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História do Pensamento

Econômico I

Prof. Dr. Eduardo Gonçalves

eduardo.goncalves@ufjf.edu.br

1 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Dados Biográficos

 Nasceu em Trier ou Tréveris, Renânia, Região Sul da


Alemanha, que pertencia à Prússia.
 Família judia que se converte à religião luterana.
 Casou-se, aos 25, com Jenny von Westphalen: 8 filhos (apenas
3 alcançaram idade adulta).
 Vida pobre e atribulada (Friedrich Engels).

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Formação

 17 anos: Universidade de Bonn (Direito por um ano),


Universidade de Berlim (Filosofia/História)
 Aos 23, obteve o título de Doutor em Filosofia pela
Universidade de Jena.
 Ateu e materilista.
 Pretendia ser professor universitário (radicalismo e idéias anti-
religiosas).
 Profissão: jornalista (Gazeta Renana).
 Cidades nas quais morou: Alemanha, Paris, Bélgica, Londres.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Influência Intelectual

 Socialismo Francês (Saint-Simon, Fourier)


 Marx toma algumas idéias, mas os critica dizendo que a passagem a
uma sociedade melhor não se daria apenas por um apelo à razão.
 Reconstrução da sociedade:
• Liberalismo clássico: garantia de liberdade, busca de interesses próprios,
direitos à propriedade privada, função mínima para Estado.
• Socialismo utópico: propriedade coletiva.
 Economia Política Inglesa (David Ricardo, Petty, Fisiocratas, Smith)
 Teoria do valor-trabalho → exploração do trabalhador.
 Filosofia Alemã (Hegel)
 Dialética: instrumento (método) de compreender o mundo.
 Tese x Antítese → Síntese.

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Obras

 Economia
 1857/58: “Grundrisse”
 1858: “Para a crítica da Economia Política”
 1862/63: “Teorias da mais-valia” (Karl Kautsky)
 1865: “Salário, Preços e Lucro”
 1867: Livro I: “O Capital”
 1869: Livro II: “O Capital” (1885: Engels)
 1865: Livro III: “O Capital” (1894: Engels)
 Política
 1847: “Manifesto Comunista” (com Engels)
 1850: “Luta de classes na França”
 1852: “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”

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Obras

 Filosofia
 1844: “Manuscritos econômico-filosóficos”
 1846: “A ideologia alemã” (com Engels)
 1888: “Teses sobre Fewerbach”

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 Conceito de Modo de Produção: conjunto de forças produtivas e relações


sociais de produção.
 Críticas a outros autores clássicos
 Falta de perspectiva histórica (exceto Smith)
 Algumas características são comuns a todos os modos de produção,
outras específicas ao Capitalismo.
• Confusões:
• 1) capital como elemento universal a todos processos de
produção (antes de Ricardo).
• O que é capital?
• 2) atividade econômica podia ser reduzida a uma série de
trocas (depois de Ricardo).
• Bastiat: “Economia Política é troca”
• Foco na esfera da circulação de mercadorias
• Sistema de troca transmite a idéia de igualdade,
harmonia social.

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Mercadoria e valor em Marx
 Ponto de partida de Marx: mercadoria
 É tudo aquilo que satisfaz o estômago ou a fantasia.
 Características:
 Capacidade de ser útil (satisfazer necessidades humanas – valor
de uso)
 Qualidade de ser equivalente a outra com a qual pode ser trocada
(valor de troca)
 Trabalho humano produz valores de uso e de troca.
 1 martelo = 20 canetas
 O que determina esta igualdade?
 Quantidade de trabalho incorporada aos objetos → tempo de
trabalho necessário à sua produção → elemento comum a todas
as mercadorias.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Mercadoria e valor em Marx
 Características em comum das mercadorias:
 Todas têm valor de uso.
 Todas eram produzidas pelo trabalho humano.
 Lei do Valor: cada mercadoria é trocada segundo a quantidade de
trabalho socialmente necessária à sua produção.
 A troca é uma troca de equivalentes.
 Teoria do valor-trabalho é retomada.
 Marx separa valor
 Substância
 Magnitude
 Forma
 Medida do valor: tempo de trabalho socialmente necessário.

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Mercadoria e valor em Marx

 O que determina o valor de uma mercadoria?


 Tempo de trabalho socialmente necessário, considerando
condições normais de produção, a especialização média e a
intensidade do trabalho na época.
 Isso inclui o trabalho direto de produção, trabalho para fazer a
máquina e matérias-primas empregadas. Estes transferem seu
valor para a mercadoria, durante o processo produtivo.
 Trabalho simples x Trabalho complexo.
 Valor do produto é medido em unidades de trabalho médio
simples.

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Mercadoria e valor em Marx

 Requisitos para que a Lei do Valor vigore sobre uma


mercadoria. Ou seja, a lei do valor funciona se
atendidos os seguintes pré - requisitos:
 Utilidade
 Trabalho humano
 Mercado
 Relações capitalistas de produção

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“Uma coisa pode ser valor-de-uso, sem ser valor. É o que
sucede quando sua utilidade para o ser humano não decorre
do trabalho. Exemplos: o ar, a terra virgem, seus pastos
naturais, a madeira que cresce espontânea na selva etc.
Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano, sem
ser mercadoria. Quem com seu produto, satisfaz a própria
necessidade gera valor-de-uso, mas não mercadoria. Para
criar mercadoria, é mister não só produzir valor-de-uso, mas
produzi-lo para outros, dar origem a valor-de-uso social. (...).
Finalmente, nenhuma coisa pode ser valor se não é objeto
útil. Se não é útil, tampouco o será trabalho nela contido, o
qual não conta como trabalho e, por isso, não cria nenhum
valor.” (Marx, Livro I, V. I, Cap. 1)

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Mercadoria e valor em Marx

 Figura: mundo econômico x mundo das mercadorias.


 Processo de circulação de mercadorias
 Troca simples
• Dinheiro serve para aquisição de valores de uso
• M-D-M’ (sujeito produz um valor de uso e, através da
mediação do dinheiro, obtém outro valor de uso.
• Dinheiro não é objetivo da troca.
• Vender para comprar.

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“O dinheiro que é apenas dinheiro se distingue
do dinheiro que é capital, através da diferença na
forma de circulação.”
“... o que sucede, além da substituição de um
valor-de-uso por outro, é nada mais do que uma
metamorfose, simples mudança de forma da
mercadoria. (...). Essa mudança de forma não
implica nenhuma alteração na magnitude do
valor. (...). Desde que a circulação de
mercadorias só implica mudança na forma do
valor, determina ela, quando o fenômeno se
desenrola em sua pureza, troca de
equivalentes.” (Marx, Livro I, V. I, Cap. 4)
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“Se se trocam mercadorias ou mercadorias e
dinheiro de igual valor-de-troca, se se permutam
portanto equivalentes, não se tira da circulação
mais do que nela se lança. Não ocorre nenhuma
formação de valor excedente (mais-valia). E, em
sua forma pura, a circulação de mercadorias
exige troca de equivalentes.
“Se se trocam equivalentes, não se produz valor
excedente (mais-valia), e se se trocam não-
equivalentes, também não surge nenhum valor
excedente. A circulação ou a troca de
mercadorias não cria nenhum valor.” (Marx, Livro
I, V. I, Cap. 4)
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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Mercadoria e valor em Marx
 Circuito do capital-dinheiro
• D-M-D’ (obter mais valor de troca)
• Dinheiro se transforma em capital, não é apenas meio de troca.
• Comprar para vender.
• Capitalistas compram mercadorias (M) que entram no
processo de produção de novas mercadorias, as quais são
vendidas e o capitalista obtém montante D’, sendo D’>D.
 Por que isso acontece?
 A circulação ou troca de mercadorias não gera valor algum.
 O segredo deste circuito está na forma pela qual o capitalista
transforma um montante D num montante maior D’.
 Isso não se deve ao fato de que o capitalista compra M a um preço
baixo e a vende por um preço alto: segredo está no processo de
produção.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Mercadoria e valor em Marx


 Se a troca fosse feita abaixo do valor da mercadoria, o
ganho do comprador seria idêntico à perda do vendedor.
 Figura.
 O processo de circulação de mercadorias não gera valor.
 A troca não pode ser a causa do excedente.
 Como é possível explicar o surgimento do lucro ou da mais-
valia, mantido o suposto de troca de equivalentes?
• Trocas nas sociedades pré-capitalistas.
• Trocas no capitalismo.
 Circuito do capital-dinheiro estendido.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Mercadoria e valor em Marx
 Distinção entre força de trabalho e trabalho é a novidade em Marx.
 O salário remunera o valor da força de trabalho ou valor do
trabalho?
 A força de trabalho é uma mercadoria especial. Por quê?
 Única mercadoria que tem capacidade de produzir valor superior
ao seu próprio valor.

 “Para extrair valor do consumo de uma mercadoria, nosso


possuidor de dinheiro deve ter a felicidade de descobrir, ..., no
mercado, uma mercadoria cujo valor-de-uso possua a propriedade
peculiar, de ser fonte de valor,... E o possuidor de dinheiro
encontra no mercado essa mercadoria especial: é a capacidade de
trabalho ou a força de trabalho.” (Marx, Livro I, V. I, Cap. 4)

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Mercadoria e valor em Marx
 Exemplo da jornada de trabalho.
 MP= equipamentos, instalações etc.
• Valor dos meios de produção: capital constante (já existia e
transfere seu valor para a mercadoria)
 Qual o valor de uso da F. T.? Qual o valor de troca da F. T.?
 Formas de definir mais-valia:
• Trabalho não pago, efetuado pelos trabalhadores.
• Diferença entre o valor da força de trabalho e o valor do
trabalho.
• Valor criado no tempo de trabalho que excedia o tempo
necessário para produzir um valor equivalente à cesta de bens
que garante a sua subsistência e de sua família.

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Mercadoria e valor em Marx


 Aplicação da teoria do valor-trabalho também no mercado
de trabalho (diferente dos clássicos)
 QT= quantidade de trabalho necessário socialmente. Há três
componentes:
• QT1= Reprodução biológica
• QT2= Histórico/Social
• QT3= Aprendizado
 F.T. simples = QT1 + QT2
 F.T. qualificada = QT1 + QT2 + QT3
 Salário ≠ Valor da F.T.

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Formas de ampliação da mais-valia

 Mais- valia absoluta


• Prolongamento da jornada de trabalho e/ou
• Variação da intensidade de trabalho
 Mais- valia relativa
• Inovações técnicas → produtividade social do trabalho.
• Obs.: aumento de produtividade precisa ocorrer em
setores produtores de bens de consumo dos
trabalhadores.

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Formas históricas de extração da mais-valia
 1) Cooperação
• Trabalho atomizado → trabalho coletivo/cooperado
• Variação da produção se deve ao maior controle que o
capital exerce sobre os trabalhadores.

“Chama-se cooperação a forma de trabalho em que muitos


trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo
processo de produção ou em processos de produção
diferentes mas conexos.”
“... uma dúzia de pessoas, no mesmo dia de trabalho de 144
horas, produz um produto global muito maior do que 12
trabalhadores isolados, dos quais cada um trabalha 12
horas...”

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Formas históricas de extração da mais-valia

 2) Manufatura/divisão do trabalho
 Processo capitalista de produção
 Manufatura reúne trabalhadores de ofícios diferentes e
semelhantes.
 Faz surgir o sistema de ferramentas → sujeito → objeto →
natureza.
 Ferramenta = extensão do corpo do sujeito (controlada pelo
sujeito para apropriar-se da natureza, comandada pelo
sujeito).

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

“A manufatura, portanto, se origina e se forma, a


partir do artesanato, de duas maneiras. De um
lado, surge da combinação de ofícios
independentes diversos (...). De outro, tem sua
origem na cooperação de artífices de determinado
ofício...”
“... a operação continua manual, artesanal,
dependendo portanto da força, da habilidade,
rapidez e segurança do trabalhador individual, ao
manejar seu instrumento.” (Marx, Livro I, V. II,
Cap. XII)

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Formas históricas de extração da mais-valia

 3) Maquinaria
• Sistema de Máquinas: Motor → transmissão → máquina-
ferramenta
• Sujeito não é mais determinante, mas determinado.
• O ritmo do sujeito é dado pelo sistema de máquina (sua
vontade não importa mais).
• Subordinação real do trabalho ao capital.

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Segundo Marx, John Stuart Mill afirma que:
“É duvidoso que as invenções mecânicas feitas até agora tenham
aliviado a labuta diária de algum ser humano”
“Não é esse o objetivo do capital, quando emprega maquinaria.
Esse emprego... tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a
parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para si
mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao
capitalista.”
“A máquina-ferramenta é portanto um mecanismo que, ao lhe ser
transmitido o movimento apropriado, realiza com suas ferramentas
as mesmas operações que eram antes realizadas pelo trabalhador
com ferramentas semelhantes.”
“Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da
ferramenta; na fábrica, serve à máquina. Naqueles, procede dele o
movimento do instrumental de trabalho; nesta, tem de acompanhar
o movimento do instrumental.” (Marx, Livro I, V. II, Cap. XIII)

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Formas históricas de extração da mais- valia
 4) Taylorismo (1885-1914)
• Novos princípios de gestão:
• 1) Divisão do trabalho/especialização das funções.
• 2) Separação entre concepção e execução.
• 3) Controle dos tempos e movimentos (cronômetro).
• Trabalho inteiramente dominado pelo capital.

 5) Fordismo (1914) / Neofordismo (1945-1973)


• Linha de montagem (a peça a ser montada se move ao invés do
sujeito → economia de gestos)
• Norma de consumo / política de salários: aumento da média salarial e
prêmios de produtividade.
• Controle global da força de trabalho (departamento de recursos
humanos)

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Formas históricas de extração da mais-valia

 6) Pós-Fordismo (Toyotismo)
• Flexibilização da produção.
• Produção diferenciada e não em massa.
• Just-in-time: elimina custo de armazenagem com linha de
produção mais ágil.
• Automação / robotização

 Ver transparência de quadro-síntese.

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Componentes do Valor
 Para iniciar a produção, o capitalista faz
adiantamentos, divididos em dois tipos segundo
Marx:
• Capital constante
• Parte do capital destinado à construção de fábricas,
máquinas, equipamentos, matérias-primas etc.
• Por que é chamado de constante?
• Capital variável
• Parte do capital destinado à compra da força de trabalho
(salários).
• Por que é chamado de variável?

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Componentes do Valor

 Valor total = C’ + V + m
 Capital constante pode se dividir em
• Capital fixo: máquinas, equipamentos.
• Capital circulante: entra e desaparece no processo de
produção (matéria-prima).
 Figura que mostra a relação entre os conceitos de capital
constante, variável, fixo e circulante.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“O valor dos meios de produção se conserva através de sua
transferência ao produto.”

“... um meio de produção não transfere ao produto mais valor que


o que perde no processo de trabalho com a destruição do próprio
valor-de-uso. Se não tiver nenhum valor a perder (...) não
transferirá valor ao produto. Terá servido para criar valor-de-uso,
sem servir para criar valor-de-troca.”

“A parte do capital, portanto, que se converte em meios de


produção ... não muda a magnitude do seu valor no processo de
produção. Chamo-a, por isso, parte constante do capital, ou
simplesmente capital constante. A parte do capital convertida em
força de trabalho, ao contrário, muda de valor no processo de
produção. Reproduz o próprio equivalente e, além disso,
proporciona um excedente, a mais valia ...” (Marx, Livro I, V. I, Cap.
VI).

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Taxas

 Taxa de mais-valia = m/v = mais-valia/capital variável =


TTE/TTSN
• (mede o grau de exploração do trabalhador)

 Taxa de lucro = m/(c+v)


• (mede o grau de valorização do capital)

 Composição orgânica do capital = c/v


• (taxa de substituição de mão-de-obra por máquinas)

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Processo de Reprodução do Capital
 A relação entre valor de uso e valor de troca é de subordinação. O
primeiro é o suporte material do segundo.
 Distinção entre as duas espécies de capital (enquanto valores de
uso da produção capitalista): C + V
 C: parte do capital que transmite às mercadorias produzidas
exclusivamente o seu próprio valor.
• Como valores de uso são os meios de produção.
• Quanto maior a massa de meios de produção relativamente à
força de trabalho e mais avançada a tecnologia deles maior
será a força produtiva do trabalho e maior será a formação de
mais-valia relativa.
 V: parte do capital que transmite às mercadorias produzidas um
valor além do seu próprio valor (mais-valia). Como valores de uso
é constituído pela força de trabalho.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital

 Valor da mercadoria é a soma de três termos: o valor do capital constante


(C), o valor do capital variável (V) e a mais-valia (S).
 O trabalho vivo (da F.T.) realiza no processo produtivo três operações:
conserva o valor do capital constante, reproduz o valor do capital variável e
produz mais-valia.
 Com seu esquema de reprodução do capital, Marx rebate a tese de
Sismondi e Malthus de que o capitalismo nunca teria condições de realizar
o seu valor, ou seja, ficaria sistematicamente atrasado em relação à
produção.
• “O mercado não sobrevém do exterior, mas forma-se no próprio seio
da produção capitalista”. (Napoleoni, 1977, p. 73). Demonstra a
simples possibilidade do equilíbrio, e não a sua realidade.
 Na reprodução se manifesta a dupla natureza do valor:
• Elemento de unidade (desenvolvimento)
• Elemento de cisão (crise)

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Processo de Reprodução do Capital
 Reprodução Simples e Ampliada do Capital
 Produção é processo contínuo.
 Capital completa um circuito e inicia outro.
 D=M=C+V
 M’=D’=C+V+S
 Se o capitalista volta a aplicar apenas D → reprodução simples.
 Usos de S:
• Bens de consumo.
• “Debaixo do colchão” (entesouramento).
 Parte de S ou todo S no circuito seguinte → reprodução ampliada.
 Tendência normal: acumulação como necessidade em face da
concorrência.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital
 Condições materiais da reprodução
 Para se tornar efetiva, a reprodução requer condições
específicas vinculadas às características materiais e ao
valor de uso das mercadorias envolvidas no processo:
certas quantidades de BC e de BK.
 Para acumular capital, é preciso que o valor de uso das
mercadorias no mercado seja compatível com o emprego
que o capitalista pretende dar a elas.
 Para consumir seu lucro, é preciso haver BC e para reiniciar
sua produção é preciso haver M.P. e F.T.
 Exemplo: ramo siderúrgico
• Equipamentos, carvão, minério de ferro, mão-de-obra
especializada em siderurgia.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital
 Há 4 possíveis categorias de acordo com o valor de uso:
• Bens de investimento (bens de capital)
• Bens intermediários
• Bens de consumo dos trabalhadores
• Bens de consumo dos capitalistas
 Ao aplicar S, o capitalista tem que encontrar no mercado:
• 1) Bens de consumo (=S)
• 2) M.P. (=C)
• 3) F.T. (=V), que requer BC para trabalhadores
 Se não, haverá desequilíbrios.
 Na reprodução ampliada a situação é mais complicada: S é usado para C e
V.
 Se a oferta de M.P. não crescer, de nada adianta aos capitalistas terem
dinheiro se não houver condições materiais para efetivar a reprodução
ampliada.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital

 Esquema de reprodução simples


 - dois setores ou departamentos: D1 (meios de produção) e D2
(bens de consumo)
 - economia fechada e sem governo
 - produção em valores brutos (antes de deduzir depreciação do
capital fixo)
 - capital fixo se deprecia inteiramente num único circuito de
produção.
 - capitalistas e trabalhadores não poupam.
 W: valor da produção;
 C: capital constante;
 V: capital variável;
 S: mais-valia;
 Algarismos 1 e 2: departamentos 1 e 2.

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital
 Valores da produção em D1 e D2:
 W1 = C1 + V1 + S1 (1)
 W2 = C2 + V2 + S2 (2)
 Sabemos também que:
 W1 = C1 + C2 (3)
 Igualando (1) e (2), temos:
 W1 = C1 + V1 + S1 = C1 + C2 (4)
 Ou seja,
 V1 + S1 = C2 (5)
 Como D2 produz todos os bens de consumo, temos que:
 W2 = V1 + S1 + V2 + S2 (6)

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Processo de Reprodução do Capital

 Igualando (2) e (6), temos que:


 W2 = C2 + V2 + S2 = V1 + S1 + V2 + S2 (7)
 C2 = V1 + S1 (8)
 A equação (8) é a equação básica de equilíbrio do
esquema de reprodução simples. Expressa a
relação entre a produção dos dois departamentos.

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Processo de Reprodução do Capital


 Esquema de reprodução ampliada
 - suposições idênticas ao esquema de reprodução simples,
exceto pelo fato de que os capitalistas investem todo ou
parte da sua mais-valia na acumulação de capital.
 S = bS + cS + vS (9) (sendo que b + c + v = 1)
 b = parcela de mais-valia gasta em bens de consumo (BC);
 c = parcela de mais-valia gasta em meios de produção (MP);
 v = parcela de mais-valia gasta em força de trabalho (FT);

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital

 - produção de MP: repor desgaste de C no D1 e


D2 (C1+ C2) e atender à demanda adicional por
MP em ambos departamentos (cS1 + cS2)
 W1 = C1 + C2 + cS1 + cS2 (10)
 - produção de BC: suprir a antiga demanda de
trabalhadores e capitalistas (V1 + V2 + bS1 +
bS2) a demanda adicional (vS1 + vS2)
 W2 = V1 + vS1 + bS1 + V2 + vS2 + bS2 (11)
 Mas, sabe- se que W1 = C1 + V1 + S1 (12)
 e que S1 = bS1 + cS1 + vS1 (13)

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Processo de Reprodução do Capital

 Então, podemos igualar (10) e (12), obtendo:


 C1 + C2 + cS1 + cS2 = C1 + V1 + bS1 + cS1 + vS1
 C2 + cS2 = V1 + bS1 + vS1
 - Na reprodução simples, tínhamos:
 W1 = C1 + C2
 W2 = V1 + S1 + V2 + S2
 - Na reprodução ampliada, temos:
 W1 > C1 + C2 (ver eq. 10)
 W2 < V1 + S1 + V2 + S2 (ver eq. 11)

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital

 - Produção de D1 é maior do que o C dos dois


departamentos (criação de condições materiais
para reprodução ampliada) e a produção de D2 é
menor do que a soma do capital variável com a
mais- valia dos dois departamentos (nem toda
mais- valia é consumida). Reprodução ampliada
exige estas duas desigualdades.
 W1 = (C1 + C2) + (cS1 + cS2)
 W2 = (V1 + S1 + V2 + S2) – (cS1 + cS2)

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Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital

 Exemplo Número de Marx (Capital, v. II, p. III, cap. 21,


seção 3)
 4000 C1 + 1000 V1 + 1000 S1 = 6000 W1
 1500 C2 + 750 V2 + 750 S2 = 3000 W2
 (letras indicam os tipos de grandezas numéricas)
 6000 W1 = (4000 C1 + 1500 C2) + 500
 3000 W2 = (1000 V1 + 1000 S1 + 750 V2 + 750 S2) – 500
 - O limite material da acumulação corresponde ao
excedente de produção do D1 (500 unidades monetárias de
MP). Como a acumulação ocorre neste esquema?

46 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital


 - Em D1, os capitalistas decidem consumir apenas a metade
de sua mais-valia, sobrando 500 S1 para aumento de
capital. Se a C.O.C é igual a 4 (4000 C1 ÷ 1000 V1) e se
mantém, o crescimento do capital constante em 4 unidades
é acompanhado pelo crescimento do capital variável em 1
unidade.
 - Se os capitalistas aplicarem 400 em C1 e 100 em V1,
teremos:
 (4000 + 400)C1 + (1000 + 100)V1[capital total de D1]

47 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital


 - No D1 havia um excedente de produção de 500, mas com
a aplicação de 400 no próprio D1, este excedente cai para
100. No D2 havia uma carência de produção de 500; mas,
como os capitalistas de D1 deixam de utilizar 500 S1 na
compra de BC, esta carência desaparece. Mas, como
ampliam V em 100, os trabalhadores passam a demandar
100 e a carência passa a ser de 100.
 - No D2, os capitalistas também querem acumular, mas só o
podem fazer no valor de 100, pois os 400 restantes já foram
aplicados no D1. Estes 100 referem-se aos recursos
provenientes da venda de BC aos trabalhadores do D1 e
são usados para comprar MP de D1.

48 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital


 - A C.O.C do D2 é 2. Se ele aumenta em 100 C2 precisará de
50 V2.
 (1500 + 100) C2 + (750 + 50) V2 [capital total de D2]
 - A produção dos dois departamentos passa a ser distribuída
da seguinte forma:
 6000 W1 = (4000 + 400) C1 + (1500 + 100) C2
 3000 W2 = (1000 + 100) V1 + (750 + 50) V2 + 500 S1 + 600 S2
 sendo que 500 S1 = 1000 S1 – 400 C1 – 100 V1 (a mais-valia
usada para consumo no D1 é igual à mais-valia total do
departamento menos as parcelas empregadas para ampliação
de C e V)
 600 S2 = 750 S2 – 100 C2 – 50 V2

49 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital

 - A produção dos dois departamentos se distribui


adequadamente (sem excedente nem carência), com
ampliação de capital em ambos.
 - Como entra capital adicional em ambos os departamentos,
a produção também se amplia. A taxa de mais-valia de
ambos é igual a 100%. Com a acumulação de capital, a
massa de mais-valia e o valor da produção nos dois
departamentos também crescem:
 4400 C1 + 1100 V1 + 1100 S1 = 6600 W1
 1600 C2 + 800 V2 + 800 S2 = 3200 W2

50 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Processo de Reprodução do Capital


 Note que: valor da produção de D1 = 6600 W1 > valor da
reposição de C nos dois departamentos (4400 C1 + 1600 C2
= 6000) e valor da produção de D2 (3200 W2) < soma total
de V e S dos dois departamentos (1100 V1 + 1100 S1 + 800
V2 + 800 S2 = 3800)
 - Exemplo numérico: modelo ideal do processo de
acumulação, com equilíbrio (sem crises, insuficiências de
demanda efetiva etc.). Tem o mérito de mostrar as
condições materiais da acumulação, as relações entre a
produção de MP e BC no decorrer do processo de
acumulação.

51 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Conseqüências da acumulação de capital e


da concorrência em Marx
 - Desequilíbrios e crises setoriais:
 1) expansão tranqüila e contínua da economia exigia que a
troca entre esses dois setores (BC e MP) fosse equilibrada
→ BC demandados pelos trabalhadores e capitalistas do
setor produtor de MP tinham de estar em equilíbrio com a
demanda destes pelos capitalistas do setor produtor de BC.
 2) Problemas de realização da mais-valia por falta de
demanda de consumidores. Origem: distribuição do
excedente entre salários e lucros.

52 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx
 - Tendência à queda da taxa de lucro
 A acumulação tem como efeito o aumento da composição orgânica
do capital.
 Causas do aumento da C.O.C.:
• Concorrência entre os capitalistas.
• Competição entre capital e F. T.
 Um efeito do aumento da C.O.C. é o aumento do Exército
Industrial de Reserva: F.T. grande para não criar obstáculos ao
processo de reprodução ampliada do capital.
 Por que o capitalista investe em máquinas e não na F.T.?
• 1) lucros extras se for o primeiro a fazer isso.
• 2) aumento da eficiência da produção → menor o valor da F.T.

53 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 Obs.: queda da taxa de lucro não implica em queda do lucro total


ou queda da participação do lucro no produto total (aumento da
massa de lucros que incrementa ainda mais a acumulação).
 Marx também trabalha com a hipótese de taxa geral de lucro
(uniforme): igualdade da taxa de lucro entre os vários capitais por
causa da concorrência.
 Concorrência: se há diferentes taxas de lucro, os capitais deslocar-
se-iam das atividades com taxa de lucro baixa para as atividades
com elevada taxa de lucro.
 A produção de algumas mercadorias diminuiria e os preços
aumentariam, ao contrário de outras mercadorias, até que a taxa
de lucro se igualasse.

54 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Conseqüências da acumulação de capital e da


concorrência em Marx

 Este mecanismo em Marx pode ser visto como aquele que


permite ao capital realizar uma propriedade intrínseca ao
capital: o capital tema si próprio como fim, sendo por isso
indiferente à qualidade particular do setor em que se
encontra investido. Não teria sentido se ele se valorizasse
mais num setor e menos em outro.
 Contradição: capitalista reduz a base de onde extrai seus
lucros (contradição básica do sistema capitalista).

55 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Forças compensatórias da tendência de queda da taxa de lucro

 1) aumento da intensidade de exploração (aumento da jornada de trabalho


e a intensificação do trabalho).
 2) redução dos salários abaixo do valor da F.T.: crescimento da
superpopulação relativa ou outro meio.
 3) barateamento dos elementos do capital constante (progresso técnico):
preços dos meios de produção caem impedindo a elevação da C.O.C.,
embora a composição técnica esteja crescendo.
 4) E.I.R. dá margem ao surgimento de firmas com baixa C.O.C. e com alta
mais-valia.
 5) Barateamento dos bens-salário (redução do TTSN da mercadoria F.T.):
criação de mais-valia relativa.
 6) Comércio Exterior: capital investido no comércio exterior pode gerar uma
taxa de lucro mais elevada, obtenção de matérias-primas mais baratas,
alimentos e bens de capital a preços menores. Exportação de capitais.

56 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx
 - Tendência à queda da taxa de lucro
 Opiniões de HUNT (2005):
 a) análise de Marx não era uma tentativa de previsão empírica e
sim um artifício de identificação de várias forças;
 b) deficiência da análise de Marx sobre esta tendência foi a
incapacidade de discutir a relação entre a taxa de mais-valia e a
composição orgânica do capital. Um aumento desta significava que
as técnicas estavam mudando, o que poderia permitir (mediante
aumento na eficiência na produção de bens-salário) aumento
simultâneo nos salários reais e da taxa de mais-valia. A variação
da C.O.C poderia cria sua própria influência compensatória;
 c) grande parte da mudança tecnológica ocorrida no século XX
produziu um barateamento dos elementos do capital constante.

57 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 - Concentração econômica:
 riqueza e poder se concentrariam nas mãos de um número cada
vez menor de capitalistas por causa de duas forças: concorrência e
avanço tecnológico.
 “Aqui, a concorrência torna-se mais feroz na proporção direta do
número e na proporção inversa da magnitude dos capitais
antagônicos. Sempre termina na ruína de muitos capitalistas
pequenos, cujos capitais passam, em parte, para as mãos de seus
conquistadores e, em parte, desaparecem”.(Marx, O capital)
 “um aumento do volume mínimo de... capital necessário para o
funcionamento de uma empresa em sua condições normais”.

58 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 - Alienação e crescente miséria da classe operária


 Alienação: conceito derivado da filosofia hegeliana e se refere à
posição do trabalhador no modo capitalista de produção. O
trabalhador é alienado por três razões: 1) trabalhadores não
possuem seus meios de produção; 2) trabalhadores não possuem
o produto de sua atividade; 3) trabalhadores não controlam a
organização do processo produtivo (papel específico e limitado).
 - O processo de acumulação de capital tinha efeitos danosos sobre
os operários, impedindo-os de desenvolver suas potencialidades.
Antes do capitalismo, criavam e trabalhavam com instrumentos
para moldar e controlar a natureza, desenvolvendo intelecto. O
indivíduo se auto-realizava no trabalho, apesar de também haver
exploração. O trabalho envolvia mais do que a mera venda da
força de trabalho como mercadoria.

59 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx
 - Alienação e crescente miséria da classe operária
 Desemprego e subemprego são condições geradas pela própria
lógica da acumulação. O compromisso do capital é com sua
valorização e não com a geração adequada de postos de trabalho.
 Capital determina simultaneamente a demanda e a oferta de
trabalho.
 “O capital produz anualmente mais valia, parte da qual se agrega
todo ano ao capital original; (...). Esses fatores podem fazer as
necessidades de acumulação do capital ultrapassar o crescimento
da força de trabalho ou do número de trabalhadores, a procura de
trabalhadores ser maior que a oferta, ocasionando assim a
elevação dos salários.”

60 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 “A elevação do preço do trabalho fica, portanto, confinada


em limites que mantêm intactos os fundamentos do sistema
capitalista e asseguram sua reprodução em escala
crescente.”
 “a grandeza crescente dos meios de produção, em relação à
força de trabalho neles incorporada, expressa a
produtividade crescente do trabalho. O aumento desta se
patenteia, portanto, no decréscimo da quantidade de
trabalho em relação à massa dos meios de produção que
põe em movimento.”

61 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 “... a verdade é que a acumulação capitalista sempre


produz, e na proporção da sua energia e de sua extensão,
uma população trabalhadora supérflua relativamente, isto é,
que ultrapassa as necessidades médias da expansão do
capital, tornando-se, desse modo, excedente.”

 “O capital age ao mesmo tempo dos dois lados. Se sua


acumulação aumenta a procura de trabalho, aumenta
também a oferta de trabalhadores, ‘liberando-os’...”

62 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Conseqüências da acumulação de capital e da
concorrência em Marx

 A acumulação de capital produz excesso relativo de


população para regular os salários impedindo que
aumentem acima do valor da F.T.
 “Todo trabalhador dela faz parte durante o tempo em que
está desempregado ou parcialmente empregado. (...). ...
assume ela, continuamente, as três formas seguintes:
flutuante, latente e estagnada.”
 Funções do E.I.R.
• Regular os salários
• Disponibilizar mão-de-obra para momentos de brusca
expansão produtiva.

63 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Conseqüências da acumulação de
capital e da concorrência em Marx
 - Alienação e crescente miséria da classe operária
 Contradições:
• Crescente produtividade da mão-de-obra ao lado da crescente
exploração e decrescente capacidade de consumir bens.
• Pobreza gerada pelo mesmo processo que produz riqueza.
 “Teoria da Miséria do Proletariado”: críticos apontam
aumento do padrão de vida da classe trabalhadora.
 Rosdolsky: E.I.R. não desempenha mesma função que
naqueles tempos, pois há legislação trabalhista (jornada) e
sindicatos organizados.

64 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“A burguesia, onde quer que tenha
dominado, terminou com todas as relações
feudais paternalistas e poéticas. Cortou
impiedosamente os vínculos feudais
heterogêneos que ligavam o homem a seus
“superiores naturais” e não deixou ficar
qualquer outro vínculo entre os homens, que
não o interesse próprio puro e simples, o
insensível “pagamento em dinheiro”. Afogou
os enlevos celestiais do fervor religioso, do
entusiasmo nobre, do sentimentalismo
filisteu no mar glacial do cálculo egoísta.
Transformou o valor pessoal em valor de
troca.”

65 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“O que, então, constitui a alienação do trabalho?
Primeiramente, o fato de o trabalho ser externo ao
trabalhador, isto é, não pertencer à sua essência; em
seu trabalho, portanto, ele não se afirma, mas se
nega, não se sente feliz, mas infeliz, não desenvolve
livremente sua energia física e mental, mas mortifica
seu corpo e arruína sua mente. O trabalhador,
portanto, só se sente ele mesmo fora do trabalho, no
trabalho, sente-se estranho. Sente-se à vontade
quando não está trabalhando, o que não acontece
quando está trabalhando. Portanto, seu trabalho não
é voluntário, mas algo a que ele é obrigado; é um
trabalho forçado.”

66 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“Não é, por conseguinte, a satisfação de uma
necessidade; é, meramente, um meio para satisfazer
às suas necessidades fora dele. Sua natureza
estranha evidencia-se claramente no fato de que,
quando não existe uma obrigatoriedade física ou
outro tipo de obrigação, o trabalho é evitado, como se
fosse uma doença. O trabalho exterior, do qual o
homem se aliena, é um trabalho de auto-sacrifício ou
de mortificação. Por fim, a natureza externa do
trabalho, para o operário, se evidencia no fato de o
trabalho não ser de quem trabalha, mas de outro, de
não pertencer a ele, mas ele pertencer ao trabalho...”

67 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“Com isso, o homem (o operário) não
se sente mais livre, a não ser em suas
funções animais – comer, beber,
procriar ou, quando muito, em sua
moradia e com relação a suas
próprias roupas etc.; em suas funções
humanas, ele se sente, portanto,
apenas como um animal. O que é
animal torna-se humano e o que é
humano torna-se animal.” (Marx, O
Capital)”
68 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009
Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“No sistema capitalista, todos os métodos de aumento da
produtividade social do trabalho são empregados à custa do
trabalhador; todos os meios para o desenvolvimento da
produção se transformam em meios de dominação e de
exploração dos produtores; mutilam o trabalhador,
transformando-o num fragmento de homem, degradando-o
no nível de apêndice de uma máquina, destruindo todo o
encantamento que resta de seu trabalho e transformando-o
em um trabalho árduo e detestável; tiram dele as
potencialidades intelectuais do processo de trabalho, na
medida em que a ciência é aplicada, no trabalho, como
força independente; distorcem as condições em que ele
trabalha, sujeitando-o, no processo de trabalho, a um
despotismo odioso por sua mesquinharia; transformam sua
vida em uma vida de trabalho e arrastam sua esposa e seus
filhos para o domínio do capital idolatrado.”

69 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
“Todos os métodos de produção de mais-valia são, ao
mesmo tempo, métodos de acumulação; toda
extensão da acumulação se transforma, de novo, em
meio para o desenvolvimento desses métodos.
Segue-se, portanto, que, à medida que o capital é
acumulado, a sorte do trabalhador, quer seu
pagamento seja alto quer baixo, tem de piorar. A lei...
estabelece uma acumulação da miséria
correspondendo à acumulação de capital. A
acumulação de riqueza em um pólo é, ao mesmo
tempo, acumulação da miséria, da agonia do trabalho
árduo, da escravidão, da ignorância, da brutalidade e
da degradação do pólo oposto.” (Marx, O Capital)

70 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
- A acumulação progressiva de capital piorava a
alienação do operário. Este poderia ficar em pior
situação mesmo que houvesse aumentos de salários.
- Miséria crescente pode dificultar as condições de
realização da mais-valia.
- O processo de produção capitalista possui dois atos:
- Primeiro ato: mais-valia está produzida quando
todo o sobre-trabalho se incorpora em
mercadorias.
- Segundo ato: todo volume de mercadorias (parte
que repõe C e V, além de m) precisa ser vendido.
- Oferta: criação da mais-valia.
- Demanda: realização da mais-valia.

71 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
- Condições de exploração direta: limitadas pela
capacidade produtiva
- Condições de realizar a exploração: depende das
relação proporcional dos vários ramos de produção e
da capacidade de consumo da sociedade.
- Dinheiro: possibilidade de ruptura do processo de
circulação.
- “O capitalista lança em circulação menos valor em
forma de dinheiro do que o que ele retira da
circulação, porque ele lança em circulação mais valor
em forma de mercadorias do que ele retira em forma
de mercadorias... Sua oferta de valor-mercadoria é
sempre maior do que sua demanda por valor-
mercadoria” (O capital, v. II, p. I, cap. 4, p. 117).
72 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009
Karl Heinrich Marx (1818-1883)
- Valor da produção de mercadorias vendidas = C+V+m
- Valor da demanda de mercadorias enquanto capitalistas =
C+V
- C+V+m (Oferta) > C+V (Demanda)
- m = massa de mais-valia, qual o seu destino?
- Funções da moeda
- Medida de valores (preço é expressão monetária do
valor de uma mercadoria)
- Meio de circulação (instrumento pelo qual mercadorias
são trocadas)
- Meio de entesouramento
- Entesouramento → interrupção do circuito M-D-M e
obstáculo à circulação de mercadorias.
- Como isso afeta a acumulação de capital?
- A acumulação é, em parte, um processo de circulação de
mercadorias.

73 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
- D – M – M’ – D’ (para obter D’ é preciso vender M’).
- Entesouramento é restrição à acumulação. O crédito não
pode se contrapor?
- Mais-valia não usada para B.C. ou para B.K. →
empréstimo.
- Nada há em Marx que leve a crer que haverá S=I
- Qual é o papel do crédito?
- Reduz gastos de circulação de mercadorias.
- Acelera circulação de mercadorias (facilita a realização
da produção).
- Compras à vista de BC e BK de grande valor
exigem reservas monetárias → redução no volume
de vendas de igual magnitude das reservas.
Crédito dispensa isso.
- Cria condições para atividades especulativas (obstrui a
realização da produção).
- Facilita a concentração e centralização do capital.

74 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
- Sistema de crédito (sistema financeiro): permite que o
capital-dinheiro seja valorizado sem precisar
converter-se em capital mercadoria (ou capital
produtivo).
- Títulos de crédito (ações, debêntures, letras de
câmbio, títulos do governo): formas de aplicação
rentável para o dinheiro do capitalista → dinheiro
deixa de ser convertido em capital-mercadoria, o
que restringe o processo de circulação e
realização da produção.
- Problema apenas parcialmente explorado por
Marx (interesse nos empréstimos monetários
feitos por banqueiros a industriais e
comerciantes).
- Problema abordado por Keynes na Teoria Geral.

75 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)
Valor e Preço de Produção em Marx
 Suposições:
 1 – mesma taxa de mais-valia = 100%
 2 – capital de cada indústria é equivalente a 100
unidades
 3 – diferentes composições orgânicas do capital

Indústrias Capital Capital Constante Capital Mais-Valia Custo de Valor Taxa de


Total Constante Consumido Variável Produção Lucro
c+v c c' v m c' + v c' + v + m r
I 100 80 50 20 20 70 90 20%
II 100 70 51 30 30 81 111 30%
III 100 60 51 40 40 81 131 40%
IV 100 85 40 15 15 55 70 15%
V 100 95 10 5 5 15 20 5%
Média 100 78 - 22 22 - - 22%

76 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Indústrias Capital c' v Preço de m Valor Taxa de Preço de Preço >


Custo Lucro Produção Valor
I 80c + 20v 50 20 70 20 90 22% 92 +2
II 70c + 30v 51 30 81 30 111 22% 103 -8
III 60c + 40v 51 40 91 40 131 22% 113 - 18
IV 85c + 15v 40 15 55 15 70 22% 77 +7
V 95c + 5v 10 5 15 5 20 22% 37 + 17
Soma 390c + 110v 202 110 312 110 422 22% 422 0

 Obs.:
 1) taxas de lucro são diferentes em cada indústria →
concorrência →
 Igualdade das taxas de lucro → valor ≠ preço;
 2) composição orgânica do capital > composição média do
capital ⇒ preço do produto > valor; composição orgânica do
capital < composição média do capital ⇒ preço do produto <
valor;
 3) Soma dos desvios dos preços em relação aos valores é
zero.
77 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009
Karl Heinrich Marx (1818-1883)

Transformação de Valores em Preços em Marx


 c = capital constante;
 v = capital variável;
 s = mais-valia;
 m = valor;
 s’ = taxa de mais-valia
 q = composição orgânica do capital
 r = taxa de lucro
 m’ = valor de troca

c v s m s’ q r m’
I 8 2 2 12 100% 4 20% 4
II 1 1 1 3 100% 1 50% 1

78 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

 Obs.: taxa de mais-valia igual nos dois capitais


(setores); composição orgânica diferente; taxas de
lucro diferentes → situação de não equilíbrio →
concorrência transfere capital de I para II até igualar
taxas de lucro.
 Qual é a taxa geral de lucro?
 Mais-valia global= 3
 Capital global= 12
 Taxa de lucro geral= 25% (se aplicada a cada um dos
capitais, temos o preço de produção)

79 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

c v b p p’
I 8 2 2,5 12,5 5
II 1 1 0,5 2,5 1

 b = lucro
 p’ = preços relativos
 Conclusão: Preços ≠ Valores
 - sistema de valores → taxa geral de lucro → valores
dos capitais → preços de produção. Ou seja, preços
dependem dos valores, em termos de natureza e
grandeza.
 - mais-valia global = lucro global (∑b = ∑s)
 - valor global = preço global (∑m = ∑p)

80 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

 - Conclusão: valor e mais-valia não mudam na passagem


de valores a preços, mas transformam-se trocando sua
composição interna. A concorrência não pode senão
redistribuir valores já existentes, sendo-lhe impossível criar
outros novos.
 - a categoria preço não perturbaria a teoria do valor-trabalho
se o problema com o qual Ricardo se deparara não voltasse
a ocorrer: tentativa de conciliar os resultados da
concorrência com o conceito de valor como trabalho
contido.
 - Marx não transformou os valores dos insumos em preços,
mas somente os valores dos produtos em preços. Enquanto
os valores das duas mercadorias foram sujeitos a
transformação (de 12 passou-se a 12,5 e de 3 a 2,5), os
valores dos elementos que constituem os dois capitais
permaneceram inalteráveis. Mas os insumos são também
mercadorias; logo, seus valores deveriam ser
transformados em preços.

81 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009


Karl Heinrich Marx (1818-1883)

 - Marx tinha consciência deste problema (ver Teorias da


Mais-Valia).

 - Seqüência lógica de Marx: valor → taxa de lucro → preço.

 - Mas taxa de lucro, para ser determinada, precisa dos


preços, porque é uma relação entre grandezas
determináveis com base nos preços. Preços dependem
taxa de lucro, já que esta está incluída naqueles.

 Solução: taxa de lucro e preços devem ser determinados


simultaneamente, mediante sistema de equações.

82 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves - Turma 2009

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