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2 CORÍNTIOS
DO FUNDO DO CORAÇÃO

2 Coríntios 11.16 a 12.13

Não é fácil falar com a alma ou com o coração, Desde cedo, somos educados a
guardar os nossos sentimentos e emoções. Por exemplo, raramente admitimos as
nossas limitações e fracassos, principalmente de forma pública, pois corremos o risco
de sermos mal interpretados ou considerados fracos ou até incrédulos.

Somos seres excessivamente racionais e comumente desprezamos o nosso lado


emocional. Hoje, fala-se muito de inteligência emocional, considerando que a pessoa
não é apenas um ser racional. E isto pode transformar profundamente a nossa visão
de vida.

Neste aspecto, a igreja da atualidade não difere muito da igreja de Corinto, que exigia
discursos bem elaborados por um pregador que demonstrasse sabedoria e cultura
(1.12; 3.18-23; I Co 1.17-2.16).

O apóstolo Paulo dispunha desta qualificação, mas ao escrever II Coríntios, opta por
uma linguagem íntima que nasce da sinceridade de seus sentimentos, e pretende
identificar-se com os problemas emocionais de seus leitores.

Falando de coração para coração, o apóstolo envia uma mensagem de conforto e


encorajamento - uma necessidade comum aos cristãos de todas as épocas.

A epístola
Em sua primeira epístola, Paulo abordou alguns problemas da comunidade de Corinto,
como: divisões, mau testemunho, problemas conjugais, idolatria etc. Acontece que
novas informações chegaram ao conhecimento do apóstolo, indicando que "falsos"
pregadores questionavam na comunidade a sua autoridade apostólica.

Para isto, utilizavam as armas da calúnia e da difamação. Certamente, estes


pregadores se aproveitavam da ausência de Paulo e da situação de fragilidade e
perseguição dos coríntios.

O apóstolo precisa defender-se de suspeitas e calúnias referentes à sua pessoa. À


semelhança de outras epístolas, II Coríntios possui características próprias. Porém,
como diz Karl H. Schelkle, "carta alguma é tão pessoal e tão apaixonada como esta
(...), nenhuma epístola permite vislumbrar a grandeza humana e espiritual do apóstolo
Paulo.

Ela guinda seu autor à altura dos maiores homens, dos maiores teólogos e dos
maiores santos da igreja em todos os tempos". Podemos dizer, portanto, que aqui, o
apóstolo Paulo abre a sua alma e fala do fundo do coração.

Vários problemas textuais dificultam a compreensão da mensagem de II Coríntios. A


unidade do texto é questionada, uma vez que II Coríntios compõem- se de mais de
uma carta de Paulo, sem uma sequência cronológica.

Acontece que, após a remessa da primeira carta, o apóstolo passou por adversidades.
Nesse tempo, enviou mensagens diferentes: ora defendendo-se de acusações, outras
vezes, solicitando doações para irmãos necessitados, ou compartilhando experiências,

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ou encorajando aos cristãos. Porém, a redação do texto, na forma presente, revela o


desejo pessoal e sincero do coração do apóstolo Paulo em fortalecer a fé dos cristãos.

O estudo de II Coríntios traz preciosas e interessantes lições aos cristãos de todas as


épocas, e dentre elas destacamos:

1 - A HUMANIDADE DO SERVO DE DEUS


Inicialmente, a epístola torna-se importante por mostrar o cristão como uma pessoa
comum e normal, sujeita às situações comuns da vida. Paulo reivindica a sua
autoridade apostólica, a partir de uma experiência profunda com Deus.

No texto principal, percebe- se que ele abre o seu coração e admite as suas
fraquezas. Tudo foi experimentado pelo amor ao Senhor e à sua causa. Como era do
conhecimento da comunidade, Paulo entregou-se (de corpo e alma) à obra
missionária, movido por uma visão celestial. E a sua dedicação levou-o a enfrentar
toda sorte de adversidade.

Eis uma preciosa lição para nós! Enquanto muitos pregam o sucesso e a prosperidade
como evidência "da bênção", o apóstolo admite as lutas e vitórias, mas também os
fracassos e derrotas, como sinal da presença constante do Senhor em seu ministério.
Ao conviver com provações, aflições ou tentações, devemos louvar a Deus e
perseverar firmes, pois haveremos de crescer na fé (Tg 1.2-4).

O apóstolo também ensina-nos quanto à importância de compartilhar com a


comunidade as nossas experiências. Paulo despe a sua alma perante a igreja, e
mostra a possibilidade de se ver as pessoas como são, sem máscaras, sem
fingimento, sem encenação.

Os filhos de Deus são pessoas normais, finitas e limitadas, sempre carentes da graça
de Deus (Rm 3.23). Ao ouvir a experiência de um irmão, a igreja madura jamais
cederá à tentação de comentar ou divulgar o assunto com os outros, gerando fofocas
e desconfiança nas pessoas; mas, aprenderá a interceder e a crescer na fé.

2 - A DISPOSIÇÃO PARA CONTRIBUIR COM A OBRA


Nesta epístola, o apóstolo menciona a necessidade dos irmãos de Jerusalém, a igreja-
mãe, vítima da grande fome causada pela fraca colheita de 48 a.C. Da Macedônia,
Paulo extrai um exemplo para as demais igrejas quanto à bênção da contribuição (8).

Para esta grande coleta, semelhante às nossas campanhas beneficentes, os cristãos


devem abrir os seus corações e oferecer as suas doações, lembrando que a oferta é
proporcional à motivação do coração e as suas posses, sem mesquinhez, sem
tristeza, ou movida só por necessidade, pois "Deus ama a quem dá com alegria" (9.7).

Constantemente, somos desafiados a oferecer a nossa solidariedade às pessoas. Por


exemplo: socorrer às vítimas da seca, do frio, das catástrofes ou das injustiças sociais;
doar agasalhos, cobertores, calçados, alimentos etc., visando amenizar o sofrimento
de alguns. As igrejas deveriam solidarizar-se com a necessidade dos outros,
desenvolvendo mais do que campanhas assistenciais ou intercessão em favor dos
carentes.

É recomendável a adoção de povos ou grupos, oferecendo-lhes condição de vida


digna dos seres criados à imagem e semelhança de Deus. Vamos aprender a repartir
o pão e a cultivar a solidariedade cristã, movidos pelo amor, mas através de atitudes
concretas, como recomendava Paulo.

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3 - O TRATAMENTO ADEQUADO AOS OPOSITORES


Nos capítulos 10 a 13, o apóstolo utiliza um tom severo e violento, defendendo-se dos
opositores que pretendiam desmoralizá-lo perante a comunidade. Paulo enfrenta os
opositores com firmeza e determinação, e repreende os cristãos que deram ouvidos
àquelas calúnias.

Como é visível na leitura do texto, a artimanha deste tipo de gente, geralmente, é feita
através de difamações, suspeitas e calúnias. O ministério de Paulo era conhecido dos
coríntios, e eles haveriam de distinguir entre os verdadeiros e os falsos missionários.

Em II Coríntios 12.11- 18, o apóstolo apresenta as marcas do verdadeiro missionário,


que caracterizam- se por perseverança em meio às tribulações, dedicação
incondicional à obra, desapego material, autenticidade e sinceridade de coração etc.

Passam-se os tempos, mudam-se as épocas, mas pessoas mal-intencionadas


continuam a se infiltrar no meio do rebanho, causando muitos males aos abnegados
servos e dedicadas servas.

A igreja deve manter-se alerta e cautelosa quanto aos que, em nome de uma boa
causa, adentram à comunidade, com atraentes opções, mas que terminam por
prejudicar os líderes e, depois, toda a comunidade.

O apóstolo recomenda, inclusive, um exame pessoal profundo para verificar se os


crentes estão permanecendo firmes; pois muitos são levados por ventos de doutrinas,
rebelando-se contra a autoridade de seus líderes espirituais.

Por isto, ensina a epístola a buscarmos as motivações mais íntimas que nascem do
fundo do coração, porque "dele procedem as fontes da vida" (Pv 3.24).

AUTOR: REV. WILSON EMERICK DE SOUSA

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