Professional Documents
Culture Documents
RESUMO
1
Professor do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A SOCIEDADE DO SUBSÍDIO E A EDUCAÇÃO: SOBRE ALGUMAS
POLÍTICAS DE DESMOBILIZAÇÃO SOCIOEDUCACIONAL NA
CONTEMPORANEIDADE
1. INTRODUÇÃO
Somos obrigados a nos pronunciar sobre a questão do ser, a partir do momento em que ela se acha
colocada (GUATTARI, 1973, p. 34).
2
Professor do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
exemplificar uma política de subsídio que produziu desmobilização social em ações de
protestos promovidos por grupos de estudantes.
Sobre o fato relatado acima existe algo que talvez os estudantes não sabiam sobre a
decisão do Estado e/ou fingiram não saber/entender: o Estado iria repassar diretamente
aos empresários do transporte público um subsídio, ou seja uma determinada quantidade
de dinheiro, para que o preço das passagens fossem reduzidas. Ao repassar o dinheiro
diretamente para às empresas privadas tal remessa obviamente deixou de ser aplicada
em outro setor que fosse realmente público. É possível inferir que outro motivo para tal
ação do Estado seria a possibilidade dessas empresas, por sua vez, repassarem no futuro
algum montante de dinheiro para o financiamento das campanhas eleitorais do dado
partido político estabelecido no governo. Essas possibilidades, dentre outras, não foram
problematizadas pelos estudantes que não se reuniram para debater essa situação devido
possivelmente por terem tido um ganho de causa imediata com a política de subsídio. É
nessa perspectiva, dentre muitos outros exemplos político-sociais que poderiam ser aqui
citados, que este estudo considera que a população vive atualmente em uma sociedade
do subsídio que produz por conseqüência de suas intervenções alguns processos de
desmobilização social em diversos setores.
No caso das bolsas concedidas aos tutores de EaD é possível constatar diversas
problemáticas que afligem esses trabalhadores educacionais: a falta de contrato de
trabalho e vínculo empregatício; a ausência de suporte das políticas sociais vigentes dos
trabalhadores assalariados; a ausência de benefícios e direitos garantidos por lei para os
trabalhadores formais; etc. Considerando essa política de subsídios constatada em
diversas instituições de Educação Superior, é possível inferir que elas também são
políticas de desmobilização socioeducacional: há uma desconsideração nesses processos
de EaD sobre a profissionalização desses trabalhadores e garantia de direitos
trabalhistas similares aos dos assalariados. Um dos possíveis motivos de desmobilização
social que ocorre nesse contexto pode estar ligado ao fato de tal subsídio ser pago sem a
ocorrência de descontos devido à ausência de impostos incidentes sobre o dinheiro
recebido, o que produz assim mais um processo de desmobilização social, desta vez da
classe profissional de tutores, que não se engajam de forma organizada para reivindicar
melhorias.
O exemplo citado acima não apresenta absolutamente nenhum argumento contra à EaD
mas considera apenas que esses problemas poderiam/deveriam ser debatidos pela
comunidade educacional buscando se localizarem portanto em que tipo de política
pública estão inseridos.
No caso dos abonos concedidos aos professores de redes públicas de ensino, é possível
considerá-la também como um subsídio cuja conseqüência também é a da
desmobilização socioeducacional: grande parte dos professores, devido esses subsídios,
se sentem satisfeitos momentaneamente com uma situação de precariedade salarial e de
precariedade de suas condições de trabalho e evitam se engajar em protestos públicos
contra os problemas vividos pelo magistério; já os professores que decidem se engajar
são coagidos por campanhas publicitárias do Estado/Prefeitura na mídia informando à
sociedade que determinados valores financeiros foram repassados aos professores como
abono e esse quantidade em dinheiro, na visão de grande parte da população, é um valor
financeiro satisfatório ao magistério produzindo assim uma desmobilização social nos
pais/comunidade em apoiar uma educação pública de melhor qualidade.
Mediante as políticas acima citadas, dentre muitas outras que permeiam tanto a
educação como outros setores da sociedade, são produzidos processos de
desmobilização social que faz com que os agentes de transformação da sociedade vivam
em um mundo surreal, ora denominado sociedade do subsídio, e portanto deixem de
estar em contato direto com as problemáticas de seu contexto político-social.
[...] é um momento de expectativa sobre algo que há de advir, que pode vir a
acontecer; ele refere-se tanto a uma expectativa não-planejada ligada a um
currículo prescrito que está prestes a se efetuar quanto a um currículo
praticado que está em vias de ser efetuado (SANT'ANA, 2008, p. 70).
O currículo virtual preexiste nas propostas e contrapropostas emitidas pela cultura oral
dos profissionais da escola ou da Secretaria de Educação, tendo freqüentemente
intencionalidades educativas: o currículo virtual seria um entrelugar situado no que foi
planejado pela instituição escolar (currículo prescrito) e no que está efetivamente sendo
realizado no momento da prática pedagógica (currículo praticado).
Qual seria então a diferença entre o currículo virtual, o currículo prescrito, o currículo
praticado e o currículo agenciado? Infere-se uma não-possibilidade de fragmentação
dos múltiplos currículos, visto que são engendrados nas relações entre o virtual e atual.
Talvez algumas pistas sobre os múltiplos currículos tenham sido lançadas ao acaso ao
longo deste breve capítulo e muitas outras tenham sido negligenciadas ou
desconsideradas. Pode-se afirmar que o objetivo foi o de problematizar (in)tensamente
que esses acontecimentos eram produzidos maquinicamente no cotidiano escolar do
laboratório de informática e que se infere possibilitaram um pensar-problematizador
dos conceitos mencionados na questão acima citada.
A professora de Informática saiu do laboratório por alguns minutos e disse que havia
ligado para a Secretaria de Educação. Ficou sabendo que as escolas que já tinham
GNU/Linux receberiam uma atualização e, posteriormente, as escolas com Windows
adotariam o GNU/Linux como padrão. Ela comentou ainda que pretendia conversar com
a diretora para saber o que ela poderia fazer para impedir a implantação do GNU/Linux.
Temia que diversos projetos em andamento talvez não tivessem prosseguimento devido
a possível estranhamento que os professores e os alunos teriam com o novo sistema,
inclusive o Programa Escola Aberta e seus monitores.
Em outro dia, conversou com a diretora sobre o GNU/Linux. Ela [a diretora] pretendia
redigir um ofício, solicitando que a implantação do GNU/Linux só ocorresse nas férias.
A professora considerou que “a diretora não aceitaria a entrada deles (dos técnicos)
aqui, hoje, por exemplo, para implantar o GNU/Linux, porque comprometeria os
trabalhos, projetos e atividades em curso”.
3
Organização sem fins lucrativos, fundada em 1985 por Richard Stallman e que se dedica à
eliminação de restrições sobre a cópia, redistribuição, entendimento e modificação de
programas de computadores – bandeiras do movimento do software livre, em essência.
Segundo a professora de Informática, as propostas de utilização do laboratório estão
partindo das escolas: cada professor de Informática tem uma concepção e não há uma
proposta da Secretaria de Educação, algo como “diretrizes” em relação à questão,
afirmou ela. Tal fato foi problematizado, neste estudo, conforme a Figura 5.
Para a professora de Informática “não adianta colocar o GNU/Linux aqui sem dar
capacitação”, ela não tem afinidade com tal sistema operacional. Ocorreu uma
capacitação, mas segundo ela “muito fraca”: curso de “futucar” [ela referia-se ao curso
de uma semana, citado também por outra professora]. Mas entendia que tudo que era
feito no sistema operacional Microsoft Windows, poderia ser feito no GNU/Linux.
São os atos de acreditar e possivelmente buscar maiores informações sobre aquilo que
está em vias de se atualizar bem como engajar-se em fluxos de transformações
contínuas (SANT'ANA, 2008). Esses fluxos de transformações contínuas constituem
um movimento nos quais imagens insurgem, técnicas são inventadas e tecnologias são
apreendidas e, por fim, sentidos e significados fluem mediante as formações de
enunciados e produções maquínicas de desejos dos agentes aprendentes e cognitivos: e
é justamente esse movimento dinâmico que possui e exerce as condições necessárias
para a produção de intervenções educativas mobilizadoras.
3. PÓS-ESCRITO
Este estudo buscou apresentar e problematizar alguns exemplos de políticas que tem
impactado o campo da educação mencionando ainda como tais ações afligem um
determinado cotidiano escolar. Infere-se que essas políticas apresentadas ao longo deste
estudo produzem desmobilização social e freqüentemente interferem naquilo que está
sendo produzido com um viés socioeducacional, gerando um contexto político-social
ora denominado de sociedade do subsídio. E nesse contexto contemporâneo, citando
agora um questionamento de Negri (2003, p. 20), como imaginar hoje não o processo,
mas o acontecimento revolucionário, não as condições da revolução, mas o poder
constituinte em relação à tudo isso que ocorre?
REFERÊNCIAS
PINEL, Hiran; SANT‟ANA, Alex Sandro C. et al. Dora e Josué: (Pró)curando uma
“subjetividade inclusiva” em contextos não escolares informais a partir dos escolares, na
fílmica de Valter Salles, “Central do Brasil”. In: Seminário Capixaba de Educação
Inclusiva, 9., 2005, Vitória. Anais Ressignificando conceitos e práticas: a
contribuição da produção científica. Vitória: Fórum Permanente de Educação
Inclusiva/ES, 2005. v. 1, p. 304-306.