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LÚCIA MADEIRA DE NARDI

A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA


CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

UBERLÂNDIA-MG
2008
LÚCIA MADEIRA DE NARDI

A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA


CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS
Monografia apresentada ao curso de
Comunicação Social, Habilitação em
Jornalismo do Centro Universitário do
Triângulo – UNITRI, como pré-
requisito básico à conclusão da
disciplina de Projetos Experimentais,
sob a orientação do Prof. Mestre
Paulo Henrique da Silva Souza.

UBERLÂNDIA-MG
2008
Banca Examinadora
Dedicatória

Dedico esta monografia a meus avós:


Ainda Prata Madeira,
João De Nardi,
Júlio Marques Madeira
Lúcia Franceschet De Nardi
e ao meu amigo
Marco Antônio Carvalho.
Agradecimentos

Agradeço ao número três. Quando digo número três, refiro-me aos meus três
pais, irmãos, amigos, mestres e empresas.
Sem os meus três pais: Deus, Nelson De Nardi e Wilma Prata Madeira De
Nardi eu não existiria e não conheceria o que significam ética e valores. Sem meus
três irmãos: Luciano, Nelma e minha irmã de coração, Lívia Maria Rosa, não
compreenderia o valor da doação e reconciliação. Assim também, sem meus três
amigos: Igor Antoine, Rafael Guimarães e Thaísa Sanchez, eu não saberia que
existem anjos iluminados que acreditam em mim e não me deixam desamparada. E
como não falar dos meus três mestres?
Cládio Marcos, Janaína Depiné e Paulo Henrique da Silva Souza ensinaram-
me a amar o que faço e não desistir dos meus sonhos. Então, por fim, agradeço a
três empresas: G.A. Comunicação (pelo início), Rádio Itatiaia (pela paixão) e TV
Paranaíba (pela confiança). Empresas que acreditam no meu potencial e me tornam
uma profissional melhor. A todos esses “três”; agradeço por estarem em minha vida
e me ensinarem que, a cada dia, há um novo desafio, que deve ser trilhado com
amor e dedicação.
Resumo

A radiodifusão foi decisiva para o desenvolvimento cognitivo dos seres


humanos, e, além disso, foi uma das responsáveis por descobertas e inovações dos
meios de comunicação. Após passar por muitas crises e adaptações, o rádio não
morreu, e faz parte das novas tecnologias até os dias atuais. Em época da era digital
e em tempo de convergência de mídias, é necessário descobrir, então, quais são as
perspectivas para o radiojornalismo brasileiro. Este trabalho pretende ainda
apresentar uma proposta de um modelo de programação tanto de emissoras em
amplitude modulada (AM) como freqüência modulada (FM). É importante salientar
que esta proposta fundamenta-se na história do rádio, na realidade atual, e em um
futuro próximo, que é a rádio digital.

Palavras - chave: Comunicação, Rádio, Radiodifusão, Rádio Digital, Convergência


de Mídias, Radiojornalismo.
Sumário

Introdução...................................................................................................................1
Capítulo 1 – Evolução da Comunicação...................................................................3
1.1 - O ato de comunicar-se, uma necessidade humana.........................................................3
1.2 - O processo da comunicação e suas linguagens..............................................................4
1.3 - Evolução dos veículos de comunicação...........................................................................5
Capítulo 2 – História do rádio....................................................................................9
2.1 – Surgimento, propostas e crises.......................................................................................9
2.2 – Características de um rádio sobrevivente ....................................................................15
2.3 – Tipos de rádios: diferenças e semelhanças..................................................................18
Capítulo 3 - Atualidade: Crise, transformação ou adaptação?............................27
3.1 – Tempo de convergência de mídias ...............................................................................27
3.2 – O futuro do rádio............................................................................................................30
3.3 - Perspectivas do radiojornalismo.....................................................................................34
Capítulo 4 - Uma proposta, um novo modelo de programação...........................38
Considerações finais...............................................................................................43
Referências Bibliográficas......................................................................................47
Anexos......................................................................................................................49
Introdução
Século XXI. Uma era marcada pelo digital. Após anos de convivência com a
transmissão analógica, o ser humano depara-se com uma nova realidade. Aquela
marcada pela interatividade e pelo instantâneo. Uma era estimuladora e instigadora
dos sentidos humanos.
Basicamente tudo é feito em tempo real e com o maior número de recursos
possíveis. Aliando vídeo, áudio e imagens, as tecnologias caminham para ampliar
ainda mais os limites dos indivíduos.
Para os veículos de comunicação já existentes, um tempo de alterações.
Cada um deverá se adaptar ou estará fadado ao fracasso. Era que exercita também
reflexões e indagações sobre o futuro.
Para os profissionais da comunicação, a era digital lança um novo desafio: o
de serem ainda mais criativos, dinâmicos e preparados para serem os melhores do
mercado. Para tanto, é necessário investigação.
“A sobrevivência do rádio brasileiro na era da convergência das mídias” é um
objeto de estudo que pretende descobrir um pouco mais sobre a era da
convergência das mídias e propor mudanças.
O fato de que a radiodifusão sofreu e ainda sofre especulações quanto à sua
extinção ou sobrevivência, faz com que a curiosidade e a busca para descobrir qual
a verdadeira força deste veículo surjam.
O rádio brasileiro passa por adaptações, portanto é necessário que os
profissionais de jornalismo que já trabalham ou pretendem ingressar neste ramo
saibam quais serão os possíveis diferenciais diante de um cenário estimulador de
todos sentidos humanos e quais as perspectivas do radiojornalismo em uma
realidade digital.
Para chegar às conclusões, apresentam-se quatro capítulos que se dividem
pela: evolução do ser humano, história do rádio, era da convergência das mídias e,
por fim, apresentam-se propostas de novas programações.
Uma em rádio AM (amplitude modulada) e uma em FM (freqüência
modulada), embasados na realidade atual. Este estudo tem o objetivo também de
servir como base para futuros estudos sobre radiodifusão.
Com o objetivo de analisar qual a importância deste novo desafio lançado aos
profissionais de rádio, usaremos como objetos de estudo pesquisas realizadas pelo
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), uma vez que são
medidores de audiência.
Foram utilizadas também bibliografias que possibilitaram a base estrutural do
trabalho, já que a história do rádio é uma das mais antigas de todos os veículos.
No primeiro capítulo, trabalha-se a necessidade do ser humano em
comunicar-se entre si, as diferentes formas de linguagem e ainda a relação de
cumplicidade entre seres humanos e veículos de comunicação, é necessário
descobrir os principais motivos que levam às novas descobertas, por isso um
capítulo sobre o assunto.
É fundamental discorrer sobre o surgimento, propostas e crises enfrentadas
pelo rádio, além das características marcantes e dos diferentes tipos de
transmissões, tema tratado no segundo capítulo.
No terceiro capítulo, fala-se principalmente do tempo em que vivemos
atualmente, a era da convergência de mídias. Discute-se o futuro próximo da
radiodifusão, e por fim, as perspectivas para os profissionais do radiojornalismo.
Embasados na necessidade de comunicação natural do ser humano, da
história do rádio e da era das convergências de mídias, propõe-se, no quarto e
último capítulo, novas programações para este novo cenário.
Capítulo 1 - A evolução da comunicação
A busca pela sobrevivência fez com que a capacidade de comunicação dos
animais e seres humanos se desenvolvesse. Desde a era paleontológica até os dias
de hoje, o ser vivo está em constante desenvolvimento e transformação, e essa
transformação acontece através da relação entre este ser vivo e a comunicação.

1.1 - O ato de comunicar-se: uma necessidade humana.


Com a evolução dos séculos, o ato de comunicar-se tornou-se cada vez mais
necessário e assim, como o ser humano, a comunicação acompanhou esta
evolução. Como em uma inter-relação, um influenciou o desenvolvimento do outro.
De acordo com a Doutora em Semiótica e Lingüística Geral, Maria Margarida
de Andrade, a comunicação é fundamental para o ser humano. “Não existe uma
única atividade humana que não seja afetada ou que não dependa de alguma forma
de comunicação” (ANDRADE, 1999).
Ao comunicarem-se uns com os outros, os seres humanos tiveram que
aprender a viver em sociedade, e isso se deu através do desenvolvimento natural e
básico da espécie, ou seja, por meio do desenvolvimento contínuo e interligado do
amadurecimento físico, cognitivo e por conseqüência, psicossocial.
O desenvolvimento físico são as mudanças no corpo, no cérebro, na
capacidade sensorial e nas habilidades motoras que se associam às mudanças
cognitivas; capacidade mental, aprendizagem, memória, pensamento e linguagem.
Diante desse processo, o ser humano busca a continuidade da espécie.
A partir do momento em que o indivíduo se vê ameaçado ou solitário, procura
outros para que, juntos, tornem a vida mais extensa e prazerosa. Portanto, alia-se
aos outros, criando, assim, uma relação psicossocial, ou seja, forma
relacionamentos e cria laços de confiança.
De acordo com o filósofo Abraham Maslow, o ser humano tem várias
necessidades e, para que possa viver em sociedade, deve supri-las. Primeiramente,
a necessidade básica, de sobrevivência, depois de segurança, afeto, estima e,
consequentemente, auto-realização. Após criar esses níveis, o filósofo inventou a
denominada “Pirâmide de Maslow”, a qual organiza as necessidades dos seres por
hierarquia.
[...] Cada um tem de "escalar" uma hierarquia de
necessidades para atingir a sua auto-realização;
necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a
sede, o sono, a excreção, o abrigo; necessidades de
segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se
seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de
segurança como um emprego estável, um plano de saúde
ou um seguro de vida; necessidades sociais ou de amor,
afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um
grupo ou fazer parte de um clube; necessidades de estima,
que passam por duas vertentes, o reconhecimento das
nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos
outros face à nossa capacidade de adequação às funções
que desempenhamos; necessidades de auto-realização, em
que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser. A
pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade,
temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver
os nossos potenciais. – Vide pirâmide em anexos –
(WIKIPÉDIA. Hierarquia de necessidades de Maslow.
Disponível em
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de
_Maslow> Acesso aos 04 out.2007)

Ao mesmo tempo em que a teoria da perspectiva contextual, teoria


desenvolvida pela psicologia, defende que o desenvolvimento humano só é
compreendido em seu contexto social, e complementa que o indivíduo não é uma
entidade isolada que interage com o ambiente e sim uma parte inseparável do
mesmo, Lev Semenovich Vygostky defende que “é pessoa e meio atuando e se
transformando mutuamente.” (PAPPALIA E OLDS, 2000)

1.2 - O processo da comunicação e suas linguagens


De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra comunicar significa: ato ou
efeito de emitir, transmitir e receber mensagem por meio de métodos ou processos
convencionados quer por meio da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais,
signos ou símbolos, de aparelhamento técnico e sonoro ou visual.
Para a Doutora em Semiótica e Lingüística Geral, Maria Margarida de
Andrade, citada anteriormente, o conceito de comunicação é:
[...] A comunicação surgiu, provavelmente, da premência
que os homens sentiam de trocar idéias e experiências. A
palavra comunicar vem do latim comunicare, que significa
pôr em comum. Depreende-se daí a que a essência da
palavra comunicar está associada à idéia de convivência,
comunidade, relação de grupo, sociedade. (ANDRADE,
1999)

Baseado nas duas concepções do conceito de comunicação, pode-se afirmar que


comunicar é preciso, é fundamental, seja para sobrevivência, seja pela precisão
em estar em sociedade ou até para conquistar objetivos como estatus,
dinheiro e lucro.
Com a carência e precisão dos humanos em estarem em constante
comunicação, ferramentas foram criadas para facilitar a propagação da informação.
A princípio, os símbolos e sinais eram utilizados e, com o tempo e desenvolvimento
mental humano, as formas de comunicação também evoluíram.
“Comunicação é a interação social através da mensagem’ e ‘qualquer uso de
linguagem se caracteriza sempre como um processo de comunicação’” (FISK, 1990).
A criação das línguas, fala, escrita, gestos, imagens, sons, ou seja, formas de
linguagem, possibilitaram a facilidade de interação entre as pessoas. A partir do
momento em que o indivíduo começa a utilizar-se dessas linguagens, a
comunicação se torna mais eficaz e desenvolvem-se os veículos de comunicação.

1.3 - Evolução dos veículos de comunicação e a relação com indivíduo


Durante anos, as notícias eram transmitidas boca-a-boca, porém a
curiosidade dos seres humanos era tão grande, para saber da vida alheia e dos
acontecimentos, que fez com que a comunidade buscasse alternativas para
propagar notícias de forma mais rápida e eficaz. “Saber o que está acontecendo, ter
acesso às notícias e às "novidades" é uma necessidade humana” (STEPHENS,
1993).
O primeiro veículo de comunicação de massa, e que atingiu um grande
número de indivíduos, surgiu fundamentado na escrita, através da imprensa.
Em 1436, o conhecido Gutemberg de Mogúncia (Johannes Gensfleisch zur
Laden zum Gutenberg 1390-1468), desenvolveu caracteres móveis de metal,
linotipo, e, após 24 anos, registrou-se o primeiro trabalho impresso em papel, o
denominado “Vita Chisti”: a Bíblia.
De acordo com a “Pequena enciclopédia de Moral e civismo”, publicada no
ano de 1967 no Rio de Janeiro, o primeiro periódico em grande escala a ser
publicado foi o “Gazeta do Rio de Janeiro” em 10 de setembro de 1808.
Em 1820, descobertas da área de telefonia já se faziam constantes. Os
telégrafos começaram a fazer parte da vida da sociedade, porém não poderiam ser
considerados prolongamentos dos veículos de comunicação de massa, uma vez que
somente possibilitaram a comunicação inter-pessoal e não de grande número de
indivíduos em escala extensa.
“Realisticamente, a Era da Comunicação de Massa teve início no começo do
século XX com a invenção e adoção ampla do filme, do rádio e da televisão para
populações grandes. Foram esses veículos que iniciaram a grande transição por nós
continuada hoje em dia.” (DEFLEUR, 1993).
Como Abraham Maslow afirma, o indivíduo possui necessidades que devem
ser coerentes com a realidade e com a capacidade do ser em desenvolver
potencialidades. Portanto, como o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial
caminham juntos, o ser humano busca novidades e usa da criatividade para evoluir;
assim os meios de comunicação também evoluem.
A vontade de superar as limitações e de criar o novo fizeram com que a
associação da imagem e áudio acontecesse, criando-se assim a televisão. Uma das
invenções que levaram à evolução dos meios de comunicação de massa, já que é
dinâmica e rápida.
A imagem e os movimentos na tela fizeram com que a televisão se transformasse
em fascínio. Passou-se a acreditar que o real estaria na televisão ao vivo e em
cores; criou-se então uma espécie de dependência: se existe na televisão, é porque
é crível, associada à obsessão pelo sentido da visão e o pouco esforço intelectual
que a imagem proporciona.
“A imagem transmite uma mensagem independentemente do
conhecimento prévio de um idioma falado ou escrito, por
parte do receptor. A televisão mostra e o telespectador vê;
por exemplo, um alemão não necessita de intérprete para
compreender uma imagem de um assalto no centro de São
Paulo. Vendo apenas a imagem, ele compreenderá que a
cena foi de um roubo, que alguém foi lesado, que a atitude é
errada e violenta, o que o estrangeiro não saberá, caso não
compreenda o código verbal, é que o assalto foi no centro de
São Paulo, ou seja, a mensagem principal foi transmitida
independentemente da palavra. O objetivo do exemplo não é
diminuir a função da palavra, mas mostrar a universalidade
da imagem.” (GARCIA, 2007).

Enquanto a televisão mostra aos telespectadores, o rádio instiga e estimula o


desenvolvimento cognitivo, ao propor que o imaginário seja ativado, além de
proporcionar companhia aos ouvintes.
“Depois da invenção do rádio, ninguém precisou mais ficar sozinho. Nas regiões
mais distantes, o homem passou a ter a companhia de repórteres, artistas, cantores
e músicos. Os rádios transistorizados, que usam pilhas, levaram a todos os
pontos do país o maravilhoso invento do século XX.” (ESSINGER,
CAMPBELL, SOUZA, et al. 1973)
Partindo do pressuposto de que o ser humano está em constante
transformação e reinvenção, constata-se que o desenvolvimento humano nunca
finda. A cada dia, a sociedade busca inovações e amplia seu conhecimento.
Assim surgiu a internet, veículo associativo, que diminui a distância entre os
indivíduos e aumenta o nível de informações disponíveis para grande número de
pessoas em qualquer lugar do mundo, a conhecida “world wide web” (rede de
alcance mundial).
De forma multimídia, a internet tem o poder de concentrar imagem, texto e
áudio, o que faz com que seja um dos veículos mais completos, além de possibilitar
que o indivíduo tenha em mãos a chamada mídia “pull”, ou seja, escolhe o que lê, vê
e ouve.
Com a possibilidade de associar as linguagens, o ser humano foi
aperfeiçoando as técnicas que possibilitariam a comunicação, como a criação de
novos programas, softwares e veículos tecnológicos.
Um exemplo disso é a tecnologia do celular, que ampliou ainda mais o acesso
às informações rápidas através do “short messages”, e que noticiam em poucos
caracteres os últimos fatos usando mensagens instantâneas.
Entre várias formas de tecnologia, vivemos agora a era digital, intrigante e
desafiadora às mentes humanas. Mesmo com técnicas e estruturas físicas não muito
conhecidas pela maioria das pessoas, a era digital já dá sinais e demonstrações de
que ocasionarão interferências na evolução da sociedade, trazendo o conceito de
‘sociedade digital’.
O que antes era somente propagado em via única através da televisão ou
rádio, somente emitido, não sabendo se o receptor decodificou ou não a mensagem,
agora possuirá o feedback, ou seja, terá o retorno da informação no momento da
transmissão; o receptor sentirá, perceberá e reagirá.
O fato de poder escolher o que se quer assistir e quando assistir poderá
resultar em uma guerra digital, já que se espera haver programações específicas
para cada área, o que denominamos de segmentação na TV.
Assim como a TV, o rádio também vive hoje sob influência do digital. Passa-se por
uma transição de tecnologias e todas as mídias parecem convergir em um
único veículo com propósito de oferecer o máximo de informações associadas
ao entretenimento e uso de vários sentidos humanos.
Se, então, o objetivo é associar o máximo de recursos para conquistar o
receptor das mensagens, surge a dúvida: Por que o rádio sobreviveu a tantas crises
e quais são as reais razões e motivos para resistir à convergência das mídias?
E ainda, se existem tantos veículos de comunicação mais evoluídos e com
maior disponibilidade de linguagens e interatividade com o receptor, por que ainda
se faz jornalismo em rádio? Por que as emissoras de rádios ainda existem?
Capítulo 2 - História do rádio
Para responder aos questionamentos feitos no primeiro capítulo é necessário
recapitular a história do rádio, por quais propostas e crises passou para consolidar-
se até os dias atuais. A análise destes fatores será necessária para chegarmos às
respostas que fundamentam os dois pilares principais desta monografia: a
sobrevivência do rádio e do radiojornalismo.

2.1 – Surgimento, propostas e crises.


No primeiro capítulo, constatou-se que o indivíduo necessita se superar e
criar novos horizontes, portanto a radiodifusão surgiu da precisão em descobrir o
desconhecido. Pessoas em todo mundo começaram a buscar novas formas de
comunicação.
Henrich Rudolph Hertz (1857-1894) descobriu, em 1887, as ondas de rádio, o
que contribuiu muito para o desenvolvimento do meio. Já em 1893, o padre
brasileiro, Roberto Landell de Moura (1861-1928), estudava a transmissão da fala
através de aparelhos sem fio, assim como o sérvio Nikola Tesla (1856-1943). Porém,
no mundo, quem ficou reconhecido por ter o domínio da transmissão das ondas de
rádio foi o italiano Gugliemo Marconi (1874 -1937) que patenteou a invenção em
1
1896.
Após ser patenteada, a descoberta exigia inovações. Criou-se, então, a
transmissão da fala através de ondas eletromagnéticas, ou seja, ondas que se
propagam no vácuo.
[...] A rápida expansão da radiotelegrafia estimulou a busca
de condições para transmissão de sons, coroada de êxito em
1906, com a criação da válvula “audion”, pelo engenheiro
norte-americano Lee de Forest (1873-1961), o que
possibilitou a produção de variações eletromagnéticas, os
sinais de áudio, capazes de configurar as modulações da voz
humana. Esses sinais reforçados e sobrepostos a uma onda
portadora, podem ser transmitidos por uma antena e
recebidos por outra com ela sintonizada. (ARAÚJO,
OLIVEIRA, SOUZA, et al, 1967)

No ano de 1920, as emissoras de rádio já dominavam o mundo, mas somente


após 16 anos da descoberta das ondas eletromagnéticas, o Brasil conheceu o que
era a primeira transmissão de voz e som em grande escala.

1
Fonte - Texto: De herege a herói. Inventor do rádio, padre Landell de Moura foi
tido como herege por promover a radiodifusão. Diego Klautau/ Esquinas de São
Paulo (Cásper Líbero)
No dia sete de setembro de 1922, por razão da comemoração dos 100 anos
da Independência do Brasil, aconteceu, através do discurso do presidente da época,
Epitácio Pessoa, e execução da ópera Guarani, de Carlos Gomes, entre outras
atrações, a primeira difusão no país. 1
A inauguração do novo invento, caracterizada e marcada por intenções
políticas, não pode ser considerada a estréia da primeira emissora de rádio no país,
uma vez que isso ocorreu somente após um ano.
Em 20 de abril de 1923, o carioca Edgar Roquette Pinto (1884-1954) e Henry
Morize fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com proposta de educação e
cultura e o objetivo de “Levar a cada canto um pouco de educação, de ensino e de
alegria”. Após 13 anos de vivência, a Rádio Sociedade foi estatizada e passou a se
chamar Rádio Mec do Rio de Janeiro (AM 800KHz – FM 98.9MHz) - ainda existente
e com acesso virtual através do site www.radiomec.com.br
- e se mantêm com a mesma proposta de Roquette Pinto e Morize: a de
“trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”.
Também em 1923, surge a Rádio Clube de Pernambuco, em Recife; a Rádio
Educadora Paulista, em São Paulo; e a Rádio Clube do Paraná, em Curitiba. 1
Com o aumento do número de emissoras, a sociedade começou a comprar
ainda mais aparelhos de rádio. O eletrodoméstico, até então, era considerado como
algo de grande valor e estima. As pessoas reuniam-se em volta do denominado
“móvel” para acompanhar as rádionovelas, saber notícias da guerra e ouvir os
programas de auditório.
“Cada aparelhinho desses era mantido pelo seu dono com muito carinho, com
a estima que se tem por algo precioso e raro. A sua música tinha um sabor especial
das coisas misteriosas...”(SAMPAIO apud COSTELLA,2001)
Com o “boom” do rádio e os novos programas, a contratação de funcionários
fez-se necessária. Locutores, apresentadores, produtores, artistas e cantores, isso
aumentou ainda mais os custos e criou o hábito nas pessoas de terem o aparelho
quase como um membro da família.

1
Fonte: ORTRIWANO, Gisela Swetlana, A informação no rádio. Os grupos de poder e a
determinação dos conteúdos; São Paulo: Summus, 1985, pág 13
1
Fonte: www.radialistasp.org.br
Para custear a manutenção dos aparelhos e manter o salário dos funcionários
em dia, a solução foi abrir espaço para os anúncios e procurar uma programação
diferenciada que atraísse mais os ouvintes.
Em 1931, autorizou-se a legislação que regulamentava o pagamento por
veiculação de propagandas nas emissoras, facilitando a sobrevivência das mesmas.
Ao passo que o número de emissoras aumentava, a concorrência e
competição pela busca da audiência também. Na época de ouro do rádio brasileiro,
na década de 40, quando os programas se tornavam fixos, o público não somente
aceitou a invenção como viveu o produto.
“O rádio constituiu-se ao mesmo tempo em produto e em
instrumento de expansão e consolidação do processo
civilizatório urbano – industrial no País, através da difusão
por toda a realidade brasileira de valores vinculados ao
estilo de vida que aos poucos se esboçava entre nós”
(PEREIRA apud COSTELA, 2001)

No ano de 1941, o padrão jornalístico passou por alterações, antes formal,


começou a ser afetado pela criação do programa “Repórter Esso”, patrocinado pela
companhia norte americana de combustíveis automotores de mesmo nome,
apresentado por Herón Domingues (1924 -1974) e transmitido pela Rádio Nacional.
Uma tentativa de levar aos ouvintes uma linguagem menos elitista e mais acessível
às grandes massas. 1
De acordo com Antônio F. Costella, em 1942, o país possuía
aproximadamente 75 emissoras de rádio. “Na década dos anos quarenta, as
emissoras começariam a sentir o peso da concorrência.” (COSTELLA, 2001). Como
nos dias atuais, as emissoras criaram recursos para não perderem os ouvintes fieis.
Mais de 14 radionovelas eram transmitidas somente em uma das emissoras. Os
radiojornais fugiam dos padrões de leitura ao microfone.
A segmentação em rádio começou a ser percebida em 1947 quando, ao
perder audiência, as emissoras passaram a falar sobre determinado assunto. De
acordo com o site www.radialistasp.org.br

, o primeiro registro de emissora segmentada no estilo esportivo foi a Rádio


Panamericana de São Paulo.
Ainda no ano de 1947, a invenção dos rádios portáteis facilitou o contato dos
ouvintes com as notícias.

1
Fonte - Texto: Vocação: Repórter Esso. Locutor conta histórias sobre a vontade de
ser apresentador antes de entrar para o programa e como a censura agiu sobre o
noticiário.
“Uma inovação tecnológica, ademais, haveria de beneficiar
enormemente o rádio; o transistor. Invenção de John
Bardeen, Walter Brattain e William Chockley patenteada em
1947, o transistor substituiu as válvulas e, sendo muito
menor do que elas, permitiu reduzir o tamanho dos
receptores. Tornando-se portátil, o rádio ganhou audiência,
pois se impôs em inesperados lugares. Instalou-se
onipresente nos automóveis. Passou a acompanhar os
ouvintes nos estádios esportivos. Faz companhia a muitos
trabalhadores durante o dia inteiro, na oficina ou na roça.”
(COSTELLA, 2001 )

Na década de 50, o rádio brasileiro passou pela primeira e grande crise


registrada na história. Dez anos após viver a época de ouro, o invento da televisão
trouxe à sociedade um novo cenário, aquele que carrega consigo áudio e imagem.
Os profissionais de rádio começam a transitar para o novo veículo. E, além de
perder muitos apresentadores, atores e cantores, as emissoras de rádio no país
começam a perder audiência para a “telinha”.
Enquanto o rádio atuava somente no imaginário social, a TV mostrava -
mesmo que a princípio em preto e branco - quem eram os donos das vozes, quem
eram as cantoras e artistas que viviam na imaginação de tantos ouvintes.
Uma crise financeira se instalou na radiodifusão brasileira. Com a perda dos
profissionais para as emissoras de TV, as rádios tiveram que trocar os antigos
profissionais por fitas-cassetes e discos, assim alterando toda programação. Não era
possível manter as produções caras que até então eram feitas. Surge, então, a
polêmica da extinção do veículo.
A primeira solução encontrada pelos donos de emissoras de rádio foi investir
no radiojornalismo. Em 1954, a Rádio Bandeirantes, localizada no estado de São
Paulo, inovou ao criar “programetes” de 15 minutos, e de horas cheias, ou seja, de
hora em hora; aliando-se ao fato dos rádios serem portáteis, o que possibilitou às
pessoas ficarem informadas a qualquer hora e em qualquer lugar, e isso conquistou
o público novamente e reanimando o rádio brasileiro.1
No ano 1955, a primeira transmissão experimental de rádio FM aconteceu. A Rádio
Imprensa do Rio de Janeiro, de propriedade de Anna Khoury, chegou aos ouvintes
com uma nova proposta: a de entretenimento e diversão, sem interesses comerciais,
com muita música e informação.

1
Fonte: www.radialistasp.org.br
Em 1959, o rádio já se recuperava da crise causada pela criação da televisão,
e agora as transmissões ao vivo se tornavam cada vez mais constantes, os
repórteres falavam diretamente do local do fato. Investiu-se em prestação de
serviços, ou serviços de utilidade pública, como: funcionamento de comércio durante
feriados, dos bancos, perda de documentos, etc. Fatos e acontecimentos que
facilitariam as rotinas da sociedade e aproximaram os ouvintes dos que faziam rádio,
instaurando uma espécie de intimidade.
Na década de 60, o rádio experimentou a segmentação, especializado e
focado em prestação de serviços e transmissões esportivas. Os apresentadores
eram mais comunicadores e dinâmicos, ao invés de somente possuírem boas vozes.
As incessantes descobertas envolvendo comunicação via satélite que
começaram a aparecer no mundo em 1957, chegaram ao Brasil em 1961. Em 27 de
outubro deste ano, o país resolveu participar ativamente das pesquisas envolvendo
novas tecnologias. E, após montar um terminal de transmissão no Rio de Janeiro,
alcançou-se a comunicação, em 1963, com Nutley, nos EUA, também captada na
França, na Inglaterra e na Itália.1
Em ano de golpe militar, 1964, o rádio brasileiro passou por dificuldades.
Muitas rádios, contrariadas com regime militar e a derrubada do presidente João
Goulart, começaram a instigar os ouvintes a contestarem o regime, o que fez com
que a ira dos poderosos fosse aguçada.
O Ministério das Comunicações, criado em 25 de fevereiro de 1967, iniciou, em
1969, um esquema de censura e manipulação das emissoras brasileiras para evitar
que este veículo de comunicação de massa causasse problemas políticos e
ideológicos, e instituiu-se então o Ato Institucional Nº 5.

[...] Depois de uma reunião do presidente Arthur da Costa e


Silva com generais e ministros, em 13 de dezembro de 1968,
foi instituído o Ato Institucional Nº5, que determinava censura
total à imprensa e revogava as punições ao abuso de poder
das autoridades policiais e militares. (RADIALISTAS SÃO
PAULO . Uma Breve História Do Rádio Am No Brasil.
Disponível em
http://64.233.169.104/search?q=cache:Mp4RpuX5KTUJ:www
.radialistasp.org.br/hist_radio.htm+Primeira+r%C3%A1dio+F
M+no+Brasil&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br acessado aos
26/03/08 às 22h10)

1
Fonte: COSTELLA, Antônio F. Comunicação – do grito ao satélite. 4 ed. São
Paulo: Mantiqueira, 2001.
Além de censurar as emissoras, o AI 5 começou a investir em rádios FM , e,
cada vez mais, as emissoras passaram a se segmentar, o que fez com que, em
1970, já no governo de Ernesto Geisel, o rádio fosse conhecido como rádio brega,
mas continuou com audiência.
Durante as décadas de 70 e 80, o rádio se baseou nas FMs, no
entretenimento, no radiojornalismo e na segmentação, e passou por momentos de
melhorias e aperfeiçoamento.
Nos primeiros cinco anos da década de 80, passou por uma ótima fase,
porém, em 1985, outra crise dominou o rádio, desta vez, especificamente o rádio
AM.
Somado à isso, os donos das AMs começam a vender as emissoras, por
acreditarem serem as FMs mais lucrativas, com maior possibilidade de publicidade e
menor custo.
Coincidentemente, neste mesmo período, 1990, a internet começou a
conquistar de vez o mundo. Uma nova tecnologia, que novamente instigava a
curiosidade das pessoas para o novo e inusitado, tirou o foco da sociedade do rádio
para o moderno mundo virtual.
Em 1993, o movimento, para acabar com a obrigatoriedade do programa “Voz
do Brasil” tomou força, porém sem sucesso. A agitação acabou e a manifestação foi
em vão.
Na virada do século, no ano 2000, o preconceito para com o som das AMs
aumentou infinitamente e em 2001 nasceu a perspectiva do som digital. Agora o AM
terá som de FM e o FM qualidade de CD.
No ano de 2005, a primeira emissora do país a lançar jornalismo em FM
durante 24 horas foi a Band News FM, que estreou programação em São Paulo, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Este sistema ainda não está operante em
todas as regiões do país, somente em algumas capitais e via internet.
Atualmente, as rádios web, sistemas de redes e as constantes descobertas
em comunicação por satélite sustentam a continuidade do rádio na era da
convergência das mídias, porém ainda não se sabe qual o destino das emissoras de
rádio no país e nem do radiojornalismo. Esta monografia visa expor pontos que
possam levar a respostas diante da dúvida que se instala sobre as perspectivas do
radiojornalismo e possíveis propostas para o mesmo.
2.2 – Características de um rádio sobrevivente
Diante de tantas crises pelas quais o rádio passou, é importante salientar,
neste momento, as características que possivelmente fizeram com que o mesmo
sobrevivesse aos períodos difíceis já apresentados neste trabalho.
É fundamental analisar cada fator diante do olhar dos ouvintes, do setor
comercial e principalmente do lado jornalístico, por isso cada particularidade será
avaliada em tópicos para a melhor exposição de cada característica.

- Facilidade de acesso: a mobilidade.


Todas as características do rádio baseiam-se fundamentalmente na facilidade
do acesso. O ouvinte tem contato com as informações e entretenimento de forma
rápida e eficaz na hora em que quer. O fato de que existem diversos tipos de
aparelhos de rádio portáteis, de tamanhos e espécies diversificados faz com que o
rádio seja o único veículo que está em todos os lugares e pode acompanhar o
ouvinte, deixando-o sempre informado.
Do ponto de vista comercial, a alta freqüência de exposição da informação, da
publicidade e dos atores-apresentadores, em vários lugares ao mesmo tempo,
fazem com que o rádio seja um bom negócio; quanto maior o ambiente de
propagação, mais pessoas são instigadas a anunciar.

- O Poder da Linguagem
Desprovido do recurso imagem, o ouvinte imagina tudo o que está sendo
falado, por isso é importante que a linguagem voltada para o mesmo seja
diferenciada. Deve ser uma linguagem mais simples, coloquial, que se aproxime da
fala. Se o ouvinte não está atento, pode perder a essência principal da notícia.
Se existe uma linguagem muito rebuscada, até mesmo a área comercial da
emissora é afetada, já que, ao trabalhar com uma linguagem muito estruturada,
desnecessariamente pode distrair o ouvinte e fazer com que se desinteresse e até
mesmo mude a freqüência.
Por isso, o método da repetição é muito utilizado, só que, se aplicado em
excesso, pode cansar o receptor da mensagem. É preciso encontrar o equilíbrio
entre o coloquial e o método de repetição. Não se deve simplificar demais e nem
tornar-se redundante.
- Agilidade de informação: o imediatismo.
O rádio caracteriza-se pela agilidade da informação e do imediatismo, que
podem ser considerados fatores de bastante relevância na análise das
características.
Na hora em que o fato acontece, o ouvinte fica sabendo com riqueza de
detalhes, o que ocorreu imediatamente e, ao decodificar a mensagem e o que está
sendo falado, reage no mesmo momento, o que aumenta a probabilidade do
departamento comercial obter sucesso na venda da imagem e anúncios da emissora
e das empresas anunciantes.
Em tempo real, o repórter que está na rua vê o episódio e consegue informar,
via telefone, as últimas notícias, e o fato do rádio ter produção menos complexa
auxilia o repórter na transmissão de informações com facilidade e agilidade.

- O contato constante: a interatividade.


Se o rádio possui imediatismo, significa dizer também que terá interatividade,
faz com que o ouvinte dê o feedback, ou seja, a realimentação da informação.
Se o mesmo não entendeu algo, liga na emissora e pede mais informações.
Caso não concorde com o que está sendo falado, também entra em contato e se
pronuncia. Assim, sente-se ouvido. É como se nessa hora o ouvinte se tornasse o
emissor da mensagem, que fala, expõe o que pensa, e o veículo de comunicação
fosse o ouvinte.
A interatividade também dá ao departamento comercial a noção de que algo
possa estar errado na produção dos comerciais e imagem da emissora. Quando o
ouvinte se pronuncia, podem-se fazer alterações. Assim como na produção de
matérias, no setor jornalístico, o ouvinte vira pauteiro, dá idéias, contribui para que
todos saibam aquilo que pode ser interessante. Cabe, então, ao departamento
selecionar o que deve ou não ser levado em conta.

- A praticidade como meio: a instantaneidade.


Com a invenção dos transistores, os aparelhos de rádio tornaram-se presentes em
locais antes não imaginados, e, além disso, faz-se radiojornalismo através de
telefone, ao vivo, e isso é um diferencial de veículo. No impresso, a notícia só é
veiculada no dia seguinte. Na televisão, o fato necessita ser filmado,
registrado. Na internet, precisa-se de foto, de texto escrito, para depois haver
postagem. No rádio, não. Tudo é em tempo real.
A principio, o fato do rádio não possuir imagens poderia ser visto como um
problema, uma regressão no tempo, mas, atualmente, um dos fatores que o torna
prático e instantâneo é a ausência de imagem.
Rápido para o ouvinte que quer ficar informado, vivo para os anunciantes, e
criativo e dinâmico para os que fazem a notícia. Rápido, porque o ouvinte fica
sabendo na hora da notícia, se quiser saber, mais procura outro meio. Vivo, pois os
anunciantes estão diretamente presentes e desafiador para os jornalistas.

- A vantagem: o preço.
O contato entre a radiodifusão e indivíduos está cada dia mais fácil. O custo
dos aparelhos receptores de sinal são muito baixos e acessíveis. Compram-se
aparelhos de rádio a partir de R$ 1,99, e a manutenção dos mesmos é feita com
pilhas ou energia. Preços ditos não tão elevados.
Para as emissoras, os custos estão diretamente ligados às vendas, aos
anunciantes e à audiência. Se a empresa-emissora possui um grande número de
anunciantes, os custos com funcionários e manutenção de equipamentos são pagos
pelos próprios anúncios. Caso contrário, a emissora deve buscar alternativas para
se sustentar.
A produção jornalística pode ser considerada barata, uma vez que não se
gasta tanto com equipamentos, como é o caso das emissoras de televisão, por
exemplo. Gasta-se, sim, com combustíveis, funcionários, telefonemas, custos estes
que podem ser mantidos pelos anúncios e publicidades. E outras despesas podem
ser pagas também através de permutas.

- A escolha: a seletividade.
Como dito anteriormente, com o tempo, as emissoras de rádio tiveram que
buscar diferenciais, logo, optaram por segmentar suas programações. Algumas se
voltaram para esportes, outras para entretenimento e assim por diante. Isso fez com
que os ouvintes tivessem a opção de escolher a programação. Se ele sintoniza em
determinada emissora, sabe exatamente o que ouvirá.
O departamento comercial vende espaço de mídia para comércios
específicos, por exemplo, se a rádio é especializada em esportes, vende mídia para
empresas de esportes. O que facilita a venda e inserção de “spots” (anúncios).
Já o departamento jornalístico, neste caso, varia de acordo com o foco
principal da emissora. Se a rádio é voltada para entretenimento, não se preocupará
com o setor jornalístico.

- Um diferencial: a tradição
Com o tempo, o ouvinte não ficou mais sozinho. O rádio virou um amigo, um
aliado das pessoas para acabar com a solidão. A maioria das pessoas viu no rádio
uma espécie de companheiro em que poderiam confiar seus problemas e
inseguranças. Basta ligar o rádio, quando estão sozinhas, para acabar com a solidão
na qual se encontram.
Para o departamento comercial veicular mídia tornou-se fácil, já que o rádio
era considerado o único veículo de comunicação de massa que atingia a classe dos
analfabetos, passando informações sem necessitar de mais de um sentido além da
audição.
O radiojornalismo cresceu baseado na facilidade da linguagem, mais
coloquial, e mais próxima do ouvinte. Isso se mantém até os dias atuais, o que
contribui muito para produção de textos e matérias em rádio.

2.3 – Tipos de rádio; diferenças e semelhanças.


O rádio pode ser utilizado de várias formas. Desde a simples transmissão de
uma pequena informação, por walk-talkies, até a difusão de uma programação
completa.
A princípio, os rádios eram usados para comunicação entre navios para evitar
colisões. Atualmente, além de estarem presentes nas embarcações náuticas, são
usados também na aviação, nas empresas, indústrias, segurança pública e até
mesmo nas atividades privadas.
“A transmissão e recepção de todos os tipos de radiocomunicação envolve
os mesmos estágios: (1) criar os sinais de comunicação e transformá-los em ondas
eletromagnéticas, (2) transmitir (enviar) as ondas de rádio e (3) receber as ondas de
rádio e convertê-las em uma forma que possa ser compreendida” (CHILDCRAFT,
1981).
Com base na citação acima, é importante falar sobre cada processo
separadamente. Para acontecer a transmissão de informações, é necessário que as
ondas sonoras se transformem em elétricas e depois eletromagnéticas.
Todo processo começa a partir do momento em que o locutor-emissor produz
som, ou seja, fala algo ou provoca vibrações no ar através das cordas vocais. Essas
vibrações atingem o microfone que está conectado a fios, cabos e mesa de controle,
instrumentos que transmitem energia elétrica; e, ao encontrarem as ondas sonoras,
associam-se e as impulsionam ao transmissor da emissora. Este transmissor é
responsável por produzir ondas, chamadas portadoras, que transmitirão as ondas
elétricas oriundas da mesa de controle para a antena da emissora, a qual propaga
os sinais em forma de ondas de superfície, espaciais e ondas espaciais refletidas. 1
“Na realidade, o transmissor é construído de tal maneira que
ele emita uma onda eletromagnética de determinada
freqüência e de determinada amplitude (característica
associada à potência do transmissor). Para cada transmissor
existe uma freqüência característica. Esta onda
eletromagnética característica de cada transmissor, por si só,
não transmite mensagem nenhuma para ser captada no
receptor. Ela é apenas a portadora da mensagem, a qual
deverá ser de alguma forma “calcada” (“escrita”) sobre ela. É
por isto denominada de onda portadora. Note bem, a
freqüência da onda portadora é a freqüência característica do
transmissor”. (FEIRA DE CIÊNCIAS. Transmissão –
Recepção Rádio Galena Iniciação aos fenômenos
ondulatórios. Disponível em
www.feiradeciencias.com.br/sala15/15_33.asp

A partir do momento em que o transmissor emite dois tipos de ondas


eletromagnéticas, cria-se então a concepção de modulação em AM e FM.

Amplitude Modulada (AM)


A compreensão de amplitude modulada surge da idéia de que as ondas
portadoras advindas do transmissor não transmitem nenhum tipo de mensagem e
somente ao chocarem-se com as ondas eletromagnéticas podem conduzir alguma
difusão.
Isso acontece pela alteração na amplitude das ondas portadoras. Ao entrarem
em contato, as ondas eletromagnéticas alteram a potência (velocidade a que é
transferida energia ou a que é realizado trabalho) das ondas portadoras. Observe
figura:

1
Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora
Delta, 1981
As ondas em amplitude modulada são propagadas pela antena das
emissoras de três formas. Por ondas de superfície (horizontais que atingem os
receptores próximos), ondas espaciais (que se propagam além da ionosfera e
atingem receptores distantes) e ondas espaciais refletidas, que são as ondas que
atingem a ionosfera e ainda refletem na terra aumentando ainda mais a
possibilidade de atingir outros receptores. 1
Por isso, pode-se dizer que as emissoras AMs atingem um público maior do
que as FMs, além de abranger lugares mais distantes no período noturno quando as
ondas espaciais são mais eficazes.
Porém, ao mesmo passo em que atingem locais mais distantes, são
prejudicadas pela estática provocada pelas ondas espaciais refletidas, fato que será
analisado à frente.

Freqüência Modulada (FM)


A Freqüência Modulada difere-se da Amplitude Modulada pelo fato de que, ao
encontrar as ondas portadoras emitidas pelo transmissor, as ondas eletromagnéticas
alteram o número completo de ciclos ou oscilações por unidade de tempo, ou seja,
modificam a freqüência com que as ondas portadoras emitem sinal

1
Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1981
Da mesma forma, como na transmissão AM, as ondas em freqüência
modulada são emitidas em ondas de superfície e ondas espaciais, porém
diferentemente das AMs, as ondas espaciais em FMs não são refletidas ao atingir a
ionosfera, fato que faz com que a propagação de informações das FMs restrinja-se a
menos quilômetros atingidos do que as de amplitude modulada.
Como AMs e FMs possuem transmissões diferentes, as informações são
transportadas em freqüências desiguais, logo, uma não interfere na outra.
. Para que esses sinais de freqüência sejam recebidos, é preciso que o
receptor (aparelho de rádio) tenha uma antena, o sintonizador, amplificadores e alto-
falantes, componentes de um aparelho básico de radiodifusão.
Por causa destes quatro elementos, o ouvinte consegue ouvir a programação
que deseja. A antena capta os sinais enviados pelo transmissor, e através do
sintonizador marca a freqüência escolhida. Os amplificadores melhoram o sinal da
emissora escolhida e por fim os alto-falantes transformam os sinais na mensagem
final para o ouvinte, modificando as ondas recebidas em ondas parecidas com as
sonoras, originadas do estúdio da emissora. 1

Amplitude Modulada X Freqüência Modulada


Várias diferenças podem ser observadas entre Amplitude Modulada e Freqüência
Modulada. Desde a forma de transmissão até o estímulo causado pela radiodifusão.

1
Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora
Delta, 1981
“O veículo possui características como a instantaneidade,
a simultaneidade e a rapidez. Todas elas contribuem assim
para fazer do rádio o melhor e mais eficaz meio a serviço
da transmissão de fatos atuais. Outras características
deste meio de transmissão de mensagens corroboram tal
hipótese. Entre elas, a capacidade do rádio de ser
entendido por um público muito diversificado, por não exigir
um conhecimento especializado para a decodificação e a
recepção nas condições mais diversas, todas elas
favorecidas pela autonomia concedida ao aparelho
receptor a partir do invento do transistor.” (PRADO, 1985)

- Qualidade de transmissão
Como abordado anteriormente, o fato das transmissões em AMs serem feitas
também através de ondas espaciais refletidas faz com que os sinais atinjam lugares
mais afastados, porém este mesmo contribui para que a qualidade seja menor
comparada às das FMs, pois as ondas espaciais emitidas pelas FMs não refletem,
elas vazam além da ionosfera e as de AM refletem e fazem com que o som seja
alterado, interferindo na qualidade da transmissão.
- Programação
Um dos diferenciais entre AM e FM é a programação. Enquanto uma é
voltada para o entretenimento, a outra se baseia na quantidade de informação. FMs
têm um formato leve, com muita música e descontração. Já AMs programam-se
pautadas na informação e na prestação de serviços.
- Público
O público alvo de cada freqüência varia de acordo com o interesse de cada
ouvinte. Se se busca distração, sintoniza-se em emissoras de freqüência modulada,
já que, de acordo com “Manual do radialista” publicado pelo Ministério da Educação
em 1997, o público das FMs é segmentado e busca linguagem informal e música,
características de FM. Enquanto nas AMs o público busca informação instantânea,
prestação de serviços e jornalismo.
- Custos
Os gastos com AM são ditos mais caros, uma vez que a produção em AM deve ser
mais elaborada, já que existem gastos com reportagens, maior quantidade de
funcionários, manutenção de equipamentos, entre outros. Em FM, o fato de
transmitir músicas e entretenimento faz com que as despesas sejam menores, já
que os funcionários conseguem baixar as músicas gratuitamente na internet e usar
outros recursos alternativos como este.
- Mercado
As FMs têm espaço maior do que as AMs no mercado de radiodifusão,por
alcançarem um sinal mais claro e limpo. Isso faz com que a audiência das FMs seja
maior do que as de AM.
- Potência
Enquanto as AMs transmitem em 535kHz e 1605kHz, as FMs o fazem em 88
a 108MHz. Um quilohertz corresponde a mil hertz (Vibrações por segundo) e um
megahertz equivale a um milhão de quilohertz.
- Estímulo
Entre as várias diferenças entre AM e FM pode-se observar o estímulo
cognitivo que cada uma proporciona aos ouvintes.
Rádio Alto Estímulo (AM) Rádio Baixo Estímulo (FM)

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