem 23%
de gordura corporal, enquanto a mulher mediana tem 32%. Esses
números tornam o cidadão médio 53% mais gordo do que o ideal
saudável, e a cidadã média pelo menos 50% mais gorda. Em 1961,
a obesidade atingia, historicamente – ou pelo menos assim se
pensava – 20% de toda a população. Em 1995, o Centers for
Disease Control and Prevention nos revelou que o número de
americanos gravemente obesos havia aumentado 30%, somente
durante a década de 1980. lembre-se da academia de ginástica.
Nos vinte anos anteriores, essa mesma estatística de obesidade
permaneceu inalterada, em um quarto da população. E este é
exatamente o mesmo período de vinte anos em que se desenvolveu
o grosso da pesquisa nutricional que hoje seguimos. Esse intervalo
de vinte anos assistiu também ao fim da comida de verdade, da
semana de trabalho de quarenta horas e das férias de suas
semanas, assim como ao advento da TV a cabo, dos telefones
celulares, do correio de voz e do e-mail.

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JÁ PENSOU NISSO?

Todos os anos, 80 milhões de americanos “começam com uma


dieta”. A quantidade de peso que perdem nem conta, porque 95%
deles engordam tudo de novo (e ainda ganham mais alguns quilos)
num prazo de cinco anos. Vimos diminuindo regularmente o nosso
consumo de gordura e colesterol – e mesmo assim aumentou a
incidência de obesidade, doença e morte.
Desde a virada do século, o consumo de açúcar aumentou 150%.
Como o açúcar se revelou um conservante barato, virou aditivo em
quase todos os alimentos processados – e, como sabemos, o
consumo de alimentos processados nos Estados Unidos vem
crescendo exponencialmente ao longo dos últimos cinqüenta anos.
Na década de 1940, os aparelhos de televisão eram raros. Em
meados da década de 1950, três em cada dez residências já
recebiam ondas de rádio visíveis. Mesmo no período de glória da
programação tipo Nickelodeon, só ocasionalmente as assoberbadas
donas-de-casa envenenavam suas famílias com jantares
comprados. Hoje, a família mediana tem dois adultos que trabalham
em horário integral e comem fora, ou comida congelada, pelo
menos quatro noites por semana. Se essa é a norma numa família
tradicional, imagine quão raramente uma casa com um único
resposável pode se dar ao luxo de servir uma refeição caseira.
Ou a mãe pega as crianças na creche e sai com elas para comer,
ou então chama a babá para começar a ferver a água para cozinhar
a massa. Já são seis e meia da tarde quando jantar é servido
(massa, suco ou leite desnatado para as crianças, além de pão e
sobremesa). A mãe precisa de um drinque para se manter de pé – e
ainda tem o dever de casa, os banhos a mais a “atenção de
qualidade” para das às crianças. Se a mãe faz jantar de verdade,
com mais de dois grupos de alimentos reconhecidamente
importantes, em vez de alimentar a próxima geração com massa,
tudo se atrasa ainda mais. Para isso, a mãe precisa de dois
drinques.
Bom, já são nove ou nove e meia da noite, e ela não teve ainda
um minuto para sentar e descansar depois do trabalho. No verão,
isso seria natural. Mas a cena de descrevemos ocorre durante o
ano escolar, o que significa durante os “dias escuros” na natureza.
Então, essa família de mãe solteira, ou de mãe que trabalha e de
“pai ausente”, seja por preguiça ou por trabalhar ainda mais horas,
vai agüentar pelo menos

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cinco, ou talvez sete horas a mais de luz, num período de 24 horas,
dia sim dia também, durante sete meses por ano, completamente
fora de estação. Isso entra ano e sai ano, década após década –
até a mãe ter câncer de mama e a filha ter acne e ser gorda demais
para estar na capa da Vogue. E o Júnior, com apenas 1.70 m de
altura, ainda por cima ter asma. Se o nosso pai imaginário estiver
presente, terá artérias obstruídas, pressão alta e excesso de açúcar
no sangue.
Como tudo isso acontece é um completo mistério para a ciência
médica.
A desastrosa derrocada na saúde do povo americano corresponde
ao aumento das atividades noturnas estimuladas pela luz e ao
consumo de carboidratos que as acompanha. Considere apenas o
aumento do peso médio de jovens adultos e adolescentes ao longo
dos últimos quinze a vinte anos. Na média, esse peso aumentou,
previsivelmente, mais de 5 quilos. O percentual de adolescentes
obesos estava em 15% na década de 1970, e subiu para 21% na
década de 1990. agora, está acima de 30%.
Um recente artigo de primeira página do New York Times citou a
televisão como a causa do aumento da obesidade entre os jovens.
O artigo se baseava apenas na premissa “preguiça”, alegando falta
de atividade física exercício). A causa é a televisão, sim, – mas não
da forma que eles pensam. Grande parte dos jovens de hoje
nasceram num mundo de baixo teor de gordura/exercícios pesados.
Mais de um terço deles se autodeclaram vegetarianos, ciclistas,
montanhistas e patinadores. E há aproximadamente 12,5 milhões
de jovens como esses hoje nos Estados Unidos. E quando se
pergunta a esses jovens adultos por que são vegetarianos, a maior
parte diz que é por causa da saúde; o resto só acha que é legal.
Eles não tem idéia do que estão fazendo a si mesmos.

A SÍNDROME DO ETERNO VERÃO

Além de um aumento regular na ocorrência de doenças cardíacas e


de obesidade, as estatísticas já mostram que o diabetes e o câncer
também estão aumentando.
Talvez não seja só por causa da comida.
Na edição de 12 de janeiro de 1998 do U.S. News and World
Report, Walter Willet, o chefe do departamento de nutrição da
Escola de Saúde Pública de Harvard – um homem muito
inconstante – foi questionado

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com relação ao fracasso da dieta de baixoi teor de gordura em curar
doenças ou salvar vidas. Sua resposta fraca e inconsistente:
“Desde o início isso era apenas uma hipótese” – não demonstrou
vergonha alguma.
Essa “hipótese” custou mais vidas do que as duas guerras
mundiais e o conflito do Vietnã juntos. Basta verificar as estatísticas
da American Câncer Society e da American Heart Association nas
últimas três décadas. Em 1999, a previsão era de que, só de
câncer, 1.257.800 pessoas iriam morrer.
Se preferir uma projeção de futuro, consulte os números
misteriosos da American Diabetes Association sobre a crescente
população de diabéticos Tipo II. Agora, os pesquisadores estão em
busca de explicações genéticas para a obesidade porque, se temos
certeza de alguma coisa, essa certeza é de que a obesidade é o
começo do fim. A obesidade é a precursora do diabetes adulto. Não
é coincidência o fato de que, até o final do ano 2000, haverá mais
de 25 milhões de diabéticos Tipo II. É cerca de 98% de toda a
população diabética. Se todos os 25 milhões se tornarem
diabéticos, com certeza uma grande parcela deles terá doenças
cardíacas e pressão alta – duas condições que levam ao derrame.
Essas complicações são as que mais matam os diabéticos.
Há anos que se prevê que a redução da gordura na dieta reduziria
também o câncer; só que as estatísticas nos mostram uma
crescente incidência de câncer de colo, associada a uma queda na
incidência de morte. Isso significa que o câncer de colo está
aumentando, mas as pessoas estão morrendo menos disso. Isso
não quer dizer cura; no caso do câncer de mama e de próstata,
podemos ver aumento na incidência e também nas mortes. Esses
dados sobre câncer de mama, próstata e colo são os que, com toda
certeza, deveriam ter apresentado queda, dadas as mudanças que
os americanos fizeram na dieta dos últimos quinze anos. Em vez de
reconhecer a dieta de baixo teor de gordura, a pesquisa médica nos
deu Mevacor, Provachol, Proscar – e agora Tamoxifen e Raloxifene.
A medicina admite que a “melhora” nas estatísticas de câncer é
conseqüência do diagnóstico precoce, não do tratamento ou da
prevenção. Mas o diagnóstico procece aumenta apenas o período
de conhecimento – a vitima só fica sabendo antes que vai sofrer e
morrer. Na verdade, não muda a data da morte. O diagnóstico
procece nunca salva vidas; com maior freqüência, apenas as
prolonga por tempo suficiente para confundir os números. E todos
esses números provam que estamos no caminho ERRADO.
Concordamos que a intervenção da dieta com certeza

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pode reverter o curso da doença. Cortar carboidratos pode curar a
obesidade e grande parte do diabetes, mas não as doenças
cardíacas, e com certeza nem todos os tipos de câncer. O final
dessa história é a EXTINÇÃO.
A comida é parte dessa equação, está bem, mas não é a
resposta. A resposta está no ritmo circadiano e na evolução.
A resposta está em comer, dormir e reproduzir-se em sincronia
com a órbita do planeta, ou acabar como os dinossauros. As longas
horas de luz artificial que confundem seu ancestral sistema
regulador de energia também destroem o revestimento de seu
coração, e portanto o colesterol em excesso pode obstruir o fluxo
sangüíneo. Ao longo do curso da evolução, seu subconsciente foi
condicionado e ajustado para acreditar a agir da seguinte maneira
quando as luzes ficam acesas por um período muito longo: “Coma
carboidratos agora, ou morra mais tarde.” Da mesma forma, ao
longo do curso da evolução, seu subconsciente foi condicionado e
ajustado para acreditar e agir da seguinte maneira quando as luzes
ficam acesas por um período muito longo: “Acasale-se ou morra.”
Esse instinto que responde à luz tem sido a base de nosso
metabolismo fartura-ou-fome e, em última análise, de nossa
sobrevivência, durante pelo menos 3 milhões de anos. Todos os
efeitos da exposição crônica à luz e o consumo de carboidratos que
acompanha essa exposição, em outro tempo e lugar, ter-nos-iam
preparado para o pior: para a falta de comida e para os dias mais
frios, curtos e escuros, em que há menos sol.
Nós sempre “nos fartamos” para agüentar a “fome” que
certamente viria – até agora. Infelizmente, a verdade em nosso
tempo é que ingerimos carboidratos hoje e morremos mais
depressa. Nosso corpo traduz como “verão” as intermináveis horas
de luz artificial. Como ele sabe, instintivamente, que o verão vem
antes do inverno, e que o inverno significa falta de comida,
começamos a desejar carboidratos, para acumular gordura para um
período em que o alimento é escasso e deveríamos estar
hibernando. Esta é a fórmula:

A. Longas horas de luz artificial = verão na mente.


B. Inverno significa fome, para seus controles internos.
C. Fome no horizonte significa desejo instintivo de carboidratos,
para armazenar gordura para a hibernação e para a escassez.

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Essa escassez é acompanhada de:

1. Consumo cada vez maior de carboidratos, até que seu corpo


responda a toda a insulina, tornando-se resistente à insulina
no tecido muscular;
2. Garantia de que os carboidratos ingeridos se transformem em
depósito de gordura;
3. Fazer com que o fígado use o excesso de açúcar na produção
de colesterol, o que evitará que as membranas celulares
congelem com as baixas temperaturas.

Se você dormir à noite durante o número de horas em que


normalmente estaria escuro lá fora, só vai desejar carboidratos no
verão, quando as horas de luz são mais longas. É a “adaptação
perene”, ou a crônica e constante intenção de hibernar, que provoca
o consumo excessivo de carboidratos e a obesidade – e a
conseqüente pressão arterial elevada, o colesterol alto e a inevitável
falência cardíaca.
As etapas 1, 2 e 3 correspondem também ao quadro hormonal do
diabetes Tipo II – doença, na verdade, é o resultado final da fadiga
extrema provocada pela “toxidade” da luz. Na caminhada rumo ao
fim. Você certamente encontrará uma das seguintes condições:
obesidade, doença cardíaca, derrame, doença mental ou câncer. A
comunidade médica, a FDA, o Instituto Nacional de Saúde e sua
televisão dirão que a causa é uma praga dos céus – que só poderá
ser curada com uma dieta com 80% menos de gordura, três a seis
horas semanais de exercício pelo menos, e um monte de
suplementos e vitaminas.
Em quem você vai acreditar?
O mercado está saturado de informações sobre dietas de baixo
teor de gordura: como se alimentar com pouca gordura, por que se
alimentar com pouca gordura, quem deve se alimentar com pouca
gordura. Existem apenas algumas opiniões dissidentes, embora o
número esteja crescendo a cada dia. Está vazando lentamente na
consciência nacional a idéia de que “para algumas pessoas, o baixo
teor de gordura talvez não seja a melhor opção”, de acordo com
Walter Willet. Este recuo, meio balbuciado, meio escondido, é muito
tímido – e vem tarde demais para aqueles que conhecemos e que
não sobreviveram ao movimento pela pouca gordura.
Esta catástrofe nacional da saúde, na verdade, vem sendo
construída há 75 anos. Durante todo esse tempo, um número
incalculável de almas lutaram e fracassaram ao seguir um
aconselhamento nutricional que nunca poderia levar ao sucesso.
Fracassaram porque a comida não era

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realmente a culpada. A história nos ensina que todas as doenças da
civilização surgiram com força total depois da Revolução Industrial,
quando a eletricidade tornou real a disponibilidade da luz artificial
ilimitada e barata. Foi a lâmpada elétrica que transformou a noite
em dia. A curva do desempenho de preços da lâmpada elétrica é
semelhante à curva do desempenho de preços de um computador
portátil. Uma lâmpada de 100 watts custa 33 centavos de dólar em
qualquer supermercado; em 1883, a mesma quantidade de luz
custaria ao consumidor US$1.445. Os especialistas concluíram que
as máquinas usurparam nosso bem-estar físico; na verdade, foram
os alimentos processados, refinados e adoçados que entraram pela
primeira vez na nossa vida (ao mesmo tempo que as luzes
estenderam o nosso dia e mudaram nosso apetite) que provocaram
todo esse processo. Embora o instrumento da destruição possa ser
a alimentação, a causa da morte é algo bem mais insidioso.

A CAUSA DA MORTE

Seu apetite é apenas um dos sintomas dessa disfunção mortal,


assim como a obesidade está associada às doenças cardíacas mas
não é a causa. A grande verdade é que a necessidade urgente de
dormir é também a causa do diabetes Tipo II. Todas as doenças que
não são causadas por contágio ou maus-tratos são provocadas por
disfunções imunológicas, em função do metabolismo. Seu sistema
imunológico é governado por duas substâncias: a prolactina e a
melatonina – e ambas são controladas pelos ciclos de luz e pela
escuridão. São esses controles biológicos fundamentais que estão
em perigo. A variação sazonal e a intensidade da luz do dia
controlam a floração, o crescimento e o estado de dormência nas
plantas e nos animais; as mudanças sazonais na iluminação
ambiente controlam a hibernação, a migração e o acasalamento.
Expor as pessoas ao brilho incessante da luz artificial por um
número de horas maior do que o dia claro em si é problema na
certa. Até 75 anos atrás, passávamos até quatorze horas por noite,
dependendo da estação, no escuro.
Por volta de 1920, a maioria das pessoas tinha condições de
manter as luzes acesas durante umas duas ou três horas à noite.
Tinham condições de comprar uma ou duas novas “lâmpadas”
elétricas de Edison, e também a eletricidade necessária para
mantê-las acesas, porque a mesma fonte de energia estava
construindo uma economia que utilizava uma

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enorme força de trabalho. As luzes geravam empregos para pagar
por elas. No final da década de 1920, as caras máquinas instaladas
nas fábricas já haviam começado a funcionar junto com os
ponteiros do relógio. De repente, estavam rodando durante as 24
horas do dia, enquanto, apenas uma década antes, a energia
proveniente do gás era cara demais para ser usada durante a noite
inteira. Antes da eletricidade, as fábricas só funcionavam durante
dez horas. Essa segunda Revolução Industrial remapeou o
panorama econômico.
O trabalho noturno trouxe mais dinheiro de várias maneiras. Não
apenas forrou os bolsos dos donos das fábricas; gerou também
mais empregos e dinheiro para uma subclasse econômica de novos
imigrantes. O mais importante, porém, é que o trabalho noturno
trouxe com ele uma economia de serviço. Essa economia fez
proliferarem transportes, restaurantes e mercados 24 horas,
quadras de tênis e jogos de beisebol noturnos, pontos de jogo e por
aí vai. A eletricidade alimentou o telefone, que é a base de nossa
atual capacidade de comunicação de ficção científica, e que
permitiu que os pequenos mercados se tornassem globais. Existe
até uma nova pérola de terminologia, na língua inglesa, para este
fenômeno, graças à Internet: 24 por 7. Foi um golpe de sorte
ridiculamente terrível, num século que de outra forma seria bem
interessante, o fato de que, exatamente ao mesmo tempo que o
açúcar começou a ser usado para preservar e embalar “comida”
industrializada, nós tivéssemos a oportunidade de ficar acordados a
noite toda para comê-lo.
É claro que, naquela época, não havia muitos alimentos
industrializados no mercado; porém os que existiam utilizavam
xarope de milho altamente refinado (em máquinas industriais) para
evitar perda de umidade e aumentar a vida de prateleiras de
produtos. Muitos alimentos industrializados ainda usam o mesmo
conservante. Até os pãezinhos de aveia adoçados com mel, feitos
com grãos integrais e de baixos teores de gordura, bem
embaladinhos, que você encontra próximo às caixas registradoras
dos minimercados, são preservados com açúcar. É altamente
esclarecedor observar, neste ponto, que a incidência de diabetes
Tipo II caiu tremendamente durante as duas guerras mundiais,
época em que o açúcar era racionado.

O INSTRUMENTO DA MORTE

Para entender por que os carboidratos são o instrumento da morte,


precisamos de um pouquinho de ciência. Só recentemente a ciência
ea
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medicina começaram a reconhecer uma condição chamada
hiperinsulinemia crônica. Este é o termo que designa a insulina
elevada crônica, produzida no próprio organismo. Isso só pode
ocorrer quando a pessoa consome carboidratos de forma crônica.
Na natureza, nunca seria possível uma pessoa comer carboidratos
de forma crônica. As árvores e plantas dão frutos apenas em uma
estação e floresce na outra. Viver só de açúcar por mais de um ou
dois meses não seria possível, a menos que você estivesse se
preparando para hibernar, como uma marmota, durante um longo
sono de inverno.
A mídia não fala muito sobre insulina, a não ser em relação ao
diabetes do Tipo I; por isso mesmo, as pessoas pensam na insulina
como um remédio para os diabéticos do Tipo I – que, seja por
razões virais ou por serem auto-imunes, não conseguem fabricar a
própria insulina.
A insulina é o elemento central em ambas as formas de doença,
pois ela controla o nível de açúcar no sangue ao se encaixar nos
receptores das células como uma chave que abre uma tranca. Uma
vez abertos os portões, o açúcar presente no sangue pode entrar e
energizar todas as células do organismo. A resistência à insulina é a
incapacidade do corpo em responder à insulina que é produzida
normalmente, porque os receptores recuam para salvar sua vida.
Cada função do seu corpo – desde a comunicação básica molécula
a molécula até operações complexas, como o controle do apetite ou
da temperatura – está numa estreita zona de normalidade chamada
homeostase. Um recuo dos receptores de insulina é uma tentativa
de controlar a quantideade de açúcar permitida. Insulina demais
não é normal.
A pista reveladora de nosso destino ameaçador é que a incidência
de resistência à insulina vem ocorrendo em pessoas cada vez mais
jovens. A população inteira está envelhecendo em ritmo acelerado.
A resposta lógica seria reequipar todas as indústrias alimentícias e
aconselhar as pessoas a evitarem o açúcar, certo? Foi essa a
nossa abordagem em relação á gordura, e a população aderiu em
massa. Acredite em nós, com o açúcar isso não seria assim tão
fácil. Seria mais parecido com Proibição. Somos tão viciados numa
dieta de baixo teor de gordura e alto teor de açúcar quanto os
alcoólatras são viciados em álcool, porque os altos níveis de
insulina criam, no cérebro, o mesmo estado criado pelo álcool.
Os alcoólatras “dormem” depois de um pileque não apenas
porque o álcool em si temum efeito sedante sobre seus receptores
opiáceos, mas
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também porque a enorme carga de carboidratos da uva, dos grãos,
da batata, do cactus ou, no caso do rum, da cana-de-açúcar contida
na bebida literalmente os faz adormecer. Lembre-se disso toda vez
que tomar aquela taça de vinho após o jantar. O pico de insulina
depois de um pileque transforma a serotonina do cérebro em
melatonina – e isso quer dizer luzes apagadas. Em nossa cultura,
ingerimos tantos carboidratos num único dia quanto um
bêbado durante um porre. Para ele e para nós, a recuperação
natural é a mesma.
Dormir.

A RESSURREIÇÃO DA VERDADE

Será que a perda de sono pode estar destruindo o relógio endócrino


que controla o ganho de peso? Será que a quantidade de horas que
você dorme realmente pode controlar seu apetite? Nossas
descobertas são quase simples e extraordinárias demais para se
acreditar. Mas aqui gostaríamos de recordar a legendária regra da
lâmina de Occam, que diz: “Em condições iguais, a resposta mais
simples é sempre a correta.” Sabemos que, para a maioria de nós o
que estamos dizendo é algo como descobrir que tudo aquilo que
você acreditou desde pequeno é mentira. E é! Você não quer
saber?
Ocorre que tudo o que era fato sobre nossa saúde acaba não
sendo mais do que conjecturas absurdas. Conjecturas que não têm
evidências científicas que as apóiem. Conjecturas que, para
algumas pessoas, fizeram sentido.
Só que não fazem mais.

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DOIS
No escuro:
Um evento no nível de extinção

Dormir, talvez sonhar.


- William Shakespeare,
Hamlet, 3.2.54, 1554
Dormir, talvez sonhar,
quem sabe transformer a realidade.
- Sony Corporation, 1997

Ó tu, escuridão, envolve o espírito daqueles que ignoraram a tua


glória. Leva-nos agora.
- Mayra Montero, uma prece para os que estão
morrendo, extraído de you, Darkness, 1999

O suave conforto proporcionado pelos sons dos anfíbios na noite


está profundamente enraizado na consciência humana, assim como
a música prateada do som da água correndo. A batida dos oceanos
na praia, uma borbulhante fonte romana, grilos cantando e sapos
coaxando – tudo isso antecipa o bem para a humanidade. E nós
contamos com isso. Desde o primeiro dia da criação que nos
sentimos seguros ao ouvir esses sons, pois eles sempre se
traduziram em sobrevivência: comida, água e companhia.
Agora, porém, tudo isso está mudando. Os sapos andam quietos
demais. O silêncio está ficando surdo. Os anfíbios, sapos e rãs
estão morrendo sob cinscunstâncias misteriosas. Em alguns casos,
nem os corpos são encontrados. De acordo com a revista New
Scientist, no Parque Nacional de Causuco, em Honduras, várias
espécies de sapos selvagens desapareceram sem deixar rastro; e
também não há mais

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girinos. Na Austrália, quatro – nem uma, nem duas, nem três: quatro
– espécies desapareceram das florestas de Queensland. Na ilha
havaiana de Kauai, um tipo de rã que antes abundava na região
simplesmente não existe mais. Os nativos disseram aos
pesquisadores que todos os sapos tinham “ido embora” um dia.
Essas criaturas, agora ausentes, viviam em delicado equilíbrio entre
água e terra, ar e luz.
Assim como nós.
É uma perspectiva apavorante compreender que, no final, o nosso
desaparecimento – assim como o dos anfíbios – vai ocorrer, mais
provavelmente, como um colapso geral e inespecífico, e não por
causa de um asteróide cadente ou um holocausto nuclear.
Sabemos que já começou. Nós, os seres humanos vivos de hoje,
estamos disparando rumo à extinção.
O LIVRO DOS MORTOS

Será que nossa extinção é iminente? As perspectivas contrárias a


ela não são boas. Já aconteceu mais de uma vez – e pode
acontecer de novo. Trinta milhões de espécies vivem atualmente
conosco no planeta, e muitas milhões de outras já viveram conosco
e desapareceram. Os especialistas em extinção concordam que a
biodiversidade está desaparecendo rapidamente, particularmente
quando a gente se dá conta de que ocorreram apenas algumas
extinções importantes, ao longo dos últimos três bilhões e meio de
anos de vida do planeta. Talvez esse seja apenas o curso natural
das coisas, a Idade do Gelo que está chegando. O mais provável,
porém, é que tudo isso tenha sido inventado por nós mesmos. Seja
qual for a causa, o registro histórico verifica os sinais, e esses sinais
estão em toda parte. Da queda das taxas de natalidade ao aumento
absurdo de diabetes e do câncer, muitos de nós não estão
“qualificados” para viver. Alguns estão a ponto de seguir o caminho
de outros ramos menos adaptáveis de nossa família, como o Homo
habilis, o Homo erectus ou o Homo neanderthalensis. Alguns
desses hominídios foram superados, em número, por outros ramos
da família, mas a maior parte deles simplesmente eram menos
adaptáveis. Quando você transforma o ambiente, o hambiente
transforma você – se seus genes assim o permitirem.
Toda a nossa atual configuração genética evoluiu num período
ocorrido antes de termos a habilidade de trazer a luz à escuridão só
porque assim o quisemos um dia – algo tão inimaginável quanto
poderia

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parecer. Nossa primeira investida no terreno do controle celestial –
o fogo – transformou aqueles, dentre nós, que tinham condições de
ser transformados. O domínio e o uso do fogo foi a primeira
descoberta que aumentou nossos dias e encurtou nossas noites.
Noites mais curtas significam menos melatonina. Menos
melatonina significa mais estrogênio e testosterona, mais
cortisol – e, é claro, mais insulina. Aqueles de nós que
conseguiram se adaptar a uma vida com menos sono, mais
carboidratos e o aumento da fertilidade que isso trouxe,
sobreviveram. Os que não conseguiram se adaptar morreram,
incapazes de sobreviver ao novo ambiente.
O maior réquiem de morte que se seguiu foi a maciça extinção
humana que acreditamos deva ter ocorrido bem no limiar do
advento da agricultura. Como qualquer outro animal, nós nascemos
para caçar à luz do dia – seja à cata de frutas e peixes no verão ou
de porcos selvagens e cascas no inverno – e para descansar no
escuro. Cultivar grãos perto dos locais onde vivíamos mudou tudo
isso. Embora o suprimento de energia fornecida por carboidratos o
ano inteiro tenha nos ajudado a ser mais populosos do que
qualquer coisa viva, exceto os micróbios, este novo milagre – a
agricultura – também nos proporcionou a primeira praga auto-
infligida. A mudança relativamente súbita na concentração e no
tempo de ingestão da nova alimentação à base de carboidratos
acabou com muitos de nós ao perturbar o equilíbrio de nossa
nutrição, que era 90% proteína e, de repente, passou a ser 80%
carboidratos (ou seja, açúcar).
Em todo o período prévio da vida humana, ainda que os
carboidratos estivessem disponíveis nos meses que vão da
primavera ao final do outono, nós nunca os desejamos
intensamente até as horas de luz do dia mudarem, ou seja, quando
março virava abril e quando abril virava maio. Por volta de junho e
julho, nossas noites duravam apenas sete ou oito horas, em
comparação com o auge do inverno, quando a escuridão duvara
pelo menos treze horas por dia.
A agricultura significava que, de repente, passávamos a viver com
uma quantidade de carboidratos (açúcar) cada vez maior, até por
um período superior a um ano inteiro, devido à nossa habilidade de
controlar os períodos de crescimento das lavouras. Depois de
atravessar centenas de milênios e algumas Idades do Gelo sem
comer açúcar fora da estação, a rapidez (em termos evolutivos)
com que ele chegou causou o mesmo tipo de morte que estamos
testemunhando atualmente.

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Nosso colapso geral e inespecífico mais recente começou com a
chegada da eletricidade. Nossa primeira manobra inocente foi
carregar as brasas incandescentes que sobrevam da queda dos
raios. Aquele “fogo” tinha possibilidades reais. Em seguida, demos
um jeito de aprender a reanimar as brasas que haviam esfriado. E
assim vivemos por talvez um milhão e meio de anos; depois, em
menos de uns ínfimos oitenta anos, resolvemos morar com os
deuses.

LUZES INTENSAS, GRANDES CIDADES, MUITO DINHEIRO

Dessa vez, a gente fez melhor: aprendemos a recriar o raio que nos
trouxe a mágica das brasas ardentes. Passamos a deter o tesouro
do deus Thor. O controle sobre a energia primal do raio nos deu as
chaves do reino; agora vamos pagar por isso.
Desde meados do século XVIII até o final do século XIX, europeus
como Michael Faraday, Alesandro Volta e alguns outros dispersos
pelo mundo perseguiram o magnetismo até que a natureza, sob a
forma de elétrons, perfilou-se e bateu continência. Agora, oito mil
anos depois do início da agricultura, nós, os arrependidos
sobreviventes dessa última grande ameaça da humanidade,
enfrentamos um novo tipo de extinção: a luz artificial, a nós
proporcionada por Thomas Alva Edison, o Homem do Milênio,
segundo a revista Look.
Em 1831, Michael Faraday criou o gerador elétrico. Edison viu o
aparelho na Exposição de Filadélfia e, assim diz a história, foi
inspirado – tão inspirado que veio a se tornar o Bill Gates do século
que então se iniciava. A lâmpada elétrica, o fonógrafo, partes do
telefone e seus fios e ainda o projetor de cinema – tudo saiu da
mente desse único homem.
Em 1877, ele tomou dinheiro emprestado com J. P. Morgan e lhe
prometeu uma lâmpada elétrica. A equipe inglesa de Sawyer e
Mann estava bem próxima de produzir a sua, e Edison queria
derrotá-los. Por volta de 1878, ele ainda não tinha uma lâmpada
que funcionasse. Um ano depois ele havia perdido sua família e seu
dinheiro, e nada de lâmpada. Naquele ponto, porém, ele ainda
enxergava.
Sob a mira de um revólver, por assim dizer, ele trabalhou 24 horas
por dia durante três semanas inteiras, com apenas uma muda de
roupa e uma equipe de quinze homens. Fumava vinte cigarros por
dia, bebia sem parar e não dormia um minuto sequer. Durante
aproximadamente quinhentas horas, com apenas um ou outro
cochilo de vinte minutos

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aqui ou acolá, Edison examinava filamentos incandescentes em
tubos no vácuo, tentando descobrir um que pudesse ser
confiavelmente religado.
Ele tentou de tudo, desde platina a bambu, passando até por linha
de costura assada (cujas fibras, ao serem queimadas, produziam
carbono). Queimou filamento por filamento, até que um deles ficou
aceso durante treze horas. Depois, meio cego, ele finalmente foi
dormir, graças ao uísque e a uma quantidade razoável de morfina.
Na manhã seguinte, ele convocou uma coletiva de imprensa e
anunciou uma demonstração. Três mil pessoas foram a Menlo Park,
em New Jersey. Edison havia espalhado fios e uma centena de
lâmpadas por toda a pequena cidade. Durante a demonstração, ele
prometeu encher Nova York de luzes dentro de um ano; só isso já
fez dele uma “personalidade”. Embora não tenha cumprido a
promessa, dois anos e 3,22 Km de fios mais tarde, cerca de
quatrocentos metros de Pearl Street, no centro de Nova Yoirk,
ganharam 2.323 lâmpadas que funcionavam. Sua busca
enlouquecida pelo filamento perfeito lhe custou sua família, pelos
menos metade de sua visão e uma parcela ainda maior de sua
saúde. Desde aquele período, ele nunca mais consegiu dormir, de
dia ou de noite, sem morfina. Mas ganhou a briga.
E sua conquista reconstruiu o mundo, em termos permanentes.
Em apenas dois curtos anos, que culminaram em uma noite muito
clara, tudo mudou para sempre. Nossa forma de comer, dormir,
viver e morrer nunca mais foi a mesma. Embora isso não sirva de
muito consolo, aqueles anos também mudaram o próprio Edison.
Ele se associou aos ingleses, em 1900, para fundar a General
Electric, e perdeu uma amarga batalha AC/DC para a
Westinghouse. Embora tenha morrido só um pouco doido, tinha
entre seus amigos íntimos homens como Henry Ford e Harvey S.
Firestone. Afinal, os carros precisavam de pneus e de faróis.

BEM-VINDOS AO PARADOXO

Por volta de 1925, todas as cidade americanas, não importa o


tamanho, estavam acesas; só as áreas rurais ficavam para trás. É
um ponto importante o fato de que as áreas rurais ainda são os
locais onde a extrema longevidade ocorre com maior freqüência
entre os americanos. Todas as doenças contra as quais a medicina
moderna declara guerra nunca parecem atingir esses agricultores
de noventa anos de idade, que

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passaram a vida inteira comendo bacon, ovos e manteiga. A mídia,
que segue a atual sabedoria médica do baixo teor de gordura,
considera isso um paradoxo. Nós não.
Para nós, existe uma correlação entre esses exemplos de menos
doença e vida mais longa e o fato de a eletricidade ter chegado
mais tarde. O REA (Rural Electrification Administration), que foi
fundado em 1935, foi criado porque menos de onze fazendas, num
universo de cem, possuíam eletricidade naquela época. Em 1950,
trinta das cem tinham luz, mas só no finalzinho da década de 1970
é que 99% delas possuíam rede elétrica e luz. O REA ainda é uma
organização viável e ativa, que leva rede elétrica e luzes que ficam
acesas 24 horas por dia aos territórios americanos e a Porto Rico,
para que todos possamos morrer juntos.
O clima, o suprimento de alimentos e a competição sexual
serviram para nos adaptar, a nós e a outras espécies, ao ambiente
e ao tempo em que vivemos. Somente na última metade do último
milhão de anos, mais ou menos, é que nós, humanos, decidimos
tomar a nosso cargo a tarefa de criar os meios para nossa extinção,
e para a extinção de incontáveis outras espécies. A eletricidade não
só nos trouxe luz infindável, renovável e barata; deu-nos também os
meios de controlar tudo na natureza, tanto plantas como animais.
Iluminar o escuro significava que podíamos ter tratores com faróis e
microscópios com luzes internas, e que podíamos controlar outras
espécies com estímulos e cercas elétricas.

EX-PLICAÇÕES

Na verdade, não podemos lutar contra o futuro, mas sem dúvina


nenhuma podemos adiá-lo. A partir do momento em que
entendermos de verdade os pontos-limite e os mecanismos
sinérgicos da vida aqui na Terra, será possível mexer nos botões
para tentar driblar a extinção. Neste momento, não há esperança de
controle, porque os americanos estão sufocando e, em última
análise, morrendo debaixo de pilhas de informações
incoerentes.
A televisão repete o dia inteiro, programa após programa, as mil
maneiras de “diminuir a ingestão de gorduras e aumentar os
exercícios”, enquanto seu médico faz coro. Nos Estados Unidos, a
Nabisco repõe “a gordura” (?) nos biscoitos SnackWell. O Fen-Phen
é retirado do mercado, e depois restituído. As vendas do Prozac vão
à extratosfera. Os

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jornais, é claro, confundem o público ao divulgar, prematuramente,
qualquer esperança de salvação, por menor que seja: Angiostatin,
Endostatin, Tamoxifen, Raloxifene, Mevacor, Provachol, Zyban,
Allegra, Valtrex (“tem a ver com a supressão”) – e, é claro, os
primos-irmãos do Fen-Phen, Meridia e Orlistat. Para aqueles de nós
que estão cansados ou ligados demais para sacudir a poeira, tem o
Tylenol PM – e finalmente o Viagra. Enquanto isso, você, sua
família e os amigos ficam cada vez mais doentes.
Nossa intenção é lhe contar o que tudo isso significa. Nos
próximos capítulos, vamos lhe dar uma idéia geral do que existe
além da linha mutante que define os limites de seu conhecimento. O
mundo é muito mais estranho do que pensamos. A física
newtoniana é apenas a ponta do iceberg. Há um universo quântico
lá fora, especialmente quando se trata da sua saúde. Os aspectos
incompreensíveis dos mapas cósmicos, seu comportamento, sua
sorte sob a forma de seus genes, e a doença, tudo isso está
conectado em níveis cada vez mais elevados de interatividade,
onde tudo se junta para formar um noto tipo de sentido – que
significa muito mais do que você jamais imaginou.
Nada acontece em contradição com a natureza, somente em
contradição com aquilo que sabemos sobre a natureza.
A mecânica quântica é um exemplo perfeito. A física newtoniana
nunca poderia acomodar a luz. Maçãs em queda, a conseqüente
velocidade, até algum tipo de puxa-empurra sob a forma de
gravidade, talvez, mas jamais a essência quântica da luz, a luz do
sol vem em pacotes de energia, a que chamamos fótons. Esses
pacotes de energia luminosa, também chamados de quanta, são ao
mesmo tempo uma partícula e uma onda. Imagine uma bola de luz
que quiçá e, à medida que quiçá, solta uma trilha de luz. Essa bola
quicante de luz – o fóton – também é uma onda de energia. A onda
de luz que fica pode ser calor, luminosidade ou energia vibratória,
dependendo do ritmo das quicadas. A luz, a temperatura e a
gravidade controlam todo o metabolismo de energia e a reprodução,
no nível molecular, em cada canto desta terra. Conseqüentemente,
controla sua saúde e sua própria existência.
Na edição de 5 de junho de 1998 da revista Science, Jay Dunlap,
do departamento de bioquímica da Escola de Medicina de
Dartmouth, admitiu abertamente:

Os ritmos circadianos e os osciladores celulares que


estão abaixo dele são onipresentes – e por uma boa
razão. Para a maioria dos

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organismos, a aurora significa comida, predação e
mudanças em todas as variáveis geográficas que
acompanham o sol: calor, ventos e assim por diante.
Quando o sol nasce, é um acontecimento – e a maior parte
das coisas vivas tem seus dias contados a partir de um
relógio interno que é sincronizado por senhas externas.
Devido a essa pressão evolutiva comum e ancestral, os
relógios circadianos devem ter evoluído muito cedo, e os
elementos comuns tendem a estar presentes ao longo de
toda a árvore evolutiva, de cima abaixo. Uma série de
artigos que apareceram esta semana nas publicações
Science, Cell e Proceedings of the National Academy os
Sciences revelam um padrão interessante na “mecânica”
dos osciladores circadianos dos seres vivos, desde os
fungos até os mamíferos – e isso nos dá uma visão mais
aproximada da forma como as engrenagens dentro do
relógio fazem funcionar o sistema circadiano de
realimentação e retorno.

O que o homem quis dizer é que nós, e todas as outras formas de


vida, desde o plâncton e os fungos até os elefantes e as formigas,
estamos cincronizados com a órbita e a rotação da Terra, fora e
dentro da luz do sol, de modo a garantir a cada um uma cota de
alimento. Todas as coisas, grandes ou pequenas, possuem
sensores internos de sol, que medem o tempo com relógios
moleculares presentes em todas as células, que por sua vez trocam
entre si enormes tesouros de genes reguladores que entram e
saem. A luz, seja ela uma partícula ou uma onda, sempre provoca
reações bioquímicas. A esfera inteira esquenta e esfria, esquenta e
esfria, várias vezes, dia sim dia também. As plantas crescem. Os
animais as comem e devoram uns aos outros. Nós morremos e
viramos fertilizantes. As plantas crescem – e começa tudo de novo.
Um mundo sem fim. Amém.
Toda essa química selvagem está acontecendo numa terra que
gira, roda e oscila – e que toca como um sino (é o que você ouviria,
se pudesse escutar a canção do cosmos, do espaço sideral). O sol
metaboliza e inspira. A Terra se ergue e suspira – e nós e os vermos
tornamos tudo isso que existe fértil de novo. Os antigos estavam
certos. Existe um fluxo circulante de energia em constante agitação,
movido pela luz. Cada parte de nós lê as mudanças na intensidade
e no espectro da luz. Quando você coloca as costas de suas mãos
na janela, as células chamadas criptocromos, que estão em sua
corrente sangüínea, captam o espectro azul da luz através de sua
pele. Esses criptocromos carregam

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então um pedaço do céu por toda parte, dentro de você. A energia
da luz e os carboidratos (açúcar) que você come mantêm até a
bactéria simbiótica que vive nas profundezas de seu ser crescendo.
E, como recompensa por ser um bom hospedeiro, elas o mantém
crescendo também.
Nós e todos os outros seres vivos da Terra somos verdadeiros
seres da luz.
Para dar algum sentido às “doenças” como obesidade, diabetes,
doenças cardíacas e câncer, tudo o que você precisa entender são
suas conexões fisiológicas com a Terra, o sol e o céu. A menos que
um micróbio, vírus, toxina ou tigre peguem você de jeito, todos os
outros “estados de doença” podem ser explicados pela identificação
da função que aquela “doença” específica pode ter tido na cadeia
evolutiva, e pela localização do estímulo cultural moderno que
desencadeou a resposta fisiológica ancestral. Nós, como
pesquisadores, fizemos isso com a obesidade e o diabetes, em
relação à variação sazonal no estoque de alimentos e na duração
do dia. Fizemos isso com doenças mentais, infertilidade e perda de
sono. Ao examinarmos a alimentação, o sono e a reprodução,
descobrimos que o câncer e as doenças do coração também têm
uma explicação biofísica. Estamos prontos a apostar que tudo o
mais também pode ser explicado.

NO MUNDO DAS MARGARIDAS

Na década de 1970, um homem chamado Lovelock propôs uma


teoria que dizia que toda vida na Terra se auto-regula. Chamou sua
teoria de Gaia. Em termos bem simples, é o conceito de que a terra,
as rochas e tudo o mais são seres tão vivos quanto nós. Assim
como nossos corpos, a Terra mantém o próprio equilíbrio físico. Na
época, ninguém, salvo uns poucos ambientalistas, comprou a idéia.
A premissa de Lovelock era vantajosa para os ambientalistas, pois
faz sentido presumir que, se nós podemos morrer, uma Terra viva
também pode.
Embora a idéia possa parecer simplista, os componentes
subjacentes da teoria de Gaia envolvem muitas disciplinas –
metereologia, oceanografia, entomologia, antropologia e geologia,
só para citar algumas. Um modo fácil de entender a hipótese Gaia é
observar o modelo do Mundo das Margaridas. Lovelock chegou à
conclusão de que todos os organismos alteram seus ambientes só
pelo fato de existirem – e que o

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ambiente alterado, por sua vez, muda o organismo – que, de novo,
altera o já alterado ambiente, que certamente transforma ainda mais
o organismo, e assim sucessivamente.
Aceitando essa premissa como a regra fundamental da via, vamos
ao Mundo das Margaridas, onde as únicas formas de vida que
existem são margaridas pretas e brancas. No início desse nosso
hipotético Mundo das Margaridas, quando está escuro e frio, uma
margarida preta possui vantagem seletiva, pois consegue absorver
toda e qualquer luz solar disponível, por menor que seja. Em outras
palavras, como ela tem calor suficiente para se reproduzir, pode
espalhar a característica da cor preta. As margaridas brancas não
conseguem bons resultados porque não conseguem absorver calor
suficiente para florescer e se reproduzir.
Temos aqui uma dose de darwinismo puro: é a proliferação da
característica da cor preta (ou seja, o crescimento de mais
margaridas pretas) que aumenta a temperatura do mundo o
suficiente para que as margaridas brancas possam começar a
florescer. Quando as margaridas brancas se multiplicam, o mundo
começa a esfriar de novo, e aí as margaridas pretas florescem
novamente.
Aqui, o princípio importante de Darwin é que, quando as
margaridas brancas começam a tomar conta do mundo, é sinal de
que a temperatura do planeta já chegou ao ponto em que o fato de
ser preta não confere mais uma vantagem seletiva ao outro tipo de
margarida. No Mundo das Margaridas original, a alteração do meio
ambiente que resulta da proliferação de uma característica
específica acaba por reduzir a vantagem daquela mesma
característica. Em outras palavras, a vida se auto-regula. Todos têm
uma chance.
Embora esse argumento possa parecer muito restrito à questão
do controle do clima, seus princípios se aplicam a qualquer variável
ambiental que possa afetar o crescimento. E qualquer pressão
seletiva que pode afetar a liberação de hormônios afeta o
crescimento.
Agora, você está começando a perceber aonde queremos chegar.
Essa auto-regulagem é uma propriedade do sistema da vida
como um todo,intrinsecamente atrelado ao seu ambiente. Além do
mais, a evolução dos organismos e de seu ambiente são tão
intimamente ligadas que ambos formam um único processo
individual. Plantas, pessoas, animais, rochas e céu, tudo é uma
coisa só, um organismo físico gigante que depende tanto da energia
solar como do alívio do sol.
O calor do sol, que as margaridas absorvem, sempre aumenta.
Isso provoca movimento no ar, o que sempre significa vento. O
vento

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provoca ondas no oceano. As microalgas presentes na água que
bate podem viajar até alturas que chegam a 4,6 mil metros,
enquanto os sulfitos que elas contêm recolhem o vapor d’água
presente nos pontos quentes das margaridas pretas e formam
nuvens. Isso significa que as nuvens possuem vida. Enquanto as
algas se reproduzem nas nuvens, a 4,6 mil metros de altura, elas
produzem calor, que provoca chuva. A chuva esfria o planeta ao
mesmo tempo, para que todo o processo recomece.
E onde é que nós nos encaixamos, nesse sistema de vida
aspirante, suspirante e multiorgânico?
A maioria de nós perambula pelo mundo se esquecendo que é
parte dele; a verdade, porém, é que nós vivemos no Mundo das
Margaridas. Quando você caminha pelo jardim ou no parque,
enquanto suas pernas roçam as plantas, as plantas enviam umas
às outras moléculas de comunicação – os feromônios que avisam
que você está vindo. Quando as plantas que estão à sua frente
recebem essa mensagem molecular das plantas que você acabou
de saltar, passam por uma alteração bioquímica: tornam-se
túrgidas. Essa rigidez é um mecanismo de autodefesa, que as
protege de quaisquer danos que você possa causar. Para as
plantas, o sacrifício de algumas em favor da maioria sigfnifica uma
chance na luta para serem a maioria.
Os princípios darwinianos da seleção natural e das características
favoráveis são uma combinação ainda mais poderosa quando você
os expressa assim: os tipos de vida que deixam o maior número de
descendentes acabam por dominar o seu ambiente. Aí, realmente,
passa a ser um caso de “ter cuidado com o que você deseja”,
porque, ao espalhar as características que lhe deu o predomínio,
você automaticamente garante que aquela característica se tornará
a menos valiosa. Nunca se esqueça das margaridas pretas, e de
que as mudanças que um organismo provoca no ambiente podem
ser favoráveis ou desfavoráveis ao crescimento.
É precisamente o que está nos acontecendo agora.
Quando descobrimos as utilizados do fogo e o levamos para
dentro das cavernas, o excesso de luz durante a noite suprimiu
nossa melatonina. A falta de melatonina, que normalmente
suprimiria os hormônios sexuais como o estrogênio e a
testosterona, aumentou a fertilidade daqueles que foram
suficientemente espertos para dominar o fogo. Nossas
características nos tornaram, então, naturalmente escolhidos, pois,
com o aumento da fertilidade, deixamos mais descendentes.

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No entanto, quando esses descendentes descobriram a
eletricidade e todo mundo passou a poder deixar as luzes acesas o
tempo inteiro, a mesmíssima característica que nos tornou os
sobreviventes líderes – nossa capacidade de controlar o ambiente –
“mudou de novo a temperatura do ambiente”, por assim dizer.
Ao levar as coisas longe demais, ao transformar a noite em dia,
cruzamos a fronteira. E alteramos novamente, de maneira
fundamental, os requisitos para a homeostase. No passado, os
hormônios extras – insulina, estrogênio e testosterona –, que
permitiam que nos reproduzíssemos durante o período de
escuridão, ampliaram nosso potencial reprodutivo ao nos conseguir
“dias” a mais, que os outros animais não tinham. Com isso, todos os
nossos hormônios sexuais em excesso não são suprimidos pela
melatonina normalmente controlada pelo planeta, porque as luzes
estão sempre acesas. Os hormônios sexuais fornecidos pelo fogo
aceso, que nos tornaram capazes de procriar o ano inteiro, agora
provocam o crescimento desordenado do câncer. Mais uma vez,
estamos ameaçando o equilíbrio. Exatamente como no Mundo das
Margaridas, a característica que nos deu condições de deixar mais
descendentes – maior fertilidade em função da não supressão da
melatonina pela luz – agora auto-regula nossa população através
do câncer.
A natureza odeia coisas boas em excesso.
O mesmo princípio se mantém quando analisamos o advento da
agricultura. Aqueles que foram espertos o suficiente para gerar um
estoque de plantas (carboidratos) o ano inteiro e conservá-los para
a época da fome (o inverno) foram recompensados com mais filhos.
No início, também, a dieta com maior quantidade de carboidratos,
que aumentou nossa insulina, aumentou também as chances de
termos gordura corporal para o inverno. No entanto, à medida que a
característica de se manter gordo o ano todo se espalhou, a
quantidade de insulina que precisávamos por apenas três ou quatro
meses no ano passou a causar novos problemas, com a obesidade
seguida de diabetes. Toda vez que um organismo conquista um
diferencial, o ritmo natural da vida – um passo à frente, dois para
trás – segura esse diferencial. Isso tem a ver com equilíbrio.
A vida dança. Nunca fica parada.

VOZES ALIENÍGENAS

Se você curvar sua cabeça por um momento apenas, em total


silêncio, quase poderá ouvir uma voz que emana de dentro. Essa
voz é um

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padrão de explosão de neurotransmissores dentro de sua
consciência, que vem sendo afiado há milênios. Essa voz é o
“instinto”.
O sono é um instinto.
Quando você está cansado, seu instinto é dormir.
Por que você luta contra isso?
Se você for bem-sucedido demais, a natureza vai lhe roubar seus
descendentes de qualquer jeito.
Todo mundo sabe a verdade. E a gente sabe num nível tão
profundo que, em toda nossa “arte” humana, desde o desenho
animado mais primário, as plantas e os animais cantam e dançam,
e as nuvens sorriem. Não os estamos antropormofizando; estamos
simplesmente relembrando como as coisas eram. Pense nas
margaridas em O Mágico de Oz, cantando: “Saia do escuro e venha
para a luz”. É absolutamente assustador como o “plano do jogo” é
intrinsecamente tecido nas malhas de nosso tipo de vida. Tão
estranho é o conceito, tão completa a amnésia de nossa espécie,
que lhe oferecemos uma pequena homilia:
Se você não dormir a noite inteira, talvez consiga terminar o
trabalho.
Se você não dormir por uma semana inteira, não apenas o seu
trabalho vai sofrer: você pode morrer.

TODAS AS MENTIRAS LEVAM À VERDADE

O cair da noite, clássico de Isaac Asimov, acontece num planeta


que está na órbita de cinco sóis. Nessa história, o mistério proposto
é descobrir por que essa civilização entra em colapso a cada dez
mil anos. Curiosamente, o colapso sempre coincide com um raro
evento astronômico, no qual quatro dos sóis estão abaixo do
horizonte e o quinto sofre um eclipse total da única lua do planeta.
Quando a história começa, esse evento está prestes a acontecer de
novo.
A solução para o mistério é tão inevitável quanto o nascer do sol,
quando o leitor compreende que a escuridão à noite é o terror final
para um povo que, a vida inteira, só conheceu luz perpétua;
Do jeito que combatemos o sono, é quase isso o que acontece
com os americanos de hoje. Quando a escuridão à noite realmente
ocorre, durante um eclipse, o efeito é quase o mesmo do cair da
noite, que há muito tempo não vivenciamos. Uma sombra surge
rapidamente do oeste e então, enquanto a lua dá a primeira
mordida no sol, ouve-se um fantástico barulho, pois os pássaros,
em pânico, voam para seus ninhos
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– levados a pensar quer a noite caiu de repente. Ao mesmo tempo,
a temperatura cai precipitadamente. Sem a proteção da luz elétrica,
a experiência é ao mesmo tempo impressionante e singela.
Na história de Asimov, isso acontece apenas uma vez a cada dez
milênios. E assim, uma vez após outra, os habitantes do planeta
são levados à loucura quando a noite cai pela primeira vez em dez
mil anos. Eles ateiam fogo em qualquer coisa que possam queimar,
numa tentativa desesperada de restaurar a luz, inclusive com o
registro da última vez que o fenômeno aconteceu. A única razão por
que nadamos em menos ironia é que, em nosso caso, o registro
chegou tarde demais para que nos lembrássemos da morte que se
seguiu à descoberta do fogo e ao advento da agricultura.
Em nosso planeta, as culturas ancestrais na Europa, África, Ásia
e nas Américas foram aterrorizadas além do que podiam suportar
por eclipses, que os antigos acreditavam ser um monstro comendo
o sol. Toda vez que esse monstro mergulhava a Terra inteira na fria
e densa escuridão da noite, nossos ancestrais se reuniam para
fazer tudo o que estivesse ao alcance deles para assustar o
monstro e afugentá-lo. Isso normalmente envolvia o rufar dos
tambores, além de gritar e berrar o mais alto possível.
A medicina vem adotando essa mesma técnica para curar a
obesidade, o diabetes, as doenças cardíacas e acima de tudo o
câncer. Será que algum dia essa forma de abordar as doenças e o
envelhecimento poderá salvar a sua vida?
Quem pode saber?
Naquele planeta longínquo, numa galáxia distante, o sol voltava
toda vez. É esse tipo de sucesso que alimenta a fé profunda em
falsos milagres.
E a ciência e a medicina estão cheia deles.
Desde The 8-Week Cholesterol Cure, publicado no início da
década de 1980, até o mais novo compêndio de todas as
tendências atuais, The Breast Cancer Preventio Diet, a medicina
vem prometendo uma cura após outra, sem que sequer se tenha
entendido o mecanismo da doença. Só à luz de uma visão geral da
interação subconsciente/inconsciente de todas as formas de vida
com as quais convivemos é que as “contradições” que os
pesquisadores médicos investigam o tempo todo podem ser
explicadas. A verdadeira razão pela qual não houve, e nem haverá,
qualquer progresso na questão da saúde em nível governamental
ou institucional é o fato de eles não entenderem isso.
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Compreender uma disfunção fisiológica humana é o mesmo que
colar um vaso quebrado. Você começa com as peças grandes – e,
finalmente, tudo o que resta é o ponto de impacto. No final, aqueles
fragmentos pequenos vão se juntar, mas você nunca poderia ter
começado por eles.
Aqueles fragmentos são as únicas notícias que chegam até o
grande público. É por isso que jornais e revistas estão cheios de
“descobertas de ponta” que ostensivamente vão mudar sua vida,
mas, em tempo real, jamais respondem por uma única cura.
Nos próximos capítulos, vamos examinar o estado da doença – e
depois levar em conta a biologia e o comportamento evolutivos,
provas clínicas, anedóticas ou folclóricas, práticas de várias culturas
e, finalmente, as estatísticas. Nesse ponto, formulamos
pressupostos, aos quais aplicamos a ciência da medicina molecular,
de genética, da psiconeuroimunologia e da neuroendocrinologia.
Em essência, vamos começar com o quadro mais amplo e depois
subdividi-lo para você, até chegar às moléculas.
Porque Deus está nas moléculas.

HOMENS DE BRANCO

Justiça seja feita aos médicos: é o sistema que está subvertido.


As faculdades de medicina presumem que algo tão básico como o
funcionamento do corpo tenha sido ensinado aos alunos antes de
chegarem à faculdade. A maioria dos futuros médicos que entrava
nas faculdades de medicina, no passado, vinham de programas de
ciências com duração de quatro anos em suas universidades. Isto
não é mais o que acontece no mundo todo.
Esses estudantes são convencidos por professores confiáveis de
que o corpo é um sistema linear e estático, que deve ser tratado
apenas durante as crises. A medicina preventiva é vista nos
Estados Unidos como uma espécie de medicina alternativa. E não
se ensina aos jovens médicos a arte de curar; ensina-se
farmacologia. As palestras sobre “drogas e fisiologia”, sempre muito
freqüentadas por esses novos médicos, de forma geral sustentam
essa abordagem de crise. Em última análise, os médicos
americanos aprendem que o paciente é curado quando eles dão
um jeito de apagar os sintomas da doença. Essa abordagem é
particularmente contraproducente e contra-intuitiva, porque todas as
doenças são

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definidas através de seus sintomas. Mas esse método é tudo que
eles têm.
É por isso que Mevacor, Provachol, Tamoxifen, Raloxifene,
Meridia e o grande Fen-Phen ressuscitado, ao lado do Prozac,
encabeçam a lista dos mais vendidos. Esses “remédios” obliteram
os sintomas de um mal maior, mais insidioso e mais invasivo, que
ainda precisa ser identificado pelas pessoas e pelos profissionais
que cuidam da sua saúde. A sabedoria médica atualmente aceita
não passa de um festival de imprecisões misturadas, para encobrir
o fato de que eles não têm sequer uma pista da verdadeira razão
pela qual estamos todos morrendo. A única esperança que os
médicos e pacientes têm é que os pesquisadores inventem uma
nova droga ou terapia genética.

MOSTREM O DINHEIRO

O modelo dentro do qual os pesquisadores devem funcionar, para


que continuem a existir, também é contraproducente. A pesquisa
farmacológica, nos Estados Unidos, é custeada principalmente
pelos fabricantes de remédios e pelo governo. Este método é o
que realmente bagunça a pesquisa e os pesquisadores. Até os mais
dedicados profissionais não conseguem, na realidade, pesquisar
nada, a menos que seja vendável.
A medicina é um grande negócio, como tudo o mais. A verdade
sobre a pesquisa é que a pesquisa não é feita para descobrir a
verdade, e sim para fazer dinheiro!
Se os pesquisadores ganham a vida sendo pagos para procurar,
eles procuram aquilo que o grupo que os paga quer que eles
encontrem. Ao se concentrarem nos potenciais de mercado do
produtor de remédios [laboratórios farmacêuticos!!!!] ou no dinheiro
tendencioso das fontes do governo, eles acabam fazendo
experimentos com peças pequenas, que nunca vão se encaixar.
Eles encontram respostas constantemente, sem fazer qualquer
pergunta. Os médicos e o público, no entanto, presumem que os
pesquisadores estão fazendo o que nós estamos fazendo aqui:
engenharia reversa. Só que eles não estão fazendo nada disso.
Toda a informação incoerente que o público recebe através da
mídia, sob a forma de releases, ou da televisão, vem de “pescaria”.
Os pesquisadores simplesmente continuam pescando no mesmo
laguinho limitado, tentando obter financiamento para os projetos da
moda e com retorno
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garantido, para que possam garantir os próprios salários. Depois
tentam fazer com que o que descobriram se encaixe no resto dos
dados que todos os outros já coletaram. Imagine esse processo
com algo parecido com palavras cruzadas: os pesquisadores
deduzem a resposta a uma determinada charada, depois
preenchem os claros, uma charada de cada vez, até que todos os
claros estejam preenchidos. Eles montam o quebra-cabeça, mas
mesmo com as respostas certas de cada charada, individualmente,
o conjunto completo ainda não diz nada. Depois eles apresentam
ao público um monte de respostas que não têm qualquer relação
coerente uma com a outra. É por isso que o pânico e a angústia
fora de controle continuam a crescer entre a população. Nada
parece fazer sentido.
Como os pesquisadores estão trabalhando sem uma hipótese,
eles não possuem um mapa da estrada de volta para casa. Com
essa abordagem, não há esperança de uma verdadeira
recuperação para nós; só uma dieta regular de comprimidos até
morrermos. As drogas caras não podem curar nenhuma de nossas
doenças, porque as doenças, numa escala evolutiva, são uma
resposta de “pressão ambiental”. Não são nenhum tipo de praga
real.
As novas drogas “milagrosas” são o pior de tudo. A premissa da
intervenção da droga é a seguinte: se A é saudável, B está doente e
C é a terapia com drogas, C, de alguma forma, fará você voltar a A.
C jamais poderá ser A, em planeta algum da galáxia. C está sempre
ainda mais distante de A do que o próprio B.
A razão pela qual a medicina convencional usa a fórmula ABC
está no fato de que as primeiras drogas que foram inventadas foram
antibióticos. E como os antibióticos operam para subjugar as outras
espécies, o ABC funcionou e nós sobrevivemos. Só que é insano
tentar derrotar todos os estados patológicos dessa forma, porque a
maioria deles não deriva de patógenos como as bactérias.
Os pressupostos dos médicos poderiam ser válidos se eles
estivessem lidando com vírus ou germes, e agentes antivirais ou
antibióticos. No entanto, quando doenças como a obesidade, o
diabetes, cardiopatias ou, em última análise, câncer, surgem de
disfunções metabólicas com raízes na biologia e na física, as
drogas não só são inúteis como, na verdade, atrapalham. As
drogas causam novos problemas, mas raramente resolvem
algum. Esse fato gritante, aparentemente, nunca vem à baila no
FDA. Muitos de nós somos prova disso, particularmente aqueles
que já desapareceram. Como os sapos!
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SONO DE FÉ

Estamos morrendo hoje porque perdemos a fé. O homem sempre


recorreu aos céus para decidir sua sorte. Os médicos e os homens
da medicina sempre recorreram aos céus para decidir sua sorte.
Todo mundo sabia como funcionava. A própria palavra “influenza” se
referia à “influência” do sol, da lua, dos planetas e das estrelas
sobre nossa saúde. Sempre soubemos que havia determinadas
regras para permanecer vivos, em harmonia com todas as outras
coisas vivas – a quantidade de comida que se podia comer, o
número de horas que se podia ficar acordado e o volume de
estresse que se podia suportar. Do alto de nossa arrogância,
desprezamos as regras.
Nós já fomos mais sábios.
Existe uma enorme diferente entre conhecimento, informação e
entendimento. Em nosso tempo, conquistamos um enorme
entendimento do mundo natural, através de um tesouro de
informações, mas perdemos o conhecimento de como nos
encaixamos nesse mundo. Em função dessa queda em desgraça,
estamos perdendo nossas vidas prematuramente. A devoção que
temos pelo mundo da medicina e das drogas é um equívoco. A
recuperação pode vir de dentro de nós mesmos. Nós, o povo,
temos o poder de curar essas doenças “incuráveis” com o
simples apertar de um interruptor. [apagar a luz]
Os primeiros médicos gregos, como Galeno e Hipócrates, há mais
de dois milênios, “modernizaram” a medicina ao insistir em que as
causas da doença não são atribuíveis a deuses contrariados e
vingativos, como o sol ou a lua.
Bem, nós estamos aqui para insistir no contrário... e afirmar que
talvez essa seja a hora de encarar isso como religião.

PARTE II
NÃO ESTAMOS
SOZINHOS

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TRÊS
Uma autópsia da Terra:
O meio ambiente controla a genética
da obesidade

O argumentador ideal seria capaz de, ao lhe ser mostrado um único


fato, em todas as suas implicações, deduzir a partir dele não
apenas toda a cadeia de eventos que levaram àquele fato, mas
também todas as conseqüências que decorreriam dele.
– Sir Arthur Conan Doyle,
As cinco sementes de laranja de Sherlock Holmes

Nós fomos feitos para correr atrás de comida e sexo, conseguir os


dois e depois seguir para as montanhas, onde havia cavernas onde
era frio e escuro à noite. Nada muito complicado. Uma cena
exatamente igual à vivida pelos ancestrais de seus cães e gatos – e
igual ao que os gorilas das montanhas fazem ainda hoje.
Pense nisso.
Você não vê um monte de esquilos plantando, ou cobras e
pássaros fazendo churrascos por aí.
A Mãe Natureza ainda entoca o resto do mundo animal quando a
noite cai, mas o homem se tornou um órfão. Num planeta habitado
por trilhões de formas de vida, somente nós, humanos, temos o
controle da luz.
E acredite, é caro. Possuir a noite não ficou nada barato.
O uso do fogo para proteção, calor e para cozinhar deixou uma
marca em nossos sistemas imunológico e reprodutivo que ainda
hoje exige sacrifício de vidas humanas. Ao alterar o ritmo da
exposição à luz e à escuridão, nós, que controlamos a luz, nunca
sentimos frio, e repelimos a noite e quaisquer predadores, humanos
ou animais, que possam estar à espreita, nas sombras. E também
alteramos, literalmente, a

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rotação de nosso planeta, até onde nossas mentes e corpos podem
registrá-lo. Virtualmente, interrompemos a órbita do nosso planeta
em torno do Sol, assim como interrompemos sua rotação.
Abolimos o inverno.
Agora apenas nós, em toda a galáxia e no universo, ficamos em
pé.
O inverno, ou qualquer período de frio, é algo muito importante na
evolução. A adversidade (neste caso, o frio) é um dos principais
agentes motivadores. Pense na forma como você lida pessoalmente
com a sensação de frio: você faz tudo o que estiver a seu alcance
para se aquecer. Seu carro quebra na neve, você encontra logo um
lugar para esperar o socorro, bola um plano para consertá-lo e a
lembrança do incidente permanece dentro de você, mudando para
sempre o seu comportamento. Os vencedores, em qualquer loteria
evolucionista, são os que resolvem problemas. Se todas essas
mudanças ocorreram dentro de você por causa de um
inconveniente isolado – o fato de seu transporte/abrigo ter quebrado
na neve – imagine o que milênios de gelo e neve fizeram à nossa
espécie, em termos intelectuais.
Tudo o que evoluiu em nossa fisiologia e em nosso intelecto é,
literalmente, direcionado para luz e escuridão, quente e frio. Assim
como o conteúdo mineral de nossos ossos, idêntico à poeira de
estrelas, é testemunho de nossa origem extraterrestre, as células
fotoperiódicas em nosso sangue nos ligam ao Sol e à Lua. Somos
sempre, a cada minuto de cada dia em nossa existência terrena,
uma parte integral disso tudo. Até mesmo o propalado “aquecimento
global”, que vivemos estudando, está fora do nosso controle.
Quando o nosso planeta esquenta, o que ocorre a cada dez ou
quinze mil anos, tudo germina e prolifera, até alcançar um
verdadeiro estado febril – e depois, previsivelmente, a febre “se
parte” e o frio entra em cena, para esfriar e exterminar o excesso de
vida. Pense nesta grande virada do pêndulo como um botão
cósmico que liga tudo outra vez, para que a dança comece de novo.
No último século, após sobreviver a muitas, muitas idades do
gelo, começamos a viver num planeta com múltiplos “sóis”, como os
personagens da história de Isaac Asimov. Em vez da escuridão do
eclipse à tarde, que os levou à loucura, no entanto, nós criamos a
manhã à meia-noite. E pode acreditar isto está nos levando à
loucura. Todas as formas de vida precisam adormecer para poder
sobreviver à escuridão e ao frio, ou perderão a capacidade de
planejar e adaptar-se. Os estudos da hibernação provam que a
aprendizagem e a retentividade melhoram nos animais que têm
permissão de encontrar algum alívio da vida.

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Durante longos períodos de frio, nossos ancestraiss dormiam aqui
e ali durante semanas seguidas de cada vez, em cavernas escuras,
desacelerando as funções metabólicas para economizar energia,
quando o alimento era escasso. Este sistema espelhou, ao longo de
toda uma revolução em torno do Sol, o mesmo plano de jogo que
utilizamos a cada rotação para dentro e para fora do sistema solar.
Falando em termos de “padrões”, o dia e a noite são “versões
reduzidas” do verão e do inverno. Ao longo dos milênios, passamos
por períodos de hibernação e gestação que sempre terminavam na
primavera, quando o alimento era fresco e abundante. Nosso
primeiro encontro com o “controle da energia” ou, mais
precisamente, com o fogo, mudou tudo isso para sempre. A luz que
vinha do fogo era suficiente para criar o verão em nossos ovários o
ano inteiro. A partir do instante em que todos esses hormônios
sexuais abundantes para a reprodução nos mantiveram acordados
o inverno inteiro, por suprimirem a melatonina, nós deixamos a
família da Terra – para nunca mais voltar.

O SALTO QUÂNTICO

Nós estamos fisiologicamente interconectados com todas as outras


formas de vida na Terra. A vida é um emaranhado quântico. Os
emaranhados quânticos são o que os físicos chamam de um
problema de “perfeita ordem”. A perfeita ordem é a teoria de que
toda matéria é viva e interligada, através de um fluxo constante de
energia. Tudo o que existe é uma coisa só. Todos nós, juntos,
somos então mais ligados ainda ao Sol, à Lua e às estrelas, pela
biofísica. Isso significa que nossa biologia é um produto dos fótons,
do magnetismo e da gravidade.
Existem monitores sensíveis à luz embutidos nas células de
nossos olhos, pele, sangue e ossos. E nós – desde os tempos mais
imemoriais – sempre registramos a rotação da Terra em torno do
Sol. Mamutes, carnívoros, ratos e micróbios, todos com a mesma
origem humilde, desenvolveram controles fisiológicos baseados em
luz e escuridão. Nós e as plantas somos um. A molécula de
hematina, que estrutura o grupo de células sangüíneas chamada
hemoglobina, é a mesma molécula que estrutura o sangue das
plantas – ou seja, a clorofila.
Nós realmente somos todos um.
A energia que o Sol libera sustenta a bioquímica que é a base dos
sistemas biológicos que respondem por toda a vida aqui na Terra.

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Biofísica, portanto. A energia da luz solar – como os fótons, o calor
(temperatura) que os fótons produzem e a gravidade
eletromagnética a que estamos sujeitos – controla cada milímetro
do metabolismo de energia e da reprodução, no nível molecular,
aqui na Terra. A luz, não importa a forma que tome – seja ela uma
partícula ou uma onda – provoca reações bioquímicas maciças em
cascata em todas as formas de vida, exceto à noite, quando todas
as coisas descansam da luz.
O grande problema de cancelar a noite e o inverno está numa
questão de dualidade: yin e yang, para cima e para baixo, aqui e lá,
esquerda e direita. O dia precisa da noite para existir. A primeira
parte de toda equação só existe por causa da existência da
segunda parte. No universo, a simetria é tudo que existe.
Verão/inverno, primavera/outono, luz/escuridão, branco/negro,
quente/frio, homem/mulher, mortos e vivos – todos têm um ao outro
para agradecer por sua existência. Os físicos quânticos de
vanguarda acreditam que o Universo é feito de energia, em padrões
que obedecem a uma “ordem de simetria”. Faz sentido para nós. A
teoria quântica líder atualmente é até chamada de supersimetria. Se
a supersimetria é uma lei quântica cósmica, pode apostar que é
uma lei biológica também.
Toda espécie de vida, tal como a conhecemos, baseia-se nos
princípios da biologia, que, por sua vez, baseiam-se nos princípios
da bioquímica. Em qualquer reação química, a forma como as
moléculas se ligam às outras moléculas, ou a forma como as
células distribuem a polaridade dentro e fora de todas as reações
químicas, continua a ser regida pelas regras da atração elétrica. As
reações de atração e de polarização, que são a marca registrada da
bioquímica, são definidas pelos princípios da física que utilizam.
Tudo o que estamos mostrando, em nossas teorias sobre o
metabolismo da energia, é que, nessa hierarquia, o sol é o gerador
de toda a vida e energia básicas. O sol é o principal controlador de
todo tipo de vida, simplesmente por causa da estrutura da matéria.
Existem dois ramos principais da física: a newtoniana e a quântica.
A física newtoniana se concentra nos mecanismos – a maçã em
queda sempre atinge Newton na cabeça, e se você fechar o punho
e socar alguma coisa, existe uma equação para mensurar a força
do soco.
A física quântica tem mais chances de explicar o QI e a telepatia.
A diferença teórica entre as previsões mecânicas da física
newtoniana e as previsões da mecânica quântica é que as mesmas
condições experimentais podem levar a vários resultados finais
diferentes num mundo quântico – mas nunca num mundo
newtoniano.

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A imprevisibilidade da vida, além do domínio da mecânica
newtoniana, é explicada pela teoria das cordas. Trata-se de uma
noção romântica, porém não totalmente infundada. Segundo ela, a
música da vida é, na verdade, uma função de um universo
formado por cordas, todas elas vibrando.
De acordo com a teoria das cordas, toda vida emana da mesma
estrutura fundamental: uma corda esticada. Assim, um número
infinito de resultados são possíveis para qualquer situação, por
causa das diferentes maneiras como a corda fundamental pode
vibrar, da mesma forma que diferentes harmonias estão presentes
no som emitido por uma corda de violão. Como há um número
infinito de vibrações possíveis, é razoável que haja um número
infinito de resultados para o mesmo conjunto de condições iniciais.
A compreensão da supersimetria e da teoria das cordas dá um
novo sentido à idéia de que a vida é um jogo de dados.
A única esperança de possuir uma perna com que ficar de pé
(todos os trocadilhos são intencionais) é uma coisa chamada teoria
do caos. A teoria do caos sustenta que os eventos ou ocorrências
que parecem mais aleatórios ou sem sentido são, na verdade,
bastante previsíveis, se você puder se distanciar deles o suficiente
para observá-los. Sustenta, também, que, ao longo do tempo, tudo
possui um padrão de comportamento genuíno, embora difícil de
discernir. Se partirmos dessa premissa, podemos compreender os
enigmas da doença na medicina. Só precisamos aprender a
melodia para apreciar a música.

DE PÉ NUMA PRANCHA SOBRE UM TRONCO

Já que somos, parte por parte e até os ossos, apenas uma ínfima
peça do universo, que existe dentro de um sistema de leis como a
do caos e a da simetria, nossa fisiologia e nosso ânimo também
devem ser regidos por elas. Essa dualidade, ou simetria, existe para
nós como equilíbrio.
Em termos harmônicos, somos parte de uma música maior. O tom
em que cantamos é escrito pelos ritmos naturais de nosso
ambiente.
A única maneira de permanecer no jogo ou de continuar estável é
ser capaz de rolar com os golpes. Todos os sistemas que funcionam
hoje para realizar as ações compensatórias constantes, necessárias
à sobrevivência foram desenvolvidos pela “inteligência” adaptativa,
em resposta às pressões ambientais ao longo de milênios.
Nenhuma característica ou
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comportamento é caprichoso. Viver ou continuar vivo é exatamente
como ficar de pé numa prancha sobre um tronco. Só que, nesse
caso, se você perder o equilíbrio, a queda é longa.
E não há sobreviventes lá embaixo.
Nossa viabilidade, como forma de vida, significa que nossa
capacidade de responder às estações do ano, em termos de
comida e reprodução, é tudo que pode nos garantir uma chance de
terminar no topo, no sentido darwiniano. É por isso que nossos
genes possuem interruptores de “ligar e desligar”, controlados pelos
hormônios, que respondem aos sinais ambientais. Estamos em
sintonia fina com a sobrevivência, ao dar respostas evento a
evento, pois o único fato certo na natureza é que as circunstâncias
mudam. Sem esse sistema, não poderíamos variar nosso
comportamento em sincronia com o imediatismo de cada
ocorrência. A vida é uma dança.
Nós escutamos a música e gingamos.
As vibrações vindas do ambiente são captadas pela interface
hormonal que chamamos sistema endócrino. Esse sistema
endócrino age como o software que aciona um computador
orgânico chamado corpo/cérebro. A quantidade de luz
(luminosidade, temperatura e eletricidade) e de gravidade
(magnetismo) á qual você é exposto é o programa que roda o
software. Sob os auspícios deste software hormonal, que aciona os
interruptores dos genes que controlam a máquina nanossegundo
por nanossegundo, você se equilibra na prancha sobre o tronco.
Essa “submáquina humana” inteira é parte integrante da máquina
maior do ambiente, ou biosfera. Todo ser vivente é uma máquina
interativa ou biocomputador, programado para a inteligência
adaptativa. Isso significa que a definição de “vida” é a capacidade
de aprender e mudar em resposta às experiências. Esse sistema
decisório baseado na experiência permite que cada forma de vida
mude em resposta a todas as outras formas de vida, porque os
hormônios controlam seu comportamento e seus genes.
As atitudes que você toma, ao longo de um dia, não são
realmente decorrentes da livre vontade. São, ao contrário, um
produto do “pensamentoware”. Os elementos presentes no
ambiente controlam os processos hormonais em seu corpo, que
programam seu cérebro para controlar seu comportamento. Dessa
forma, um cérebro sem um corpo não possui mente, mas um corpo
sem um ambiente não possui cérebro. A base de gordura flutuante
naquele corpo é, na verdade, uma resposta imunológica que o
protege e o torna viável em todas as estações do ano.
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Seu comportamento em relação às compulsões alimentares e ao
apetite é simplesmente uma resposta imunológica também.
Tudo ao redor com o qual coexistimos se equilibra em tensão
conosco. Imagine duas pessoas, num ginásio, jogando uma pesada
bola para a frente e para trás. Quando duas pessoas jogam cath
com uma bola pesada, elas são mais ou menos empurradas para
trás, por causa do peso. A constante troca de peso faz o jogo andar.
O mesmo acontece com a vida: para a frente e para trás, para a
frente e para trás. Para permanecer no jogo temos uma existência
circunscrita a um pequeno conjunto de opções. Considere essas
opções como sendo um “campo de jogo”. As horas de luz a que
você fica exposto controlam os interruptores genéticos reais de
“ligar e desligar”, a atividade enzimática e, o que é mais importante,
o crescimento de dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em
suas entranhas. Essas “meninas” são a chave da vida, da morte e
do manequim que você usa.

NÃO ESTAMOS SOZINHOS

Suas “bactérias pessoais” estão constantemente em guerra com


outras bactérias e vírus, para controlar você. A forma como esse
Armagedon cria e mantém seu sistema imunológico – o mesmo que
controla seu metabolismo e sua fertilidade – é a chave de toda a
luta mortal entre a luz e a saúde. Mas essa batalha só é travada à
noite, quando você dorme. A cada manhã, o resultado da guerra
dita não só sua imunidade, fertilidade e peso, mas também sua
saúde mental.
Nossas vidas, como você vê, não são nada nossas.
Não passamos de simbiontes controlados por uma forma de vida
diferente que tem prioridades próprias. Quando estamos expostos à
luz, captamos essa luz através da pele e carregamos essa energia,
em células chamadas criptocromos, até as bactérias simbióticas
que vivem em nossas entranhas.
Elas adoram luz e açúcar.
Acreditamos que adorem hormônios reprodutivos também. A idéia,
muito difundida, de que os jovens e os velhos possuem sistemas
imunológicos mais frágeis é uma interpretação errônea. A verdade é
que os adultos reprodutivos possuem sistemas imunológicos mais
fortes do que os velhos e as crianças pequenas porque as bactérias
dentro da gente adoram esteróides sexuais no café da manhã, e
porque, quando nos

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reproduzimos, geramos mais “condomínios” para elas morarem.
Esse princípio é o motivo pelo qual as mulheres costumam ter
diarréia durante o período menstrual, quando seus níveis hormonais
estão estáveis e os bichinhos estão abandonando o navio
afundado.

O NÚMERO UM É O MAIS SOLITÁRIO

Em seu artigo “Co-evolutionary Theory os Sleep”, publicado em


1995 no Journal of Mecical Hypothesys, Carsten Korth concorda
conosco, no sentido de que o desenvolvimento do sono, tal como o
conhecemos, foi uma estratégia evolucionista para nos dar
condições de empatar com os micróbios.
A colônia de bactérias dentro de você libera endotoxinas que
controlam sua fisiologia. As endotoxinas liberadas são constituintes
da parede celular – espécie de feromônios, ou suor dos germes.
À medida que as bactérias proliferam ao longo de um dia, as
endotoxinas vão se acumulando. Num determinado nível, seu
sistema imunológico entra em cena para baixá-las, para que você
continue a funcionar. Isso é conhecido como resposta do
hospedeiro. Nós só vamos dormir quando uma substância chamada
endotoxina LPS é liberada, ao longo do dia, por essas bactérias
amigas que vivem dentro de nós. Vamos dormir quando a LPS em
nossa corrente sangüínea atinge uma concentração crítica o
suficiente para provocar uma resposta imunológica. E dormir é
uma resposta imunológica. As células brancas, chamadas
macrófagos e leucócitos, multiplicam-se e matam algumas das
bactérias de seu sistema. É sabido que o sono é induzido por uma
“expressão” imune, ou uma citocina, chamada interleucina-2, que
ocorre em resposta à LPS liberada pelas bactérias de nossas
entranhas.
Esses “vizinhos” se tornaram participantes ativos de toda nossa
existência imunológica, na medida em que tem relação com a órbita
do planeta e todos os seus outros habitantes. Eles são mais
numerosos que nós. E estão em toda parte. Só o nosso intestino
contém um quilo de bactérias. E tem mais em sua boca e em sua
pele. Todas as espécies em evolução tiveram de evoluir em torno
de – ou, mais precisamente, com – as bactérias. Elas eram donas
do terreno muito antes de qualquer um de nós ter chegado aqui.
Não tivemos escolha, a não ser negociar.

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Nossa co-evolução é só um caso de domesticação, de ambas as
partes. Ao longo de milênios de simbiose entre nós e elas, nossos
sistemas imunológicos humanos evoluíram em resposta à
orquestração delas. Elas nos deram um sistema imunológico para
funcionar como um mecanismo autocontrolado e também como
defesa do território delas. Para nós, o sono na verdade é só uma
forma de “diminuir o rebanho”. As colônias de bactérias são
exatamente iguais às criações de gado bem-sucedidas, onde se
atinge a homeostase comendo ou vendendo só o suficiente para
manter o rebanho administrável. Nossa forma de domesticar
bactérias funciona do mesmo jeito. Tanto o rebanho quanto o
rancheiro se beneficiam. A tática evolucionista do sono é só uma
adaptação esperta, que nos permite ter vantagem sobre elas, uma
vez a cada rotação planetária. A desigualdade, em qualquer guerra,
só surge quando um dos lados pára de avançar; assim sendo, sem
sono não há vantagem.
As expressões imunológicas, ou citocinas, que sucedem os altos
níveis de endotoxinas, podem atuar como neurotransmissores e
literalmente derrubar a gente também. Ao torná-lo incosnciente, elas
fecham seus olhos. E olhos fechados significam que aí vem
melatonina – e mais tarde, no meio da noite, prolactina. Ambos os
hormônios intermedeiam a função imunológica através de outras
citocinas, chamadas interleucinas. Em vez de nomes, as
interleucinas possuem números, como IL-1, 2 ou 3, provavelmente
porque existem zilhões delas. Altos níveis de IL-2 são sempre
encontrados nos estados de sono, até mesmo naqueles de
decorrem de doenças. Logo que você adormece, a onda de
melatonina estimula a atividade dos leucócitos, nesse caso voltada
especificamente para responder a patógenos como as bactérias
que vivem dentro de você.
Desnecessário dizer que, seja porque alguém fechou os olhos ou
porque o sol está do outro lado do globo, escuro é escuro; e quanto
mais escuro, melhor para a produção de melatonina. O sono
doentio é mais intenso e mais relacionado ao fenômeno da febre,
através das IL-1 e 6. Você precisa dormir quando está doente, ou
não sobreviverá a um ataque da “outra”. O sono é o momento em
que a melatonina e a prolactina entram em cena para fabricar
leucócitos, células T e células NK (assassinas naturais). Um
intestino “fora de ordem” – ou seja, com pouca quantidade ou com o
tipo errado de bactérias atacando um relógio interno quebrado – é
sinal de um sistema imunológico seriamente danificado.

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Por isso, não dormir de propósito, quando escurece, é o mesmo
que destruir um ecossistema ancestral.
Lembre-se de que a co-evolução significa que devemos dançar,
não pisar nos dedões.
Essas bactérias o mantêm vivo; é claro que por razões próprias,
mas ainda assim é vida. Tudo o que elas querem é um pouco de
açúcar, um pouco de luz e alguns hormônios sexuais, para controlar
seu ambiente interno – que, por sua vez, controla seu ambiente
externo.

MENTES CURIOSAS QUEREM SABER

Todos os seus hormônios – melatonina, prolactina, cortisol, insulina


e hormônios sexuais também – são a interface entre seu sistema
nervoso central (pensamento e reações) e o ambiente. As
perguntas que ficam no ar, no “quadro maior”, entre você, as
bactérias e o ambiente se reduzem a: Está claro? Está escuro?
Está frio? Está quente? Onde está a comida? O que está me
perseguindo? E com quem posso me acasalar?
Todas as informações relacionadas a essas perguntas são
adquiridas através de visão, audição, paladar, toque e olfato. Da
mesma forma que assar biscoitos ou pão evoca uma reação por
parte de suas glândulas salivares, a luz que bate em seus olhos e
em sua pele ativa outras glândulas e diz às bactérias dentro de
você que horas são. Ao marcar as horas em 24, a melatonina
dispara o timer da prolactina, para dizer a seu cérebro que tipo de
alimento ele deve desejar. Os níveis de insulina estão em sinergia
com os hormônios sexuais, como estrogênio e testosterona, para
procriar. Todos esses fragmentos de informação são espremidos
pelo prisma de seu hipotálamo (que marca o tempo), sua pituitária
(que controla o sexo) e suas glândulas adrenais (que medem o
estresse). Esse eixo hipotálamo-pituitária-adrenais, ou HPA, serve
como um timer embutido, não muito diferente daquele que liga sua
cafeteira automaticamente todas as manhãs, a não ser pelo fato de
estar ligando e desligando funções biológicas. Esse “eixo HPA”
funciona de acordo com o ambiente, para sintetizar e disseminar os
“raios” de informação traduzidos, que foram recolhidos dos sinais
provenientes do ambiente. Sem essa constante síntese entre os
sinais do ambiente e sua reação física a eles, não há forma de se
adaptar às flutuações do ambiente e de permanecer vivo.

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Um grande segredo: a vida é baseada num paradoxo. A
estabilidade de funções necessárias para permanecer vivo só é
possível através da mudança constante em resposta ao ambiente.
Os hormônios produzidos por essas glândulas – seus hormônios
HPA – são, por sua vez, chamados a atuar. Esses hormônios
percorrem toda a escala, desde os esteróides sexuais, como
estrogênio e testosterona, ao cortisol, ao hormônio do crescimento
humano e à leptina, presente em sua base de gordura. Esses
hormônios acionam os interruptores que desligam e ligam
instantaneamente as funções vitais. Os hormônios fazem isso ao se
fixarem a “regiões promotoras” nos filamentos de DNA chamados
genes, e acionarem os interruptores que estimulam a ação
genética.
O fato de o gene produzir ou não sua proteína é função de ser ou
não acionado por um hormônio, fator de crescimento, pelo sol ou
por um impulso elétrico. As proteínas produzidas por esses genes,
quando ligados, encaixam-se em receptores em todas as suas
células – que, por sua vez, enviam as mensagens ao núcleo da
própria célula, para acionar outros interruptores, e assim
sucessivamente. Esses comunicados são efêmeros. Sua rede
hormonal toma decisões em meio segundo, para responder às
pressões ambientais. Se algum desses interruptores enguiçar ligado
ou desligado, a natureza o considera doente demais para fazer
parte do projeto.
É quando seus interruptores enguiçam – ligados ou desligados –
que a doença ocorre. Níveis elevados de qualquer hormônio, se
mantidos por muito tempo, são instintivamente inadaptáveis para
manter seu equilíbrio em cima da prancha, sobre aquele tronco. Na
nossa sinfonia química, qualquer nota hormonal sustentada destrói
a harmonia. Dessa forma, estrogênio elevado, sem progesterona
caçadora para diminuí-lo, causa câncer; e níveis elevados e
crônicos de insulina, entra dia e sai dia, levam às doenças
cardíacas, ao diabetes e ao câncer. Como perdeu o ritmo uma vez,
você está fora do esquema e perde o equilíbrio. Aqui começa a
queda – em desgraça.

ESTRANHAS VIBRAÇÕES
Como acima, embaixo. As mesmas cadeias que atiram elétrons,
quarks e neutrinos em dez diferentes dimensões, que fazem os
átomos, que fazem as moléculas, que fazem os hormônios e
recebem vibrações das ondas

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de luz e da gravidade, tocam a música do cosmos para nossos
corpos, através de nossos receptores hormonais.
Somos como diapasões. Vibramos – literalmente – no impacto
com o ambiente.
As vibrações que conhecemos como verdadeira música provocam
vibrações verdadeiras, que atingem os neurônios no cérebro
através do tímpano e provocam emoção. Em seu livro A Medusa e
o Caramujo, Lewis Thomas disse: “A música é o esforço que
fazemos para explicar a nós mesmos como nosso cérebro funciona.
Ouvimos Bach em transe porque isso significa ouvir uma mente
humana.” Em 1976, Leonard Bernstein tentou aplicar o trabalho de
Noam Chomsky com a linguagem ao seu esforço para encontrar
uma estrutura para a resposta humana à música. Chomsky
descobriu que bebês com apenas quatro meses de idade sempre
preferem músicas com intervalos constantes de ritmo; a natureza
também.
Em seu livro How the mind works, Steven Pinker utilize a
terminologia musical de “prolongamento e redução” para definir a
forma como as melodias são dissecadas. Ele define seu processo
como “o fluxo musical captado ao longo de frases, com a tensão
sendo construída e liberadas em passagens cada vez mais longas
ao longo do curso da peça – e culminando com uma sensação de
repouso ao final... A tensão aumenta à medida que a melodia se
afasta das notas musicais estáveis, em direção às menos estáveis,
e é descarregada quando a melodia retorna às notas estáveis”.
Nas palavras do inesquecível Frank Sinatra: “É a vida.”
Para citar nós mesmos; “É o caos.”
Da mesma forma que a música se satisfaz ao conduzir tensão e
resolução ao longo de intervalos instáveis e estáveis, seu
metabolismo banquete-ou-fome tem a mesma necessidade de
intervalo e ritmo,caso contrário você ficará doente. Seu sistema
imunológico e suas bactérias, num período de 24 horas, têm a
mesma necessidade de tensão e resolução. O mesmo acontece
com sua mente. Em seu aparelho de CD no nível molecular, existe
e tem de existir um ritmo que aumenta e diminui, para medir a sua
rotação no planeta – seja ela a batida de seu coração em 4/4, seu
ritmo circadiano ou seu ciclo menstrual. De outra forma você não
poderia lidar com os ataques. E a chave de tudo é descobrir uma
forma de lidar com os ataques.
Sua consciência e vontade são formadas por interações
complexas entre o ambiente, os hormônios e o comportamento,
todas as quais

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acionadas por cronômetros. Estamos dizendo que essas mesmas
interações existem entre você e o ambiente, e que tudo que os
sistemas circulares de resposta fazem é monitorar e registrar a
melodia. A música pode soar como Wagner ou Pachelbel, mas
precisa ser música, deve parar e continuar, ou então não é
adaptável. E o que não é adaptável, de acordo com nossas
definições anteriores, quase sempre acaba em morte, ainda que
isso aconteça por suas próprias mãos. Quando os esquizofrênicos
ouvem vozes, essas vozes, essas vozes invariavelmente dizem;
“Mate-se.” Como precursor da morte, o comportamento não
adaptável quase sempre significa não reprodutivo, e isso é o que
faz soar um alarme na natureza. Quando você não se reproduz,
você não conta, no grande esquema das coisas aqui na Terra. É por
isso que o câncer, o diabetes tipo II e as doenças cardíacas sempre
acompanham a obesidade, que sempre significa envelhecimento
acelerado, em anos planetários. No mundo real, a vida durava
enquanto durava o potencial reprodutivo. Um período de 25 a 30
anos era suficientemente longo para duplicar o DNA e a cultura.
Agora, vivemos demais e comemos demais para nossos marcos
antiquados.

O HOMEM COM DOIS CÉREBROS

Quem responde ao seu sistema endócrino é seu sistema nervoso


central, através de seu cérebro e de suas entranhas. Seus
hormônios informam quaisquer alterações em seu eixo HPA ao
sistema imunológico, que utiliza as citocinas ou neuropeptídeos
para dirigir todo o tráfego relacionado à homeostase. O sistema
imunológico se parece mais com a medula óssea ou o baço, os
nódulos linfáticos agregados ou células do timo. Mesmo o sistema
linfático é apenas uma parte daquilo que chamamos de sistema
imunológico. Esses pontos, na verdade, são apenas fábricas que
produzem os leucócitos, os linfócitos ou as agora infames células T.
Cerca de 80% da força total de seu sistema imunológico defensivo
está em seus instintos ou entranhas. Isso faz sentido, já que a
maior parte das toxinas entra por sua boca.
Embora tenhamos sido levados a acreditar que o sistema
imunológico é o nosso sistema defensivo, nada poderia estar mais
longe da verdade. O sistema imunológico é planetário, não
individual. Nossa interface hormonal com o mundo, representada
pelo eixo HPA, significa que o sistema imunológico é, na realidade,
“o homem por trás da cortina” que

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aciona os botões e dials que fazem com que o cérebro pareça tão
competente. Todos os elementos do sistema imunológico –
entranhas, pele, gordura, linfa, cérebro e glândulas – reconhecem,
comunicam, memorizam, reagem e até planejam sobreviver às
mudanças na Terra que foram inseridas em nossa programação ao
longo de milênios de experiência. Essas capacidades significam
que o sistema imunológico é tão sensível quanto você acredita que
você próprio seja.
Também faz sentido o fato de 80% do sistema imunológico estar
localizado no intestino, porque o intestino era originalmente o nosso
cérebro. Enquanto deslizávamos nas rochas, antes do “cérebro na
cabeça”, os neurotransmissores que conhecemos hoje, como a
dopamina, a serotonina, e a norepinefrina, além de hormônios como
adrenalina e a insulina, rodaram O Projeto a partir de nosso plexo
solar.
A verdadeira chave para o impressionante poder e controle que o
sistema imunológico possui está na compreensão de que ele é
completamente móvel, assim como o indivíduo livre e pensante que
você acredita ser. O sistema imunológico interno é, pelo menos
igual. Seu sistema imunológico controla seu comportamento ao
controlar a atividade dos neurotransmissores. Todas as células
imunes possuem receptores que lêem tanto os neurotransmissores
quanto os hormônios que controlam o fluxo de energia e os
hormônios sexuais. Da mesma forma, as expressões imunológicas
chamadas citocinas são ativas em suas entranhas, em seu
cérebro, em sua base de gordura e gônadas.
É o sistema imunológico, em estreita cooperação com a pressão
ambiental e bioecosfera, que pode marcar o Dia do Juízo, seja por
falta de defesa ou em função de um ataque completo ao seu corpo.
Se você perde o equilíbrio em relação a outras formas de vida no
cosmos, o sistema imunológico vai reagir para compensar isso.
Muitas vezes, as causas reais daquilo que percebemos como
doença são apenas os mecanismos compensatórios. Quando você
sente a garganta arder, em conseqüência dos padecimentos de
uma infecção viral, a dor que você sente não vem, de forma
alguma, do vírus; em vez disso, é a dor das células agonizantes,
sacrificadas (assassinadas) por seu próprio sistema imunológico. O
mesmo ocorre nas dores do corpo, febre e dor de cabeça. Não é o
patógeno, de jeito nenhum, o que o torna doente. É o sistema
imunológico planetário dentro de você que o torna doente, na
tentativa de livrá-lo de tecido infectado pelo vírus no ponto de
origem, que é a sua garganta ou seu nariz – tudo para restabelecer
a ordem em todas as coisas viventes. Se o vírus chegar até seu
estômago, seu sistema imunoló-

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gico vai sacrificar a parede do estômago para acabar com o vírus.
Aí você vai ter dor de estômago e diarréia, para aumentar seu
sofrimento.

SINTA FRIO

O controle da temperatura durante o sono é outra estratégia


antibactérias que desenvolvemos. Embora um organismo muito
quente tenha diversas vantagens adaptativas, em função da
flexibilidade de conquistar novos habitats, o calor constante oferece
condições ideais para o crescimento da maior parte das bactérias.
O melhor é esfriar. É por isso que nossa temperatura cai à noite.
Como você não consegue encontrar comida à noite – na verdade,
o mais provável seria você virar comida – a melatonina age como
um reostato, que baixa a temperatura do corpo durante o sono
NREM (Non-Rapid Eye Movement, ou movimento não acelerado
dos olhos), de modo a desacelerar os processos metabólicos e
enganar a fome. O lucro é que as bactérias também respondem à
temperatura menos balsâmica. O frio que desacelera nosso
metabolismo desacelera também o delas
No início do sono, você sonha um pouco enquanto o corpo esfria
e a melatonina sobe; você sonha de novo durante as horas que
antecedem o raiar do dia, antes de acordar, enquanto o nível de
melatonina cai e o corpo se aquece. Os mamíferos que vivem em
climas frios dormem durante meses a fio, ou hibernam, para
desacelerar os processos metabólicos durante os períodos de
escassez de comida e os dias mais escuros. Ao nos esfriar no
escuro, a melatonina executa um trabalho antioxidante, acerta o
relógio das funções ovariana e testicular, e acelera o sistema
imunológico para o próximo período acordado, quando vamos
precisar manter os micróbios noviços afastados, por trás das
trincheiras.
O sono é o maior esquema de defesa imunológica que já surgiu,
pois não só nos defende contra outros organismos em nosso
ambiente interno como também nos defende contra a fome, através
do sistema insulina-melatonina. A insulina só é produzida quando o
corpo percebe açúcar ou estresse. Como o estresse é anunciado
pelo cortisol, e o cortisol fica elevado enquanto você se banha em
luz, o ritmo circadiano, ou os ciclos de dia e noite, controla sua
produção de insulina, junto com os carboidratos. Os ciclos de luz e
escuridão controlam a insulina para

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que você possa armazenar gordura para a hibernação ou a
dormência. Dias longos significam o fim do verão e do alimento
abundante. Os ciclos curtos de sono dos dias longos se traduzem,
hormonalmente, numa necessidade maior de carboidratos, para
armazenar gordura, e desencadeiam uma reação em cascata dos
outros hormônios para fazê-lo dormir. A compulsão por carboidratos
é um precursor do sono ao qual ainda respondemos todas as noites
em que ficamos acordados até tarde. As tendências à hibernação
nos fazem tomar sorvete ou beber uma taça de vinho após um
longo dia. Lembre-se, o lanchinho no meio da noite nunca é um ovo
quente.
Aquele último alimento em que você pensa, que você quer comer
antes de desistir da luz, é sempre qualquer tipo de açúcar que caia
em suas mãos.
A produção de insulina é controlada pelos alimentos que você
ingere, mas o alimento que você quer é controlado pelo seu
sistema imunológico, em resposta à variação sazonal de luz
percebida por ele. Quando seu corpo e cérebro precisam dormir,
para manter a imunidade e a capacidade reprodutiva, a melatonina
e a prolactina precisam fluir. Temos receptores de melatonina até
nos ovários e testículos, que “lêem” os ciclos de luz e escuridão.
A melatonina é um potente antioxidante que, junto com a
prolactina, controla a imunidade enquanto você dorme. Sem o sono,
você se torna indefeso e auto-imune. Seu sistema imunológico
também, como qualquer outro mecanismo de vida, é dotado de uma
dualidade sagrada. As células Th1 e Th2 ficam em pé naquela
prancha, sobre aquele tronco, como as duas metades de uma
função imunológica. Um lado controla a defesa e o outro controla o
ataque, porque aquilo que chamamos de “seu sistema imunológico”
não pertence realmente a você, per se. A verdadeira entidade que
funciona como seu sistema imunológico é uma força sensível,
assustadora, inteligente, que lembra a proverbial figura da Morte, e
que conta seus pontos. Esse policial/porteiro espiritual realmente
existe para equiparar os pontos de tudo que é vivo. Na verdade, é o
sistema imunológico da biosfera, não o seu.
Você só conseguirá ser parte de todo o esquema se jogar de
acordo com as regras.
Isso quer dizer: levante junto com o sol, durma junto com a lua,
coma apenas a sua parte, frutifique-se e multiplique-se. É isso aí. É
para isso que você foi feito, nem mais, nem menos. Na verdade, a
evolução não reservou nada mais do que isso para você.

ARQUIVOS SEXUAIS

A característica fundamental da sobrevivência é a reprodução. A


vida continua. Por isso, depois de corações batendo e pulmões
respirando, toda a energia é dirigida para a reprodução. A vida, sem
tudo aquilo que a gente faz para matar o tempo, resume-se a
dormir, comer e fazer sexo. Essas atividades têm de ser mantidas a
qualquer custo, ou a natureza o identifica como indesejável. Dormir,
e depois comer, são pré-requisitos para a reprodução, nessa
ordem.
Os primatas humanos sempre foram reprodutores sazonais, até
que o fogo chegou para ficar. É desnecessário dizer que a
reprodução sazonal é controlada por um relógio totalmente
dependente dos ciclos de luz e escuridão. As funções reprodutoras
dependem de relógios e mecanismos metabólicos. Não se pode
reproduzir sem gordura suficiente para sobreviver. É por isso que as
atletas femininas magrinhas costumam parar de ovular e de ter
períodos menstruais. Sem gordura não há futuro... para você ou
suas crias. Então, por que desperdiçar os ovos? É assim que a
natureza vê o assunto. A fertilidade e o sono estão tão intimamente
ligados quanto a alimentação e o sono, porque, no final, é tudo uma
coisa só.
No mundo real, a função perfeita – seja ela a reprodução, uma
boa noite de sono ou ter o peso certo – existe numa fronteira
estreita, que é dinâmica em relação a todas as outras formas de
vida. Não há realmente margem para erro. O “dar e receber” entre
as formas de vida em nossa bola feita de rocha cria nosso
bioecossistema, nosso mundo. A força vital do bioecossistema é
toda energia do sol que circula naquilo que a ciência conhece como
a cadeia alimentar. Cadeias alimentares simples se entrelaçam, em
função de suas interações entre si, para encadear todas as
substâncias e espécies em “sistemas circulares de resposta”
menores, dentro dos quais cada espécie afeta outra. Os peixes
grandes comem os peixes pequenos, que comem peixes ainda
menores, que comem plantas e retiram nutrientes das rochas, e
assim sucessivamente. Este é um sistema circular de resposta
positivo. Muitos, porém, são “negativos”, ou sistemas circulares
de resposta inseguros.
Todos os sistemas circulares de resposta funcionam como a
transmissão automática de seu carro. Se você aumenta a pressão
sobre o acelerador, à medida que o carro anda mais rápido, a
transmissão vai acionar um mecanismo para compensar. Se você
desce uma ladeira, diminuindo a marcha no caminho, a transmissão
naturalmente aciona

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outro mecanismo para que você desacelere. A transmissão funciona
perfeitamente a menos que você mantenha a pressão no acelerador
enquanto mantém o pé no freio.
Tenha em mente essa imagem.
Não somente você está indo a lugar algum como está destruindo
o seu carro. Sistemas circulares de resposta são mecanismos
delicados que lêem um sinal de um sistema no corpo e enviam de
volta para outro. Sistemas circulares de resposta negativa lêem um
sinal e controlam a reação nesse sistema como a transmissão de
um carro ladeira abaixo. Em geral, o sinal enviado em um sistema
circular de resposta negativo será pare, ou pelo menos diminua o
ritmo. Esses sistemas transmitem informações dentro de você e de
todas as outras espécies, e depois dão retorno ao ecossistema
mais amplo. Todos os chatos do Greenpeace estão certos. O
cosmos, o planeta, os pequenos animais e as pessoas estão todos
conectados biologicamente em um grande sistema circular de
resposta, igualzinho ao Mundo das Margaridas.
Se você estivesse no parque de sua cidade de tange, esses
sistemas teriam uma chance de fazer seu trabalho acuradamente.
Estar sentado diante de uma mesa de trabalho ou em uma sala de
reuniões, sob luz fluorescente, usando Calvin Klein muito depois do
cair da noite bagunça totalmente seus sistemas circulares de
resposta. De acordo com um recente estudo da revista Nature, até
sexo demais ou de menos muda o tamanho dos neurônios. Se isso
é verdade, sem dúvida podemos concluir que a quantidade de sono
afeta o apetite e a fertilidade, o que afeta o metabolismo. Todas
essas ações, juntas, são parte integrante do sistema imunológico.

AUTOCONTROLE

Lembre-se de que a inteligência adaptativa continua a evoluir, ao


reagir aos estímulos do ambiente, fornecidos pelos sistemas
circulares de resposta movidos pela informação. Esses sistemas
circulares de resposta são, na verdade, apenas fluxo de informação
que voltam de vários “postos avançados” aos seus pontos de
origem, de modo a controlar o processo.
Façamos uma viagem a um lugar imaginário: o mundo natural,
onde você não vive mais. Você está andando de quatro com um
amigo, quando vê uma enorme fruta-pão. O fato de você ter visto
uma enorme fruta-pão significa que as árvores estão dando frutos,
não florescendo, e

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que estamos no final da primavera ou no início do verão. O cheiro
faz suas glândulas salivarem, e você se lembra de ter comido uma
antes. E, como foi uma boa experiência, você toma a decisão de
comer outra. O açúcar atinge a veia porta entre seu fígado e o
estômago, e o pâncreas entra em cena, com uma grande injeção de
insulina. Justo quando o açúcar da fruta está cruzando a barreira
entre o sangue e o cérebro, para mandá-lo à Terra da Alegria,
aquela superinjeção de insulina, ao mesmo tempo, envia o excesso
de açúcar para a armazenagem rápida.
A armazenagem rápida em seu fígado e músculos não tem
condições de receber muita quantidade, porque você comeu aquele
outro tipo de fruta com larvas dentro e aquele arbusto com espinhos
e frutos, há cerca de uma hora. Então, em vez disso, a insulina
converte parte dessa fruta-pão em colesterol, e o resto é mandado
para sua coxa interna para armazenagem de gordura, porque, se
você come fruta-pão e bagos ou qualquer outra fruta, seu sistema
imunológico sabe que o inverno deve estar chegando – e, como
todo sistema imunológico também sabe, isso significa que em
pouco tempo não vai haver mais fruta-pão.
Dessa forma, a insulina e o açúcar armazenado sob a forma de
gordura chegam à sua perna (armazenagem de longo prazo). Você
come muito, e já ganhou uns dez quilos de gordura; por isso, a
leptina de suas células de gordura envia um sinal ao seu cérebro.
Essa leptina aciona um botão em seu cérebro, chamado
neuropeptídeo Y, que controla o apetite por carboidratos. Esse
apetite então se desliga.
Você para de comer, porque já tem energia suficiente, na
armazenagem de curto e de longo prazo, para chegar até o dia
seguinte. Esse é um sistema circular de resposta negativo – ou
seja, um programa autocontrolado que funciona dia a dia.
Existem também sistemas circulares de resposta de autoperpe-
tuação. Esses tendem a funcionar anualmente, ou a cada estação.
Por exemplo, se estamos no final do verão e os dias são longos, e
se você já tem mais de dez quilos de gordura e mais um bom
estoque na armazenagem de curto prazo, a história é muito
diferente. Trata-se de um conto de inverno. Em vez de um sistema
circular de resposta negativo, o positivo vai entrar em ação. Uma
cena adaptativa hormonal e comportamental vai ocorrer, porque
foram apertados os botões ambientais diferentes. Os dias em
setembro estão encurtando e, portanto, em vez de contar apenas
com o “sinal da luz”, a natureza inventou um sistema de bônus para
um dia literalmente chuvoso. O sistema circular de resposta positivo
em seus recém-adquiridos dez quilos significa que você pode

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continuar a engordar, impelido por sua base de gordura em
expansão, até que todos os carboidratos tenham realmente
acabado.
Isso vai enganar a resposta à luz e lhe dar um mês ou dois para
ficar realmente gordo. Só então a comida terá acabado
definitivamente até a próxima primavera, quando o planeta
despertará de novo. Assim sendo, o final do verão é a única época,
na natureza, em que você poderia ter bons estoques e dez quilos a
mais, proporcionados pela maior quantidade de luz e pelas noites
curtas.
A prolactina empurrada para o período do dia pelas noites curtas
suprimiu a leptina e deixou seu apetite por carboidratos (o
neuropeptídeo Y) “ligado”. Isso lhe deu dez quilos para manter a
bola rolando. Depois, a leptina de sua base de gordura assumiu o
controle para criar resistência à leptina.
Esse mecanismo de desativação da leptina serve ao propósito de
evitar que você fique querendo alguma coisa (açúcar) que acabou
há algum tempo e só estará disponível no próximo verão. Seus
receptores de leptina no botão do neuropeptídeo Y ficam inativos
devido à sobrecarga. Sem receptores para decodificar a leptina, é
como se não tivesse nenhuma, e seu apetite por carboidratos fica
permanentemente ligado, até que todos os carboidratos acabem.
Este mecanismo existe porque, na natureza, você nunca
engordaria, a menos que precisasse, porque todo o alimento iria
acabar.
O problema, no mundo em que vivemos, é que o alimento
(açúcar) nunca vai acabar.
Em nosso mundo antinatural, de verão e açúcar infindáveis, esse
“botão de excesso” de leptina fica com defeito. Em nosso mundo,
tudo o que você precisa fazer é ficar dez quilos acima do peso, para
que a leptina que flui de sua base de gordura em expansão faça
com que os receptores de leptina em seu cérebro deixem de
funcionar, criando a resistência à leptina e fazendo com que os
gordos engordem mais, porque as pessoas gordas estão sempre
com fome. Por quê? Porque o seu sistema circular de resposta
negativo está quebrado: seus receptores de leptina se exauriram, e
não há mais controle de sua compulsão por açúcar.

AGENDA OCULTA

A insulina e os hormônios contra-reguladores cortisol, hormônio do


crescimento humano e epinefrina lidam com o uso final dos
alimentos

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que você ingere. E também controlam o sono junto com a
melatonina e a prolactina. Para os primatas humanos, o alimento
existe num total de três possibilidades: proteína, gordura e
carboidrato.
Os caminhos de proteína, gordura e carboidratos, dentro do
corpo, são todos distintos. E três neurotransmissores muito
diferentes controlam o seu apetite por cada uma das três
substâncias. O controle da ingestão de carboidratos pelo
neurotransmissor NPY (neuropeptídeo Y) em nada se parece com
os controles de seu apetite por proteínas ou por gordura. O
consumo de carboidratos é parte de um metabolismo planetário de
energia, que é o mesmo para todos os organismos que têm
insulina. Os carboidratos são energia que pode ser armazenada, e
eles só podem ser armazenados através da insulina. É por isso que
você não consegue comer gordura e ficar gordo; mas você come
açúcar e fica gordo.
Nenhuma outra substância que você come provoca uma resposta
insulínica. Esses diferentes caminhos do açúcar e da gordura na
dieta são, e sempre foram, ditados pela interação dos hormônios,
em resposta ao ambiente e a seus níveis de estresse.
A insulina está de um lado, na prancha sobre o tronco, e a
epinefrina, o cortisol, o hormônio do crescimento humano e o
glucagon estão do outro lado. O equilíbrio entre os dois lados da
prancha é alcançado quando uma molécula de hormônio se dirige
para um receptor – em geral que lhe seja próprio, porém nem
sempre. Lembre-se de que a sobrevivência reside na comunicação
cruzada. Os hormônios e seus receptores são moléculas isoladas
de pesos diferentes.
“Ligando” é outro termo que designa qualquer molécula que adere
a um receptor – não apenas hormônios, mas também
neuropeptídeos do cérebro e dos intestinos e citocinas do sistema
imunológico. Lembre-se da metáfora do cadeado e da chave. As
moléculas do receptor são grandes e as moléculas do ligando são
pequenas. Ligare vem do latim e significa “aquilo que liga”. (Ligare é
também origem da palavra “religião”. Não se trata de coincidência.)
Os receptores flutuam à superfície, vindos de dentro das células,
como folhas de vitórias-régias com raízes bem compridas. Quando
as folhas das vitórias-régias recebem um chamado para “ir à
superfície” para ter uma interface, as raízes se esticam, para se
conectarem ao núcleo da célula. Um mecanismo chamado
quemotaxe guia a molécula parceira em perspectiva até o encontro
com o receptor, na folha das vitórias-régias. A quemotaxe funciona
igual ao raio trator, do filme Jornada nas Estrelas. Quando a

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molécula de hormônio, neurotransmissor ou expressão imunológica
(citocina) cai na vitória-régia, as “pétalas” respondem.
O receptor muda de forma na presença de um ligando. A molécula
do receptor, na verdade, abraça a chave química do ligando.
Quando isso acontece, o receptor começa a sacudir e tremer, e a
dança – ou mensagem – é transmitida enquanto o receptor e o
ligando vibram e murmuram – literalmente, não figurativamente. Em
Molecules of Emotion, Candace Pert diz que “uma descrição mais
dinâmica desse processo poderia defini-lo como duas vozes – a do
ligando e a do receptor – atingindo a mesma nota”.
Temos aí a música de novo.
Hormônios, neurotransmissores e citocinas são ligandos cuja
mensagem é traduzida pelo efeito de uma molécula cutucando um
receptor, até que a perturbação cria uma mudança que acomoda
tudo. A partir do momento em que o receptor domina a situação e o
“crescendo” acaba, a mensagem da molécula do ligando viaja
através da raiz da vitória-régia, bem abaixo da superfície, para
acionar interruptores no filamento de DNA dentro do núcleo.
Quando você deixa as luzes acesas, você come açúcar; seus
hormônios respondem de forma apropriada aos carboidratos que
você consome, o que finalmente afeta o DNA de todas as células de
seu corpo. É assim que uma espécie consegue se adaptar ao
ambiente e ao alimento disponível. Se a disponibilidade de um dos
três grupos alimentares muda, o animal vai acabar mudando
também. Portanto, se você tentar viver com apenas um dos grupos
alimentares e excluir os outros dois, acontecimentos ruins vão
suceder. Em essência, aqueles de nós que ainda não são capazes
de lidar com a mudança nos ciclos de luz e/ou no estoque de
alimentos vão morrer.
A exposição à luz artificial foi mínima durante a maior parte da
existência da humanidade; uma brasa ardente aqui, uma vela ali.
Dormíamos mais e não tínhamos acesso ao poder calórico do
açúcar e da farinha refinados. Agora, nossa existência de 24 horas
bem acesas, que substituiu a noite pelo dia, diz aos nossos
controles internos que o verão não acaba nunca, e essa mensagem
exige um banquete contínuo.
Então, banqueteamos-nos.
Porque o açúcar não acaba nunca.

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QUATRO
No gelo:
A evolução, a biofísica e o escuro

Sou parte do sol, como minha Eva é parte de mim. Que sou parte
da terra, meus pés o sabem perfeitamente, e meu sangue é parte
do mar.
– D. H. Lawrence

O açúcar é a luz do sol capturada. A energia revigorante do sol é


absorvida pela vida vegetal do planeta. Quando comemos açúcar,
as moléculas dos carboidratos se transformam em energia ATP
(trifosfato de adenosina), nos centros de força de nossas células.
Qualquer porção da energia solar que não seja imediatamente
utilizada é reorganizada para ser armazenada, sob a forma de
gordura corporal, para garantir alimento no dia em que as plantas
estiverem adormecidas.
Sobreviver é ter açúcar em quantidade suficiente para se
armazenar um pouco para quando não houver nenhum disponível.
Sobreviver nunca foi comer gordura, sempre foi fabricar gordura.
Sobrevivência, teu nome é açúcar.
Esta é a única verdade que existe, aqui e agora nos Estados
Unidos, e desde o tempo mais longínquo que se possa imaginar.
Sempre foi assim, desde a nebulosa história pré-humana. Pelo
menos desde que se originou um verme sem cérebro e sem
coração, chamado C. elegans, a sobrevivência sempre teve a ver
com o açúcar.
O nome científico do açúcar é carboidrato. Os carboidratos são o
único alimento que podemos armazenar, ao contrário do que lhe
informaram. Muitos carboidratos que comemos hoje “vieram com” o
planeta – maçãs, ervilhas, feijões, cenouras, cana-de-açúcar e
beterrabas, em sua forma original. Nós humanos, sempre ansiosos
para melhorar a natureza, inventamos muitos outros: pão,
sacarose, vinho, massas e bolos de arroz. E não importa muito se
se trata de um carboidrato

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complexo ou simples refinado; tudo não passa de açúcar, e para
qualquer organismo dotado da mágica molécula de insulina, isso
significa sobrevivência.
Os vermes lhe diriam isso, se possuíssem mente.
Ainda é objeto de debate descobrir o que, exatamente, seria um
carboidrato para o C. elegans, mas sabemos que ele o utilizava
para sobreviver, pois possuía um gene capaz de produzir insulina
quase exatamente igual ao nosso. O que significa que o tataravô de
nossas origens comuns, há centenas de milhões de anos, era
movido pelo mesmo combustível que nós, porque era o que o
planeta tinha para oferecer. A insulina é a razão pela qual o nosso
sangue pode ser usado como combustível por nossas células. Sem
a insulina, nossos tecidos passam fome, e os mecanismos celulares
e mitocondriais se desfazem em pedaços. Se a vida é lux, ficar sem
insulina é a escuridão.

O TEMPO CERTO É TUDO

Para a maioria dos americanos, insulina é um remédio. Sem dúvida,


todos os diabéticos sabem que não podemos viver sem ela. As
pessoas que viram o filme O reverso da fortuna sabem que o
excesso de insulina envenenou Sunny von Bülow. Mas, para a
maioria dos americanos, a insulina é algo sem maior importância,
ou assim eles acham.
A insulina é uma molécula relativamente pequena, produzida nas
células beta de seu pâncreas. Tem a dupla tarefa de dar às células
acesso ao açúcar que está no sangue, e de girar os botões para
armazenar o restante, numa forma “mais leve”, como gordura
corporal. A insulina é o hormônio da armazenagem. Além de
proporcionar aos músculos, cérebro e fígado o acesso ao açúcar, a
principal tarefa da insulina é lidar com o excesso. Possuímos este
mecanismo receptor de insulina para administrar o excesso de
açúcar ingerido porque sempre se esperou que ingeríssemos
açúcar em excesso toda vez que pudéssemos. Comer açúcar
demais, em termos de sobrevivência, é instinto. Na natureza, que
para nós mal existe ainda, os animais sempre comem carboidratos
em excesso toda vez que os encontram, para o caso de não
encontrarem mais no dia seguinte.
Todo o açúcar que você come é muito pesado, porque os
carbo-“hidratos” são hidratados. Os carboidratos são combustível e
água juntos. Sem a água embutida, as moléculas de carbono
pesam bem

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menos. Essas moléculas de duplo carbono liberadas depois que a
água se dissipa, através das lágrimas, do suor ou da urina, são
gordura corporal. Você pode concentrar muito maior quantidade da
energia dos carboidratos na forma de gordura leve. A quantidade de
gordura que você precisa armazenar, como mamífero, depende do
tempo que você planeja ficar sem comida e de quanto tempo você
precisa para se reproduzir. Isso nos traz de volta a questão da
sobrevivência.
O prolactina é o hormônio da sobrevivência. A maioria de nós
pensa que a prolactina só produz leite humano. Ela realmente faz
isso, mas seu papel mais importante é fazer com que possamos
sobreviver durante a nossa vida, pois ela controla o nosso apetite.
Como recém-nascidos, o primeiro gosto de sobrevivência que
sentimos é doce. Precisamos gerar gordura a partir do açúcar
desde o primeiro dia. O leite de todos os mamíferos tem um teor
astronômico de açúcar. O leite do seio é um fluido corporal rico em
carboidratos, incrementado com um pouco de proteína, para criar
as moléculas necessárias à função imunológica, e uma quantidade
enorme de cadeias de ácido graxo molecular, para produzir
hormônios que vão interagir com o novo ambiente da criança. É a
prolactina da mamãe, que não apenas cria nossa dependência do
sabor doce, tipo “a primeira dose é de graça”, mas cria também
nossa ligação com o sistema imunológico do planeta, ao alimentar
essa dependência. No mesmo nível de importância, a prolactina da
mamãe vai à estratosfera quando ela produz esse leite, porque
prolactina altíssima é sinônimo de um estado de ser auto-imune. A
auto-imunidade significa apenas que o sistema imunológico da
mamãe está trabalhando além da conta, despejando funções
imunológicas no leite do peito, para programar o sistema
imunológico do bebê com toda a memória coletiva que o sistema
imunológico da mamãe, assim como o de sua mãe e o da mãe
desta, vem transmitindo sobre seus ambientes, muito antes que o
bebê sequer tivesse um nome.
Enquanto a insulina nos torna capaz de desviar os golpes
quando lutamos com a natureza, ao armazenar energia do
sol/açúcar para usar mais tarde, a prolactina é quem realmente
controla nosso apetite pelo resto de nossas vidas, ao suprimir a
leptina – que, obviamente, é o botão que aciona o NPY, responsável
por nosso gosto pelos alimentos que podem ser armazenados.
Mesmo com a capacidade de armazenar carboidratos, a
sobrevivência – antes dos hortifruti e dos freezers – dependia
inteiramente da época certa de cada alimento, particularmente
durante a escassez provocada pelas mudanças do clima. Nosso
metabolismo banquete-ou-fome nos dava a dianteira.

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Nossos genes internos sensíveis à luz, movidos pelos céus, na
verdade “cronometram” o tempo necessário para produzir a
melatonina, de modo a dar à prolactina a “previsão do tempo”,
para que essa possa programar nosso apetite em sincronia com o
ciclo de rotação. A conseqüente duração da produção de prolactina,
a partir do relatório da melatonina, vai determinar se será
necessário ou não produzir prolactina no dia seguinte.
No inverno, o “relógio melatonina” faz o “timer da prolactina”
trabalhar um pouco mais à noite, o que, por sua vez, significa que
não secretamos prolactina durante o dia. Isso ocorre porque se a
prolactina for produzida durante o dia, ela não apenas suprimirá a
ação da leptina e deixará à solta o seu desejo por açúcar (numa
época em que não há açúcar disponível), mas também, no glossário
da natureza, significará que homens e mulheres estariam na
“lactação”. Graças, portanto, ao envelhecimento e aos relógios
enguiçados, todos nós, a essa altura, somos muito auto-imunes.
(Este é o efeito colateral de estar fora de ritmo que gera grandes
lucros para os fabricantes de anti-histamínicos).
A produção de leptina a partir de nossa base de gordura é o
“mediador graduado” que informa o NPY quais são nossos níveis de
gordura, e se ele deve ou não ativar nossa compulsão por açúcar. A
premissa é que, se você possui gordura suficiente, a leptina que ela
produz vai desativar o seu apetite por açúcar. Lembre-se dos caras
da fruta-pão. Quando a prolactina do dia suprime de sua base de
gordura, o NPY interpreta isso como “falta de gordura” – e seu
apetite por açúcar permanece ativado durante todo o dia e parte da
noite. Se você não dormir, e a luz (ou sua ausência), que acertaria
seu relógio de melatonina ao longo de todos esses ciclos, nunca
se apagar, você simplesmente continuará a comer açúcar e a
produzir gordura até explodir, porque seu relógio está andando
depressa demais.
Sua mola-mestra está quebrada.
É pessoal, é mais ou menos onde nós estamos agora.
Esse metabolismo banque-ou-fome, embutido no sistema
insulina/carboidrato, facilitava nossa sobrevivência ao armazenar os
carboidratos como gordura. Essa conexão programada com o
ambiente tornou possível a adaptação a um clima completamente
diferente, quando migramos para o norte, além da África. À medida
que seguíamos para lugares de climas cada vez mais frios, com
enormes variações em relação à abundância sazonal, a capacidade
que o nosso

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corpo tinha de marcar os ciclos de luz e escuridão assumia uma
importância ainda maior.
O fato de possuir uma conexão solar que controlava o momento
de direcionar nosso apetite para carboidratos e o nosso despertar
para a reprodução não foi apenas o que nos manteve vivos a cada
dia; na verdade, foi o que nos garantiu a própria vida humana.
Nossa sobrevivência, como espécie, dependia de comer o
suficiente para que pudéssemos nos reproduzir, e de fazer com que
a reprodução coincidisse com a primavera, quando haveria alimento
suficiente para manter vivos a mãe e a prole.
A subida aparição de um sol que nunca se põe está matando
aqueles de nós que evoluem mais lentamente, nos menos de
oitenta anos desde que foi criado – período que não é, pelos
padrões de hoje, sequer a duração completa de uma existência
humana. A ironia é que nós conseguimos usar o fogo durante pelo
menos 45 mil existências humanas somadas.
O trabalho arqueológico de campo desenterrou pontas de lança
de madeira de 300 mil anos atrás que pareciam ter sido
endurecidas pelo fogo; no entanto, levou muito tempo até que o
domesticássemos. Em algum momento dos 230 mil anos seguintes,
nós começamos a “viver” dentro de habitações, não apenas a
buscar abrigo para dormir ou se proteger da inclemência do tempo;
mas não há evidências de que o fogo tenha sido usado para
cozinhar até há uns 70 mil anos atrás. É mais ou menos o mesmo
período em que a arte das cavernas da era Paleolítica começa a
apresentar sinais de desenhos feitos a carvão.
Até aqui – depois do inverno gelado, escuro e sonolento de dias
curtos e de noites longas – o sol sempre voltava, as plantas
cresciam e os bebês nasciam. Os dias espelhavam os anos: a cada
revolução do planeta, da luz para a escuridão, quando o sol
desaparecia, tudo adormecia – até despertar de novo, assim como
o verão sempre se transformava em inverno e depois voltava
novamente. Era um sistema perfeito, até o homem dominar a arte
de transportar o fogo. Já que podíamos levar e finalmente recriar as
conseqüências de relâmpagos e trovões, tudo começou a mudar.
Com a energia portátil, podíamos estender o dia para nosso uso
internamente – à noite. Nenhum outro ser vivente podia fazer
aquilo. Nós, os filhos de Prometeu, distanciamo-nos assim das
outras formas de vida.
Foi essa luz após cair da noite, em bases regulares, o que fez os
ciclos de melatonina encurtarem o suficiente para deixar a
testosterona e o estrogênio virem à tona, que ótimo, o ano inteiro.
Essa mudança

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aparentemente simples apagou os sinais sazonais normais que
indicavam a época da procriação. Nossas estimativa é que paramos
de “hibernar”, ou dormir durante dias ou semanas a cada vez,
também durante a escassez de comida nos climas frios, porque
foram encontrados restos fossilizados de moluscos, crustáceos e
pequenos gamos em cavernas da Idade do Gelo.
Agora, então, vivíamos dentro de habitações, longe do gelo,
relativamente aquecidos e, sem dúvida, incrivelmente entediados.
Esse período produzir a primeira fase da arte das cavernas, talvez
também a arte de contar histórias e a religião. Talvez rezássemos
para ter algo algo que fazer além de desenhos na parede. Em vez
de dormir ou cochilar para reduzir o metabolismo e as necessidades
físicas, e também aumentar as funções imunológicas, ficávamos o
dia inteiro à-toa, sem ter o que fazer, a não ser comer e ficar
deitado. Igualzinho a hoje. Como ocorre com todos os sistemas
circulares de resposta positivos, menos torpor queria dizer mais
tempo acordado – e mais tempo acordado era igual a maior uso do
fogo, e assim por diante. Esse crescimento auto-alimentado do uso
do fogo significava, é claro, ainda mais luz para bagunçar a
capacidade da melatonina de transmitir informações relativas à
rotação e à órbita. Veja você como a evolução simplesmente fica
fora de controle.
Durante todos os períodos antes do atual – não apenas no
período humano ou mesmo no hominídeo/primata –,
desenvolvemos estratégias bem-sucedidas para lidar com as forças
da natureza. De uma vivência marcada por ritmos sazonais
associados à existência de alimento para permitir a reprodução, nós
viemos – assim como todos os outros animais da terra – para um
lugar novo, sozinhos, sem o resto da família.
Uma fez fora do Éden, não havia mais volta.
A luz nos transformaria mais do que sequer ousaríamos imaginar.
A luz, em si, era muito mais sedutora do que qualquer serpente com
um carboidrato. A luz nos deu mais tempo para aprender do que
qualquer outra espécie poderia ter e, em última análise nos deu,
também, a capacidade de nos reproduzirmos mais do que todas as
outras espécies. É claro que teve de haver algumas compensações.
As pessoas começaram a morrer de novas maneiras. Fumaça em
espaços fechados e o aumento dos hormônios sexuais acabaram
logo de cara com muitos de nós.

ESPÉCIE II

Mas aqueles que permaneceram vivos após o milagre do fogo


móvel dormiram menos, imaginaram mais e começaram a falar
durante o período escuro e frio, porque não era mais tão escuro ou
tão frio dentro de casa, graças ao fogo. Não sabíamos que o fogo,
através da sua luz, podia matar sem deixar marcas, sem mais do
que uma bolha. Não tínhamos idéia, então, de que o fato de sermos
banhados por luz artificial durante aquelas horas da noite em que
sempre havia reinado a mais completa escuridão estava nos
transformando por dentro.
Moléculas como a melatonina, um hormônio que sabemos que é
produzido durante o período escuro, informam sobre o ângulo e a
órbita do planeta. Quando as horas de luz pararam de variar
gritantemente com as estações, graças à luz produzida pelo fogo,
nossas “molécula-sentinela” ficaram paradas numa informação de
primavera. No início, foi só o suficiente para nos tornar um pouco
mais inteligentes também. Os sonhos, que costumavam acontecer
só à noite, passaram a acontecer também de dia, graças à
transferência da produção de prolactina para a manhã. Começamos
a imaginar. A crescente necessidade de comunicar e simbolizar
esses sonhos diurnos nos deu a língua.
Depois da conquista do fogo, foi a reprodução o que nos
diferenciou de todas as outras formas de vida ao aumentar
artificialmente a nossa quantidade. Os bebês não esperavam mais
a primavera para nascer. Éramos férteis o ano inteiro, porque o
verão era eterno em nossos ovários e em nossas mentes. Embora
muitos bebês tenham morrido de fome no início, havia tantos que,
de alguma maneira, era mais fácil criá-los.
A memória, também, graças ao aumento da dopamina provocado
pela luz, começou a povoar nossos cérebros em expansão com
“atalhos de recompensa” para nos dar vantagem intelectual. Esse
fenômeno, junto com toda a carne que comíamos no inverno, tornou
a expansão do cérebro uma realidade física também. Imagine a
bagunça homeostática que todos aqueles artistas sensíveis, que
ficavam acordados a noite inteira e o inverno inteiro, que se
multiplicavam sem controle, que tinham cérebros grandes e mentes
pequenas, que estavam eternamente famintos e eram loucos por
sexo, devem ter criado para o resto das criaturas que, na Terra,
ainda viviam em sincronia umas com as outras e com o cosmos.

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GELO, GELO, BABY

Durante as últimas centenas de milhares de anos, mais ou menos,


nossa Família Humana caçou para obter proteínas sob a forma de
peixes, animais, amêndoas e insetos, e colheu frutas, raízes
comestíveis, cascas e folhagens da estação, durante o período de
dormência que chamamos de inverno. Durante grande parte deste
período, as condições climáticas foram esfriando lentamente o
planeta, e muitos de seus habitantes, até chegar a um
congelamento profundo que durou muitos milênios e condenou
grandes quantidades de vegetação à extinção permanente. Se
ainda não tivéssemos o fogo, teríamos perecido também. O mais
recente desses períodos glaciais cíclicos que duravam 100 mil anos
terminou há cerda de 10 mil anos. Essa última idade do gelo
enterrou grande parte da Europa Continental e da América do
Norte, onde chegou ao sul, além de Nova York, e também a
Chicago, com uma camada de gelo sólido que, em alguns lugares,
chegou a ter 4,8 km de profundidade. Nós, humanos, não vivemos
nenhuma das idades do gelo anteriores, porque não havíamos
migrado para o norte até essa última. As grandes rochas redondas
que se destacam no Central Park de Nova York vêm de uma vasta
planície, no alto do continente norte-americano, chamada Labrador
Oon Gala. O termo nativo que designa as rochas – na língua
esquimó dos povos que vivem onde elas se originam – é nuno tacs,
ou “pedras solitárias”. Sempre que um glaciar derrete, essas rochas
ficam.
O gelo virá de novo. Vai esmagar cidades e sugar os mares. Mas
nós vamos sobreviver, assim como os nossos ancestrais
sobreviveram. O gelo sempre voltará, até o final da vida da Terra no
universo, porque sua chegada é marcada pelo tempo de nossa
viagem em torno do sol, e pelo ângulo em que viajamos. Nossa
posição em relação ao sol, ou a inclinação em nosso eixo, varia a
cada 41 mil anos mais ou menos, e nosso “sacolejo” (pense num
pião girando) provoca uma perturbação importante a cada 20 mil
anos. Quando essas duas variações acontecem juntas,
desencadeiam um grande evento – uma mudança no formato da
órbita terrestre, que passa de circular para elíptica. Isso que
acontece a cada 100 mil anos, como um relógio, para mergulhar a
Terra e nós homens em outra Idade do Gelo. O efeito combinado de
três ciclos orbitais altera o ângulo e a distância em que a luz do sol
atinge a Terra nas latitudes mais ao norte. O norte é a chave desse
processo. Quanto menos sol no norte, no pólo, mais gelo se
acumula, mais reflexiva fica a

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superfície do gelo, mais sol se reflete para longe da Terra – o que
significa ainda menos sol, mais gelo, e assim por diante...
Esses séculos de Idade do Gelo mudaram mudaram nosso
metabolismo de forma permanente. Durante verões muito curtos e
não terrivelmente quentes, conseguimos carboidratos que mal
foram suficientes para sobreviver. Aqueles que eram mais sensíveis
à luz e tinham maior potencial de armazenagem sobreviveram, e
nós somos os seus descendentes. Agora, essas características são
uma sentença de morte.
Se o homem paleolítico não tivesse ingerido uma dieta em que
predominavam a proteína e a gordura na melhor porção de cada
dia, isso significaria que ele teria de ficar sem alimento durante
milhares de anos a cada vez. Lamento, vegans, mas isso seria
altamente improvável.
Esses milhares de anos marcados por uma violenta ingestão de
proteínas e gorduras provocaram um aumento direto no peso do
cérebro, o que alimentou a expansão neural evolutiva da qual já
falamos. Durante toda a trajetória da humanidade, o homem viveu e
evoluiu com uma dieta composta de 80% a 90% de proteína e de
teor de gordura nela presente, durante pelo menos sete ou oito
meses no ano, e durante o resto do tempo de vegetação colhida
somente na estação. A total ausência de pedras de amolar, pilões e
pás define com clareza o tipo de nutrição da Idade do Gelo. Eles
nunca tiveram alimentos em quantidade suficiente para se darem ao
trabalho de inventar a moagem ou a trituração.
Os esqueletos remanescentes também são testemunho do tipo de
dieta da época. Em 1988, antropólogos da Emory University
compararam os estilos de vida atual e paleolítico no trabalho “The
Paleolithic Prescription”: “Ao estudarmos os esqueletos
remanescentes o último período paleolítico e analisarmos os
atributos de recentes grupos de caçadores-coletores, é possível
desenvolver um perfil anatômico – e até certo ponto bioquímico –
detalhado. Deduzimos a estatura do primeiro ser humano a partir de
um único osso de um dos membros, com uma fórmula que
relaciona a altura total ao tamanho do osso de um membro. Há 30
mil anos, os machos do leste mediterrâneo tinham uma altura média
estimada de 1,77 m, mas os fósseis Leakey-Walker apontam mais
na direção de uma média em torno de 1,88 m”.
Esses povos atingiam alturas maiores que as, ou comparáveis às,
das populações “bem-nutridas” de hoje.
Os antropólogos prosseguem: “Esses esqueletos remanescentes
também refletem força e musculatura; o tamanho das juntas e os
locais

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onde os músculos se encaixam nos ossos indicam a massa
muscular dessas pessoas e a quantidade de força que podiam
exercer. O CrogMagnon médio era sem dúvida tão forte quanto os
atletas femininos e masculinos superiores de hoje em dia. Eles
trabalhavam muito menos horas do que os posteriores agricultores,
mas eram muito mais robustos.”
Mesmo há 50 mil anos, não é possível distinguir o hominídeo
Homo sapiens sapiens de nós, em termos biológicos. Se estivesse
usando chapéu e óculos escuros, não conseguiríamos identificá-lo
numa fila. Em termos culturais e sociais, as mesmas características
que o mantiveram vivo são as que nos mantêm vivos hoje. Criamos
utensílios de pedra, deixamos uma estrutura cultural, aprendemos
técnicas e praticamos soluções, tudo dentro das noções aceitas de
família e estrutura de parentesco. Essas qualidades de vida ainda
são reconhecidas hoje como importantes ao bem-estar mental
funcional. Os antropólogos e especialistas em medicina forense,
que recriam as faces verdadeiras a partir de partes fossilizadas de
mandíbulas e crânios, dizem que as faces do Cro-Magnon eram
completamente modernas.
Embora as pessoas que viveram no período entre 40 mil e 10 mil
anos atrás não tenham alterado o mundo natural à sua volta de
modo a continuar a existir por um milhão de gerações, talvez algum
dia alguma mulher, cansada de montar e desmontar o
acampamento, tenha dito ao marido: “Meu bem, e se a gente
tentasse fazer essa coisa crescer bem pertinho da nossa porta?”
Nesse dia, o mundo mudou para sempre.
Foi só há 10 mil anos realmente curtos, não importa se um milênio
a mais ou a menos, que nós nos tornamos capazes de controlar o
estoque interativo de alimentos fornecidos pela terra que
asseguravam nossa sobrevivência. Até este último século, desde
aquele momento distante, dez milênios atrás – ou seja, durante
nossa existência pré-histórica inteira – só podíamos comer os
carboidratos que pudéssemos roubar e tomar da cornucópia do
planeta. Isso significa que comemos os mesmos tipos de
carboidratos “naturais” durnate os últimos 9.900 anos, nas mesmas
quantidades.
Agora não é mais assim.
Nenhuma outra espécie, em tempo algum, teve acesso ilimitado à
energia de carboidratos sem se preocupar com esforço, estação,
competição e desastres naturais. A agricultura alterou para sempre
o equilíbrio da natureza.
Se antes tínhamos problemas, a partir daí passamos a corre sério
perigo.

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O advento da agricultura, há 10 mil anos, como uma alternativa
viável em relação a caçar e a colher os frutos da natureza, concluiu
efetivamente o período paleolítico e praticamente eliminou o estilo
de vida de caça e colheita no mundo todo. A Revolução Neolítica
trouxe o fim de nossa coexistência com tudo o mais, nos termos da
Terra. A partir daí, todas as interações aconteceriam nos nossos
termos. “Revolução” implica uma derrocada intencional de uma
instituição em favor de outra. Na realidade, a súbita abundância que
se tornou possível quando o estoque de alimentos passou a ser
controlado pelo consumidor também proporcionou calorias em
número suficiente para sustentar os padrões de reprodução em
transformação.
O HOMEM SE FIXA À TERRA

Depois que aprendemos a “cultivar essa coisa perto da parta de


casa”, paramos de nos mudar tanto. Em vez de seguir o gado para
comer o que precisávamos, começamos a armazenar quantidades
cada vez maiores de grãos e frutas selvagens, além da carne.
Essas previsões eram pesadas demais para transportar em
viagens, mas com elas podíamos alimentar todas as novas
boquinhas; então, pelo bem das crianças, começamos a nos fixar.
Nos velhos tempos, um caçador podia sustentar a si mesmo, a uma
mulher grávida, talvez duas crianças e até mesmo um parente
idoso. As mulheres grávidas e os mais velhos, junto com uma ou
duas crianças, ajudavam a aumentar as provisões recolhendo
insetos e nozes para suplementar as proteínas necessárias.
A dupla caçador-colhedor, homem-mulher, representava uma
divisão do trabalho economicamente “igual”. Quando nos fixamos
para cultivar a terra, no entanto, a dinâmica passou a pesar mais na
direção do controle econômico pelo macho. Foi assim que nasceu a
desigualdade sexual.
Um fazendeiro podia sustentar não apenas mais filhos, em termos
nutricionais; às vezes podia até sustentar mais mulheres e seus
filhos. Um “dono” de terras, na verdade, podia sustentar tudo isso e
mais os homens necessários para defender a terra, além das
mulheres que esses homens possuíam. Em algum ponto da
jornada, o grande fazendeiro dono de terras se transformou num
sultão, dono de 16 mil virgens, porque podia alimentá-las. A
agricultura não se traduziu apenas pelo fato de o número de
fazendeiros superar o de caçadores-colhedores; ela

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se tornou também o meio para qualquer homem alcançar um
sucesso inimaginável em termos reprodutivos.
A Bíblia nos diz isso.
Começamos também a trabalhar juntos em grupos maiores. Essa
domesticação se estendeu além de nossa pequena esfera humana.
Ao dominarmos as plantas, finalmente dominávamos os animais.
Tudo o que cultivávamos em volta de nossos assentamentos atraía
os animais até nossa porta – e tínhamos duas espécies pelo preço
de uma.
Pela primeira vez, desde que aprendemos a mentir uns para os
outros, comíamos regularmente, ao enganarmos outras espécies
com oferta de comida. Todo o excesso de luz e de aprendizagem
estava desenvolvendo em nós um novo tipo de memória e de
instinto, do qual os outros animais não podiam participar. Esse
pacto com o diabo, que chamamos de agricultura, alimentou uma
enorme explosão populacional. Nós, macacos humanos, não
estávamos mais apenas perturbando uns aos outros; éramos uma
força a ser computada. Havia seres humanos em número suficiente
para “reformar” a Terra de acordo com nossas necessidades e
escravizar a maior parte das outras formas de vida. Isso não se
parecia, de jeito nenhum, com nossa humilde origem de caçadores-
colhedores.

DESDE a.C.

Como os glaciares começavam a se derreter lentamente e o globo


estava mais quente e molhado, e porque a noção de tempo de
nossos ancestrais era impecável, a civilização deu um salto naquele
período. No início, quando ficávamos acordados por mais tempo,
enganávamos os órgãos reprodutores, fazendo com que
trabalhassem em “turnos duplos”, o que nos mantinha reprodutivos
o ano todo. A supressão da melatonina e a crescente exposição ao
estrogênio e à testosterona já haviam modificado nossa
capacidade de nos reproduzirmos. Agora a insulina seria testada.
Que qualidade de açúcar poderíamos suportar?
A agricultura havia transformado o equilíbrio nutricional para 90%
de carboidratos e 10% de proteínas e gordura – quase uma dieta de
baixo teor de gordura. Seguiram-se séculos de morte e doença. Os
humanos, ao longo do curso dos últimos 7.500 anos, perderam uma
média de 1,5 cm em altura. Éramos seres bem pequenos, de forma
geral, até recentemente.

Pág 95
É por isso que, nos museus, você vê aquelas armaduras
pequeninas e aqueles sapatos vitorianos do tamanho do pé de
Cinderela – e na rua, do lado de fora do museu, encontra nisseis
americanos muito altos, que abandonaram sua dieta
predominantemente baseada em arroz, desde que vieram viver nos
Estados Unidos. Só no último século é que a nossa dieta provocou
um retorno a um potencial fenotípico de dormência recuperado.
Traduzindo: com mais proteína em nossa dieta, quase voltamos ao
nosso tamanho original.
As conseqüências, em termos de doenças, da dieta gerada pela
agricultura só foram mitigadas pelo esforço físico insano necessário
para manter as plantações. A agricultura é um trabalho pesado –
pesado o suficiente para queimar mais de 90% de uma dieta de
carboidratos, se você fizer todo o trabalho pessoalmente – você e
talvez seu touro. O fato é que o dispêndio de calorias necessário
para os fazendeiros puxarem os próprios arados e trabalharem dez
horas por dia explica porque sobrevivemos tão bem, mesmo
comendo a quantidade de pão que comíamos.
A agricultura também acrescentou outra mentalidade à nossa
visão da nutrição: a economia acima da necessidade. A principal
razão para o crescente percentual de carboidratos na dieta foi que
matar os animais simplesmente para comer nos parecia uma visão
curta. Dividir a colheita com eles significava que haveria menos
para nós durante o inverno; por outro lado, se os mantivéssemos
vivos, eles poderiam nos fornecer leite para fazer queijo – e ainda
continuar a produzir filhotes de sua espécie. Começava a se
desenvolver uma espécie de especulação. Não estávamos
enganando apenas duas outras espécies; estávamos enganando a
Mãe Natureza.
A agricultura, assim como o fogo, não só nos isolou de todos os
outros seres viventos; também nos fez ficar muito doentes, mais
uma vez. Logo que os bebês começaram a nascer o ano todo, a
taxa de mortalidade cresceu, mas naquela época isso mal era
notado, em função do grande aumento da população em geral. O
valor da vida foi ficando menor por causa da onipresença do
homem
Mais um Mundo das Margaridas déjà vu.

O ENVELHECIMENTO DA MÁQUINA

Nosso próximo passo gigantesco para sair do éden (este foi o


terceiro) foi criar máquinas simples para aumentar nossa força física
e nossa

Pág 96
capacidade. Isso impulsionou nossa capacidade de especulação
um pouco mais para cima, e nos levou a conquistar o trovão, depois
as plantas e depois os animais. Tudo começou com o pilão e a pá.
Se partíssemos os grãos em pedaços menores, ele durava mais.
Um pão feito com duas mancheias de grãos podia alimentar mais
de duas pessoas; com o aumento do número de pessoas, muito,
muito mais pessoas passaram a querer muito, muito mais pão.
Esse crescente e contínuo consumo de carboidratos, por pessoas
que estavam programadas para comê-los apenas durante alguns
meses do ano, matou tanta gente naquela época como mata agora.
A verdadeira dizimação começou – e continua para nós, 10 mil anos
depois – quando o homem passou a refinar os carboidratos. Os
grãos moídos e, mais tarde, o suco doce das beterrabas e da cana-
de-açúcar, depois de seco e transformado em pó, eram registrados
pelo nosso sistema insulina/açúcar no sangue como pássaros no
fundo do oceano. Não tínhamos qualquer referência para aquilo;
não fazia sentido. Não havia um lugar, em nossos sistemas, onde
tanta energia, chegando de uma vez só, pudesse caber. Mais e
mais pessoas, com isso, passaram a usar seus casacos de gordura
ao longo da primavera e do verão também.

BRILHANTES IDÉIAS

Embora tenham diminuído a nossa marcha, todas as bocas a mais


para alimentar também passaram a demandar, de seus pais,
soluções criativas. Um homem que adorava a eletricidade uma vez
disse: “A necessidade é a mãe da invenção”. Para os seres
humanos, a necessidade perturbou o equilíbrio. Até hoje, não fomos
superados por qualquer outra espécie na Terra, quando o assunto é
a produção de alimentos e a quantidade que podemos armazenar.
Nós, humanos primatas, nos distinguimos das outras espécies que
habitam o planeta não porque caminhamos eretos, mas porque
ficamos acordados por mais tempo para aprender – e porque
aquecemos o nosso ambiente quando estava frio demais para
sobreviver. Nós aumentamos o abismo entre “eles e nós” com a
agricultura – ou, mais precisamente, ao capturá-los e confiná-los.
Não dá mais para voltar.

PARTE III
A VERDADE
ESTÁ AQUI

Pág 99
CINCO
Negue tudo:
O sono controla o apetite e, portanto,
a obesidade, o diabetes e a hipertensão

“Tenho apenas um parco conhecimento funcional do cérebro


humano, mas ele é suficiente para me tornar orgulhoso por ser
americano. Seu cérebro possui um trilhão de neurônios, e cada
neurônio possui dez mil pequenos dendritos. O sistema de
intercomunicação inspira admiração. É como uma galáxia que você
pode segurar com as mãos, só que mais complexa, mais
misteriosa.”
“E por que isso o torna orgulhoso por ser americano?”
“O cérebro da criança se desenvolve em resposta aos estímulos.
Em termos de estímulos, nós ainda somos os líderes mundiais...”
- Don DeLillo,
White Noise

Os Estados Unidos são a terra das pessoas melhores, mais


brilhantes e mais doentes do mundo. Somos os líderes em
produtividade, distúrbios alimentares, pontuação em testes de
aptidão acadêmica, diabetes, tecnologia de ponta, doenças
cardíacas e câncer. O que todas essas realizações têm em comum?
Sem dúvida não é a dieta rica em gorduras.
Em nossa cultura, as pessoas se vangloriam da pouca gordura
que comem e da pouca quantidade de sono de que necessitam.
Essas duas conquistas são uma revelação direta de nossa ambição
e força de vontade. Nosso lema nacional é: “Se cochilar, você
perde.” A expressão “hora extra” se tornou arcaica. Para aplicar tal
medida ao tempo, teríamos de reconhecer um ponto de parada no
dia de trabalho. O conceito de “abolir o tempo” é que é o verdadeiro
achado hoje.

Pág 100
Veja quantos termos nós inventamos para descrever o estresse
do sucesso – desde as inofensivas “personalidades tipo A” ou
“quem corre atrás” até termos mais disparatados como “um caso de
exaustão” e “fanático pelo sucesso”. Os europeus não chamam uns
aos outros de nomes assim. Nos Estados Unidos, trabalhamos pelo
menos dez horas por dia, tentamos fazer exercício durante algumas
horas por semana – e sofremos. Dean Ornish diz que o amor vai
nos manter juntos e o Dr. Andrew Weil até sugere um “baseado” ou
dois por razões médicas. Nessa cultura, quando somos jovens,
tomamos drogas para relaxar; quando ficamos velhos, tomamos
drogas para sobreviver.
Será que sempre foi assim? Só para os baby-boomers.
Por volta de 1940, os Estados Unidos pós-guerra descreviam
nosso estilo de vida com expressões do tipo “aturar os vizinhos”,
“ascender na escala corporativa” – e o nosso sucesso com frases
do tipo “é o bom e velho trabalho duro”, como se fôssemos as
únicas pessoas do mundo que tentavam realizar alguma coisa. Para
conquistar a liderança mundial, os americanos, em termos
metafóricos, resolveram “virar uma noite” que já dura oitenta anos.
Vivemos em cidades que nunca dormem, num país que se agita
24 horas por dia.
Ocorre que deter a liderança em obesidade, diabetes, doenças
cardíacas e câncer foi só um bônus. É claro que o golfe teve de ser
sacrificado, assim como aqueles piqueniques dominicais com a
família. Nós, americanos, só temos tempo para um hobby realmente
sério na década de 1990: preocuparmo-nos com a morte. Agora,
que manter nossos falhos corações funcionando toma todo e
qualquer tempinho que teríamos depois do trabalho para nossas
esposas ou filhos, uma coisa tão sem importância como dormir é
verdadeiramente inimaginável.

SAIR DO ÉDEN

Os americanos acabaram desistindo de dormir. No máximo, conse-


guimos umas cinco ou seis horas direto por noite. E todos nós acre-
ditamos que estamos muito bem assim. Usamos despertadores,
café e, na década de 1980, quando queríamos ser os donos do
Universo, coca. Nesse caso, a coisa real, não abebida. Talvez este-
jamos cansados, mas não estamos demonstrando... ou será que
estamos?

Pág 101
De acordo com estudos sobre incompetência relacionada ao
trabalho, parece que estamos começando a desmoronar. A
Comissão Nacional de Pesquisa sobre Distúrbios do Sono estimou
que o custo direto anual para os empregadores, como já
mencionamos antes, é da ordem de US$ 15,9 bilhões – e olhe que
eles estão falando apenas de dinheiro. Setenta milhões de
americanos relatam problemas para dormir, mas o que isso
significa?
Em 1982, o Journal of the American Medical Association publicou
os resultados do “Projeto Sono”, conduzido pelo Centro da
Associação de Distúrbios do Sono. O caso relatava o estudo de 5
mil pacientes ao longo de dois anos. O distúrbio mais comum era a
hipersonolência, ou sono excessivo. Quarenta e dois por cento das
pessoas, em 1982, estavam cansadas demais para se manterem
acordadas. Vinte e seis por cento delas não conseguiam dormir ou
continuar dormindo.
O estudo concluiu que a hipersonolência é o resultado da apnéria
do sono. A apnéia do sono é um fenômeno em que a pessoa
esquece de respirar. O fato de esquecer de respirar significa que o
cérebro está cansado demais. Somente aqueles que podem perder
sono sem engordar, ficar doentes ou esquecer de respirar
continuarão a evoluir após o surto de velocidade evolutiva induzida
pela luz artificial. Os descendentes destes serão capazes de
sobreviver sob forte luz durante 24 horas e comer as embalagens
plásticas.
A maioria de nós com certeza não estará entre essas pessoas.
Felizmente para o resto de nós, no entanto, a luz ficou limitada
durante milênios. Embora pudéssemos queimar qualquer coisa que
pegasse fogo, a qualidade da luz produzida variava. E o estoque de
material combustível disponível também controlava as horas e a
qualidade da luz depois do escurecer. A melhor luz vinha da cera de
abelhas e da gordura animal chamada sebo. E nenhuma dessas
duas substâncias era barata.
Mesmo milhares de anos depois que construímos cidades e
países, o mundo, à noite, era escuro como breu. As casas isoladas
possuíam luz fraca após o pôr-do-sol, mas o mundo lá fora ainda
era um vácuo repleto de barulhos assustadores. Viajar era perigoso.
As pessoas nunca se aventuravam a sair depois que escurecia,se
pudessem evitar. E quando o faziam, pagavam alguém para
escoltá-las com uma tocha. Esse velho “esquema de proteção” se
transformou naquilo que conhecemos hoje como a polícia. A nossa
polícia trabalha à noite sob a luz do dia virtualmente recriada; no
entanto, os policiais ainda carregam porretes de madeira.

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Há quanto tempo somos donos da noite?
Evoluímos com um único tipo de iluminação durante 70.600 anos.
Depois, há apenas quatrocentos anos, o tempo de duração da luz
em um ponto fixo mudou substancialmente. Paris se tornou a
primeira cidade do planeta a erguer velas de sebo nas ruas à noite.
A palavra curfew, na língua inglesa, que significa “toque de
recolher”, na verdade é composta por duas palavras francesas,
couvre feu, que significa “cobre-fogo” – ou seja, luzes apagadas,
volte para casa. Até a idéia francesa pegar, o cidadão mediano de
todas as grandes cidades contratava um cicerone com uma tocha
para acompanhá-lo depois de escurecer. Com exceção de Paris, a
iluminação doméstica, em 1600, era exatamente igual ao que havia
sido durante milhares de anos.
Paris manteve o título de Cidade-Luz durante quase duzentos
anos, até que os lampiões de fás foram instalados em algumas
outras cidades em meados de 1800. Era uma iluminação cara e que
provocava sujeita. Ainda que, em termos de qualidade, a luz a gás
fosse sem dúvida mais intensa e mais fácil de usar do que as velas
individuais, não era nada em comparação à luz artificial que
conhecemos hoje. Mesmo assim, os lampiões de fás da era
vitoriana tinham claridade suficiente para iluminar mentes científicas
como as de Faraday e Volta, que nos trouxeram às portas da
extinção.

DORMIR, SONHAR E MORRER

O que acontece quando não dormimos o suficiente? Não apenas


cansaço, mas obesidade, diabetes Tipo II, depressão, doenças
cardíacas, infertilidade e câncer acenam no horizonte, se antes
disso você não desmaiar de sono ao volante. Insuficiência mental e
intelectual são apenas alguns dentre os vários sintomas da fadiga;
mas todo mundo sabe que os sinais são realmente físicos. Quando
você está exageradamente cansado, o corpo inteiro dói, os olhos
queimam – e algumas pessoas até têm dor de estômago. Esses
sintomas, que se parecem com os da gripe, sustentariam a teoria
do crescimento da endotoxina LPS bacteriana. À medida que as
endotoxinas das bactérias que vivem dentro de você aumentam por
causa da falta de sono, elas fazem você ficar doente. Mas isso é
apenas o que nós percebemos, cognitivamente, como pistas
sintomáticas. Sentir-se péssimo quando se dorme pouco é um
sintoma de acontecimentos muito maiores, que ameaçam a vida e
que estão se revelando dentro de você.

Pág 103
Você está perdendo o passo.
Todas as coisas vivas precisam ser parto do projeto. Na tela
grande, moléculas chamadas quemóforos estão presentes em
todos os animais, plantas e bactérias. Pense nelas como
transdutoras de energia. Quando atingidas pela luz, as células dos
quemóforos captam a energia e a transmitem. Os fótons da luz
provocam mudanças químicas e elétricas no núcleo de todas as
células. Isso é como um raio em meio ao céu azul. Essa
eletrificação por energia radiante ocorre em todos os lugares dentro
de você. Cada uma de suas células é um relógio que marca
exatamente uma revolução em torno do sol. Toda a maquinaria
molecular que você precisa para acompanhar o ritmo dos cosmos
está dentro de cada célula individual. Cada célula de seu corpo é
um relógio.
Você possui um gene, expresso em cada célula do corpo,
chamado dCLOC – e um outro, chamado dBMAL1. As proteínas
que esses dois genes codificam são fabricadas na célula e se
unem. As proteínas do dCLOCK e do dBMAL1, quando se juntam
agregam-se e acionam os botões de dois outros “genes-relógio”,
chamados “per” e “tim”. Per e tim, uma vez unidos e ativados,
começam a produzir proteínas próprias que, de forma muito
genérica, acumulam-se dentro da célula, apenas flutuando no
citoplasma em volta do núcleo, onde elas se juntam à medida que
as horas do dia passam. Esse é o “tic” do relógio.
Mas é o “tac” que conta. O tac acontece quando as proteínas de
per e tim atingem uma massa crítica que flutua no citoplasma e
entram novamente no núcleo, onde bloqueiam a função dos velhos
conhecidos dClOCK e dBMAL1. E o relógio pára – para ser
acertado novamente. Ao fazer dCLOCK e dBMAL1 pararem, este
sistema circular de resposta negativo autolimita a produção de per e
tim. Num relógio mecânico, a oscilação do pêndulo de um lado para
o outro envolve uma parada muito rápida, antes de o movimento
continuar para o outro lado. Na célula, esse soluço evanescente
dura apenas o tempo necessário para as proteínas de per e tim se
dissiparem no núcleo. Depois começa tudo de novo. Como um
relógio d’água chinês, que pinga de uma tigela para outra; logo que
uma delas fica cheia, esta tomba e derrama o conteúdo na tigela
seguinte.
É claro que, nas células, leva exatamente um dia – ou uma volta
em torno do sol – para que o sistema circular de resposta se
complete.
Esse metrônomo celular se tornou evidente quando os cientistas
encontraram células fotorreceptivas nas pernas da mosca
conhecida como drosófila. Para testar a mesma localização nos
seres humanos, os

Pág 104
pesquisadores da Universidade de Cornell colocaram um cabo de
fibra ótica atrás do joelho de um participante do estudo. Iluminaram
então uma área de pele menor que o tamanho de uma moeda de 25
centavos. O resto do corpo do participante ficou na mais completa
escuridão. No entanto, essa pequena quantidade de luz afetou a
temperatura do participante e sua produção de melatonina. Imagine
o que o banho de sol, a televisão ligada a noite toda, viagens
aéreas entrando e saindo de aeroportos amplamente iluminados o
tempo inteiro e ficar diante da tela do computador fazem para
confundir os sistemas que sustentam a vida da gente.
Como você não é feito de outra coisa senão relógios em cima de
relógios em cima de outros relógios, se o tempo de duração da luz
muda, é apenas uma questão de tempo até que os interruptores
ancestrais que acionam os milhões de genes que controlam seus
estados físicos e mentais sejam ligados. E você inteiro, em cada
célula do seu corpo, vai fazer tic-tac. Por isso, se você apagar as
luzes às onze e meia da noite e fechar seus olhos para as luzes da
rua que brilham em sua janela, para o brilho verde do videocassete
ou, ironicamente, para seu despertador, não estará enganando uma
de suas células sequer.

A HIPÓTESE DA HIBERNAÇÃO

A infindável luz artificial que brilha constantemente em torno de


você durante todas as horas do dia e metade da noite, que são
registradas em seu relógio de sol interno como se fossem os longos
dias de verão que antecedem o inverno, é o motivo pelo qual é tão
difícil se manter magro ou sadio. Como mamífero, você é
programado para comer açúcar, fazer filhos, armazenar gordura e
depois dormir bastante, e então fazer tudo de novo.
As doenças que sabemos ter relação com a obesidade – pressão
alta, doenças cardíacas, diabetes, câncer e depressão – na verdade
são, todas elas, o resultado de um vestígio de instinto de
hibernação despertado pelo excesso de luz. Os estudos sobre
mamíferos concordam em que, uma vez iniciado o ciclo de
preparação para a hibernação, a hiperlipidemia (colesterol elevado),
a pressão alta e a resistência à insulina (que leva à obesidade) são
estados normais que se resolvem com o prolongado sono que
segue o curso da natureza. Em outras palavras, todas as criaturas
de Deus engordam e têm colesterol e pressão arterial elevados – e

Pág 105
depois vão dormir, ou pelo menos ficam um bom tempo sem comer
açúcar. É por isso que só os nossos animais de estimação têm
problemas cardíacos, ficam gordos demais para caminhar e têm
câncer.
Eles vivem com a gente.
No estado hormonal provocado por longas horas de exposição à
luz, a necessidade de consumir carboidratos ou beber álcool para
formar uma base de gordura para o inverno que vai chegar se torna
metabólica e psicologicamente impossível de evitar. Para poder
controlar nosso apetite por carboidratos e perder peso, baixar os
níveis de insulina e ficar sadios e férteis, precisamos dormir mais. É
por isso que os americanos estão comendo até morrer e se
matando uns aos outros.
Eles estão cansados. Mortalmente cansados.

O TERCEIRO OLHO

Neste capítulo, começamos a dissecar os efeitos fisiológicos e


mentais da falta de sono sobre a população americana e sobre
todas as pessoas, no mundo inteiro, que se aproximam do nível
tecnológico em que nos encontramos. Podemos dizer por que o
câncer, as doenças cardíacas e a depressão, que caminham de
mãos dadas com o diabetes, têm, todos eles, relação com a
obesidade. Sustentamos que a obesidade, tal como a conhecemos
em nosso tempo, é o prelúdio para a hibernação. A obesidade,
como fisiologia pré-hibernação, fatalmente evolui para o diabetes
Tipo II, porque o resultado final da resistência prolongada à insulina
é a inocuidade da insulina. Sem a ação da insulina não há como
dispersar o açúcar que entra no sangue em conseqüência do
consumo de carboidratos.
Num estado como este, você está tão diabético como se não
possuísse pâncreas.
Este mecanismo do estágio final da resistência à insulina é o meio
que a natureza tem para interromper o ganho de peso e evitar que
você congele no inverno que nunca chega. Nos diabéticos Tipo I,
cujos pâncreas produzem pouca ou nenhuma insulina em função de
deficiência das células beta, produtoras de insulina, é impossível
ganhar peso. A ação da insulina sobre os receptores de insulina é a
única forma de colocar a energia dos carboidratos dentro das
células de gordura.
Um homem de negócios de Michigan, que recebeu um
diagnóstico de diabetes Tipo I em 1907, descreveu a doença como
“um buraco dentro dele”. Ele vivia num estado indolor, em que, não
importava o quanto

Pág 106
comesse, perdia peso, como se a comida “vazasse” através de um
buraco aberto em seu estômago. O relato sobre esse homem diz:
“Ele se tornou uma sombra de si mesmo, em estatura, em força e
na cor, e morreu em 1917.” Isso não é surpresa.
O tratamento mais avançado que havia em 1907 para o diabetes
Tipo I era a dieta de baixa caloria. A premissa que sustentava essa
abordagem era a de que, quanto menos calorias o diabético
ingerisse, mais calorias seriam utilizadas pelo corpo. Não funcionou.
Pacientes já bastante magros em função da doença foram postos
em dietas de quinhentas a mil calorias por dia; com isso, os
diabéticos Tipo I morriam de fome, de qualquer jeito. Além de fazer
mal, o tratamento insultava o doente.
O diabetes, dos Tipos I e II, foi a 28ª causa mais importante de
morte no ano de 1900, a segunda em 1920 e a sétima em 1940. em
1999, era a terceira causa mais comum de morte nos Estados
Unidos. Pode-se argumentar que um aumento crescente da
longevidade em todo o país, devido às cirurgias e ao uso de
antibióticos, resultou numa população que de repente estaria
vivendo o suficiente para desenvolver a doença, ou que a boa vida,
e conseqüentemente os bons hábitos alimentares da Europa e dos
Estados Unidos, tornaram-se mais doces de repente.
O que vemos é que o apetite por açúcar, nos Estados Unidos e na
Europa, aumentou exatamente ao mesmo tempo e exatamente no
mesmo padrão que a disseminação da eletricidade e das luzes
artificiais. Por volta de 1925, todas as principais cidades norte-
americanas tinham eletricidade, e a incidência de diabetes Tipo II
estava perto de quadruplicar.
As estatísticas do parágrafo anterior demonstram uma expansão
assustadoramente rápida do diabetes tipo II – que pulou do 28º
lugar entre as causas de morte em 1900 para o 12º, em 1925. De
1920 a 1940, o aumento foi igualmente impressionante. O único
incidente que pôs um freio nessa “epidemia” foi o racionamento de
açúcar durante a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e na
Europa. Mesmo assim, no último século, o diabetes tipo II cresceu
demais – e, de uma doença relativamente obscura, passou a ser
um dos três maiores assassinos do mundo ocidental. Quando
examinamos os números que dividem o diabetes Tipo I e o diabetes
Tipo II em duas doenças distintas, o contraste fica ainda mais
evidente: os diabéticos Tipo I, dependentes de insulina,
representam apenas cerca de 10% de todos os diabéticos. Isso
significa que os outros 90% caem na categoria que gostamos de
chamar de “vítimas da luz”. Mas isso é agora; vamos ver como era
antes.

Pág 107

A SOBREVIVÊNCIA DOS MAIS GORDOS

De que forma o estágio final da resistência à insulina interrompe o


ganho de peso e evita que você congele? Bem, sabemos que,
quando era frio e escuro demais para sustentar as plantas e os
animais dos quais nós humanos vivíamos, a disponibilidade de
alimento era imprevisível e só deixava uma alternativa para a
evolução: a obesidade.
A obesidade era a chave da sobrevivência, a adaptação
fundamental para todos os mamíferos. Para poder acumular
gordura suficiente para o inverno, era preciso que você se tornasse
resistente à insulina. Os receptores de insulina, que permitem que a
glicose, ou açúcar no sangue, penetre suas células musculares
depois que seu fígado estiver cheio, precisam fechar a fábrica, pra
que todo o açúcar que você come seja enviado às células de
gordura para ser armazenado, ou então se transforme em
colesterol. O objetivo imediato da insulina é fazer essa distribuição.
O objetivo da insulina, na evolução, é a insulação.
A necessidade de engordar realmente tem a função de proteger
as pessoas de morrerem de fome e de congelar. A insulina
armazena o excesso de energia como gordura interna, primeiro em
torno de seus órgãos vitais, antes mesmo que você veja aquelas
ondulações se formarem sob a pele. O objetivo é insular seu
coração, pulmões e sistema digestivo, para protegê-los do frio –
assim como o feto, na barriga de uma mulher grávida, é protegido
por uma camada de energia gordurosa.
No cenário de hibernação, a produção de colesterol mais alta que
o normal, a partir de um consumo de carboidratos, a partir de um
consumo de carboidratos maior que o normal, também servia para
proteger do congelamento a parede externa de todas as suas
células. No entanto, ser diabético de verdade é a verdadeira
estratégia evolutiva. O açúcar no sangue fora de controle, que
acaba ocorrendo no diabetes Tipo II, é o resultado final dessa
preparação para a hibernação. Se você fosse diabético, não
congelaria até a morte, em virtude do efeito natural
anticongelamento da glicose. Uma concentração anormalmente alta
de açúcar no sangue evitaria que o interior de suas células
congelasse, por causa do efeito dos carboidratos sobre as
moléculas de água.
E tudo que é anticongelante, até mesmo o produto que você usa
no carro, tem gosto doce.

Pág 108

OS SAPOS ANDAM QUIETOS DEMAIS

Fora da costa da Antártica, os peixes brincam ao pé dos glaciares


que se estendem pelos mares. Se pudéssemos tirar a temperatura
do sangue deles, constataríamos que está abaixo do ponto de
congelamento – e no entanto o sangue não está congelado. Na
outra extremidade do globo, na ponta de água de um lago gelado
no Canadá, os sapos da floresta estão absolutamente parados, sem
o mínimo sinal de respiração enfumaçada no ar congelado.
Eles estão completamente congelados.
Se pegássemos um desses sapinhos com a mão enluvada e o
jogássemos contra uma árvore, ele quebraria? Felizmente ninguém
ainda tentou fazê-lo, mas o sapo faria pelo menos um sonoro
barulhão. Acredite se quiser, assim que o gelo do lago derreter, os
sapos também vão descongelar. O sangue em suas veias vão se
aquecer tão logo seus corações começarem a bater de novo e, no
espaço de um dia, seu sangue vai estar quente o suficiente para
que possam acasalar-se.
Os peixes antárticos e os sapos, junto com insetos e seres
humanos resistentes ao frio, gozam da proteção do anticongelante
presente no sangue, sob a forma de glicose. Nos peixes, essa
substância tem outro nome – glicoproteína – mas ela funciona do
mesmo jeito em todos nós. À medida que o sangue começa a
congelar, a formação de cristais de gelo na verdade desidrata os
glóbulos vermelhos do sangue, absorvendo-lhes toda a água.
Uma vez congelados, os cristais de gelo se tornam pontiagudos
como se fossem microscópicos cacos de vidro. Esses cristais
pontiagudos são formados quando as moléculas de água em forma
de V se combinam em moléculas de hidrogênio, formando um
desenho rendilhado que se parece com um floco de neve. As
pontas afiadas das espadas de gelo cortam as paredes das
membranas celulares, e o animal morre. Esse seria o final da
hipotermia e da exposição ao frio – não da hibernação. A
hibernação é muito diferente da hipotermia. Durante a hipotermia,
uma animal não preparado que não estiver num estado diabético
simplesmente congela.
No cenário da hibernação, a glicose resultante do estágio final da
resistência à insulina protege as células ao baixar a temperatura de
congelamento do sangue – assim como a água faz num carro,
revestindo as moléculas de água com açúcar, para impedir que elas
se liguem e formem cristais pontiagudos. Toda a produção extra de
colesterol, a

Pág 109
partir dos carboidratos consumidos, completa o mecanismo, ao
travar os vazamentos que ocorreriam quando as moléculas de
gordura que controlam o trânsito de íons e água através das
membranas celulares começassem a congelar como gotas geladas
de carne. As células se tornam, então, à prova de vazamento e
cheias de anticongelante.
Quando os sapos começam a descongelar, os órgãos que se
congelaram por último são aqueles cuja consistência se assemelha
à de um melado, por causa do açúcar, e por isso são os primeiros a
descongelar. O coração começa a bater de verdade, de modo a
bombear o sangue aquecido para descongelar as extremidades.
Dessa forma, nenhuma parte do sapo é privada de oxigênio, em
momento algum. Eles literalmente descongelam de dentro para
fora.
O Dr. Kenneth Storey, pesquisador da Universidade de Carleton,
em Ottawa, diz: “Os sapos começam com a mesma quantidade de
glicose que nós temos, e vão aumentando até ficarem diabéticos”,
exatamente igual as pessoas que nunca saem do modo de
hibernação – ou seja, os diabéticos Tipo II. O consumo constante de
carboidratos só pode significar uma coisa para os controles
ambientais ancestrais: esteja pronto para morrer de fome ou
congelar. É por isto que os diabéticos Tipo II se tornam resistentes à
insulina: para produzir gordura. Uma vez tendo produzido o
suficiente, porém, a etapa seguinte consiste em seus fígados
derramarem mais açúcar na corrente sangüínea do que o pâncreas
e o sistema insulínico conseguem administrar. Toda essa glicose
mantém as células com a consistência de um melado por dentro –
exatamente igual aos sapos da floresta, ainda que 65% do sapo
tenha virado gelo.

TUNGUSKA
Os resultados do congelamento experimental dos órgãos humanos,
para posterior utilização, também sustentam nossa premissa. Em
um dos

Pág 110
estudos, após seis horas de congelamento, as células do fígado
humano ainda tinham condições de produzir bile, num recipiente de
cultura. Isso significa que estavam efetivamente ressuscitando.
Assim como os sapos e os mamíferos utilizam o açúcar como
anticongelante, o camarão ártico de água salgada utiliza um açúcar
chamado trealose. A trealose foi usada num experimento na
Universidade da Califórnia, em San Diego, conduzidos pelos Drs.
Gillian Beatrie e Alberto Hayek, que, em 1998, preservaram células
pancreáticas beta humanas numa solução de trealose. Em períodos
regulares de alguns meses, Beattie ressuscita algumas dessas
células, para ver se ainda são viáveis. E são. Elas ainda produzem
insulina em tubo de ensaio – e também quando implantadas em
ratos ou em macacos Rhesus. Se as células beta ainda conseguem
produzir insulina mesmo depois de congeladas, então o açúcar no
sangue ainda pode ser distribuído novamente pelos outros órgãos e
membros, depois do grande resfriamento para o grande
congelamento. Lembre-se, essas são células beta humanas.
Nem tanta ficção científica assim, não é mesmo?
O recorde de células congeladas por mais tempo e reanimadas
pertence aos russos. Uma bactéria descoberta na Sibéria, perto de
Tunguska, no final de 1980, foi ressuscitada pelo Dr. David
Gillchinsky, um microbiólogo da Academia Russa de Ciências, em
Moscou. Ele extraiu bactérias congeladas do solo, a 150 pés abaixo
da superfície, em solo permanentemente congelado, cuja
temperatura não era superior a 23ºC há pelo menos 3 milhões de
anos. Em poucas horas após chegarem à superfície, elas já se
dividiam alegremente – porque a vida continua.
Em 1992, a empresa de criogenia BioTime, de Berkeley, na
Califórnia, resfriou um babuíno chamado Daniel a uma temperatura
corporal de 17ºC por 55 minutos. Embora Daniel tenha saído
fisicamente ileso, ninguém, até o momento, examinou em
profundidade as suas faculdades mentais. Sem dúvida, a
experiência deve ter deixado marcas.
Nós sustentamos, simplesmente, que o diabetes Tipo II só ocorre
porque a fase pré-hibernação, de armazenagem de carboidratos, e
a resistência à insulina que se segue nunca terminam realmente em
hibernação. Em vez disso, permanecemos no estado de
acumulação de gordura, resistência à insulina e hipertensão
subclínica, dentro de casa e aquecidos o ano todo. A maior parte
das pessoas que vive nessas condições durante décadas vão
acabar se tornando diabéticos Tipo II, e seus médicos vão pôr a
culpa no envelhecimento.

Pág 111

ENQUANTO VOCÊ NÃO ESTÁ DORMINDO

Carboidratos e insulina reúnem as ferramentas de que precisamos


para sobreviver à escassez somente se soubermos quando esta vai
acontecer. É preciso haver um mecanismo tipo relógio em atividade,
para nos avisar quando a escassez estiver batendo à porta. Os
hormônios melatonina e prolactina são os condutores da percepção
de tempo do nosso corpo – nosso mecanismo-relógio. A população
não tem uma idéia precisa do real efeito que a melatonina que eles
compram na farmácia, como antídoto para o jet lag, tem sobre o
organismo. Ela é mais um componente do problema, pois na
verdade faz diminuir a produção natural do hormônio, ao encolher a
glândula pineal, que produz a melatonina no cérebro.
Para podermos entender o mecanismo-relógio da forma que foi
projetado, vamos pular no carrossel (sistema de realimentação).
Para essa viagem, o passaporte é a hora do dia. Se você pulasse
no carrossel às seis da tarde, dependendo da época do ano e de
sua latitude (localização), a luz do sol estaria começando a cair, ou
diminuir. Pouco antes do pôr-do-sol é hora de jantar em todas as
culturas. A qualidade, ou espectro de luz, também está mudando,
pois o sol dá uma parada. Nesse devaneio, tivemos um bom dia de
caça, e agora nos juntamos ao grupo para uma refeição.
Vamos supor que você fizesse uma refeição nessa hora.
A insulina se elevaria, para administrar os carboidratos que você
secou durante o último verão, para comer posteriormente, e o
cortisol começaria a baixar, porque você se alimentou. É por este
motivo que todos nós buscamos o açúcar quando estamos
estressados. Lembre-se de que, neste caso, estamos imaginando o
mundo natural mítico, não o nosso atual. Em nosso mundo, o
cortisol nunca baixa, até que estejamos completa e
inconscientemente adormecidos –, e, mesmo assim, por causa das
brechas de luz, não completamente.
Quando o sol sai de cena, você e seus companheiros podem
tentar prolongar o dia e o calor, reunindo-se em torno de uma
pequena fogueira para se distrair. Ao reviver os eventos do dia,
você os incorpora ainda mais à memória e exercita sua imaginação
aumentando-os. O sexo poder ser uma opção, mais uma vez,
dependendo da estação, do clima e de seu charme.
Você teria de consumir muita energia para juntar madeira em
quantidade suficiente para desperdiçar, matando o tempo em volta
da

Pág 112
fogueira, no final do dia. Por isso, sua reunião noturna não pode
durar muito. Assim que a luz rósea do por-so-dol começa a tomar
conta da paisagem, você começa a ficar realmente sonolento,
porque, enquanto a clara luz “verde” do dia, refletida, interrompe a
produção de melatonina (no ponto pré-óptico de conexão com a
glândula pineal, em seu cérebro) a luz “rósea” do sol que se põe
bloqueia o espectro verde e com isso provoca uma liberação de
melatonina para facilitar sua entrada no estado alterado da noite.
Como esse processo evoluiu com as e não “em resposta às”,
mudanças nos ciclos de luz e escuridão, no clima e no estoque de
alimentos, faz muito sentido que a luz azul e verde do dia refletida e
a luz rósea e amarela do pôr-do-sol despertem respostas hormonais
e de neurotransmissores que possamos identificar como
comportamento normal.
É claro que a medicina ocidental não aceita nossa premissa de
que a interferência dos neuropeptídeos seja a base da conexão
mente-corpo, para ela, o esclarecimento da interação entre nós e os
eventos cosmológicos equivaleria à leitura do horóscopo. No
extremo oposto, a medicina oriental rejeita a perspectiva linear em
favor de uma síntese mais dinâmica e acurada – porém ininteligível
aos olhos dos pesquisadores ocidentais que insistem em dividir e
classificar as partes da fisiologia dos seres vivos, como se
estivessem lidando com um cadáver montado com partes
mecânicas, igual a um carro.
De volta ao ambiente paleolítico, você estaria procurando um
lugar quentinho para descansar, porque a melatonina em elevação
já está fazendo você sentir frio. Embolar todo mundo junto para
esquentar reforça também a comunicação pelos feromônios.
Naqueles dias, você seria literalmente capaz de sentir o cheiro de
um inimigo ou de um amante. O primeiro sono normalmente é o
sono REM, de modo que as premonições, ou “visões” alucinógenas,
dão continuidade ao entretenimento que rolou no início da noite,
enquanto seu cérebro seleciona e rotula as percepções da mente.
O mergulho no sono NREM, ainda mais profundo, enquanto o nível
de melatonina sobe muito, desvia a atividade do cérebro para a
manutenção da imunidade.
Toda atividade reprodutiva diminui à noite. Isso significa que o
acasalamento durante o dia aumenta as chances de uma gravidez.
À noite, os hormônios sexuais esteróides dão lugar ao aumento da
produção de prolactina pela glândula pituitária. Tanto a prolactina
quanto a melatonina são agentes poderosos no processo de
reprodução também, devido ao simples fato de que a melatonina
controla a produção do estrogênio

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e da testosterona, e a prolactina produz leite. A melatonina e a
progesterona são, ambas, controladoras hormonais mestras. Se
uma das duas estiver fora de sincronia, a natureza interpreta como
“acionar o botão vermelho”. Uma falta crônica de melatonina ou de
progesterona, tal como a que ocorre no envelhecimento, informa à
natureza que a pessoa não é mais viável.
Quando você não consegue acompanhar o jogo, a natureza
elimina você.
Por causa da melatonina, qualquer aumento ou diminuição do
período de escuridão desencadeia mudanças fisiológicas e
comportamentais em muitas espécies, através dos hormônios
sexuais – mudanças, por exemplo, na muda, na procriação e na
migração. A distribuição sazonal dos índices de concepção e
nascimento nos seres humanos confirma a teoria de que a função
da melatonina é controlar o período adequado à reprodução,
mesmo atualmente. A receptividade à reprodução, por sua vez,
determina a quantidade e o tempo de hibernação da progesterona
nas mulheres e da deidrostestosterona (DHT) nos homens.
Assim sendo, ir dormir com o pôr-do-sol garante um banho de
corpo inteiro em melatonina, e um rápido aumento da prolactina.
A prolactina não é ativa apenas na produção humana de leite; é
essencial para a lactação em todos os mamíferos. Nos pássaros,
isso se traduz no “comportamento de chocar a ninhada”, ou seja, na
quietude necessária para incubar os ovos. O principal efeito
provocado pela prolactina, em todas as espécies, é a ampliação da
produção das células T e NK (assassinas naturais). Essas são as
primeiras linhas de defesa do câncer. Como não existe câncer
na natureza entre as outras espécies, a não em nossos animais
de estimação, você – ao fazer parte do panteão da vida global –
também NÃO vai ter câncer, se DORMIR quatorze horas por
noite nos períodos de dormência. Mas será que você conseguirá
dormir tanto tempo assim?
Mais ou menos. Em primeiro lugar, as cavernas são escuras e
nossos quartos não. Tentamos dormir com as luzes acesar o tempo
inteiro, se é que chegamos a ir para a cama. E não vivemos apenas
num verão infindável; vivemos também num repasto infindável. Tem
sempre comida, em geral carboidratos; no que tange à luz, é
sempre dia claro. Não só perdemos metade de um ano inteiro com
luzes, aquecimento interno e ar condicionado; perdemos a noite
para os timers digitais que piscam o tempo todo, para as sirenes da
polícia, luzes da rua, letreiros e cartazes luminosos, restaurantes,
hotéis, esportes noturnos, televisão, Internet e

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filmes. Tudo isso era representado pelas histórias contadas em
torno das fogueiras se apagando. O grande problema é que hoje a
fogueira nunca se apaga, porque a televisão está sempre ligada.

A VERDADE REALMENTE ESTÁ LÁ FORA

Estudos realizados em 1993 e em 1994 relataram que voluntários


humanos no Instituto Nacional de Saúde tiveram a liberação de
hormônios e a atividade cerebral monitoradas pelo Dr. Thomas
Wehr. Os voluntários dormiam durante períodos de oito horas (noite
curta) e de quatorze horas (noite longa). O primeiro resultado foi o
óbvio: períodos mais longos de produção de melatonina elevavam a
produção de macrófagos e linfócitos dos leucócitos.
Isso é algo bom.
A segunda diferença hormonal mais óbvia entre as noites curtas e
longas era a quantidade e a duração da produção de prolactina.
Essa mudança na produção de melatonina e de prolactina refletia o
padrão de sono fragmentado da noite longa. Os voluntários em
noite longa passavam cerca de cinco das quatorze horas em
repouso, quase acordados. O grupo de Wehr dormia em dois turnos
noturnos, cada um deles precedidos por até duas horas e meia de
tempo acordado, ao longo do qual ocorria uma elevada produção de
prolactina. Isso significa que eles tinham um total de nove horas de
sono real, tal como o conhecemos. E, em nosso tempo, nove horas
de sono é tudo o que a gente conhece. As cinco horas sem sono
eram muito parecidas com o estado acordado-alerta que as
crianças apresentam repetidamente, num período de 24 horas. As
leituras das ondas cerebrais eram semelhantes às observadas
durante meditação transcendental. Interromper os transes dos
voluntários – falando com eles – fazia caírem os níveis de
prolactina.
O estudo de Wehr prossegue e sugere que “a prolactina, nos
seres humanos, facilita uma transição para o estado de repouso
alerta, da mesma forma que predispõe ao comportamento de
chocar a ninhada nos pássaros”. O médico do Instituto Nacional de
Saúde concorda que o período de escuridão de quatorze horas, no
inverno, ou ao longo de pelo menos sete meses do ano, é
exatamente o que nossos ancestrais teriam vivido, antes da
invenção das fontes de luz artificial. Esse período de repouso alerta,
nos adultos, agora é um estado de sono extinto.

Pág 115
Está estatisticamente provado que 90% ou mais de todos os
bebês nascem entre meia-noite e quatro horas da manhã,
exatamente o período no qual suas mães, na natureza, estariam
num estado meditativo, com níveis elevados de endorfinas
(anestésicos para dor) – igual aos iogues, que são capazes de
caminhar sobre pregos ou carvões em brasa sem sentir nada.
Nesse estado, um parto não assistido seria mais bem tolerado. Era
nesse período de tempo, ao qual não mais temos acesso, que
resolvíamos problemas, reproduzíamo-nos, transcendíamos o
estresse e, muito provavelmente, falávamos com os deuses.
Em testes padronizados de acompanhamento, concebidos para
avaliar o estado de espírito e a fadiga, os voluntários submetidos a
noites de quatorze horas de duração se autodefiniam como mais
felizes, mais cheios de energia e mais acordados durante o dia
seguinte. Mas esses testes tinham o objetivo de revelar apenas os
estados de sonolência debilitantes. A sonolência é apenas um
sistema cognitivo. Quando você está cansado, na verdade está
passando por uma séria briga metabólica entre você e as bactérias
que controlam seus sistemas imunológico e reprodutivo-briga, que
se traduz em aberrações mentais.
As noites curtas, que imitam o verão, significam:

• Produção reduzida de melatonina, o que reduz a função


imune dos glóbulos brancos;
• Uma grande redução do mais potente antioxidante que você
possui – ou seja, da melatonina;
• Menos prolactina à noite e muito mais durante o dia. (A
produção noturna de prolactina significa células NK e T mais
fortes e em maior número. A produção de prolactina durante o
dia significa auto-imunidade e compulsão por carboidratos.)
Mas o maior problema com as noites curtas o ano todo, além dos
distúrbios alimentares, é que a insulina vai continuar alta durante o
período escuro, quando deveria estar estável, e o cortisol cai tão
tarde que não consegue se normalizar até de manhã. Isto é uma
reversão do ritmo hormonal normal. Você deveria acordar com o
cortisol elevado, para administrar o estresse ao longo do dia. Você
deveria acordar com fome, com baixa insulina e o cortisol subindo.
Em vez disso, seu cortisol está baixo e a insulina ainda está
elevada.
Nesse estado, é fácil pular o café de manhã; com insulina alta,
você não tem fome.

Pág 116
A reversão que você cria, ao ficar acordado até tarde – o que faz
o nível de insulina e de cortisol permanecer alto à noite, quando
deveria estar baixo –, prossegue durante as horas do dia. O
primeiro sintoma de transbordamento de melatonina é precisar de
despertador para acordar. Quando você tem uma “ressaca” de
melatonina, fica sonolento demais para acordar, embora a luz da
manhã devesse suprimir espontaneamente a melatonina. O
verdadeiro problema é que, sem uma elevação do cortisol, você não
tem dopamina.
Seu nível de cortisol não está suficientemente alto para
administrar o estresse durante o dia, e confunde a percepção do
tempo. Sem o cortisol, para ampliar os efeitos da dopamina, o dia
parece passar depressa demais.
Agora diga que você nunca passou por isso.
Com um nível anormalmente alto de prolactina pela manhã, e sem
dopamina, você fica meio abobado também, com memória fraca e
pouca capacidade de planejar. A mesma cena se repete à tarde. A
prolactina suprime anormalmente a leptina de novo; portanto, por
volta de três da tarde, você têm compulsão por carboidratos – e
fica impaciente e mais abobado ainda.
Isso tudo têm importância?
Qual a diferença quando você sofre uma inundação de
hormônios, desde que isso ocorra?
Infelizmente, o tempo certo é tudo.
Você não consegue produzir melatonina durante o dia, ou com as
luzes acesas. Então, como se explica o fato de você ainda estar
dormindo, com a luz do sol brilhanto? Bem, a fome deveria ser o
seu despertador. Uma das funções evolutivas da melatonina é que
ela amplia o efeito supressor do apetite da leptina, para que
você continue com sono, em vez de perambular a noite toda com
fome. É um mecanismo circular de resposta: a melatonina melhora
o efeito da leptina e a leptina mantém o seu cérebro no estado de
“alimentado”, e assim você continua a dormir e a produzir mais
melatonina.
Infelizmente, para nós, menos sono à noite – e portanto menos
melatonina e menos leptina – faz com que você coma mais, de dia
e de noite. Só o sono que você perde no início da noite já é sufici-
ente para aumentar seu apetite por açúcar e fazer você engordar.

“Só o sono que você perde no início da noite


já é suficiente para aumentar seu apetite por
açúcar e fazer você engordar.”

É por isso que dissemos que a perda do sono o torna gordo. Mas,
na verdade, isso é nem da missa a metade. Quando você começa a
comer carboidratos todos os dias, começa também a reter água.
E isso é mau.

O MUNDO DA ÁGUA

Quase todas as pessoas do mundo ocidental, homens e mulheres,


já entraram numa dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos –
e experimentaram uma perda de peso entre 7 e 8 quilos, no espaço
de duas semanas.
O princípio bioquímico no qual esses regimes alimentares esbar-
raram é a primeiríssima base do processo de pré-hibernação: a re-
tenção de líquidos. No momento em que você corta sua ingestão de
carboidratos para menos de 45 gramas diárias, você sinaliza para
todo o sistema endócrino que a fome e o inverno estão chegando, e
deixa de dar corda no relógio. É exatamente isso que uma dieta rica
em proteínas e pobre em carboidratos faz. Os adeptos da contagem
de calorias e advogados do baixo teor de gordura descartaram
durante anos as dietas ricas em proteínas, taxadas de perigosas e
não científicas. Os mais céticos costumam exagerar, para os leigos,
o potencial de danos aos rins. Que seria remoto, mesmo que a dieta
prosseguisse por mais de sete meses, sem nenhuma ingestão de
carboidratos; mas isso é impossível, pois até as castanhas de caju
têm carboidratos. Neste mundo, ficar completamente sem
carboidratos durante sete meses não é apenas altamente
improvável; é impossível.
Na verdade, contrariando a popular sabedoria médica, além de
não prejudicar os rins, sem a entrada de carboidratos, você perde
cinco quilos ou mais só de líquidos retidos, baixa a pressão
arterial e queima sua base de gordura. Este processo elimina as
cetonas e reduz também a serotonina e, portanto, você fica menos
paranóico e deprimido. A queda na pressão arterial é um
descanso para suas funções renais. Mas, ainda que você pare de
comer carboidratos, o cortisol, a insulina e a prolactina não vai cair
aos níveis do inverno, a menos que você durma pelo menos nove
horas e meia por noite, começando o mais próximo possível do
escurecer.
Isso significa que as longas horas de luz artificial, sozinhas, sem o
consumo maciço de carboidratos, conseguem, de algum modo,
elevar a sua pressão arterial, porque o cortisol, que está sempre
elevado quando as luzes estão acesas, é parte do controle de sua
pressão arterial pelo sistema nervoso simpático. Assim sendo, você
não está realmente livre do problema, a menos que aumente suas
horas de sono.
Quando esse sistema ancestral de contagem de tempo entra em
ação, você sente necessidade dos alimentos que aumentarão seu
nível de insu-

Pág 118
lina para criar “resistência” à insulina em seus músculos. Com isso,
você tem condições de mandar toda a energia para ser armazenada
como gordura, para o longo período de fome que você teria de
enfrentar, caso vivesse no mundo real. Quando isso se repete dia
após dia, semana após semana, década após década, mesmo que
você nunca engorde, seu cortisol fica elevado e você retém os
cinco ou mais quilos de peso em água que você precisa para
hibernar.
Esses cinco quilos de líquido vão gerar mudanças na absorção de
sal e de glicose em seu intestino e na função renal para a
hibernação; na realidade, porém, vão causar o que identificamos
como a hipertensão subclínica que a maioria dos americanos
apresenta atualmente.
Esses estados de ser – consumo de carboidratos, resistência à
insulina, produção de colesterol, retenção de água, hipertensão
subclínica – são, todos eles, preparações para a hibernação que
agravam as doenças cardíacas, porque a função renal controla a
pressão sangüínea através dos hormônios chamados angiotensina I
e II, que atuam junto ao seu coração para determinar o fluxo de
cálcio e íons (ou seja, a força com que seu coração realiza o seu
bombeamento). Essa cascata é outro mecanismo ancestral que se
interpõe no caminho de seu “congelamento virtual”. As alterações
de cálcio que determinam a força do bombeamento do coração
estão em ação para proteger seu cérebro contra a falta de oxigênio
quando você congela, pois derramam cálcio a partir de suas células
para prevenir a hipoxia, ou falta de oxigênio.

O APOCALIPSE MUITO, MUITO CEDO

Todos nós ficamos acordados na cama, quando deveríamos estar


dormindo, pensando na mesma velha questão: o quanto, na
realidade, estamos próximos das “portas da morte”? Bem, se as
estatísticas do primeiro capítulo estiverem corretas, estamos muito
próximos mesmo. A solução à qual a medicina se agarrou é, na
verdade, apenas um antídoto contra a dieta de baixo teor de
gordura: fazer exercícios histericamente. Tudo o que a medicina
sugere que você faça é viver de açúcar e correr feito um
alucinado para queimá-lo. É claro que queimar todos os
carboidratos que você ingeriu em conseqüência da perda do sono
através de exercícios histéricos parece reverter o processo, em
termos fisiológicos. À medida que seu peso baixa, baixa também a
produção de insulina, porque você produz insulina em proporção às
gramas de peso corpóreo.

Pág 119
Quando o nível de insulina baixa, seus receptores de insulina se
elevam; com isso o açúcar no sangue também cai, porque seus
músculos vão suá-lo enquanto você se exercita, através dos
receptores de insulina, agora em funcionamento. É dessa forma que
o exercício baixa o açúcar no sangue. Quando seu nível de insulina
está baixo, você não consegue produzir tanto colesterol e esse
número também cai. Aí o médico o declara curado. Mas você não
está curado!
Agora, você tem uma nova doença – e isto porque nunca ocorreu
a eles que você não precisa queimar aquilo que não ingere, para
começo de conversa. Na verdade, correr, saltar ou praticar
StairMaster funciona, para seu corpo – que ainda responde com as
sub-rotinas ancestrais –, como uma “resposta de medo” que eleva
seu cortisol à estratosfera, enquanto você vê Deus. O cortisol alto é
um mobilizador do açúcar no sangue e, portanto, eleva o açúcar em
seu sangue; quando esse açúcar se eleva, a insulina vem logo
atrás. Isso significa que o rebote contínuo provocado só pelo
excesso de exercício pode torná-lo, com o tempo, resistente à
insulina. Veja como funciona:
• Correr, pular, escalar = ser perseguido
• Perseguição = resposta de estresse
• Estresse = liberação de cortisol = mobilização de açúcar no
sangue
• Açúcar no sangue elevado = insulina elevada = resistência à
insulina – armazenamento de gordura e hipertensão

Vamos encarar os fatos: você jamais iria correndo de sua cadeira


até à porta, a menos que algo o estivesse perseguindo. Esse
estímulo ao medo provocado pelo cortisol é a grande chave para a
doença mental e para as doenças cardíacas.

Esse estímulo ao medo provocado pelo


cortisol é a grande chave para a doença
mental e para as doenças cardíacas.

Quando as luzes ficam acesas por muito tempo, dentro das 24


horas do dia, é sinal que é verão. Durante o verão nos acasalamos
e comemos até explodir. A luz, as lutas e comer açúcar eram sinais
de que nosso cortisol nunca baixava, durante três a cinco meses do
ano. Você, por outro lado, vive, em sua mente, em constante medo
e pânico diante da morte.
Nos dois capítulos seguintes, vamos lhe mostrar que o pânico
mental de estar constantemente fugindo de nada é o que
realmente destrói seu coração e sua mente. Pense só no que
você faz num dia, em sua vida, e como seu corpo percebe suas
atitudes. É óbvio que parar para beber algo com baixo teor de
gordura no caminho da ginástica após o trabalho – digamos, às sete
ou oito da noite – e depois se exercitar como

Pág 120
louco sob luzes brilhantes durante uma hora ou mais, provável-
mente não está surtindo o efeito que você esperava, não é mesmo?
Na verdade, podemos apostara que, ao chegar em casa (e não
vai ser antes das nove e meia ou dez da noite), já estará acordado
há pelo menos dezesseis horas. Você está mais do que cansado –
e as luzes ainda estão acesas. É nesse ponto que sua psique vai
entrar em cena, para tentar salvá-lo de si mesmo e fazê-lo dormir,
quando lhe diz para “procurar um lanchinho”. Agora sua mente
vai guiá-lo até a geladeira atrás de açúcar – ou pior, atrás de um
drinque.
Quando você se vê diante da geladeira como um zumbi, com
aquele sopro de ar frio na cara e sem saber direito como chegou até
lá, saiba que a razão pela qual você chegou até lá está bem na sua
frente.
A mesma luz artificial que ilumina seu caminho até aquela última
fatia de bolo foi quem começou todo o processo – desde a neces-
sidade de se exercitar até a “necessidade” de comer algo doce à
meia-noite.
Você não está com fome; está apenas cansado demais. No em-
tanto, por dentro, seu corpo sabe que o bolo vai elevar seu nível de
insulina, para transformar a serotonina em melatonina e –
finalmente – fazê-lo dormir.
Aja assim durante uns bons dez anos e talvez não consiga mais
se recuperar.

Pág 121

SEIS
Tudo está dentro
da sua cabeça:
Não dormir e comer açúcar demais
vão levar você à loucura

“Meu Deus, eles não imaginaram que poderia causar danos? A


população não se levantou contra Caim com relação a isso?”
“Acho que você não compreende inteiramente a população, meus
amigos; neste país, quando alguma coisa está fora de ordem, a
maneira mais rápida encontrada para consertá-la fica sendo a
melhor maneira... É absolutamente indolor.”
- Ken Kesey
Um estranho no ninho

Como você já compreendeu, se ficar acordado até muito tarde,


seus hormônios se transformam e fazem com que seu apetite
também se transforme. Os açúcares que você adora aumentam seu
nível de insulina, para criar a resistência à insulina de que você
precisa para engordar. Em seu caminho para virar bola, você
converte todos os carboidratos que comeu em colesterol VLDL, e
também retém líquidos, o que altera sua pressão arterial. A essa
altura, qualquer médico lhe diria que há uma doença cardíaca no
horizonte.
E nós concordamos.
Mas vamos lhe dizer que o primeiro sintoma de doença cardíaca
não é a pressão alta e nem o colesterol: e a depressão.

FARSCAPE

Quando você vive no modo pré-hibernação mas nunca hiberna,


você enlouquece. Enlouquece porque está acordado há tempo
demais. Veja, na

Pág 122
natureza, se você ficasse acordado tanto tempo assim, já teria de-
vorado metade do planeta, o que seria muito mais do que sua cota.
E, muito provavelmente, você já não seria mais fértil, nadando em
toda aquela insulina. Por isso, não tem sentido você viver. Assim
sendo, a natureza o elimina alterando a sua realidade, para que
você não queira mais viver. Você literalmente enlouquece – e então
você mesmo se elimina.
É o princípio do “menor esforço do hospedeiro”, manifestado na
Mãe Natureza.
A natureza cria esse mecanismo em seu corpo provocando, em
última análise, um estado de espírito bipolar. Com isso, a natureza
dobra as chances de você se suicidar, até que a sua mania chegue
ao ponto de se transformar numa perda completa do controle dos
impulsos. Assim, se você não acabar consigo mesmo no limite do
desespero, durante o estado depressivo, provavelmente fará algum
movimento perigoso e com risco de vida durante a euforia. Em
qualquer dos dois casos a natureza vence.
E não se esqueça do princípio do cortisol: se o sol nunca se põe,
ou se você nunca apaga a luz, seu cortisol nunca baixa. E cortisol
alto só ocorre na natureza quando você precisa dele para fugir de
algum perigo ou lidar com a dor. O cortisol alto foi feito para ser
episódico, não crônico. Na natureza, cortisol alto crônico significa
que você é um perdedor em termos reprodutivos (a melhor razão
para ser eliminado) – e, portanto, um paria social.
Durante a depressão, no entanto, ele trabalha de forma mais
subreptícia. Cortisol elevado crônico alto e insulina elevada crônica,
juntos, colocam sua mente no constante estado de “pânico” do
acasalamento, que ocorre durante o verão. As luzes estão acesas,
a comida (carboidratos) deve ser abundante, porque seu nível de
insulina está elevado – e, naturalmente, por causa da luz e de tanto
exercício, seu cortisol também está elevado para poder competir.
Você acaba de estimular programas e sub-rotinas ancestrais que só
seriam acionados em estados de verdadeiro perigo – como “corra
para salvar sua vida”, ou “seu DNA não vai dar sinal de vida na pró-
xima geração”. Quando seu relógio sazonal de insulina/cortisol está
quebrado, podem ocorrer doenças mentais reais – não apenas
mudanças bruscas de humor, mas esquizofrenia e psicose
maníaco-depressiva real.

PSICOASSASSINO, QU’EST-CE QUE C’EST?

O National Institutes of Mental Health concorda conosco em que a


causa primária da depressão, da psicose maníaco-depressiva e da
esqui-

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sofrenia é simplesmente estar fora de ritmo em relação à luz e à
escuridão. O NIMH concluiu um recente estudo (1996) de cinqüenta
páginas, que analisa os efeitos dos antidepressivos mais
amplamente receitados. O objetivo dessa empreitada de vulto era
compreender exatamente como essas drogas – inibidores seletivos
da reabsorção de serotonina (SSRIs), inibidores da oxidase de
monamina (inibidores MAO) e antidepressivos tricíclicos – agem
sobre a depressão. Parece que sua eficácia reside, toda ela, tão-
somente em sua capacidade de restabelecer os ritmos normais de
sono em cérebros cansados, agitados e fora de sincronia. Quando
você dorme, sente-se melhor e mais saudável. Ora, bolas: sua mãe
já dizia isso...
Este documento é muito importante porque, nele, os
pesquisadores admitem que todas as doenças mentais, desde os
vários tipos de depressão até à esquizofrenia, derivam de um
“sintoma” comum: a disfunção (leia-se perda) de sono. Todas as
drogas que sabidamente atuam de modo positivo sobre a
depressão e suas várias formas dão resultados simplesmente
porque recolocam os ciclos de sono novamente no ritmo.
Parece que eles concluem, assim como nós, que quando você
não consegue dormir, você enlouquece.
E o inverso também é verdade: quando você enlouquece, não
consegue dormir.
Pense nisso como “O Segredo” do NIMH.
Veja, sua mente não é seu cérebro; é o eco que acompanha uma
pulsação por trás das ações bioquímicas e biofísicas, no corpo e no
cérebro. Sua mente é um receptor que amplifica e dá um contexto a
tudo o que ocorre em seu corpo e no ambiente. É como se fosse
um aparelho de televisão para triagem, que recebe sinais de uma
fonte remota (corpo, planeta e outros seres vivos). Quando assis-
timos à televisão, sabemos todos que não há seres pequenininhos
dentro do aparelho. É difícil de compreender, mas isso é verdade
também em relação à cabeça da gente.
Existem forças importantes e nomes capciosos – serotonina,
dopamina, GABA e melatonina – para identificar os volteios do
equipamento, mas a essência ainda é a mesma: o sono controla o
estoque de alimentos e a reprodução, que por sua vez controlam
seu estado mental. Neste capítulo, o que pretendemos é causar o
mesmo impacto que a campanha antidrogas da era Reagan
provocou; só que, aqui, estamos iluminando sua mente confusa e
mostrando que “este é o seu cérebro, com insulina elevada e
nenhuma melatonina”.

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Nancy Reagan dizia para você “Simplesmente dizer não”. Nosso
conselho é: “simplesmente diga boa noite”.
A doença mental é a segunda doença mais incapacitante do he-
misfério ocidental, depois das doenças cardíacas. Não existe
coincidência. As palavras mais importantes da última frase são
“hemisfério ocidental”, “doença mental”, e “doenças cardíacas”.
Sabemos de que forma a doença mental e as doenças cardíacas
têm sua causa atrelada à superexposição à luz em nosso
hemistério.

VOZES ALIENÍGENAS II

A esquizofrenia é a forma de doença mental mais incapacitante.


Essa doença afeta 2,7 milhões de americanos. A esquizofrenia é
quase sempre uma forma extrema de psicose maníaco-depressiva,
que também é conhecida como psicose bipolar. Em termos bem
simples, a esquizofrenia é uma quantidade excessiva e fora de
controle de dopamina no cérebro, que leva a episódios de mania
que vêm acompanhados de alucinações, inclusive sons e cheiros.
Encontramos pesquisas que dão suporte à premissa de que a
superprodução de dopamina dos esquizofrênicos pode significar
que eles são, no sentido mais literal do termo, desequilibrados.
Quando você come carboidratos demais, não apenas o seu corpo
se torna resistente à insulina; o cérebro também pode ter o mesmo
problema. No cérebro, a serotonina e a dopamina ficam nos lados
opostos da prancha sobre o tronco. Se uma delas está elevada, a
outra está baixa. É a dualidade mais uma vez. Serotonina demais e
você fica paralisado; dopamina em excesso e você fica preso no
teto. No metabolismo, a serotonina e a insulina estão do mesmo
lado da equação (ou da prancha sobre o tronco). Também no
cérebro elas estão do mesmo lado. A insulina, portanto, pode
suprimir os nçiveis de dopamina da mesma forma que a serotonina,
porque os hormônios também podem ser neurotransmissores. Mas
nem a serotonina nem a insulina podem suprimir a dopamina, se
não houver receptores para registrar a presença delas.
Se os únicos controles sobre a dopamina em seu cérebro são
tirados de cena, e não há guardas na porta do zoológico, inúmeras
situações podem ocorrer. A esquizofrenia é o estado final da
resistência à insulina no cérebro. É, na verdade, um diabetes
cerebral (Tipo II) – o resultado do verão infindável dentro de sua
cabeça. Como você vê, a perda do sono realmente pode levá-lo à
loucura.

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Para dar ainda mais suporte à nossa teoria, a esquizofrenia foi
recentemente relacionada à hora do nascimento.
Isso trabalha a nosso favor.
Até há pouco tempo se acreditava que a história familiar
(genética) era a melhor base para prever se uma pessoa poderia ou
não desenvolver esquizofrenia; mas agora os especialistas estão
abertos a admitir que influências ambientais, tais como o local e a
estação do ano do nascimento, podem ter uma importância muito
maior do que jamais se imaginou. Um estudo publicado na edição
de 25 de fevereiro de 1999 do New England Journal of Medicine
concluiu que pessoas que nascem no final do inverno,
principalmente nas áreas urbanas, têm um risco muito maior de
desenvolver esquizofrenia do que pessoas com história familiar da
doença. O estudo foi realizado na Dinamarca e cobriu 1,75 milhão
de pessoas, todas nascidas entre 1935 e 1978, e todas filhas de
mães dinamarquesas. Esse período de tempo coincide com o
advento da luz elétrica na Europa e com o aumento da presença de
carboidratos na alimentação o ano inteiro. Acreditamos que é por
isso que as pessoas nascidas em Copenhague, capital da
Dinamarca, tinham 2,4 chances a mais de desenvolver
esquizofrenia do que as nascidas em áreas rurais, onde o escuro à
noite e há uma variedade menor de frutas e verduras importadas
disponível. A alteração do processo evolutivo deve se originar na
arena fetal. Algum fator genético deve ser fortemente afetado pelas
longas horas de exposição à luz durante a gravidez.
Acreditamos que aqueles com maior predisposição genética a
apresentar uma resistência muito baixa à toxicidade da luz (ou
seja, pessoas extremamente intolerantes à luz) provavelmente
seriam, também, reprodutores sazonais que sobraram da época
anterior ao fogo. Com isso, dar à luz durante a estação em que
normalmente deveria ocorrer a hibernação deve ter gerado algum
tipo de ônus em termos evolutivos.
É óbvio que a iluminação durante a gestação, seguida pelo fato
de ter nascido “fora de estação” e depois ser criado num ambiente
urbano (luzes 24 horas por dia o ano todo e um consumo
incessante de carboidratos), é suficiente para empurrar alguns de
nós para a beira da gangorra rumo à resistência à insulina de
origem cerebral, ou diabetes cerebral. Enquanto o resto das
pessoas ficam apenas deprimidas, muito deprimidas ou deprimidas
até os ossos, algumas realmente ultrapassam o limite.
Quando a luz que controla o apetite, que por sua vez controla a
insulina, fica permanentemente acesa, a produção de
neurotransmissores

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como a serotonina e a dopamina, que são controlados pela insulina
(o estoque de alimento), tornam-se incontrolavelmente instáveis.
O mesmo acontece com você, a caminho das mais variadas
formas de exaustão.

ZUMBIS

Setenta milhões de americanos admitem que estão cansados.


Destes, 17 milhões tomam Prozac regularmente e alguns outros
milhões tomam Paxil ou Serzone. Isso significa que estão
deprimidos também, ou que pouco mais de um quarto dessas
pessoas cansadas já estão além do seu limite. Acreditamos que os
números reais sejam ainda maiores, porque quase todo mundo nos
Estados Unidos toma algum comprimido para dormir de vez em
quando, o que indica que há muito mais pessoas clinicamente
deprimidas. Para aqueles que buscam ajuda além dos remédios
vendidos sem receita, os médicos prescrevem antidepressivos para
elevar seus níveis de serotonina, e eles passam a se sentir melhor.
É aí que começa a confusão.
Pessoas deprimidas e cansadas não têm baixos níveis de
serotonina.
Pessoas deprimidas têm baixo nível de dopamina.
A dopamina, ao longo da evolução, ficava alta na presença da luz,
exatamente como o cortisol. A dopamina é que está presente nos
atalhos de recompensa da memória e controla a percepção do
tempo, junto com o cortisol. Enquanto as luzes estão acesas e
podemos ver, a dopamina fica alta e a gente continua a aprender e
a se lembrar das coisas. É por causa desse mecanismo que a luz é
tão sedutora, que é tão difícil apagá-la e ir para a cama. As luzes
que piscam nos videogames, a televisão e seu computador viciam
só por causa da liberação de dopamina que provocam. As luzes que
piscam podem ter o mesmo potencial viciante que a bebida, o jogo
ou as drogas.
O diferencial evolutivo que a luz do fogo nos deu foi o poder de
estender o dia. O dia mais longo aumentou a aprendizagem e o
tamanho do cérebro, aumentou a capacidade de reprodução e,
quando o levamos para dentro da caverna, seu calor nos deu
também uma mãozinha com o clima.
O preço de tomar assento na mesa dos deuses é a vingança
imposta à nossa química cerebral e à fisiologia do coração. Lembre-
se: a luz é o eterno zeitgeber, ou cronômetro, que controla a
liberação de dopa-

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mina e do cortisol. O cortisol é o hormônio do estresse e a
dopamina é o neurotransmissor diurno. A dopamina e a serotonina
são equilibradas e reequilibradas no cérebro de acordo com os
sinais vindos do ambiente. Assim sendo, quando você bagunça sua
dopamina, bagunça também a serotonina. É parte do plano.
Quando o sol eleva sua dopamina, você se torna impulsivo e
faminto. É dia, e dependendo da duração da luz natural, pode ser
verão. A dopamina controla a compulsão por proteína, da mesma
forma que o neuropeptídeo Y controla a ingestão de carboidratos.
Com seu nível de dopamina elevado, a serotonina baixa e você
passa a querer carne. A dopamina lhe dá a vantagem competitiva
necessária para obtê-la e trocá-la por sexo. Para ter libido, a
dopamina precisa estar alta. É por isso que os remédios que
aumentam a serotonina causam impotência.
Pessoas que têm originalmente níveis mais baixos de serotonina
são felizes, porque baixos níveis de serotonina significam níveis
elevados de dopamina, naquela prancha sobre o tronco. Todo
mundo gosta de ter dopamina elevada; é uma experiência que fica
entre ganhar velocidade e estar apaixonado.
A serotonina em grande quantidade é que põe a pessoa pra
baixo.
E se você não fabricar melatonina a partir de sua serotonina,
durante o sono... bem, você já sabe.

CONTROLE DA MENTE

A serotonina é muito mal compreendida pela mídia. A maior parte


das pessoas nos Estados Unidos, e provavelmente um bom número
de médicos, acredita que baixos níveis de serotonina no cérebro
são a causa da depressão e da ansiedade, quando na verdade o
que ocorre é justamente o contrário. Níveis de serotonina mais
altos que o normal são sinal de perigo, porque o estoque de ali-
mentos é abundante e deve ser época de acasalamento; com isso,
a disposição para competir governa todos os nossos sistemas.
A serotonina é o neurotransmissor encarregado do controle dos
impulsos – porque, para ter serotonina, você precisa ter insulina
elevada, o que significa que há carboidratos em quantidade e é
verão – e isso significa tome cuidade, não bagunce o acasalamento
ou a luta, ou então pode ser o seu fim. A serotonina controla sua im-
pulsividade de maneira muito furtiva: ela consegue seu objetivo re-
duzindo sua capaci-

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dade de fazer conexões. A recuperação da memória fica enfra-
quecida, porque a serotonina filtra as informações sensoriais. A
dopamina, por outro lado, coloca tudo sob foco definido. As
emoções e os impulsos primitivos que governam o sono, o estado
de espírito, o apetite, o despertar, a dor, a agressividade e até
mesmo o comportamento suicida estão todos sob o comportamento
da serotonina e da dopamina. Os neurotransmissores são mole-
culas semelhantes aos hormônios, em termos de seu mecanismo
de ação, no sentido de que elas têm um alvo (receptor) – e, uma
vez atingido esse alvo, seu comportamento muda.
Embora a serotonina seja muito mais um controlador sazonal do
apetite e do sono, o problema começa, em termos fisiológicos –
pelo menos para o seu coração – quando ela entra em cena sob a
forma de uma resposta de pânico, que só aconteceria quando hou-
vesse muita luz. Os níveis de serotonina sempre acompanham os
níveis de insulina, e há receptores para ela em todos os lugares do
corpo e do cérebro. Você sente os efeitos da serotonina sobre as
células do trato gastrintestinal quando está preocupado, ou com
medo mesmo. Não ocorre apenas o efeito-borboleta (pense no
medo do palco), mas a motilidade das entranhas diminui e se
transforma numa contorção, porque o nosso homem das cavernas
não podia parar para defecar, caso estivesse correndo para salvar a
própria vida, perseguido por um tigre. E é a serotonina que faz com
que suas artérias se fechem, no caso de você não vencer a corrida
contra o tigre ou a briga pelo ovo. Mas tem outro elemento na briga,
que controla o tempo. Se o pânico continuar por um período
suficientemente longo, a superfície de suas plaquetas sangüíneas
vai ficar grudenta, devido à resistência à serotonina, que se segue
ao transbordamento de serotonina, em conseqüência do pânico. Em
seguida, as plaquetas se aglutinam fortemente, para que você são
sangue até morrer. Os sintomas de um nível diurno de serotonina
mais elevado que o normal, que são clássicos em animais vítima de
pânico e também em pessoas deprimidas, são:

• Retirada, que pode ser definida como evitar o perigo ou


escapar dele;
• Imobilidade, o que significa congelar ou ficar aparentemente
paralisado;
• Defensibilidade, o que implica tanto a agressão quanto a
submissão.

Topos esses comportamentos são evidentes em todas as


espécies, e também na depressão humana. O termo “paralisado de
medo” diz tudo.

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O nível elevado de serotonina provoca uma rigidez de compor-
tamento que pode se tornar repetitiva, como acontece com pessoas
com distúrbios obsessivo-compulsivo (DOC), ou virar paralisia, co-
mo ocorre com pessoas severamente deprimidas. Todos os sinto-
mas típicos da serotonina elevada – estômago apertado, coração
descompassado, pressão alta, mãos e pés em concha e o grande
sinal de alerta, que é boca seca – são sintomas de um clássico
ataque de pânico, descritos em qualquer livro de medicina do nosso
mundo.
Diante de um perigo real, a serotonina faria o nosso homem das
cavernas correr mais depressa, respirar mais profundamente e
sangrar menos. Quando um rato é apanhado por um predador
numa área aberta, a serotonina em seu cérebro aumenta e ele
congela, aparentemente paralisado pelo medo; na realidade, esse
comportamento já foi testado pelo tempo, ao longo de eras, para
salvar sua vida. Ao congelar, com os movimentos suspensos, o rato
acredita estar escapando de todos os predadores cuja visão
depende do movimento para detectar objetivos. Muitas pessoas
deprimidas descrevem o próprio estado como “encolhido e
paralisado”. Esses sentimentos são absolutamente verdadeiros,
graças à serotonina elevada.
Quando opera em níveis “normais”, a serotonina mantém o ins-
tinto – em relação a impulsos como comer, fazer sexo e agredir –
controlado o suficiente para garantir a sobrevivência. A única razão
pela qual a cultura pop definiu a serotonina como o neurotrans-
missor “feliz” é o mantra de Rodney King. O mundo em que vivemos
exige um excessivo controle dos impulsos, só para “ir levando”.
Não há espaço para comportamento impulsivo e instintivo num
mundo como o nosso, cheio de gente e que depende das relações
interpessoais. No entanto, no mundo real, de onde a maioria de nós
veio, mas ao qual jamais retornaremos, os níveis baixos de
serotonina são adaptáveis, porque o mundo real é um lugar
ameaçador. Até agora, evoluímos muito bem com baixos níveis de
serotonina durante as horas do dia. Com baixo controle dos
impulsos, você pode se alterar mais depressa e responder mais
rapidamente a uma ameaça. Nenhum de nós estaria aqui para
discutir os méritos de ter serotonina alta ou baixa se não tivéssemos
vindo de um estado de baixa serotonina. Neste mundo, a metade da
humanidade se sente muito mal, pois nós não temos controle sobre
nossos impulsos, e esta vida o exige; e a outra metade está
literalmente paralisada e paranóica, por causa dos carboidratos e
da luz.

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Então, para aqueles que se encontram paralisados, a resposta
seria descobrir uma droga que baixasse a serotonina?
Não temos de baixá-la.
A natureza fará isso por você, quer você queira, quer não. Tudo o
que você tem a fazer é permanecer em qualquer estado crônico de
sobrecarga hormonal por tempo suficiente para perder seu ritmo e a
natureza mandar você sossegar. Este processo é chamado
homeostase. Nós já ouvimos falar dele antes.
Como todo sistema na natureza, inclusive a própria evolução, é
um algoritmo repetitivo ou um sistema circular de resposta infinito,
existe a necessidade de uma resposta negativa. Tem que haver um
mecanismo de interrupção para manter o equilíbrio naquela prancha
sob o tronco. No caso do estresse e da serotonina ou do cortisol, se
houvesse excesso de alguma substância boa, o receptor se torna
resistente à ação daquele hormônio ou neurotransmissor. Assim
sendo, o estresse infindável o torna insensível ao cortisol ou à
serotonina. E o único estresse verdadeiro no mundo natural provém
do excesso de acasalamento, de comida ou de ser comido – e, é
claro, de não dormir quando tudo o mais dorme. Perder o sono seria
uma impossibilidade no mundo natural, porque, com tudo escuro
como breu, não há mais nada a fazer – a menos que você estivesse
acalentando um bebê ou de olho naquele predador noturno que deu
cabo do braço de seu amigo Eddie a noite passada.
Vivemos num plano totalmente diferente da existência. Que pena
que nossos corpo e mentes ainda não entraram no ritmo!

ATACADO MUNDO NOVO

A serotonina é muito importante no mundo moderno. Você precisa


controlar seus impulsos no metrô, no escritório ou quando está
preso no trânsito. Aqueles que têm serotonina muito baixa puxam
da pistola uns contra os outros e planejam massacres. É por causa
da baixa serotonina que todos nós nos automedicamos com açúcar
em momentos de estresse. Quando você está preso num
engarrafamento e prestes a surtar de tanta frustração, é mais
provável que a substância que vai aliviar sua dor seja uma barra de
chocolate. Ninguém compra queijo ou carne-seca para aliviar a
tensão. A insulina produzida em conseqüência do carboidrato que
você comeu fabrica serotonina – e você adquire controle
instantâneo de seus impulsos. Este é um mecanismo ancestral de
equilíbrio.

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• Quando a noite era longa, comíamos açúcar (carboidratos).
• Açúcar elevado era sinônimo de insulina elevada.
• A insulina é necessária para converter a proteína que você
comeu (porque sua dopamina estava alta) em serotonina.
• A serotonina equilibrava a dopamina e baixava durante o
sono.
• O dia seguinte, como todos os dias naquela época, era outro
dia. E começava tudo de novo.

Agora, que a gente vive unicamente no verão interminável, esta-


mos presos em apenas uma fase desse sistema específico de res-
posta: a produção de serotonina. Na natureza, este ato de equilíbrio
entre a serotonina e a dopamina só acontecia quando as horas do
dia fossem longas, e as horas do dia nunca eram longas – a menos
que fosse época de acasalamento, ou se houvesse perigo iminente.
Dificilmente alguém nos Estados Unidos fica num estado bom e
normal de serotonina baixa e dopamina alta durante as horas do
dia. Atualmente, aqueles que não estão paralisados até a menina-
dos-olhos pela serotonina elevada, ou dentro de um completo
rebote bipolar, estão completamente fritos, em termo de receptores.
A natureza diz que, se a serotonina está alta, a dopamina tem que
estar baixa.
A única vez em que esta regra é quebrada é quando ocorre a
queima de receptores. Aí o sistema circular de resposta negativo,
ou o botão de desligar, quebra. Quando estamos sob estresse
crônico e inescapável, a produção de serotonina pára totalmente,
em função do sistema circular de resposta da resistência à
serotonina, permitindo que a dopamina busque uma saída. O
estado crônico de serotonina alta, decorrente de nossas dietas
crônicas de carboidratos, cria resistência à serotonina por atacado.
Você se lembra de nossa descrição da resistência à insulina, que os
receptores resistentes à ação desse hormônio não reconheciam o
hormônio. Com isso, você passa a ter, na verdade, nenhuma
insulina.
A primeira vez que os cientistas testaram em ratos as drogas que
baixam o nível de serotonina, e que tinham potencial para tratar a
depressão, elas pareciam agir como afrodisíacos. Num estado de
ausência de serotonina, os ratos apresentavam uma terrível
compulsão sexual. Infelizmente, a serotonina zerada não trazia
apenas uma boa fase sexual. O estado de inexistência do controle
de impulsos, provocado pela serotonina baixa, despertava também
uma velha companheira da luxúria: a agressividade.

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Amor e ódio são, na verdade, sexo e defesa em formas social-
mente aceitáveis. Ambas as atividades exigem uma perda do con-
trole dos impulsos (ausência de serotonina) e uma boa dose de
dopamina. Lembre-se de que a dopamina elevada coloca tudo em
grande destaque. A resistência completa à serotonina significa que
a agressividade, ou a liberação da inibição que resulta da completa
alta da serotonina, será coberta pela “sobrecarga sensorial” da
dopamina em elevação. A insensibilidade resultante é acrescida da
percepção exagerada de todo e qualquer estímulo sensorial, o que
cria na mente humana um estado permanente distorcido,
agressivo e paranóico.
Só esta fórmula – nenhum sono e uma dieta cheia-de-açúcar-o-
tempo-todo – poderia explicar nossa marca registrada de “violência
americana”. Viver numa dieta composta de 90% de carboidratos
não tem apenas o efeito de transmitir o estresse da época de
acasalamento para todo o seu ser e criar a resistência à serotonina
que gera a agressividade. Significa também a exaustão de cortisol
para o cérebro, de forma que não há como lidar com o estresse.
A essa altura, acabamos tendo violência nas ruas, vandalismo,
racismo exacerbado – e as pessoas da próxima geração acabando
umas com as outras. Se todo mundo no país é testemunha dessa
infindável violência três vezes ao dia, na televisão, e é exposta à
violência simulada (os filmes) tarde da noite – quando todos
deveríamos estar dormindo – a situação se agrava ainda mais.
Veja, por exemplo, as crianças que testemunharam o massacre dos
colegas em Littleton, no Colorado, em 1999. Elas nunca mais serão
as mesmas.
Crianças expostas continuamente à violência, geração após
geração, apresentam o mesmo esgotamento do sistema de
resposta ao estresse observado nos veteranos de guerra com
síndrome de choque pós-traumático. Os dispositivos evolutivos
normais que avisam o corpo e a mente do perigo ficam
permanentemente ligados, e a experiência se torna biologia. Será
que as testemunhas de Littleton, no Colorado, vão viver vidas
violentas – e com isso “infectar” seus filhos?
Lembre-se de que a possibilidade de um gene se expressar –
neste caso, o gene responsável pela produção de serotonina – vai
depender inteiramente dos sinais do ambiente, ou do tipo de
experiências que o indivíduo terá, no início da vida, em seu
ambiente doméstico.
O fato de ele viver com pessoas hostis ou violentas, ou de ter
experiências calmas e razoáveis, poderá fazer toda a diferença do
mundo. Essa questão ultrapassa a barreira das espécies, como
pode ser visto num expressivo instantâneo de comportamento
animal, relatando no livro

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Inside the Brain, do Dr. Ronald Kotulak, que dá provas claras da
conexão genética-ambiental com a agressão violenta. Nas
salamandras “tigre” do Grand Canyon, podemos observar a versão
da natureza para os nossos Dr. Jekyll e Mr. Hyde:

As salamandras vivem em lagos, ao longo de uma margem


isolada do Grand Canyon. Quando há água e comida em
abundância, a salamandra assume a salamandra assume a
forma do Dr. Jekyll – um animal gregário e pacífico, que se
alimenta de insetos. Mas quando a água começa a secar, a
comida a escassear e as condições de vida se tornam
insuportavelmente competitivas e dolorosas, algumas das
salamandras passam por uma impressionante transformação e
viram Mr. Hyde.
As pressões ambientais alteram rapidamente o
funcionamento de alguns de seus genes e geram
transformações em sua forma física, além de torná-las
agressivas. Os músculos se alargam para tornar suas cabeças
e bocas maiores. Além disso, elas ganham um novo conjunto
de dentes enormes – adaptações que lhes permitem atacar e
comer suas colegas salamandras.
Tornam-se canibais, mas apenas durante um curto período
de tempo. Logo que engolem salamandras suficientes para
reduzir a população, elas voltam à forma de Dr. Jekyll. Suas
cabeças encolhem e retornam ao tamanho normal, e elas
voltam a comer insetos.

Isto é o meio ambiente controlando a expressão genética.

É POR ISSO QUE A CHAMAM DE DROGA

O estado interminável de serotonina anormalmente elevada


(produzida por todos os carboidratos que consumimos, porque as
luzes estão acesas) é o que faz com que você se sinta tão triste,
porque você vive o tempo inteiro como se estivesse sob ameaça.
Se essa ameaça dura tempo demais, a homeostase faz você re-
tornar a um estado de serotonina muito, muito baixa ou zerada, o
que acaba fazendo você explodir em violência ou o torna comple-
tamente esquizofrênico.
Nos vários tipos de depressão, seus sintomas são respostas que
representam manifestações ancestrais de medo e pânico, resultan-
tes da serotonina elevada. Um estado crônico de serotonina alta se
traduz num estresse interminável, ou numa ameaça da qual você
nunca vai conseguir se livrar, não importa o que você faça. As vidas
que vivemos e os alimentos que comemos criam um estado per-
manente de desesperança, através do estado de elevada seroto-
nina.

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É por isso que um número cada vez maior de pessoas busca aju-
da médica contra a depressão.
Os antidepressivos atuam nos níveis de serotonina através dos
inibidores seletivos de reabsorção de serotonina (SSRIs). O termo
“reabsorção” se refere à volta da serotonina ao neurônio, após sua
mensagem ter sido enviada. Essas drogas atuam aumentando
ainda mais o nível já anormalmente elevado de serotonina, até um
estado mais absurdamente transbordante. Elas conseguem isso
bloqueando os receptores que reabsorvem (sugam) a serotonina e
a retiram do espaço entre os neurônios, para ser utilizada
novamente. Um inibidor seletivo de serotonina trabalha apenas para
inibir o retorno da serotonina a determinados receptores. A
quantidade real de serotonina que você produz não aumenta; só
que o volume que você têm fica disponível por mais tempo, dando-
lhe uma espécie de “lucro”. Com um nível de serotonina mais
constante, seus receptores buscam e alcançam a homeostase.
Neste estado você apresenta resistência aos receptores de
serotonina, o que silencia esses receptores.
A resistência à serotonina, neste caso, significa que o pânico e a
paranóia físicos e mentais despertados da memória genética
coletiva por um estado crônico de serotonina elevada acabam, ou
pelo menos são neutralizados. Como você não registra mais o nível
elevado da serotonina no nível dos receptores, na realidade virtual,
o perigo passou.
Instala-se aí uma sensação de bem-estar idêntica à percebida se
a serotonina estivesse, na realidade, num nível normal (baixo).
A forma de fazer isso virar realidade é apagar as luzes.
O sono neutraliza os níveis de serotonina porque a melatonina
produzida durante o sono só pode ser fabricada com o uso da
serotonina disponível. É por isso que as pessoas deprimidas
tendem a se automedicar, ou dormindo o tempo todo ou não
dormindo de uma vez. Ambas as opções funcionam exatamente
como os antidepressivos. Ficar sem dormir por 24 horas provoca a
elevação da serotonina a níveis de exaustão antidepressivos,
porque ela nunca se transforma em melatonina. Quando ela sobe
muito, “ultrapassa o limite” e a sobrecarga faz com que os
receptores vão lá embaixo, e – voià! – é exatamente como se a
serotonina estivesse baixa, ou igualzinho a tomar Prozac.
O “sono de fuga” – dormir o dia inteiro e parte da noite – funciona
ainda melhor, porque a serotonina na qual você está mergulhado
vai virar melatonina em cascata, levando-o a um estado de
serotonina normal ou baixa, pelo menos por um tempo. Mas a
maioria de nós não
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consegue dormir o dia inteiro, a menos que tenhamos sido
demitidos ou estejamos nos divorciando, de modo que precisamos
de uma “coisinha”, só para sobreviver. Como lamentou Aldous
Huxley, em Admirável mundo novo:

A civilização não tem qualquer necessidade de nobreza ou


heroísmo. Não existem mais guerras, atualmente. Toma-se o
máximo de precauções para evitar que você ame demais não
importa o quê. Não existe algo como lealdade dividida;
estamos tão condicionados que não podemos deixar de fazer o
que devemos fazer. E o que devemos fazer é, no geral, tão
agradável que não há tentações a resistir. E se algum dia, por
algum acaso infeliz, um fato desagradável de alguma forma
acontecer, bem, sempre há Soma para nos dar um pouco de
alívio.
E Soma sempre estará lá para acalmar nossa ira, para nos
reconciliar com nossos inimigos, e nos tornar pacientes para
agüentar melhor o sofrimento. No passado, só se podia fazer
isso com grande esforço, e após anos de duro treinamento
moral. Agora, basta engolir dois ou três tabletes de meio grana,
e pronto.

Soma, para você, é Prozac.


O Prozac é o mais famoso SSRI, ou inibidor seletivo da
reabsorção de serotonina. O Prozac muda tanto a vida das pessoas
que muita gente até escreveu líricas exaltações a seus milagres. A
variação da seletividade do retorno é a razão pela qual, para muitas
pessoas, o Prozac parece alterar a natureza do eu. Ou, como disse
o Dr. Peter Kramer em seu best-seller Listening to Prozac, “ele dá
ao introvertido a habilidade social de um vendedor”. Muito bem.
Pelo fato de atingir apenas determinados receptores, o Prozac é
essencialmente um antidepressivo feito sob medida, cujos efeitos
não são os mesmos em todas as pessoas. A bulimia, por exemplo,
agora vem sendo tratada com Prozac, porque, como o nível de
serotonina se eleva em alguns receptores, a ação da serotonina na
verdade faz caírem os elevadíssimos níveis de dopamina nas
entranhas, o que por sua vez evita o vômito.
Dezessete milhões de americanos já tomaram Prozac, desde que
este ganhou notoriedade dez anos atrás, e muitos já usaram a
droga há quase uma década. A Eli Lilly and Company, o orgulhoso e
rico fabricante do Prozac, acaba de lançar uma nova campanha
publicitária, criada para aumentar a base de consumo do produto.
Aparentemente, o fato de as vendas terem dobrado entre 1990 e
1999, assim como as 20 milhões de prescrições registradas em
1998, não foram suficientes. Só em 1998, os

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lucros nos Estados Unidos chegaram a US$ 1,37 bilhão. Setenta
por cento das prescrições do Prozac são feitas por clínicos gerais –
os médicos de família. Embora seja razoável imaginar que alguém à
beira de uma doença mental deva consultar um psiquiatra, seu
médico não concorda. Custaria caro demais. Agora, se você se
sente sem ânimo para ir à ginástica por causa de todas as luzes
flamejantes e barras de cereais em sua vida, tudo o que tem a fazer
é pagar aquela consulta anual com seu médico e pedir uma receita
de algo que o levante, já que você está lá. Qualquer clínico geral
resolve.
Em 1996, foram registradas 735 mil prescrições de Prozac para
crianças. (Apesar disso, a Eli Lilly ainda não pode anunciá-lo como
um remédio para crianças, porque a FDA diz que ainda está
estudando essa aplicação). O fato mais sinistro é que a Eli Lilly
desenvolveu uma versão com sabor menta – para potenciais
consumidores que são CRIANÇAS. Isso significa que qualquer
médico tem condições de prescrever Prozac sabor menta para uma
criança, sem sequer a necessidade de uma avaliação psiquiátrica.

O PRIMEIRO É DE GRAÇA

As pessoas que nunca ouviram falar em Prozac (devem existir


umas quatro no mundo) costumam sobreviver à base de remédios
vendidos sem receita – entre os quais a nicotina, a cafeína e, o
grande favorito, o álcool. Ou então buscam alguma panacéia em
fontes mais agressivas. Sir Arthur Conan Doyle, em O sinal dos
quatro, escreveu:

Sherlock Holmes pegou sua garrafa no canto da lareira, e sua


seringa hipodérmica em sua bela caixa marroquina... “O que
vai hoje?, perguntei. “Morfina ou cocaína?”, disse. “Uma
solução de 70%. Gostaria de experimentar?” “Decerto que
não”, respondi bruscamente. Ele sorriu diante da minha
veemência. “Talvez você esteja certo, Watson”, disse ele.
“Suponho que a influência, em termos físicos, seja má. No
entanto, acho-a tão transcendentalmente estimulante e
esclarecedora para a mente que seus efeitos secundários são
uma questão de menor importância.”
“Mas pense!”, disse eu candidamente. “Leve em conta o
custo disso! Seu cérebro pode, como você diz, ficar alerta e
excitado, mas é um processo patológico e mórbido, que
envolve uma alteração cada vez maior dos tecidos, e pode no
mínimo deixar seque-las permanentes. Você sabe, também, o
que um black

Pág 137
pode fazer a você. Sem dúvida, o jogo dificilmente vale a pena.
Por que deveria você, por um mero prazer passageiro, arriscar-
se a perder esses magníficos poderes com que foi
aquinhoado?”
“Mas eu abomino a árida rotina da existência. Eu amo a
exaltação mental...”

Por que os viciados em drogas e os alcoólatras que se recupe-


ram (Sherlock nunca se recuperou) se voltam para o café, os cigar-
ros e os carboidratos? Bem, um pouco de cafeína e um pouco de
nicotina têm a ver com aquilo que os afeta, mas por que a comida?
A maioria dos viciados que tem sucesso percebem que não são
capazes de controlar seu peso após a recuperação. De que forma a
comida – especialmente os carboidratos, a julgar pelo ganho de
peso – tornam mais amena a retirada?
Por causa do mesmo mecanismo utilizado pelas próprias
drogas e pelo álcool, eis como.
Existe um par de receptores mestres que presidem toda a ati-
vidade neurotransmissora e que governam todos os hormônios que
agem como neurotransmissores. Esses controles mestres estão en-
carregados de queimar ou não queimar os neurônios que, em seu
cérebro, controlam o efeito quântico da “ausência de luz”. O ato de
estimular eletricamente os neurônios é sempre chamado de
“queima” – e essas duas substâncias controlam o processo. O
botão de “parar” é chamado de receptor GABA. O botão de “ligar” é
conhecido como receptor NMDA.
Os receptores GABA são a chave para os efeitos do álcool e dos
carboidratos sobre a consciência. O álcool aperta o botão de “parar”
ao elevar os receptores GABA. Isso literalmente desliga as células,
eletricamente falando. O desligamento induz uma sensação de
calma. Barbitúricos, anestesia, carboidratos e gordura, queimados
como cetona, funcionam da mesma forma. Os carboidratos agem
através da insulina, que eleva os receptores GABA da mesma forma
que o álcool.
O problema ocorre quando os receptores GABA ficam “elevados”
durante muito tempo ou de forma demasiado invasiva. Lembre-se
da prancha sobre o tronco: quando o GABA está lá em cima, o
NMDA está lá embaixo. Lá embaixo, mas não zerado.
Os receptores NMDA, na verdade, aumentam em proporção à
elevação prolongada dos receptores GABA.
Em seu livro The Craving Brain, o Dr. Ronald Ruden utiliza a
seguinte metáfora: enquanto as luzes estão apagadas, seu cérebro
está substituindo todas as lâmpadas por outras mais fortes. Ao
aumentar o

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número e a intensidade dos receptores NMDA, enquanto a GABA
está elevada, o cérebro está “equilibrando” as coisas. O “você-sabe-
o-que” atinge o limite quando você para com o álcool, as drogas ou
o açúcar, e o nível de GABA cai, porque aí o nível de NMDA sobe
pelo menos duas vezes mais do que antes. Como, neste caso, há
duas vezes mais botões de “ligar” do que o normal, o barulho e a
luz ficam ensurdecedores, insuportáveis. Duas vezes mais ativi-
dades sinápticas e elétricas é muita, muita coisa. Você não tem
opção, a não ser voltar para seja lá o que for que provocou o estado
de calma inicial. Agora pode se considerar um viciado. E cada
vez que você tenta voltar, só fica pior. A menos que você esteja
dormindo, porque a melatonina eleva novamente os receptores
GABA para a última “luz apagada”.
No cenário da vida moderna, você está viciado numa taça de
vinho à noite ou num pãozinho de centeio de baixa caloria com
geléia na hora do almoço. Você é sem dúvida um viciado se
consumir todos os três num único dia, todos os dias, todos os anos,
entra ano e sai ano. Graças à insulina proveniente do consumo de
carboidratos e da resposta direta da GABA à insulina, nós, os
viciados em junk-food, temos o mesmo potencial identificado nos
alcoólatras.
Existem algumas pessoas que podem tomar um único drinque
ocasionalmente. Mas a maioria de nós não consegue parar após o
primeiro copo de cerveja ou de Coca-Cola, ou depois da primeira
batata frita ou bolinho de arroz.
É tudo a mesma coisa.

RETIRADA
Considere a cena descrita por J. Madeleine Nash, na edição da
Time de 5 de maio de 1997:
Imagine que você está tomando um gole de uísque. Que está
dando uma tragada num cigarro. Que está fumando um cigarro
de maconha. Que está cheirando um carreirão de cocaína. Ou
tomando uma injeção de heroína. Não entre no mérito da
legalidade ou não dessas drogas; concentre-se, por ora, na
química. No momento em que você toma aquele gole, dá
aquela tragada, fuma aquele cigarro de maconha, cheira
aquele carreirão ou toma aquela injeção, trilhões de moléculas
potentes invadem sua corrente sangüínea e seu cérebro. E,
uma vez lá, desencadeiam uma série de efeitos químicos e
elétricos em cascata – uma espécie

Pág 139
de reação neurológica em cadeia, que ricocheteia por todo o
crânio e rearranja a realidade interior da mente.

Gostaríamos de acrescentara àquela lista enorme de substâncias


geradoras de dependência, “uma porção de qualquer carboidrato”,
ou no “dialeto de rua” de Mary Poppins, “uma colher cheia de
açúcar”.
As moléculas a que a Sra. Nash se refere, em sua descrição
absolutamente precisa, nada mais são do que dopamina. A
dopamina normalmente fica alta diante da luz, porque permanece
em atalhos de recompensa no sistema límbico do cérebro, ao criar
uma memorável sensação de euforia. O sistema límbico conecta as
partes do cérebro que são fundamentais para a sobrevivência ao
córtex cerebral – a parte da qual emana o pensamento, e que fará
com que você se lembre de como a sensação foi boa.
A dopamina ativa um sistema de recompensa que leva a
informação límbica à área do cérebro que faz você agir. É por isso
que a dopamina é também um importante elemento no mecanismo
da doença de Parkinson: para agir, é preciso ativar as funções
motoras.
O sistema límbico, com a dopamina a bordo, seleciona e rotula
zilhões de bits de estímulos sensoriais como sendo “quentes” ou
“frios”. O Dr. Kotulak, em Inside the Brain, descreve assim o
processo:

As coisas quentes são para ser lembradas, e são borrifadas


com sensações prazerosas, desde a excitação do sexo até o
brilho de uma boa ação. Os estímulos sensoriais frios não
recebem qualquer rótulo emocional e se desvanecem, para
serem esquecidos.

Os atalhos de recompensa são muito importantes para a premissa


básica da evolução.
O ato de evoluir se baseia na habilidade de continuar a existir, que
se baseia na adaptação, que por sua vez se baseia na apren-
dizagem e na capacidade de lembrar. Esta também é a base do
mecanismo do vício. A dopamina envia as experiências diretamente
ao hipocampo. O próprio hipocampo é quem processa as memórias
contextuais de longo e de curto prazo. O hipocampo está em ação
quando o barulho dos cubos de gelo ou o cheiro do café fazem com
que você fique louco por um cigarro, ainda que tenha parado de
fumar cinco anos atrás.
Nós, os viciados de meio expediente, que estamos apenas 10 ou
15 quilos acima do peso por causa dos alimentos adoçados e
processados,

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somos atirados num caminho sem volta de autodestruição, em alta
velocidade, quando a AMA e a American Heart Association dizem
para retirarmos a proteína ou a gordura de nossas dietas e viver de
nada a não ser açúcar, com uma dieta de carboidratos e de baixo
teor de gordura.
Quando os alcoólatras bebem, estão ingerindo carboidratos
concentrados e refinados – exatamente como você, quando come
pão, massas ou bolo de chocolate. Quando você bebe, o álcool
normalmente se agrega aos receptores de serotonina e os ativa. Ele
não se liga aos receptores de dopamina, o que explica por que
alguns de nós, quando bebemos, produzimos melatonina e caímos
no sono. Em outras pessoas, a ativação de um receptor provoca
uma liberação de dopamina.
Lembre-se da natureza.
Lembre-se de que, para serem adaptativas, nossas respostas
devem ser capazes de realizar uma infinita variedade de estratégias
de combinação. Em conseqüência, a atividade hormonal, imuno-
lógica e neurotransmissora é, muito parecida com um jogo de
fliperama; você atinge um ponto aqui e uma luz pisca lá na frente.
Quando um receptor é atingido, ele pode provocar a fabricação do
produto de um outro receptor. É uma série de verificações e
equilíbrios, de ações compensatórias que visam restaurar sua
homeostase, não importa o que a vida lhe atire em cima.
As pessoas que respondem ao álcool com uma liberação
anormalmente alta de dopamina se tornam viciadas. Depois do
primeiro drinque, ficam com baixa de serotonina, porque seu
receptor respondeu com dopamina. Baixa serotonina significa, por
exemplo, que colocar a cúpula de um abajur na cabeça pode
parecer uma coisa razoável. A maior parte dos verdadeiros
alcoólatras são completamente desinibidos, porque eles não têm
serotonina para controlar os impulsos. E também são bêbados
maus, porque são agressivos. A cada drinque, a serotonina cai
ainda mais e a dopamina sobe, provocando numa euforia que é
armazenada nos atalhos da memória. Essas são as pessoas que se
lembram da experiência e bebem mais e mais. Essas se tornam
alcoólatras.
Em nosso tempo, só a bebida já é suficientemente difícil de se
administrar, pois já estamos cronicamente exaustos e deprimidos.
Mas vamos imaginar que você seja um recém-chegado na área, em
termos genéticos. A adaptação, como você já sabe, leva tempo. De
que forma você vai ser afetado por uma aceleração na velocidade –
ou na mudança – evolutiva, é algo que vai depender, em larga
medida, do período de tempo em que

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seu grupo genético ficou exposto a uma mudança ambiental, como
por exemplo a disponibilidade de carboidratos, e de quanto tempo
os componentes do grupo levaram para se adaptar à escala artificial
de tempo da luz constante. Se você quer realmente saber o que
significa ser um recém-chegado à nossa cultura, tudo o que tem a
fazer é, ironicamente prestar muita atenção ao mais antigo grupo de
americanos conhecido neste continente, ou seja, os americanos
nativos.

O HOMEM QUE FUMA CIGARROS

A história que se segue é interessante porque exemplifica as


combinações de inépcia jornalística e médica que nos desinforma a
todos e, ao mesmo tempo, lança uma luz sobre a extinção cultural
generalizada, na pessoa de um tal Britton MataDireito, que já foi um
orgulhoso americano nativo que o New York Times alçou à fama – e
que, em vez disso, tornou-se o garoto-propaganda da doença
induzida pela luz que atinge a todos nós.
Britton MataDireito é o personagem principal de um artigo muito
confuso do New York Times, publicado em 23 de dezembro de
1997, que mergulha ostensivamente no sofrimento dos americanos
nativos presos nas garras do alcoolismo. O artigo começa com a
informação estatística de que, embora os homens americanos
nativos vivem somente até a idade de 56 anos, e que as mulheres
americanas nativas morrem pelo menos quatorze anos antes de
seus homens.
Para explicar essa estatística, o artigo sugere que “o diabetes é
comum nas reservas”. Em seguida, como se de alguma forma isso
explicasse a conexão entre o diabetes e o alcoolismo, o artigo
conclui que “algumas pessoas vivem a quase uma hora de viagem
do hospital”.
A forma como o artigo foi redigido nos faz ficar pensando se o
diabetes ou o alcoolismo matam essas pessoas no caminho para o
hospital. A razão pela qual a redação é obscura é o fato de o
jornalista ficar procurando algo a mais nos fatos e evidências que
possui. Está em busca de algo “relevante” (leia-se tendencioso)
para relacionar a esses fatos. Então, logo em seguida, sem sequer
juntar duas idéias, ele apresenta seu argumento (?) ao declarar:
“Aparentemente, a grande maioria fuma cigarros.” Muito bem, nós
conseguimos compreender a relevância, mas se você não tivesse
lido este livro, acha que conseguiria?

Pág 141
A seguir, o autor descreve “os engarrafamentos na estrada de
mão dupla que leva à loja de bebidas mais próxima”. O que? Bem,
pelo menos voltamos ao alcoolismo. Será que ele está insinuando
que essas pessoas estão morrendo de tanto fumar em carros
fechados, enquanto esperam na fila para comprar uma garrafa de
bebida em seu caminho para o hospital, de modo que possam dirigir
bêbadas e bater com o carro, quando o seu diabetes era a grande
questão desde o início? É claro que essas pessoas abrem caminho
para o diabetes bebendo, fumando e comendo. Geneticamente,
porém, são pessoas que não possuem tolerância em relação à
perda de sono e suas conseqüências: compulsão por açúcar e
depressão.
Elas estão vivendo num ambiente alienígena para sua genética
grupal.
O nosso ambiente.
Todas elas apresentam os mesmos sinais que nós de toxicidade
provocada pela luz, aliada a um nível extraordinário de estresse.
obesidade, doenças cardíacas, hipertensão, alcoolismo, suicídio em
conseqüência de depressão e, finalmente, infertilidade – tudo isso
está no futuro delas.
O fumo é o menor dos seus problemas.

MATA DIREITO

A genética e o estilo de vida têm peso igual na situação dos


americanos nativos, quando a gente se lembra da máxima “Mude o
ambiente e o ambiente vai mudar você”. Como é previsível, sem a
adaptação genética para administrar a mudança tóxica no
ambiente, todos vão morrer. Na verdade, na época e no tempo em
que vivemos, apenas os americanos nativos que não tiverem seu
complemento genético “normal” vão sobreviver.
No momento, eles estão encalhados no mesmo “surto de
velocidade” evolucionário que nós enfrentamos, há cerca de 80 mil
anos, com o advento da agricultura, e mais a nova cruz que temos
de carregar, a toxicidade pela luz, que resulta na privação do sono –
a mesma cruz que nos leva a comer até morrer. A maior diferença
para eles, em nosso tempo, é sua situação socioeconômica. Nossa
hegemonia cultural só faz aumentar os danos, em toda e qualquer
instância possível. Um povo que vive sob constante estresse, sem
um período adequado para a adaptação genética, vicia-se
naturalmente quando tem oportunidade de se automedicar. A
verdade dessa questão se forma através do perfil de Britton
MataDireito na matéria do New York Times.

Pág 143
No excerto do artigo que transcrevemos a seguir, o Sr.
MataDireito está discutindo o caminho vermelho, uma nova
abordagem para o tratamento do alcoolismo que vem sendo testada
nas reservas indígenas. O Caminho Vermelho é uma referência à
antiga crença, entre as tribos, de que só há duas escolhas para os
povos nativos: o Caminho Negro, que leva ao desespero e à morte,
ou o Caminho Vermelho, que leva à paz e à harmonia.
Esse programa de consciência-cultural-suada, pseudo-doze-
passos, convoca os nativos americanos alcoólatras a “viverem num
Dia Vermelho”. Tarefa nada fácil. Assim como a maioria dos
participantes do programa, o Sr. MataDireito vive num mundo
marcado pelo abandono, pelo vício e pela violência. E pode apostar
que essas experiências se transformam na sua biologia.
Ele começou a beber com a idade de seis anos, quando viu um
homem branco jogar sua mãe de uma janela. Com doze anos,
comprou uma tatuagem que dizia: “Mais cerveja.” Aos 25, estava
desempregado e vivendo num alojamento do governo, enquanto
tentava reavaliar sua curta existência. Em sua entrevista, ele
atribuiu o fracasso de sua tentativa anterior de deixar o álcool aos
métodos de tratamento usados pelo homem branco:

“Participei do tratamento contra o álcool do homem branco com


dezesseis anos”, disse o Sr. MataDireito, os cabelos negros
presos num rabo-de-cavalo, o olhar intenso e os punhos
cerrados. “Eles mandavam a gente fazer umas coisas, como
dançar com os vídeos de Richard Simmons. Eles punham a
gente para fazer exercícios com músicas que eu não conhecia
– ‘suar ao som dos velhos sucessos’, é isso que eles diziam
que era.”

Ele devia ter ligado para o Escritório de Assuntos Indígenas.


Resumindo: apenas uma semana depois de deixar o tratamento
pela abstinência, ele estava bebendo novamente.
Não sabemos como ele conseguiu agüentar tanto tempo.
O New York Times publicou uma foto do Sr. MataDireito durante
sua recuperação, em sua casa-trailer, exibindo orgulhosamente sua
tatuagem de “Mais cerveja”, debaixo do brilho incessante de uma
luz fluorescente de teto, com a televisão ao fundo. Repare a garrafa
de Pepsi de dois litros, vazia até à metade, à sua frente – e o
cinzeiro repleto de pontas de cigarro.
Achamos que essa foto diz tudo.

Pág 144
O Sr. MataDireito apenas trocou de lugar no Titanic.
Se ele tiver sorte, algum assistente social bem-intensionado da
clínica indígena próxima ao centro de tratamento de diabéticos vai
lhe conseguir uma receita de Prozac – e quem sabe algum Zyban
para combater o fumo. Quando se descobrir que ele tem doença
coronariana e diabetes aos 36 anos, os médicos vão por a culpa no
cigarro ou na proximidade da loja de bebidas alcoólicas, sem
nunca perceber que uma vida inteira de estresse incompatível e
doze anos de Prozac para aliviar o tormento criaram um “estado de
pânico” de serotonina alta tão insuportável que seu coração está
prestes a parar.

Pág 145

SETE
Melhor lugar para
esconder uma mentira
é entre duas verdades:
O que faz parar o maior relógio
de seu corpo
Nossos batimentos cardíacos nos dão a certeza de que estamos
bem. Temos pavor de pensar que ele possa parar, temos pavor de
pensar que o coração daqueles que amamos possa silenciar. Meu
coração está partido, respondemos, como se ele fosse um bloco de
giz espatifado por um martelo.
– Diane Ackerman,
A Natural History of the Senses

A verdade, escondida, enterrada no fundo da síndrome do uso


de antidepressivos, é que o fenômeno “insone” que cria os níveis
anormalmente elevados de serotonina no cérebro, responsável pela
depressão que todos nós experimentamos, causa simultaneamente
doenças cardíacas.
A mídia, os médicos e os pesquisadores vão todos dizer que as
pessoas gordas têm mais probabilidade de ter ataques do coração,
porque têm colesterol alto e pressão alta – porque são gordas. E
todo mundo sabe que as pessoas gordas são gordas porque
consomem alimentos gordurosos. As pessoas gordas realmente
têm colesterol alto e pressão alta, que provocam ataques cardíacos,
mas o fato de consumirem alimentos ricos em gordura não tem
nada a ver com isso. Esta é a mentira que eles estão
escondendo.

Pág 146
As pessoas gordas simplesmente estão cansadas demais para
viver.
O sono controla o seu apetite por carboidratos, cujo consumo
controla a retenção de líquidos (para modificar sua pressão arterial)
e a produção de insulina (que facilita a produção do colesterol). Se
não há sono, não há controle. E a serotonina se acumula. Quando
você não dorme e come carboidratos todos os dias, meses, anos,
décadas, você fica nadando num estado crônico de serotonina
elevada, porque ela nunca consegue se transformar em melatonina.
É daí que vêm a depressão e os problemas cardíacos.
É sabido que as pessoas tristes têm coração partido, e as
pessoas com o coração partido são realmente tristes.
As pessoas deprimidas têm mais ataques cardíacos, e as pessoas
com doenças cardíacas estão sempre deprimidas. Os cientistas
sabem que a depressão e a doença cardiovascular andam de mãos
dadas.
Só o público é que não tem a menor idéia de que isso acontece.

Pág 146

Já delineamos aqui o efeito de ficar sem dormir – mais carboidratos,


mais cortisol e menos melatonina – sobre a compulsão e o
metabolismo dos açúcares e gorduras na corrente sangüínea.
Concluímos que, quando você não passa fome e nem hiberna
durante uma boa parte de uma viagem planetária em torno do sol,
todo o açúcar e os carboidratos que você consome “fora de
estação” causam obesidade, depressão e finalmente diabetes Tipo
II (não-dependente de insulina). Isso acontece porque a insulina
existe para facilitar, apenas por algum tempo, o “uso” dos açúcares
como glicose no sangue. Após aquele período evolutivo normal –
uns poucos meses – estimulam-se adaptações diferentes às
mudanças do clima.
Podemos lidar com o intenso estresse da época de acasalamento
e de preparação para a hibernação apenas durante alguns dos
doze meses do ano. Durante o resto do ano, todos os nossos
sistemas necessitam de um alívio para se preparar para o próximo
soar do gongo, quando o verão chega de novo.
O estresse do acasalamento é único. Na natureza, quando há
muita luz, um homem vai passar os dias tentando se acasalar – o
que significa luta contínua com outros machos, e também
sangramento constante, na maioria das vezes. Uma mulher, vendo
tantos homens tentando acasalar-se com ela, também passa por
um estresse excessivo.

Pág 147
A serotonina (que se eleva em resposta ao estresse do medo,
quando você come carboidratos) controla a vasoconstricção e a
agregação de plaquetas, por uma razão real, no mundo natural.
Você nunca entraria num estado de pânico, a menos que o que o
estivesse assustando arrancasse sua perna fora ou o atingisse com
um tacape e o fizesse sangrar até morrer. A principal cadeia de
eventos na doença cardiovascular – pressão alta, constricção dos
vasos sangüíneos, aumento dos fatores coagulantes, colesterol alto
e canais de cálcio porosos – espelha todos os sintomas da
síndrome de hibernação prolongada. Todos esses sintomas são
reversíveis com uma quantidade adequada de sono, que eleva a
melatonina e suprime seu apetite por carboidratos.
Para evitar doenças cardíacas, você precisa parar de comer
açúcar durante mais da metade do ano, porque os níveis
anormalmente elevados de serotonina provocados pela insulina na
qual você está nadando não apenas cria um estado maníaco-
depressivo; ela também aciona seu sistema nervoso simpático, que
é o motor quântico primitivo que conecta seu coração e seu
cérebro. Ele controla a resposta “lutar ou fugir” que pode salvá-lo
quando você não consegue se salvar sozinho.
Mais importante ainda: o sistema nervoso simpático corre através
de moléculas chamadas fatores de crescimento nervoso (NGF), em
seu coração, e de seus contrapartes no cérebro, os fatores
neurotróficos derivados do cérebro (BDNF). O BFNF é responsável
pelo crescimento das células cerebrais chamadas neurônios e suas
ramificações, os dentritos. Os centros de energia que alimentam o
crescimento desses neurônios e dentritos são as células de seu
cérebro chamadas glias.
Em pessoas cronicamente deprimidas, os pesquisadores
observam uma perda drástica das células glias. E as células só
morrem quando ficam sem combustível. Acreditamos que esta
morte seja o resultado de resistência lozalizada à insulina no
cérebro, que precede o diabetes cerebral da esquisofrania. As
células gliais normalmente crescem quando alimentadas pelo
açúcar que chega a elas através dos receptores de insulina. No
entanto, graças à resistência à insulina (provocada pela ingestão de
carboidratos durante um período longo demais) atinge o cérebro, as
glias morrem e o BDNF cai. O efeito sobre a consciência é a
depressão. Não importa se é um desequilíbrio de
serotonina/dopamina, de GAQBA/NMDA ou de insulina/cortisol, ou
se é uma falta de BDNF/NGF, porque tudo é a mesma coisa. Todos
os trilhões de sistemas circulares de resposta dos trilhões de
diferentes moléculas em

Pág 148
suas células, com trilhões de nomes diferentes, fazem seu trabalho
simultaneamente, para que você continue se adaptando.
Normalmente, uma das principais funções evolutivas do BDNF
sobre seus neurônios é adaptar-se às mudanças ambientais,
fomentando o crescimento de dentritos, que abrem novos caminhos
para que se possa aprender coisas novas e recordá-las. Essa
capacidade nos permite mudar nosso comportamento para nos
adaptarmos a novas circunstâncias e sobreviver. Sem o BDNF para
reforçar a expansão ao longo dos atalhos de serotonina e de
dopamina e fortalecer as conexões com o hipocampo, nós não
apenas seríamos incapazes de suportar circunstâncias, lembrar ou
aprender: nós morreríamos. Ou a gente se suicidaria ou nosso
coração pararia.
O NGF (fator de crescimento nervoso) no coração realiza as
mesmas tarefas de crescimento nervoso que ajuda o coração a se
lembrar e a suportar dificuldades. Mas a resistência à insulina nos
músculos do coração significa que nenhum açúcar do sangue vai
para as células que fornecem NGF. Quando falta NGF, as conexões
da memória (sinapses) enfraquecem e o coração literalmente
esquece de manter o ritmo. Essa falha afeta a variabilidade dos
batimentos de que você precisa para lidar com as situações
estressantes. Seu coração e sua mente são uma coisa só.
Quando você mantém as luzes acesas para criar um verão
infindável, e tem acesso a um estoque inesgotável de carboidratos,
todos os seus hormônios permanecem também no modo de verão.
Não apenas as nossas mentes, mas também os nossos corações
vivem no “pânico” constante da época do acasalamento
(competindo para conseguir recursos, mudanças hormonais
bruscas de humor e, no final, perda), que costumava coincidir com o
verdadeiro verão. Dessa forma, dia e noite, o ano todo e década
após década, nossos hormônios sexuais ficam em franca atividade
– e nós, prontos para a luta. Esse estado de pico e prontidão é uma
circunstância com a qual só estamos preparados para lidar durante
uns cinco meses, no máximo, dos doze meses do ano.
As mentiras sobre baixo teor de gordura das décadas de 1970,
1980 e 1990 só fizeram exacerbam um enorme problema técnico
evolutivo, ao recomendarem uma dieta com mais carboidratos e
exercícios, que induzem a picos de cortisol e de insulina jamais
vistos em seres humanos. E tem também a psicose de uma
população mentalmente consumida pelo sexo, mas não precisamos
chegar lá. Porque o que é importante você saber, e saber até os
ossos, é que, quando você não dorme, seu coração morre.
É simples assim.

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ARRASTANDO-SE PARA MORRER
O que acontece ao maior relógio de seu corpo quando a luz nunca
se acaba ao pôr-do-sol? Quando o combustível que alimenta seu
coração nunca varia e o pânico percebido em sua mente nunca tem
fim? Tantas coisas que você nem pode imaginar.
E nenhuma delas é boa.
Suas artérias realmente “sentem” o sangue correr através delas.
Os sensores que lêem a força com que seu sangue puxa e
empurra, ao correr através de seu corpo, são chamados células
endoteliais. Essas células vivem à própria maneira. Elas mudam de
forma, movimentam-se e ativam/desativam uma miríade de genes,
em resposta à pressão sangue e à velocidade, aos hormônios e
citocinas que detectam no sangue e aos fótons trazidos ao sangue
pelas células chamadas criptocromos. (As células endoteliais
controlam sozinhas a dinâmica de fluidos do fluxo sangüíneo; ou
seja, elas distribuem as forças para evitar extremos perigosos.)
As células endoteliais também controlam a metabolização dos
ácidos graxos que flutuam em seu sangue. Os ácidos graxos são
aquilo que o médico mede quando o ameaça por causa de seu
colesterol alto. Os exames de sangue que ele pede para avaliar seu
colesterol analisam diferentes componentes cujas siglas são VLDL,
HDL e LDL. Se as LDLs (lipoproteínas de baixa densidade) são
divisões das VLDLs (lipoproteínas de baixíssima densidade) que
foram fabricadas em seu fígado, a partir dos carboidratos que você
comeu e se transformaram em partículas LDL – menores, pesadas
e oxidadas –, tudo isso vai depender exclusivamente de suas
células endoteliais.
O médico lhe diz para não comer antes do exame. Isso é
necessário não porque uma refeição rica em gorduras vai mascarar
os resultados; uma refeição rica em carboidratos é o que o faz. Os
carboidratos se transformam em triglicérideos (gordura corporal),
para insulá-lo e nutri-lo quando não houver mais açúcar disponível
para comer. Os carboidratos também se transformam,
simultaneamente, nesses ácidos graxos (colesterol), para proteger
suas células cardíacas contra vazamentos, caso você congele, e
para nutrir as células musculares de seu coração.
Seu coração possui um metabolismo sazonal da mesma forma
que seu cérebro. O coração do verão funciona com açúcar puro
(glicose) e o coração do inverno funciona com ácidos graxos livres.
Como é sempre

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verão em nossos corações, nossas artérias nunca têm chance de
usar todo o colesterol disponível. Além disso, a serotonina continua
a se acumular, o que provoca resistência à serotonina, que por sua
vez provoca pressão alta, no caminho para a formação de coágulos
e – enquanto as luzes estiverem brilhando – cortisol
permanentemente elevado. E você sabe muito bem o que significa
qualquer coisa em estado crônico.
A resistência ao cortisol é uma situação desastrosa.
A produção de cortisol é um mecanismo sempre à disposição de
suportar situações, de lidar com o estresse episódico. A cobertura
de seu coração adora cortisol, em pequenas doses. As células
endoteliais da cobertura de seu coração não podem realizar todas
as suas tarefas sem doses pequenas e administráveis de cortisol.
Doses grandes, no entanto, são sinal de grande perigo para suas
células endoteliais. Doses grandes o dia inteiro, a semana inteira e
o ano inteiro, durante décadas, significam resistência ao cortisol na
certa.
Além de mau humor, impaciência, percepção mascarada do
tempo e pânico generalizado.
Não importa se a gordura que você ingere é saturada ou não-
saturada, se é boa ou ruim; se as células endoteliais da cobertura
de seu coração estiverem mortas, você também está. A cobertura
de cada vaso sangüíneo de seu corpo é fundamental no esquema
maior do órgão sensorial conhecido como coração.
A corrida de seu sangue, o puxa-empurra, é um esforço sobre as
paredes de suas artérias. O esforço sobre uma almofada macia de
cobertura formada por células endoteliais ativa três genes muito
importantes: um que produz óxido nítrico, que controla o
estreitamento de seus vasos sangüíneos, que por sua vez controla
a velocidade e o volume de sua pressão arterial, e dois genes que
inibem a formação de coágulos e suavizam qualquer formação
muscular anormal (formações grumosas). Células endoteliais que
captam turbulência demais ou, no extremo oposto, nenhuma
turbulência, ativam muito pouco esses genes. E isso é mau.
Isso significa que, embora correr o tempo todo numa esteira
produza excesso de turbulência, ficar o tempo todo colado à
televisão ou à tela do computador é ruim do mesmo jeito. Um pouco
de estresse, episodicamente, é bom – da mesma forma que um
pouco de cortisol, episodicamente, mantém o ritmo e prova que
você está vivo.
Excesso de estresse crônico, é claro, para a natureza significa
que você é um perdedor e deve ser eliminado de forma
permanente. Um

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pequeno banho de cortisol, porém, faz as células endoteliais muito
felizes; já o excesso vai afogá-las. Como seu cortisol fica alto
enquanto as luzes estiverem acesas, você provavelmente está se
afogando. Por isso, só o fato de manter as luzes acesas até tarde
da noite o ano todo já causa a morte das células endoteliais.
Qualquer elevação na pressão arterial, a partir de seu sistema
nervoso simpático ou em função da pesada ingestão de
carboidratos na estação errada, vai alterar a pressão e, com isso,
criar ainda mais esforço, para matar suas células endoteliais
duplamente. Lembre-se de que os cinco quilos de peso de água
que você carrega enquanto está numa dieta rica em
carboidratos já é um aumento de volume suficiente para responder
pela pressão alta subclínica crônica, observada na maioria dos
homens acima de 35 anos de idade.
Qualquer pressão alta, não importa o quão leve seja, sempre
significa esforço.
O outro assassino importante das células endoteliais da cobertura
do seu coração é o nível cronicamente alto de endotoxina LPS.
Lembre-se de que a endotoxina LPS é o “suor” bacteriano
proveniente dos dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em
suas entranhas, e que, à medida que se eleva, ativa seu sistema
imunológico e a interleucina-2, que faz você dormir e baixa
novamente o número de bactérias. Quando você luta contra o sono,
porém, esse número se eleva e permanece alto.
Isso mata o seu coração.
A maneira mais obscura de matar suas células endoteliais por não
dormir é através da homocisteína elevada. Um homem chamado
Kilmer McCully percebeu, há cerca de trinta anos, que crianças
portadoras de uma doença genética chamada homocisteinúria
sempre morriam de ataques cardíacos por entupimento das artérias
por volta da idade de dez ou onze anos. As crianças portadores de
homocisteinúria são incapazes, geneticamente, de fabricar uma
enzima que metaboliza a homocisteína, para removê-la da corrente
sangüínea. McCully foi esperto o suficiente para concluir que os
altos níveis de homocisteína acumulada deviam estar também
associados à doença coronariana arterial em adultos. E ele estava
certo.
É claro que ninguém o levou a sério, até que os cientistas
descobriram que um aumento de suplementos de ácido fólico
compensava a falta da enzima nos caminhos de eliminação da
homocisteína. E, como surgiu um tratamento, de repente apareceu
também uma doença: deficiência genética de ácido fólico. Minha
nossa!
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Uma deficiência genética de ácido fólico generalizada na maior
parte da população masculina que chega à idade madura é algo
virtualmente impossível; então, sabendo que ninguém havia
montado o quebra-cabeça, nós investigamos o caminho da
fabricação e da metabolização da homocisteína. Sem dúvida
nenhuma, a apenas alguns sistemas circulares de resposta e
cascatas atrás, uma enzima que é crucial para metabolizar a
metionina – a precursora da homocisteína – é abatida por um
criptocromo carregado de luz azul. A quantidade de luz do dia a que
você é exposto, agravada pela quantidade de luz artificial, controla
a produção de uma coisa diminuta, aparentemente esotérica, lá em
cima na cascata dos outros hormônios e funções, que pode matar
você.
Então.
As células endoteliais – que forram o seu coração – controlam a
formação de coágulos, o crescimento excessivo, o metabolismo de
gorduras e a pressão arterial. Você pode matar suas células
endoteliais de quatro maneiras:

1. Cortisol elevado crônico (luz inesgotável)


2. Altos níveis de endotoxina LPS (não dormir)
3. Homocisteína alta (luz em excesso)
4. Esforço (pressão arterial elevada sazonal – junto com “peso de
água” dos carboidratos, além de resistência à serotonina e à
insulina – que nunca acaba)

Como os itens 1, 2 e 3 são o resultado da vida moderna e o 4 – a


dieta de açúcar o tempo todo – é conseqüência direta de 1, 2 e 3,
podemos dizer, com segurança, que a doença cardíaca, que é um
estado caracterizado por células endoteliais mortas, é causada por
não dormir e por excesso de luz, certo?

SEM SAÍDA

A cobertura endotelial também controla o crescimento excessivo de


tecido muscular macio (protuberâncias grumosas), que, ao lado do
colesterol que forma placas, é o fator mais importante da
arteriosclerose (artérias entupidas). Um fluxo sangüíneo difícil, em
terreno acidentado, ativa um conjunto de genes totalmente
diferentes nas células endoteliais. Esses outros genes são postos
em marcha para “corrigir” aquilo que as

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células endoteliais interpretam como sendo um problema de “fluxo”,
simulando pelas protuberâncias grumosas.
As placas de colesterol, por si mesmas, não são responsáveis
pelo terreno acidentado.
O problema é causado pelos “fatores” imunes liberados pelas
próprias células endoteliais, numa tentativa protetora de restaurar a
homeostase e distribuir o fluxo sangüíneo. Um fluxo anormal, na
verdade, desliga os genes protetores e causa pânico entre as
células endoteliais. Após liberarem os fatores imunes que se
fecham, elevando sua pressão arterial por engano, elas começam a
se agachar em torno, estendendo pseudopodos (pezinhos), para
escapar de áreas onde o espaço mudou abruptamente.
A migração dessas células que forram suas artérias leva ao
afinamento da parede arterial. Os claros são preenchidos por
células imunes, chamadas leucócitos, que formam uma casca
suficientemente grudenta para atrair o colesterol que flutua na
corrente sangüínea. Este faz um band-aid de gordura para reforçar
a parede arterial que afinou. A essa altura, você tem placas de
colesterol, crescimento excessivo de tecido muscular macio e
células imunes, produzindo o que se conhece por células de
espuma.
As células de espuma constituem uma “lesão”.
Essa nova bagunça forma um terreno excessivamente
“acidentado” e um fluxo extremamente dificultado, o que
enlouquece ainda mais as suas pobres células endoteliais. Elas
fogem e a parede da artéria afina; e quando seu sistema
imunológico tenta consertá-la, ela vai ficando cada vez mais
acidentada – e aí, claro, as células endoteliais mais uma vez
escapam, e toda a confusão começa de novo. E de novo e de novo.
Você só percebe esse quadro porque não morreu ainda.
Provavelmente você já teve uma forte dor no peito ao se exercitar.
E sem dúvida também está achando cada vez mais difícil combater
a depressão causada por todos os carboidratos que ingeriu e pela
serotonina anormalmente alta que se acumula, porque não tem
para onde ir. Sim, porque quando você nunca apaga as luzes, a
serotonina não tem como se transformar em melatonina. Na
verdade, a luz suprime a enzima que converteria a serotonina em
melatonina. Além de fazer você ficar triste, esses níveis absurdos
de serotonina criam resistência à serotonina nas plaquetas do
sangue, o que as torna mais grudentas que o usual. Isso é
importante, porque é difícil ter um ataque cardíaco sem um coágulo
sangüíneo, e é difícil ter um coágulo sangüíneo sem plaquetas
grudentas.

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Você está cansado, ansioso, infeliz, miserável, viciado em açúcar
ou em álcool, talvez dependente de Prozac – e anda por aí com a
cobertura do coração morta, mantida de pé à custa de estacas de
colesterol.
Você tem uma doença cardíaca.
E provavelmente vai morrer... logo.

A MORTE POR FEITIÇO

Qualquer médico que lesse a descrição anterior lhe diria que você
vai ter um ataque cardíaco, e que isso vai acontecer por causa das
placas de colesterol que estão entupindo as suas artérias. Mas isso
não é verdade. Sim, é provável que você tenha um ataque cardíaco,
mas a culpa não é do colesterol. Na verdade, ele é o menor dos
seus problemas. Seu médico, os jornais e a televisão tem mais
chances de matá-lo do que os band-aids de colesterol que você
está usando.
Declaramos isso após ler volumes e volumes de pesquisa de
ponta sobre o fenômeno do “ataque cardíaco”. Doença cardíaca
não é ataque cardíaco. Uma doença cardíaca pode ser qualquer
ponto da escala, desde a doença cardiovascular acompanhada de
pressão arterial elevada e formação de placas de colesterol, até a
cardiomiopatia (músculos cardíacos cansados ou danificados), que
leva à insuficiência cardíaca congestiva, com inúmeras variações
sobre o mesmo tema. Ataque cardíaco é quando seu coração se
estreita em um último e fatal batimento, e não retorna mais.
Se não são as placas de colesterol, e se não são as plaquetas
grudentas, qual é a causa do ataque cardíaco? Para deduzir a
origem real da morte por ataque cardíaco, vamos fazer a pergunta
que fizemos tacitamente em todos os outros capítulos, até agora:
Quando e onde este evento físico que agora observamos poderia
ocorrer na natureza?
A menos que possamos responder a essa pergunta, estamos
usando o “remédio” (leia-se ciência) errado. É uma técnica
imbatível, que sempre nos leva à inegável verdade, ao revelar o
mecanismo natural que foi inadvertidamente confundido pela vida
moderna. Já desmascaramos a obesidade ao examinarmos o
metabolismo banquete-ou-fome. Podemos entender a premissa
metabólica por trás do diabetes tipo II, dentro da lógica da
hibernação. A doença mental pode ser entendida como um

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produto do estoque de alimentos e da fadiga, que depende do limite
– ou seja, quanto você pode suportar antes de desmoronar?
Então, mais uma vez e pela primeira vez, em se tratando de
doença coronariana arterial, quando, e sob que circunstâncias, um
ataque cardíaco ocorreria na natureza?
A resposta é: somente num estado de pânico.
Os animais só sofrem ataque cardíaco súbito quando literalmente
morrem de medo. Seus corações são transformados em pedra pelo
próprio mecanismo “lutar ou fugir” de seus corpos. A base da
experiência humana de um ataque cardíaco deve residir nos
mesmos mecanismos.
Analisamos estudos que avaliaram mortes ocorridas durante
terremotos e ataques de mísseis, para procurar evidências que
dessem suporte a essa premissa. Analisamos mortes ocorridas em
1994, durante o terremoto de Northridge, próximo a Los Angeles, e,
em 1991, durante o ataque de mísseis do Iraque sobre Israel. Não
só descobrimos que muitas mortes não foram conseqüência do
trauma, mas que pessoas sem prévios problemas cardíacos, em
muitos casos, morreram realmente de medo.
Na média, houve um aumento de 40% nos ataques cardíacos
ocorridos em ambos os dias mencionados. O terror, em uma pessoa
que em situação normal seria considerada sadia, pode provocar
uma mistura química tão potente que é capaz de induzir um influxo
cataclísmico de cálcio em todas as suas células do coração; isso
faz o coração se contrair tão violentamente que nunca mais
consegue relaxar. O “estado de medo” causado pelos níveis de
serotonina crônica e anormalmente elevados, que já detalhamos
anteriormente, coloca sua mente e seu coração num estado perene
e quase permanente de pânico psicológico.
Num notável ensaio, publicado há mais de quarenta anos na
revista American Anthropology, Walter Bradford Cannon, um
fisiologista da Escola de Medicina de Harvard, descreveu de que
forma, em muitas culturas primitivas, uma maldição lançada por um
mágico ou curandeiro todo-poderoso era suficiente para matar uma
pessoa crente. O coração dessa pessoa literalmente parava.
E se só isso já não é suficiente trágico, a medicina moderna
aumenta o medo, tornando-o palpável. A televisão e os anúncios
impressos nos bombardeiam com novidades do front sobre “a
guerra às doenças cardíacas” – para o caso de você não ter notado
que seu coração estava tentando matá-lo. Somos ensinados a odiar
o nosso

Pág 156
coração. É verdade que os seres humanos sempre foram
obcecados por seu coração na vida, na arte e na literatura. Agora,
estamos obcecados pela saúde do nosso coração. Parecemos estar
presos em relações de interdependência com cardiologistas,
pesquisadores e fisiologistas especializados em exercícios – e
numa luta alimentar mortal contra a sonhada indepenência de
nossos corações.
Graças sobretudo à mídia, e à paranóia americana em geral,
estamos muito mais assustados a cada minuto com relação ao
nosso coração do que em tempo algum da história – nem mesmo
durante a epidemia de gripe de 1914, que matou 20 milhões de
pessoas em todo o mundo. As pessoas, atualmente, estão muito
mais preocupadas com as doenças cardíacas do que o pessoal
daquele época estava com a gripe.
Estamos vivendo tempos verdadeiramente estranhos.
Acrescente-se a esse terror generalizado as duas visitas anuais
ao cardiologista, ou uma ida até à quitanda da esquina, por falar
nisso, para comprar suco “sem gordura”, hambúrgueres de peru
sem gordura e pratos combinados de massa de baixo teor de
gordura, que vão ao freezer e ao fogo, sob luzes fluorescentes cujo
brilho equivale ao de dez mil sóis artificiais.
Não admira que estejamos bebendo algo mais do que suco.

INVASORES ALIENÍGENAS

Se você está tentando viver numa dieta de baixo teor de gordura


e faz exercícios até ficar todo machucado, provavelmente vai ter um
ataque cardíaco. Ele vai acontecer sob algum tipo de estresse fora
do normal, seja ele emocional ou físico, enquanto seu coração
estiver batendo só um pouquinho mais depressa do que
normalmente o faz. Uma dessas placas que acabaram de se formar
vai quebrar quando seu coração se espremer fortemente, e o
colesterol líquido não metabolizado, acumular no centro da placa,
vai se derramar em sua corrente sangüínea – e, dentro de dez
segundos, seu sistema imunológico vai tentar compensar isso e
vedar o buraco com uma barragem de leucócitos e coágulos
sangüíneos. É a falta de espaço em sua artéria estreitada, cheia até
à borda de ações imunes, que interrompe o fluxo sangüíneo para o
músculo e causa a morte das células.
A menos que você tenha sorte e os vizinhos precisem de um lugar
para quebrar.

Pág 157
Um coração ocluso e entupido de colesterol pode não matá-lo se
seu sistema imunológico tolerar a simbiose com uma ou mais das
formas de vida oportunistas que inevitavelmente vão entrar nas
placas que formam suas artérias. Se você seguir os artigos de
jornais sobre a “nova” teoria, que citam a infecção como a causa da
doença cardíaca, estará familiarizado com os nomes como H.
pylori, vírus CMV, Chlamydia pneumoniae e cáries dentárias. Até
certo ponto, os artigos estão corretos. Um ou mais desses
coabitantes da Terra vão infectar a placa de colesterol que se
formou quando suas células endoteliais o abandonaram.
A H. pylori é também chamada Helicobacter pylori. É uma bactéria
comum, que em geral infecta a maioria de nós durante a infância.
Em pessoas com flora intestinal (bactérias) desequilibrada, a H.
pylori pode causar a produção excessiva de ácido, o que leva a
úlceras. Tagamet e Zantac são duas drogas muito vendidas, que
suprimem a resposta do sistema imunológico a esse infeliz estado
de coisas. Agora, a maioria dos médicos decidiu que uma terapia à
base de antibióticos para matar a Hp, e provavelmente algumas
centenas de outras bactérias inofensivas em seu intestino, é a
melhor forma de lidar com as úlceras estomacais. Afinal, porque
usar uma pistola, se podemos usar uma bomba de hidrogênio?
Sentimos que as conexões entre a doença cardíaca e a Hp são,
na melhor das hipóteses, frágeis. São baseadas em trabalhos sobre
o sangue, que demonstram que um grande número de pessoas
com doença arterial coronariana também apresentam exames
positivos quanto à presença de Hp, e que o tratamento com
antibióticos reduz a incidência de ataques cardíacos. Não é uma
grande conexão. A evidência do citomegalovírus (CMV) como
ferramenta evolutiva é muito mais forte. E a história sobre a
Chlamydia é completamente fascinante. Parece que a Chlamydia
não só infecta como infarta. O ataque cardíaco é chamado pelos
médicos de infarto do miocárdio. Mas não é a Chlamydia, em si,
que causa a inflamação que leva ao ataque cardíaco.
Trata-se de uma história muito mais antiga.
Sempre que um parasita realiza uma invasão, não teria o menor
sentido, para ele, ameaçar a vida do hospedeiro. A Chlamydia
segue essa regra. Os danos que recaem sobre seu hospedeiro
acontecem em função do sistema imunológico humano e da
imitação molecular. Na natureza, um dos truques mais antigos é o
disfarce. Os insetos chamados bichos-pau se parecem,
previsivelmente, com os galhos sobre os quais caminham. A
Chlamydia cria um disfarce ao usar, em sua cobertura externa,

Pág 158
uma proteína que lhe permite penetrar em nosso sistema
imunológico. Infelizmente, a proteína é exatamente igual àquela que
normalmente existe no músculo cardíaco. Se você tem o azar de
possuir um sistema imunológico realmente esperto, que não seja
enganado pela imitação molecular executada pela falsa cobertura
de proteína da Chlamydia, ainda assim estará enterrado até os
joelhos em ironia, porque o próprio sistema imunológico vai eliminá-
lo quando reconhecer o impostor e matar as células cardíacas
infectadas por ele.
Tanto a H. Pylori como a Chlamydia, junto com a endotoxina LPS,
o cortisol alto, a homocisteína e a prerssão alta subclínica, são
condições que poderiam ser eliminadas pelo sono em sincronia
com as estações, porque seu sistema imunológico naturalmente
seguraria a sua ponta do cabo-de-guerra ecológico.
Os vírus, por outro lado, são animais totalmente diferentes,
literalmente.
Vírus não são micróbios ou germes. Vírus são fragmentos de RNA
e de DNA que agem como ferramentas evolutivas. A entrada de
DNA novo num organismo, no nível do genoma, significa, para esse
organismo, simbiose ou morte. Em geral, o vírus que entra confere
algum benefício que contribui para a capacidade geral de
sobrevivência do novo organismo combinado, mas às vezes isso
não acontece. Os vírus são específicos das espécies, e em geral
preferem as espécies que escolhem. Os vírus da herpes, por
exemplo, vive nos primatas, inclusive nós.
A herpes não é capaz de se unir ao nosso DNA, mas também de
ativar e desativar genes que regulam o crescimento, como o P53,
fazendo com que muitos pesquisadores acreditem que o CVM e o
MDV, ambos da família da herpes, estejam implicados no
crescimento desordenados de células musculares macias, que em
última instância contribuem para formar as infames células de
espuma.
Nós não concordamos com isso.
Acreditamos que um vírus da herpes pode, na verdade, salvar sua
vida. Chagamos à nossa teoria através da física, da biologia
evolutiva, da bioquímica e, é claro, da cosmologia. Citamos uma
pesquisa feita por Joseph Zasadzinski, da Universidade da
Califórnia, em Santa Bárbara, que está trabalhando com os
sistemas de distribuição interna das drogas. Ele conseguiu criar
uma membrana celular com apenas uma camada de lipídios.
Aparentemente, tudo o que o RNA, ou mesmo o DNA, precisa para
fazer uma casa é uma casca fosfolipídica.

Pág 159
Dentro de cada uma das bolinhas de fosfolipídios, todas juntinhas,
que estão dentro de nós, está o DNA. Este modelo é o modelo de
todo tipo de vida. No entanto, a única razão pela qual os vírus
residem num submundo ambíguo das coisas inanimadas é que eles
não são realmente seres vivos, até encontrarem uma célula e se
mudarem para dentro dela. Os fragmentos de DNA, assim como os
de CMV ou MDV, podem morar na placa em seu coração.
Correlacionamos este fato com a descoberta de que 92% de todas
as placas examinadas em autópsias de mortes não relacionadas a
problemas do coração possuem presença evidente de proteínas
CMV.
Nós sustentamos que a razão pela qual os cardiologistas
concordam em que uma oclusão de 20% das artérias coronarianas
vai matá-lo com muito maior freqüência que uma oclusão de 80% é
o fato de o vírus se mudar para a placa e utilizar os lipídios
presentes nela para criar uma “célula” onde possa viver e se
reproduzir. Ao fazer isso, o vírus estabiliza a placa e faz com que
ela possa suportar muito mais pressão, além de solidificar o líquido
central, que é perigosamente imuno-reativo.
Isso pode lhe causar arrepios, mas faz sentido em termos
evolutivos.
Encontramos mais evidências no trabalho de H. Kaunitz,
publicado na revista Medical Hypotheses, em 1995. Ele concluiu
que “estudos realizados em pessoas que haviam morrido com
estágios avançados de aterosclerose demonstraram que [elas
tinham] a maior expectativa de vida possível”. Ele percebeu que
havia evidências de que “a natureza inflamatória dos vírus
(particularmente os da família da herpes humana) tinha um efeito
protetor”.
Em outras palavras: aquilo que não o mata, torna-o mais forte.

NUM BATIMENTO DO CORAÇÃO


Tum-tum, bam-bam, ton-ton, tic-tic... seja interpretado verbalmente
ou escrito, todos nós reconhecemos um batimento cardíaco ou a
falta dele. Todas as células do nosso coração, como pequenos
diapasões, fazem ressoar essa batida.
O batimento, executado por nossas “cordas do coração”,
reverbera por todo o sistema circulatório. Mas nós não pensamos
nisso com freqüência, a não ser que algo cutuque lá dentro – ou
pior, que a gente sinta dor. As palpitações são absurdamente
alarmantes; a dor é totalmente incapacitante, emocional e
intelectualmente. Os bebês, no útero

Pág 160 materno, são os convidados de um concerto em


movimento, cuja sonoridade é mais parecida com a do vento e das
ondas do que com qualquer outra coisa. O vento e as ondas
arrastam a mesma quantidade de força ou “energia” que faz o
coração bater todos os dias, de modo que a música é a mesma.
Tanto a medicina tibetana como a chinesa ou a ayurvédica
consideram o som das pulsações a principal chave para qualquer
diagnóstico. Os médicos orientais estudam os ritmos das pulsações
durante vários anos, para que possam se qualificar para a prática
da medicina. Como estudam pelos menos seis pontos de pulsação
diferentes, eles conseguem discernir muitos padrões rítmicos, ou
“músicas” diferentes. Essas máquinas de eletrocardiograma
humanas acreditam que há tantos ritmos diferentes quanto há
doenças. Cada doença tem uma música própria.
Eles ouvem a música e a dissonância.
Felizmente, o número de batimentos cardíacos com o qual somos
aquinhoados é maior do que qualquer um de nós conseguiria
contar; caso contrário, ouviríamos e sentiríamos o terror do tempo
escorrendo. A maioria de nós não conseguiria contar até um bilhão,
se tivesse de fazê-lo. E este é o número mágico: um bilhão de tum-
tuns.
Os biólogos do Instituto Santa Fé, em sua tentativa de classificar
a escala, ou a forma como as várias características de todos os
seres vivos (desde o ritmo da pulsação até a expectativa de vida)
mudam de acordo com o tamanho do corpo, decidiram que cada um
de nós só tem um bilhão de pulsações. Desde o menor musaranho
até uma baleia azul, ninguém tem mais que um bilhão. Mas
tamanho não é documento, quando se trata de tempo, nesta terra.
O rato esgota seu bilhão mais depressa do que o elefante, em
função de suas respectivas taxas metabólicas. Esses cientistas têm
uma fórmula: um gato, cuja massa é cerca de cem vezes maior do
que a de um rato, vive três vezes mais tempo do que um rato. Por
essa razão, o coração do gato bate um terço mais depressa que o
do rato.
As flutuações de todas as escalas de tempo, com o tempo de um
batimento estabelecido a partir do tempo dos últimos batimentos
anteriores, realmente significam que seu coração não está ligado
em apenas suma freqüência. O New England Journal of Medicine
relatou, num artigo publicado em fevereiro de 1999, que o coração
humano apresenta uma resposta elétrica a várias freqüências de
rádio. Ao responder a uma gama de freqüências, nosso coração
protege o cérebro e a si mesmo

Pág 161
de danos que poderiam resultar de uma super-reação a qualquer
estimulo, em qualquer freqüência dada. O coração é feito daquilo
que os cientistas chamam de um meio excitável, ou seja, que gera e
conduz eletricidade. As células cardíacas opostamente polarizadas,
dentro e fora de seu coração, sempre apresentam uma distribuição
desigual de íons, dentro e fora de si mesmas. O sistema nervoso
simpático se comunica com os nervos por todo o corpo e cérebro,
ao iniciar ondas de mudança de polaridade dentro e fora da
membrana das células dos neurônios, assim como das células
cardíacas. O derramamento de íons positivos e negativos dentro e
fora, através de portões localizados nas membranas das células
cardíacas, produz uma “corrente” elétrica. As células musculares do
coração são acionadas por uma corrente elétrica que vem em
ondas polarizadas, e que contrai e espreme o sangue através de
duas câmeras de bombeamento adjacentes, os ventrículos direito e
esquerdo. Existe uma colônia especial de células no topo do lado
direito. Essas células “mantêm o ritmo”, eletricamente.
O fluxo elétrico forma uma espiral ao longo do coração inteiro,
desde a base até a ponta, formando um circuito completo da ponta
para a base, da base para a ponta, contrai, da ponta para a base,
da base para a ponta, contrai. É assim que acontece.

DE CORAÇÃO PARTIDO

Seu coração e seu sistema imunológico, muito mais do que a


massa cinzenta que vemos como o constituinte principal do cérebro,
são sensíveis à própria maneira. O crescimento e o
desenvolvimento de seu cérebro são, na verdade, inteiramente
mantidos pelas citocinas que se originam em seu coração. Nos
estudos sobre o ritmo dos batimentos, encontramos evidências da
participação ativa e inteligente do coração na existência humana.
Seu coração se fecha e se abre como um punho cerca de seis
vezes por minuto, em média. A imagem de um “órgão” organizado,
constante e imutável, que bate feito um relógio, é transmitida a nós
quando ainda bem crianças. Aprendemos que os termos “saúde” e
“ordem” são sinônimos. Na verdade, referimo-nos a quase todas as
doenças como des-ordens. Mas a verdade é justamente o oposto.
Um coração “em ordem” é aquele cujos batimentos são lentos,
estáveis, invariáveis. E qualquer estudante de medicina do primeiro
ano sabe que este é o “tempo” de um coração doente.

Pág 162
Se você analisar os registros de uma longa série de batimentos
cardíacos e calcular os tamanhos dos intervalos de um batimento
para outro, parece que eles se distribuem em intervalos mais longos
e mais curtos, de maneira completamente errática e aleatória. Não
errática da forma flutuante com que seu coração responde ao nível
de atividade de seu corpo, e sim de forma genuinamente selvagem,
até mesmo durante o sono. Há acelerações e desacelerações, não
apenas a cada hora, mas também de minuto a minuto. Pesquisas
monitoraram dez voluntários saudáveis e dez pessoas com
insuficiência cardíaca congestiva. À primeira vista, os ritmos
cardíacos pareciam quase os mesmos em ambos os grupos, mas
os ritmos batimento-a-batimento dos corações saudáveis eram, na
verdade, muito diferentes dos corações partidos.
Nos corações saudáveis, uma seqüência de duzentos passos
para cima tende a ser seguida de duzentos passos para baixo, num
eletrocardiograma, isso significa que o período no qual o coração
desacelera será seguido por um período no qual ele acelera – uma
espécie de mecanismo embutido que determina o batimento num
período longo, para que flutue de acordo com um modelo
matemático predeterminado. O coração saudável tem “memória” de
longo prazo. O tempo da próxima batida depende da “história de
batimentos” do passado distante. A doença, ao contrário, é
realmente uma amnésia do coração. Num coração partido, se uma
série de duzentos se torna progressivamente mais lenta, os
duzentos batimentos seguintes têm a mesma probabilidade de
desacelerar ou de acelerar. Ao medir intervalos cada vez mais
longos, os cientistas podem encontrar as informações extras sobre
a “média” escondida nas flutuações.
Essas informações são suficientes para esclarecer as diferenças
rítmicas entre corações saudáveis e doentes. Ao longo dos últimos
vinte anos, os matemáticos e os físicos já compreenderam que o
que parece aleatório na verdade não é nada aleatório: é caótico – e
a imprevisibilidade é uma marca registrada de um sistema caótico.
O caos difere do aleatório no sentido de que o comportamento
caótico sempre decorre de causas simples, subjacentes. A teoria do
caos nos diz isso.
Ritmos irregulares, como as oscilações do El Nino, são exemplos
de variações caóticas, e não de ocorrências aleatórias. Batimentos
cardíacos são altamente caóticos, assim como a atividade cósmica
ou o clima, porque um sistema caótico é mais adaptável. Um
sistema caótico é altamente dinâmico, sempre mudando e
flutuando, para manter a homeostase. Um sistema caótico é sempre
equilibrado num estado incrível-

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mente sensível às pequenas influências. Como os livros de
fisiologia usados nas escolas e pelos médicos não têm insights em
relação à origem dessa complexidade, todos nós aprendemos que a
lentidão e a constância fazem o ritmo prosseguir – quando, na
realidade, um coração que flutua muito é que é saudável.

UM CHOQUE

Uma das leis mais básicas e universais da natureza é a da memória


celular. As paramecias unicelulares não tem mente e, no entanto,
todas elas se lembram de nadar, encontrar alimento, acasalar-se e
reconhecer e afastar os predadores. Elas são a evidência perfeita
da memória celular, ou “memória de função”, que emana de uma
única célula. Pressupõe-se o seguinte: se uma célula pode se
lembrar de mais de uma função, muitas delas podem reter
“lembranças” suficientes para criar quadros completos. Pelo menos,
é o que dizem as pessoas que fizeram transplantes de coração.
A vida de Claire Sylvia foi salva por um transplante de coração e
pulmão em 1988, depois que ela foi acometida por uma doença
fatal. No livro A Change of Heart, ela descreve candidamente a
experiência de seu transplante. Depois de tudo, ela se tornou uma
mulher completamente diferente. Imediatamente após recobrar a
consciência, Sylvia se lembra de ter desejado uma cerveja, embora
nunca tivesse bebido cerveja antes. Mais tarde, naquele mesmo
dia, ela pediu Chicken McNuggets, que nunca havia provado.
Novos gostos e lembranças, muito diferentes dos seus, e sonhos
recorrentes, nos quais ela via um jovem magro e de cabelos lisos
chamado Tim, fizeram-na sair em busca da família do doador. Sylvia
e uma amiga foram espertas o suficiente para verificar todos os
obituários no dia do transplante e no dia anterior. Num dos
obituários, ela encontrou a história de um jovem que havia morrido
no dia de seu transplante. Seu nome era Timothy Lasalle, e ele
tinha dezoito anos. Morreu num acidente de moto a caminho de
casa, após ter ido ao McDonald’s fazer um lanche; os McNuggets
estavam no bolso de sua jaqueta de motoqueiro quando o despiram
na sala de emergência.
Histórias como a de Claire Sylvia são freqüentes na literatura
sobre transplantes. É um fenômeno comum os transplantados
adquirirem gostoa e traços de personalidade do doador. Dadas
todas as referências

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que nós, humanos, temos feito às qualidades e propriedades do
coração, desde a Antigüidade até o presente, não há dúvida de que
sabemos, e sempre soubemos em nossos corações, que a
essência da personalidade está lá. Mas lembranças? Por que não?
Uma das substâncias-chave no processamento da memória é a
acetilcolina, que é extremamente ativa nos tecidos cardíacos.
Sabemos que as moléculas de acetilcolina têm alguma relação com
a degeneração de pacientes com doença de Alzheimer. Aqui está a
questão da verdadeira matéria-prima das lembranças: eletricidade e
RNA.
Num incrível experimento, conduzido na Universidade da
Califórnia, em Los Angeles, (UCLA) nos idos de 1966 e publicado
na revista Nature, um grupo de cientistas britânicos provaram que
podiam transferir as lembranças de um organismo para outro
apenas com a transferência de RNA. Quatrocentos vermes
minúsculos foram divididos em dois grupos de duzentos cada. Um
grupo de duzentos foi “condicionado” (torturado) para encontrar
glicose ou açúcar pela associação com o estímulo combinado de
luz e choque. Isso significa que, para conseguir alimento, eles
vinham até o final de seu prato de vidro, em função da combinação
luz e choque. A outra metade do grupo foi deixada na mais
completa e alegre ignorância.
Os vermes educados foram “extintos” (assassinados).
Fragmentos de seu RNA foram extraídos e injetados nos felizes
vermes bobos. Com toda certeza, a mesma seqüência de luzes e
choques levou os recém-inoculados ao local, no prato de vidro,
onde estava o alimento.
Um experimento muito simples – que prova tudo o que dizem os
transplantados.
As lembranças são, na verdade, codificadas em cadeias de RNA
nos núcleos de nossas células.
Um único fragmento de RNA como aquele que foi transferido, no
experimento com os vermes, poderia muito bem conter o código de
inúmeras lembranças, em função do fato de que tudo tem a ver com
eletricidade. Há três bilhões de anos, quando as moléculas
orgânicas autotriplicantes se formaram, o RNA foi a primeira. Mais
tarde, a replicação e a aglutinação do RNA se transformou no DNA
conhecido em nosso atual genoma. Em descobertas muito
recentes, publicadas na revista Science em 1997, e informações
ainda mais atuais, publicadas em 1999, os cientistas concluíram
que o nosso DNA, e conseqüentemente o nosso RNA, é um
condutor tão bom quanto uma mola de cobre. Na verdade, genes
inteiros podem enviar sinais elétricos uns aos outros ao

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longo dos circuitos de DNA. Catherine Barton e seus colegas no
Instituto de Tecnologia da Califórnia demonstrou que um único
elétron pode atingir um filamento de DNA numa distância suficiente
para influenciar a atividade genética.
Os elétrons fazem isso ao correrem por entre as “nuvens” de
elétrons superpostas das bases de nucleotídeos adjacentes, que
são os tijolos moleculares formadores do DNA e do RNA. Juntas, as
nuvens de elétrons em forma de disco forma, lado a lado, pilhas de
chips de memória em um “computador” que pode transmitir
informações químicas ao longo de grandes distâncias, ligando e
desligando genes para produzir proteínas. Barton concluiu que “não
há limite para as distâncias que os sinais podem percorrer, ao longo
dos ‘cabos’ de DNA”. Essas novidades dão novo sentido à
expressão “o corpo elétrico”. Dão também aos cientistas um ponto
de partida para iniciar uma investigação de conceitos e práticas
orientais, tais como Qi e acupuntura. A eletricidade que fala através
de nosso DNA é prova da “força viva” que os antigos insistiam em
ser a nossa alma. O fato de que o mais poderoso gerador de
eletricidade do corpo é o coração também faz o mais perfeito
sentido.
O “corpo elétrico” é real.
Onde há fumaça elétrica, há fogo. E onde há campos elétricos e
eletromagnéticos, pode haver comunicação, vibração e
magnetismo. Não há dúvida de que tecidos altamente energizados
e polarizados como os músculos cardíacos devem ser capazes de
emitir freqüências de rádio. As ondas de rádio recebidas pelo
coração são utilizadas em certos tratamentos médicos de tecido
muscular degenerado.
Seu coração possui um campo eletromagnético de 5 mil milivolts,
em comparação com o cérebro, que emite apenas 140 milivolts.
Lembre-se de que, quando a Voyager transmitiu sinais de Saturno
para a Terra, utilizou uma bateria de apenas 10 milivolts. Se só
foram necessários 10 milivolts para chegar de Saturno até a Terra,
então, com 5 mil milivolts disponíveis, a comunicação do cérebro
com o coração, ou a comunicação de seu coração com o coração
de outra pessoa, deve ser, na verdade, um no-brainer.
Acreditamos que o coração fala com o cérebro por meio de um
campo eletromagnético e também de reações eletroquímicas, de
um sistema circular de resposta de uma coisa chamada ANP
(peptídeo natriurético atrial). O ANP é a comunicação química entre
o coração e o cérebro através da glândula pineal, onde é produzida
a melatonina.

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Pacientes com doença arterial coronariana produzem menos
melatonina durante o sono do que pessoas saudáveis. Então,
permanece a pergunta: pessoas tristes têm coração partido ou o
coração partido realmente mantém a pessoa acordada à noite?
Existem evidências que corroboram esta tese nas estatísticas que
mensuram os níveis noturnos da melatonina na presença de
campos eletromagnéticos de baixa freqüência. A melatonina é
anormalmente baixa em seres humanos e animais expostos a CEM
(campos eletromagnéticos). E já é sabido que melatonina baixa
provoca câncer; já está comprovado, também, que a exposição
excessiva e de longo prazo aos campos eletromagnéticos tem
relação com o aumento de mortes por doenças cardiovasculares,
assim como tumores cerebrais e leucemias, em trabalhadores das
indústrias de aparelhos elétricos.
Então, é hora de colocar a cabeceira de sua cama bem longe do
aquário.

VISÃO REMOTA

A teoria da “freqüência” das comunicações entre coração e cérebro


e o fato de haver memória celular poderiam explicar as histórias de
lembranças, gostos e preferências de doadores, que cruzam a
barreira dos transplantes. Poderia também explicar outros
fenômenos curiosos, tais como a legendário experiência em que
uma célula de um coração batendo foi colocada num meio, em uma
placa de petri e, depois, quando foi acrescentada outra célula de
uma biópsia de espécime diferente, a segunda célula pegou a
batida da primeira. Sem uma sinapse ou corpo a conectá-las, elas
entraram em uníssono rítmico.
Essa deve ser a forma pela qual o coração do feto começa no
útero: pegando a batida da mãe. Um coração removido de seu
corpo ainda “se lembra” de como bater. Mesmo quando uma pessoa
tem “morte cerebral” diagnosticada, e o pulmão e os membros
param sem receber impulsos do cérebro, o coração continua a
bater.
Na década de 1970, um grupo de antropólogos japoneses criou
um observatório, em um grupo de pequenas ilhas no norte do
Japão, para estudar os hábitos das pequenas colônias de macacos
japoneses, ou macacos da neve. Duas das mais marcantes
observações que vieram desse estudo foram fenômenos de
comunicação não local.
O primeiro exemplo foi lavar os alimentos.

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Uma jovem fêmea chamada Ima começou a mergulhar suas
batatas no lago para remover a sujeira. Ela foi observada enquanto
ensinava essa nova idéia a vários outros macacos. Depois de uma
centena deles terem aprendido essa técnica, todos os macacos, em
todas as colônias, em todas as ilhas, sabiam simultaneamente a
técnica de Ima. O mesmo fenômeno foi observado no inverno,
quando outra jovem fêmea mergulhou num dos chuveiros quentes
de origem vulcânica da ilha.
Os macacos vivem a céu aberto o inverno inteiro, quase sempre
com neve cobrindo seus rostos e extremidades, mas nenhum deles
jamais fez qualquer movimento no sentido de se aquecer, além de
se amontoar aos outros macacos para obter calor corporal. Tudo
isso mudou depois que uma centena deles mergulharam nos
chuveiros quentes. Agora todos eles, rotineiramente, banham-se
nos chuveiros quentes durante todo o inverno.
A premissa da não localidade também é conhecida como teorema
de Bell. Esta lei da física quântica diz que os objetos, uma vez
conectados, afetam uns aos outros para sempre, não importa onde
estejam. Acreditamos que as células do coração provavelmente
falam com o cérebro e com o resto do corpo através da não
localidade, também.
Existem também outras descobertas, como o experimento da
esteira. Neste, um grupo de células cardíacas, retiradas de um
corredor através de biópsia, batia cada vez mais rapidamente em
sua placa de petri, enquanto o doador fazia exercícios numa esteira,
do outro lado da cidade, longe do laboratório. Ou um experimento
envolvendo células salivares de dentro das bochechas de cobaias
mais tarde expostas a violência visual, na qual as células nos tubos
de ensaio, guardadas num local que ficava a duas salas do local da
exibição violenta, produziam cada vez mais impulsos elétricos.
Será que esses experimentos não passam de ficção científica
vulgar e sensacionalista, ou a lei quântica da não localidade
realmente é uma prova da ligação quântica nos níveis humano e
animal? Será que é assim que a oração funciona? É claro que, até
agora, não existe prova científica. Mas será que isto significa que
não existe prova?

[ “...Podemos estar falando, aqui, da física do amor.” ]

Não localidade? Ligação quântica? Podemos estar falando, aqui, da


física do amor. Até que ponto isso é ridículo?
Nem tão ridículo assim.
Ninguém duvida do vento. É invisível e não tem gosto ou cheiro
próprios – e no entanto acreditamos que ele existe, porque
podemos ver e sentir seus efeitos.

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No romance Contato, de Carl Sagan, uma jovem cientista discute
a noção de “fé” com um líder religioso em ascensão, e insiste em
dizer que não pode compreender sua inabalável crença em Deus,
dado que não existe prova científica da existência de Deus.
Ele responde fazendo a ela uma pergunta muito simples: “Você
amava seu pai?”
Ela vocifera: “Sim, claro que amava.”
Ele então a desafia: “Prove.”
Este diálogo é uma metáfora extremamente acurada da crença
em algo tangível, porém invisível e incapaz de ser provado pela
ciência.
A ciência não é forte na fé em qualquer coisa que não seja ela
própria.

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OITO

Dez segundos para


a autodestruição:
No esquema evolutivo, o câncer é simplesmente
o novo “você”

E então eu viajei, parando sempre, e vezes seguidas, em grandes


jornadas de mil anos ou mais, movido pelo mistério da sorte da
Terra, observando, com uma estranha fascinação, o sol ficar cada
vez maior e sem graça no céu, e a vida da velha Terra entrar em
decadência pouco a pouco.

– H. G. Wells,
A máquina do tempo

Quando você come carboidratos demais, durante um número


excessivo de meses do ano, e nunca esgota seu estoque de açúcar,
nem queima gordura para imitar os períodos de fome, a insulina
produzida dia e noite por seu pâncreas, em resposta ao excesso de
açúcar, provoca vícios de rebote e abuso de substâncias, por meio
da produção de serotonina e dopamina, comportamento bipolar (em
última análise), e talvez até esquizofrenia em seu cérebro cansado.
E isso é apenas o que acontece do pescoço para cima.
Do pescoço para baixo, as conseqüências do excesso de insulina,
devido à toxicidade da luz, incluem pressão arterial elevada, em
função da retenção de líquidos causada pela ingestão excessiva de
carboidratos durante muito tempo, e a armazenagem dos
carboidratos excedentes sob a forma de gordura corporal e
colesterol, para evitar que você morra de fome e congele. Mas,
como não há fome ou congelamento à vista, em seu futuro “virtual”,
você vai se tornar diabético. Além de

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tudo isso, pesadas placas de LDL vão aderir ao seu coração,
porque, a essa altura, você já matou as células que revestem seu
coração de pelo menos três ou quatro maneira diferentes.
E então vem o câncer.
Todo mundo concorda que os maiores assassinos – o câncer de
mama, de colo e de próstata – estão todos fortemente ligados à
obesidade. Não podemos discordar dos fatos.
Mas podemos, sim, discordar da lógica.
A obesidade, de acordo com o conhecimento vigente, reflete uma
dieta rica em gorduras. Mas o consumo de gorduras, sejam elas
saturadas ou insaturadas, não provoca liberação de insulina. Não
há possibilidade de armazenar gordura nas células de gordura, a
menos que a insulina abra os receptores – e isso só acontece se
você comer açúcar. É por essa razão que os diabéticos Tipo I, que
não têm insulina, morrem com aparência emaciada. A obesidade é
apenas um sintoma diferente da mesma síndrome que causa todos
os outros males que afligem o homem moderno.
Falta de sono.

CÉU SOMBRIO

A gente sabe o que você está pensando.


Quando os assuntos são obesidade e diabetes Tipo II, tudo
realmente se acumula: excesso de luz é igual a verão, verão vem
antes do inverno, de modo que vestir uma capa de gordura em
função de um apetite controlado pela luz, que é o que indica a
estação do ano, faz sentido. Se você simplesmente continuar tendo
o comportamento do verão, não importa qual seja a estação do ano,
porque o seu sistema global de posicionamento é confundido por
luzes artificiais e dias longos, o inevitável diabetes Tipo II parece
uma conseqüência razoável de se esperar. Mas é quase impossível
acreditar que você pode evitar morrer de câncer fazendo algo
extremamente simples: apagando as luzes à noite. Todo mundo
nos Estados Unidos, e numa boa parte do mundo, tem certeza de
que o lixo tóxico, os carcinogênicos (agentes químicos causadores
de câncer) e a susceptibilidade genética significa que é culpa sua.
Você nasceu para ter câncer.

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Bem, temos grandes notícias para você: a ciência e a medicina
não entendem mais de câncer do que entendem de obesidade,
diabetes, doenças mentais ou problemas cardíacos.
Imagino que isso seja um choque para você.
Estamos aqui para lhe dizer que essas disfunções não estão em
seus genes – pelo menos, não da forma que você acha que estão.
Você não vai ter câncer porque é uma vítima de mutações
aleatórias à medida que envelhece, ou porque está exposto
diariamente a carcinogênicos comuns. A natureza é bem mais
organizada do que isso. Todo crescimento ou morte celular é
controlado pelas regiões promotoras nos genes. Esses botões
genéticos, que são acionados pelos hormônios, reagem em
resposta a pressões ambientais para que você possa se adaptar
continuamente, minuto a minuto ou milênio a milênio.
Os “genes reguladores” envolvidos no câncer são chamados
oncogenes. Todo o sensacionalismo que aparece de quando em
quando na mídia, em torno de um gene cghamado P53, tem a ver
apenas com esse gene regulador, que é ativo em quase todos os
tipos de câncer. O P53 está presente em todas as células, de todo
mundo. É um dos genes que controlam o crescimento, a morte ou e
estado neutro para recuperação. As pesquisas médicas decidiram
que o responsável pela maior parte dos tipos de câncer deve ser
um gene P53 “com mutação”. As pesquisas sobre o gene P53 em
mutação consomem bilhões de dólares todos os anos, sem
resultado algum, da mesma forma que a pesquisa conhecida como
BRCA I e II (sacou? BR – breast, que é seio em inglês, e CA –
câncer). Os genes BRCA I e II, conhecidos como os genes do
câncer de mama, também são genes reguladores comuns nos
homens, e realmente nada têm a ver com o fato de se possuir
seios.
Os registros dos epidemiologistas examinaram a possível
mutação do BRCA I em populações de descendentes de judeus
asquenazes em Long Island “que procriam internamente” – onde,
em termos estatísticos, o câncer de mama vai à estratosfera. Suas
descobertas foram divulgadas prematuramente, de forma
fragmentada. As recentíssimas notícias, que culparam um gene
pela epidemia de câncer de mama, figuraram em todos os jornais
de alcance nacional. Em função dessa suposta conexão com o
“câncer de mama hereditário”, as mulheres judias no mundo inteiro
correram para fazer testes genéticos. E, logo em seguida, um
grande número dessas mulheres tomaram uma decisão típica do
pânico: por causa de uma pesquisa que acreditaram ser correta,
elas decidiram se automutilar permanentemente.

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Ou seja: muitas mulheres fizeram mastectomias profiláticas.
As mulheres vivem tão aterrorizadas em relação ao câncer de
mama, e têm uma fé tão grande na ciência e na medicina, que
centenas delas se automutilaram, acreditando que seu sacrifício
poderia evitar que morressem de câncer.
Como era previsível, pouco mais de um ano depois, os cientistas
começaram a mudar de idéia. E foi apenas uma questão de tempo
até que houvesse uma retratação formal em relação às evidências
apresentadas. No entanto, para aquelas mulheres que agiram sob o
impacto de relatórios confusos, infundados e prematuros, já era
tarde demais para mudar de idéia.
Seus seios já tinham ido embora para sempre.
Veja como elas estavam aterrorizadas.
Alguns estudos associaram três tipos de câncer – de mama, de
colo e de próstata – à obesidade. No entanto, em 1994, um estudo
publicado no Journal of the American Medical Association – admitiu
que não há ligação entre a ingestão de gordura na dieta e o câncer
de mama. Bem nos calcanhares daquela retratação hesitante, o
New England Journal of Medicina “indicou” que, na verdade, o que
afeta o potencial de as mulheres contraírem câncer de mama não é
a quantidade de gordura que comem, e sim o excesso de peso que
elas apresentam. Poderíamos considerar essa uma grande pista, se
os pesquisadores entendessem como a gente engorda.
Mas é um começo. Agora, as autoridades têm condições de
reconhecer a obesidade como um sintoma (e não a causa) de outra
doença. Se existe uma conexão entre a obesidade e o câncer, e a
obesidade é causada diretamente pelos elevados níveis de insulina
que resultam da perda do sono, então a insulina deve estar
implicada no aumento da incidência de câncer. Se as dietas ricas
em carboidratos são responsáveis pelos níveis de insulina
permanentemente elevados, então o advento da luz elétrica e dos
alimentos processados deveria corresponder exatamente ao
aumento da incidência de câncer. E corresponde.
Lá se foi a genética.

O BRILHO

Vamos examinar o papel dos carcinogênicos. Já que estamos


dizendo que tudo depende da forma como você interpreta a
pesquisa, vamos

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começar com um estudo muito recente, feito pela Universidade
Johns Hopkins, que diz tudo. Os pesquisadores inocularam ratos
com “carcinogênicos químicos conhecidos”, depois de alterar seus
padrões naturais de sono.
O experimento era simples: dar a esses ratinhos valentes “noites
de rato curtas” e “noites de rato longas” e, depois, um a um,
adicionar carcinogênicos aos seus sistemas insuspeitos.
É importante notar que esses carcinogênicos não foram vírus ou
xeno-estrogênios obscuros, mas venenos feitos pelo homem, como
componentes de antiperspirantes.
Os ratos da noite curta começaram a desenvolver tumores com tal
velocidade que os pesquisadores não poderiam dizer qual era a
substância responsável; mas nos ratos de noite longa, nenhum dos
inúmeros carcinogênicos conseguiu provocar câncer.
Até os pesquisadores admiraram que foi a presença de mais
melatonina nos ratos de noite longa que os tornou imunes aos
carcinogênicos.
Os ratos são mamíferos.
Assim como você.
Os cientistas só comentaram que, “estranhamente, os ratos da
noite curta também se tornaram fechados e paranóicos”.
Que coisa...
Para isso, existem duas razões possíveis.
Ou:

(a) Eles sentiram que iriam ter câncer e ficaram realmente pirados.
Ou

(b) As mudanças hormonais em seus sistemas imunológicos,


causadas pela privação do sono, provocaram também,
simultaneamente, alterações mentais nos neurotransmissores.

A menos que os ratos decidam confiar em alguém, podemos


apostar que, depois de ler até aqui, você vai optar pela alternativa
(b).
Ainda que você não esteja acima do peso nem seja um paciente
cardíaco, se não dormir, também vai ter câncer e ficar doido,
exatamente como os ratos cansados.
Podemos provar isso.
A pesquisa do NIH que citamos conclui que seis horas de
produção de prolactina no escuro é o mínimo necessário para
manter uma função imunológica como a célula T e para a produção
de células assassinas
Pág 174
benignas. Mas, se você dormir seis horas por noite, não consegue
seis horas de produção de prolactina, pois é preciso ter pelo menos
três horas e meia de produção de melatonina, antes de aparecer
alguma prolactina.
Em termos de câncer: se a falta de prolactina à noite não pegar
você, a falta de melatonina acaba pegando. A melatonina é o mais
potente antioxidante que se conhece. Menos melatonina e mais
radicais livres significam envelhecimento rápido, mesmo sem
insulina elevada crônica acumulando um “tempo cronológico” de
quatro anos para cada ano que você vive.
A insulina é uma peça tão importante em sua atual existência
quanto a melatonina. Esqueça tudo o que já lhe disseram sobre o
câncer e poluentes ambientais, câncer e genética. O câncer não é
um estado horrível, doloroso, destruidor e des-evolutivo, a não ser
no nível pessoal. No esquema mais amplo das coisas, trata-se de
uma estratégia evolutiva e de uma função matemática comprovada
pela física.
O câncer é simplesmente a vida encontrando uma saída.
Quando o personagem do sardento John Hammond, no filme O
Parque dos Dinossauros, descreve, com prazer egomaníaco, como
pretende manter os predadores estéreis, o Dr. John Malcolm,
personagem vivido por Jeff Goldblum, oferece-lhe a sua cota de
realidade: “A vida encontra uma saída.”
A vida sempre encontra uma saída diante de toda e qualquer
pressão ambiental. Infelizmente, para todos os que sofrem vítimas
do câncer, não há cura no horizonte, pois a única cura que existe é
viver direito.
Só gostaríamos que os médicos e cientistas começassem a tentar
“pensar além” do que existe hoje, por assim dizer. A ciência criativa,
assim como o pensamento criativo, significa apenas fazer as
perguntas certas. Perguntas, como por exemplo:

• Por que não existe câncer na natureza?


• Por que apenas os seres humanos e os animais de estimação
têm câncer?
• Por que as mulheres têm mais câncer do que os homens?
• Por que o câncer surge com maior freqüência depois dos
quarenta?
• Onde e quando mais, no corpo, os oncogenes são ativados?
• Se existe um momento em que eles são ativados, o que pode
desativá-los?
• Por que os diabéticos têm mais doenças cardíacas e câncer
do que o resto da população?

Fizemos todas essas perguntas a nós mesmos. Como estamos


dividindo com vocês as respostas que encontramos, agora é a sua
vez de fazer essas mesmas perguntas – esperamos que ao seu
médico. Acreditamos que a situação vai mudar.
Tem uma revolução vindo por aí.

A FORÇA DA VERDADE

Na época em que Ovídio estava escrevendo seu trabalho seminal,


A Metamorfose, Cristo nascia dentro da estrutura vigente do Império
Romano. Cristo e Roma tinham muito pouco em comum, mas os
atritos entre essas duas “culturas”, no final do milênio em que
estavam, provocaram grandes mudanças – assim como as que vão
acontecer conosco no próximo milênio, particularmente em nosso
relacionamento com os médicos e com a medicina. Em sua clássica
tradução dos Contos de Ovídio, Ted Hughes retrata esses tempos
em imagens que nos parecem muito familiares:

O panteão greco-romano caíra sobre as cabeças dos homens.


A parafernália obsoleta da velha religião oficial jazia
amontoada, como as velhas máscaras num porão de teatro.
Oi plano mítico, por assim dizer, havia sido despido de suas
vestes.
Ao mesmo tempo, e talvez se pudesse dizer em
conseqüência, o Império foi inundado por cultos estáticos.
Em toda sua augusta estabilidade, Roma estava mergulhada
na histeria e no desespero – num extremo revolvendo-se em
apetites insaciáveis e sofrendo na arena dos gladiadores, e no
outro buscado cada vez mais a transcendência espiritual.
Os contos de Ovídio estabelecem um registro brando da
sensação de se viver no abismo psicológico que se abre ao
final de uma era.

Meu caro Ovídio, nós sentimos a sua dor.


Essas idéias, nossas conclusões, certamente desabrocham bem
na cara da medicina convencional, principalmente quando se trata
de câncer. A medicina convencional acredita em cirurgia,
quimioterapia, radiação – e agora nos modificadores dos receptores
seletivos de estrogênio (SERMs).
Todos os praticantes desses tratamentos afirmam que podem
ajudar os pacientes a sobreviver ao câncer.

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Mas eles estão mentindo.
Um artigo publicado no Journal of Clinical Oncology, em outubro
de 1998, compilou os resultados de um estudo de 22 anos, que
acompanhou 31.510 mulheres com câncer de mama. Sua
conclusão geral foi que, ao longo de 22 anos examinando doze
diferentes regimes terapêuticos, em diversas combinações, as
terapias de câncer só conseguiram uma “melhora modesta nos
índices de sobrevivência”.
Uma leitura criteriosa do artigo revela a verdade: a “melhora
modesta” representa três meses.
Três meses de sofrimento extra.
Pense nestes números estarrecedores: 31.510 mulheres, doze
diferentes combinações possíveis de terapias, ao longo de 22 anos.
No caso de outras formas de câncer, o resultado poderia ser
diferente?
Não.
Apostamos que, embora você saiba pouco sobre o câncer,
médicos e pesquisadores sabem menos ainda. Eles na verdade não
sabem nos dizer o que é ou de onde veio. Só conhecemos
fragmentos de informações, e não tem um entendimento real da
“entidade” em si, porque eles, em sua maioria, não estão
familiarizados com a vida.

DE VOLTA AO INÍCIO

O fato mais evidente sobre o câncer, e que nunca chega aos artigos
publicados na seção de saúde de seu jornal local, é que os
oncogenes conferem ao tecido canceroso todas as propriedades
irrefreáveis de crescimento típicas do tecido fetal. Todos os genes
reguladores que são reconhecidamente ativos no progresso do
câncer, conhecidos por nomes como P53, P21 e survivin, só são
ativos, além do câncer, no tecido fetal.
Jamais são encontrados em atividade numa criança ou adulto que
não tem câncer.
Isso é muito importante – e uma grande pista.
Pista maior ainda é o fato de que esses genes só são realmente
ativos nas primeiras nove semanas de vida fetal, quando o
complemento dos genes que o feto possui vai certamente
determinar se aquela pessoa será do sexo masculino ou feminino,
embora o feto ainda não seja nem uma coisa nem outra. Num certo
sentido, “o júri ainda está em recesso”. Dependendo das pressões
ambientais que controlam os hormônios que

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o corpo da mãe fabrica durante a gravidez – estrogêneo,
testosterona, cortisol, insulina etc., e sua relação uns com os outros
– a criança será menino, menina ou algo aí pelo meio.
Lembre-se de que o ambiente, através da luz, da comida e do
estresse, aciona os genes para produzirem hormônios, que por sua
vez acionam outros genes – para crescimento, morte ou reparos.
Quando o câncer surge, dá-se um fenômeno de reorganização para
um estado auto-semelhante. O estado auto-semelhante é fetal, no
caso humano, porque nas primeiras semanas não somos fêmeas
nem machos; estamos atravessando os estágios evolutivos do
desenvolvimento. Aquelas belas fotos dos bebês no ventre, feitas
por Lennart Nilsson, mostram-nos estágios do desenvolvimento
humano – quando os fetos se assemelham a peixes embrionários e
também a diversos mamíferos e pássaros. Se, antes da nova
semana de gravidez, mal nos diferenciamos das outras espécies,
que dirá saber se somos um macho ou uma fêmea humanos...
As primeiras semanas de desenvolvimento fetal são um estado
humano “crítico”, caracterizado por uma organização auto-
semelhante num estado neutro, indiferenciado, nem macho e nem
fêmea, observado no desenvolvimento embrionário de todas as
espécies. Entramos novamente num estado crítico quando vivemos
tanto que nossos hormônios sexuais entram em desequilíbrio e nós
comemos demais (carboidratos). Nossos hormônios sexuais, agora
ameaçados, simplesmente transbordam. Todo animal na natureza,
com exceção de nós e de nossos bichinhos de estimação, morre
quando terminam suas tarefas reprodutivas.
Isso porque, quando deixamos de ser o que somos, temos de nos
transformar em outra coisa. A ordem perfeita da física quântica nos
demanda isso.
Porém nós jamais desaparecemos sem reaparecer sob uma outra
forma.

TUDO É UMA COISA SÓ

Assim como o diabetes Tipo II é o produto final da adaptação


perene à fome ou ao frio que vão chegar, o câncer é o produto final
do maior esquema caótico da natureza: a universalidade. O
princípio da universalidade sustenta que, num determinado ponto
crítico de transformação, existe uma espécie de reorganização
universal, dentro da qual os detalhes de um determinado organismo
são obliterados.

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Esse princípio é o âmago da teoria do caos. Seja na biologia
celular, na oncologia, na matemática, nos mercados financeiros ou
na dinâmica dos ecossistemas, dissecar a dinâmica
comportamental subjacente às interações entre os indivíduos que
formam sistemas cooperativos, como grupo de pássaros, colônias
de bactérias ou mesmo células tumorais, é uma metodologia que
nos mostra o que realmente controla os sistemas físicos.
A instalação do caos na verdade é um portal, ou o que os físicos
chamam de transição de fase ou estado crítico. Bem semelhante à
formação de um furação, maré ou terremoto, o surgimento do
câncer é apenas uma manifestação de transformação durante um
estado crítico.
Em seu épico A Metamorfose, Ovídio elucida como, desde o início
da criação até sua própria época, os corpos – estelares, humanos
ou microbiais – foram magicamente transformados, pelo poder dos
deuses, em outros corpos.
Estados críticos são situações em que a matéria ordinária é
transformada em outra coisa muito diferente, por influência do calor
ou da luz. As regras da teoria da universalidade são evidentes na
transformação mágica das substâncias líquidas em sólidas. A água,
quando é transformada em gelo vítreo ou no evanescente vapor da
fumaça, é o exemplo mais conhecido dessa magia. Uma ilustração
mais exótica seria o resfriamento de uma peça comum de estanho
num supercondutor. É parecido com o fenômeno que ocorre quando
o calor desmagnetiza um pedaço de ferro magnético.
Uma peça de ferro é formada por “domínios” microscópicos, cada
um talvez do tamanho de um grão de areia, e cada um deles é em
si um pequeno magneto. Na temperatura ambiente, todos esses
domínios em forma de varetas são alinhados em fila, um do lado do
outro. É a cooperação entre eles que torna o ferro magnético.
Porém, a altas temperaturas, o “barulho” térmico interrompe a
cooperação dos domínios e o ferro se torna não-magnético. À
temperatura de 175ºF, o ferro fica no limite entre magnético e não-
magnético. Alguns dos domínios conseguem ainda ficar unidos,
mas apenas em amontoados localizados, que apontam em
diferentes direções.
Embora isso pareça aleatório, não é.
Se for retirado um pedaço pequeno do magneto nessa altura e
ampliado no microscópio, veremos uma imagem que é uma réplica
exata da peça maior. Este fenômeno é chamado organização auto-
seme-

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lhante, num nível fractal. A auto-semelhança é a propriedade que
define o estado crítico. A água a caminho de virar fumaça, o
estanho a ponto de se tornar supercondutor, e os cristais sob
pressão, enquanto se desmontam e se transformam numa outra
estrutura molecular – todos esses são estados críticos
matematicamente idênticos. Isso significa que átomos, moléculas,
magnetos ou o giro dos elétrons – não importa o que esteja
interagindo – no ponto da mudança de fase, todos os materiais, em
toda parte, são matematicamente idênticos uns aos outros.
Na fase crítica, uma ordem se espalha pelo sistema como um
fungo se espalha num jardim. As partes que compõem esses
sistemas são tão diferentes quanto podem ser, mas seus estados
críticos não podem ser distinguidos uns dos outros. É muito difícil
visualizar a matemática, mas acredite em nós: os nossos também
são.
O câncer é o fenômeno de fase crítica que é o subproduto da
transformação. É a transformação de “ela” em “ela-masculino” e de
“ele” “ele-feminino”, que ocorre na menopausa e na andropausa.
Quando o declínio hormonal ocorre durante a peri-menopausa nas
mulheres, a relação entre estrogênio e testosterona muda até que,
na pós-menopausa, a progesterona é nula e o estrogênio se esgota.
É a testosterona que fica. As mulheres idosas, para todos os fins e
propósitos, são homens por dentro, após a menopausa.
É quando começam a ter câncer.
Os homens, na andropausa, perdem massa muscular à medida
que a testosterona começa a se esgotar, e a glicose não tem para
onde ir, a não ser se expandir em placas de gordura. Essas placas
de gordura fabricam estrona – e, lá pelo final dos cinqüenta ou início
dos sessenta anos, com baixa testosterona e estrogênio elevado,
os homens começam a se transformar em mulheres.
É quando começam a ter câncer.
Essas mudanças de fase, no sentido de uma organização auto-
semelhante, num estado crítico, são sempre ligadas a flutuações de
temperatura (ondas de calor), assim como a água se transforma em
vapor no ponto de ebulição, ou em gelo no ponto de congelamento.
Em nós, a mudança de temperatura provavelmente começa quando
deixamos de dormir à noite ou no inverno. O limiar dessa mudança
de fase pode ser algo tão simples como aquecer as fornalhas
chamadas mitocôndrias, em nossas células, com excesso de
energia proveniente dos carboidratos, energia essa que se
transforma em energia ATP. A oxidação ou taxa de queima para
carboidratos é de 1,0, e de apenas 0,07 para as gorduras. Talvez,,
assim como o

Pág 180 resto do planeta, devamos aquecer todas as nossas


células no verão. O inverno é um período de desligar, em função da
ausência da energia solar.
Isso tem um sentido.
A oxidação é uma reação química que utiliza o oxigênio para ser
queimado com o alimento e liberar energia (ATP). Seus
subprodutos são chamados radicais livres. Os radicais livres são, na
verdade, canhões soltos, feitos de elétrons livres que quicam em
volta do DNA mitocondrial como as bolinhas de um jogo de
fliperama. As mitocôndrias são geradoras de energia infinitesimais,
em forma de um caroço de feijão, que vivem em cada célula, e que
herdamos diretamente do ovo formado em nossa mãe. Elas vem
passando de mãe para filho desde o início dos tempos. Esses
mapas herdados só existem em nossas mitocôndrias. Cada uma de
nossas células possui cerca de 10 mil delas.
O DNA de dupla hélice, que existe no núcleo de cada célula de
nosso corpo, é uma mistura de DNA de ambos os pais. Esse DNA
nucléico possui um mecanismo de reparo que consiste em enzimas
que correm para cima e para baixo ao longo da espiral, em busca
de quebras para consertar. Isso não acontece nas mitocôndrias. Lá,
qualquer choque ou batida de um radical livre provoca rupturas no
DNA, a menos que você tenha melatonina suficiente. É por isso
que as lojas de alimentos saudáveis vendem melatonina como
antioxidante.
O declínio da capacidade atlética, da capacidade intelectual e a
legendária vista cansada da meia-idade podem ser diretamente
atribuídos à morte das mitocôndrias. À medida que as mitocôndrias
morrem, as células perdem força. Essa lenta morte das células não
é o catalisador da fase crítica. É mais provável que o estímulo para
uma mudança de fase crítica seja uma falta de “ritmo de
temperatura”.
Se você foi feito para ficar quente, quente, quente na primavera e
no verão, cheio de açúcar, insulina e estrogênio, acordado durante
muitas horas sob o sol quente, então, durante o período de fome ou
no inverno, quando não há mais carboidratos, a insulina e o
estrogênio também caem, assim como boa parte da luz do sol, o
que faz cair a temperatura de seu corpo. Com os aquecedores e os
aparelhos de ar-condicionado, mantemos o “clima controlado”. Na
natureza, as noites mais longas de escassez também nos
resfriariam durante mais horas. Assim como os alimentos
perecíveis, a carne da qual somos feitos também dura mais no
refrigerador. Quando nunca dormimos, nunca vivenciamos um
período de “desligamento” longo o suficiente. Temos muito pouca
melatonina e excesso de calor, por causa do excesso de luz.

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Uma das razões pelas quais a melatonina é famosa por ser um
antioxidante tão glorioso é a sua propriedade de reduzir a
temperatura à noite. É por isso que você sempre precisa de algum
tipo de coberta enquanto dorme. E o que acontece a você, em
termos de câncer, quando fica acordado até muito tarde? Você não
tem melatonina, porque sua noite começa com três a sete horas de
atraso; e, porque seu corpo pensa que é verão, sua insulina se
eleva, o que eleva também o estrogênio.

RUMO AO ESCURO

Praticamente todas as mulheres adultas do mundo ocidental,


estejam ou não considerando a hipótese de fazer terapia de
reposição hormonal, podem repetir a regra do partido: o estrogênio
causa câncer. Tanto homens quanto mulheres produzem estrogênio
em três variações, em níveis que oscilam, ao longo de suas vidas.
O estrogênio é parte da fase reprodutiva saudável normal da vida
de todos os mamíferos.
No caso do câncer de mama, a tendência mais em voga
atualmente acusa o estrogênio, com base em suas propriedades
como fator de crescimento. Como as mulheres gordas produzem
mais estrogênio do que as magras, e porque é possível produzir
uma variante desse hormônio a partir da base de gordura, o
pressuposto é que o fato de uma mulher ser gorda aumenta seu
risco de contrair câncer de mama.
Pressuposto pouco científico, porém verdadeiro.
Na verdade, porém, o mesmo fator que o fez gordo – a insulina
elevada – está causando câncer, via estrogênio.
Vamos partir do pressuposto de que, se o estrogênio fosse a
única causa do câncer, todas as jovens mulheres estariam mortas.
Assim sendo, provavelmente não é só o estrogênio.
Dito isso, observemos o fato de que as mulheres grávidas
apresentam níveis estratosféricos de estrogênio, de modo a fazer
crescer o feto. As mulheres grávidas raramente sofrem de câncer,
especialmente de mama. Na verdade, a ciência, de modo geral,
concorda em que o fato de haver gerado e nutrido filhos diminui o
risco de câncer de mama. Então, como se explica que as mulheres
jovens e/ou grávidas, mesmo se afogando em estrogênio, estão
livres do câncer, se o câncer de mama é alimentado apenas pelo
alto nível de estrogênio?
Bem, na realidade, só o fato de o estrogênio estar presente na
corrente sangüínea não significa que esteja disponível para os
tecidos do

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corpo todo. Nem todos os hormônios em sua corrente sangüínea
estão “ativos” oi tempo inteiro. Alguns estão ligados a uma molécula
de proteína produzida no fígado. Existe uma proteína que se liga ao
estrogênio, chamada globulina conectora de hormônios sexuais
(SHBG), que conecta o estrogênio à testosterona e torna ambas
disponíveis para se ligarem a pontos receptores no corpo, tais como
o tecido da mama ou da próstata. Este é outro mecanismo
regulador que garante a ação liberadora no momento certo. Vários
estudos mostram claramente que (você adivinhou) altos níveis de
insulina controlam para menos a produção dessa proteína de
controle, e com isso deixam quantidades excessivas de enormes
fatores de crescimento, tais como o estrogênio, em circulação, para
garantir a capacidade de reprodução quando o suprimento de
carboidratos for grande – o que não é uma boa coisa no mundo
moderno.
Em nosso mundo, a sinergia entre insulina e estrogênio estimula a
produção de tumores.
A razão pela qual toda a medicina do mundo ocidental acredita
que o estrogênio, sozinho, causa câncer, está no trabalho de
Charles Brenton Huggins, ganhador do Prêmio Nobel, realizado na
década de 1950 na Universidade de Chicago. Ele provou que os
hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, detêm o
controle da proliferação, e o fez através de um experimento em que
ele removeu todos os órgãos e glândulas produtores de esteróides
em ratos e viu seus tumores diminuírem de tamanho. Esse novo
conhecimento foi de tal forma pioneiro, durante um período em que
as mortes por câncer aumentavam rumo à estratosfera, que a
ciência médica abraçou essa evidência e passou a correr a partir
dela.
O problema é que eles correram para o lado errado.

COLONIZAÇÃO

Lembre-se sempre: na natureza existe dualidade. Dia/noite,


homem/mulher, quente/frio, sol/lua, acima/abaixo, dentro/fora,
crescimento/morte. Em vez de compreender que, se os hormônios
sexuais podem controlar a proliferação, provavelmente podem
controlar também a apoptose (ou morte celular pré-programada), os
cientistas só enxergaram a “tumorgênese”. Quase que
imediatamente, o principal tratamento para o câncer passou a ser
histerectomia e castração, logo

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seguidas pela invenção de bloqueadores específicos dos receptores
hormonais, como o Tamoxifen, e de bloqueadores de enzimas,
como o Proscar.
Que erro!
A insulina e o estrogênio realmente alimentam crescimento novo.
É assim que deveria ser. Mas o estrogênio, sozinho, causa tanto
câncer quanto o colesterol causa doença coronariana arterial. Só a
insulina pode fabricar receptores de estrogênio, e este, por sua vez,
dá à insulina um segundo acesso – na forma dos IGF-I (fator de
crescimento tipo insulina 1). Crescimento novo, ou neoplasma, é a
forma de vida encontrada num grande número de caroços no seio,
e no BHP, ou hipertrofia benigna da próstata, nos homens. A
palavra-chave, neste caso, é “benigna”.
Neoplasma não é câncer.
Se você remove ou bloqueia a produção de estrogênio e de
testosterona, ocorre uma pequena regressão no crescimento do
tumor, mas a bonança vem sempre seguida de uma tempestade, ou
seja, um virulento período de metástases rápidas, não rastreadas.

(... continua até à página 377...)


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