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Resumo
A observação da realidade escolar mostra–se pouco sensível à leitura literária. Os
estudantes estão condicionados a ler literatura por fatores externos, transformando
esta atividade cognitiva num exercício mecânico e com um fim em si mesmo. A
liberdade de expressão, imaginação, criação e o autoconhecimento são quase
ignorados. Neste âmbito, a leitura desconsidera a busca da identidade e do
autoconhecimento como uma das razões primordiais do leitor. Por esses motivos,
talvez, a leitura tem sido um tema de pesquisa constante, a fim de procurar
explicações plausíveis para este fenômeno que é altamente social e firma a relação
dos indivíduos com eles mesmos, com outros indivíduos e com o seu próprio
mundo. Frente ao quadro exposto e com a finalidade de analisar o processo de
instrumentalização de leitura do texto literário, em específico como o conto pode
contribuir para a formação de leitores, serão propostas oficinas de leitura de
contos, a partir dos pressupostos do método recepcional (AGUIAR; BORDINI,
1993). Os dados apresentados nesta comunicação são parte de reflexões da
proposta de dissertação a ser realizada no PPGEd/UCS, que objetiva desenvolver
uma pesquisa–ação a partir da leitura do conto literário como uma experiência
(LAROSSA, 2003). Entende–se nesse estudo que o texto literário pode ser
concebido como ponto de partida para a “reformação” de leitores competentes e
ativos na sociedade atual.
Palavras-chave:
Literatura, Autoconhecimento, Formação de leitores.
Introdução
A leitura literária vai mais além: não apenas circula pelo viés dos diferentes
saberes, mas humaniza o homem, de modo que influencia seus processos de
desenvolvimento pleno, envoltos numa múltipla troca de experiências que se
preservam no tempo, resistem às mudanças da sociedade e registram essas
mutações pela arte, cuja interpretação é subjetiva e acolhe as leituras de cada
leitor.
Esse fato também é efeito de uma política educacional que privilegia uns em
detrimento de outros, responsável pela transformação do conhecimento em
mercadoria: lê-se para ser aprovado na escola e para passar no vestibular. A isso,
acrescenta-se a prevalência de um professor não-leitor, que se vê desamparado
para trabalhar com textos potencialmente desestabilizadores do pensamento dos
estudantes (Saraiva, 2005: 213).
Existe uma lacuna notável que impossibilita a aproximação dos jovens com a
literatura clássica. Eles buscam outras formas de prazer, são instruídos e
pressionados pela família e pela escola a passarem no vestibular, e seus interesses,
em geral, se direcionam a questões de ordem mais prática, em que possam ver
concretamente alguma utilidade. Além do mais, a própria linguagem literária, muito
distante da linguagem utilizada em suas relações cotidianas, e a extensão das
obras a serem lidas e "aprendidas" são fatores responsáveis por esse afastamento
dos livros de literatura.
Diante dessa questão, o conto vem a ser uma boa tentativa de aproximação dos
estudantes com a literatura erudita; ao invés de tratá-la pelo viés histórico, ou ler
obras adaptadas, excertos ou até mesmo resumos dos textos clássicos, melhor é
ler os clássicos em sala de aula originalmente escritos, mas que respeitem o perfil
de seu público - assim, o conto literário vem ao encontro perfeito dessas
expectativas.
A abordagem metodológica para este trabalho experimental com oficinas será
realizada com base nos pressupostos de uma proposta didática chamada de Método
Recepcional. Tal proposta tem origem em estudos de Hans Robert Jauss, que cria
um modo de estudar literatura chamado Estética da Recepção. O método enfatiza o
que chamamos de "obra difícil", "uma vez que nela reside o poder de
transformação de esquemas ideológicos passíveis e crítica" (Bordini e Aguiar, 1993:
85). É um método cujo foco está no leitor e no seu horizonte de percepções,
possibilitando sua aproximação com o texto, de forma com que ele se familiarize
com o gênero gradativamente e possa perceber as diferentes inovações, formas e
modos de leitura possíveis daquele texto, até que, finalmente, torne-se hábil a
realizar a leitura da "obra difícil", assim nomeada pelos autores.
Referências
[1] Tais resultados baseiam-se nos índices apresentados pelo Sistema Nacional de
Educação Básica - SAEB, disponíveis em
http://www.inep.gov.br/download/saeb/2005/SAEB1995_2005.pdf, acesso em 15-
7-09; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, disponíveis
em http://ideb.inep.gov.br/Site/, acesso em 15-7-09; Retratos da Leitura no Brasil,
disponíveis em http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=48, acesso
em 25-4-09.