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Universidade Estadual de Santa Cruz

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

UESC Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

FREDERICO SILVEIRA COSTACURTA

MATRIZ DE AVALIAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA


ARQUITETURA: UM ESTUDO DOS MEIOS DE
HOSPEDAGEM EM ÁREA PROTEGIDA DE USO
SUSTENTÁVEL NO LITORAL SUL DA BAHIA, BRASIL

ILHÉUS, BAHIA
2006
1

FREDERICO SILVEIRA COSTACURTA

MATRIZ DE AVALIAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA


ARQUITETURA: UM ESTUDO DOS MEIOS DE
HOSPEDAGEM EM ÁREA PROTEGIDA DE USO
SUSTENTÁVEL NO LITORAL SUL DA BAHIA,
BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa Regional de


Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Estadual de Santa Cruz,
como parte dos requisitos para obtenção do título de
mestre.

Área de concentração: Gestão do Trópico Úmido

Orientador: PhD Fermin de la Caridad Garcia Velasco

ILHÉUS, BAHIA
2

2006
3

FREDERICO SILVEIRA COSTACURTA

MATRIZ DE AVALIAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA ARQUITETURA: UM ESTUDO


DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM EM ÁREA PROTEGIDA DE USO SUSTENTÁVEL
NO LITORAL SUL DA BAHIA

Ilhéus, Bahia, Setembro de 2006.

Fermin de la Caridad Garcia Velasco – PhD


UESC / USP
(Orientador)

Alexandre Schiavetti – DS
UESC

Adolfo Lamar – DS
UESC
4

Às memórias de meu pai, José, e de meu irmão, José Alexandre.

À minha mãe, Maria Zélia, jornalista, escritora, musicista, artista,


professora, pelo apoio incondicional, pelos palpites no texto, pelo
exemplo de uma vida, pela bravura, pela semente plantada em
mim.

A meus filhos, Marcelo, Débora e Marina, e meus sobrinhos


Felipe, Daniele, Victoria, Pedro, Gustavo e Guilherme por me
oferecerem, natural e diariamente, milhares de razões para
acreditar em um mundo melhor.

A minha irmã, Cristiane, e a meus amigos e amigas de toda a vida,


por terem, cada um a seu modo, colocado alguns tijolos na parede
que sustenta meu sentimento sócio-ambientalista.
5

AGRADECIMENTO

Ao Professor Fermin Velasco pela orientação, pela confiança, pelos


ensinamentos, pelo apoio e pela amizade.

Aos Professores Max de Menezes, Fermin Velasco e Neylor Calazans pela


seriedade e carinho com que sempre cuidaram do PRODEMA e da turma VII do
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Ao Professor Alexandre Schiavetti pela longa trajetória de seus palpites,


ensinamentos, críticas, elogios e pela participação na definição da matriz de avaliação
como especialista.

À Professora Sandra Holanda pelo trabalhoso envio de sua dissertação sobre a


APA de Jericoacoara e pela participação na definição da matriz de avaliação como
especialista.

A Anne Becher pela participação na definição da matriz de avaliação como


especialista e pelo comentário a respeito do preenchimento (“It was fun”).

Ao Professor Mauricio Cetra, pelos ensinamentos sobre estatística.

A todos os meus colegas da turma VII e aqueles de outras turmas com que
convivemos como aluno especial.

Aos proprietários dos empreendimentos visitados, em especial meus “alunos”


participantes do Programa de Certificação em Turismo Sustentável – PCTS.

Em especial a Ana Lúcia, minha esposa, pelo carinho e paciência.


v

MATRIZ DE AVALIAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA ARQUITETURA: UM ESTUDO


DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM EM ÁREA PROTEGIDA DE USO SUSTENTÁVEL
NO LITORAL SUL DA BAHIA, BRASIL
RESUMO

Em todo o mundo estudos indicam grande crescimento das atividades econômicas


relacionadas ao turismo, especialmente aquele desenvolvido em regiões com atrativos
naturais. Ao mesmo tempo, esforços preservacionistas resultam em criação de novas
áreas protegidas e constante aperfeiçoamento das ferramentas de controle das
existentes. No Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC prevê
a possibilidade de exploração econômica em alguns tipos de Unidades de
Conservação, como a Área de Proteção Ambiental – APA, e é comum ali encontrar
meios de hospedagem instalados. Estas pousadas e hotéis, normalmente,
diferenciam-se por oferecer experiências ecoturísticas, aquelas em que o visitante
entra em contato com a natureza e a população local e contribui, de alguma forma,
para a sua sustentabilidade. Estes meios de hospedagem também são potenciais
impactantes e, como dependem da preservação dos recursos naturais, sociais e
culturais para a sua longevidade, buscam formas de reduzir os efeitos negativos de
sua presença em uma área especial. Há diversos exemplos de empreendimentos bem
sucedidos nesta tarefa. Esta pesquisa investigou a arquitetura de meios de
hospedagem localizados na APA Costa de Itacaré – Serra Grande, no litoral sul da
Bahia, para descobrir o seu verdadeiro diferencial, comparando com a arquitetura de
empreendimentos localizados fora de áreas protegidas, no caso, litoral do município
de Ilhéus. Utilizou o conceito de matriz ponderal para criar a MASArq, Matriz de
Avaliação Sócio-Ambiental da Arquitetura, definindo pesos para seis parâmetros com
ajuda de especialistas consultados. Os dados foram coletados com um questionário –
formulário com 40 perguntas em 51 meios de hospedagem, a partir de um universo de
104. O resultado demonstrou haver, sim, uma arquitetura mais sensível às questões
sócio-culturais nos meios de hospedagem localizados dentro da APA, em relação
àquela dos situados fora da APA. No entanto, a pontuação média geral deste grupo
(dentro da APA) resultou bastante abaixo da pontuação máxima a ser obtida: 400
pontos em 1000. O grupo localizado fora da APA conquistou apenas 310 pontos. Em
parâmetros como “energia” e “condições sanitárias” os dois grupos obtiveram
pontuação semelhante; nos demais, “água”, ”conforto ambiental” (melhor desempenho
do grupo de dentro da APA, com 70% da pontuação máxima), “biota” e “condições
sócio-econômicas”, todos os resultados foram favoráveis ao grupo localizado na APA.
No entanto, nos dois parâmetros considerados mais importantes como “água” e
“energia” este grupo alcançou, respectivamente, apenas 21% e 18% da pontuação
máxima, o que indica ainda haver muito espaço para melhorias das instalações dos
meios de hospedagem em áreas protegidas. Há poucas exigências e padrões para
edificações de meios de hospedagem nas Unidades de Conservação e, sem
fiscalização e orientação, a sustentabilidade da arquitetura acaba dependendo da
consciência eventual de empreendedores idealistas com visão de futuro para investir
em detalhes que deverão fazer grande diferença para a sociedade e para o negócio.

Palavras-chave: arquitetura; arquitetura bioclimática; meio-ambiente; turismo.


vi

SOCIOENVIRONMENTAL EVALUATION MATRIX:


A STUDY OF LODGING’S ARCHITECTURE INSIDE A PROTECTED AREA IN
BAHIA SOUTHERN COAST, BRAZIL

ABSTRACT

Studies all over the world indicate that economic activities related to tourism are
growing, particularly those supported by natural attractions. At the same time,
preservation efforts are resulting in new protected areas and constant improvement of
management tools for the existing ones. In Brazil, the SNUC – National Conservation
Units System, created a kind of protected areas where economic exploration is legal,
such as the APA – Environment Protection Area and it is common to find lodges there.
In many cases these hotels stand out by offering ecotouristic experiences, where the
visitor makes contact with nature and the local population, contributing to their
sustainability. Those lodges cause potential impacts and, as they depend on natural,
social and cultural resource preservation, ways of diminishing the negative effects of
their presence are being searched for. There are many examples of successful
undertakings in this task. This study investigates the architecture of lodges installed
inside the APA Costa de Itacaré – Serra Grande, in the southern coast of Bahia State,
Brazil, in order to discover the differences in comparison to similar lodges located
outside of protected areas, on the coast of Ilhéus. The weight up matrix concept was
used to create the MASArq, Architecture Socio-environmental Evaluation Matrix,
defining weights for six parameters with some specialists participation. Data were
collected with a 40 question form-questionnaire in 51 lodges, from a universe of 104.
The result showed that lodges located inside the APA have a more sensitive
architecture to social and environmental matters, compared to those outside of it. On
the other hand, this group (inside APA) has a global medium score far from the
maximum: 400 points out of 1000. The group outside of the APA received only 310
points. For parameters such as “energy” and “sanitary conditions” both groups got a
similar score; for the remain, “water”, “inside comfort” (the best result of the “inside the
APA” group, with 70% of the maximum score), “biota” and “social-economic
conditions”, all results were favorable to the inside the APA group. But for the two
parameters considered the most important, “water” and “energy”, this group received
only 21% and 18% of maximum score, respectively, indicating that there is much room
for the lodges’ facilities improvement within protected areas. There are few official
demands and patterns for lodges in protected areas and, with deficient control and
guidance, architectural sustainability depends on the eventual conscience of idealist
owners with futuristic vision for investing in details that will make a difference for
society and the business.

Keywords: architecture; bioclimatic architecture; environment; tourism.


vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Atividade econômica mundial relacionada ao turismo prevista para 2005 e


2015 (em bilhões de dólares) .............................................................. 12

Figura 2 – Atividade econômica relacionada ao turismo na América Latina e Brasil


prevista para 2005 (em bilhões de dólares) ........................................... 12

Figura 3 - Maho Bay, nas Ilhas Virgens: exemplo de intervenção arquitetônica de baixo
impacto sócio-ambiental negativo .................................................... 24

Figura 4 - Maho Bay, nas Ilhas Virgens: passarelas suspensas e definição de locação
reduzem o impacto sócio-ambiental negativo .................................... 25

Figura 5 - Eco-tendas de Maho Bay, nas Ilhas Virgens: solução com maior conforto e
mantendo o baixo impacto sócio-ambiental negativo ..................... 27

Figura 6 - Confrontação de características de um meio de hospedagem convencional e


um destinado a experiências ecoturísticas (eco-pousada) ..... 30

Figura 7 – Mapa da região estudada .............................................................. 51

Figura 8 – Chalé executado com materiais locais e integrado ao ambiente ... 52

Figura 9 – Exemplo de passarela suspensa para evitar pisoteio .................... 62

Figura 10 – Exemplo de intervenção arquitetônica integrada ao ambiente ..... 64

Figura 11 – Exemplos de elementos de proteção contra o sol ........................ 67

Figura 12 – Praia do Pé de Serra, Uruçuca ..................................................... 76

Figura 13 – Itacaré – Foz do Rio de Contas .................................................... 78

Figura 14 – Ilhéus – Foz do Rio Cachoeira ..................................................... 79

Figura 15 – MASArq: Indicadores sócio-ambientais da arquitetura de meios de


hospedagem e perguntas a eles relacionadas ................................................ 91

Figura 16 – Teste de Levene para variâncias iguais ....................................... 96

Figura 17 – Teste T e estatística de grupo ...................................................... 96


viii

Figura 18 – Diagramas de eixos ortogonais considerando as pontuações referentes


aos seis indicadores dos Meios de Hospedagem estudados dentro da APA (abaixo à
direita), fora da APA (abaixo à esquerda) e ambos (gráfico maior)
............................................................................................................... 97

Figura 19 – Gráfico de correlação entre as variáveis ...................................... 99

Figura 20 – Dendograma dos meios de hospedagem ................................... 102

Figura 21 – Dendograma dos meios de hospedagem e a representação de


agrupamentos observados ............................................................................ 103

Figura 22 – Pontuação média total obtida pelos meios de hospedagem pesquisados e


porcentagem relativa à pontuação máxima, separados nos grupos “dentro da APA” e
“fora da APA” ....................................................... 104

Figura 23 – Pontuação total obtida pelos meios de hospedagem pesquisados,


sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA” e a pontuação máxima
........................................................................................................................ 106

Figura 24 – Pontuações médias por parâmetro e porcentagens em relação às


pontuações máximas obtidas pelos grupos de meios de hospedagem pesquisados,
“dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações máximas de cada parâmetro
.............................................................................................. 108

Figura 25 – Pontuações obtidas no parâmetro “água” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro ........................................ 110

Figura 26 – Pontuações obtidas no parâmetro “energia” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro ........................................ 113

Figura 27 – Pontuações obtidas no parâmetro “condições sanitárias” pelos meios de


hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e
as pontuações máximas deste parâmetro .......................... 116

Figura 28 – Pontuações obtidas no parâmetro “condições sócio-econômicas” pelos


meios de hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da
APA”, e as pontuações máximas deste parâmetro .............. 118

Figura 29 – Pontuações obtidas no parâmetro “biota” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro ........................................ 120
ix

Figura 30 – Pontuações obtidas no parâmetro “conforto ambiental” pelos meios de


hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e
as pontuações máximas deste parâmetro ................................... 122

Figura 31 – Pontuações médias e porcentagens em relação à pontuação máxima


obtidas em três questões específicas pelos meios de hospedagem pesquisados,
“dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações máximas de cada questão
................................................................................................. 123

Figura 32 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 maiores


pontuações no “Total Geral” e que também ficaram entre os 10 com maiores
pontuações em cada parâmetro ...................................................... 125

Figura 33 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 maiores


pontuações em “Energia” e que também ficaram entre os 10 com maiores pontuações
nos outros parâmetros .................................................. 126

Figura 34 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 maiores


pontuações em cada parâmetro e estão localizados dentro da APA
........................................................................................................................ 128
x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição de categorias de impacto ambiental nos diversos sistemas de


avaliação ambiental de edifícios .................................................. 70

Tabela 2 - Universo dos meios de hospedagem que correspondem aos critérios da


pesquisa ...................................................................................................... 80

Tabela 3 - Total dos meios de hospedagem na região pesquisada ................ 81

Tabela 4 - Amostra definida dos meios de hospedagem ................................. 82

Tabela 5 - Opinião de profissionais sobre a pontuação dos indicadores sócio-


ambientais (parâmetros) da arquitetura de meios de hospedagem ................ 94

Tabela 6 - Indicadores sócio-ambientais (parâmetros) da arquitetura de meios de


hospedagem, sub-indicadores e pontuações máximas definidas, adotadas na pesquisa
...................................................................................................... 95

Tabela 7 – Correlação entre os indicadores .................................................... 99


xi

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................. v

ABSTRACT ............................................................................................. vi

LISTA DE FIGURAS .............................................................................. vii

LISTA DE TABELAS ............................................................................... x

APRESENTAÇÃO ................................................................................ 01

PARTE 1 – INTRODUÇÃO

1.1 SUSTENTABILIDADE E TURISMO ..................................................... 04

1.1.1 Fracasso do modelo de desenvolvimento ............................................. 04

1.1.2 O surgimento do turismo e hotelaria ..................................................... 06

1.1.3 Turismo sustentável .............................................................................. 08

1.2 ÁREAS PROTEGIDAS ......................................................................... 39

1.2.1 O surgimento das áreas protegidas no mundo e no Brasil ................... 39

1.2.2 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC ................ 42

1.2.3 Área de Proteção Ambiental Costa de Itacaré Serra Grande ............... 48

1.3 SUSTENTABILIDADE E ARQUITETURA ........................................... 52

1.3.1 As bases da arquitetura bioclimática ..................................................... 52

1.3.2 Sistemas de avaliação de edifícios ....................................................... 68


xii

1.3.2.1Sistemas internacionais ........................................................................ 68

1.3.2.2No Brasil ............................................................................................... 71

1.4 O PROBLEMA ...................................................................................... 73

1.5 OBJETIVOS .......................................................................................... 74

1.5.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 74

1.5.2 Objetivos específicos ............................................................................ 74

PARTE 2 – MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO .............................................................................. 76

2.2 UNIVERSO DE PESQUISA E DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ................ 79

2.3 PESQUISA, TÉCNICA DELFOS E MATRIZ PONDERAL ................... 82

2.4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 84

PARTE 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 PARTICIPAÇÃO DOS ESPECIALISTAS ............................................. 93

3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...................................................................... 95

3.2.1 Teste de Significância e Teste T ........................................................... 95

3.2.2 Análise das componentes principais ..................................................... 96

3.2.3 Análise de agrupamento ....................................................................... 99

3.3 GERAIS ............................................................................................... 104

3.4 PARÂMETROS ................................................................................... 107

3.4.1 ÁGUA .................................................................................................. 108

3.4.2 ENERGIA ............................................................................................ 111

3.4.3 CONDIÇÕES SANITÁRIAS ................................................................ 114


xiii

3.4.4 CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS ................................................ 117

3.4.5 BIOTA .................................................................................................. 119

3.4.6 CONFORTO AMBIENTAL .................................................................. 120

3.5 QUESTÕES ESPECÍFICAS ............................................................... 122

3.6 CORRELAÇÕES ENTRE OS PARÂMETROS .................................. 124

PARTE 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 134

APÊNDICE ...…………....…………………………………..…………..… 141


1

APRESENTAÇÃO

Meios de hospedagem povoam o imaginário da maioria das pessoas. São

lugares onde estamos longe de casa, não precisamos nos preocupar com arrumação

e limpeza, podemos ter aparelhos televisores e condicionadores de ar para

usufruirmos à vontade; ali estão os melhores banhos, aquecidos e longos, e as toalhas

mais felpudas. Estarmos hospedados em um hotel ou pousada nos faz sentir menos

responsáveis, simplesmente “de férias”.

Mas há um novo tipo de pousada, desconhecido de um grande número de

viajantes. É aquele localizado em áreas naturais, ou em áreas já declaradas como

sendo preferenciais à proteção ou, até, em áreas legalmente protegidas. Nessas áreas

as questões relacionadas ao meio-ambiente, e nele incluem-se as populações, seus

costumes e cultura, recebem uma abordagem diferenciada, um cuidado especial. E os

meios de hospedagem que se localizam no interior dessas áreas especiais também

devem ter características especiais. Hospedar-se em um deles pode significar

experiências únicas, vivenciar a natureza e compreender como pequenas atitudes

individuais podem fazer a diferença na sociedade moderna.

A primeira impressão, ao chegar a uma pousada, é composta pelas principais

características de sua arquitetura: materiais utilizados, estilo da fachada, paisagismo,


2

cores, volumetria, sombreamento. Está formado o “clima” da pousada e ele pode

influenciar nossas atitudes durante a estadia e, quem sabe, pelo resto da vida. Além

desses detalhes há outros que muitas vezes passam despercebidos e produzem

efeitos positivos consideráveis, como equipamentos que consomem pouca quantidade

de água ou energia, utilização de móveis e decoração com madeira certificada, ou

seja, de reflorestamento, utilização de fontes alternativas de energia e sistemas

construtivos que privilegiem a iluminação e ventilação natural.

Mas essa pousada existe? Será que estar em uma área protegida faz com que

o meio de hospedagem adquira características diferenciadas? Este diferencial é

refletido na sua arquitetura?

Este trabalho investiga, justamente, os diferenciais sócio-ambientais

apresentados por meios de hospedagem no interior de áreas protegidas, em especial

aqueles evidenciados em sua arquitetura. Para tanto, desenvolve metodologia própria

- MASArq - de avaliação das características sócio-ambientais da arquitetura a partir de

experiências semelhantes no Brasil e no mundo.

Divide-se em quatro partes. A Parte 1 apresenta a introdução dos temas e o

aprofundamento das questões relacionadas a sustentabilidade, turismo, áreas

protegidas e arquitetura; experiências com turismo realizado em áreas protegidas de


3

várias regiões do mundo, inclusive do Brasil ilustram o estado atual do tema. A seguir

descreve-se o problema em si e definem-se os objetivos da pesquisa.

A Parte 2 concentra-se na metodologia desenvolvida para a pesquisa;

apresenta-se a área de estudo, a APA Costa de Itacaré – Serra Grande e o município

de Ilhéus. Os fundamentos da metodologia são enunciados em seguida: os municípios

são caracterizados, o universo da pesquisa é definido, assim como a amostra

selecionada e é apresentado o instrumento de coleta e análise de dados, assim como

a teoria relativa, incluindo a técnica Delfos e a matriz ponderal.

A Parte 3 trata dos resultados da pesquisa, apresentando as pontuações

indicadas por cada especialista e a adotada para análise dos dados. A análise

estatística dos dados busca a confirmação da viabilidade dos dados e dos grupos

apresentados. A seguir, interpreta-se os dados obtidos de acordo com os seis

parâmetros utilizados, destacando-se as semelhanças e as diferenças dos grupos e

das unidades amostrais através de análise exploratória.

A Parte 4 apresenta considerações sobre o estudo e perspectivas de sua

utilização prática.
4

PARTE 1 – INTRODUÇÃO

“Há algum tempo os ambientalistas perguntavam o que os


desenvolvimentistas poderiam fazer pelo meio ambiente. Hoje, dizem o
que eles, ambientalistas, podem fazer pelo desenvolvimento”
Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente, na abertura do Seminário “A Mata
Atlântica e o SNUC”, Ilhéus, 27/05/2006.

1.1 SUSTENTABILIDADE E TURISMO

1.1.1 Fracasso do modelo de desenvolvimento

O desenvolvimento, em si, tem sido sistematicamente colocado em questão. O

que, antes, era analisado apenas do ponto de vista econômico, devido à degradação

do meio ambiente e injustiças sociais, ganhou novas abordagens e preocupações,

caracterizando, segundo Acselrad e Leroy (2002), o fracasso de um projeto

desenvolvimentista dominante. A ótica do desenvolvimento sustentável estimula a

melhoria da qualidade de vida não só das pessoas da época atual, como as das

gerações futuras. A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos publicou em

2002 um estudo que dizia que desde 1999 a economia estaria absorvendo 120% da

capacidade produtiva do planeta (HIROTA, 2002): A economia baseada nos finitos

combustíveis fósseis, o incrível aumento da população mundial, o desmatamento

descontrolado, a poluição atmosférica e de rios e oceanos, coloca-nos na encruzilhada

da história em que decisões terão que ser tomadas e novos caminhos descobertos e
5

seguidos. Arquitetos e urbanistas podem participar da ordenação do processo de

ocupação do planeta ao propor modelos desenvolvidos a partir do conceito da

sustentabilidade.

O atual interesse por temas relativos ao ambiente é interpretado por Serrano

(1997) como um desejo contemporâneo de “retorno à natureza”, traduzido em

proteção do meio ambiente e a salvaguarda dos saberes das comunidades

tradicionais, elementos necessários para a reformulação das posturas predatórias da

sociedade mais ampla em relação ao próprio ambiente.

Franco (2001) recorda que a Agenda 21, em seu capítulo 7, prescreve a

necessidade do Planejamento Ambiental, afirmando que a redução da pobreza urbana

só será possível mediante o planejamento e a administração do uso sustentável do

solo e que tal planejamento deve fornecer sistemas de infraestrutura ambientalmente

saudáveis: disponibilidade de suprimento de água, qualidade do ar, drenagem,

serviços sanitários e rejeito de resíduo sólido. Deve promover, ainda, segundo a

autora, tecnologias de obtenção de energia mais eficientes, assim como fontes

alternativas e renováveis de energia. A autora lembra, ainda, que ao seguir as

diretrizes da Agenda 21 os países devem incentivar as indústrias a utilizarem materiais

de construção nativos, tecnologia e projetos com uso mais eficiente de energia,

tecnologias de construção e manutenção com uso intensivo de mão-de-obra, para

gerar empregos.
6

Franco (2001) enumera os quatro fatores de ordem antropogênica que mais

influenciam na sustentabilidade ambiental: poluição, pobreza, tecnologia, estilos de

vida; sugere, também, que a sustentabilidade se assenta em três princípios:

1. Conservação dos sistemas ecológicos sustentadores da vida e da

biodiversidade.

2. Garantia da sustentabilidade das atividades que utilizam recursos renováveis.

3. Manter a ação humana dentro da capacidade de carga dos ecossistemas

sustentadores.

1.1.2 O surgimento do turismo e hotelaria

As rotas comerciais da antiguidade geraram, na Ásia, Europa e África, núcleos

urbanos e de hospedagem para atendimento aos viajantes. Na Idade Média, mosteiros

e abadias eram responsáveis pelas hospedagens, como uma obrigação moral e

espiritual. Com o advento das monarquias, a hospedagem passou a ser exercida pelo

próprio Estado, como afirmam Andrade et al. (2004), ou em albergues e estalagens. A

atividade econômica relacionada à hospedagem apenas surgiu com a Revolução

Industrial e a expansão do capitalismo. Os hotéis como hoje são conhecidos apenas

surgem no início do século XIX. A grande transformação do turismo aconteceu após a

Segunda Guerra Mundial, com a expansão da economia mundial, melhoria da renda

de grande faixa da população e melhoria dos sistemas de transporte e comunicação.


7

Ainda segundo os autores, o conceito de quarto com banheiro privativo,

conhecido hoje como apartamento, foi introduzido por César Ritz no primeiro

empreendimento hoteleiro planejado em Paris, em 1870 e chegou aos Estados Unidos

em 1908 com o Statler Hotel Company.

No Brasil, durante o período colonial, os viajantes se hospedavam nas casas-

grandes de engenhos e fazendas, nos conventos e nos ranchos à beira das estradas.

Andrade et al. (2004) ainda lembram que era comum o quarto de hóspedes nas casas

de família. Na segunda metade do século XVIII foi construído um edifício

exclusivamente para hospedaria no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro e é

quando surgem as estalagens, embriões de futuros hotéis. Com a chegada da corte

portuguesa ao Rio de Janeiro e a abertura dos portos, também vieram muitos

estrangeiros e aumentou a demanda por alojamentos; nos anos seguintes os

proprietários de pensões, hospedarias e tavernas passaram a utilizar a denominação

de hotéis.

Para incentivar a criação de hotéis no Rio de Janeiro no início do século XX o

governo criou o Decreto 1160 que isentava de impostos por sete anos os cinco

primeiros grandes hotéis que ali se instalassem. Em 1908 foi inaugurado o Hotel

Avenida, o maior do país.

Grandes hotéis se instalaram nas capitais, nas estâncias minerais e nas áreas

de apelo paisagístico a partir da década de 30. A Embratur foi criada em 1966 e

promoveu incentivos fiscais na implantação de hotéis e iniciou uma nova fase do


8

turismo nacional, o que provocou mudanças nas leis de zoneamento dos municípios,

tornando segundo Andrade et al. (2004), a legislação mais flexível e favorável à

construção de hotéis. Assim, nos anos 60 e 70 chegaram ao Brasil as redes hoteleiras

internacionais, com novos padrões de serviços e preços. Segundo os autores, até os

dias de hoje grupos hoteleiros promovem políticas sistemáticas para ampliar sua

participação no mercado brasileiro, visando, inclusive, segmentos menos atendidos,

como os hotéis econômicos.

1.1.3 Turismo sustentável

Segundo Dias (2003), a aplicação dos princípios da sustentabilidade ao turismo

compromete-se ao colocar-se lado a lado a ampla divulgação dada ao tema e os

limitados progressos alcançados. O autor cita, para ilustrar a evolução entre as

relações turismo e desenvolvimento, diversas declarações e documentos de

organizações como Organização Mundial do Turismo (OMT) e o Conselho Mundial de

viagens e Turismo (WTTC) e destaca a transição entre o predomínio dos aspectos

sócio-culturais e econômicos do turismo ao novo paradigma da sustentabilidade

(DIAS, 2003). São eles:

a- Declaração de Manila sobre o Turismo Mundial (1980)

b- Declaração dos Direitos e Código do Turista de Sófia (1985)

c- Declaração de Turismo de Haya (1989)


9

d- Carta do Turismo Sustentável de Lanzarote (1995)

e- Agenda 21 para o Setor de Viagens e Turismo (1993)

f- Código Ético Mundial para o Turismo de Santiago do Chile (1999)

g- Declaração de Osaka para o Milênio (2001)

Dias (2003) considera a Carta do Turismo Sustentável de Lanzarote um marco

de referência para o desenvolvimento turístico sustentável, pois engloba os princípios

fundamentais atribuídos a esse conceito, embora registre que, mesmo antes do

Relatório Brundtland, em 1987, as declarações de Manila e de Sófia já abordavam as

questões relacionadas ao turismo e suas implicações nos costumes, crenças e

comportamento, assim como no patrimônio natural e cultural. O autor afirma, então,

que no âmbito do turismo o “paradigma da sustentabilidade não supõe nada de tão

novo”.

O desenvolvimento turístico é um processo de mudança e Dias (2003) insiste

na necessidade de monitoramento permanente e na criação de um sistema de

informações que inclua variáveis relacionadas ao conceito de sustentabilidade,

principalmente as ambientais e as socioeconômicas.

O Conselho Mundial de Viagem e Turismo (World Travel & Tourism Council –

WTTC) apresenta-se como um fórum dos líderes empresariais no segmento e trabalha

para receber a adesão dos governos à meta de aumentar o reconhecimento da


10

importância de um dos maiores geradores mundiais de emprego e renda (WTTC,

2003). O Conselho lançou o conceito de “novo turismo”, como um desafio para

avançar a uma nova dimensão do segmento, uma resposta a um mundo muito mais

complexo. Baseia-se em entregar produtos de sucesso comercial, mas de uma

maneira em que se garanta benefícios para todos, não apenas para as pessoas que

viajam, mas também para as comunidades que eles visitam e para seus respectivos

ambientes natural, social e cultural. Para o WTTC, viagens e turismo significam

empregos, uma comunidade de um quarto de bilhão de pessoas trabalhando no setor

até o fim desta década. Para tanto, apresentam os três pontos básicos para o sucesso

da proposta:

1. Governos reconhecem o segmento de Viagem e Turismo como prioridade

máxima.

2. Negócios equilibram questões econômicas com questões relacionadas a povo,

cultura e meio ambiente.

3. Busca conjunta de crescimento e prosperidade em longo prazo.

A atividade turística ocupa hoje, evidentemente, um relevante papel na

economia mundial. Ao lado da indústria do petróleo e da indústria bélica, representa

uma das atividades econômicas com maior representatividade da atualidade.

Segundo dados da OMT (Organização Mundial do Turismo), em 1995 o

mercado do turismo atingiu cerca de U$$ 3,4 trilhões, e a previsão para o ano de 2005
11

é que o turismo será responsável por 11,3% da mão de obra empregada. Dados do

WTTC indicam que o segmento do turismo é responsável por 11% do PIB mundial,

emprega 200 milhões de pessoas e transporta cerca de 700 milhões de viajantes

internacionais ao ano e todos esses dados devem dobrar até 2030 segundo Christ et

al. (2003). Ainda segundo os autores, turismo representa um dos cinco maiores itens

de exportação para 83 por cento dos países.

A atividade turística também vem sendo temática de discussões sobre os

impactos causados ao meio ambiente natural e as comunidades onde se

desenvolvem. Aspectos que devem ser destacados são os "efeitos perversos"

advindos do turismo. Os empregos gerados pela atividade caracterizam-se por sua

freqüente ligação com o setor informal, apresentando muitas vezes precariedade,

sazonalidade, subqualificação, e até mesmo condições subumanas a que esses

trabalhadores se submetem. O turismo também pode gerar efeitos sociais bastantes

negativos, como aculturação, prostituição, impactos de ordem ambientais

excessivamente predatórios e prejudiciais aos ecossistemas locais (PEREIRA, 2000

citado por FARIA et al., 2002).

Segundo o WTTC, a demanda turística global será responsável por 6.201

bilhões de dólares de atividades econômicas e prevê crescimento para 10.679 bilhões

em 2015 (Figura 6). As previsões para a América Latina indicam 133,4 bilhões de

dólares de atividade econômica, crescendo a 228,4 bilhões em 2015 (Figura 7).


12

ATIVIDADE ECONÔMICA MUNDIAL RELACIONADA AO TURISMO


( EM B ILHÕES D E D ÓLA R ES)
F ON T E: W T T C , 2 0 0 5

10.679,00

12.000,00

10.000,00 6.201,00

8.000,00

6.000,00

4.000,00

2.000,00

-
2005 2015

Figura 1 – Atividade econômica mundial relacionada ao turismo


prevista para 2005 e 2015 (em bilhões de dólares). Fonte: WTTC, 2005.

A atividade econômica relacionada ao turismo no Brasil deve resultar em 55,1

bilhões de dólares em 2005 e alcançar 93,8 bilhões em 2015 (WTTC, 2005).

ATIVIDADE ECONÔMICA RELACIONADA AO TURISMO


( EM B ILHÕES D E D ÓLA R ES)
F ON T E: W T T C , 2 0 0 5

228,40
250,00

200,00
133,40
150,00 93,80 América Latina
100,00 55,10 Brasil

50,00

-
2005 2015
13

Figura 2 – Atividade econômica relacionada ao turismo na América Latina e Brasil


prevista para 2005 (em bilhões de dólares). Fonte: WTTC, 2005.

Ainda segundo o WTTC, o segmento de viagens e turismo no Brasil deve gerar

5.827.720 empregos, cerca de 7,0% do total, um a cada 14,4 empregos. Até 2015 este

número deve chegar a 7.261.140 (WTTC, 2005).

O crescimento do setor terciário, aliado a uma nova divisão social, técnica e

territorial do trabalho é, segundo Braga, M. (2004), uma tendência da economia

mundial na contemporaneidade. A autora afirma que é nesta vertente que as

atividades em turismo se inserem, bem como ganham um novo contorno. Nos anos

60, a indústria do lazer e turismo é incrementada acentuando algumas variantes como

o turismo cultural, ecoturismo etc. O Plano Nacional de Municipalização do Turismo,

nos anos 90, demarca as políticas que norteiam o setor, centrando foco nas ações

locais e envolvendo a reorganização de espaços, a questão ambiental e a gestão do

território.

Ganha realce a região turística correspondendo a certa densidade de frequentação

(sic), serviços e equipamentos turísticos e com uma imagem que lhe caracteriza. A

noção de região é reconfigurada com outro nível de complexidade, envolvendo a

produção, a circulação e o consumo (BRAGA, M., 2004). A autora afirma que é preciso

reconhecer o turismo em sua dimensão ética e perceber como faces de um mesmo

processo: as condições de turista e morador, a degradação social e a destruição

ambiental, a produção, a circulação e o consumo. Lembra que o que se denomina


14

“alma de um lugar” são os costumes, instituições, arquitetura, configuração territorial e

as multiplicidades de formas e tempos na e da paisagem. Braga, M. (2004) confirma a

frase: “Uma cidade será boa para o turista se ela for boa para seus moradores”.

Em abril de 2003 o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Turismo que,

entre outras coisas, criou os Fóruns Estaduais e fixou diretrizes, metas e programas

para o setor a serem implantados até 2007 (AGECOM, 2003). Dentre as metas estava

a geração de 1,2 milhão de empregos, gerar 8 bilhões de dólares em divisas com o

aumento para 60 milhões de passageiros nos desembarques domésticos e 9 milhões

de turistas estrangeiros ao ano no Brasil. Na Bahia, o setor de turismo empregou, em

2002, 415.800 pessoas, sendo 75.600 empregos diretos. Recebeu 4,05 milhões de

visitantes, gerando receita de 811 milhões de dólares (AGECOM, 2003).

Na reunião de 11 de março de 2004 do Conselho Nacional de Turismo

(MINTUR, 2004) o Ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia confirmou a definição

da meta de 9 milhões de turistas estrangeiros ao ano, sendo que em 2003 a meta era

receber 4,4 milhões de turistas e chegou-se ao número de 4,096 milhões, contra 3,78

milhões em 2002; informou que houve um acréscimo de 8,52% no ingresso de divisas

em 2003, justificando a meta de 3,6 bilhões de dólares em 2004 e 8 bilhões de dólares

para 2006, confiando na integração com a América do Sul e os vôos fretados

(charters). No entanto, confirmou o decréscimo do número de desembarques

domésticos, de 34 milhões em 2002 para 30,8 milhões em 2003, relacionando-o à

crise da aviação comercial no Brasil.


15

O turismo tem um leque de alternativas de emprego muito grande, pois envolve

não apenas os profissionais com formação específica, com graduação em turismo,

mas muitos outros profissionais. Beni (2005) relata que pesquisas da Universidade de

São Paulo têm revelado que o turismo impacta 52 segmentos diferentes da economia

e que tem participado de várias bancas de mestrado e doutorado em várias partes do

país em áreas como medicina, engenharia agrícola, educação física, arquitetura, por

exemplo, e todas com foco no turismo.

Serrano (1997) considera que o turismo, especialmente sua variação

“ecológica” ou “ambiental” é uma tentativa quase literal de reencontrar a natureza e

Ruschmann (1997) sugere, para salvaguardar a atratividade e a originalidade das

atrações para as gerações futuras, uma política turística eficaz que deve considerar a

condução racional da ocupação territorial pelas facilidades turísticas e equipamentos

de lazer e o controle de sua expansão.

A priorização dos objetivos ao se caracterizar o turismo, segundo Faria e

Carneiro (2001) envolve o ponto de vista do cidadão que usufrui o turismo e o ponto

de vista do local e da comunidade que recebe esse turista. Para as autoras, a

satisfação do turista deve interessar à comunidade local assim como a

sustentabilidade socioeconômica da comunidade também deve interessar ao próprio

turista e, pensando nisso, Andersen (1995), Ceballos-Lascuráin (1995), Serrano

(1997), Ruschmann (1997), Cooper et al. (2001), Mitraud (2001), Mehta (2002)

elencaram pontos a serem considerados para o desenvolvimento do turismo em

harmonia com a proteção do meio ambiente, especialmente identificar e minimizar os


16

problemas ambientais originários das operações dos equipamentos, minimizar

impactos ambientais resultantes da arquitetura, construção e operação dos

equipamentos turísticos, praticar a economia no consumo de energia e água, respeitar

os interesses da população local, incluindo suas tradições, cultura e desenvolvimento

futuro.

Ecoturismo vem sendo definido com profundidade crescente, como no

Congresso Mundial de Ecoturismo de Belize, em 1992, nas Diretrizes para uma

Política Nacional de Ecoturismo, em 1994, ou pelo Instituto de Ecoturismo do Brasil,

em 1995. O Instituto Brasileiro de Turismo, EMBRATUR, em seu manual Pólos de

Ecoturismo: Planejamento e Gestão aborda definições de “ecoturismo” historicamente;

o que antes era “encontro do Homem com a Natureza em seu estado selvagem”, foi

ampliado para “modalidade turística que tem como motivação principal viajar para

áreas naturais, pouco modificadas e livres de contaminação, com o objetivo específico

de estudar, admirar e desfrutar ativamente de suas paisagens, plantas e animais

silvestres, assim como das manifestações culturais existentes nessas áreas”. O

ecoturismo, portanto, seria uma maneira de assegurar a conservação da natureza e

aumentar o valor das terras deixadas em estado natural e os lucros financeiros devem

ser convertidos à conservação ambiental, ao sucesso econômico do empreendimento

e às populações residentes (CEBALLOS-LASCURÁIN, 1995). Para que isto aconteça,

o planejamento e o esquema físico do projeto (de instalações turísticas em áreas

naturais), segundo Cooper et al. (2001), podem acontecer juntamente com a

introdução de medidas destinadas a proteger o ambiente, alinhadas com a política

sócio-ambiental. A própria instalação turística em áreas protegidas deve ser a


17

evidência visual de um desenvolvimento sustentado bem planejado e torna-se o

retrato fiel de nossa preocupação e de nossa compreensão do meio ambiente

(ANDERSEN, 1995). Para Andersen (1995), ela deve ser uma extensão criativa do

mundo natural e servir como uma janela que integre o visitante à natureza.

Para o turismo, “interpretação” é uma forma de acrescentar experiências à visita

a um atrativo. Mc Arthur (1998) catalogou diversas definições do termo e o

Departamento de Parques, Florestas e Recreação de Vermont, nos Estados Unidos

descreve que “interpretação é a criação de uma experiência ou situação em que o

indivíduo é desafiado a pensar e possivelmente tomar decisões quanto aos recursos

naturais”. O autor cita que dentre as formas não-verbais de interpretação estão

publicações, placas e painéis, museus, pinturas e a locação, o projeto e a construção

dos edifícios. Este último ganha destaque por Mc Arthur (1998) que afirma que talvez

a forma mais utilizada de interpretação não-verbal seja a demonstração de mensagens

através da arquitetura inteligente, referindo-se às construções de edifícios para turismo

como um tipo de escultura que reflete as características do local e pode demonstrar

princípios ecologicamente sustentáveis. Afirma, ainda, que o projeto, desde a escolha

do local de implantação dos edifícios, pode utilizar luz, espaço e até mesmo sons para

auxiliar na interação dos visitantes com o ambiente e a operação do próprio edifício e

esta interação com os hóspedes pode criar uma experiência interpretativa altamente

interativa e eficiente.

Khan (2003) criou a escala de graduação ECOSERV com a finalidade de avaliar

a expectativa dos turistas em relação à sua experiência ecoturística e aos serviços a


18

ela relacionados. Derivada de outra denominada SERVQUAL, a metodologia de Khan

apresenta seis dimensões para análise: eco-tangíveis1, segurança (previsibilidade),

confiabilidade, consideração, empatia e tangíveis. A autora definiu sua população

amostral como turistas que tivessem realizado uma viagem ecológica nos últimos

dezoito meses e considerou esse tipo de viagem como aquela que acontece em áreas

naturais para interagir, experimentar e aprender outras culturas e auxiliar

economicamente comunidades locais que trabalham no sentido da conservação e

preservação do ecossistema. Escolheram 1051 associados da The Ecotorism Society,

uma organização baseada nos Estados Unidos, e destinos que variaram do Alasca à

América do Sul e da África à Ásia. A pesquisa revelou que ecoturistas esperam

encontrar empresas que considerem o meio-ambiente, e preferem serviços cordiais,

que sejam informativos, confiáveis e responsáveis. Além disso, concluiu que o mais

importante para ecoturistas são instalações apropriadas ao meio ambiente e

equipamentos que minimizem a degradação ambiental, os dois subitens eco-tangíveis

que obtiveram maior pontuação dentre todos. Aspectos como apelo visual do material

promocional, empatia dos funcionários, pontualidade dos serviços, por exemplo,

receberam pontuação bastante inferior à recebida pela adequação ambiental das

instalações. Investir numa arquitetura sustentável de um meio de hospedagem pode

significar, portanto, um diferencial decisivo e uma demonstração de sensibilidade aos

anseios do mercado.

1
Tangíveis (tangibles) e eco-tangíveis (eco-tangibles) podem ser interpretados como aspectos
fisicamente percebidos, sendo estes últimos relacionados, também, a questões ambientais.
19

Eagles et al. (2002) confirmam que turismo em áreas protegidas é uma parte

considerável, e em crescimento, da economia de vários países. Citam como exemplo

o impacto econômico do turismo em áreas protegidas nos Estados Unidos e Canadá,

entre 236 e 370 bilhões de dólares em 1996, apesar de aceitarem que os dados para

avaliação econômica desta atividade são raros e, quando disponíveis, pouco

confiáveis. Como resultado, a sociedade subestimaria os benefícios dela derivados e

não destinaria recursos necessários para aproveitar seu potencial inteiramente, o que

Wells (1997 citado por EAGLES et al., 2002) chamou de quase universal sub-

investimento em proteção de áreas naturais.

Os autores afirmam que todas as áreas protegidas demandam algum tipo de

infraestrutura de serviços ao visitante, desde um painel informativo numa reserva

natural até uma vila ou cidade inteira. Insistem que toda a infraestrutura deve ser

cuidadosamente projetada e operada e, ainda, refletir os valores locais. Um projeto

adequado aumentaria o conforto do visitante e melhoraria sua resposta aos estímulos

de estar em um local especial (EAGLES et al., 2002). Citam que tanto o Serviço

Nacional de Parques dos Estados Unidos (1993) e o Conselho de Turismo da Austrália

(1998) publicaram excelentes roteiros para projetos turísticos em parques e que são

pouco impactantes sobre o meio ambiente. Como exemplo, citam a Reserva Particular

Sabi Sabi, na África do Sul, adjacente ao Parque Nacional Kruger, utilizado para

criação de gado antes de sua aquisição em 1974. Desenvolveram um programa de

reintrodução do rinoceronte branco e do leão, empregam mais de 100 locais com suas

famílias e evitam a supressão de vegetação através de turismo de baixa densidade.

Há três pousadas e os efluentes líquidos são coletados por gravidade para um tanque
20

de separação de 10.000 litros, o lodo é retirado periodicamente e o líquido drenado

aos poucos através das raízes das plantas para uma pequena área alagada, onde

vivem diversas espécies de pássaros.

Holanda (2001) afirma que há duas tendências globais ocorrendo

simultaneamente e que estão fortemente interligadas. Uma delas é a rápida expansão

da indústria do turismo, com uma demanda crescente por um turismo especializado,

particularmente o de áreas naturais protegidas. Outra é a mudança de estratégias para

o manejo de áreas protegidas. Para a autora, conservacionistas e administradores

dessas áreas estão começando a reconhecer a importância de integrar a preservação

dos recursos com as necessidades das populações que circundam as áreas

protegidas e estão chegando ao acordo de que são importantes as atividades voltadas

ao desenvolvimento integrado. A crescente demanda por turismo em áreas protegidas

combinada com a necessidade de provê-las de atividades econômicas pode significar

a oportunidade de atender as duas tendências de uma forma sustentável.

Eagles et al. (2002) afirmam, também, que há um intenso debate sobre os

méritos de permitir ou não acomodações para pernoite em alguns tipos de áreas

protegidas. Descrevem alguns argumentos para que instalações de pousadas ou

acomodações sejam aceitas em áreas protegidas, especialmente as de maior

tamanho:
21

1. Há maior controle por parte do gestor da área protegida (Unidade de

Conservação, no Brasil) sobre os complexos de hospedagem e a forma de

utilização do parque pelos visitantes.

2. O visitante acaba passando mais tempo no parque e há menor necessidade de

transporte e, portanto, menor impacto negativo dele decorrente; há, ainda,

maior possibilidade de desfrutar suas atrações.

3. Acomodações e instalações projetadas adequadamente podem atrair visitantes

a regiões sub-utilizadas.

4. Benefícios financeiros através de taxas ou contribuições referentes às despesas

com hospedagem ou alimentação em instalações localizadas no interior dos

parques.

Por outro lado, enumeram razões de preocupações e de se evitar instalações

no interior de parques, ou Unidades de Conservação:

1. Acomodações turísticas, em si, não combinam com uma área natural e são

invasivas visualmente e potencialmente poluidoras.

2. Há impactos secundários decorrentes de serviços ligados à hospedagem.

3. Há uma tendência de crescimento dos serviços de hospedagem, o que dificulta

o controle.

4. Há maior possibilidade de levar benefícios a comunidades instaladas nas

adjacências dos parques se os meios de hospedagem estiverem localizados

nas vilas próximas aos parques.


22

Os autores citam, ainda, outro exemplo, o Parque Chumbe Island Coral, na

Tanzânia, localizado numa ilha anteriormente não habitada no Oceano Índico, e que

possui imensa biodiversidade em sua barreira de corais. Criado em 1992, dispõe de

sete bangalôs que podem receber até 14 visitantes cada. Além disso, visitas de um dia

são permitidas a outros 12 turistas. O projeto, sensível ao meio ambiente é revelado,

segundo os autores, pela arquitetura nas seguintes maneiras:

1. Coleta de água de chuva pelos telhados; a água é filtrada e armazenada em

cisternas subterrâneas.

2. Aquecimento solar para banho.

3. Reciclagem de águas de banho.

4. Ventilação natural.

5. Compostagem dos resíduos dos banheiros, produzindo fertilizantes.

6. Energia fotovoltaica para iluminação.

A crescente demanda por turismo sustentável e produtos ecoturísticos convive

com críticas de ambientalistas e o debate sobre como responder a elas (GOODWIN;

FRANCIS, 2003, citados por FONT; HARRIS, 2004). Além das tarefas de melhorar o

desempenho das empresas turísticas e influenciar o mercado, certificações para

atividades relacionadas a turismo têm surgido como ferramentas para reduzir impactos

ambientais e obter vantagens competitivas, pela visibilidade e confiabilidade

transmitidas pelo certificador. Font e Harris (2004) estudaram cinco programas de

certificação turística aplicadas em países em desenvolvimento, que apresentavam

questões relacionadas à sustentabilidade e que incluíam questões sociais e culturais,


23

como Green Globe 21 (internacional), Certificate for Sustainable Tourism (Costa Rica),

Green Deal (Guatemala), Smart Voyager (Galápagos) e Fair Trade Tourism, da África

do Sul. Chegaram à conclusão de que há sérias limitações em todos eles,

especialmente em relação à capacidade de medir eficientemente as variáveis e às

possíveis aplicações práticas: para Font e Harris (2004), medem aspectos

excessivamente subjetivos e os indicadores não mostram a realidade como um todo.

Há, portanto, carência de instrumentos práticos de avaliação e certificação e que,

ainda, possam orientar e refletir de forma objetiva as características relacionadas à

sustentabilidade das empresas turísticas, em especial os meios de hospedagem,

principais investidores e potenciais agentes de degradação socioambiental.

No Brasil, recentemente foi criado o Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável

– CBTS, com a proposta de estabelecer instrumentos de apoio aos empresários e

profissionais do turismo. A principal ação foi criar o Programa de Certificação em

Turismo Sustentável, sob a coordenação do Instituto de Hospitalidade, com sede em

Salvador, Bahia, que inclui a criação de uma Norma Técnica: a Norma Nacional para

Meios de Hospedagem – Requisitos para a Sustentabilidade, a assistência técnica

patrocinada a empresários e a certificação dos meios de hospedagem; esta norma

enumera o que denominou Princípios do Turismo Sustentável (INSTITUTO DE

HOSPITALIDADE, 2006):

a) Respeitar a legislação vigente

b) Garantir os direitos das populações locais

c) Conservar o ambiente natural e a biodiversidade


24

d) Considerar o patrimônio cultural e os valores locais

e) Estimular o desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos

f) Garantir a qualidade dos produtos, processos e atitudes

g) Estabelecer o planejamento e a gestão responsáveis

Os meios de hospedagem que seguirem estes princípios e aplicarem o que

indica a norma estarão aptos a receber a certificação, o que indicará uma situação em

que se espera menor impacto negativo sobre recursos sócio-ambientais.

A aplicação plena de conceitos genuinamente de ecoturismo ao

empreendimento denominado Maho Bay, nas Ilhas Virgens, justifica sua utilização

como exemplo ativo de que é possível empreender de forma a minimizar efeitos sobre

recursos naturais e, até, recompor características originais afetadas anteriormente à

própria instalação do empreendimento.

Figura 3 - Maho Bay, nas Ilhas Virgens: exemplo de intervenção arquitetônica


de baixo impacto sócio-ambiental negativo. Fonte: Hawkins et al., 1995, p. 134.
25

Selengut (1996) projetou chalés que puderam ser edificados entre árvores e

plantas existentes, materiais de construção foram içados e transportados por

passarelas suspensas que protegeram a rara vegetação, evitaram erosão e continuam

servindo os hóspedes (Figura 1). Após mais de vinte anos de operação, a propriedade

foi recuperada de forma que o hábitat para plantas e animais é mais sadio do que

antes da instalação, segundo Selengut (1996).

Figura 4 - Maho Bay, nas Ilhas Virgens: passarelas suspensas e definição de locação reduzem
o impacto sócio-ambiental negativo. Fonte: Hawkins et al., 1995, p. 134

Selengut (In: HAWKINS et al., 1995) construiu, portanto, em Maho Bay, nas

Ilhas Virgens, 114 bangalôs (Figura 2) em forma de tendas utilizando projeto sensível

ao meio ambiente.
26

Em outro empreendimento, vizinho a Maho Bay, nas Ilhas Virgens, denominado

Estate Concordia, utilizou técnicas de construção solar passiva e cuidados com o

terreno original na execução de nove unidades de luxo; também próximo executou 12

outras unidades de luxo inteiramente com materiais de construção reciclados e que

utiliza energia solar no Harmony Resort. Por mais de 19 anos, Selengut realizou

pesquisas e construiu os dois resorts, com avanços tecnológicos até então

impensáveis, como permitir o controle do consumo de energia ao hóspede através de

computadores instalados no quarto, ou suprir o empreendimento de eletricidade

totalmente com energia solar e eólica. Respostas a questionários confirmaram que os

hóspedes aprovavam o conforto de banheiros privativos, geladeiras e ventiladores no

teto, ao contrário de Maho Bay, nas Ilhas Virgens. No entanto, Selengut também pode

concluir que os hóspedes haviam perdido a experiência íntima com a natureza

permitida nos bangalôs em forma de tenda de Maho Bay, que mantinha uma das mais

altas taxas de ocupação do Caribe: 70% ao longo do ano e 95% na alta estação. O

autor confirmou sua surpresa ao perceber que seus clientes preferiam hospedar-se em

tendas que haviam custado 7.000 dólares ao invés das unidades do Harmony, de

custo próximo a 80.000 dólares cada. Criou, então, o que ele chamou de “ecotents”,

ou “eco-tendas” (Figura 3), unindo a proximidade da natureza de Maho Bay com

amenidades consideradas importantes do Harmony.


27

Figura 5 - Eco-tendas de Maho Bay, nas Ilhas Virgens: solução com maior conforto e mantendo
baixo impacto sócio-ambiental negativo. Fonte: Hawkins et al., 1995, p. 132

Em 1991, o governo das Ilhas Virgens, a partir de uma oficina (workshop) sobre

Sustainable Design, ou Projeto Sustentável, publicou The Guiding Principles of

Sustainable Design, ou Princípios Direcionadores do Projeto Sustentável, onde os

autores indicam projetos solares, uso de materiais de construção reciclados, energia

de fontes eólicas ou fotovoltaicas, disposição responsável de resíduos, ecologia da

construção e outros aspectos de projetos sustentáveis que podem servir de referência.

Na Costa Rica, Blake e Becher (1996) desenvolveram um sistema de

classificação para instalações de hospedagem para ecoturismo; segundo as autoras,

muitas instalações de hospedagem de ecoturismo são verdadeiramente “verdes”,

enquanto outras pouco apóiam esforços conservacionistas, causam impacto ambiental

relevante, pouco contribuem com a economia local ou promovem a cultura das


28

comunidades à sua volta e tentam ganhar vantagens com a grande demanda atual do

ecoturismo.

Em 1994, o Ministro do Turismo das Bahamas anunciou uma iniciativa voltada

ao ecoturismo, com o objetivo de criar novos empregos nas ilhas, aproveitar seu apelo

natural ao ecoturismo e expandir o mercado de turismo; foi decidido elaborar e

implantar diretrizes voltadas às atividades ecoturísticas (MCGREGOR, 1996);

enumerou ações para se aplicar um plano de turismo sustentável e várias afetam

direta ou indiretamente as intervenções arquitetônicas e o planejamento urbano. Borrie

et al. (1998) descreveram com detalhes as nove etapas de um sistema de

planejamento criado nos E.U.A. denominado L.M.A. ou Limites de Mudanças

Aceitáveis (L.A.C., Limits of Acceptable Change) que considera a identificação precisa

de valores e conceitos locais, assim como as oportunidades de recreação e, ao definir

as opções de localização das instalações, avaliá-las e eleger a preferencial,

implementando condições de monitoramento.

Schlüter (1995) descreveu e analisou brevemente o que se passava a ser

denominado “ecolodges”:

“[...], paralelamente à popularização da expressão “ecoturismo” para identificar uma


forma de turismo em harmonia com o meio ambiente, começou-se a chamar
“ecolodges” às diferentes formas de alojamento cuja filosofia de projeto e operação se
adequava a um turismo baseado na natureza e que causavam baixo impacto negativo
no meio físico e humano em que se localizavam.” (SCHLÜTER, 1995, p.72, tradução
nossa)
29

A autora afirma que a expressão “ecolodges”, ou eco-pousadas, começou a se

popularizar em países ou regiões que buscavam diferenciais de mercado e apostavam

no ecoturismo, como a Costa Rica, Amazônia, África do Sul e África Oriental. Schlüter

(1995) também cita o exemplo de Selengut em Maho Bay, nas Ilhas Virgens, em que,

segundo a autora, as construções mimetizam-se com a paisagem e da Costa Rica, um

dos principais destinos ecoturísticos do mundo, que determina que a altura dos

edifícios de alojamento não poderia superar a de uma palmeira.

Em relação ao turismo na Patagônia Argentina, a autora cita que sempre esteve

estreitamente ligado a seu patrimônio natural e na região costeira recebeu grande

impulso com a criação do Sistema de Reservas Provinciais de Chubut. O alojamento

era construído com a intenção de satisfazer as necessidades dos turistas e levava em

consideração o seu perfil econômico e o estilo arquitetônico que reinava na época e,

na área dos parques nacionais próximos a opção foi o estilo alpino, pela semelhança

com o espaço dos Alpes europeus. A autora descreveu características de meios de

hospedagem da Patagônia Norte, conhecida como Região dos Lagos. Chamados de

hosterias, na sua maioria próximos a centros urbanos e ligados a redes de energia e

água, coleta de esgoto e lixo. Por outro lado, no centro da Patagônia há uma série de

lagos de grande beleza cênica e distantes dos principais centros urbanos. Ali, os

alojamentos denominam-se cabañas e seriam de construção recente e supostamente

em seu projeto e operação seriam tomadas medidas para interferir o mínimo possível

na natureza. A autora cita três exemplos: as Cabañas Lago Vintter, bastante arejadas,

sem luz artificial e cujo combustível para calefação é retirado ao redor; a Cabaña

Huente-Có, bastante utilizada para trabalhos de pesquisa de campo e que contava


30

com gerador de energia e com a lenha dos bosques para calefação e cocção; e o

Complejo Turístico Las Margaritas, construído considerando-se elementos de

preservação ambiental, conta com sistema de tratamento de efluentes e coleta de

água do lago e consumida após análise, separa-se o lixo para compostagem do

orgânico e lenha é utilizada para calefação e cocção (SCHLÜTER, 1995). A autora

conclui afirmando que para satisfazer as necessidades do turista e não impactar o

meio ambiente é necessário que empresários, arquitetos, engenheiros e gestores

públicos comecem a considerar as novas tecnologias.

O contraste entre um meio de hospedagem voltado a ecoturismo ou a um

público que deseja experimentar experiências ecoturísticas e um convencional foi

estudado por Hawkins et al. (1995) e simplificado pelos autores na Figura 4, de forma

a auxiliar empreendedores e planejadores.

CONVENCIONAL ECO-POUSADA
Luxo Necessidades básicas de conforto
Estilo genérico Estilo específico
Foco no relaxamento Foco na atividade e educação
Atividades nas instalações Atividades na natureza
Desenvolvimento invasivo Desenvolvimento integrado com o meio
ambiente local
Propriedade de grupo ou consórcio Propriedade individual
Lucros baseados na capacidade de ocupação, Lucros baseados no projeto estratégico,
serviços e preços locação, baixa capacidade de ocupação,
serviços, preços
Alto investimento Moderado a baixo investimento
Atrações chave são as instalações e o entorno Atrações chave são o entorno e as instalações
Serviços e apresentação luxuosos das Refeições e serviços bons e saudáveis, com
31

refeições influência cultural local


Vendas por operadoras Vendas independentes (mais comum)
Não há guias ou intérpretes da natureza Operação focada nos guias e intérpretes da
natureza
Figura 6 - Confrontação de características de um meio de hospedagem convencional
e um destinado a experiências ecoturísticas (eco-pousada)
Fonte: Hawkins et al.(1995)

Holanda (2001) apresentou considerações de três casos no Brasil de áreas

protegidas e como o turismo tem sido desenvolvido. O quadro mapeado nas três APA

estudadas mostra que duas práticas comprometem a sustentabilidade de seus

recursos. A autora cita fatores que estão associados à falta de planejamento do

turismo nas áreas e ao intenso fluxo de visitantes. Há regras que orientam o

desenvolvimento do turismo em seu meio, mas sofrem com os efeitos negativos de um

turismo mal planejado e de uma prática depredadora, como alguns destinos

tradicionais. Outro exemplo valoriza sua condição de área protegida, ao incentivar o

ecoturismo, com a participação da comunidade local.

A APA da Serra de Aratanha localiza-se nos distritos de Pacatuba, Maranguape

e Guaiúba, no Estado do Ceará e é uma unidade de conservação de grande potencial

ecoturístico, mas pouco conhecida. Ali foi implantado um projeto de educação

ambiental promovido pela Universidade Federal do Ceará, o Projeto Parque Vivo, que

desde 1993 tem contribuído com a formação de uma consciência ecológica,

principalmente entre estudantes do ensino fundamental e médio do sistema

educacional público e privado. Vinte e oito trilhas foram criadas até dezembro de 1999

e verificou-se que as trilhas estão criando condições para fixar as pessoas na


32

localidade, uma vez que as perspectivas de melhoria crescem dentro da infra-estrutura

local (HOLANDA, 2001).

No Estado do Pará, a APA da Ilha de Algodoal - Maiandeua foi alvo, segundo

Holanda (2001) de alguns fenômenos que degradam o ambiente. A partir da década

de 80, a Ilha começou a passar por transformações devido ao turismo mal planejado.

Aumento e acúmulo de lixo, perda do aspecto cênico da Ilha, desmatamentos ilegais e

retiradas de pedras da orla marítima para construção de casas de veranistas. As fortes

pressões em relação a loteamentos de suas áreas contribuíram para o agravamento

dos problemas ambientais e sociais e para a luta pela sua institucionalização como

Área de Proteção Ambiental, conquista efetuada no ano de 1990. Ali encontram-se

algumas comunidades de pescadores, dentre elas destaca-se a vila de Algodoa, com

potencial turístico natural. No entanto, a oferta de equipamentos e serviços,

apresentava-se deficitária, com necessidade de reorientação para que o turismo ali

praticado possa ser enquadrado dentro das propostas do turismo sustentável.

Defendeu-se a idéia de que as orientações no campo dos equipamentos e serviços

fossem norteadas pela concepção da conservação, e disseminadas entre os agentes

que colaboravam com o turismo na ilha.

Na APA de Corumbataí, a Represa do Lobo, localizada no Estado de São

Paulo, é um lugar destinado à pesquisa e à recreação. Segundo Holanda (2001) é

considerada uma das poucas opções de entretenimento, baseado em recursos

hídricos, para suas populações rurais e urbanas. Nos últimos vinte anos, é cenário de
33

impactos ambientais, devido à ocupação ocasionada por residências de verão,

construídas em torno da Represa. A ausência de planejamento ou percepção de que o

ambiente estava deteriorando a terra e a água contribuiu para tornar a Represa

imprópria para banho. Foi realizado estudo com o intuito de discutir os impactos sócio-

ambientais, ocasionados pelo uso turístico dos recursos hídricos da Represa do Lobo.

Visou contribuir com o planejamento de sua utilização. Investigaram-se as mudanças

da qualidade da água, relacionadas ao uso recreacional, e avaliou-se se a capacidade

de carga foi ou não transposta, a partir de amostras da água, coletadas da Represa

em situações típicas do fluxo turístico. O estudo concluiu que o turismo, atividade

potencial para o desenvolvimento da APA, é uma atividade ambígua, que gera

valorização local e, ao mesmo tempo, promove degradação ecológica e exploração

financeira.

A Norma Nacional para Meios de Hospedagem, do Programa de Certificação

em Turismo Sustentável (INSTITUTO DE HOSPITALIDADE, 2006) apresenta, em seu

item 5, Requisitos Ambientais para o Turismo Sustentável, as práticas para minimizar

a degradação do ambiente e, em particular, no sub-item 5.3, as condições a serem

aplicadas à arquitetura e impactos da construção. Reforça a idéia de integrar a

arquitetura à paisagem, minimizando impactos desde a construção à operação do

meio de hospedagem e indica a adoção de medidas para minimizar impactos como

movimentos de terra, impermeabilização do solo, remoção de vegetação, alteração na

fauna e flora, cursos d’água, utilização de materiais derivados de espécies

ameaçadas, despejo de resíduos. Sugere o aproveitamento de materiais disponíveis


34

na região e o desenho arquitetônico compatível com o entorno e em harmonia com os

ambientes natural e cultural. Cria, ainda, exigências e cita sugestões quanto às

emissões de efluentes e resíduos sólidos e apresenta medidas quanto à eficiência

energética e conservação e gestão do uso da água.

Apesar de reconhecer que o turismo é uma atividade adequada às APA,

Holanda (2001) insiste na necessidade de monitoramento de seus impactos. Para a

autora, em áreas denominadas frágeis, a mais cuidadosa construção de equipamento

turístico cria impactos ambientais que necessitam ser mantidos sob controle, a fim de

preservar a autenticidade e a originalidade da paisagem original. Holanda (2001) cita

os lodges do Amazonas, construídos em áreas densamente arborizadas, distantes

algumas horas de suas principais cidades, próximos a correntezas, lagos e rios

menores e que se constituem em meios de hospedagem do turismo ambiental e

ecológico e, segundo a autora, devem ser submetidos a um rigoroso controle das

autoridades turísticas e ambientalistas que, através de legislação específica, procuram

integrar os projetos arquitetônicos à paisagem local, valorizando seu exotismo e

evitando agressão ao ecossistema.

Exemplos indicam a preocupação de pesquisadores e autoridades com o efeito

de atividades inerentes ao turismo em áreas naturais ou frágeis e a sua normatização,

assim como sugerem a necessidade de uma regulamentação eficiente e realista que

organize e crie parâmetros para a implantação de edificações e instalações de apoio.

As visões oferecidas por Selengut (1996), Blake e Becher (1996) e McGregor (1996)
35

são concordantes na medida em que sugerem e incentivam a criação de planos de

diretrizes para ocupação arquitetônica. Apresentar um diagnóstico das intervenções

arquitetônicas pode ajudar a direcionar a ocupação de áreas voltadas ao turismo de

forma organizada, ambientalmente coerente e adequada aos princípios do turismo

sustentável. Podem os arquitetos e toda a equipe de planejamento absorver, resgatar

e valorizar a cultura local, incluindo em seus trabalhos práticas regionais e

trabalhadores residentes, de forma a envolvê-los, efetivamente, nos empreendimentos

turísticos desde o planejamento? Selengut (1996) afirmou que realizou encontros com

a comunidade local antes de diversas decisões quanto ao planejamento de Maho Bay,

nas Ilhas Virgens, No entanto, Ruchmann (2001) refere-se à dificuldade do ecoturismo

contribuir para a conservação dos ecossistemas das comunidades receptoras,

protegendo-os, apesar da visitação e da construção de equipamentos específicos. Ao

mesmo tempo, em diversos países desenvolvidos, e mesmo em alguns poucos países

em desenvolvimento, como vimos, cresce o número de publicações e profissionais

especializados em arquitetura ecológica, ou, até, arquitetura voltada ao turismo

sustentável, como é o caso de Selengut (1996). No Brasil os estudos voltados à

arquitetura ambientalmente sustentável concentram-se na habitação unifamiliar e na

adaptação de premissas e conceitos internacionais (RODRIGUES, 2003). Esta

arquitetura, baseada nos verdadeiros conceitos do turismo sustentável e

autenticamente brasileira necessita de estudos e embasamento teórico.

No Brasil são comuns casos de ampliação ou reformas em pousadas ou hotéis

sem que a obra se apóie em projetos adequadamente desenvolvidos (ANDRADE et

al., 2004). Os autores afirmam que isso acontece porque os empresários julgam
36

desnecessário o investimento em consultorias ou projetos e confiam em sua própria

experiência, causando desperdícios e custos adicionais, muitas vezes permanentes,

pois podem decorrer da organização espacial e de decisões de difícil reformulação

posterior, como posição das aberturas, sistemas hidráulicos e de aquecimento de

água, escolha de materiais, por exemplo, e muitas vezes demonstrando pequena

sensibilidade às questões relacionadas à sustentabilidade, em especial ao meio

ambiente.

Hawkins et al. (1995) reforça a importância do papel do arquiteto no

desenvolvimento do ecoturismo e turismo sustentável, e que pode ser compreendido e

derivado dos objetivos do próprio turismo sustentável. O projeto de instalações para

essa finalidade, segundo o autor, deve sempre buscar a preservação das qualidades

essenciais do local nos sítios escolhidos para o empreendimento e o arquiteto deve

ser chamado a participar na determinação dessas qualidades e da adequação ou não

da instalação naquele local ou sítio. Para Hawkins et al. (1995), o sucesso relativo do

projeto arquitetônico será compreendido como a qualidade do conjunto final de

estruturas, terra, recursos naturais e contexto cultural; ou seja, se a arquitetura

consegue tornar-se uma soma natural ao local, em forma e espírito, ela alcançou

sucesso.

Wood (2003), fundadora da The International Ecotourism Society (Sociedade

Internacional de Ecoturismo) e Diretora Executiva desde a fundação, em 1990, até

2002, identificou, em extensa pesquisa realizada em 2003, fatores-chave de

viabilidade econômica para eco-pousadas, com destaque para o projeto e instalações,


37

mais uma demonstração da importância de um planejamento consciente e da

arquitetura do meio de hospedagem:

1. Destino onde o meio de hospedagem se encontra: recursos de vida selvagem,

segurança e acessibilidade.

2. Valor: relação entre preço de tarifas e características como projeto, instalações,

local, natureza e serviços.

3. Interpretação e atividades disponíveis.

4. Capacidade de gestão.

5. Acesso a capital

Meios de hospedagem planejados, construídos e operados

com preocupação com as questões sócio-ambientais

(ecolodges, ou eco-pousadas) são importantes para o

desenvolvimento sustentável de comunidades (SWEETING,

2004) embora sejam muito variáveis os desempenhos sociais e

os impactos ambientais destes empreendimentos. Segundo

Sweeting (2004), enquanto a demanda por eco-pousadas deve

crescer dez por cento ao ano nas próximas décadas, o setor

enfrenta diversos desafios e precisa de uma abordagem


38

estratégica para suportar o potencial de crescimento. O autor

afirma que o grande número de pousadas localizadas em áreas

naturais no interior ou próximas de áreas protegidas com

elevada biodiversidade demonstra a necessidade de pousadas

para manter padrões e práticas benéficas ao meio ambiente.

Sweeting (2004) realizou uma pesquisa com eco-pousadas

e seu resultado indica haver uma capacidade inadequada dos

governos para proteger ecossistemas frágeis do grande

desenvolvimento do turismo que, por sua vez, ainda segundo o

autor, pode afetar negativamente o valor dos recursos naturais

dos quais as eco-pousadas dependem. O autor conclui que há

necessidade de uma estratégia para corresponder ao

crescimento sustentável da indústria das eco-pousadas,

incluindo investimentos em cooperação com financiadores,

consultores (incluindo arquitetos), operadores e

empreendedores.
39

Ao mesmo tempo, a atividade turística encontra em destinos de recursos

naturais privilegiados um terreno fértil para se desenvolver e gerar emprego e renda.

Cresce, em todo o mundo, a demanda de visitação que acrescente a experiência

ecoturística, o encontro com a natureza, espécies animais e vegetais e a interação

com as comunidades locais. Há diversos exemplos da devastadora ação da invasão

de regiões de recursos diferenciados – naturais e sociais – por um turismo pouco

planejado e pouco focado na sustentabilidade daquele destino. No entanto, o turismo é

reconhecido como possível grande aliado na busca pela preservação. Exemplos

evidenciam que a prática de princípios do turismo sustentável pode provocar

significativa redução dos custos operacionais, aumento da satisfação dos clientes,

colaboradores e comunidade, impacto muito menor sobre recursos naturais e a

longevidade do empreendimento em si. Dias (2003) cita o Hotel Meliá Jardim Europa,

de São Paulo, e o Hotel Tropical Cataratas, de Foz do Iguaçu, como alguns desses

exemplos de sustentabilidade na hotelaria. O primeiro investiu num projeto de gestão

ambiental e numa parceria com a WWF (World Wildlife Foundation), enquanto o

segundo investiu R$ 800 mil em reformas e treinamento para obter o ISO 14.001, a

certificação ambiental. E uma das características de um meio de hospedagem, por

exemplo, que busca a prática dos princípios do turismo sustentável, é adequar o seu

meio físico, suas instalações, ou seja, a sua arquitetura, a estes princípios. A

necessidade de estabelecer empresas de meios de hospedagem rentáveis e com

saúde financeira cria, portanto, a necessidade de pensar a sua arquitetura a partir dos

princípios da sustentabilidade.
40

1.2 ÁREAS PROTEGIDAS

1.2.1 O surgimento das áreas protegidas no mundo e no Brasil

A Revolução Industrial provocou profundas mudanças na sociedade moderna.

Na Europa e, especialmente, na Inglaterra, surgiram reações aos impactos sócio-

ambientais decorrentes do crescimento populacional das grandes cidades devido à

instalação de inúmeras indústrias têxteis que demandavam mão-de-obra. Dias (2003)

lembra que apenas com a Revolução industrial do século XVIII apareceu o conceito de

horas de trabalho limitadas e que, anteriormente, não se conhecia o “tempo livre”

como nos dias de hoje. Ainda no século XIX as principais reivindicações das

associações operárias eram a redução da jornada de trabalho e as férias,

regulamentadas a partir dos últimos anos daquele século. Havia, também, a

preocupação com a saúde e o bem-estar, provocando o surgimento e o incremento,

segundo Dias (2003), de vários balneários na Europa, como Bath, Brighton, Ostende e

Vichy. Durante o século XIX aconteceu uma fase do turismo da alta burguesia e, no

final do século, uma segunda fase caracterizada pela incorporação dos empregados

médios, mas com renda insuficiente para os padrões da fase anterior, causando a

descoberta das férias econômicas. Ainda, no início do século XX e antes da Primeira

Guerra Mundial, surge o turismo da classe média alta (DIAS, 2003).

Este cenário promoveu o surgimento do desejo de contemplação da natureza, e

o início de uma preocupação ecológica que impulsionou algumas discussões de como

conservar as áreas representativas da vida natural no planeta. Estas idéias se


41

expandem e em 1872, os Estados Unidos, para proteger e manter a diversidade

biológica, criam o Parque Nacional de Yellowstone, a primeira unidade de

conservação no mundo. Segundo Miller (citado por FARIA et al., 2002), a região foi

reservada e proibida de ser colonizada, ocupada ou vendida. Foi designada como

parque público ou área de recreação para benefício e desfrute da população, e toda

pessoa que ocupasse a área desrespeitando as normas vigentes seria considerada

infratora.

A partir do século XIX, a idéia de se proteger áreas naturais toma um grande

impulso principalmente na Europa e nos Estados Unidos, locais onde os processos de

industrialização e urbanização encontravam-se em franca expansão. Da necessidade

de proteger os ecossistemas surge o modelo de Área Natural Protegida, que pode ser

definida como uma superfície de terra ou mar dedicada à proteção e manutenção da

diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, e

manejada através de instrumentos legais e eficazes.

A maior parte da superfície da Terra possui baixa densidade de ocupação por

seres humanos. São áreas denominadas não-urbanas ou rurais, e a maioria das

pessoas que ali vivem trabalha diretamente conectada com recursos naturais. Os

diversos “serviços dos ecossistemas” desenvolvidos nas áreas rurais possibilitam à

maioria da população viver nos ambientes urbanos de alta concentração. Manter parte

da terra adjacente às áreas urbanas e cultiváveis sem intervenção humana provê

serviços vitais dos ecossistemas, como hábitat para vida selvagem, controle de

enchentes e erosão e recarga dos aqüíferos. Terras não perturbadas também


42

diminuem efeitos da poluição e reciclam dejetos, segundo Raven e Berg (2004). Os

autores ainda afirmam que as terras não degradadas são importantes para pesquisas

científicas e atividades educativas. Concluem realçando a importância de áreas

naturais para o lazer, ou o que eles chamam de “importância para o espírito humano”.

Conforme Costa (citado por FARIA et al., 2002), o primeiro esforço significativo

feito no Brasil para participar do movimento internacional de criação de áreas naturais

protegidas aconteceu em 1911, quando foram realizados os primeiros estudos feitos

em nosso país, contendo uma descrição detalhada de nossos diferentes ecossistemas

e uma apresentação do estágio de conservação de cada uma dessas regiões. O

estudo teve intenção de subsidiar as autoridades brasileiras para a criação de um

conjunto de parques nacionais. Somente em 1937 é criado o primeiro parque nacional

brasileiro: o Parque Nacional do Itatiaia, localizado na Serra da Mantiqueira, próximo à

divisa dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. O parque foi criado com o

objetivo de estimular a pesquisa científica e oferecer lazer às populações que viviam

nas cidades (DIAS, 2000 citado por FARIA et al., 2002).

O mesmo autor cita que mais três parques foram criados nessa mesma década:

o Parque Nacional do Iguaçu (PR), para proteger as cataratas; o de Sete Quedas

(PR), para proteger as cachoeiras; e o da Serra dos Órgãos (RJ), protegendo um

trecho da Mata Atlântica, onde está a famosa formação de pedra conhecida como

“Dedo de Deus”. Na criação dos parques nacionais, segundo Faria et al. (2002), o

Brasil importou o modelo americano de conservação, que separa o homem do

ambiente natural, esquecendo que dentro das florestas brasileiras, aparentemente


43

intocadas, vivem muitas populações que estabelecem uma relação de dependência

direta com a natureza, bem distinta das relações reconhecidas pela sociedade urbano-

industrial contemporânea.

A partir da década de 60 são verificados os primeiros resultados da implantação

do modelo de áreas naturais protegidas no Brasil e as ações estavam concentradas na

fiscalização dessas áreas, onde o homem deveria se manter distante sob risco de

ameaças a preservação da vida natural. Atualmente muito se tem discutido a respeito

das áreas protegidas, e novas tendências propõem que a conservação deve se

converter em um elemento do desenvolvimento, vital e integral e, que as áreas

protegidas devem ser manejadas como elementos interdependentes, juntamente com

outras atividades e uso dos solos (DIAS, 2000, citado por FARIA et al., 2002).

1.2.2 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC

Código Florestal, Política Nacional de Recursos Hídricos, Política Nacional da

Biodiversidade, Lei de Proteção à Fauna, Código de Pesca, SISNAMA, SNUC,

Resoluções CONAMA, Estatuto da Cidade, Lei de Crimes Ambientais: a legislação

ambiental brasileira é bastante abrangente e reconhecida internacionalmente como

muito avançada (HIROTA, 2002). O SNUC – Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza (BRASIL, 2004) prevê diversas possibilidades para a

criação de Unidades de Conservação – UC e os administradores de UC devem

cumprir algumas exigências para que a finalidade de preservar recursos naturais e


44

promover, se for o caso, a exploração sustentada, seja atingida. As Áreas de Proteção

Ambiental – APA são ferramentas de organização espacial e prevêem sua utilização

democrática e, do ponto de vista do que se conhece como tal, sustentável, ou seja,

explorar de forma a não privar futuras gerações de desfrutar dos recursos ali

existentes. Para tanto, alguns dos mecanismos de organização de sua ação são o

Plano de Manejo, o Zoneamento Ecológico-Econômico, O Conselho Gestor, dentre

outros. Há, inclusive, algumas APA que têm incluídos em seu interior Núcleos Urbanos

Consolidados – NUC, como é o caso da APA Costa de Itacaré Serra Grande, no litoral

Sul da Bahia. Neste caso, há, ainda, a legislação municipal que deve direcionar a

ocupação urbana e indicar os caminhos de expansão do NUC, através do

zoneamento, plano diretor e índices que restringem a densidade das edificações, as

exigências de áreas permeáveis por lote, as próprias dimensões dos lotes, altura da

construção e outros indicadores. Para as áreas não urbanas, no entanto, haveria

liberdade para que o cidadão definisse as características de sua construção:

dimensões, pavimentos, localização. Há regras definidas pela legislação ambiental e o

IBAMA, por exemplo, encarrega-se de fiscalizar, mas, numa APA, há mais controle,

mais exigências e uma legislação própria que indica setores para usos do solo

permitidos. Em ambos os casos – urbano e não-urbano – pode-se esperar uma

consciência maior dos moradores no que diz respeito às questões do meio ambiente:

cuidados no desmatamento, atenção ao destino dos resíduos, utilização racional e

adequada de materiais locais, como madeira, palha, bambu, areia, terra, por exemplo.

Teoricamente, também, poder-se-ia chegar à conclusão de que as construções

planejadas, projetadas e executadas dentro dos limites de uma APA são


45

diferenciadas. Por ação e influência do Plano de Manejo, do Conselho Gestor, do

Plano Diretor do Município e dos próprios cidadãos.

A Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza (SNUC) e estabeleceu critérios e normas para a criação,

implantação e gestão de unidades de conservação (BRASIL, 2004). Unidades de

Conservação – UC, são definidas no SNUC como “espaço territorial e seus recursos

ambientais, incluindo as áreas jurisdicionais, com características naturais relevantes,

legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites

definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias

adequadas de proteção” (BRASIL, 2004). Dentre vários objetivos do SNUC, podemos

destacar:

1. Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais.

2. Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos

e monitoramento ambiental.

3. Favorecer condições e promover a educação e a interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico.

O SNUC é gerido pelos seguintes órgãos: Ministério do Meio Ambiente, com a

função de coordenar o Sistema; Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA

responsável por acompanhar a implementação do Sistema; o Instituto Brasileiro dos


46

Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, os órgãos estaduais e municipais, que devem

implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de

conservação federais, estaduais e municipais, nas suas respectivas esferas de

atuação (HOLANDA, 2001).

As Unidades de Conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos

com características específicas:

I. Unidades de Proteção Integral: têm como objetivo básico preservar a natureza,

sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção

dos casos previstos pelo próprio SNUC. As categorias deste grupo são as

seguintes:

1. Estação Ecológica

2. Reserva Biológica

3. Parque Nacional

4. Monumento Natural

5. Refúgio da Vida Silvestre

II. Unidades de Uso Sustentável: seu objetivo básico é compatibilizar a conservação

da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. As

categorias deste grupo são as seguintes:


47

1. Área de Proteção Ambiental

2. Área de Relevante Interesse Ecológico

3. Floresta Nacional

4. Reserva Extrativista

5. Reserva de Fauna

6. Reserva de Desenvolvimento Sustentável

7. Reserva Particular do Patrimônio Natural

Atualmente 6,3% do território nacional são cobertos por Unidades de

Conservação federais, sendo que 2,78% são de proteção integral e 3,52% são de uso

sustentável. Acrescentando Unidades de Conservação estaduais, municipais e as

Reservas Particulares do Patrimônio Nacional – RPPN, alcançamos o percentual

estimado de 8% do território nacional (IBAMA, 2003).

O território da Bahia é rico em recursos naturais e contém áreas prioritárias para

a conservação nos mais diversos biomas, a exemplo da caatinga, do cerrado e da

mata atlântica, possui 36 Unidades de Conservação, sendo 29 Áreas de Proteção

Ambiental – APA, duas Áreas de Relevante Interesse Ecológico – ARIE, uma Estação

Ecológica, quatro Parques Estaduais, nesses biomas que totalizam 5,88% do território

baiano correspondendo a 3.336.874 ha. (KHOURY, 2004).


48

A categoria Área de Proteção Ambiental – APA foi criada através da Lei nº.

6.902 de 27 de abril de 1981. Sua criação inspirou-se no modelo de Parque Natural,

um tipo de área protegida compatível com áreas privadas já existente em Portugal,

Espanha, Franca e Alemanha (IBAMA, 2001). Tem como objetivo: proteção ambiental,

conservar ou melhorar as condições ecológicas locais e assegurar o bem-estar das

populações humanas.

De acordo com o SNUC (2004), Área de Proteção Ambiental – APA é uma área

em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos,

bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o

bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a

diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a

sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

Ainda segundo o SNUC (2004), as APA deverão dispor de um Conselho

presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por

representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da

população residente. O Decreto 4.340, de 22 de agosto de 2002 regulamentou artigos

do SNUC e, trata, em seu Capítulo IV, do Plano de Manejo das Unidades de

Conservação, em especial, em seu artigo 14, da necessidade de elaboração de

diretrizes para o diagnóstico da unidade, zoneamento e programas de manejo. Este

Decreto, em seu Capítulo VII, aborda a autorização para exploração de bens e


49

serviços e, em seu artigo 30, proíbe a construção e ampliação de benfeitorias sem

autorização do órgão gestor da unidade de conservação.

Embora se observe crescimento quantitativo das unidades de conservação

federais brasileiras, comparando-se o ano de 2001 com as estatísticas relativas a

1994, e com a extensão territorial do país, esse percentual, segundo Holanda (2001)

ainda é tímido. A autora cita exemplos, como o da Costa Rica, que possui 20% de seu

território sob proteção federal. Existem, no Brasil, áreas de enorme importância que

não estão protegidas. Holanda (2001) afirma, ainda, que há, nas unidades, deficiência

de pessoal em número e qualificação, falta de regularização fundiária das áreas de

uso indireto e inadequada infra-estrutura e, por isso mesmo, EMBRATUR e IBAMA

defendem a ampliação dessa rede de unidades de conservação, levando-se em conta

a sua fragilidade, a ameaça de destruição e sua importância para a conservação de

espécies raras ou ameaçadas de extinção.

1.2.3 Área de Proteção Ambiental Costa de Itacaré Serra Grande

O órgão estadual de turismo, a Bahiatursa, definiu regiões turísticas na Bahia

com a finalidade de facilitar investimentos e criar diferenciais mercadológicos. A Costa

do Cacau é composta por sete municípios: Canavieiras, Santa Luzia, Una, Ilhéus,

Itabuna, Uruçuca, Itacaré; possui um importante corredor ecológico, o bioma

predominante é a Floresta Atlântica, considerado pelas Nações Unidas um hotspot, ou

seja, de preservação prioritária e apresenta recursos naturais variadíssimos, inclusive


50

contando com uma Reserva Biológica, um Parque Estadual, diversas RPPN (Reserva

Particular do Patrimônio Natural) e duas APA (Área de Proteção Ambiental), e já reúne

diversos empreendimentos com características de “turismo de natureza que possibilita

experiências ecoturísticas”. O turismo nesta região aparece como uma possibilidade

de recuperar uma economia de monocultura em crise por conta das dificuldades

enfrentadas pela lavoura cacaueira, como a queda de preços no mercado

internacional e a praga “vassoura de bruxa” (ALGER; CALDAS, 1996). Portanto,

empreendedores podem pretender um aproveitamento de um grande crescimento da

atividade ecoturística na região e planejar instalações sem critério e sem compromisso

com a ética do turismo sustentável. É possível sugerir a esses empreendedores

modelos de intervenção arquitetônica de baixo impacto sócio-ambiental e sustentáveis

também do ponto de vista econômico?

Localiza-se ao Norte da Costa do Cacau, ocupando uma faixa litorânea de 28

km de extensão e uma área de 62.960 ha. Abrange os municípios de Ilhéus, Uruçuca

e Itacaré.

Foi criada pelo Decreto Estadual No. 2.186 de 7 de junho de 1993. Seu

zoneamento foi estabelecido pelo Decreto Estadual No. 1.334 de 19 de dezembro de

1996 e sua ampliação foi autorizada pelo Decreto Estadual No. 8.649 de 22 de

setembro de 2003. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos –

SEMARH afirma que o objetivo desta APA é proteger os remanescentes da Mata

Atlântica e seus ecossistemas, garantindo a manutenção da biodiversidade e


51

potencializando a atividade turística, valorizada pela presença de falésias rochosas e

um litoral especialmente belo.


52

Mapa da região estudada


incluindo os meios de hospedagem
da amostra

420 430 440 450 460 470 480 490 500 510

;; ;; ;;;;;;;;;
842 0 Itacaré ;;;;; 842 0

Pa rq ue Es t adu al ; APA
Se rra do Co ndu ru Serra Grande
841 0 841 0
Itacaré
;
840 0 ;; ; 840 0
Uruçuca Me ios de H ospe dag em
pesqu isa dos
den tro da APA
839 0 Lag oa En ca nta da 839 0
Coaraci
APA
838 0 838 0
Almadina Rio Almada Lagoa Encantada e
Itajuípe
Rio Almada
837 0 837 0
Barro Preto ;;
;
836 0 836 0
Ilhéus ;
Itabuna ; ;;
835 0 ; 835 0
;;;; ;
; ;; Me ios de H ospe dag em
;; ; pesqu isa dos
;
834 0
; ;; fo ra d a APA
834 0
;;
;
833 0 833 0

420 430 440 450 460 470 480 490 500 510
40 0 40 80 Kilometers

BAHIA #
Salv ador W E

Figura 7 – Mapa da região estudada. Coordenadas em UTM.


53

1.3 SUSTENTABILIDADE E ARQUITETURA

1.3.1. As bases da arquitetura bioclimática

“The true basis for the more serious study of the art of architecture lies with
those indigenous humble buildings that are to architecture what folklore is to
22
literature, or folksong to music…”
Frank Lloyd Wright, Arquiteto, 1930.

Figura 8 – Exemplo de chalé executado com materiais locais e integrado ao ambiente.


Fonte: Mehta et al., 2002, p. 55

Diversas expressões têm sido utilizadas para definir aplicações

“ambientalmente corretas” das intervenções arquitetônicas. Ao mesmo tempo, meios

de comunicação, em geral, têm contribuído pela “simplificação” e “urbanização” em

excesso da imagem do arquiteto contemporâneo. Enquanto os cursos de arquitetura e

urbanismo, assim como as diversas possibilidades de extensão, pós-graduação,

2
A verdadeira base para o estudo mais sério da arte da arquitetura reside nas rústicas edificações
indígenas que são para a arquitetura o que folclore é para a literatura ou as canções folclóricas para a
música. Tradução nossa.
54

mestrado e doutorado, esforçam-se por preparar profissionais de visão abrangente e

sintonizados nos debates do mundo acadêmico em nível multidisciplinar, o mercado

de consumo de “projetos de arquitetura” insiste em adquirir projetos padronizados,

globalizados e, comumente, descompromissados com questões ambientais. A atuação

do arquiteto é extremamente variada, o que aumenta a responsabilidade do

profissional e afeta, em paralelo, a sua imagem pela confusão que essa multiplicidade

pode causar; desde a visão do global, ao se pensar a dimensão de cidades e

comunidades inteiras, à escala do objeto, passando, também, pelas edificações, o

foco nas duas dimensões de sua criação acaba sendo o diferencial a se esperar do

verdadeiro arquiteto: a função e a forma (estética). Um foco é supervalorizado pelo

cidadão comum: agradar ao senso estético. A função do ambiente projetado influencia

questões relacionadas a conforto, eficiência energética, praticidade, coerência,

adequação de custos e, principalmente nos dias de hoje, responsabilidade ambiental,

que costuma passar longe dos olhares do grande público, que desconhece este traço

dos profissionais da arquitetura.

Adequação ao clima e às características do meio ambiente sempre esteve

presente na história da civilização humana (CORBELLAS; YANNAS, 2003). Temos

exemplos da arquitetura e do urbanismo grego e romano, das casas primitivas de

populações indígenas e vários outros em que o espaço protegido humano adapta-se à

topografia, vegetação, calores e frios, construindo espaços modificados em que

humanos encontrassem conforto. Paralelamente, segundo Conde (citado por

CORBELLAS; YANNAS, 2003), com a evolução e sofisticação tecnológica que


55

introduziu materiais mais elaborados e disponibilizados maciçamente, instalou-se um

padrão globalizado nas cidades e um planejamento que não leva em conta as

questões ambientais.

Barnett (In: STITT, 1999) lembra que apenas há pouco mais de um século, com

o advento de energia disponível e de baixo custo, vidro em grandes painéis e

condicionadores de ar, a arquitetura soltou suas amarras e esqueceu a antiga verdade

de que as mais importantes concessões pela construção são ditadas pela Terra. A

autora lembra que incorporar elementos de uma arquitetura tradicional – aquela

espontânea e que, de forma intuitiva resolve questões relacionadas ao conforto,

proteção e praticidade - pode aumentar a eficiência energética e habitabilidade de uma

edificação. Cita exemplos, como a adição de materiais isolantes na massa de paredes

ou as cores, inclusive a das coberturas, como fator de economia de energia e aumento

do conforto.

É antiga, portanto, a preocupação de arquitetos com a adequação de seus

projetos às necessidades do meio ambiente. O arquiteto americano Frank Lloyd

Wright, um dos arquitetos mais importantes do século XX, reconhecido pelo American

Institute of Architects como o mais importante arquiteto americano de todos os tempos,

idealizou, em meados do século passado, uma arquitetura orgânica para o

desenvolvimento de estruturas básicas, em que projetistas e empreendedores

desenvolveriam estilos arquitetônicos que parecessem brotar da natureza única de

cada local, de forma integrada e espontânea (FRANCO, 2001).


56

Ian McHarg (citado por STITT, 1999), autor do famoso livro Design with Nature

(1969), mantém a afirmação de que a arquitetura afasta-se do meio ambiente,

considerando que arquitetura moderna nem moderna seria, pois não estaria utilizando

qualquer corpo de conhecimento desenvolvido em tempos modernos e que toda

arquitetura desde a revolução industrial teria sido projetada sem referências à

natureza. Este autor reforça a tese de que, historicamente, o homem efetivamente

projetou e construiu suas edificações com a natureza. Teve que compreendê-la para

sua própria sobrevivência. Lembra que etnógrafos que estudaram sociedades

primitivas esforçaram-se em visualizar o ambiente para compreender a cultura, idioma,

religião, ética e arte. Etnógrafos seriam, então, testemunhas de que sociedades

antigas são, de fato, adaptações específicas a ambientes específicos. Segundo o

autor, a proximidade entre o ambiente e a pessoa perdeu-se na cultura ocidental,

física e intelectualmente. Espanta-se como, em tão pouco tempo, uma tradição que

teria durado por toda a história da humanidade (adaptação dos povos ao clima e

ambiente) tenha sido abandonada. De fato, a arquitetura globalizada contemporânea

impõe estilos, materiais e sistemas construtivos por interesses comerciais e busca de

supremacia cultural, relegando ao exotismo a arquitetura regional adaptada ao clima

como é o caso dos termicamente eficientes iglus, dos esquimós, as construções de

barro do México e Brasil, as grossas paredes brancas com poucas aberturas, típicas

do Mediterrâneo, ou as ventiladas ocas indígenas da região amazônica.

Van der Ryn e Calthorpe (1986) buscaram na ecologia a base para (re) definir

arquitetura ecológica; segundo os autores, ecologia não é apenas a formulação


57

matemática de algumas de suas subdisciplinas, mas, num contexto mais amplo, uma

ciência dos relacionamentos entre “coisas” vivas e entre elas e elementos físicos e

químicos: uma ciência que nos ajuda a compreender como o mundo trabalha.

Ecologia, então, possuiria o potencial para ser a base da ciência da arquitetura e do

design. Esta ciência seria a provedora de molduras para fascinantes ligações entre

ciência e tecnologia aplicadas à ocupação espacial pelo homem. Como exemplos, os

autores citam a tecnologia de polímeros que funcionam como a pele humana, ou como

a atmosfera terrestre e, também, as redes eletrônicas de informação que refletem

ecossistemas e provêm uma memória e uma história de fenômenos naturais que

influenciam design e arquitetura. Assim, edifícios e intervenções arquitetônicas seriam

como “organismos”, as vilas e cidades desenvolvem-se nesse contexto e a arquitetura

pode expressar profundos conceitos sociológicos, antropológicos e históricos.

Barnett (citado por STITT, 1999) insiste na expressão “construção verde”, ou

arquitetura verde, e que há muito espaço no mercado para edificações cada vez mais

“verdes”; além disso, e no entanto, o mercado atua de forma muito conservadora, o

que dificulta a exposição das vantagens desse padrão construtivo de custo

semelhante e grandes vantagens sobre métodos convencionais de construção e

pouco eficientes do ponto de vista de racionalização do uso de água e energia, por

exemplo.

Planejamento Ecológico (Ecological Planning) foi explicitado como um método

de projeto de paisagem por Aberley (citado por STITT, 1998) em consonância com as

teorias de MacHarg, autor de Design with Nature. Para os autores, enquanto


58

“planejamento” seria um processo que utiliza informações científicas e técnicas,

considera e atinge consenso dentro de um conjunto de possíveis escolhas, “ecologia”,

por sua vez, seria o estudo das relações entre as coisas vivas, incluindo as pessoas, e

seu ambiente biológico e físico. “Planejamento ecológico” poderia, então, ser definido

como a utilização de informações biofísicas e socioculturais para sugerir

oportunidades e restrições para tomadas de decisões consensuais sobre a utilização

das paisagens. Cita o geógrafo Donald Meinig: “Meio ambiente nos suporta como

criaturas; a paisagem nos mostra como culturas”, interpretando-o na afirmação de que

a compreensão da ecologia fornece conhecimento sobre padrões, processos e

interações da paisagem e revela como interagimos entre nós e nossos ambientes,

natural e construído.

Arquitetura bioclimática, então, teria surgido na década de 1950, como uma

reação “ecológica” ao chamado estilo internacional, que utilizava soluções puramente

formais em detrimento das tradições locais, desconsiderando variáveis climáticas, por

exemplo. Um dos precursores teria sido Victor Olgyay, que apresentou a expressão

“abordagem bioclimática” (bioclimatic approach) na arquitetura em seu livro Arquitetura

e Clima. O conceito (arquitetura bioclimática) evoluiu muito nas últimas quatro

décadas, segundo Viggiano (2002) e interage, atualmente, com formulações teóricas e

práticas de ecologia profunda e sustentabilidade. O filósofo norueguês Arne Naess, no

início da década de 1970 citou a expressão ecologia profunda para diferenciá-la da

ecologia rasa, antropocêntrica e que atribui um valor instrumental ou de uso à

natureza. O que ele chamou de ecologia profunda não separa seres humanos do meio

ambiente natural.
59

A arquiteta Marta Adriana Bustos Romero, em seu livro Arquitetura Bioclimática

do Espaço Público (ROMERO, 2001), apresenta uma retrospectiva do ponto de vista

do desenho da paisagem pública e urbana em sintonia com os trabalhos aqui citados e

afirma que as práticas da arquitetura e do desenho urbano concretizam-se sem

considerar impactos ao ambiente.

A autora descreve características do que ela chama de “triunvirato dos

clássicos”: Olgyay, Givoni e Fanger. Olgyay (citado por ROMERO, 2001) propôs um

esquema para construção de uma casa estável (reduz forças negativas e aproveita

todos os recursos naturais favoráveis ao conforto humano) numa concepção

quatripartita: clima, biologia, tecnologia, arquitetura; Olgyay publicou Design with

Climate que, segundo Romero (2001) teria sido o primeiro texto de fácil compreensão

que apresentasse recomendações climáticas e um método que considerasse as

variáveis do lugar. Givani, e seu livro Man, Climate and Architecture, mostra a inter-

relação entre homem, clima e arquitetura com destaque para elementos climáticos de

radiação solar, temperatura do ar, ventos, umidade da atmosfera, condensação e

precipitações (citado por ROMERO, 2001).

Considerando o enfoque ambiental da tradição vernácula, Romero (2001)

lembra os estudos de Bernard Rudofsky publicados como Architecture without

Architect, publicado em 1964. Fotografias de hábitats vernáculos do mundo inteiro

mostram como o homem fazia naturalmente seu abrigo em perfeita harmonia e


60

adaptação com o meio. A autora muda o enfoque para arquitetura solar e registra o

número 167 da revista Architecture d’Aujourdhui, de 1973. A edição denomina-se

“Architecture du Soleil” e destaca realizações adequadas ao clima e ajuda a compor o

panorama que servirá de base aos projetistas após a chamada crise do petróleo. Nos

anos seguintes a arquitetura solar ganha forças como reação à inadequação térmica

da arquitetura moderna, através de suas modalidades solarizada (com sistemas ativos

de captação sobrepostos aos volumes construídos), autônoma (reivindica

independência energética) e bioclimática (modifica volumes internos e sua pele, para

melhorar o fluxo energético) (ROMERO, 2001).

Romero (2001) cita ainda um dos raros estudos de desenho urbano com

preocupação ambiental: Johan Van Lengen divulga técnicas tradicionais mexicanas de

construção e procura estabelecer uma ponte entre o saber erudito dos profissionais da

construção e o saber popular transmitido de geração para geração. É o “Manual do

Arquiteto Descalço” (LENGEN, 2004), com desenhos e linguagem de fácil

compreensão e com o registro da cultura vernácula da construção de residências e

edifícios públicos, para diversos climas.

Cook (citado por ROMERO, 2001) acredita que o desenho bioclimático tenha

sido redescoberto e denominado “solar passivo” com a crise do petróleo em 1973.

Para o autor, em todas as épocas a cultura e o clima de um lugar têm sido geradoras

de idéias originais e de preservação dos valores humanos. A arquitetura bioclimática,

então, resgataria os elementos necessários para o desenvolvimento de expressões

artísticas, assim como a própria arquitetura com um desenho adequado, de um novo


61

regionalismo. Da mesma forma, López de Asiain (citado por ROMERO, 2001) define o

enfoque bioclimático como o esforço para compreender um lugar, com seus

condicionantes físicos e climáticos, mas também históricos, culturais e estéticos, pré-

requisitos para desenvolver a ação arquitetônica.

Um bom exemplo de produção arquitetônica atual, no Brasil, que privilegia o

regionalismo e a eco-eficiência é citado por Rovo e Oliveira (2004): a obra de

Severiano Porto, em especial as elaboradas em mais de trinta anos de atuação na

região amazônica. Afirmam que o arquiteto atenta indiscutivelmente para a ação do

clima e a economia dos meios. Citam que Porto reconheceu a riqueza dos recursos

disponíveis na região, tais como as soluções construtivas adotadas pela arquitetura

autóctone – mais uma nomenclatura para a arquitetura praticada de forma espontânea

e regional - e a habilidade da mão-de-obra no manejo da madeira. O arquiteto teria

observado como os indígenas e os caboclos teriam sincronizado suas vidas com o

rigor do clima, respeitando a delicada vegetação e as variações dos rios; dispõem

suas casas de maneira que a ventilação percorra todo o ambiente, elevam-nas do solo

para evitar unidade em excesso e protegê-las da cheia. As autoras descrevem o

conjunto da Aldeia SOS do Amazonas, instalações de uma instituição para crianças

órfãs, projetado por Porto na cidade de Manaus, como diversas edificações

interligadas pela sinuosa circulação coberta, construída em madeira e folhas de

palmeira, lembrando os grandes espaços comunitários das ocas indígenas.

Ao interpretar a história da vida de Frank Lloyd Wright, Franco (2001) remete-

nos à infância e adolescência do arquiteto, quando, durante algum tempo, teve a


62

oportunidade de entrar em contato com ambientes naturais numa fazenda no sudoeste

de Wisconsin. Na década de 1930, Wright publicou The Disappearing City e

Broadacres, onde apresenta uma proposta de desenvolvimento familiar em um acre

(aproximadamente 4.000 metros quadrados), um modelo ideal de cidade horizontal e

de baixa densidade que, ainda segundo Franco (2001), aproxima-se de certo modo

dos conceitos contemporâneos de “sustentabilidade urbana”; Wright afirmava, na

época, que se poderia colocar naquela disposição toda a população dos Estados

Unidos numa área equivalente ao estado do Texas e que, portanto, o resto do país

poderia ser uma “imensidão verde”.

A resposta ao clima, à cultura e às características de cada lugar, assim como o

melhor aproveitamento de recursos ambientais como energia e água, são o ponto de

encontro das diversas janelas abertas pelas correntes da arquitetura. Da mesma

forma, urbanistas e arquitetos que aderiram às linhas de ação com enfoque

bioclimático, solar – e suas variantes –, ecológico, sustentável, verde, ou tantos outros,

reforçam em uníssono as críticas à arquitetura moderna, que teria sido um deslize da

história da cultura humana ao soterrar sólidas e eficazes práticas de construção de

abrigos em adequação ao clima e ao lugar e edificar sobre elas um “estilo” global,

como se fosse possível uma manifestação cultural –arquitetônica– criada como

resposta aos inputs de megalópoles do mundo industrializado ver sua imagem refletida

nas avenidas de médias aglomerações urbanas de países tropicais em

desenvolvimento, por exemplo. Vistas como idealismo e romantismo, uma espécie de

vestígio do século XVII, tais movimentos desenvolveram-se e lançam mão de

inovações tecnológicas para difundir, mesmo no concorrido mundo capitalista,


63

métodos de projeto e planejamento arquitetônico e urbano, que aposente, mesmo

parcialmente, o ângulo antropocentrista e regate o biocentrismo, em que seres

humanos façam parte da natureza, ao invés de, simplesmente, apropriar-se de seus

recursos.

Figura 9 – Exemplo de passarela suspensa para evitar pisoteio.


Fonte: Mehta et al., 2002, p. 23

Andersen (1993) apresentou critérios relacionados à arquitetura, em especial à

de meios de hospedagem para ecoturismo ou turismo em áreas especiais, sugerindo

que se estabeleça um mecanismo de avaliação desta arquitetura para orientar e

direcionar as decisões de quem pretende realizar uma viagem com verdadeiras

experiências ecoturísticas; dentre eles:


64

1. A escala do empreendimento é adequada à comunidade local e à capacidade

do meio ambiente de suportar as instalações?

2. Os membros da comunidade estiveram envolvidos no planejamento e na

construção das instalações?

3. O projeto das instalações utiliza formas da cultural tradicional e materiais

disponíveis nas proximidades?

4. As instalações incluem um “senso de fantasia” ou algum atrativo especial que

remeta os usuários às características da região?

5. As fontes de energia são amistosas ao meio ambiente e sustentáveis?

6. Os materiais de construção são atóxicos e livres de agentes não-

biodegradáveis?

7. São utilizadas tecnologias apropriadas para tratamento de resíduos orgânicos e

outros resíduos? Utiliza-se reciclagem?

8. Os edifícios e as áreas pavimentadas são locadas de forma a evitar erosão?

9. Móveis e outras acomodações são adequados ao padrão arquitetônico e

parâmetros ambientais?
65

Figura 10 – Exemplo de intervenção arquitetônica integrada ao ambiente.


Fonte: Mehta et al., 2002, p. 112

Romero (2001) estudou os diversos autores que têm tratado o edifício como um

“elemento de controle do clima”. A autora concluiu que todos eles procuram a relação

harmônica entre ambiente e desenho visando ao conforto e apontam características

que deveriam ser consideradas na construção dos edifícios. Propõem normas de

desenho urbano e arquitetônico e, segundo Romero (2001), são unânimes em

destacar os seguintes elementos:

1. O sítio selecionado pelas vantagens do microclima deve ser projetado para

maximizá-las.
66

2. Localização, forma, volume e configuração geométrica. Compacidade,

superfície exposta, aproveitamento de soluções de volumetria. Incluem-se aqui

a solução da fachada, o tipo de cobertura e a altura do piso ao teto.

3. A importância relativa da cobertura é dada segundo o impacto da radiação, a

ventilação, o volume de radiação solar, marquises, a reflexibilidade e

emissividade dos materiais.

4. Orientação. Minimizar exposições negativas, incluindo as fachadas principais.

5. Plantas. Compacidade, grau de liberdade (circulação de ar), superfícies

expostas, elementos para receber radiação solar controlada: terraços e solário.

6. Janelas: tamanho, localização e detalhes.

7. Materiais de construção: propriedades físicas e térmicas.

8. Superfícies externas: cores, suas tonalidades e relação com a radiação

(absorção, brilho e ofuscamentos).

9. Dispositivos de proteção e ganho solar. Proteções naturais no exterior, como

pátios internos, domos, beirais, balanços, pórticos e brises, sombreamento das

janelas, tetos e muros.

A metodologia de Romero (2001) concebe o edifício como um sistema que

mantém complexas relações energéticas com o meio que o rodeia. Seu estado de

energia interior é determinado pelo equilíbrio que se produz entre os ganhos e perdas

de energia pelo edifício, com relação à capacidade acumuladora. Considera a forma e

a “pele” do edifício como seus elementos fundamentais, assim como os “protetores da

pele”, elementos que detêm a radiação solar antes que chegue à envoltura do edifício,

permitindo a ventilação, a visão (eventualmente) e a entrada de luz. Destaca aspectos


67

característicos da pele do edifício, formada pelo que a autora chamou de um conjunto

de barreiras e conectores energéticos entre o exterior e o interior, elemento importante

para o estudo de adaptação ao clima das edificações:

1. Assentamento: grau de contato do edifício com o terreno.

2. Adjacência: contato da pele com outros locais ou edifícios.

3. Robustez: composição construtiva dos fechamentos do edifício.

4. Perfuração: permeabilidade da pele devido às dimensões e posição das

aberturas.

5. Transparência: relação entre área envidraçada e superfície total do edifício.

6. Isolamento: resistência à passagem de calor.

7. Textura: rugosidade superficial.

8. Cor: absorção superficial.

9. Variabilidade: possibilidade de mudar seus panos cegos, transformar elementos

opacos em transparentes e vice-versa, ou isolantes em não isolantes.


68

1. Vegetação
2. Beirais
3. Quiosques
4. Coberturas
5. Pérgulas
6. Planta livre
v

Figura 11 – Exemplos de elementos de proteção contra o sol


Fonte: Carmona (1988, In: ROMERO, 2001, p. 144)

Um projeto ou uma edificação construída segundo concepções

bioclimáticas podem ter um efeito multiplicador de educação ambiental, pois

neles poderão estar transitando, repousando, se alimentando, trabalhando e

entrando em contato com detalhes de cunho ambiental, centenas, milhares de

pessoas que retornarão à sua casa, à sua cidade, à sua própria visão de

mundo, com uma semente de que talvez seja mudar um pouco o mundo a

partir de mudanças dentro de suas próprias casas.

“O lugar para arquitetos aprenderem a construir, antes de tudo, é o


estudo da natureza.”
Frank Lloyd Wright, arquiteto, 1958.

1.3.2 Sistemas de avaliação de edifícios

1.3.2.1 Sistemas internacionais

Os primeiros métodos de avaliação ambiental de edifícios foram

desenvolvidos na década de 1990, na Europa, nos Estados Unidos e Canadá,

como parte das estratégias para cumprimento das metas ambientais

estabelecidas a partir da ECO’92 (SILVA et al., 2003). Foram desenvolvidos de

forma a encorajar a demanda do mercado por níveis superiores de

desempenho ambiental e os autores afirmam que estes sistemas

apresentavam, em alguns casos, alto nível de detalhes e, em outros, excessiva


vi

simplificação para orientar projetistas ou sustentar a atribuição de selos

ambientais.

Praticamente todos os países europeus, além dos Estados Unidos,

Canadá, Austrália, Japão e Hong Kong, possuem um sistema de avaliação de

edifícios. Silva et al. (2003) descreveram duas categorias de sistemas: aqueles

mais simples e orientados para o mercado e outros, orientados para pesquisa,

abrangentes e com fundamentação científica. Dentre os primeiros, citam o

BREEAM, Building Establishment Environmental Method, desenvolvido no

Reino Unido, o LEEDMR, Leadership in Energy and Environmental Design, dos

Estados Unidos e o CSTB ESCALE, da França. Na segunda categoria,

descrevem o BEPAC e seu sucessor, Green Building Challenge – GBC,

financiado inicialmente pelo governo do Canadá.

Os autores descrevem o BREEAM, como o primeiro e mais conhecido

sistema de avaliação do desempenho ambiental. Através de uma lista de

verificação, confirma-se, ou não, o atendimento de itens mínimos de

desempenho. Os créditos são ponderados e chega-se a um valor único, sendo

que sua principal característica é basear-se em análise de documentos e na

verificação da utilização de dispositivos específicos.

O LEEDMR começou a ser desenvolvido em 1996 nos Estados Unidos

para facilitar a transferência de conceitos de construção ambientalmente

responsável para os profissionais e para o mercado americano. O desempenho

ambiental do edifício é avaliado ao longo de todo o seu ciclo de vida. Satisfeitos


vii

alguns pré-requisitos, atribui-se créditos que indicam o grau de conformidade

do atendimento aos itens avaliados. Possui uma estrutura simples e Silva et al.

(2003) consideram ser este o motivo de receber críticas.

Para desenvolver um novo método capaz de respeitar diversidades

técnicas e regionais, um consórcio internacional criou o Green Building

Challenge, GBC; segundo Silva et al. (2003), a diferença do GBC em relação à

primeira geração de sistemas de avaliação ambiental de edifícios, é o fato de

apresentar uma classificação de desempenho e a tentativa de respeitar as

necessidades de cada local. O GBC estabelece desempenhos de referência e

as equipes de avaliação indicam a melhor ponderação entre as categorias de

impactos.

Os autores analisaram os critérios de ponderação dos diversos

sistemas, afirmando que nem todos atribuem pesos a indicadores, devido à

dificuldade de decidir objetivamente que impactos são mais críticos que os

demais. No GBC, por exemplo, a sua ferramenta GBTool prevê a aplicação de

pesos diferenciados por categoria e sugere uma ponderação padrão a partir de

dados canadenses, que pode ser alterada pelas equipes de avaliação dos

países participantes. A Tabela 1 apresenta diversos sistemas de avaliação

ambiental de edifícios a partir de uma adaptação para definir as categorias e

permitir a comparação. Questões relacionadas a energia, por exemplo, ganham

maior importância em apenas três dos seis exemplos de sistemas de avaliação,

enquanto o tema “água” não recebe atenção especial de nenhum dos sistemas.

Por outro lado, a qualidade do ambiente interno, ou o conforto ambiental,


viii

apesar de não ser a mais importante categoria para nenhum dos sistemas de

avaliação, aparece em todos com relativo destaque.

Tabela 1 - Distribuição de categorias de impacto ambiental nos diversos


sistemas de avaliação ambiental de edifícios
TM
Categoria BREEAM HKBEAM LEED MSDG CASBEE GBTool

Estratégias de Implantação 24,7% 3,4% 20,3% 17,0% 3,0% 8,8%

Uso de água 4,5% 3,4% 7,3% 5,0% 9,1% 4,0%

Uso de energia 8,3% 35,6% 21,7% 26,0% 9,6% 4,0%

Materiais e resíduos 9,8% 18,6% 18,8% 26,0% 21,1% 12,0%

Prevenção de poluição 24,5% 3,4% 0,0% 0,0% 1,2% 16,3%

Qualidade ambiente interno 12,4% 27,1% 18,8% 24,0% 22,4% 23,0%

Qualidade de serviços 1,7% 0,0% 2,9% 2,0% 33,6% 12,0%

Gestão ambiental processo 14,1% 8,5% 10,1% 0,0% 0,0% 10,0%

Desempenho econômico 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 10,0%

Fonte: Silva et al., 2003, p. 11

1.3.2.2 No Brasil

A integração do Brasil ao projeto GBC aconteceu em 2000 durante a

conferência Sustainable Buildings 2000 e a estratégia para implementação da

pesquisa no país está centrada no Programa Nacional de Avaliação de

Impactos Ambientais de Edifícios (BRAiE), coordenado pela UNICAMP (SILVA

et al., 2003).

Os autores afirmam que “não é possível copiar ou simplesmente aplicar

um método estrangeiro no Brasil, com base no sucesso que tal método tenha

obtido em seu país de origem” (SILVA et al., 2003, p. 13). Por exemplo, todos

os métodos estrangeiros dão importância significativa à emissão de CO 2

durante a operação dos edifícios, o que é compreensível para países de clima


ix

frio ou com matrizes energéticas baseadas no uso de combustíveis fósseis. No

caso brasileiro, Silva et al. (2003) lembram que a necessidade de refrigeração

dos ambientes é muito maior que a de aquecimento, a eletricidade utilizada tem

origem, na sua maior parte, em fontes hidráulicas e apenas uma parcela

pequena do aquecimento de água provém do combustível fóssil (gás).

Lembram, ainda, que alguns itens incluídos em determinados métodos de

avaliação são excessivamente detalhados para os padrões brasileiros e, devido

à ausência de desempenhos de referência e dados ambientais, para o

desenvolvimento de um sistema nacional de avaliação de edifícios sugerem

iniciar por um nível de ambição mais baixo, que contemple todos os aspectos

ambientais e inclua temas sociais.

Os autores indicam alguns princípios para se desenvolver estratégias

nacionais de avaliação da sustentabilidade de edifícios (SILVA et al., 2003):

a) Migrar da avaliação ambiental para a avaliação da sustentabilidade dos

edifícios.

b) Definir os requisitos a avaliar.

c) Diminuir a possibilidade de subjetividade.

d) Definir uma estrutura evolutiva do formato de pontuação, composto por

uma série de pré-requisitos complementada por créditos ambientais.

e) Criar blocos conceituais de critérios, de forma orientada à avaliação do

desempenho e que seja viável praticamente.


x

f) Estabelecer um critério para ponderação, como consultar um painel de

especialistas (no caso do BREEAM chegou-se a um indicador único de

desempenho).

Os autores atestam a necessidade de pesquisa de base, no Brasil,

afirmando que o único esquema de certificação ou classificação de

desempenho ambiental existente é o selo PROCEL, que classifica

equipamentos do ponto de vista de seu padrão de consumo energético.

1.4 O PROBLEMA

“Pouco modificadas” (EMBRATUR, 1995), “mínimo impacto” (Congresso

Mundial de Ecoturismo, 1992), “utilização de forma sustentável” e “valorização

do patrimônio arquitetônico” (IEB, 1995) são expressões que denotam um nível

de aceitação das atividades preparatórias às de turismo em áreas naturais ou

protegidas, como um mal necessário, mais recomendável que a invasão

descontrolada ou a atividade meramente extrativista, alternativas ao turismo de

natureza. Lindberg (2001) utiliza a expressão “responsável” ao definir

ecoturismo: “É uma viagem responsável a áreas naturais, com conservação do

ambiente e melhoria do bem-estar das populações locais”. Devemos propor

limites e regulamentar a exploração de áreas naturais pelo turismo e suas

necessárias instalações? Hospedagem, sanitários, bares, restaurantes, pontes,

trilhas, acessos, guaritas, postes, encanamentos, caixas d’água,

estacionamentos, casas de força e tantas outras intervenções ecoturísticas


xi

devem seguir diretrizes e modelos? A definição aborda a responsabilidade do

visitante, mas antes desta, há a responsabilidade do planejador em elaborar

programas de educação direta (aulas, palestras, manuais, cartilhas, placas

etc.) e indireta (expor e valorizar sistemas construtivos que privilegiam a

economia de energia, sistema de captação de água de chuva ou de reutilização

da água, planejamento de coleta seletiva de resíduos sólidos e sua reciclagem,

utilização de madeira certificada e de reflorestamento na construção e

mobiliário, mínima intervenção sobre vida silvestre e mínima remoção de

vegetação, por exemplo). Como um planejamento de qualquer

empreendimento voltado ao turismo considerado sustentável pode envolver as

comunidades locais e como os trabalhos de projeto, construção e operação das

instalações podem contar com a experiência e disponibilidade dos moradores

da região? Diegues (1997) afirma que, num primeiro momento, esses atores

sociais (membros da comunidade nativa) eram invisíveis e os chamados planos

de manejo dos parques sequer mencionavam sua existência, cujo

reconhecimento e, até, o da sua importância para a conservação da

diversidade biológica é fenômeno recente. É possível a um projeto de

instalações a serem construídas dentro dos frágeis limites da natureza revelar

um forte elo com os princípios do turismo sustentável? O projeto arquitetônico

de instalações turísticas em áreas protegidas, para Rodrigues (2003), precisa ir

além dos requisitos básicos de um abrigo e agregar a natureza como fonte de

inspiração.

1.5 OBJETIVOS
xii

1.5.1 Objetivo Geral

Identificar diferenciais sócio-ambientais apresentados por Meios de

Hospedagem no interior de áreas protegidas, em especial a Área de Proteção

Ambiental Costa de Itacaré – Serra Grande.

1.5.2 Objetivos específicos

Classificar os Meios de Hospedagem costeiros e não urbanos a partir do

cuidado teórico e prático de sua arquitetura, seu planejamento e sua operação,

com o patrimônio ambiental, social e cultural no entorno da Mata Atlântica do

Sul da Bahia.

Comparar a arquitetura praticada por Meios de Hospedagem localizados

no interior e no exterior de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável

no entorno da Mata Atlântica do Sul da Bahia.

São possíveis conseqüências da presente pesquisa fornecer subsídios a

gestores públicos, empresários e profissionais relacionados às áreas

protegidas para aprimorar suas ações e a legislação, apresentar modelos,

particularmente adequados ao entorno da Mata Atlântica brasileira, para

requisitos e restrições a serem aplicados a construções em Unidades de

Conservação de Uso Sustentável, em especial aquelas próprias a meios de

hospedagem, muito vulneráveis a ações sócio-ambientais inadequadas e

desenvolver um novo referencial à discussão da sustentabilidade para


xiii

pesquisadores de temas relacionados a arquitetura, turismo, impactos

ambientais, conforto ambiental, engenharia sanitária e ambiental, energia,

educação ambiental e outros. Além disso, espera-se contribuir com a discussão

sobre metodologias de avaliação sócio-ambiental de edificações em geral.

PARTE 2 – MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

A sede do município de Uruçuca encontra-se distante da costa e Serra

Grande é um distrito localizado no litoral com grande vocação turística devido a

suas praias, trilhas e floresta. Quase a totalidade da área do município

encontra-se dentro dos limites da APA Serra Grande Itacaré e o turismo

começa a sofrer a pressão de estar entre Ilhéus e Itacaré. Já possui algumas

pousadas e atrativos voltados ao turismo de natureza. Não apresenta um plano

diretor e um plano estratégico de turismo, que regulamentem e direcionem a

expansão desta atividade no distrito. Seus mais conhecidos atrativos são a

praia do Pé de Serra e o mirante localizado no canto da praia mais ao norte,

ambos vítimas de grande pressão imobiliária direcionada especialmente à

atividade turística.
xiv

Figura 12 – Praia do Pé de Serra, Uruçuca


Fonte: SEMARH

Itacaré teve origem numa aldeia de índios Pataxós, depois associados à

colônia de pescadores; cresceu com o desenvolvimento do comércio pelo Rio

de Contas que é a ligação da Chapada Diamantina com o Oceano Atlântico. É

uma cidade antiga: o povoado foi batizado de São Miguel da Barra do Rio de

Contas, em 1731, elevado à categoria de município em 1732 e apenas em

1931 é que passou a ser chamado Itacaré (GUIMARÃES, 2003). O cultivo de

cacau chegou a ser sua principal atividade, mas com a crise cacaueira, grande

parte da atividade econômica passou a ser baseada no turismo, principalmente

após a construção da BA-001, a estrada que liga Ilhéus a Itacaré, embora a

tradição da pesca ainda sobreviva. A região e o município já foram alvo de

diversos estudos sobre o impacto da crescente atividade turística e imobiliária e

possuem um grande número de empreendimentos hoteleiros de portes

variados, desde grandes resorts a pequenas pousadas familiares. Após a

ampliação dos limites da APA o município teve praticamente toda sua área

inscrita nos limites de proteção desta Unidade de Conservação, inclusive o


xv

núcleo urbano. Guimarães (2003) afirma que a cidade de Itacaré ainda possui

um centro histórico com diversas casas e casarões com relevância cultural e,

apesar de iniciativas isoladas, pouco se tem feito para conservar esse

patrimônio.

Figura 13 – Itacaré – Foz do Rio de Contas


Fonte: SEMARH

Ilhéus é o município mais antigo e importante da região. Foi sede de

uma das Capitanias Hereditárias, doada a Jorge de Figueiredo Corrêa em

1534. Parte de seu território está incluída nos limites da APA Lagoa Encantada

e Rio Almada, mas a grande maioria está fora de áreas protegidas. A

degradação de recursos naturais, como rios, restingas, mangues, já é fato no

município, que luta contra uma pressão populacional e social decorrente da

evasão rural das últimas décadas causada pela crise da principal lavoura da
xvi

região, o cacau. Graças, em parte, ao sistema de plantio desta cultura, a Mata

Atlântica pôde ser parcialmente preservada, pois a cabruca implica em manter

árvores que sombreiem o solo e os cacaueiros. De grande potencial, a

atividade turística ainda sobrevive do binômio sol e praia, deixando de lado

verdadeiros patrimônios como a Floresta Atlântica e a cultura relacionada à

literatura produzida por Jorge Amado e outros escritores. Possui grande

número de pousadas e hotéis, urbanos e de praia.

Figura 14 – Ilhéus – Foz do Rio Cachoeira


Fonte: P.M.I.

2.2 UNIVERSO DE PESQUISA E DEFINIÇÃO DA AMOSTRA

Para definição do universo da pesquisa foram excluídos os meios de

hospedagem de características essencialmente urbanas – mesmo que


xvii

localizados em área protegida - e selecionados os que se localizam em áreas

costeiras e de características tipicamente não-urbanas. A adoção deste critério

se justifica pela situação atípica da APA Costa de Itacaré Serra Grande que

contém um Núcleo Urbano Consolidado e se pretende investigar meios de

hospedagem típicos de áreas protegidas. Os meios de hospedagem que

correspondem a estes critérios foram divididos em sete núcleos, sendo três em

Itacaré – Praia da Concha, Estrada Parque e Praia da Tiririca –, um em

Uruçuca – Serra Grande – e três em Ilhéus – Olivença, Praia do Sul e Praia do

Norte. Compõem, no total, um conjunto de 104 unidades, sendo que 53 situam-

se em Ilhéus e fora dos limites de áreas protegidas e 51 localizam-se em

Itacaré e Uruçuca, dentro da APA Serra Grande – Itacaré. Por possuírem

características essencialmente urbanas foram excluídos deste universo 39

meios de hospedagem de Ilhéus e 40 de Itacaré. Os meios de hospedagem

pesquisados são distribuídos conforme a Tabela 2 e o total de meios de

hospedagem na região pesquisada são apresentados na Tabela 3.

Tabela 2 - Universo dos meios de hospedagem que correspondem


aos critérios da pesquisa

Município Núcleo Meios de Hospedagem APA

Ilhéus Olivença 15 Não


Ilhéus Praia do Sul 31 Não
Ilhéus Praia do Norte 7 Não
Subtotal 53
Uruçuca Serra Grande 6 Sim
Itacaré Praia da Concha 32 Sim
Itacaré Estrada Parque 7 Sim
Itacaré Praia da Tiririca 6 Sim
Subtotal 51
xviii

Total 104

Tabela 3 - Total dos meios de hospedagem


na região pesquisada

Município Núcleo Meios de Hospedagem APA

Ilhéus Não-urbanas 53 Não


Ilhéus Urbanas 39 Não
Subtotal 92
Uruçuca Não-urbanas 6 Sim
Subtotal 6
Itacaré Não-urbanas 32 Sim
Itacaré Urbanas 40 Sim
Subtotal 72
Total 170

A opção foi pela amostragem não-probabilística mista, utilizando critérios

como área e, ainda, disposição para receber o pesquisador, o que poderia

caracterizar, também, uma amostragem de conveniência (DENCKER, 2004).

Com o propósito de alcançar uma amostra de até 50% do universo, o

pesquisador dirigiu-se aos meios de hospedagem e, após apresentar-se,

solicitou a presença de alguém que conhecesse o empreendimento para uma

breve entrevista. Além disso, o próprio pesquisador participou como consultor

de visitas técnicas a meios de hospedagem incluídos no universo da pesquisa,

no âmbito do Programa de Certificação em Turismo Sustentável, e pôde

transcrever dados.
xix

Acrescentando os meios de hospedagem de que o pesquisador já

dispunha de dados aos que se propuseram a colaborar com a pesquisa, a

amostragem ficou definida conforme apresentado na Tabela 4.

Tabela 4 - Amostra definida dos meios de hospedagem

Município Núcleo Meios de Hospedagem APA


Ilhéus Olivença 12 Não
Ilhéus Praia do Sul 11 Não
Ilhéus Praia do Norte 3 Não
Subtotal 26
Uruçuca Serra Grande 3 Sim
Itacaré Praia da Concha 16 Sim
Itacaré Estrada Parque 1 Sim
Itacaré Praia da Tiririca 5 Sim
Subtotal 25
Total 51

2.3 PESQUISA, TÉCNICA DELFOS E MATRIZ PONDERAL

Dencker (1998) define pesquisa descritiva como aquela que procura

descrever fenômenos ou estabelecer relações entre as variáveis. Utiliza

técnicas padronizadas de coleta de dados como o questionário e a observação

sistemática. A opção desta pesquisa é pelo formulário – questionário, desde

que é preenchido pelo pesquisador em entrevistas padronizadas e é fruto,


xx

também, da observação do pesquisador. São perguntas fechadas com escala e

alternativas fixas (DENCKER, 1998).

Uma das técnicas mais conhecidas do método prospectivo, a técnica

Delfos surgiu na década de 1960 com base em trabalhos desenvolvidos por

Olaf Helmer e Norman Dalker, pesquisadores da Rand Corporationa

(Califórnia, EUA). Posteriormente, esta técnica caracterizada como um método

intuitivo e interativo foi utilizada com sucesso na previsão da evolução do

sistema de turismo, nos Estados Unidos, Canadá e países latino-americanos

(MATTOS, 2004).

Em linhas gerais, Mattos (2004) define a metodologia Delfos como uma

consulta sucessiva a um grupo de especialistas através de um questionário,

que é repassado várias vezes até que seja obtida convergência das respostas.

A autora cita a experiência de Molina e Rodriguez (1991, citados por MATTOS,

2004) que utilizaram a técnica como alternativa aos métodos de prognóstico e

previsão utilizados para conhecer a situação futura de determinados sistemas.

No Brasil a autora cita o exemplo da professora Doris Ruschmann (1994,

citada por MATTOS, 2004) na área de turismo e dos professores André Luiz

Fischer e Lindolfo Albuquerque (2001, citados por MATTOS, 2004), que

utilizaram a técnica Delfos de forma considerada por eles como satisfatória,

junto a um público qualificado de profissionais na área de recursos humanos e

o resultado foi denominado DELPHI RH 2010, uma ampla projeção de


xxi

tendências para gestão de recursos humanos no Brasil (ALBUQUERQUE e

FISCHER, 2001).

Com efeito, Ruschmann (1997) aparece como referência em se tratando

de técnica Delfos, além de sua aplicação em turismo. A professora utilizou-a

em sua tese de doutorado com sucesso e de seu trabalho resultou, inclusive, a

publicação do livro Turismo e Planejamento Sustentável, importante fonte de

dados e informações para pesquisadores e profissionais da área.

Murphy (1998, citado por MATTOS, 2004) afirmou, no entanto, que os

estudos sobre esta metodologia têm discutido sua validade enquanto método

científico, por criar conhecimento novo, mas ao mesmo tempo reafirma que

deve ser considerado como um processo válido por fazer uso da melhor

informação disponível, sejam dados científicos ou de sabedoria coletiva dos

participantes.

Nesta pesquisa foi aplicada uma técnica variante, desde que coletou

opiniões de alguns especialistas para uma “sintonia fina” a partir da opinião do

próprio autor na definição dos pesos para os parâmetros (indicadores)

determinados na matriz ponderal. Enquanto a base dessa técnica é a

constituição de um painel de especialistas que devem responder a sucessivas

rodadas de perguntas em busca do consenso, escolhidos por um comitê

organizador, no caso da presente pesquisa alguns especialistas receberam o

convite para participar, por meio eletrônico e na matriz definitiva (MASArq) foi

adotada a média simples entre a opinião de todos, inclusive o autor da


xxii

pesquisa. Foram enviadas quinze mensagens eletrônicas a especialistas,

pesquisadores e professores, convidando-os a participar. Destas, cinco foram

respondidas, três de forma adequada: Anne Becher (1), Sandra Holanda (2) e

Alexandre Schiavetti (3).

Anne Becher graduou-se em Estudos Latino-americanos pela

Universidade de Carleton (1987) e obteve grau de mestre em Lingüística

Hispânica pela Universidade de Colorado (1992), ambos nos Estados Unidos; é

conhecida e respeitada como autora especializada em assuntos relacionados

ao meio-ambiente. Reside na Costa Rica desde 1993 e é co-autora do The

New Key to Costa Rica, famoso guia deste país do Caribe, um dos mais

importantes destinos ecoturísticos mundiais, atualmente em sua edição 17 e

que apresenta, a cada edição, pesquisa sobre turismo sustentável com mais de

cem meios de hospedagem orientados ao ecoturismo. É autora, também de

Biodiversity: A Reference Handbook, de 1998, e American Environmental

Leaders: a Biography Dictionary, de 2000.

Sandra Maria Monteiro Holanda é doutoranda em Gestão de Empresas

pela Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Administração pela

Universidade de Fortaleza. É consultora do Banco do Nordeste, tem diversos

artigos publicados em periódicos como Estudios y Perspectivas en Turismo

(Argentina), Turismo, Visão e Ação, Revista Econômica do Nordeste, em livros

e em congressos, no Brasil e no exterior. Sua dissertação de mestrado teve

como tema “Análise das expectativas e percepções dos segmentos de turistas


xxiii

da APA de Jericoacoara, quanto à oferta de produtos turísticos: uma

abordagem baseada em variável subjetiva”, em 2001, pela UNIFOR, Fortaleza.

Alexandre Schiavetti é ecólogo graduado pela Universidade Estadual

Julio de Mesquita Filho, UNESP, obteve o título de mestre em Ciências da

Engenharia Ambiental, em 1997, pela Universidade de São Paulo, USP e, em

2002, obteve o grau de doutor em Ecologia e Recursos Naturais, pela

Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR, com o tema “Aspectos da

Estrutura, Funcionamento e Manejo da Reserva Particular do Patrimônio

Natural”. É pesquisador Associado do Núcleo de Áreas Protegidas do Instituto

de Estudos Sócio-ambientais do Sul da Bahia - IESB, professor Adjunto da

Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, possui diversos artigos

publicados em revistas e livros, no Brasil e no exterior.

Para avaliação da adequação sócio-ambiental de cada meio de

hospedagem foi preenchida uma matriz ponderal a partir de um questionário, a

MASArq. Esta matriz é derivada do modelo de Listagem Ponderal desenvolvido

por Batelle (BRAGA, B. et al., 2002) e apresenta seis grupos de indicadores de

adequação.

Segundo Braga, B. et al. (2002), listagens ponderais são uma evolução

consolidada das listagens comparativas com ponderação e reconhecem o

método de Batelle como seu melhor exemplo. Este método é utilizado em

Estudos de Impactos Ambientais (EIA) e baseia-se na listagem de parâmetros

ambientais e a importância relativa de cada um dos parâmetros em relação à


xxiv

soma dos impactos do projeto é dada pela atribuição de pesos. Braga, B.

(2002) cita suas principais características:

1. É abrangente e seletivo ao mesmo tempo

2. É bastante objetivo para comparação de alternativas

3. Não permite a interação de impactos

4. Permite previsão de magnitude pelo emprego de escala normalizada

de valores

5. Não distingue a distribuição temporal

O modelo original de Batelle é constituído por 78 parâmetros

representativos de componentes ambientais e a cada um deles está associado

um peso previamente definido que estabelece sua importância relativa em face

dos demais na constituição dos impactos.

O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados

Unidos desenvolveu, em 2005, uma metodologia preliminar denominada

“Whole House Calculator” para avaliar as características físicas e o

desempenho geral de edificações baseada na metodologia de Batelle, citada

como um dos mais tradicionais sistemas de avaliação de impactos ambientais,

em especial nas áreas de recursos hídricos, rodovias, usinas nucleares e

outros projetos. Utiliza quatro “pontos de vista”: ecologia, fatores físicos e

químicos, fatores estéticos e interesse humano e social. Estes fatores foram

divididos em dezoito componentes e estes divididos em 78 parâmetros

(O’BRIEN et al., 2005).


xxv

Os autores da “Whole House Calculator” basearam-se na metodologia

de Batelle para abordar as questões objetivas e subjetivas de peso e

quantificação em um projeto considerado complexo e para gerar pontuações

que poderiam ser utilizadas para serem comparadas entre si. A “Whole House

Calculator” utiliza pontuações para 70 a 90 escolhas em dois estágios. O

usuário é convidado a distribuir cem pontos de acordo com a importância por

ele atribuída ao longo dos fatores apresentados.

Para a MASArq foram determinados seis indicadores sócio-ambientais e

para a definição dos pesos para cada indicador, de forma que a somatória

resultasse 1000, o autor contou com a participação dos especialistas em

conjunto com a sua própria experiência, conforme descrito anteriormente.

Cada indicador tem sua pontuação definida pela somatória da pontuação

recebida por algumas perguntas determinadas, que também recebem pesos

proporcionais às outras, e são, sempre, três possibilidades de resposta: “sim”,

“parcialmente” ou “não”. Conforme a resposta, a pontuação para aquela

pergunta assume 100% da pontuação máxima prevista, caso seja “sim”; 50%,

caso seja “parcialmente” e 0%, no caso da resposta ser “não”. Caso todas as

perguntas referentes a um indicador obtenham “sim”, aquele indicador obterá,

também, 100% da pontuação definida na composição inicial da matriz. Caso

contrário, receberá um número inferior, na proporção em que as perguntas a

ele referentes recebam “parcialmente” ou “não” como respostas. Aquele que

mais se afastar da pontuação máxima estará, teoricamente, mais se afastando,


xxvi

também de utilizar uma arquitetura de baixo impacto sócio-ambiental negativo.

Os indicadores e as perguntas a eles referentes estão listados na Figura 15.

2.4 ANÁLISE DOS DADOS

A aplicação do Teste T com amostras independentes deverá indicar ou

não a significativa diferenciação entre os dois grupos estudados, o grupo de

meios de hospedagem localizados no interior da APA e o grupo de meios de

hospedagem externos à APA. Esta análise é fundamental para legitimar o

conjunto amostral utilizado e viabilizar a posterior análise exploratória dos

dados.

As características dos dados a serem coletados e analisados indicam a

viabilidade de utilização da técnica denominada “análise das componentes

principais”, principalmente pela variedade de parâmetros (seis) e possibilidades

de correlações entre eles. Segundo Gimenes et al. (2004), o objetivo também é

verificar algum padrão que possa ser interpretado. Esta técnica transforma os

dados de forma a localizar os eventos amostrais como pontos relacionados a

eixos ortogonais. A forma de agrupamento destes pontos indica tendências a

serem analisadas, assim como a correlação entre os diversos parâmetros.

Gimenes et al. (2004) também sugere, para dados dispostos a partir de

parâmetros e em grupos distintos, a técnica “análise estatística de

agrupamento”, ou cluster analysis, utilizada para identificar agrupamentos de

características similares entre os eventos amostrais. O resultado é uma figura


xxvii

chamada “dendograma”, em forma de árvore com ramificações ligando todos

os eventos amostrais. Aqueles que estiverem ligados por uma ramificação mais

curta deverão compartilhar de características semelhantes. Aqueles que

estiverem ligados por ramificações mais longas deverão possuir características

significativamente diferentes. A partir de “cortes” a distâncias variáveis pode-se

verificar, ou não, a formação de grupos que confirmem a efetiva diferenciação

entre dois grupos a serem analisados.

A partir da possível confirmação da significativa diferenciação entre os

grupos pretende-se passar a uma análise exploratória dos dados e verificar

como os dois grupos comportam-se tanto em relação à pontuação total obtida

quanto em relação àquelas obtidas em cada parâmetro. Caso algum parâmetro

específico destaque-se por pontuações extremas significativas, ele será,

também, analisado de forma exploratória. Pretende-se estabelecer e confirmar

as correlações entre os parâmetros já estudadas.


xxviii

Figura 15 – MASArq
Indicadores sócio-ambientais da arquitetura de meios de hospedagem
e perguntas a eles relacionadas
(continua)

1 ENERGIA - PROCESSOS DE ECONOMIA


A Há métodos formais de economia de energia?
B Materiais e equipamentos utilizados são indicados para economia de energia?
C Há aproveitamento de luz solar em detrimento da elétrica?
D Há educação direta ou indireta quanto ao consumo racional de energia?

2 ENERGIA - FONTES ALTERNATIVAS


A As fontes de energia são sustentáveis e compatíveis com o meio ambiente?
B Há intenção explícita de utilizar fontes alternativas de energia?

3 CONFORTO AMBIENTAL - ISOLAMENTO TÉRMICO


A Materiais utilizados são isolantes térmicos eficientes?
B Utiliza recursos paisagísticos de sombreamento e isolamento térmico?

4 CONFORTO AMBIENTAL - VENTILAÇÃO NATURAL


A Posição e desenho das aberturas facilitam a ventilação natural?
B Paisagismo privilegia a ventilação natural?
C Divisões internas facilitam a circulação de ar?

5 CONDIÇÕES SANITÁRIAS - LIXO


A Há programas explícitos de redução e reutilização de resíduos sólidos?
B Há programa de coleta seletiva de lixo?
C Usuários são informados e convidados a participar de coleta seletiva de lixo?

6 CONDIÇÕES SANITÁRIAS - ESGOTO


A O esgoto é devolvido ao meio ambiente após tratamento adequado?
B Há fossas sépticas ou sistemas de filtragem e sumidouro para esgotos?

7 ÁGUA - APROVEITAMENTO
A Há sistema formal de aproveitamento de água de chuva?
B Há aproveitamento adequado de água de rios, córregos e nascentes?
C Há tratamento adequado da água para consumo humano?
D Há reaproveitamento de águas servidas?

8 ÁGUA - RACIONALIZAÇÃO DO CONSUMO


A Há métodos formais de economia de água?
B Equipamentos e utensílios são indicados para economia de água?
C Há educação direta ou indireta quanto ao consumo racional de água?

Figura 15 – MASArq
Indicadores sócio-ambientais da arquitetura de meios de hospedagem e
perguntas a eles relacionadas
xxix

(conclusão)
9 BIOTA - FAUNA
Houve preocupação declarada durante o planejamento e projeto das instalações com as
A
espécies animais locais?
Houve preocupação declarada durante a execução das instalações com as espécies
B
animais locais?
C Há preocupação declarada com as espécies animais locais?
D Há programas específicos de proteção a espécies animais locais?
E Há mecanismos para afastar espécies animais indesejáveis ao invés de exterminá-las?

10 BIOTA - FLORA
Houve preocupação declarada durante o planejamento e projeto das instalações com as
A
espécies vegetais locais?
Houve preocupação declarada durante a execução das instalações com as espécies
B
vegetais locais?
C Há preocupação declarada com as espécies vegetais locais?
D Há programas específicos de proteção a espécies vegetais locais?
E
Houve consciência ecológica na escolhas de espécies vegetais utilizadas no paisagismo?

11 CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS - EMPREGO


Os membros da comunidade local participaram ativamente do planejamento e construção
A
das instalações?
Os membros da comunidade local participam ativamente do dia-a-dia do
B
empreendimento?
A manutenção e serviços às instalações são executados por membros da comunidade
C
local?
A decoração, os móveis, os objetos à mostra são obras de membros da comunidade
D
local?

12 CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS - RESPEITO À CULTURA


Os membros da comunidade local foram consultados sobre a localização e as dimensões
A
do empreendimento?
A cultura e a arquitetura local foram consideradas nas decisões de projeto das
B
instalações?
C O estilo e a decoração refletem a cultura local?
xxx

PARTE 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

3. 1. PARTICIPAÇÃO DOS ESPECIALISTAS

Cada especialista demonstra sua linha de pensamento na pontuação

sugerida. Becher (1) classifica as questões relacionadas a energia (duas

pontuações 100) e esgoto (100) como mais significativas, enquanto para

Holanda (2) e Schiavetti (3) as questões relacionadas à água são mais

importantes (300, para Holanda e 250 para Schiavetti), embora Schiavetti tenha

classificado questões de energia com mesma pontuação (250); para o autor

deste estudo (4) as condições sócio-econômicas e as sanitárias teriam impacto

maior (240 e 220, respectivamente). Considerando a média, resultou uma

maior pontuação para “água”, a seguir para “energia” e, depois, “condições

sanitárias” e as “sócio-econômicas”. Os resultados estão demonstrados nas

Tabelas 5 e 6.
xxxi

Tabela 5 - Opinião de profissionais sobre a pontuação dos


indicadores sócio-ambientais (parâmetros) da
arquitetura de meios de hospedagem

INDICADORES PONTUAÇÃO

PROFISSIONAIS 1 2 3 4

ENERGIA
Processos de economia de energia 100 100 125 75
Fontes alternativas de energia 100 100 125 75

CONFORTO AMBIENTAL
Isolamento térmico 65 75 25 40
Ventilação natural 65 75 75 70

CONDIÇÕES SANITÁRIAS
Lixo 80 75 75 110
Esgoto 100 75 75 110

ÁGUA
Aproveitamento de água 70 150 100 75
Racionalização do consumo de água 90 150 150 75

BIOTA
Fauna 80 50 75 75
Flora 85 50 75 75

CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS
Oportunidade de emprego 85 50 75 130
Respeito à cultura local 80 50 25 90
xxxii

Tabela 6 - Indicadores sócio-ambientais (parâmetros) da


arquitetura de meios de hospedagem,
sub-indicadores e pontuações máximas definidas,
adotadas na pesquisa

INDICADORES PONTUAÇÃO

SOMATÓRIA 1000 1000

ENERGIA 200
Processos de economia de energia 100
Fontes alternativas de energia 100
CONFORTO AMBIENTAL 123
Isolamento térmico 51
Ventilação natural 72
CONDIÇÕES SANITÁRIAS 175
Lixo 85
Esgoto 90
ÁGUA 215
Aproveitamento de água 99
Racionalização do consumo de
água 116
BIOTA 141
Fauna 70
Flora 71
CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS 146
Oportunidade de emprego 85
Respeito à cultura local 61

3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA

3.2.1 Teste de Significância e Teste T

A análise inferencial determinou, através do Teste de Significância com

supostas variâncias iguais, que há significativa diferenciação entre os dois

grupos, dentro e fora da APA. O Teste T, com amostras independentes,


xxxiii

confirma a viabilidade de utilização do conjunto amostral estudado. As Figuras

29 e 30 apresentam o resultado (t = -3,434; gl = 49; p = 0,001).

F Significância

Variâncias supostamente iguais 0,568 0,455

Figura 16 - Teste de Levene para variâncias iguais

APA QUANTIDADE MÉDIA DESVIO PADRÃO DESVIO PADRÃO MÉDIO

NÃO 26 309,5346 100,7383 19,7564

SIM 25 401,0800 88,9897 17,7979

Figura 17 - Teste T e estatística de grupo

3.2.2 Análise das componentes principais

A análise das componentes principais é uma técnica de transformação

de variáveis, que transforma os dados de tal forma a descrever a mesma

variabilidade total existente. Pode ser descrita como a rotação de pontos

existentes originando eixos, ou componentes principais, que dispostos num

espaço as duas dimensões representem variabilidade suficiente que possa

indicar algum padrão a ser interpretado (GIMENES et al., 2004).

Na Figura 31 estão três diagramas de eixos ortogonais mostrando o

resultado da análise dos componentes principais aplicada aos resultados

obtidos na presente pesquisa. Os diagramas que apresentam os resultados

dos dois grupos separadamente demonstram um agrupamento dos eventos


xxxiv

“dentro da APA” preferencialmente tendendo ao quadrante superior direito, com

dez eventos, enquanto o diagrama do grupo “fora da APA” apresenta apenas

um evento nesse mesmo quadrante e evidencia uma tendência de

agrupamento no quadrante superior esquerdo, demonstrando a efetiva

diferenciação entre os dois grupos.

0
-3 -2 -1 0 1 2 3
-1

-2

-3

-4

3 3

2 2

1 1

0 0
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
-1 -1

-2 -2

-3 -3

-4 -4

Figura 18 - Diagramas de eixos ortogonais considerando as pontuações referentes


aos seis indicadores dos Meios de Hospedagem estudados
dentro da APA (abaixo à direita), fora da APA (abaixo à esquerda) e ambos (gráfico maior)

A análise do gráfico de correlação entre as variáveis indica a correlação

entre os seis indicadores, demonstrada na Figura 32 e na Tabela 7,


xxxv

confirmando a análise exploratória anteriormente descrita. Os indicadores

“energia”, “condições sanitárias” e “água” aparecem de forma a sugerir uma

correlação forte entre eles, ou seja, os meios de hospedagem que receberam

pontuação alta em um destes indicadores teriam maior probabilidade de um

bom desempenho também nos outros dois. Da mesma forma, os dados sobre

os indicadores “biota”, “condições sócio-econômicas” e “conforto ambiental”

sugerem forte correlação entre eles.

A análise dos gráficos em conjunto (FIGURAS 31 e 32) permite a

constatação de que os meios de hospedagem situados dentro da APA, por seu

posicionamento no gráfico de eixos ortogonais, possuem uma tendência a um

melhor desempenho nas variáveis “conforto ambiental”, “biota” e “condições

sócio-econômicas”, concentradas, também, no quadrante superior direito de

ambos os gráficos.

Correlação entre variáveis


1.0

SÓCIO-CULTURAL
0.5
CONFORTO
FATOR 2
BIOTA
0.0
xxxvi

Figura 19 - Gráfico de correlação entre as variáveis

CONDIÇÕES
CONFORTO CONDIÇÕES SÓCIO-
ENERGIA AMBIENTAL SANITÁRIAS ÁGUA BIOTA ECONÔMICAS

ENERGIA 1,0000
CONFORTO AMBIENTAL 0,0990 1,0000
CONDIÇÕES SANITÁRIAS 0,3477 0,1407 1,0000
ÁGUA 0,4807 0,4522 0,4772 1,0000
BIOTA 0,1173 0,6652 0,2618 0,4990 1,0000
CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS 0,0210 0,8424 0,0507 0,3315 0,7138 1,0000

Tabela 7: correlação entre os indicadores

3.2.3 Análise de agrupamento

O objetivo da análise estatística de agrupamento, ou cluster analysis, é

encontrar e separar objetos em grupos similares, mesmo a partir de um grande

número de parâmetros, de forma a evidenciar aspectos marcantes da amostra

(GIMENES et al., 2004). A classificação hierárquica a partir dos resultados

desta pesquisa resultou no dendograma da Figura 20, executado utilizando a

distância euclidiana.

Dendograma é uma figura em forma de árvore, horizontal, com

ramificações interligando dois eventos, dois grupos de eventos ou um evento a


xxxvii

um grupo deles. Conforme a distância a partir do ponto 0 aumenta, também

aumentam as diferenças entre os eventos ou grupos de eventos interligados.

A análise do dendograma sugere uma grande diferenciação entre todos

os meios de hospedagem deste estudo. No entanto, alguns agrupamentos

foram formados e podem indicar semelhanças entre as pousadas de cada um

dos dois grupos.

Por exemplo, os eventos 42 e 7 possuem grande semelhança, embora o

primeiro esteja dentro da APA e o segundo, fora. Suas pontuações em todos os

parâmetros foram idênticas, e não apenas na somatória final, o que confirma e

explica o agrupamento indicado no dendograma. No entanto, são dois eventos

que diferenciam-se muito dos demais, fato demonstrado na distância de sua

interligação com os outros eventos. A análise das pontuações das pousadas

referentes aos eventos 42 e 7 demonstra a causa desta grande diferenciação:

diferentemente da grande maioria dos meios de hospedagem, ambas

receberam pontuação alta no parâmetro “energia”, 140,4 pontos.

Por outro lado, estão dentro da APA os eventos 28 e 29 e estão fora da

APA os eventos 23 e 24, duas duplas que aparecem no dendograma com

evidente semelhança e pontuações muito próximas em todos os parâmetros. A

mesma análise pode ser feita para os eventos 20 e 21, para os eventos 17, 18

e 19 e os eventos 15 e 16, todos de grande semelhança e fora da APA. Ainda

com razoável semelhança aparecem os eventos 6, 41 e 39, embora neste caso

apenas o primeiro pertença ao grupo de fora da APA.


xxxviii

Para se verificar a existência de grupos com relativa semelhança

observa-se eventos interligados a uma distância relativamente pequena. Desta

maneira, destacam-se quatro agrupamentos (Figura 21). O primeiro, composto

pelos eventos 36, 33, 35 e 31, caracteriza-se por apresentar todos de fora da

APA. No segundo, com os eventos 32, 29, 28, 30, 34, 38, 5 e 40, apenas um é

de dentro da APA, ou seja 12,5% dos eventos. Há, no entanto, equilíbrio entre

os dois tipos de pousadas no terceiro grupo, formado pelos eventos 48, 44, 9,

8, 37, 6, 41, 39, 43, 10, 14 e 49. São cinco de dentro da APA e 7 de fora. Todos

os eventos do quarto grupo são de dentro da APA, 11, 12, 16, 15, 18, 17, 19,

20, 21, 22, 24, 23, 25.

Três dos grupos, portanto, apresentam características próprias e

específicas, o que confirma a relativa diferenciação entre os dois tipos de

pousadas, apesar do fato de que há um grande número de pousadas que não

se ligam entre si. Este fato indica uma individualização excessiva em ambas as

situações, dentro e fora da APA, ou seja, que as características de grande

parte das pousadas não permitem agrupamentos por semelhança. Neste caso,

evidenciam-se eventos como os 47, 26 e 1, representando pousadas cujos

conjuntos de características são altamente específicos e significativamente

diferentes de todas as demais.


xxxix

42
7
1
4
2
3
27
36
33
35
31
32
29
28
30
34
38
5
40
48
44
9
8
37
6
41
39
43
10
14
49
45
11
12
16
15
18
17
19
20
21
22
24
23
25
13
46
50
51
26
47

0 10 20 30 40
FORA DA APA
D I S T Â N C IA S

Figura 20 - Dendograma dos meios de hospedagem


xl

42
7
1
4
2
3
27
36
33
35
31
32
29
28
30
34
38
5
40
48
44
9
8
37
6
41
39
43
10
14
49
45
11
12
16
15
18
17
19
20
21
22
24
23
25
13
46
50
51
26
47

0 10 20 30 40
FORA DA APA
D I S T Â N C IA S

Figura 21 - Dendograma dos meios de hospedagem e a representação de agrupamentos


observados
xli

3.3 GERAIS

Após a totalização dos pontos obtidos por cada meio de hospedagem

em cada pergunta, depois em cada parâmetro (APÊNDICE 1) e, depois ainda,

no conjunto de parâmetros, chegou-se à média dos que se localizam dentro e

fora da Área de Proteção Ambiental, em comparação entre eles e com a

pontuação máxima a ser obtida, no caso, 1000 pontos. A média dos meios de

hospedagem dentro da APA resultou 401 pontos, enquanto a média das

pousadas fora da APA chegou a 310 pontos. Respectivamente, esses valores

significam que, em média, o primeiro grupo conquistou 40,1% dos pontos

possíveis e o segundo, 31% (Figura 16).

PONTUAÇÃO MÉDIA TOTAL OBTIDA PELOS


MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS

1000
900
800
700
FORA DA APA
600 40% PONTUAÇÃO MÁXIMA
500 31% DENTRO DA APA

400
300
200
100
0

Figura 22 – Pontuação média total obtida pelos meios de


hospedagem pesquisados e porcentagem relativa à pontuação máxima,
separados nos grupos “dentro da APA” e “fora da APA”.
xlii

Nove pontos percentuais é a diferença de um grupo para o outro. É uma

diferença pouco significativa, mas caracteriza uma leve superioridade daquele

localizado dentro da APA. Para pousadas em áreas protegidas a pontuação

equivalente a apenas 40% sugere que muito ainda deve ser corrigido e a

análise de cada parâmetro pode melhor direcionar a interpretação dos

resultados desta pesquisa.

A Figura 17 apresenta, em superposição e em ordem crescente de

pontuação, o total de pontos recebidos por cada meio de hospedagem, os 26

fora da APA e os 25 dentro da APA, destacando, também, a pontuação

máxima, no caso 1000 pontos. A análise resultante é similar à anterior: apesar

de destacar superioridade dos meios de hospedagem internos à APA, é visível

a grande distância de ambos os grupos em relação à pontuação máxima.


xliii

PONTUAÇÃO TOTAL OBTIDA


PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FORA DA APA"
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA SSIF IC A ÇÃ O D OS M EIOS D E HOSPED A GEM

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 23 – Pontuação total obtida pelos meios de hospedagem pesquisados,


sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA” e a pontuação máxima.

Este formato de gráfico possibilita a visualização em superposição do

desempenho dos dois grupos e a comparação entre eles. O diferencial a favor

do grupo composto por pousadas de dentro da APA é reforçado se analisamos

o número de unidades amostrais que receberam pontuação total abaixo de 300

pontos. Apenas quatro, contra doze do outro grupo.

A mesma análise é válida se contarmos o número de meios de

hospedagem com pontuação total acima de 400 pontos. São 14 do grupo

dentro da APA, contra apenas seis do outro grupo.

Os resultados indicam haver maior preocupação com as intervenções

arquitetônicas de meios de hospedagem se eles se encontram no interior de


xliv

áreas protegidas, ao mesmo tempo em que retratam uma realidade em que

essa diferença é relativamente pequena em relação ao grupo de pousadas de

fora da APA e, principalmente, bastante distante da pontuação máxima. Este

quadro indica uma realidade em que a arquitetura do meio de hospedagem e

suas características relacionadas à sustentabilidade não aparecem como

prioridade à maioria dos empreendedores dessa atividade econômica.

Argumentos relativos à economia resultante da operação de um edifício

“ecológico” ou diferenciais mercadológicos pela crescente demanda por

instalações sustentáveis ainda não parecem convencer empresários.

A análise a seguir, por parâmetros, pode indicar interpretações úteis à

compreensão do tema.

3.4 PARÂMETROS

São seis os indicadores sócio-ambientais que compõem a matriz de

avaliação desta pesquisa: energia, conforto ambiental, condições sanitárias,

água, biota e condições sócio-econômicas. O desempenho das instalações dos

meios de hospedagem em relação a cada um deles pode apresentar novos

ângulos à interpretação do resultado aqui apresentado.

A Figura 18 apresenta a pontuação média dos meios de hospedagem

dentro e fora da APA, para cada parâmetro, sempre comparando com a

pontuação máxima a ser obtida, lembrando que cada parâmetro recebeu um


xlv

peso diferente, proporcional à sua relevância, de acordo com o autor e alguns

especialistas consultados.

PONTUAÇÃO MÉDIA POR PARÂMETRO OBTIDA PELOS


MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS

250

200

150

59% 58%
100 70% 60%
46%
45% 21%
50 17% 18% 14% 32%
15%

-
ENERGIA CONFORTO CONDIÇÕES ÁGUA BIOTA CONDIÇÕES
AMBIENTAL SANITÁRIAS SÓCIO-
ECONÔMICAS

FORA DA APA
PONTUAÇÃO MÁXIMA
DENTRO DA APA

Figura 24 – Pontuações médias por parâmetro e porcentagens em relação às pontuações


máximas obtidas pelos grupos de meios de hospedagem pesquisados, “dentro da APA”
e “fora da APA”, e as pontuações máximas de cada parâmetro.

3.4.1 ÁGUA

Os especialistas determinaram as questões relacionadas à água como

as mais importantes, no que diz respeito à sustentabilidade das edificações dos

meios de hospedagem. Aproveitamento de água de chuva ou, então, de águas

servidas (de ralos), captação e tratamento adequado, métodos formais de

economia de água (troca de toalhas e roupa de cama a cada dois ou três dias,

por exemplo), utilização de equipamentos de baixo consumo, como caixas de


xlvi

descarga com opções de volume, temporizadores e aeradores nas torneiras;

além dessas opções, educação direta e indireta sobre consumo de água é uma

possível característica da arquitetura que pode afetar este consumo e

aumentar sua adequação sócio-ambiental.

As porcentagens médias dos meios de hospedagem fora e dentro da

APA, em relação à pontuação máxima foram, respectivamente, 14% e 21%.

São números muito baixos, principalmente para um parâmetro de importância

destacada. Praticamente nenhum meio de hospedagem possui equipamentos

voltados à economia de água, ou mesmo dispõe de algum tipo de educação

voltada à conscientização sobre o tema. É comum, sim, a prática de trocar

toalhas a cada dois dias, com exceção de quando o cliente solicita a troca

diária: 22 pousadas, entre as que estão dentro da APA e 11 fora da APA; ou

seja, 88% das pousadas do primeiro grupo praticam a troca de toalhas a cada

dois dias e apenas 42% do segundo grupo adotam esta prática de forma

regular.

O conhecimento e a prática de ações voltadas à racionalização de

consumo e economia de água ainda parecem ser apenas teoria, para os

grupos estudados, que indicam retratar, em sua arquitetura, uma realidade de

descaso com a perspectiva de escassez ou redução de disponibilidade deste

recurso para a sociedade.


xlvii

A observação do gráfico (Figura 19) permite observar a grande

similaridade entre os dois grupos, que praticamente se confundem, e a

distância de ambos entre a pontuação máxima para o parâmetro “água”.

P O N T UA ÇÃ O O B T ID A N O P A R Â M E T R O "Á G UA "
P E LO S M E IO S D E H O S P E D A G E M P E S Q UIS A D O S
D IV ID ID O S E M "D E N T R O D A A P A " E "F O R A D A A P A "

220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA S S I FI C A Ç ÃO D OS M EI OS D E H OS P ED A GEM N ES TE P A R ÂM ETR O

PONTUAÇÃO MÁXIMA FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 25 – Pontuações obtidas no parâmetro “água” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro.

Marques (2000) ao estudar eco-pousadas (“ecolodges”) na região do

Amazonas e em doze unidades pesquisadas identificou que 75% não tratavam

sua água, 77% possuíam poços artesianos e os outros obtinham água de

concessionárias públicas ou a tratavam com cloro. Aquele estudo não abordou

questões relacionadas ao consumo, economia ou racionalização da utilização

da água, mas mostrou uma prática comum aos meios de hospedagem

distantes de centros urbanos e dos sistemas de abastecimento de água por

empresas concessionárias, como as eco-pousadas: poços artesianos, coleta

direta de nascentes, rios ou lagos. A constatação desta pesquisa de que há


xlviii

pouca iniciativa e ações práticas de proprietários de pousadas, sejam em áreas

protegidas ou não, no que diz respeito ao controle do consumo de água ganha

importância quando a grande maioria dos meios de hospedagem em meio

natural parece retirar água de aqüíferos sem critério e sem preocupação com o

risco de redução da sua disponibilidade.

3.4.2 ENERGIA

O segundo parâmetro em importância para o grupo de especialistas é a

energia. Enquanto a pontuação máxima do parâmetro “água” foi definida como

215, a determinada para “energia” foi 200, muito próxima e demonstra, ainda,

grande importância do tema.

Mais uma vez, o desempenho da arquitetura dos meios de hospedagem

num quesito importante foi muito fraco. Praticamente idênticos, os percentuais

em referência à pontuação máxima dos dois grupos estudados, dentro e fora

da APA, foram 18% e 17%. Isto significa, mais uma vez, muito pouca atenção e

investimentos numa área que pode trazer economia e diferenciais

significativos.

Fontes sustentáveis e alternativas de energia, métodos, materiais e

equipamentos voltados à economia de energia, como sensores de presença

para iluminação, aparelhos certificados de baixo consumo, ventilação natural,

aquecimento e geração solar de energia, geradores eólicos, hidroelétricas de

pequeno porte são opções de que empreendedores podem se utilizar para criar
xlix

economia e melhorar a sustentabilidade da arquitetura e de seu

empreendimento.

Assim como nas questões relacionadas à água, a arquitetura estudada

parece ainda não aplicar conceitos modernos relacionados a consumo e

racionalização do consumo de energia. Por exemplo, apenas dez pousadas,

cinco de cada grupo, utilizam coletores solares para aquecimento da água de

banho. Isto significa 19% e 20% dos meios de hospedagem, em cada grupo,

utilizando uma fonte sustentável de energia, número que indica timidez na

iniciativa de buscar sustentabilidade para os empreendimentos e para o turismo

em áreas frágeis e protegidas.

Na observação do gráfico (Figura 20), mais uma vez destacam-se a

semelhança entre os dois grupos, a distância da pontuação máxima e a

indicação de que, assim como no importante quesito “água”, é indiferente, para

a arquitetura praticada por meios de hospedagem, estar dentro ou fora de uma

área protegida.
l

PONTUAÇÃO OBTIDA NO PARÂMETRO "ENERGIA"


PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FORA DA APA"
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA S S I FI C A Ç ÃO D OS M EI OS D E H OS P ED A GEM N ES TE P A R ÂM ETR O

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 26 – Pontuações obtidas no parâmetro “energia” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro.

No estudo de Marques (2000) na região do Amazonas em doze

unidades pesquisadas apenas uma utilizava energia alternativa, incluindo velas

e lampiões a querosene; este meio de hospedagem, ainda, dispunha de

técnicas de economia de energia, como baterias para suprimento de

eletricidade. Segundo a autora, outro hotel de selva também utilizava velas e

lampiões a gás, mas havia experimentado painéis solares nas áreas públicas,

com resultado pouco satisfatório. Como a maioria dos outros hotéis, este utiliza

um gerador, que é desligado à noite devido ao ruído. A pesquisa descobriu que

41,7% dos proprietários de eco-pousadas do Amazonas pesquisadas

interessavam-se por energia solar e 20% pela eólica.

O resultado apresentado por Marques (2000) corrobora com o desta

pesquisa e confirma a conclusão de que há muito a se conquistar no quesito

energia no setor de turismo, inclusive aquele que a autora define como

“dependente dos recursos naturais”. Na região da presente pesquisa parece


li

haver necessidade de estudos técnicos sobre coletores solares para

aquecimento de água, tendo em vista alguns relatos de corrosão precoce

devida às características da água de Itacaré.

Mesmo assim, e de forma similar à análise quanto à racionalização de

consumo de água, pouco se faz para diminuir a utilização de energia nos meios

de hospedagem pesquisados. Todos são servidos pela concessionária local e o

custo da eletricidade ainda é relativamente baixo e desestimula investimentos

em alternativas. Parece claro que o setor de hospitalidade, de forma geral,

ainda não incorporou em sua rotina procedimentos de eficiência energética.

3.4.3 CONDIÇÕES SANITÁRIAS

As condições sanitárias proporcionadas pela arquitetura referem-se a

como a construção afeta questões relacionadas aos resíduos, sólidos ou

líquidos. A opção pela reutilização de itens consumidos no dia-a-dia do meio de

hospedagem, por separar lixo reciclável, por tratar adequadamente os

efluentes, seja encaminhando para a coleta de uma concessionária, seja

construindo fossas sépticas e sumidouros de acordo com as normas sanitárias.

A observação do gráfico (Figura 21) mostra, mais uma vez, bastante

semelhança entre os dois grupos estudados, dentro e fora da APA no quesito

“condições sanitárias”. A diferença, agora, consiste na porcentagem de ambos

em relação à pontuação máxima: 58% e 59%, respectivamente, ou seja, com

leve vantagem para o grupo de fora da APA. Enquanto 17 pousadas de dentro


lii

da APA possuem algum tipo de coleta seletiva de lixo, 14 de fora da APA

adotam tal prática, mesmo parcial. 68% e 54% são números que indicam

razoável atitude em relação aos resíduos sólidos e, ainda, pouca diferença

entre os dois grupos, mas leve vantagem para os de dentro da APA.

O que ajuda a aumentar a pontuação em ambos os grupos é a quase

unânime opção por tratamentos adequados dos efluentes líquidos, fossas

sépticas com sumidouros, com três exceções entre os de fora da APA e duas,

de dentro da APA, em que há evidência de tratamento insuficiente dos resíduos

líquidos.

Há, portanto, semelhança entre os dois grupos estudados e maior

proximidade da pontuação máxima para este parâmetro, confirmando a

interpretação anterior.

PONTUAÇÃO OBTIDA NO PARÂMETRO "CONDIÇÕES SANITÁRIAS"


PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FOR A DA APA"
180
170
160
150
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA S S I FI C A Ç ÃO D OS M EI OS D E H OS P ED A GEM N ES TE P A R ÂM ETR O

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA


liii

Figura 27 – Pontuações obtidas no parâmetro “condições sanitárias” pelos meios de


hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as
pontuações máximas deste parâmetro.

No estudo de Marques (2000) sobre eco-pousadas (“ecolodges”) na região do

Amazonas, em doze unidades pesquisadas, 91,7% tratavam efluentes com

sistemas sépticos eficientes, mas simples, enquanto apenas 9,1% usavam

outros métodos. Estes dados espelham-se na presente pesquisa, onde o

percentual em relação à pontuação máxima obtida pelos meios de

hospedagem foi o maior dentre todos os parâmetros. A preocupação com o

destino dos efluentes já é antiga e incorporada em projetos e implantações de

meios de hospedagem. No caso desta pesquisa, apesar de não serem servidas

por coleta de esgotos por empresa concessionária, as pousadas demonstraram

preocupação e a grande maioria possui fossas sépticas com sumidouro, seja

por preocupação ambiental ou por mera intenção em reduzir a poluição visual,

dos recursos hídricos e atmosférica, o que afastaria seus clientes.

3.4.4 CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS

A arquitetura de um meio de hospedagem pode afetar as condições

sócio-econômicas através da possibilidade de gerar emprego e renda,

promover a cultura local através do estilo, das cores e dos materiais, assim

como da utilização da produção de artesãos locais na decoração e mobiliário,

por exemplo.

Neste parâmetro ficou evidenciada a diferença do desempenho da

arquitetura das pousadas localizadas na APA, com 60% da pontuação máxima


liv

para esse quesito, contra 46% das pousadas fora da APA. Em ambos os

grupos houve pouca ou nenhuma participação da comunidade na definição de

localização e dimensões do empreendimento, enquanto é comum a

participação de locais no dia-a-dia das pousadas, como funcionários ou

prestadores de serviços.

O estilo, caracterizado pelos materiais, formas, cores e outras

características plásticas da construção, reflete plenamente a cultura e a

arquitetura local em 19 pousadas e parcialmente em duas pousadas no grupo

de dentro da APA, 76% e 8%, totalizando 84% das pousadas deste grupo. No

outro grupo, são apenas quatro (15%) que têm na arquitetura o reflexo da

cultura local e 16 (62%) parcialmente, totalizando 77%. As evidências são de

que há maior conscientização dos empreendedores de meios de hospedagem

na APA em relação às práticas arquitetônicas e à cultura local.

O gráfico (Figura 22) mostra que, mesmo com as demonstrações citadas

anteriormente, há meios de hospedagem com muito baixa pontuação no

parâmetro “condições sócio-econômicas” nos dois grupos estudados; abaixo de

60 pontos (44% da pontuação máxima) há duas pousadas de dentro da APA e

nove de fora da APA, o que demonstra que o grau de preocupação não é

unânime.
lv

PONTUAÇÃO OBTIDA NO PARÂMETRO "CONDIÇÕES SÓCIO-


ECONÔMICAS" PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FOR A DA APA"

140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA SSIF IC A ÇÃ O D OS M EIOS D E HOSPED A GEM N EST E PA R Â M ET R O

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 28 – Pontuações obtidas no parâmetro “condições sócio-econômicas” pelos meios de


hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as
pontuações máximas deste parâmetro.

3.4.5 BIOTA

A influência da arquitetura sobre fauna e flora (biota) refere-se à

preocupação com as espécies animais e vegetais durante as fases de projeto,

execução e operação de um meio de hospedagem. Bloquear caminhos

naturais de animais, excesso de iluminação ou ruído, manter animais em

cativeiro, por exemplo. Ainda, há maneiras sustentáveis de combater pragas,

mantendo-as afastadas ao invés de exterminá-las. Ou, eliminar espécies

vegetais nativas e utilizar espécies exóticas no paisagismo.


lvi

Dentre as pousadas localizadas no interior da APA, 56% demonstraram,

através da arquitetura e paisagismo, consciência ecológica na escolha de

espécies vegetais locais e 36% demonstraram consciência parcial. Por outro

lado, apenas 16% das pousadas fora da APA desenvolveram padrão

arquitetônico e paisagístico com plena consciência ecológica e 65% com

consciência parcial. Empreendedores de meios de hospedagem em áreas

protegidas parecem desenvolver maior sensibilidade ambiental em relação às

questões da flora, o que não acontece em relação à fauna.

Combinando as duas questões, fauna e flora, a pontuação dos meios de

hospedagem em relação à pontuação máxima ainda é pequena, com sensível

vantagem para as pousadas de dentro da APA. Enquanto apenas oito

pousadas (30%), do grupo de fora da APA, obtiveram pontuação acima de 40

pontos (28% da pontuação máxima), esse número sobe para treze (52%), no

grupo de dentro da APA. Fauna e flora são indicadores importantes da

sustentabilidade ambiental e os dados indicam que há, ainda, pequena

preocupação com eles por parte dos meios de hospedagem e refletida em sua

arquitetura e paisagismo.
lvii

PONTUAÇÃO OBTIDA NO PARÂMETRO "BIOTA"


PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FOR A DA APA"

140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
C LA SSIF IC A ÇÃ O D OS M EIOS D E HOSPED A GEM N EST E PA R Â M ET R O

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 29 – Pontuações obtidas no parâmetro “biota” pelos meios de hospedagem


pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações
máximas deste parâmetro.

3.4.6 CONFORTO AMBIENTAL

Talvez este parâmetro seja o mais percebido pelo usuário do meio de

hospedagem. Mesmo assim, foi considerado pelo autor e especialistas,

relativamente, o de menos peso como parâmetro de sustentabilidade na

arquitetura. O conforto ambiental é percebido nas características isolantes dos

materiais e cores, no sombreamento, na posição e dimensões das aberturas, o

que determina iluminação e ventilação, na divisão espacial e sensações em

geral.

A arquitetura dos meios de hospedagem dentro da APA obteve seu

melhor desempenho, nesta pesquisa, no parâmetro “conforto ambiental”: 70%


lviii

da pontuação máxima. Isto significa um cuidado especial com as

características de suas instalações relacionadas ao conforto. 56% das

pousadas de dentro da APA utilizam adequadamente o paisagismo para

sombrear e maximizar a ventilação natural e 36% utilizam parcialmente este

recurso, enquanto apenas 23% das pousadas do outro grupo o utilizam

completamente e 23% parcialmente. Mais uma vez o grupo de dentro da APA

demonstra utilizar recursos arquitetônicos e paisagísticos com maior

adequação.

O gráfico (Figura 24) mostra a grande variedade de pontuações nos dois

grupos. Há pousadas com pontuação máxima, no grupo de dentro da APA e,

neste mesmo grupo, há uma pousada com pontuação zero. Enquanto a maioria

das pousadas deste grupo apresentou pontuação bastante próxima à máxima,

14 acima de 100 pontos, o outro grupo apresenta apenas uma pousada com

essa pontuação. Mais uma vez, e agora de forma bastante evidente, o grupo

de dentro da APA atingiu desempenho com grande diferença em relação ao

outro grupo.
lix

PONTUAÇÃO OBTIDA NO PARÂMETRO "CONFORTO AMBIENTAL"


PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
DIVIDIDOS EM "DENTRO DA APA" E "FORA DA APA"

120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

C LA S S I FI C A Ç ÃO D OS M EI OS D E H OS P ED A GEM N ES TE P A R ÂM ETR O

PONTUAÇÃO M ÁXIM A FORA DA APA DENTRO DA APA

Figura 30 – Pontuações obtidas no parâmetro “conforto ambiental” pelos meios de


hospedagem pesquisados, sobrepondo os grupos “dentro da APA” e “fora da APA”, e as
pontuações máximas deste parâmetro.

3.5 QUESTÕES ESPECÍFICAS

Três questões, ainda, ilustram as diferenças de desempenho sócio-

ambiental da arquitetura de meios de hospedagem dentro e fora da APA.

Como já foi demonstrado, 86% das pousadas de dentro da APA refletem

a cultura local em sua arquitetura, em oposição a 45% das de fora da APA.

76% dos meios de hospedagem utilizam adequadamente as aberturas para

promover ventilação natural em detrimento da ventilação forçada ou

refrigeração artificial. E 70% das pousadas na APA conseguem, através de

recursos arquitetônicos, prover de luz natural grande parte dos ambientes,

dispensando grande quantidade de iluminação elétrica durante o dia. As do

outro grupo apresentam índice de apenas 33%.


lx

PONTUAÇÃO MÉDIA OBTIDA POR MEIOS DE HOSPEDAGEM


QUESTÕES ESPECÍFICAS

35
30 86%

76%
25
70%
20
45 % 43%
15
33%
10
5
0
ESTILO E DECORAÇÃO ABERTURAS LUZ SOLAR X ELÉTRICA
REFLETEM CULTURA FAVORECEM
LOCAL VENTILAÇÃO NATURAL

FORA DA APA
PONTUAÇÃO MÁXIMA
DENTRO DA APA

Figura 31 – Pontuações médias e porcentagens em relação à pontuação máxima


obtidas em três questões específicas pelos meios de hospedagem pesquisados,
“dentro da APA” e “fora da APA”, e as pontuações máximas de cada questão.

São questões específicas de relevância para a arquitetura e refletem

uma maior adequação sócio-ambiental da arquitetura dos meios de

hospedagem dentro da APA. Mais do que isso, apresentam pontuação próxima

à pontuação máxima para estas questões.

3.6 CORRELAÇÕES ENTRE OS PARÂMETROS


lxi

Uma das características dos dados coletados é a grande variação de

pontuações obtidas nos seis parâmetros entre os meios de hospedagem. Por

exemplo, um meio de hospedagem pode ter recebido uma pontuação total alta

graças a um desempenho excelente em apenas um ou dois parâmetros,

apesar de ter obtido pontuações baixas nos outros quesitos. Este fato é

comprovado após a análise da Figura 26: dos dez meios de hospedagem que

receberam as maiores pontuações totais, apenas quatro estavam entre os dez

com maiores pontuações tanto no parâmetro “água” quanto no “condições

sanitárias” e cinco no parâmetro “energia”. Ou seja: das dez pousadas com

maiores pontuações, mais da metade não obtiveram boas notas nos

importantes quesitos “água”, “condições sanitárias” e “energia” e, por outro

lado, receberam pontuação superior em “conforto ambiental”, “biota” e

“condições sócio-econômicas”.
lxii

Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 m aiores


pontuações no "Total Geral" e que tam bém ficaram entre os 10 com
m aiores pontuações em cada parâm etro

10

9
8
8
7 7
7

6
5
5
4 4
4

0
ENERGIA CONFORTO CONDIÇÕES ÁGUA BIOTA CONDIÇÕES
AM BIENTAL SANITÁRIAS -SÓCIO
ECONÔM ICAS

Figura 32 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10


maiores pontuações no “Total Geral” e que também ficaram entre
os 10 com maiores pontuações em cada parâmetro.

Em análise semelhante e considerando os meios de hospedagem desta

pesquisa, independentemente de sua localização, que tenham obtido as dez

maiores pontuações no parâmetro “energia”, e comparando-os com as

pontuações recebidas nos outros, pode-se estabelecer relações entre os

parâmetros. Daqueles, oito meios de hospedagem também receberam pontos

suficientes para estarem entre as dez maiores pontuações do parâmetro

“água”, enquanto para os demais parâmetros este número resultou em menos

de cinco pousadas, conforme indicado na Figura 27. Este fato indica uma

correlação entre os parâmetros “energia” e “água” e sugere que a preocupação

com consumo e utilização racional destes recursos acontece de forma

semelhante e simultânea. Ao mesmo tempo, percebe-se uma consciência não-


lxiii

linear em relação aos princípios do turismo sustentável, reforçada pelo fato de

que apenas um meio de hospedagem aparece entre os dez mais bem

pontuados em todos os parâmetros.

Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 m aiores


pontuações em "Energia" e que tam bém ficaram entre os 10 com m aiores
pontuações nos outros parâm etros

10
9 8
8
7
6 5
5 4 4
4 3
3
2
1
0
CONFORTO AMBIENTAL CONDIÇÕES SANITÁRIAS ÁGUA BIOTA CONDIÇÕES SÓCIO-
ECONÔMICAS

Figura 33 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10


maiores pontuações em “Energia” e que também ficaram entre
os 10 com maiores pontuações nos outros parâmetros.

Considerando a questão principal deste estudo, o diferencial da

arquitetura de meios de hospedagem dentro de áreas protegidas, a análise da

relação entre os seis parâmetros sugere áreas em que há efetivos avanços e a

prática aproxima-se do que se espera da arquitetura de meios de hospedagem

em áreas protegidas e que respeitem os princípios do turismo sustentável. A

Figura 26 indica quantos meios de hospedagem, dentre os dez de maiores

pontuações em cada parâmetro e no total geral, estão localizados dentro da

APA. O resultado é claro: todas as dez pousadas com maiores pontuações em

“conforto ambiental” e “condições sócio-econômicas” estão localizadas na APA.

E no quesito “biota”, são nove dentro da APA. Para os parâmetros “’água”,


lxiv

“condições sanitárias” e “energia”, foram, respectivamente, apenas seis, seis e

cinco meios de hospedagem dentro da APA. No total geral, dos dez meios de

hospedagem com maiores pontuações, oito estão dentro da APA. Esta análise

indica possíveis avanços na forma de pensar e agir de proprietários de meios

de hospedagem em áreas protegidas em relação a assuntos ligados a geração

de emprego e renda, apoio a produtores locais, respeito à cultura regional, ao

mesmo tempo em que demonstra um reconhecimento da importância da

adequação ao clima e do diferencial de adaptar aberturas, sombreamento,

materiais, cores para aumentar o conforto ambiental de hóspedes e usuários.

Por outro lado, questões declaradas pelos especialistas como de maior

importância, as relacionadas à racionalização do consumo de recursos como

água e energia parecem, mais uma vez, relegadas a segundo plano, seja pela

aparente abundância e facilidade de acesso na região estudada, seja pela falta

de consciência, ou pela relação custo-benefício insuficiente.

Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10 maiores


pontuações em cada parâmetro e estão localizados dentro da APA

10 10
10 9
9 8
8
7 6 6
6 5
5
4
3
2
1
0
TOTAL GERAL ENERGIA CONFORTO CONDIÇÕES ÁGUA BIOTA CONDIÇÕES
AMBIENTAL SANITÁRIAS SÓCIO-
ECONÔMICAS

Figura 34 – Quantidade de Meios de Hospedagem que receberam as 10


maiores pontuações em cada parâmetro e estão localizados dentro da APA.
lxv
lxvi

PARTE 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Áreas protegidas são importantes instrumentos de controle da

degradação causada pela intervenção humana em áreas naturais, frágeis e de

preservação prioritária. Turismo em áreas protegidas pode significar diversos

impactos negativos sobre recursos naturais e suas instalações deveriam

significar modelos de respeito e cuidado com o patrimônio sócio-ambiental da

região.

Meios de hospedagem são empreendimentos que precisam de atrativos

naturais ou construídos para atrair clientes. No caso de áreas protegidas, a

efetiva preservação dos recursos pode ser a garantia de longevidade ao

negócio de hospedagem. Através da arquitetura de um meio de hospedagem o

empreendedor pode alcançar alguns objetivos como:

1. Economia

2. Educação ambiental

3. Captação de clientes

4. Satisfação de clientes

5. Geração de emprego e renda

6. Aproximação com a comunidade

7. Benefícios ao meio ambiente


lxvii

A pesquisa e seu resultado indicam a confirmação da metodologia aqui

desenvolvida, MASArq, como um novo instrumento de avaliação da arquitetura,

aqui utilizada para estudo de meios de hospedagem. A grande abrangência e a

participação de especialistas com aplicação da técnica Delfos reforçam sua

aplicabilidade, versatilidade e universalidade, apesar do caráter regional desta

aplicação.

O estudo apresentado buscava compreender as diferenças entre a

arquitetura de meios de hospedagem dentro e fora de uma área protegida,

numa região especial para o meio ambiente e a biodiversidade mundial. O

resultado foi bastante claro: sim, há diferenças e todas elas apontam para uma

arquitetura mais consciente, mais adequada do ponto de vista sócio-ambiental,

nas pousadas localizadas dentro da APA. Há questões e há parâmetros em

que essa diferença assume grandes dimensões. Nas questões relacionadas a

conforto ambiental e condições sócio-econômicas os dados apontam para um

destaque do desempenho dessa arquitetura.

No entanto, nas outras premissas, há pequena variação entre os

resultados da arquitetura de pousadas dentro e fora da APA e mais: os

resultados foram ruins, muito aquém do que poderia ser esperado de meios de

hospedagem em áreas protegidas ou, mesmo, fora de áreas protegidas e em

localidades não-urbanas.

As questões consideradas prioritárias, pelo peso concedido pelo grupo

de especialistas, “’água” e “energia”, são, também, questões de alcance


lxviii

mundial. A escassez de água é uma realidade em diversas regiões do planeta

e a atividade turística tem a responsabilidade de conservá-la sempre que

possível, assim como o acesso à água limpa e potável será um importante

determinante na definição de localização de empreendimentos turísticos.

Segundo Tabasaran e Hilel (2003a) a escala do desafio é significativa, pois

apenas nos Estados Unidos turismo e recreação consomem 946 milhões de

metros cúbicos de água por ano, sendo que 60% deste volume referem-se à

área de hospedagem. Na Europa, este volume equivale a 843 milhões de

metros cúbicos, o consumo médio por turista europeu, considerado um padrão

mundial, corresponde a 300 litros de água por dia e o consumo do turista de

luxo pode ultrapassar 880 litros por dia.

O Encontro Mundial pelo Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo

(2002) registrou que o turismo é um dos setores que mais consomem energia e

sugeriu aos governos que incluíssem a eficiência energética nas políticas

relacionadas à atividade turística. O peso atribuído pelos especialistas nesta

pesquisa justifica-se pela magnitude da importância do tema. Tabasaran e Hilel

(2003b) afirmam que cerca de 50 bilhões de kWh são consumidos nos Estados

Unidos anualmente apenas na área de hospedagem, e em todo o planeta esse

número alcançaria 5.000 milhões de kWh, o equivalente a 80% do consumo

energético do Japão. Como esse consumo está diretamente relacionado ao

padrão do hotel, eco-pousadas têm, adicionalmente, vantagens por minimizá-

lo. Dados indicam que, enquanto hotéis de uma estrela da rede Accor

consomem 157 kWh por metro quadrado por ano, duas estrelas têm seu
lxix

consumo aumentado em 46% e quatro estrelas chegam a mais de 380kWh por

metro quadrado por ano (TABASARAN; HILEL, 2003b).

A pesquisa confirma uma realidade distante da solução de problemas

que afetam o planeta e têm forte reflexo local. Tanto questões sobre a água

quanto sobre energia têm abordagem superficial e inadequada pela grande

maioria dos meios de hospedagem pesquisados, refletida por suas decisões

arquitetônicas. Grandes problemas globais relacionados ao meio ambiente

estão longe de serem entendidos e resolvidos na prática da construção turística

e esse fato resulta em uma situação inaceitável em se tratando de construções

de meios de hospedagem localizados numa região especial como a frágil Mata

Atlântica do sul da Bahia.

Conclusão semelhante foi apresentada por Marques (2000). Após

pesquisa com doze eco-pousadas na Amazônia, pôde concluir que apesar de

estarem em uma região altamente inspiradora e utilizarem estilos

arquitetônicos baseados na cultura local, muito poucas práticas ligadas à

sustentabilidade são refletidas em sua arquitetura. A autora confirma que não

há padrões internacionalmente aceitos para a arquitetura de eco-pousadas,

mas muitas de suas características já são bastante conhecidas.

Resultado: a pontuação geral da presente pesquisa reflete uma

realidade preocupante. Há poucas exigências e padrões para as edificações de

meios de hospedagem nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável e,

sem fiscalização e orientação, a sustentabilidade da arquitetura desse tipo de


lxx

empreendimento acaba dependendo da consciência própria e ocasional de

empreendedores que possuem idealismo e visão de futuro suficiente para

investir em detalhes que, se não hoje, em muito breve deverão fazer grande

diferença para a sociedade e para o negócio.

Outro direcionamento nas decisões de arquitetura reflete-se no conforto

oferecido aos usuários e no respeito às características sócio-culturais locais;

aparece com algum destaque nesta pesquisa, embora haja indicações de que

isto seja devido ao diferencial mercadológico e à disponibilidade de materiais e

mão-de-obra. Selengut (In: HAWKINS et al., 1995) já havia constatado que

ecoturistas preferiram o contato com a natureza de suas eco-tendas em Maho

Bay, nas Ilhas Virgens, ao luxo de seu resort Harmony State. Além da

proximidade com o ambiente, Maho Bay foi construído utilizando materiais e

técnicas ancestrais da região, com a participação de moradores locais, sem

comprometer a qualidade da edificação para seus usuários.

Há, então, espaço para pesquisas que caminhem no sentido de

compreender as vantagens práticas e os motivos que levam investidores a

optar por uma arquitetura mais sensível às questões sócio-ambientais. Da

mesma forma, este padrão de avaliação da arquitetura de meios de

hospedagem, MASArq, pode ser modelo para dirigir e orientar novos

empreendimentos hoteleiros em Unidades de Conservação ou em áreas

naturais e frágeis, seja pela necessidade ambiental ou pelo diferencial

mercadológico.

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